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ABORDAGENS DA PSICOLOGIA
Juliana Campregher Pasqualini1
Nádia Mara Eidt2
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Universidade Federal da Grande Dourados
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são opcionais e a criança pode escolher cas entre o organismo e o ambiente, que
se deseja ou não assistir a uma determi- se origina dos trabalhos do pesquisador
nada aula (não há, por exemplo, con- sobre moluscos: a observação da forma
trole de presença). O princípio funda- pela qual estes organismos adaptam-se
mental que organiza a prática na escola ao ambiente, ao mesmo tempo em que
é a ideia do autogoverno pelos alunos. o assimilam de acordo com sua estrutu-
Os alunos decidem entre si as regras ra, levou Piaget a estender este mesmo
que regerão o funcionamento da escola. modelo para o desenvolvimento cogni-
No início de cada trimestre os alunos tivo (AZENHA, 1993). Isso significa,
decidem juntamente com o professor o conforme Wadsworth (1997), que os
que gostariam de estudar. A preocupa- princípios do desenvolvimento cogniti-
ção fundamental é que a relação entre vo são, em última instância, os mesmos
professores e alunos seja marcada pelo do desenvolvimento biológico, de modo
companheirismo e pela compreensão. que os conceitos referentes ao desenvol-
vimento biológico são válidos para pes-
As ideias pedagógicas de Neill
quisar o desenvolvimento mental.
concretizadas na experiência de Sum-
merhill foram apresentadas ao grande A teoria construtivista aborda o
público no livro Liberdade sem medo. processo por meio da qual um orga-
A liberdade é o fundamento da peda- nismo desenvolve sua inteligência, en-
gogia de Summerhill, pois parte-se da tendida como um processo de conhe-
compreensão de que para formar pes- cimento. A preocupação central desses
soas livres é preciso educar com base seus estudos consistiu em responder
na liberdade. O processo educativo é seguinte à pergunta: como se desen-
entendido como uma tarefa de com- volve a inteligência (ou seja, o pen-
preensão e posicionamento ao lado da samento lógico) na criança? E, como
criança. A relação professor-aluno é, desdobramento desta primeira ques-
portanto, uma relação horizontal, uma tão, como a lógica passa de um nível
relação entre iguais. elementar para um nível superior? Pia-
get (2000, p. 25) define a lógica como
O olhar construtivista sobre a rela-
sendo um “(...) sistema de operações
ção professor-aluno
(classificar, seriar, pôr em correspon-
A abordagem construtivista tem dência, utilizar uma correspondência
como principal fundamento teórico- ou ‘grupos de transformações’ etc.) e a
-epistemológico a obra do biólogo su- origem dessas operações deve ser pro-
íço Jean Piaget, influenciada, por sua curada, para além da linguagem, nas
vez, por várias correntes filosóficas, em coordenações gerais da ação”.
especial o idealismo Kantiano, o Evolu-
Ao responder a essas questões, Pia-
cionismo bergsoniano e o Estruturalis-
get inaugura uma nova compreensão
mo (PALANGANA, 2001).
acerca da relação sujeito/objeto: preco-
A perspectiva teórica de Piaget niza que o conhecimento não está no
encontra-se grandemente determinada sujeito (como defendia o maturacionis-
pelo estudo do modelo biológico de tro- mo) e tampouco no objeto (como que-
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ria o empirismo), mas é decorrente das primeiro esquemas mentais pelos quais
contínuas interações entre os dois. ela constrói seu conhecimento sobre o
mundo. Nesta perspectiva, conhecer é
A construção do conhecimen-
“(...) organizar, estruturar e explicar a
to ocorre por meio de ações físicas ou
realidade a partir daquilo que se viven-
mentais sobre objetos, engendrando
cia nas experiências com os objetos do
esquemas mentais, que são estruturas
conhecimento” (FONTANA; CRUZ,
mentais pelas quais os indivíduos se
1997, pg. 45).
