Você está na página 1de 4

1

CHARCOT e o método hipnótico

A histeria em Charcot é um fato psicológico baseado na expectativa do dano,


produzindo uma crença/ideia que se enraíza na psique do sujeito como uma verdade
absoluta. Essa expectativa é desenvolvida durante o trauma. Pode-se dizer que esse
efeito traumático (histeria) só se desenvolve se esse indivíduo tem uma predisposição
SND¹. Esse trauma somado ao SND irá produzir no psiquismo a possibilidade de uma
crença traumática e, com isso, a reprodução patológica (sintomática). O trauma causa
um pane na capacidade integrativa². Dessa forma, o fato traumático produz impacto
sobre o corpo e psique do indivíduo, que demonstra consequências significativas,
irreversíveis ou até a morte. Sendo assim, por esse indivíduo não conseguir assimilar o
trauma e ideia/crença criada no momento do trauma, causada por uma fragilidade
cognitiva, a histeria é manifestada.

Neste momento é usada da hipnose para tratar da histeria desse sujeito. Para
Charcot a hipnose é um método dirigido, pode-se dizer que é tratada de fora para
dentro, sendo narrada pelo hipnotizador e não pelo hipnotizado. Com isso, a hipnose é
usada para acessar essa ideia/crença traumática e introduzir uma nova. Assim, como é
narrado o caso do sujeito que criou a expectativa de dano no braço e, por esse motivo,
se foi instala a ideia que o mesmo não iria conseguir mais movimentá-lo ou até mesmo
acreditava que não o possuía mais. Por meio da hipnose Charcot o introduz uma nova
ideia, a de que o indivíduo pode sim movimentar o seu braço e assim ao acordar do
efeito hipnótico essa será a nova crença instalada em sua psique.

BREUER e o método hipnótico

O Dr. Joseph Breuer, empregou pela primeira vez o método hipnótico no


tratamento de uma jovem histérica (1880-1882). A paciente do Dr. Breuer, uma jovem
de 21 anos, de altos dotes intelectuais, manifestou, no decurso de sua doença, que
durou mais de dois anos, uma série de perturbações físicas e psíquicas mais ou menos
graves. Tinha paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito, com
anestesia, sintoma que se estendia por vezes aos membros do lado oposto; perturbações
dos movimentos oculares e várias alterações da visão; dificuldade em manter a cabeça
erguida; tosse nervosa intensa; repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber
água durante várias semanas, apesar de sentir uma sede martirizante; redução da
faculdade de expressão verbal, que chegou a impedi-la de falar ou entender a língua
materna; e, finalmente, estados de absence³ (ausência).
2

Breuer havia notado que nos estados de absence, a jovem costumava murmurar
algumas palavras que pareciam relacionar-se com aquilo que lhe ocupava o pensamento.
Com isso, o médico, que anotara essas palavras, colocou a moça numa espécie de
hipnose e repetiu-as, para incitá-la a associar ideias. A paciente começou a reproduzir
diante do médico as criações psíquicas que tinham dominado nos estados de absence
e que se haviam traído naquelas palavras isoladas. Pode-se notar que essas fantasias
eram profundamente tristes e com grande impacto emocional — esses devaneios, como
podiam ser chamados — que tomavam o ponto de partida a situação da jovem. Depois
de relatar essas fantasias por meio da hipnose, ao acordar sentia-se aliviada e, assim,
reconduzida à vida/estado normal. Dessa forma, diferente de Charcot, Breuer usava de
uma hipnose semidirigida, com estímulos a partir das palavras ditas anteriormente pelo
paciente. Entretanto, esse bem-estar durava muitas horas e desaparecia no dia seguinte
para dar lugar a nova absence. Verificou-se logo, como por acaso, que, limpando-se a
mente por esse modo (hipnose), era possível conseguir alguma coisa mais que o
afastamento passageiro das repetidas perturbações psíquicas.
Como dito de forma breve anteriormente, Breuer utilizou a hipnose sem a atitude
dirigida de Charcot. Sendo assim, usava de uma hipnose semidirigida, estimulando
sutilmente o paciente a falar sobre o ocorrido, trazendo para o próprio paciente as
palavras que ele havia dito em estado de ausência anterior. Dessa forma, pode-se notar
que através desse estímulo semidirigido o paciente narra essa história, que por sinal
possui grande carga emocional, não só cognitiva (interpretativa), como em Charcot.
Obviamente existia uma carga emocional observada em Charcot, como o próprio medo
introduzido no dano traumático. Assim, a doente de Breuer foi tratada pelo método
catártico⁴. Breuer resolveu admitir que os sintomas histéricos apareciam em estados
mentais particulares que chamava de hipnóides⁵ . As excitações durante esses estados
hipnóides tornam-se facilmente patogênicas porque não encontram neles as condições
para a descarga normal do processo de excitações. Origina-se então, do processo de
excitação, um produto anormal — o sintoma — que, como corpo estranho, se insinua no
estado normal, escapando a este, por isso, o conhecimento da situação patogênica
hipnóide. Onde existe um sintoma, existe também uma amnésia, uma lacuna da memória,
cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma.
Para alguns autores, este tratamento não faz-se eficaz, pois era tratado um
problema e outro surgia logo depois. O caso de Ana 0. poderia ser alinhado a essa
perspectiva, mas, ao se tratar da paciente de Breuer, não havia apenas um único trauma
psíquico, mas sim vários, como descritos em suas perturbações. Até aqui podemos
diferenciar o método de Charcot e Breuer, da seguinte forma: Charcot dá ênfase no
trauma pelo viés da cognição, dessa forma alterando a ideia criada pelo sujeito na hora
do dano traumático, introduzindo uma nova. Enquanto Breuer acreditava que esse
sintoma histérico era causado por um acontecimento de grande carga emocional, é
devido essa experiência afetiva carregada (bloqueada dentro do indivíduo), que
manifesta-se os sintomas histéricos. Além disso, Charcot tinha a hipótese do trauma
ser devido uma predisposição do indivíduo SND.
3

