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Vacinação obrigatória (Covid-19): a autonomia como

componente fundamental da dignidade da pessoa


humana versus o dever fundamental de preservação da
saúde coletiva

VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA (COVID-19): A AUTONOMIA COMO


COMPONENTE FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
VERSUS O DEVER FUNDAMENTAL DE PRESERVAÇÃO DA SAÚDE COLETIVA
Mandatory vaccination (Covid-19): autonomy as a fundamental component of human dignity versus
the fundamental duty to preserve collective health
Revista de Direito e Medicina | vol. 11/2022 | Jan - Abr / 2022
DTR\2022\8535

Rafael Calhau Bastos


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Direitos e Garantias Fundamentais da Faculdade de
Direito de Vitória – FDV. Especialista em Prevenção e Repressão à Corrupção pela Universidade
Estácio de Sá/CERS. Promotor de Justiça – MPES. rafael_calhau@me.com

Adriano Sant’Ana Pedra


Doutor em Direito Constitucional (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP). Mestre
em Direitos e Garantias Fundamentais (Faculdade de Direito de Vitória – FDV). Professor do Curso
de Direito e do Programa de Pós-Graduação – Mestrado e Doutorado – em Direitos e Garantias
Fundamentais da Faculdade de Direito de Vitória – FDV. adrianopedra@fdv.br

Área do Direito: Constitucional


Resumo: O presente artigo analisa se a vacinação contra a Covid-19 pode ser considerada como
obrigatória pelo Estado e se a submissão do indivíduo à vacinação obrigatória constitui o
cumprimento do dever fundamental de preservação da saúde coletiva. Aborda questões relativas ao
princípio da dignidade da pessoa humana e seus componentes, deveres fundamentais e a proteção
à saúde coletiva, obrigatoriedade de vacinação, a revolta da vacina e obrigatoriedade de vacinação à
luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. A pesquisa foi desenvolvida a partir do método
dedutivo. Ao final, conclui pela possibilidade de o Estado estabelecer a vacinação contra a Covid-19
como obrigatória, face ela constituir o cumprimento ao dever fundamental de proteção à saúde
coletiva, com as limitações estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal.

Palavras-chave: Obrigatoriedade – Vacinação – Covid-19 – Dignidade – Dever Fundamental


Abstract: The present article analyzes if vaccination for Covid-19 can be considered mandatory by
the State, and if an individual's submission to mandatory vaccination constitutes observance of the
fundamental duty to preserve collective health. It discusses issues pertaining to the principle of
human dignity and its components: fundamental duty and the protection of collective health;
mandatory vaccination; the anti-vaccine movement; and precedents of the Brazilian Supreme Court
(STF) on mandatory vaccination. The research was conducted by using the deductive method. As a
conclusion, the State is allowed to dictate mandatory Covid-19 vaccination, in the extent that it
constitutes the observance of the fundamental duty to protect collective health, as long as it follows
the limitations set by the Brazilian Supreme Court.

Keywords: Mandatory – Vaccination – Covid-19 – Dignity – Fundamental Duty


Para citar este artigo: BASTOS, Rafael Calhau; PEDRA, Adriano Sant’Ana. Vacinação obrigatória
(Covid-19): a autonomia como componente fundamental da dignidade da pessoa humana versus o
dever fundamental de preservação da saúde coletiva. Revista de Direito e Medicina. vol. 11. ano 4.
São Paulo: Ed. RT, jan.-abr. 2022. Disponível em: inserir link consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.
Sumário:

1 Introdução - 2 Os limites ao valor intrínseco da pessoa e à sua autonomia como expressões da


própria dignidade humana - 3 Dever fundamental de proteção à saúde coletiva e a obrigatoriedade
de vacinação - 4 A constitucionalidade da vacinação obrigatória (Covid-19) à luz da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal - 5 Considerações finais - 6 Referências

1 Introdução

A1 pandemia causada pelo vírus da Covid-19, desde a declaração de Emergência de Saúde Pública
de Importância Internacional pela OMS, em 30 de janeiro de 2020, tem alterado significativamente a
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rotina das pessoas. Estabeleceu regras que impõem o uso de máscaras de proteção, isolamento
social, quarentena, restrições ao funcionamento de atividades econômicas, requisições de bens e
serviços, entre outras, limitando o exercício de direitos fundamentais do cidadão, em razão da
premente necessidade de conter o avanço da pandemia e de preservar a vida e a saúde coletiva.