adaptam e organizam o ambiente. Eles
são definidos como “(...) estruturas in- Piaget (1989) propõe a equilibra-
telectuais [cognitivas] que organizam ção (auto-regulação) como o principal
os eventos como eles são percebidos mecanismo responsável pelo desenvol-
pelo organismo e classificados em gru- vimento cognitivo, por meio de uma
pos, de acordo com características em busca constante de um estado de me-
comum” (WADSWORTH, 1997, pg. nor equilíbrio para um estado de equi-
17) e, portanto, não são cópias exatas líbrio superior. Além da equilibração,
da realidade. Os esquemas refletem o outros três fatores interferem no de-
nível de compreensão e conhecimento senvolvimento, sendo eles: a heredita-
do mundo do sujeito e se transformam, riedade, a maturação interna e a trans-
tornando-se cada vez mais complexos, missão social. Em relação a esse último
por meio do processo de adaptação. fator, é importante pontuar que Piaget
(1983) considera o aspecto psicossocial
O processo de adaptação, por sua
do desenvolvimento, ou seja, a influên-
vez, se realiza mediante os processos
cia educativa familiar e escolar, mas seu
de assimilação e acomodação. Assimilar
foco de análise centra-se no estudo do
significa incorporar as propriedades
desenvolvimento psicológico, entendi-
presentes no ambiente aos esquemas/
do como um processo espontâneo, ou
estruturas de conhecimento previa-
seja, que ocorre sem a necessidade de
mente existentes. Acomodar consiste
intervenção deliberada do adulto. Ele
em modificar os esquemas/estruturas
ocupa-se com o desenvolvimento da
existentes para ajustá-los às exigências
inteligência mesma, a partir do que a
ambientais, o que ocorre em função
criança aprende por si mesma. Para Pia-
das resistências que o objeto oferece a
get, é preciso fazer uma dissociação en-
sua assimilação pelas estruturas atuais
tre aquilo que se aprende na escola e as
do sujeito. Assimilações e acomodações
aprendizagens espontâneas, já que estas
conduzem o sujeito a uma adaptação
seriam capazes de revelar o “verdadeiro
progressivamente mais precisa à reali-
pensamento” (VIGOTSKI, 1991). Em
dade (WADSWORTH, 1997).
suas palavras:
A criança nasce com poucos refle- (...) podemos distinguir dois aspec-
xos inatos (como por exemplo, sugar, tos no desenvolvimento intelectual
agarrar), por meio dos quais os estí- da criança. Por um lado, o que po-
mulos do meio são assimilados/aco- demos chamar o aspecto psicosocial,
modados por ela, dando origem aos quer dizer tudo o que a criança recebe
do exterior, aprende por transmissão
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Neste sentido, cabe resgatar a pon- Nesse sentido, Nunes (2004) argu-
deração de Kupfer (1999) sobre a im- menta que a psicanálise permite com-
portância de se precisar o que, afinal, preender que a figura do professor ocu-
se entende por Educação. De acordo pa um lugar que transcende a própria
com a autora, a educação é um processo prática pedagógica. Estabelece-se entre
que exige necessariamente repressão. É professor e aluno uma relação amorosa,
preciso reprimir para ensinar: “a apren- em que, mediante relações de transfe-
dizagem precisa da energia libidinal rência, o professor se faz suporte dos
sublimada – e não sexualizada.” (KU- investimentos do aluno. Para a psicaná-
PFER, 1989, p.98) lise, o professor configura um modelo
identificatório, que ocupa o lugar de
Diante de seu aspecto necessa-
Ideal-do-Eu para a criança:
riamente repressor, é interessante no-
tar, como demonstram Lima e Lima O professor, assim como a figura pa-
(2011), que Freud apresentou diferentes terna, pode passar a ocupar o lugar de
ideal-do-ego da criança, servindo-lhe
posições em relação à educação ao lon- de objeto de amor e de modelo su-
go do desenvolvimento de sua obra, ora cedâneo aos pais. Se em casa a crian-
concebendo-a como fonte primordial ça tem como referência – de amor e
para o estabelecimento da neurose, em proibição – os pais, na escola é o pro-
função das medidas severas utilizadas fessor quem pode estar nesse lugar,
daí a obediência ou a confrontação
para suprimir a energia sexual, ora reco-
às regras e ordens que emanam desse
nhecendo a possibilidade da profilaxia espaço de realização social e psíquica.
da neurose por uma educação psicanali- (SOUZA, 2002, p.6).
