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Curso
Licenciatura em Pedagogia EaD
Disciplina
Ludicidade na Escola
Professora
Maria Aparecida Lúcio Mendes
Diagramação
Sônia Maria Dias
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Educação é minha paixão, amo ser professora e me realizo no exercício desse oficio,
cuja valorização e reconhecimento, estão historicamente desgastados em nosso país.
O que exige de nós, profissionais e futuros profissionais da educação, resistência e
resiliência, além de muitas outras habilidades.
Começo falando um pouco sobre a minha trajetória profissional apenas para situar
esse meu lugar de fala. Sou professora há vinte e cinco anos, entre os quais,
dezesseis dediquei, como professora e como coordenadora pedagógica à educação
infantil e ao ensino fundamental I e II. Há 9 anos ingressei na Rede Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia, onde atuei nas turmas do ensino médio integrado e
nos cursos superiores, de forma especial, nos cursos de licenciatura. O chão da sala
de aula é o meu lugar.
Fiquei muito feliz e honrada com o convite para ministrar essa disciplina e faço, neste
instante, um convite a cada um de vocês para que entrem comigo nessa brincadeira,
pois, veremos ao longo dessa disciplina, que brincadeira é coisa muito séria!
Finalizando as discussões desta disciplina, nossa quinta semana tem como temática
as Brinquedotecas. Nessa unidade, discutiremos os propósitos e possibilidades das
brinquedotecas no processo educacional, entendendo o brincar como uma linguagem
privilegiada no trabalho pedagógico com as crianças. Alguns vídeos foram sugeridos
como contribuição para a conscientização quanto a importância destes espaços, não
somente no cotidiano das salas de aula, mas também em outros espaços socialmente
instituídos como hospitais, igrejas, projetos sociais, entre outros. Será uma ótima
oportunidade para que vocês, cursistas, conheçam e utilizem a nossa brinquedoteca.
Vamos ao trabalho!
Um grande abraço.
Licenciatura em Pedagogia
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Introdução
Não imaginava o que se fazia na Secretaria do
Planejamento da cidade. Talvez ruas, avenidas, praças,
sei lá. Ou talvez nada, porque funcionário público não
trabalha mesmo. Então por que estagiar lá? Sei lá tam-
bém. Sabia que queria um estágio, mas não sabia onde
procurar. Então uma amiga da faculdade disse que havia
alguma coisa no jornal sobre concurso para estagiários.
Aí inscrição, prova, resultado, e lá estava eu na SEPLAN,
entre arquitetos, desenhistas e engenheiros. No primeiro
dia, um projeto de reforma de escola infantil. No segun-
do, mais um. No terceiro, outro. E assim, passaram-se do-
is anos. Olhando, conhecendo, entendendo, conferindo,
corrigindo, desenhando, projetando. Tantas escolas, que
fica até difícil lembrar-me de todas. Tanto trabalho para
tão poucos funcionários, que me perguntava: quem foi
mesmo que disse que funcionário público não trabalha?
O estágio na prefeitura me mostrou a realidade
das escolas municipais. Uma realidade que eu pouco
conhecia. Escolas em diferentes bairros, com alunos
diferentes, professoras e diretoras diferentes, mas com as-
pectos tão iguais... Tudo é padrão. Cor, forma, detalhes...
E até o playground. A maioria das escolas públicas não
tem o parquinho como uma prioridade. Geralmente o
espaço destinado à brincadeira é a área não edificada,
com alguns brinquedos comuns como balanço, gan-
gorra, gira-gira; pouco atrativos e menos ainda lúdicos.
Essa área que “sobrou” nem sempre é adequada para as
brincadeiras das crianças, mesmo porque, muitas vezes
o terreno não é suficiente nem para o número de salas
de aula de que a escola necessita. A falta de espaço e a
escassa preocupação com o parquinho tornam a escola
um lugar desinteressante, e ir à aula apenas uma obriga-
ção, sem estímulos. Por que a escola não poderia ser um
lugar divertido?
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Justificativa
“ O espaço
para brincar
acaba sendo o que
sobrar do terreno
”
A lembrança da infância sempre remete uma situ- ser repensado como local que possibilite esses momentos
ação vivida num determinado espaço. Uma situação que prazerosos. Na maioria das escolas infantis não há a pre-
por algum motivo marcou aquele momento na memória. ocupação com as áreas livres, o espaço para brincar aca-
A criança associa as sensações vividas ao ambiente, pois ba sendo o que sobrar do terreno. Em Bauru, as escolas
é no espaço físico que ela experimenta cheiros, sons, municipais de educação infantil raramente apresentam
temperatura, distância; exercita seu domínio e sua liber- um espaço diversificado, que não seja o padrão adotado.
dade. O espaço pode ser um lugar de segurança ou de Geralmente possuem brinquedos convencionais como
medo, de alegria ou tristeza, porque a criança não o com- balanço de pneus, gangorra, gira-gira, escorregador e
preende como valor físico, mas sim com a experiência ponte.
vivenciada no lugar.
“Falta em nossos espaços públicos o convite a
“É num espaço físico que a criança estabelece a brincadeira, à fantasia, à participação coletiva. Nossas
relação com o mundo e com as pessoas; e ao fazê-lo esse praças e parques, em sua grande maioria, não têm uma
espaço material se qualifica. Ela deixa de ser um material identidade própria. Os brinquedos apresentam formas
construído ou organizado para se embeber da atmosfera rígidas, estereotipadas, e não estimulam a curiosidade e a
que as relações ajudam a estabelecer.” (LIMA, 1989.) imaginação infantis.” (ALMEIDA, 1992.)
Por isso, o espaço destinado à criança deve ser O objetivo do projeto é proporcionar a essas
convidativo à brincadeira, ao jogo, a interatividade e áreas, “abandonadas” nas escolas, um espaço mais lúdico,
proporcionar momentos de descobertas e aventuras. O atraente e diferenciado, tendo como fundo de cena, o clás-
espaço escola, ambiente cotidiano da criança, necessita sico infantil de Lewis Carol, Alice no País das Maravilhas.
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1. Ludicidade
“... lá se foi Alice como um raio,
tendo tempo apenas de ouvi-lo dizer, ao
dobrar uma esquina: Por minhas orelhas e
bigodes, como está ficando tarde...”
Lúdico
O lúdico tem sua origem da palavra latina “ludus” mente sem alvo ou objetivo. Tais atividades podem ser
que significa “jogo”. Confinado a sua origem o termo uma brincadeira, um jogo ou qualquer exercício que pos-
lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, à sibilite instaurar um estado de inteireza: uma dinâmica de
diversão. Com o passar do tempo o termo evoluiu, assim integração grupal ou de sensibilização, um trabalho de
como a própria atividade lúdica, de modo que a definição recorte e colagem, uma das muitas expressões dos jogos
deixou de ser um simples sinônimo de jogo. dramáticos, exercícios de relaxamento e respiração, uma
Pode-se entender o lúdico como a necessidade ciranda, movimentos expressivos, atividades rítmicas, en-
de interagir, de brincar, de aventuras, de desafios; des- tre outras tantas possibilidades.
perta a imaginação e os sentidos. O lúdico faz parte das Essas atividades possibilitam momentos de encon-
atividades essenciais da dinâmica humana, desenvol- tro consigo e com o outro, momentos de fantasia e de
vendo a criatividade, os conhecimentos, o raciocínio realidade, de ressignificação e percepção, momentos de
por meio de brincadeiras. São atividades que propiciam autoconhecimento e conhecimento do outro, de cuidar
uma experiência em plenitude, em que nos envolvemos de si, de olhar para o outro, momentos de vida. É este as-
por inteiro. O importante na atividade lúdica não é só o pecto de envolvimento emocional que o torna uma ativi-
produto que dela resulta, mas sim o momento vivido, a dade com forte teor motivacional, capaz de gerar um es-
própria ação. tado de vibração e euforia. Em virtude desta atmosfera de
Caracteriza-se por ser espontâneo, funcional e prazer dentro da qual se desenrola, a ludicidade é porta-
satisfatório. Sendo funcional, não deve ser repetitivo, dora de um interesse intrínseco, canalizando as energias
com a monotonia do comportamento cíclico, aparente- no sentido de um esforço total para consecução de seu
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objetivo. Portanto, as atividades lúdicas são excitantes,
“O lúdico faz
parte das atividades
mas também requerem um esforço voluntário, pois não
havendo interesse dos participantes não há desenvolvi-
essenciais da dinâmica
mento da mesma.
Segundo LUCKESI (2005), a criatividade tem a
humana, desenvolvendo
ver com o prazer de aprender, de entender, de buscar,
de saber fazer, de construir, de conseguir dar conta de
a criatividade, os
alguma coisa que nos desafia. O desenvolvimento do as- conhecimentos, o
pecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento
raciocínio por meio de
”
pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde
mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os
processos de socialização, comunicação, expressão e brincadeiras.
construção do conhecimento.
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Educação Lúdica
“ O que traz a
ludicidade para a sala de
aula é muito
mais
uma atitude do
educador do
que os próprios
brinquedos e de brinquedos, desenhos coloridos, músicas ritmadas. Ao
”
fazer isso, ao mesmo tempo em que bloqueia a organiza-
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muito mais uma atitude do educador do que os próprios
brinquedos e jogos. Isso exige uma predisposição interna,
que não se adquire apenas com conceitos e conhecimen-
tos. A fundamentação teórica dá suporte ao professor pa-
ra entender o porquê do seu trabalho. A atividade em si
exige um envolvimento emocional e afetivo, um rompi-
mento com o modelo padrão existente, já internalizado.