i Sistema Nervoso Degenerado


² Bloqueio psíquico causado pelo trauma
³ Confusão, delírio, alteração na personalidade
⁴ procedimento terapêutico pelo qual um sujeito consegue eliminar seus efeitos patogênicos e,
então ab-reagi-los, revivendo os acontecimentos traumáticos e eles ligados. A fala é o meio
pelo qual estes afetos são eliminados
⁵ estado mental inativo, que faz com que o sujeito absorva experiências sem a digerir,
ocasionando num sintoma histérico
4

FREUD e o método — iniciação da psicanálise

Durante um tempo Freud segue o método hipnótico de Breuer, porém em um


certo momento critica tal. Segundo Freud o método de Breuer não chegava a ser
completamente eficaz, ou em outras palavras: duradouro. Alguns dos pontos trazidos
por ele são: nem todos histéricos se deixavam hipnotizar; o sintoma poderia voltar de
outra forma (outra característica, manifestada de forma diferente pelo corpo/psique do
histérico). Dessa forma, pode-se dizer que o método é paliativo e não curativo –
trabalho limitado na cura. Freud também foi influenciado pela aprendizagem que obteve
na escola francesa, se debruçando em um novo fenômeno, que consistia em hipnotizar
o paciente estabelecendo uma tarefa para ser exercida logo após. Assim, ao ordenar
tal, o sujeito ao acordar do transe hipnótico sem a menor consciência daquela ordem,
executava sem questionar. O indivíduo encontrava-se mobilizado a cumprir esta ordem
injetada em seu inconsciente. Com isso, o movimento final é impensado, automático.
Respondendo ao pedido/ordem induzido pelo hipnotizador, é provado a existência do
inconsciente.

Neste momento se é iniciado um interrogatório completo, qual foi substitui a


hipnose. Esse interrogatório preza a (indução/esforço de consciência). Começa-se a
perceber que os pacientes tinham certa dificuldade de lembrar/acessar a memória-
trauma, e ao lembrar sentiam certa dor. Com isso o psiquismo se divide em: consciente,
história sofrida, inconsciente, assim ocorrendo uma resistência para acessar essa
consciência. O que diferia Freud de Breuer, esta exatamente ligado a uma ordem
patológica/traumática. A tese Freudiana é a teoria da defesa/resistência do psiquismo
dessas crenças e histórias traumáticas do inconsciente. Os pacientes não integram
porque não querem acessar as causas traumáticas que por uma vez alcançadas causam
sofrimento, desprazer.
O psiquismo integra e desintegra, afastando-se de certas crenças e
pensamentos que afetem os pensamentos dominantes, ocasionando em desprazer.
Assim, o psiquismo não é só um sistema de acomodação e assimilação, como também
faz trabalho de expulsão/afastamento. E é por essas novas percepções que Freud dá
início a um novo mapeamento do inconsciente humano, dando início aos estudos
psicanalíticos.

Você também pode gostar