Com aumento exponencial, a crise sanitária que vitimou milhões de pessoas continua a progredir,
gerando danos não só à saúde e à vida, mas também à economia, quer pelas restrições impostas
pelas regras de isolamento social, quer pela grave crise econômico-financeira gerada, que possui o
condão de multiplicar de forma indireta a quantidade de vítimas.

Nesse contexto, enquanto não atingida a chamada “imunidade de rebanho”, as vacinas se mostram
como esperança de contenção da doença e de seus nefastos efeitos.

Entretanto o processo atipicamente acelerado de desenvolvimento e fabricação do imunizante, não


obstante os avanços da ciência, tem gerado, em significativa parcela da população, incertezas
quanto à segurança e eficácia do tratamento, reacendendo a resistência de muitos, por orientação
religiosa, filosófica, existencial, ou por receio que a vacina cause danos à sua saúde ao aceitá-la
como obrigatória.

O temor quanto à eficácia e segurança das vacinas nos remete ao ano de 1904. À época, parcela da
sociedade, receosa da eficácia da vacinação e temendo que o imunizante lhe fizesse mal, resistiu às
campanhas obrigatórias de vacinação. Segundo boatos da época, quem tomasse a vacina contra a
varíola, que consistia em pústulas de vacas doentes, ficava com feições bovinas2.

O movimento antivacinas se manteve ativo ao longo do tempo, fazendo com que a cobertura vacinal
no Brasil caísse nos últimos anos, tendo o Ministério da Saúde reconhecido a necessidade de se
resgatar a credibilidade da própria vacina3.

A diminuição da cobertura vacinal fez com que doenças consideradas como erradicadas voltassem a
surgir, trazendo reflexões sobre necessidade de maior conscientização da população.

A vida em sociedade exige do cidadão sacrifícios e concessões fundamentais para que as pessoas
possam conviver em relativa harmonia, notadamente em uma sociedade plural e complexa, como a
que vivemos.

As limitações impostas por uma vida em sociedade, muitas vezes, fazem com que o indivíduo se
veja impedido de exercer com plenitude a sua liberdade, quer face o respeito ao direito alheio, quer
para sua própria proteção, dentro de limites razoáveis impostos pelo Estado.

Essas limitações à plenitude das liberdades individuais, em alguns casos, são corolário do princípio
da solidariedade, que constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil4.

Entretanto nem sempre é pacífico o entendimento acerca dos limites entre as liberdades individuais,
entendidas como atributo da própria concepção de indivíduo, e as obrigações a que se está sujeito,
conforme as normas positivadas, imprescindíveis para a vida em sociedade.

Tais limites, em tempos de pandemia, em que são concretos tanto os riscos à vida e à saúde coletiva
quanto a limitação do exercício de liberdades individuais, trazem relevantes questionamentos
jurídicos quanto às fronteiras entre direitos e deveres, autonomia e paternalismo, egoísmo e
solidariedade. Até onde o indivíduo possui autonomia para não se imunizar frente a seu dever de
zelar pela preservação da saúde coletiva? Até onde o Estado pode exigir o sacrifício de direitos
fundamentais em prol da proteção de outros direitos fundamentais?

O artigo analisará se a vacinação contra a Covid-19 pode ser considerada obrigatória pelo Estado e
se a submissão do indivíduo à vacinação obrigatória constitui o cumprimento do dever fundamental
de preservação da saúde coletiva.

Acerca dos deveres fundamentais, é importante trazer à baila o conceito desenvolvido pelo Grupo de
Pesquisa Estado, Democracia Constitucional e Direitos Fundamentais, do Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu da Faculdade de Direito de Vitória (FDV), segundo o qual:

“Dever fundamental é uma categoria jurídico-constitucional, fundada na solidariedade, que impõe


condutas proporcionais àqueles submetidos a uma determinada ordem democrática, passíveis ou
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não de sanção, com a finalidade de promoção de direitos fundamentais”5.

Assim, intenta-se, na presente pesquisa, analisar o conflito entre o dever fundamental de


preservação da saúde coletiva e a autonomia do indivíduo, sob a ótica da proteção e concretização
dos direitos fundamentais.