É papel do educador formar pessoas críticas e
criativas, que inventem, descubram, que sejam capazes
de construir coisas novas, capazes de pensar de forma
global. Ele precisa ter a sensibilidade de perceber as ca-
racterísticas de cada educando, como indivíduo único,
que necessita de estímulos próprios, de acordo com sua
personalidade. Cada criança, ao entrar na escola, traz
consigo uma bagagem de conhecimentos oriundos da
sua própria atividade lúdica, que ela demonstra espon-
taneamente, através de brincadeiras. Quando a escola
impõe seus métodos, impede que a criança deixe fluir
naturalmente a imaginação e emoção.
O lúdico enquanto recurso pedagógico deve ser
encarado de forma séria e usado de maneira correta, pois
como afirma ALMEIDA (1998), o sentido real, verda-
deiro, funcional da educação lúdica estará garantido, se
o educador estiver preparado para realizá-lo. Conceber o
lúdico como atividade apenas de diversão, negando seu
caráter educativo, é uma concepção ingênua. A educa-
ção lúdica é uma ação inerente na criança e no adulto,
aparece sempre como uma forma transacional em direção
a algum conhecimento. A criança aprende ao encontrar
na própria vida, nas pessoas, a complementação para as
suas necessidades.
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Brincadeiras
O conceito de brincar que perpassa nosso co-
tidiano é bastante moralista. Dizemos que trabalho não
é lugar de brincadeira ou que agora não é hora de brin-
car. Esse juízo infantiliza o ato humano de brincar, tipi-
camente criativo, ao mesmo tempo em que desqualifica a
infância, como se o que se faz nessa fase da vida não tem
uma importância significativa.
Brincar é a atividade mais típica da vida humana,
por proporcionar alegria, liberdade e contentamento. É a
ação que a criança desempenha ao concretizar a fanta-
sia e a imaginação no mundo real. Brincando, a criança
experimenta, descobre, inventa, aprende e confere ha-
bilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfi-
ança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da
linguagem, do pensamento, da concentração e da aten-
ção. A criança necessita de estabilidade emocional para
se envolver com a aprendizagem.
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Brincando e Socializando
“uma
Brincar não é
dinâmica
interna do
indivíduo, mas
uma atividade dotada de
uma significação social
precisa.
”
As brincadeiras são as primeiras atividades que o
ser humano desenvolve em conjunto, por isso é impor-
tante para a criança a convivência em grupo desde os
primeiros anos de vida. Através de atividades com outras
pessoas, a criança tem as primeiras noções de respeito à
liberdade do indivíduo e ao espaço, ou seja, de cidada- instaurar uma comunicação com os outros membros da
nia. Brincando as crianças interagem entre si, conhecem sociedade...” (BROUGÈRE, 2001.)
umas as outras e aprendem a conviver com suas diferen-
ças. Brincar não é uma dinâmica interna do indivíduo, As experiências adquiridas pela participação em
mas uma atividade dotada de uma significação social jogos com amigos ou pela observação de outras crianças,
precisa. principalmente os pequenos, que imitam as brincadeiras
dos mais velhos, ou ainda pela manipulação cada vez
“Encaramos a socialização como o conjunto dos maior de objetos de jogo, resultam na cultura lúdica da
processos que permitem à criança se integrar ao ‘socius’ criança. Esta cultura, como qualquer outra, é produto da
que a cerca, assimilado seus códigos, o que lhe permite interação social.
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Jogos
O jogo é aquela dimensão do homem que o re- por sua vez, acontecem quando jogamos, quando obe-
monta a um mundo diferente, com outras regras, onde decemos a regras, quando vivenciamos conflitos numa
se mostra a essência de cada um de nós, sem máscaras competição.
nem distorções. Não dispõe de nenhum comportamento O jogo pode ser visto como resultado de um
específico, existe dentro de um sistema de designação, sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto
de interpretação das atividades humanas. Através do jogo social com um sistema de regras, que permite identificar,
o indivíduo pode brincar naturalmente, testar hipóteses, em qualquer jogo, uma estrutura seqüencial que especi-
explorar toda a sua espontaneidade criativa. O que ca- fica sua modalidade.
racteriza o jogo é mais do que a sensação de prazer pro- Através dele a criança libera e canaliza suas ener-
vocada pela diversão, é o estado de espírito com que se gias. Tem o poder de transformar uma realidade difícil,
brinca. propiciando condições de liberação da fantasia. É uma
O jogo, nas suas diversas formas, auxilia no pro- grande fonte de prazer. O jogo é, por excelência, integra-
cesso ensino-aprendizagem, tanto no desenvolvimento dor, há sempre um caráter de novidade, o que é funda-
psicomotor, isto é, no desenvolvimento da motricidade mental para despertar o interesse da criança. Na medida
fina e ampla, como no desenvolvimento de habilidades em que joga ela vai se conhecendo melhor, construindo
do pensamento, como a imaginação, a interpretação, a interiormente o seu mundo. Esta atividade é um dos meios
tomada de decisão, a criatividade, o levantamento de propícios à construção do conhecimento. Quando existe
hipóteses, a obtenção e organização de dados e a apli- representação de uma determinada situação, a imagina-
cação dos fatos e dos princípios a novas situações que, ção é desafiada pela busca de soluções para problemas
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“ Por meio da
brincadeira a
criança envolve-se no jogo
e sente a necessidade de
partilhar com o outro.
”
criados pela vivência dos papéis assumidos. As situações
imaginárias estimulam a inteligência e desenvolvem a
criatividade, permitindo à criança sonhar e fantasiar com
um mundo irreal.
Para ALMEIDA (1998), a melhor forma de con-
duzir a criança à atividade, à auto-expressão e à socia-
lização seria por meio dos jogos. Os jogos podem repre-
sentar simbolicamente o conjunto de realidades vividas
pela criança. Por meio da brincadeira a criança envolve-
se no jogo e sente a necessidade de partilhar com o outro. “Conduzir a criança à busca, ao domínio de um
Ainda que em postura de adversário, a parceria é um es- conhecimento mais abstrato misturando habilmente uma
tabelecimento de relação. Esta relação expõe as poten- parcela de trabalho (esforço) com uma boa dose de brin-
cialidades dos participantes, afeta as emoções e põe à cadeira transformaria o trabalho, o aprendizado, num jo-
prova as aptidões testando limites. A criança aprende as- go bem-sucedido, momento este em que a criança pode
sim a reconhecer certas características essenciais do jogo mergulhar plenamente sem se dar conta disso.” (ALMEI-
como o aspecto fictício (pois o corpo não desaparece de DA, 1998.)
verdade, trata-se de um faz-de-conta) a inversão dos pa-
péis, a repetição que mostra que a brincadeira não modi- Jogando a criança pode adquirir muitos conheci-
fica a realidade (já que se pode sempre voltar ao início) e mentos sem perceber o quanto se empenhará para isso.
com a necessidade de um acordo entre parceiros, mesmo A dedicação passa despercebida pela descontração do
que a criança não consiga aceitar uma recusa do parceiro momento de lazer, que na realidade é uma forma de edu-
em continuar brincando. cação.
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2. Espaços
“... Alice levantou num pulo, porque
constatou subtamente que nunca tinha vis-
to antes um coelho com bolso de colete,
nem com relógio para tirar de lá...”
A Criança no Espaço
O espaço arquitetônico tem seus próprios signifi-
cados culturais, psicológicos e emocionais. Para a criança
o espaço está relacionado as suas experiências, existente
na medida de suas relações afetivas. Segundo experiên-
cia realizada por LIMA (1989), as crianças têm os espaços
relacionados às vivências positivas superdimensionados
na forma de desenho. Dessa forma, crianças moradoras
de um mesmo prédio, representam seus apartamentos
variando número de aposentos e tamanho dos mesmos.
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O Espaço da Criança
O espaço lúdico deve ser um lugar onde se é Em uma sociedade que se erigiu majoritariamente
convidado a participar, instigando o interesse em tocar, pelo trabalho e pelo valor atribuído a tal função, a im-
manipular, percorrer, escalar. Um jogo de relação, não portância do espaço era somente a produção econômica.
estabelecido, mas que é percebido como possível. O am- Devido às novas aspirações de indivíduos que buscavam
biente deve permitir o uso do corpo, os cinco sentidos, a um quadro de vida de mais qualidade e liberdade, é que
liberdade de escolha para brincar. Para ASSMANN (1998), surgiram os espaços para recreação. Eram considerados
o ambiente pedagógico tem de ser lugar de fascinação e não-produtivos os parques, praças e jardins, espaços de
inventividade; propiciar aquela dose de alucinação con- jogos e divertimento, assim como as áreas residuais ocio-
sensual entusiástica requerida para que o processo de sas, como os fundos de vales, as várzeas e os brejos, de
aprender aconteça como mixagem de todos os sentidos. difícil exploração econômica. Nestas áreas, onde o custo
Porque a aprendizagem é, antes de tudo, um processo para a urbanização era muito alto, é que passaram a se
corporal e deve vir acompanhada da sensação de prazer, instalar clubes recreativos e esportivos.
que não é de modo algum, um aspecto secundário. A partir dos anos 60 começaram a ocorrer mudan-
ças sócio-culturais que reduziram as jornadas de trabalho
“Mas o espaço não é apenas o lugar da imagina- proporcionando mais tempo para o lazer. “Esses novos
ção poética: ele é também fruto de conhecimentos obje- valores fundam-se, não mais na tradição, na autoridade
tivos, lugar de relações vitais e sociais concretas, e deter- ou na religião, mas na busca da expressão pessoal, da
minados por elementos materiais que modificam a sua descoberta da subjetividade e do prazer, gerando novas
natureza e qualidade.” (LIMA, 1989.) relações entre os indivíduos, entre professores e alunos,
30
“espaço
O
lúdico
desempenha
Figura 05: Casa Cor Minas Gerais 2008 um papel muito
importante na
entre o homem e a natureza e, necessariamente, entre
o cidadão e a cidade.” (MIRANDA, 2001). A recreação
passou a ocupar um patamar mais alto no cotidiano da
vida infantil
”
sociedade e o espaço destinado a essas atividades mais
valorizado.