ticamente esclarecida, ou seja, diante do
reconhecimento da importância da se- Assim, o olhar psicanalítico sobre
xualidade no desenvolvimento infantil. a Educação proporciona uma reflexão
sobre posição de poder potencialmente
Ao se debruçar sobre a relação
ocupada pelo professor: “Freud discor-
(transferencial) que se estabelece entre
reu amplamente sobre esse poder de que
professor e aluno no processo educa-
são revestidos educadores e professores, e
tivo, aparece também no pensamento
sobre a tentação de se abusar dele” (KU-
freudiano a possiblidade de se pensar
PFER, 1989, p. 98). Cabe ao professor
que a educação “(...) aponta para um
comprometido com o desenvolvimento
ideal e promessa de vir a ser da criança”
do aluno como sujeito pensante a com-
(LIMA; LIMA, 2011, p.217). Kupfer
plexa tarefa de fazer uso do controle e
(1999, p.16) considera, nesse sentido,
ao mesmo tempo renunciar a ele. Nes-
que a Educação pode ser concebida
sa direção, defende Nunes (2004) que
como “uma transmissão de marcas de de-
ao professor cabe sustentar sua posição
sejo, o que a faz ampliar-se para todo
como representante do conhecimento,
ato de um adulto dirigido a uma crian-
mas ao mesmo tempo reconhecer-se
ça com o sentido de filiar o aprendiz
e apresentar-se ao aluno como sujeito
a uma tradição existencial, permitindo
faltante. Na medida em que, na relação
que este se reconheça no outro (Lajon-
educativa, o professor é o sujeito deten-
quière, 1997)” (grifos nossos).
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tor daquilo que falta ao aluno, se o pro- ber (sem, contudo, renunciar às suas
fessor se coloca na posição de que ‘tudo próprias certezas, já que é nelas que
se encontra seu desejo), então esta-
sabe’, resta ao aluno apenas a possibili-
rá contribuindo para uma relação de
dade de submeter-se à posição de objeto aprendizagem autêntica. Pela via de
diante do professor, impedindo que o transferência, a aluno ‘passará’ por ele,
aluno possa constituir-se como sujeito usá-lo-á, por assim dizer, saindo dali
desejante do saber (NUNES, 2004, s/p). com um saber do qual tomou verda-
deiramente posse e que constituirá a
Vemos, assim, que a ênfase psica- base e o fundamento para futuros sa-
nalítica está concentrada sobretudo nas beres e conhecimentos. (p.99-100).
relações afetivas entre professores e alu-
nos, colocando em destaque o desejo
de saber do aluno e o desejo de formar A RELAÇÃO PROFESSOR-
do professor como elementos decisivos ALUNO À LUZ DA ESCOLA
para a concretização da aprendizagem. DE VIGOTSKI
O foco de análise não se volta, portan-
to, aos conteúdos, mas ao campo que se A Psicologia Histórico-Cultural foi
estabelece entre o professor e seu aluno, sistematizada por Vigotski4, Leontiev e
o qual estabelece as condições para o Luria no início do século XX, no con-
aprender (sejam quais forem os conteú- texto pós-Revolução Socialista de 1917.
dos) (KUPFER, 2000). A ciência psicológica teve lugar de des-
taque no projeto coletivo de construção
Kupfer (2000) esclarece que tais de uma nova sociedade, uma vez que se
proposições não significam um elogio buscou compreender como o modo de
ao laissez-faire. Trata-se do elogio a re- organização da vida material engendra a
lações autênticas, humanizadoras, que consciência e a personalidade humana.
não dependem somente de métodos
pedagógicos sofisticados. A autora as- De acordo com a psicologia histó-
sim sintetiza as posições que decorrem rico-cultural, os fenômenos psicológi-
da visão psicanalítica: cos humanos são produzidos na e pela
atividade prática socialmente organiza-
Ao professor, guiado por seu desejo, cabe da. Para Lukács (2004) o trabalho é a
o esforço imenso de organizar, articular,
forma original de atividade especifica-
tornar lógico seu campo de conheci-
mento e transmiti-lo a seus alunos. mente humana, ou seja, atividade que
A cada aluno cabe desarticular, reta- diferencia o gênero humano de todas as
lhar, ingerir e digerir aqueles elemen- demais espécies de seres vivos em nosso
tos transmitidos pelo professor, que planeta. Todas as demais formas de ati-
se engancham em seu desejo, que fa- vidade humana têm sua gênese histórica
zem sentido para ele, que, pela vida na forma mais fundamental de trabalho
de transmissão única aberta entre ele
e o professor – a via da transferência –
que é a transformação da natureza para
encontram eco nas profundezas de sua a produção dos meios de satisfação das
existência de sujeito do inconsciente.
4
Existem diferentes grafias para o nome de Vigotski, por
Se um professor souber aceitar essa tratar-se de transliteração do alfabeto cirílico. Adotaremos
‘canibalização’ feita sobre ele e seu sa- no corpo do texto a grafia Vigotski, mantendo, no
entanto, a grafia original nas referências bibliográficas.
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