Para tanto, será analisada a legislação brasileira, a doutrina e a jurisprudência dos Tribunais
Superiores, notadamente face o julgamento de ações sobre o tema no Supremo Tribunal Federal,
especialmente as ADIs 6.586/DF e 6.587/DF e, em sede de repercussão geral, o Tema 1.103, que
trata da “Possibilidade dos pais deixarem de vacinar os seus filhos, tendo como fundamento
convicções filosóficas, religiosas, morais e existenciais.”

2 Os limites ao valor intrínseco da pessoa e à sua autonomia como expressões da própria


dignidade humana

A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental da República Federativa do Brasil,


previsto no art. 1º, inciso III da Constituição Federal, sendo um verdadeiro valor que constitui
fundamento de validade para todos os direitos fundamentais6.

O princípio da dignidade da pessoa humana tem sua origem no antropocentrismo, visão de mundo
em que o ser humano ocupa papel e lugar centrais no universo7.

De difícil definição, a doutrina sobre o tema opta por não conceituar o princípio, elencando, por outro
lado, seus componentes. Daniel Sarmento aponta os seguintes componentes do princípio da
dignidade da pessoa humana:

“Dessa compreensão, emergem, prima facie, os seguintes componentes do princípio da dignidade da


pessoa humana: o valor intrínseco da pessoa, que veda a sua instrumentalização em proveito de
interesses de terceiros ou de metas coletivas; a igualdade, que implica a rejeição das hierarquias
sociais e culturais e impõe que se busque a sua superação concreta; a autonomia, tanto na sua
dimensão privada, ligada à autodeterminação individual, como na pública, relacionada à democracia;
o mínimo existencial, que envolve a garantia das condições materiais indispensáveis para a vida
digna; e o reconhecimento, que se conecta com o respeito à identidade individual e coletiva das
pessoas nas instituições, práticas sociais e relações intersubjetivas”8.

Nesse contexto, no que interessa à presente pesquisa, importante analisar os limites aos
componentes do valor intrínseco da pessoa e de sua autonomia, diante de um cenário em que a
saúde coletiva pode restar comprometida face o irrestrito exercício de escolhas pessoais, durante a
pandemia Covid-19.

O valor intrínseco da pessoa constitui a concepção na qual o indivíduo deve ser considerado como
um fim em si mesmo e que não pode ser instrumentalizado, mesmo que para servir a objetivos
nobres, como o salvamento de outras vidas9.

Immanuel Kant formulou uma teoria moral, baseada em imperativos categóricos que trariam normas
válidas incondicionalmente para todas as situações, consagrando o valor intrínseco da pessoa
através da chamada fórmula do “fim em si mesmo”. Assim, o indivíduo, dotado de razão e capaz de
agir segundo a moral, não poderia ser objeto para satisfação de metas coletivas ou propósitos
alheios10 -11 .

Para Kant, o indivíduo seria autônomo para agir de acordo com uma lei moral que escolheu para si,
independente de influências externas ou internas, inclusive as ditadas por sentimentos ou inclinações
pessoais12 .

A instrumentalização do indivíduo em prol de metas coletivas é uma característica de regimes


totalitários, em que há uma prevalência dos interesses do Estado ou da comunidade, em detrimento
das livres escolhas pessoais.

Este organicismo, que se contrapõe ao individualismo, é tratado por Bobbio, ao trazer a concepção
de organicismo da obra “Política” de Aristóteles, na qual o indivíduo era considerado como integrante
da cidade, sendo visto apenas como parte de um todo, devendo, por isso, prevalecer o interesse da
Cidade em detrimento de seus interesses pessoais13 .
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humana versus o dever fundamental de preservação da
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Entretanto, na mesma obra, Bobbio14 ressalta que “Nenhuma concepção individualista da sociedade
prescinde do fato de que o homem é um ser social, nem considera o indivíduo isolado. O
individualismo não deve ser confundido com o anarquismo filosófico à Stirner (1806-1856)”.

Dessa forma, ainda que a pessoa deva ser considerada como um fim em si mesmo, suas escolhas
pessoais devem observar o contexto social em que vive, uma vez que a vida em Sociedade exige do
cidadão sacrifícios e concessões, fundamentais para que as pessoas possam conviver em relativa
harmonia.