Não se pode falar em espaços lúdicos e não in- expressa. Tateando, descobrindo, fazendo e desfazendo,
cluir as crianças. O lugar destinado a brincadeiras tem enfim, criando novas relações, é nesse espaço que a cri-
de privilegiá-las, em qualquer idade, ultrapassando os ança experimenta a vida em grupo.” (ALMEIDA, 1992).
limites de qualquer atividade física, pois é uma função A relação da criança com o espaço lúdico é altamente
significante para qualquer espaço de brincar. A idéia de interativa, estimulante, e ela faz do jogo um dos seus ele-
espaço lúdico opõe-se aos espaços despersonalizados e mentos.
fisioterápicos do parquinho tradicional, e à monotonia Na concepção do projeto lúdico, as soluções de-
dos brinquedos sem interação. A proposta para o parque vem ser diferentes das convencionais, as instalações de-
lúdico necessita suscitar o desafio, buscar ruptura com vem ser um conjunto e ter uma referência, integrando-se
o cotidiano massificado, morno, consumista. Os equi- harmoniosamente ao entorno circundante, espaços estes
pamentos e instalações têm que despertar o interesse de com tratamento paisagístico. As instalações devem esti-
interação. mular a fantasia e a imaginação, permitir a livre expressão
“O espaço lúdico desempenha um papel muito de todo o vocabulário físico-corporal: correr, esconder,
importante na vida infantil, pois é nele que a criança se escorregar, subir, pular, equilibrar, entre outros.
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Espaço Escolar
O pátio escolar é um local para a criança se de-
senvolver e se socializar. O recreio é o momento de trocar
experiências com crianças de outras idades e de inventar
brincadeiras em grupos. Por isso é importante que a es-
cola tenha espaços para correr e praticar esportes. Até
mesmo a quantidade de brinquedos influencia o com-
portamento infantil, pois quanto mais opções, menos as
crianças brincam entre si ou diversificam a brincadeira.
“ O autoritarismo imposto na
escola deveria ser trocado pela livre expressão da
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atitude interdisciplinar.
”
Playgrounds
Playground é uma palavra de origem inglesa que
significa terreno de recreação. É um espaço destinado
ao entretenimento de crianças, geralmente ao ar livre,
com o principal objetivo de estimular a atividade física.
Os pequenos playgrounds possuem brinquedos simples
como a gangorra, o balanço, o escorregador e tanque de
areia. Apresentam-se em escolas infantis, parques públi-
cos e clubes recreativos.
Antes do século XX, as crianças geralmente brin-
cavam nos quintais de suas casas, em áreas abertas e nas
ruas. Nos Estados Unidos, o movimento pela criação de
áreas abertas dedicadas especialmente à recreação in-
“
fantil começou em Boston, por um jornalista de Nova
Iorque, por volta da década de 1880. Ele pensava que espaço destinado
espaços abertos eram importantes nas grandes cidades,
que cresciam cada vez mais, muitas vezes descontrola- ao entretenimento
damente, e onde cada vez mais arranha-céus eram con-
struídos. Até então, as escolas não possuíam áreas abertas de crianças, geralmente
onde as crianças pudessem brincar. Em 1889, uma área
aberta equipada com uma pista de corrida e espaços para
ao ar livre, com o principal
jogos foi aberta em Boston, e dedicada para garotos. Dois objetivo de estimular a
”
anos depois, esta área foi expandida, onde foi adicionado
uma seção exclusiva para garotas. Na virada do século, a atividade física.
cidade tinha cerca de vinte e uma áreas abertas dedica-
das especialmente para pequenas crianças, e logo outras
cidades nos Estados Unidos e no Canadá seguiram o ex- criado em Chicago o primeiro Hull House: área para
emplo de Boston. jogos, aparelhos de ginástica e caixa de areia. No Bra-
A idéia de incorporar brinquedos aos play- sil, a criação de praças públicas iniciou-se em 1927, no
grounds foi levada aos Estados Unidos em 1885, pela Rio Grande do Sul com o Professor Frederico Guilherme
médica americana Marie Zakrewska, do modelo de Gaelzer. O evento chamava “Ato de Bronze”, onde foram
Parque Infantil criado pelo alemão Emil Hartwight. improvisadas as mais rudimentares aparelhagens. Pneus
Nesse mesmo ano foi implantado em Boston o primeiro velhos amarrados em árvores construíam um excelente
tanque de areia chamado de sandgarden e em 1892 foi equipamento de recreação para a garotada.*
sobra
interatividade
socialização
experiência plenitude pátio
motricidade
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2
Brinquedos, Brincadeira
e Atividade Lúdica
Simone Stival, Catarina Moro e Joseth Jardim Martins
Licenciatura em Pedagogia
2.1
Teorias do Jogo:
Brinquedos, Brincadeira e
Atividade Lúdica
Simone Stival, Catarina Moro e Joseth Jardim Martins
Licenciatura em Pedagogia
1
TEORIAS DO JOGO: BRINQUEDOS,
BRINCADEIRAS E ATIVIDADES LÚDICAS
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
CONVERSA INICIAL
Em outros termos, e como diz uma certa música, “cada um de nós compõe a sua
história (...)”. Daí a importância de estarmos implicados com e pela vida, com a nossa
história, e com a história da humanidade, mas para aceder aos fatos é preciso vontade,
determinação, interesse e motivação. Nesse sentido, tomar conhecimento do saber
historicamente construído é um exercício de revisita a si mesmo, já que, ao inteirarmo-
nos das ocorrências do passado, é possível compreendermos suas implicações no
processo de desenvolvimento do ser humano na atualidade.
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PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
algo enfadonho e chato, dada a presença da palavra teorias no título. Não obstante,
com o propósito de convidar o leitor para uma viagem pelas trilhas do pensamento de
alguns dos autores que trouxeram suas contribuições para a importância do jogo no
processo de desenvolvimento infantil, a respectiva unidade foi organizada de modo a
favorecer-lhe uma compreensão mais acurada das implicações do jogo infantil em
relação ao momento histórico e cultural em que este se evidencia e vem se
fortalecendo na atualidade.
A citação de Maugham, a seguir, nos alerta, mais uma vez, sobre a importância
de compreendermos a grandeza da dimensão humana por meio de outros domínios de
conhecimento, como a arte, a música, o cinema, a literatura, o lúdico... Desejamos que
essa primeira unidade seja instigante e oportunize ao leitor compreender as tramas na
rede de conhecimentos relativos ao tema.
18
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
DESENVOLVIMENTO DO TEMA
O autor ressalta que todo jogo tem um significado, e por isso não se limitaria
apenas a uma condição instintivamente predeterminada para acontecer. É justamente
essa particularidade que faz com que o jogo esteja imbuído de um sentido ou de algo
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PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Wajskop (1995) concorda com esse posicionamento, ao afirmar que são várias
as dificuldades que existem com relação à definição e caracterização da brincadeira.
Entretanto é certo que a brincadeira assume um papel fundamental na infância: numa
concepção sociocultural, a brincadeira mostra como a criança interpreta e assimila o
mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos das pessoas, sendo um espaço
característico da infância.
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Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
simbólico, jogo cooperativo, jogo de ficção, jogo sociodramático, jogo criativo, jogo de
representação de papéis etc. (ELKONIN, 1998, p. IX).
A partir dessa leitura, reflita sobre a importância do papel do professor diante das várias
modalidades do brincar, ou seja, o que é preciso considerar para que diferentes
categorias do brincar façam parte do cotidiano escolar.
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Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
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PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
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Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
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PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
A despeito do grande valor atribuído aos jogos, não apenas pelo interesse que
universalmente despertam nas crianças, mas também, e principalmente, pela alegria
que elas manifestam ao jogar, pode-se supor o quanto o jogo é indicativo de boa
saúde, o quanto, estando a criança imersa no jogo, ele pode oferecer importantes em
termos de recursos para se entender o seu funcionamento psíquico. Como assinala
Bettelheim (1990), através de uma brincadeira de criança podemos compreender
como ela vê e constrói o mundo – o que ela gostaria que ele fosse, quais as suas
preocupações e que problemas a estão assediando. Pela brincadeira, ela expressa o
que teria dificuldade para colocar em palavras.
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PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
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Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
Dos conteúdos trazidos nesta primeira unidade, destaque aqueles que você
julgou mais relevantes para uma ideia geral da temática que envolve o brincar
infantil e produza uma listagem de tópicos. Reveja cada um e verifique se houve
uma boa compreensão de cada um deles.
30
2.2
Desenvolvimento e
Aprendizagem Infantil e a
Relação com a
Ludicidade
Simone Stival, Catarina Moro e Joseth Jardim Martins
Licenciatura em Pedagogia
2
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
CONVERSA INICIAL
DESENVOLVIMENTO DO TEMA
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PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
1) O que compreende os seus íntimos: a mãe, o pai ou aqueles que ocupam o seu
lugar junto da criança. As suas relações com eles irão determinar as suas relações
com o resto do mundo.
2) O que constitui-se por todas as outras pessoas: as relações da criança com essas
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Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
dramático. Para fazer referência a essa tipologia de jogo, há uma pluralidade de termos
sendo utilizada, seja por autores da abordagem histórico-cultural, seja por autores de
outras abordagens. Outros termos utilizados: jogo dramático, simbólico, de faz de
conta, protagonizado, de papéis, de simulação. No presente texto, será comum o uso
de vários deles, sem distinção. Os interesses da criança vão se transferindo de um tipo
de ação para outro. Para essa autora, uma educação formativa condiz com a
contribuição para o desenvolvimento psíquico da criança, indo ao encontro das suas
necessidades. Assim, “tem como propósito principal desenvolver na criança as ações
orientadoras, utilizando ao máximo os tipos de atividade infantil que caracterizam
cada idade” (MUKHINA, 1996, p. 55).
