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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Guilherme Azevedo Apolinário

Resumo do texto “A profissionalização do Contador no Brasil”

MACAÉ-RJ

2019
Resumo do texto “A Profissionalização do Contador no Brasil”

 Referencial teórico

Antes de entender o processo de profissionalização do Contador no Brasil, faz-se


necessário entender o pensamento sociológico por trás de uma profissão. Inicialmente, dois
pensamentos sociológicos se estabeleceram: o funcionalismo, desenvolvido por Talcott
Parsons, no qual se identificava os atributos que distinguem as profissões das outras formas de
ocupação; e o interacionismo, desenvolvido por Everett Hughes, defendendo que as
profissões seriam como ocupações nas quais o conhecimento técnico legitimaria sua
autonomia e autorregulação.

 O Professional Project de Larson (1977)

Larson teve como intenção condensar as teses de Karl Marx e Max Weber, e, segundo
Macdonald, também enfatiza que a mobilidade social e o controle de mercado são
resultados de ações coerentes particulares. Macdonald analisa o processo da
profissionalização do contador na Inglaterra, conceituando o Professional Project.

1. Ponto de partida: na visão de Weber, os corpos sociais competem entre si por


recompensas sociais, econômicas e políticas. Dentro desses corpos sociais, estão
os grupos ocupacionais, que ganham condição de obtenção de renda com a
qualificação educacional.
2. Objetivo global: os membros do grupo ocupacional devem trabalhar para que ele
exista e devem se esforçar para que ele se mantenha vivo, ou seja, o grupo deve
seguir um projeto. Além disso, busca-se o monopólio do mercado dos serviços e
status na hierarquia social
3. Objetivos secundários: toda ocupação deve buscar uma jurisdição, ou seja,
controlar os serviços que presta. Além disso, faz-se necessário ajustar a produção
de produtores, assegurando que o grupo ocupacional tenha um processo de seleção
e treinamento adequado. Quando isso acontece, entra-se no mérito da
monopolização do conhecimento. Por fim, o conjunto desses processos leva à
respeitabilidade.
4. Outros atores: pode-se destacar como figuras importantes o Estado (já que é com
ele que se deve negociar a regulamentação da profissão), as outras ocupações com
as quais o grupo ocupacional deve competir, as instituições de ensino, o público e
os clientes.
 Apresentação e análise dos resultados

O grupo ocupacional é um conjunto de funcionários que definem sua atuação na divisão


social do trabalho e estabelecem seu controle sobre ela. Para entender a profissionalização da
Contabilidade no Brasil, primeiramente é necessário entender o campo de atuação dessa
atividade.

Em 1946, é promulgado o Decreto Lei 9.295, o qual define as atribuições do contador e do


guarda livros, estabelecendo que são trabalhos técnicos de contabilidade: organização e
execução de serviços de contabilidade em geral; escrituração dos livros de contabilidade
obrigatórios, bem como de todos necessários no conjunto de organização contábil e
levantamento dos respectivos balanços e demonstrações; e perícias judiciais ou extrajudiciais,
revisão de balanços e de contas em geral, entre outros.

No Brasil, os primeiros indícios de atividade contábil surgem com a instituição do modelo


de governo geral após o fracasso das capitanias hereditárias. Tem início, então, a exploração
da cana-de-açúcar. Junto à instituição do governo geral, chegam os jesuítas, que tinham como
objetivo catequizar para atividade missionária e formar funcionários para a administração
pública. A economia colonial brasileira foi resumida em fornecer artigos de grande valor
econômico ao continente europeu. Assim, a atividade contábil até 1808 limita-se à relação
com a administração pública.

Com a chegada da família real ao Brasil em 1808, a agricultura e a indústria começam a se


desenvolver, refletindo na esfera contábil. D. João VI determina que o Erário Real siga o
método das partidas dobradas – evidenciando a influência italiana na contabilidade brasileira
– e cria o Conselho da Fazenda, nomeando três Contadores Gerais. Em 1822, após a
independência, inicia-se o processo de imigração europeia para o Brasil (sobretudo de
italianos), exercendo impactos no comércio e no mercado de capitais. Em 1850, é promulgado
o Código Comercial Brasileiro, instituindo a obrigatoriedade do levantamento de balanços
patrimoniais anualmente.