Ao lado do valor intrínseco da pessoa, a autonomia é também um componente da dignidade da


pessoa humana, sendo considerada como a capacidade de autogoverno ou autodeterminação do
indivíduo, que é livre para fazer suas próprias escolhas, desde que não viole direitos alheios15 .

Neste momento, importante fazer a diferenciação dos conceitos de dignidade como autonomia e
dignidade como heteronomia, pois é lugar comum que não há direito absoluto na ordem jurídica.

A dignidade humana como autonomia está aliada à própria ideia de liberdade, concebida em suas
acepções negativa ou positiva.

O conceito de liberdade negativa está ligado ao direito de abstenção, normalmente do Estado face
ao indivíduo, mas também podendo ser concebida na proteção das liberdades de pessoas que
estejam sendo ameaçadas ou limitadas por outras pessoas16 . Já a liberdade positiva diz respeito ao
exercício da autonomia, consubstanciada na “capacidade real do agente de autodeterminar a sua
conduta”17 .

A ideia de dignidade como autonomia tem inúmeros pontos favoráveis, como a manutenção do
pluralismo, da democracia e da liberdade individual, mas há o outro lado, pois a priorização do
individualismo pode colocar em risco o convívio social e a própria humanidade, principalmente no
campo de desenvolvimento das biotecnologias18 .

Neste ponto se insere o conceito de dignidade como heteronomia, que significa “uma visão
compartilhada da dignidade que ultrapassa o indivíduo e não é dirigida pela escolha individual”19 . Ou
seja, a dignidade como heteronomia é associada a elementos externos ao indivíduo, como valores
compartilhados por determinados grupos, ligados à moral pública, ao interesse público, dentre outros
20
.

A acepção de dignidade como heteronomia se situa nas teorias baseadas nos deveres. Nesse
sentido:

“Deryck Beyleveld e Roger Brownsword esclarecem que enquanto a dignidade como autonomia
situa-se em teorias baseadas em direitos, a dignidade como heteronomia situa-se naquelas
baseadas em deveres. Nas primeiras, a interferência com condutas autorreferentes somente se
motiva se estiverem em cena direitos de terceiros. Já nas segundas, as interferências com tais
comportamentos poderiam ser motivadas em três tipos de deveres: (a) deveres para com os demais;
(b) deveres para consigo; (c) deveres para com a comunidade, e não como objetos da ação de
terceiros, ainda que benevolente”21 .

Assim, a dignidade como heteronomia significa a existência de valores sociais compartilhados que se
sobrepõem às liberdades individuais22 .

Luís Roberto Barroso identifica, em uma concepção minimalista, três elementos fundamentais e
consistentes que compõem o princípio da dignidade da pessoa humana: “1. no valor intrínseco de
todos os seres humanos; assim como 2. A autonomia de cada indivíduo; e 3. Limitada por algumas
restrições legítimas impostas a ela em nome de valores sociais ou interesses estatais (valor
comunitário)”23 .

Nesse sentido, a autonomia pessoal é restrita pelos “valores comunitários”, ou seja, pelos
compromissos, valores e crenças compartilhadas pela Sociedade e pelas normas impostas pelo
Estado24 .

Assim, se a pessoa é um fim em si mesmo, não podendo ser instrumentalizada em favor do


cumprimento de metas coletivas, sendo, ainda, dotada de autonomia, podendo fazer as escolhas
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legítimas do que entenda ser vida boa, seria legítimo obrigá-la a se imunizar no cenário da pandemia
da Covid-19?

Para responder à indagação, é necessário aprofundar a análise acerca dos deveres fundamentais a
que os indivíduos estão submetidos, os quais devem ser observados à luz do princípio da dignidade
da pessoa humana.

3 Dever fundamental de proteção à saúde coletiva e a obrigatoriedade de vacinação

A dignidade da pessoa como heteronomia, como já abordado, liga-se à concepção de que além de
detentores de direitos, os indivíduos também possuem deveres, sejam estes vistos de forma
autônoma ou correlata aos direitos fundamentais que visam promover25 .

No presente capítulo, abordaremos a temática dos deveres fundamentais para, após, sob a ótima da
dignidade da pessoa como heteronomia, analisar se a obrigatoriedade de submissão a uma
campanha de vacinação constitui um dever fundamental.