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PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
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Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
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PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
O jogo de faz de conta merece amplo destaque nas discussões e nas práticas
pedagógicas que envolvam a criança, principalmente as de idade pré-escolar ou que
estejam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Mollo-Bouvier (2005) e Plaisance
(2004), autores da Sociologia, destacam que as crianças se veem envolvidas cada vez
mais precocemente no processo de escolarização, adentrando mais cedo na “grande
escola”, ou seja, no Ensino Fundamental, e que “cada instituição procede a seus
próprios recortes internos, o que perpetua a lógica de segmentação do processo de
socialização” (MOLLO-BOUVIER, 2005, p. 394) e de apropriação do conhecimento.
39
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Devemos considerar que esses quatro eixos, de algum modo, balizam a infância
enquanto grupo geracional com condições e características distintivas das gerações
jovem e adulta. Valorizarmos a infância como um momento no desenvolvimento
humano requer que estejamos atentos ao detalhamento acerca de cada uma das
culturas das crianças. É importante lembrarmos que tais condições estruturantes das
culturas infantis não são estáveis ou estáticas, estando sujeitas a transformações
decorrentes de inúmeras outras mudanças sociais. Por isso, o próprio Sarmento
(2004) destaca a existência de paradoxos e contradições na nossa sociedade atual:
não cabe exclusivamente mais autonomia às crianças, uma vez que esta vem
acompanhada da necessidade de mais controle; os direitos sociais não têm sido
negados às crianças, são reconhecidos, contudo na maioria das situações não se
efetivam, sendo “sutilmente” denegados.
40
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
QUINTAL
No fundo do quintal,
amarelinha,
esconde-esconde,
jogo do anel,
um amor e três segredos.
No fundo do quintal,
passarinhos,
tesouros,
piratas e navios,
as velas todas armadas.
No fundo do quintal,
casinha de boneca,
comidinha de folha seca,
eu era a mãe, você era o pai.
Quando não existe quintal,
como é que se faz?
A partir dessa leitura, reflita sobre o papel das instituições educativas perante o brincar
infantil.
De acordo com Javeau (2005), como qualquer outro grupo social, as crianças
organizam suas experiências cotidianas com os meios de que dispõem, impostos ou
propostos pelos adultos na realidade escolar.
41
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Ora, se a voz popular diz que todas as idades têm seus prazeres, elas
também têm seus modos de socialização específicos, seus
comportamentos esperados, suas representações, isto é, toda uma
série de referências sociais mais ou menos estreitamente avalizadas
por um discurso científico que toma uma importância crescente no
planejamento e na gestão dos tempos sociais das crianças. Pois, se os
limites da infância são indecisos, não é, longe disto, por falta de
referências a normas, mas sem dúvida porque estas nunca flutuaram
tanto. Contudo, podem-se observar alguns indícios que marcam os
vínculos estabelecidos entre certas mudanças nas práticas e nos
modos de socialização e a delimitação social do período da infância.
Parece-me que, hoje em dia, o tempo social concedido à infância
segmenta-se, encurta e, às vezes, cai no esquecimento (MOLLO-
BOUVIER, 2005, p. 401).
Nesse sentido, importa sublinhar que, para Leontiev (1978), a entrada na escola
irá representar um segundo estágio do desenvolvimento da vida psíquica da criança.
42
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
43
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
presentes nos diferentes níveis de ensino e que por isso podem ser trabalhadas com a
utilização do jogo.
Para Leontiev (1978), a atividade dominante não é aquela que se encontra mais
vezes numa dada etapa do desenvolvimento, ou seja, aquela à qual a criança consagra
a maior parte do tempo. Nesse sentido, considera atividade dominante aquela que
comporta as três características seguintes:
45
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Estão ligadas a novas tarefas postas à criança pela educação e correspondem às suas
possibilidades novas, à sua nova consciência (LEONTIEV, 1978, p. 296).
Antes de realizar a leitura referente ao conteúdo deste item, tente pensar sobre as
relações que podem existir entre o faz de conta e a linguagem escrita. Discuta com um
colega com base no que conhece e estudou até aqui sobre o jogo simbólico e a partir de
seu entendimento acerca da aquisição da escrita pelas crianças.
imaginação. Assim, de acordo com essa autora, “o jogo provê oportunidades únicas
para que a criança pequena compreenda os propósitos autênticos da leitura e da
escrita e pratique as habilidades de leitura e escrita em um contexto significativo”
(BODROVA, 2008, p. 362, tradução livre).
48
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
http://www.labrimp.fe.usp.br/
http://www.nepsid.com.br/
49
3
O brincar e a Mediação
Pedagógica
Simone Stival, Catarina Moro e Joseth Jardim Martins
Licenciatura em Pedagogia
3
O BRINCAR E A
MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
CONVERSA INICIAL
Com a intenção de dar concretude ao que trouxemos neste livro de estudos até
agora, subsidiando uma reflexão que considere o jogo infantil como um recurso
pedagógico de construção de conhecimento pela criança, é fundamental ter
consciência do papel que ele pode e deve ocupar no cotidiano da Educação Infantil e
dos anos iniciais do Ensino Fundamental, desenvolvendo, assim, a plena consciência
acerca de suas múltiplas facetas, seus usos e funções.
DESENVOLVIMENTO DO TEMA
Segundo Brougère (2004a), a brincadeira é um espaço social, uma vez que não
é criada espontaneamente, mas em consequência de uma aprendizagem social, e
supõe uma significação conferida por todos que dela participam. Esse mesmo autor
53
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
expressa que a brincadeira possui uma dimensão aleatória, ou seja, nela encontramos
o acaso ou a indeterminação, resultantes das causas que estão em ação, de modo que
a brincadeira aparentemente é um espaço de socialização, de domínio da relação com
o outro, de apropriação de cultura, de exercício da decisão e da invenção (BROUGÈRE,
2004 a, p. 103-104). Isso quer dizer que há necessidade de sempre se contar com a
invenção daquele que brinca, com a sua iniciativa e com os possíveis desdobramentos
em relação ao brincar.
Para esse estudioso, o brinquedo fornece estrutura básica para mudanças das
necessidades e da consciência da criança. Ele diz que não é a natureza espontânea da
atividade lúdica que impulsiona o desenvolvimento das crianças, mas sim a
possibilidade de exercitar, no plano imaginário, as capacidades de planejar, imaginar
54
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
Nota
Isso significa, por exemplo, que uma criança, ao abrir seus braços e imaginar-
se pilotando um avião, está orientando sua ação pelo significado da situação e por uma
atitude mental, e não somente pela percepção imediata dos objetos e situações. Toda
brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma
realidade anteriormente vivenciada.
55
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Você se lembra das suas brincadeiras preferidas? Quais eram? E dos brinquedos
necessários para a realização de tais brincadeiras? E, ainda, de outras brincadeiras que
estavam presentes no seu tempo de escola? Reflita sobre como a brincadeira esteve
incorporada em seu cotidiano escolar quando criança. Do que você brincava e, se
brincava, como eram organizadas as atividades? Qual a periodicidade? Quais materiais
estiveram disponibilizados para que as brincadeiras acontecessem? Como o tempo era
planejado para tais atividades? Quais modalidades do brincar eram priorizadas? As
ações de seus professores demonstravam uma atitude lúdica?
Após essa atividade, certamente nos deparamos com situações que revelam
um tempo e um espaço de aprendizagens ilustrados pelas ações dos professores que,
diante da intencionalidade sobre o brincar, proporcionaram mais ou menos
possibilidades de encontro da criança com essa linguagem. Porém valemo-nos dessas
ideias para problematizar e discutir como o brincar deve ser incorporado no interior da
escola, hoje? Qual o papel do professor nesse contexto do brincar?
58
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
há um capítulo (13), proposto por Christine Pascal e Tony Bertram, que discute
exclusivamente a qualidade das experiências lúdicas proporcionadas pelas instituições
educativas – creche, pré-escola, escola –, com vistas a avaliá-las e melhorá-las. São
dez dimensões, assim organizadas: 1. Metas e objetivos; 2. Currículo; 3. Estratégias
de aprendizagem e ensino; 4. Planejamento, avaliação e manutenção de registros; 5.
Equipe; 6. Ambiente físico; 7. Relacionamento e interações; 8. Oportunidades iguais;
9. Ligação e parceria com os pais; 10. Monitoramento e avaliação.
Com base no que você leu e estudou até agora, que tal redigir um texto
argumentando sobre o jogo no contexto educativo? Para a elaboração de seu
texto, procure ousar, pesquisar as indicações bibliográficas referidas no final desta
unidade, consultar outras fontes, como sites, periódicos científicos... Lembre-se de que
pesquisar e investigar, para as crianças, também são consideradas atividades lúdicas.
Concordamos com Moyles (2002) ao defender que “na escola, o brincar pode
ser dirigido, livre ou exploratório: o essencial é que ele faça a criança avançar do ponto
em que está no momento em sua aprendizagem, criando condições para a ampliação e
revisão de seus conhecimentos” (MOYLES, 2002, p. 181). Vale ressaltar que nem o
brincar livre e nem o dirigido dispensam a ação do professor, pois, para que o brincar
livre aconteça, é necessário, por exemplo, organizar o tempo, o espaço e os materiais
adequados, ou seja, é preciso criar condições para que o brincar esteja em lugar de
excelência. É preciso, ainda, acompanhar, observar a brincadeira como elemento-
chave para compreendermos a aprendizagem infantil em meio a esse processo, assim
59
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Conclui essa mesma autora que, dentro da noção de professor como mediador
e iniciador da aprendizagem, tanto o brincar livre como o dirigido são aspectos
essenciais da interação professor/criança, porque o professor tanto permite quanto
proporciona os recursos necessários e apropriados.