No século XIX, a economia brasileira começa a se dinamizar e os empregados de


instituições públicas e privadas começam a representar um expressivo número na sociedade.
Assim, começa a surgir necessidade de habilidosos das práticas contábeis.
 Lançando o projeto: responsabilidade e expertise

A criação de um grupo ocupacional formal contábil no Brasil inicia-se em 1869, com a


fundação da Associação dos Guarda-Livros da Corte. A economia continua se aquecendo num
“surto” de industrialização, que se reflete na demanda pelos serviços contábeis, além de
refletir no lançamento da Revista Brasileira de Contabilidade.

Devido à Primeira Guerra Mundial, a economia nacional entra em um novo


crescimento. Nesse período, o grupo ocupacional da contabilidade se estrutura. Em 1915, é
criado em São Paulo o Instituto Brasileiro de Contadores Fiscais, no ano seguinte o Instituto
Brasileiro de Contabilidade no Rio de Janeiro, a Associação dos Contadores de São Paulo,
entre outros órgãos, indo Brasil adentro, chegando a Campinas (interior de São Paulo), Minas
Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará, etc. Entretanto, havia uma enorme
dificuldade de congregar em uma única associação, por motivo de divergência de interesses.
A situação começa a mudar no I Congresso Brasileiro de Contabilidade, quando acontecem os
primeiros movimentos a favor da unificação da classe contábil e da regulamentação da
profissão.

Em 1925, é proposta a criação do Registro Geral dos Contabilistas do Brasil,


estabelecendo o Registro dos Contabilistas divididos em três categorias: Contabilistas
(profissionais chefes de escritório, autores consagrados de Contabilidade e os professores),
Contadores (os guarda-livros ajudantes e auxiliares de escritório) e Aspirantes (auxiliares e
praticantes de escritório e os estudantes de Comércio e Contabilidade).

 Qualificações: produzindo os produtores

Em 1886, é criado o curso superior de Comércio do Mackenzie College, o qual tinha


finalidade de preparar profissionais para o comércio cafeeiro do estado de São Paulo, além de
atender os escritórios e fábricas que conduziam a industrialização da capital paulista. O curso,
porém, não obteve sucesso e adesão dos jovens daquele tempo e, no ano de 1902, foi
transformado em Escola de Comércio de Grau Médio. A primeira academia de Comércio foi
fundada em Juiz de Fora (MG), com um curso superior que começou a funcionar em meados
da última década do século XIX. Além disso, houve uma reforma do ensino com o Decreto
270, e a Escola Politécnica pôde conceder o diploma de contador àqueles que concluíssem o
curso geral, com duração de um ano. No mesmo ano, surge a Escola Prática de Comércio de
São Paulo, que em 1908 cria o curso de Ciências Comerciais, e a Academia de Comércio do
Rio de Janeiro. Esses cursos abriram caminho para a instalação de outros nas principais áreas
do país, e do curso de Ciências Contábeis, que seria criado em 1945, com o Decreto Lei
7.988.

 Unidade profissional, jurisdição e registro

Com a promulgação do Decreto Lei 20.158, de 1931, o ensino comercial é estabelecido e


a profissão de contador regulamentada, além de reconhecer o monopólio na prestação de
serviços. Em 1946, é promulgado o Decreto-Lei 9.295, que define as atribuições do contador
e do guarda-livros, além de criar o Conselho Federal de Contabilidade. Assim, o grupo
ocupacional contábil tem consolidado seu Professional Project, uma vez que garante sua
unidade, tem reconhecida sua jurisdição, reconhece-se a necessidade da obtenção de registro
para exercer a profissão e é ampliado seu monopólio.

 Conhecimento profissional

No surgimento da Contabilidade no Brasil, houve uma enorme influência italiana,


explicada, entre outros motivos, pela imigração. Adotou-se o método das partidas dobradas,
genuinamente italiano, criado por Frei Luca Pacioli. Ao longo do século XX, expandiu-se o
campo de atuação e tentou-se impor um exame de qualificação para obtenção do registro,
porém sem sucesso. Além disso, a escola americana também influenciou a contabilidade
brasileira, já que se criou, em 1976, a Lei 6.404 (Lei das Sociedades Anônimas), e a Lei
6.385, que cria a CVM.

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