3.1 O dever fundamental de proteção à saúde coletiva

O Estado, para garantir o livre exercício dos direitos, precisa de recursos financeiros, pois “os direitos
custam dinheiro e não podem ser protegidos nem garantidos sem financiamento e apoio públicos”26 .

As prestações estatais positivas, como a prestação do serviço público de saúde, possuem um


evidente custo, na manutenção de hospitais, aquisição de medicamentos, no pagamento dos
vencimentos de seus agentes de saúde, entre outros.

Da mesma forma, as liberdades negativas, consistentes nas abstenções do Estado, em respeito aos
direitos do indivíduo, ou na garantia desses direitos por terceiros, também geram custos, que podem
ser mensurados na manutenção de toda estrutura de garantia estatal. Logo, na acepção de Flávio
Galdino, “esses deveres negativos impõem para o Estado outros correlatos deveres positivos, no
mínimo para manter uma estrutura que garanta o respeito aos direitos fundamentais em questão”27 .

No mesmo sentido, Nabais entende que, mesmo os direitos e liberdades ditos negativos são ao final
tão positivos quanto os outros direitos, pois “a menos que, tais direitos e liberdades não passem de
promessas piedosas, a sua realização e a sua proteção pelas autoridades públicas exigem avultados
recursos financeiros”28 .

Retornando à concepção de Holmes e Sunstein29 acerca da necessidade de “financiamento e apoio


público”, não se pode olvidar que a concretização dos direitos fundamentais prestacionais pelo
Estado dependem da atuação de outras pessoas físicas e jurídicas30 .

Neste ponto, insere-se a solidariedade como um objetivo fundamental da República Federativa do


Brasil, conforme assentado no art. 3º, inciso I da Constituição Federal. Para que determinados
direitos fundamentais prestacionais possam se tornar efetivos, não só o Estado precisa adimplir seus
deveres, mas os particulares devem também cumprir com seus deveres fundamentais31 .

Adriano Sant’Ana Pedra discorre sobre o tema:

“Daí a razão para que as pessoas sejam solidárias. Uma solidariedade que decorre do ordenamento
jurídico e não necessariamente do altruísmo de cada um. A própria Constituição brasileira coloca
como objetivo fundamental da República a construção de ‘uma sociedade livre, justa e solidária' (art.
3º, I). As pessoas devem ser solidárias, e não solitárias, porque, além da atuação estatal, são
necessárias condutas positivas e negativas dos indivíduos para a efetivação de direitos
fundamentais”32 .

Acerca dos deveres fundamentais, adotamos o conceito desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa
Estado, Democracia Constitucional e Direitos Fundamentais, do Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu da Faculdade de Direito de Vitória (FDV), como parâmetro para se definir, ao final, se a
submissão a uma campanha de vacinação obrigatória constitui o cumprimento de um dever
fundamental.

A Constituição Federal pode estabelecer deveres fundamentais de forma explícita ou implícita, ainda
que previstos em tratados internacionais dos quais o país seja parte e tenha internalizado33 .
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É cediço que o direito à saúde constitui não só um direito fundamental social de todos, mas também
um dever do Estado, que deve proporcionar a efetivação deste direito através do acesso universal e
igualitário, abrangendo a adoção de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, nos
termos do art. 196 da Constituição Federal34 .

O art. 196 da Constituição Federal dispõe que

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”35 .

Para Ingo Sarlet36 , além de um direito fundamental, a proteção à saúde constitui um dever
fundamental, cabendo aos particulares, além de um dever geral de respeito, deveres específicos em
relação à saúde de terceiros e mesmo em relação a sua própria saúde.

“Nesse sentido, a ideia de dever fundamental evidencia o vínculo com o princípio da solidariedade,
no sentido em que toda sociedade torna-se responsável pela (efetivação e proteção do direito à
saúde de todos e de cada um, no âmbito de uma responsabilidade compartilhada (shared
responsability), de que trata Gomes Canotilho, cujos efeitos se projetam no presente e nas futuras
gerações, como já reconhecido na seara do direito ambiental”37 .

No contexto da pandemia da Covid-19, o sistema de saúde, em alguns momentos, aproxima-se do


colapso diante do grande número de contaminações, evidenciando que as providências adotadas
pelo Estado para conter a pandemia serão sempre insuficientes em razão de sua magnitude38 .