A criança não brinca numa ilha deserta. Ela brinca com as substâncias
materiais e imateriais que lhe são propostas. Ela brinca com o que tem
à mão e com o que tem na cabeça. Os brinquedos orientam as
brincadeiras, trazem-lhe a matéria. Algumas pessoas são tentadas a
dizer que eles a condicionam, mas, então, toda brincadeira está
condicionada pelo meio ambiente. Só se pode brincar com o que se tem
e a criatividade [...] permite, justamente, ultrapassar esse ambiente,
sempre particular e limitado. O educador pode, portanto, construir um
ambiente que estimule a brincadeira em função dos resultados
desejados. Não se tem certeza de que a criança vá agir, com esse
material, como desejaríamos, mas aumentamos, assim, as chances de
que ela o faça; num universo sem certezas, só podemos trabalhar com
probabilidades. Portanto, é importante analisar seus objetivos e tentar,
por isso, propor materiais que otimizem as chances de preencher tais
objetivos. Não somente o material, é preciso levar em conta as outras
contribuições, tudo aquilo que propicie à criança pontos de apoio para a
sua atividade lúdica (BROUGÈRE, 2004a, p. 105).
60
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
Casinhas
As casinhas habitadas e construídas por crianças são como ninhos. Um refúgio que
dá a possibilidade de entocar-se, fechar-se sobre si mesmo, nessa intimidade
assegurada e protegida pelos contornos do pequeno lar.
Assim como o passarinho que aproveita cada pequeno fiozinho de palha caída no
chão, as crianças amarram panos velhos, erguem tábuas, empilham caixas, pegam
folhas de árvores, cortam e grudam papelões e reaproveitam cada detalhe
disponível ao redor. Uma verdadeira caçada de objetos e estrutura que formam as
paredes ou contornos da casa.
Isso sem esquecer dos apetrechos utilitários – escovas de dente, ferros de passar,
camas, chuveiros, lâmpadas, vasos de flores, escorredor de pratos, almofadas –,
que podem ser das mais diversas formas e constatam a realidade e a verdade do
brincar. Uma construção rica e intensa, provando que esses “passarinhos” já sabem
voar, e voam alto.
Nessas casinhas infantis brasileiras moram sanhaços, periquitos, japiins, sabiás,
andorinhas, jacutingas, uirapurus, murucututus, que cozinham, fazem dormir seus
filhotes, lavam roupas em cantorias diversas, criam cachorros, limpam a casa, saem
para fazer compras, arrumam armários e prateleiras, consertam objetos quebrados,
brincando de se enraizar em um cantinho desse mundo.
As casinhas são um espaço habitado por essências, segredos e liberdades infantis.
(FONTE: MEIRELLES, Renata. Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras. São Paulo: Terceiro Nome, 2007.)
61
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Somos, por assim dizer, sabedores de que o adulto tem uma função significativa
na brincadeira infantil e na brincadeira do meio escolar. É desse professor a
incumbência de zelar pelo espaço da brincadeira, oferecendo material e partilhando
das brincadeiras das crianças. É, portanto, de suma importância o papel do professor,
tanto na garantia quanto no enriquecimento da brincadeira como atividade social da
infância.
Vale reafirmar que o adulto, no seu papel de coautor das brincadeiras das
crianças, tem o dever de trazer materiais, de organizar espaços, propiciar ambientes
que permitam às crianças criar a partir deles, mas sem determinar tudo, pois, como
afirma Renata Frauendorf (psicopedagoga da Clínica Soma, em Campinas (SP) e
formadora do Instituto Avisa Lá), “caso contrário, continuaremos a arrumar a casinha
para as crianças apenas desarrumarem”.
62
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
63
PEDAGOGIA Ludicidade e Aprendizagem na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
A borboleta azul
“A lenda conta que uma menina curiosa, decide colocar à prova o velho sábio, por
duvidar de que fosse realmente um sábio. Tomou nas mãos uma borboleta azul,
escondeu as mãos com a borboleta para trás, foi até o sábio e disse: tenho nas mãos
uma borboleta azul, ela está viva ou morta. Antes que o sábio respondesse, tinha
preparado o seguinte ardil: se ele disser que está viva, eu a esmago e ela estará morta;
ele não é um sábio. Se ele disser que ela está morta, eu a deixo voar; ele não é um sábio.
Mas o sábio, como podíamos esperar de um sábio, foi muito sábio em sua resposta. Ele
disse: Ela está em suas mãos, depende de você”. (Sonia Regina Lyra – CRP– 08/0745)
Que tal você aproveitar a ideia principal que se destaca nessa lenda e fazer uma analogia
entre seu conteúdo e o compromisso profissional do educador, professor envolvido com
o trabalho na Educação Infantil?
64
Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR
Nos endereços indicados abaixo, você poderá ampliar seu repertório prático
em relação ao brincar:
Jogo de Aprender
http://www.jogodeaprender.com.br
Site dedicado ao uso dos jogos cooperativos na educação como estratégia lúdica de
ensino.
Projeto Bira
http://www.projetobira.com/
Site dedicado ao projeto que trabalha brincadeiras infantis da região amazônica.
65
4
O brincar no Ensino
Fundamental
Licenciatura em Pedagogia
4.1
O papel da brincadeira
no Ensino Fundamental
pelo olhar das crianças
Fernanda Mara Silvestre, Rosângela Veiga Júlio
Ferreira e Víviam Carvalho de Araújo
Licenciatura em Pedagogia
RESUMO
ABSTRACT
The text aims to present the result of research conducted with children of the 2nd
year of elementary school to identify how they conceive the presence of play in
school. The framework theoretical-methodological has structured in the social
interaction approach, seeking to interpret the discursive corpus to realize that
children are constituted in and through language as subjects of rights before the
society, thus producers and consumers of culture. The participant observation
and semi-structured interviews with these children enable reflections about the
issue that the play is constituted as an instrument of fundamental importance
in the early grades of elementary school. The research indicates that through
the play, including imposed at times when they are not authorized by teachers,
consolidations occur in learnings and linguistic interactions significant.
1 INTRODUÇÃO
3
A brincadeira a qual Vygotsky se refere é a de faz-de-conta ou de papéis sociais.
4
A zona de desenvolvimento proximal (ZDP) é um espaço dinâmico de aprendizagem, que, de
acordo com as ideias de Vygotsky, “implica a relação entre o nível de desenvolvimento real –
determinado pela capacidade de solução de problemas de modo independente – e o nível de
desenvolvimento potencial – em que se encontram as funções psicológicas em processo de
amadurecimento, potencialmente emergentes, mas ainda não suficientemente consolidadas”
(PIMENTEL, 2007, p. 224).
3 O CAMINHO METODOLÓGICO
5
A observação participante, de acordo com Flick (2004), possibilita compreender especificidades
do universo investigado e, ao mesmo tempo, mediar esse processo de interação com o meio.
6
Segundo Flick (2004), a entrevista semi-estruturada constituiu-se como um método para a
reconstrução de teorias subjetivas. Nesse método, pode-se obter uma gama de conhecimentos
sobre o tópico em estudo.
7
A pesquisa foi devidamente autorizada pelo diretor da escola e pelas professoras. Informamos,
no entanto, que preservamos os nomes dos sujeitos de pesquisa, utilizando nomes fictícios.
8
A pesquisa de campo aconteceu no período de 05 de setembro a 05 de outubro do ano de
2008. A observação ocorreu todos os dias da semana durante vários horários e situações da aula.
9
Colocação da aluna Suzana ao ser perguntada sobre o que mais gostava de fazer na escola.
Informamos ao leitor que optamos por apresentar as falas das crianças entrevistadas em itálico.
Foram consideradas duas vezes as opções da criança que apontou dois lugares para brincar.
12
Recreio 14
Educação Física 3
Sexta-feira no final da aula 3
Hora da entrada 2
Final da aula 1
A partir da análise das colocações dos alunos, podemos dizer que todas
as crianças concebem o recreio como momento específico para o brincar, sendo
que a sala de aula não é definida como lugar para brincadeiras. Diante dessa
colocação pautada nas observações do campo, podemos afirmar que as crianças,
mesmo sabendo da impossibilidade de brincar na sala de aula, criavam espaços
e momentos para a brincadeira acontecer naquele lugar.
crianças e não imposto pelo adulto, construindo um universo que tenha sentido
para elas. Ao criar cenários e situações imaginárias a partir dos espaços dispostos
e dos contextos de brincadeiras, as crianças desenvolvem a sua curiosidade e
imaginação, ampliando, assim, os significados daquele ambiente.
Brincadeiras de regra14 11
Faz-de-conta15 8
regras para poderem pertencer e interagir com um determinado grupo. Tal fato
pode ser percebido na colocação de Mariana ao afirmar “Eu gosto de pique
esconde, e amo brincar de boneca de pano, brincadeiras de imaginar, onde cada
um é um personagem16“.
Com base nas colocações anteriores, afirmamos que tanto as brincadeiras
de regras, quanto as brincadeiras de faz-de-conta são de grande importância
para o desenvolvimento das crianças que frequentam os anos iniciais do Ensino
Fundamental, uma vez que contribuem para a interação, bem como para seu
desenvolvimento cognitivo e social.
“Brincar pra mim é coisa boa. É tudo de bom. Fico feliz quando brinco,
me sinto solta17”. A concepção do brincar que predominou nas entrevistas
aponta para uma visão positiva e de liberdade, como pode ser percebido na
colocação da aluna Suzana, ao dizer que fica feliz, sente-se “solta”, expondo
desejos e sentimentos.
Diversão 5
Liberdade para fazer o que quer 3
Coisa boa 3
Aprendizagem 2
18
Colocação do aluno Leandro ao ser perguntado se e de que forma a brincadeira ajuda a
aprender.
referências
FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Trad. Sandra Netz. Porto
Alegre: Bookman, 2004.
Licenciatura em Pedagogia
3.2. Operacionalização
Para a realização desta pesquisa, optou-se por realizar algumas observações no dia-
a-dia escolar. Verificou-se, portanto, a maneira como a professora conduzia suas aulas, se
utilizava recursos lúdicos e de que maneira, se sabia da sua importância no processo de ensino
e aprendizagem ou se apenas os utilizava (quando utilizava) de maneira não-diretiva,
deixando que os alunos apenas brincassem livremente, sem objetivos previamente
estabelecidos. Observou-se também qual a concepção que esta professora tinha do uso de
recursos lúdicos no ensino fundamental e o interesse das crianças durante as atividades
desenvolvidas pela pesquisadora.
O que foi feito, durante as observações, foi deixar claro à professora que se tratava
de observações sobre o cotidiano da sala de aula, o comportamento dos alunos e o
desenvolvimento de suas aulas.
Além das observações e intervenções, outra técnica utilizada foi a entrevista com
a professora. Esse também é um dos instrumentos mais utilizados nas ciências sociais, como
destacam André e Lüdke (1986). Segundo as autoras, o clima que deve haver durante a
entrevista é interação:
2
A professora falou com muito carinho sobre as crianças, sobre como ela vê as
crianças de hoje, sobre o papel da escola, do professor. Trabalha nesta escola desde o seu
surgimento e demonstrou bastante interesse em inovar suas aulas, buscar sempre novas
estratégias que possam despertar o interesse e a motivação dos alunos. Disse que não usa mais
vezes o lúdico em sala de aula por uma questão curricular, que tem um cronograma a seguir,
regras, enfim, tem que cumprir seus objetivos. Afirmou que os recursos lúdicos que utiliza são
dela mesma, que confeccionou alguns e comprou outros, pois a escola não dispõe de
brinquedos e jogos. Disse ser apaixonada pela Educação Infantil e que só foi para o Ensino
Fundamental devido à mudança na lei que determinou o Ensino Fundamental de nove anos,
mas que tenta se adequar a essas mudanças.
Lembramos que o objeto de estudo desta pesquisa é o lúdico, com o objetivo geral
de investigar as possibilidades da realização de atividades lúdicas como contribuição para o
processo de ensino e aprendizagem de alunos de uma turma de primeiro ano do Ensino
Fundamental. Os objetivos específicos da pesquisa são: a) analisar a utilização de atividades
3
Primeiro momento:
Optou-se por fazer duas observações antes da aplicação das atividades lúdicas:
uma nos primeiros horários e outra nos dois últimos horários. A escolha de horários diferentes
para a observação deu-se pela razão de se poder observar as atividades dos alunos antes e
depois do recreio, antes e depois de atividades de lazer como o parque, de atividades de rotina
da sala de aula, enfim, para haver uma melhor percepção geral sobre a sala. Ao final da
intervenção das atividades lúdicas, foram feitas mais duas observações.
Ainda com referência aos aspectos físicos da sala, notou-se que apresenta lugar na
parede para as crianças guardarem suas mochilas, um espelho grande ao fundo da sala, três
armários (sendo que um deles contém somente por jogos – comprados ou confeccionados pela
professora), diversos cartazes, como calendário do mês, do ano, da rotina do dia, um mural
grande com cartazes com as letras do alfabeto e os números (no fundo da sala), além de um
cartaz com as sílabas, representado da seguinte forma:
BA BE BI BO BU
DA DE DI DO DU
FA FE FI FO FU
OBS.: O cartaz apresenta todas as sílabas; aqui só foram expostas algumas como
forma de demonstração.
lugares, e a professora entregou uma folha de atividade de História e Geografia com o tema
“O Trânsito”, na qual os alunos deveriam desenhar um semáforo. Havia “adivinhas” também;
a professora lia, e os alunos tinham que descobrir o que era e escrever logo abaixo o nome,
como “faixa de pedestre”, entre outras. Explicou o que eles deveriam fazer e os deixou livres
para realizar a atividade. Depois de um tempo, foi passando pelas mesas e vendo como estavam
fazendo, se tinham dúvidas e foi auxiliando-os. A professora entregou uma cópia desta
atividade para a pesquisadora, e esta cópia se encontra nos anexos deste trabalho (Anexo 3).
A professora avisou, às 14h 10m, que era a hora de lanchar e falou para cada
aluno pegar seu lanche na mochila. Eles lancharam sentados em suas cadeiras. As 14h 30 min
a professora pediu a eles que guardassem seus lanches e terminassem a atividade sobre o
trânsito. Quando todos terminaram, ela entregou os cadernos para que eles colassem suas
atividades e foi ajudando alguns. O sinal para o recreio tocou às 15h 50m; os alunos ficaram
eufóricos, começaram a correr, e a professora pediu que voltassem e arrumassem as cadeiras
antes de sair.
A sala fica trancada durante o recreio. Após o sinal, um funcionário da escola veio
trazer a chave para a professora. Ao entrar na sala, as crianças se sentaram nos seus lugares,
embora ainda agitadas pela empolgação do recreio. Em seguida a professora pediu a elas que
guardassem o caderno da atividade anterior (Língua Portuguesa) e que, calmamente,
sentassem no chão, próximas ao quadro, pois haveria aula de Ciências. Sentou-se em uma
cadeira pequena de frente para os alunos, relembrou com eles a transformação do “girino” em
“sapo”, assunto que já tinham visto antes, e disse que hoje falariam sobre a transformação
(metamorfose) da “lagarta” em “borboleta”. Leu o livro “Eram Dez Lagartos”, foi mostrando
as figuras aos alunos, dramatizando a história com a voz, e assim prendeu a atenção das
crianças. Algumas queriam levantar, falar, mas ela pedia para que sentassem e prestassem
atenção na história. Após o término da leitura, os alunos se sentaram novamente em seus
lugares, e a professora entregou a eles seus cadernos de Ciências e as folhas da atividade.
Mais uma vez, a professora ofereceu e entregou cópias das atividades à pesquisadora.
filas, o que já faz parte da rotina das crianças, que já estão acostumadas com essa conduta.
Eu conheço um jacaré
Que gosta de comer
Esconda as suas mãozinhas
Se não o jacaré
Come as suas mãozinhas e o dedão do pé!
dias e horários.
Segundo momento:
Definição dos dias e horários disponíveis para a intervenção, juntamente com a professora,
em que estabelecemos o seguinte cronograma:
Estimular a concentração,
16/10/08 - Qual é a palavra? atenção, criatividade,
16h às 16h 30min
(quinta-feira) - Tangran percepção visual;
imaginação.
Estimular a concentração, a
atenção, o senso de humor;
20/10/08 - Número certo
16h às 16h 30min desenvolver a criatividade,
(segunda-feira) - O que é, o que é?
agilidade mental e
vocabulário.
Desenvolver a criatividade,
- Carta de palavras
21/10/08 agilidade mental e
16h às 16h 30min - Bingo de sílabas e
(terça-feira) vocabulário; atenção,
palavras
raciocínio
23/10/08 - Jogo do alfabeto Despertar o raciocínio, a
16h às 16h 30min
(quinta-feira) - Qual é o número? atenção e a agilidade.
Desenvolver raciocínio,
28/10/08 - Última sílaba agilidade, atenção,
16h às 16h 30min
(terça-feira) - Palavras complicadas coordenação, escrita,
vocabulário.
Exercitar raciocínio,
- Telefone sem fio imaginação, memória,
29/10/08
16h às 16h 30min - Produção de texto atenção, criatividade e
(quarta-feira)
coletiva capacidade de formar
frases/textos.
Brincadeiras de culminância
para despertar a agilidade
30/10/08 - Corre Cotia motora, raciocínio lógico
16h às 16h 30min
(quinta-feira) - Boneca de lata matemático, esquema
corporal, além de despertar
prazer e alegria em brincar.
Terceiro momento:
As atividades propostas não seriam muito longas para não atrapalhar totalmente o
ritmo das aulas. Seriam em grupos, para despertar, assim, o espírito cooperativo das crianças.
De modo geral, as atividades desenvolveriam os aspectos motores, sociais e cognitivos dos
alunos.
Em cada dia foram desenvolvidas duas atividades (jogos ou brincadeiras) por dois
motivos: primeiro pela questão do tempo, que seria de 30 minutos, tempo suficiente para a
11
aplicação das atividades (que não seriam longas), e o segundo motivo é que se fosse uma
atividade só, talvez as crianças perdessem o interesse. Além disso, quanto mais diversificadas
e criativas as atividades, melhores os resultados. Partindo desse pressuposto, Antunes (1998)
afirma que os jogos não devem ser demasiadamente fáceis, causando assim o desinteresse e a
auto-estima do aluno por se considerar incapaz ou fracassado. O jogo deve estimular o
interesse, a atenção e a participação do aluno.
CAPÍTULO IV
RECURSOS LÚDICOS E O PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM : RELATO DE UM A EXPERIÊNCIA DE
INTERVENÇÃO
Os dados obtidos nesta pesquisa, como já foi dito, foram atentamente observados
e registrados em um caderno de estudos e gravados em um aparelho mp3 player.
Os alunos dessa turma de primeiro ano, de maneira geral, são crianças curiosas,
fazendo com que a professora constantemente chamasse a atenção delas para as atividades
propostas. A professora conseguiu manter a atenção da turma, tem um tom de voz firme e se
mostrou sempre sorridente e carinhosa.
que as crianças levam seus brinquedos trazidos de casa), falou para uma das meninas que não
havia trazido brinquedo: “Por que você não trouxe suas panelinhas para brincar?” Dessa
forma, mais uma vez ela reforçou uma característica comum da sociedade, que é ressaltar,
desde cedo, que as meninas devem brincar de “panelinha” ou “casinha”, e os meninos de
“carrinho” ou “bola”. Autores como Felipe (1999) e Marcellino (2006), como já foi dito,
explicitaram esse tema de maneira ampla, questionando o papel da sociedade na formação das
crianças.
A maioria dos alunos tem 5 e 6 anos, apenas três já tem 7 anos. Os de 7 anos, pelo
que foi observado, são como que “líderes” da turma, por já estarem, possivelmente, em outro
nível de desenvolvimento. Um dos alunos de 7 anos, em uma das brincadeiras (“Qual é o
número?”), compreendeu logo a característica do jogo e foi ficando “inquieto” ao ver que os
colegas não conseguiam acertar. Os demais, contudo, compreenderam, mas mostravam-se
mais ansiosos e tentavam o tempo todo, não queriam esperar a sua vez, queriam falar ao
mesmo tempo.
dos alunos, sobre a diferença do ensino de anos atrás e de hoje, enfim, a cada pergunta ela
acabava se voltando para o que acredita ser a verdadeira função da escola. Contudo,
constatou-se durante as observações que, embora a professora tivesse um discurso firme na
teoria, na prática agiu muitas vezes de forma contrária a tudo o que disse. Durante as
entrevistas e conversas informais, mostrou-se o tempo todo interessada em “inovar”, em fazer
coisas diferentes. Portanto, aí está a importância de aliar a teoria e a prática, pois uma
necessita da outra. O professor deve estudar, preparar-se constantemente, contudo, deve saber
aplicar isso na prática para que possa desenvolver um trabalho com qualidade e formar
cidadãos criativos. Silva (2006) aponta o que significa ser professor:
Ser professor significa, antes de tudo, ser um sujeito capaz de utilizar o seu
conhecimento e a sua experiência para desenvolver-se em contextos
pedagógicos práticos preexistentes. Isto nos leva à visão do professor como
um intelectual, o que implicará em maior abertura para se discutir as ações
educativas (p. 109).
A partir da idéia de que o aluno deve, com a mediação do adulto, ser capaz de
desenvolver suas aprendizagens, conforme nos mostra Vygotsky (1993) com base na zona de
desenvolvimento proximal, realizamos uma pesquisa de intervenção em uma escola da rede
pública de Campo Grande – MS.
crianças, dizendo que elas iriam jogar dois jogos: “Jogo da memória” e “Dominó”; perguntou
quem conhecia e se sabiam jogar. A empolgação foi total, muitos se levantaram para dizer que
sim, gritaram. Disse também que iria mais alguns dias à escola para fazer mais algumas
brincadeiras com eles. Fez alguns “combinados”, como não falar alto, não amassar e estragar
os jogos, e disse que assim a atividade seria muito mais fácil, com a colaboração de todos.
[...] quando a criança nota que a professora gosta dela, e que apresenta certas
qualidades como paciência, dedicação, vontade de ajudar e atitude
democrática, a aprendizagem torna-se mais facilitada; ao perceber os gostos
da criança, o professor deve aproveitar ao máximo suas aptidões e estimulá-
la para a aprendizagem. Ao contrário, porém, o autoritarismo, a inimizade e
o desinteresse podem levar o aluno a perder a motivação e o interesse por
aprender, já que estes sentimentos são conseqüentes da antipatia por parte
dos alunos, que por fim associarão o professor à disciplina, e reagirão
negativamente a ambos (p. 73).
disse aos alunos que os joguinhos seriam trocados, ou seja, haveria um rodízio de jogos para
todas as mesas, para que assim todos tivessem as mesmas oportunidades. Quanto ao “Jogo da
memória”, as crianças demonstraram bastante interesse em acertar, gostaram das figuras,
algumas disseram que já sabiam jogar, outras disseram que não, mas todas participaram. A
pesquisadora e a professora foram passando pelas mesas e mostrando aos alunos as regras do
jogo. Apesar da empolgação, percebeu-se que de maneira geral eles gostaram e ficaram
satisfeitos com as atividades realizadas.
O que foi percebido, após as atividades, mais uma vez, foi a empolgação total das
crianças. Optou-se por realizar as atividades fora da sala de aula, em um local aberto, amplo,
inclusive pelo fato de que logo após as crianças iriam ao parque.
A professora pediu aos alunos que fizessem fila para sair da sala. A pesquisadora
se dirigiu então ao local escolhido com as crianças, em fila, pediu que fizessem uma roda e que
todos se sentassem no chão. As crianças ficaram empolgadas, e logo a pesquisadora conversou
novamente com elas, falando sobre a importância de ouvirmos quando alguém fala para
podermos entender. Ressaltou com eles alguns combinados, pediu que ficassem em silêncio
para entenderem a brincadeira e começou a explicar.
O que se percebeu nessa brincadeira foi que muitos deles ainda têm a coordenação
motora e a noção de lateralidade um pouco confusas, porém nada que os atrapalhe demais em
outras atividades. Contudo, essas questões devem ser sempre trabalhadas. Logo após, a
professora sugeriu que fosse feita a brincadeira da “História da serpente” para que os alunos
fossem, aos poucos, formando fila, e assim já iriam ao parque. A demonstração de euforia e
empolgação mais uma vez se fez presente.
Neste dia a professora não estava presente e havia uma professora substituta. Ao
chegar à sala, a pesquisadora percebeu que a porta estava trancada, e a professora estava com
os alunos no parque. A pesquisadora se apresentou então à substituta, a qual disse que sabia
da sua presença, porém achou que daria tempo de levar as crianças antes ao parque. Deixou-
os por mais 15 minutos e os chamou para limparem os pés e entrarem na sala. Os alunos, ao
entrarem na sala, ainda estavam empolgados, porém mostraram-se felizes ao ver a
pesquisadora, e alguns ainda falaram: “Tia, do que vamos brincar hoje? Qual vai ser a
atividade que vamos fazer?” Percebeu-se que as crianças associaram a sua presença a
“atividades diferentes”, “brincadeiras”, visto que, com a professora, praticamente não faziam
isso.
20
O que foi constatado, primeiramente com o jogo do Tangran, foi que as crianças,
apesar de já terem ouvido falar no jogo (a professora titular disse à pesquisadora que no
começo do ano apenas falou sobre o Tangran aos alunos), não sabiam para o que servia e o
que deveriam fazer. A pesquisadora contou então rapidamente para eles a história do Tangran,
afirmando que este é um quebra-cabeça formado por sete peças. Alguns alunos falaram: “Ah,
eu sei, é um quadrado”. Em seguida, a pesquisadora mostrou a eles as peças, disse que se
tratava realmente de um quadrado que estava dividido em partes e que eles poderiam criar
diversas figuras a partir das peças. Entregou a cada um deles um Tangran, confeccionado de
cartolina. Foi auxiliando-os e dando sugestões, por meio de exemplos de figuras que foram
criadas a partir do Tangran. A professora substituta ficou calada, sentou-se à mesa da
professora e lá permaneceu. Alguns alunos se dirigiram a ela para pedir ajuda, e ela ajudava
sentada mesmo. A pesquisadora ficou então andando pela sala, observando os alunos e
procurando auxiliá-los. Como alguns alunos continuaram afirmando que não haviam
entendido o jogo, mais uma vez a pesquisadora falou a eles sobre o Tangran e como este
poderia ser utilizado. Alguns montavam alguma figura e logo pegavam seus brinquedos;
afinal, em dias de parque, os alunos poderiam trazer brinquedos de casa e ficavam
empolgados com isto; porém, de modo geral, as crianças gostaram do jogo e participaram
com entusiasmo.
não sabiam escrever corretamente. Por fim, um aluno do “Grupo 1” acertou. A próxima
palavra escrita foi menor, entretanto poderia ser interpretada de duas maneiras: “B L” (bola ou
bala). Ganhou a pessoa que escreveu “bala”, porém a pesquisadora disse que “bola” também
estava certo e deu ponto para os dois grupos. A última palavra escrita foi “C S” (casa); esta foi
a que eles mais demoraram a acertar. Cada um que vinha ao quadro escrever, escrevia de uma
maneira diferente, e todos queriam participar. O interesse e a participação dos alunos nessa
brincadeira foram maiores que no Tangran, talvez por que nesta eles poderiam acertar e
“ganhar pontos”. Percebeu-se então que a maioria dos alunos ainda estão no início do
processo de reconhecer e escrever algumas palavras, mas têm interesse em aprender e
“descobrir”.
Com base nas opiniões da professora, destaco também a posição de Redin (2007)
no que se refere à escolarização atual, que se fundamenta em manuais e normas de como
deveria ser a escola atual. A autora afirma:
22
Para ela, a indisciplina está ligada à falta de interesse das crianças pela escola, já
que ao redor delas existem diversas coisas mais interessantes, como televisão, videogame, e a
escola não consegue trazer isso para si, a realidade delas para o contexto escolar. Para ela,
também, a escola deve trabalhar as habilidades e competências das crianças, pois cada criança
tem facilidade ou interesse por determinado assunto, e a escola deve despertar e trabalhar isso
com ela, porém não deve deixá-la gostar de somente uma coisa.
De modo geral, por meio das entrevistas e das observações feitas, percebeu-se que
se trata de uma professora preocupada com a realidade das escolas, que critica o método
tradicional, reconhece as falhas desse método e tenta, como pode, mudar isso com seus
alunos. Mostra-se carinhosa com os alunos, atenciosa, procura diversificar seu planejamento.
Contudo, enfrenta algumas barreiras, como a falta de tempo para desenvolver atividades
diferenciadas com mais freqüência, o comportamento dos alunos, que se mostram bastante
agitados; enfim, é uma professora que busca, à sua maneira, transformar o ensino do qual faz
parte, mas nem sempre consegue ou possui meios para isso.
contando alto também cada número e que cada uma guardasse o seu. Iniciou a brincadeira
ficando com o último número (23, pois haviam ido somente 22 alunos). A pesquisadora
iniciou a brincadeira falando o seu número, batendo palmas duas vezes e batendo na perna
falando um outro número qualquer; a criança que representasse o número dito deveria fazer a
mesma coisa, bater palmas duas vezes dizendo o seu número e bater duas vezes na perna
dizendo outro, e assim sucessivamente. No começo as crianças estavam um pouco perdidas,
mas logo que compreenderam o jogo todas quiseram participar; umas diziam para os que iam
falar: “Fala o meu número!” Foi uma brincadeira muito agradável, e houve satisfatória
participação dos alunos, embora alguns não lembrassem o número ou dissessem números que
não havia no círculo (deveriam ser números de 1 a 23).
sílabas e palavras”.
e marcou três palavras sorteadas. A professora mostrou a dois alunos que havia uma palavra
em sua cartela que já havia sido dita. De maneira geral, os alunos conseguiram observar e
marcar as palavras.
Uma aluna ganhou o jogo, ficou eufórica, gritou, veio correndo trazer a cartela
para a pesquisadora conferir. Ela foi conferida em voz alta e, junto com os alunos, observando
as palavras escritas no quadro e verificando que a menina realmente tinha ganhado.
A partir desta atividade, constata-se o que Silva (2006) afirma sobre a importância
da brincadeira para a aprendizagem dos alunos:
A brincadeira, além de desenvolver uma série de atividades lúdicas, assume
uma fundamental importância no processo de aprendizagem infantil, assume
a função de promover o desenvolvimento da criança enquanto indivíduo, e a
construção do conhecimento (p. 68).
lembrava” nenhuma palavra com todas as letras que foram sorteadas e, quando falou, repetiu
a palavra que o colega anterior havia dito; estava um pouco envergonhada. Segundo a
professora, é uma menina que “só brinca com meninos e é criada pela avó”. De acordo com
ela, a menina apresenta “dificuldades” de relacionamento com as outras meninas e nunca
gosta de perder: “É uma aluna difícil”, disse a professora, sem sequer pensar na hipótese de
ser apenas uma escolha da menina em relação às amizades, e não dificuldades. A professora,
nesse momento, estigmatizou a menina por ser de determinada maneira e pelo fato de ser
criada pela avó e não pelos pais.
A brincadeira se repetiu três vezes, ou seja, três letras foram sorteadas por alunos
diferentes e em círculo todos foram falando palavras que conheciam. Enfim, foi uma atividade
de que os alunos participaram ativamente e em que conseguiram desenvolver a atenção e o
raciocínio.
são maiores ou menores. A professora disse ao final que eles “entendem melhor os números
quando eles veem”. Realmente, nessa idade é mais fácil compreender aquilo que é visto, que é
palpável, concreto; entretanto, alguns alunos mostraram que são capazes de imaginar e fazer
associações (por exemplo: associar que se um número é maior do que 28 e menor do que 30,
ele é o 29), tanto que queriam falar para acertar o número.
grupo marcaria um ponto. A brincadeira seguiu até que o aluno que era o primeiro da fila
retornasse ao lugar, ou seja, todos participaram. O grupo B ganhou, marcando ao todo 11
pontos (todos acertaram); o grupo B marcou 8 pontos (três erraram). A pesquisadora optou
por não escolher palavras muito grandes ou complicadas (como sugere o nome da brincadeira)
até pela questão do tempo, que havia ficado restrito, e também para não gerar o desinteresse
dos alunos.
[...] jogar é estar interessado, não pode ser uma imposição; é um desejo. O
sujeito quer participar do desafio, da tarefa. Perder ou ganhar no jogo é mais
importante para ele mesmo do que como membro de um grupo. Isto porque é
o próprio jogador que se lança desafios, desejando provar seu poder e sua
força mais para si mesmo que para os outros (p. 27).
A outra atividade programada para ser realizada neste mesmo dia (“Última sílaba”)
não foi possível devido ao tempo que havia terminado (já estava no horário de saída dos
alunos). Ficou combinado então que seria no próximo dia.
coisa. Então a pesquisadora foi escrevendo a história no quadro (com letra de fôrma) de
acordo com o que a maioria dos alunos sugeria.
perguntou então aos alunos quem conhecia a brincadeira, alguns disseram que sim e quiseram
explicar. Iniciou-se a brincadeira quando a pesquisadora disse uma frase a um dos alunos, que
deveria passar a frase para o colega ao lado, e assim por diante. Pediu a todos que ficassem
em silêncio aguardando a sua vez de ouvir e passar a frase ao colega ao lado. Percebeu-se que
todos estavam ansiosos para chegar a sua vez, ficaram em silêncio e participaram com
entusiasmo da brincadeira. A pesquisadora sempre lhes dizia que falassem com calma a frase
ao colega, que prestassem atenção para que a frase chegasse ao final exatamente como
começou. Ao final, a última criança a dizer a frase a falou praticamente igual à frase inicial,
faltou apenas uma palavra. Isso demonstrou que as crianças realmente se interessaram pela
brincadeira, estavam atentos, entretanto em algum momento uma palavra foi esquecida.
Novamente outra frase foi dita pela pesquisadora, iniciando a brincadeira na ordem
inversa e com outro aluno. A frase era um pouco menor, porém assim mesmo não chegou ao
final da mesma maneira; uma palavra foi invertida, o que mostrou, mais uma vez, que as
crianças estavam atentas, pois somente uma palavra foi trocada e, possivelmente, poderia ter
sido totalmente trocada. A pesquisadora disse então que mais uma frase seria falada e que eles
deveriam prestar mais atenção para a frase chegar correta dessa vez. E foi o que aconteceu:
como eles queriam acertar e estavam ansiosos, parece que estavam ainda mais atentos e a
frase chegou ao final da mesma maneira.
armário só com jogos! [...] Não, não possui, porque é uma escola nova... O que eu tenho a
gente confeccionou ou é meu mesmo, comprado”.
O papel da escola, para a professora, é o seguinte: “[...] eu acho que hoje a escola
educa e ensina, né, porque não tem como, a gente pensa assim: não tem como você vê uma
riança jogando papel no chão e falar pra criança, é, deixar por isso mesmo. ‘Ah, porque não é a
minha função. Eu não vou limpar a escola’. Então, eu acho que a escola educa, ensina a falar
‘muito obrigado’, ‘com licença’, ‘por favor’ e eu acho que isso anda junto...” (Fala da
professora da turma).
juntos um final para a história. Os alunos ficaram empolgados com os quadrinhos, queriam
criar a história, falavam o tempo todo e usaram bastante a imaginação, que, de acordo com
Vigotski (1998), “[...] não repete em formas e combinações iguais impressões isoladas,
acumuladas anteriormente, mas constrói novas séries, a partir das impressões anteriormente
acumuladas” (p. 107). Neste sentido, foi possível perceber que as crianças, de fato,
conseguiram, com atenção, imaginar e criar histórias a partir de figuras, usaram sua
imaginação e criatividade, formularam frases com sentido, oralmente e em sequencia de fatos.
Licenciatura em Pedagogia
Licenciatura em Pedagogia
4
Segue-se exibição de slides. Imagens não disponíveis.
1ª Mesa de Debate: “A Brinquedoteca no Processo Educacional” 41
5
Segue-se exibição de slides. Imagens não disponíveis.
50 “BRINQUEDOTECA: A IMPORTÂNCIA DO BRINQUEDO NA SAÚDE E NA EDUCAÇÃO”
6
Segue-se exibição de slides. Imagens não disponíveis.
1ª Mesa de Debate: “A Brinquedoteca no Processo Educacional” 61
a qual infelizmente não falarei hoje, mas é um dos pontos que consi-
dero altos na nossa experiência, que é justamente ensinar a recuperar
o brinquedo deteriorado, degradado, e a valorizá-lo.
Temos um informativo eletrônico mensal. Todos aqueles que nos
escreverem dizendo: “Eu também quero ser amigo de brinquedo, de
vocês”, vai receber o nosso informativo mensal, que já vai para o seu
quarto ano de edição contínua com notícias na área do brincar. Tam-
bém o nome do nosso site está aí.7
Interagimos com o ensino. Temos disciplinas na graduação e na
pós-graduação. Desenvolvemos pesquisas; uma delas é sobre o po-
tencial pedagógico dos brinquedos do acervo, e com a outra tenta-se
entender o que os educadores pensam sobre jogo e educação. O que
eles sabem a respeito?
Essa é uma vista breve, muito simples, da nossa brinquedoteca.
Faço questão de apresentá-la porque muitas vezes idealizamos as
brinquedotecas como espaços caros, fartos, amplos. Quero mostrar
que em espaços muito simples e com escassos recursos também é
possível criar um lugar no qual se brinca e há comprometimento
com a brincadeira, e não com o seu confinamento e a sua limitação.
Essa é uma vista da entrada. Aqui os senhores vêem um ângu-
lo da zona de empréstimo da brinquedoteca. Ela funciona como
brinquedoteca de empréstimo, prioritariamente, e secundariamente
como lugar de brincar, por meio das visitas lúdicas. Sublinho: lugar
de brincar de adultos.
Esse é um ângulo da nossa zona de trabalho interno, onde a equi-
pe se reúne, organiza os materiais, faz os seus relatórios, trabalha com
a recuperação e a criação de brinquedos.
Esse é um ângulo da nossa zona de armazenamento dos brinque-
dos. No canto esquerdo da imagem, onde se vêem alguns fantoches
e um jipe em cima, está a nossa zona de recuperação e de constru-
ção dos brinquedos. Nas caixas que os senhores vêem acima estão
armazenados os brinquedos. Não temos como mantê-los expostos,
7
www.ufrgs.br/faced/extensão/brincar
1ª Mesa de Debate: “A Brinquedoteca no Processo Educacional” 65
8 quemquerbrincar@edu.ufrgs.br
www.ufrgs.br/faced/extensao/brincar