Em uma pandemia resta evidenciado o quanto conectados os seres humanos estão, pois “Somos
seres gregários por natureza e a vida em comunidade exige a colaboração de cada indivíduo para
que os objetivos comuns sejam alcançados”39 .

Durante a pandemia da Covid-19, é certo que para que o direito à saúde coletiva seja concretizado,
além das prestações positivas estatais, é preciso que os particulares concorram para sua efetivação,
pois diante do alto contágio da doença, medidas de proteção pessoal e dos demais integrantes da
Sociedade se mostram imperativas, como o uso de máscaras, o distanciamento social, entre outras.

A legislação brasileira estabelece de forma sistemática o dever do indivíduo de proteção à saúde


coletiva, ao positivar, ao longo dos anos, obrigações legais as quais estão sujeitos os indivíduos e
que concretizam os deveres fundamentais correlatos.

A título de exemplo, registra-se que constituem crimes as diversas condutas previstas no Capítulo III
do Código Penal, dentre elas a de causar epidemia, de infringir medida sanitária preventiva, de omitir
a notificação de doença, dentre outros, que tutelam no âmbito criminal a proteção à saúde coletiva40 .

De igual forma, podemos citar a Lei 13.301/20016, que trata de medidas de vigilância sanitária para
o combate à dengue, ao zika vírus e chicungunya, alterando a Lei 6.437/1977 (LGL\1977\237), que
trata de normas sanitárias federais.

Recentemente, foi promulgada a Lei 13.979/2020 (LGL\2020\1068), tratando de medidas para


enfrentamento ao coronavírus, estabelecendo a possibilidade de adoção de diversas medidas
sanitárias preventivas, como o isolamento, a quarentena, a utilização de máscaras de proteção, a
determinação compulsória de realização de exames médicos e de vacinação41 .

Retornando ao conceito de dever fundamental utilizado como parâmetro na presente pesquisa,


podemos afirmar que a proteção à saúde coletiva, ao menos em tese, constitui um dever
fundamental a que estão submetidos os indivíduos, pois se tratam de condutas impostas com base
no princípio da solidariedade, àqueles submetidos a uma ordem democrática, com a finalidade de
promoção do direito fundamental à saúde própria e de terceiros.

A abordagem, como dito, é abstrata, pois a proporcionalidade, que é um dos elementos do conceito
de deveres fundamentais, somente pode ser analisada de forma concreta, como se pretende abordar
na hipótese da vacinação obrigatória, a seguir tratada.

3.2 A obrigatoriedade de vacinação e o paternalismo estatal


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A questão da obrigatoriedade da vacinação no Brasil se mostrou tormentosa no passado, em razão


de uma sequência de fatos que culminaram na chamada Revolta da Vacina, em 1904.

Os fatores que levaram à Revolta da Vacina de 1904, na verdade, mostram-se muito mais
complexos, envolvendo questões políticas e econômicas que ultrapassariam os limites das
discussões acerca de eficácia e segurança das vacinas. Não se tratou, portanto, de uma

“mera manifestação de rebeldia gratuita da turba ignara, facilmente manipulada por aqueles que
pretendiam ver abaixo o governo, tampouco uma rebelião insana contra os evidentes benefícios que
poderiam advir da vacinação”42 .

Entretanto, no intuito de não nos afastarmos do recorte proposto na presente pesquisa, não
trataremos das questões políticas e econômicas que gravitaram em torno da Revolta da Vacina, que
constituiu relevante marco de defesa da cidadania no Brasil.

Em 1903, em meio a epidemias de febre amarela e peste bubônica, Oswaldo Cruz, então Diretor de
Saúde no Rio de Janeiro, enfrentava as doenças através de ações de extinção de mosquitos, de
isolamento de doentes em hospitais, de exterminação de ratos, dentre outras medidas que eram
executadas por brigadas sanitárias, compostas por agentes de saúde e militares. Os principais alvos
das visitas sanitárias eram as áreas mais pobres e de maior densidade demográfica, sendo certo que
muitas destas habitações coletivas eram interditadas43 .

Desde o ano de 1837, uma norma de postura municipal do Rio de Janeiro havia tornado a vacinação
contra varíola obrigatória, o que foi estendido a todo Império em 1884 e ratificado na República em
188944 .

Como as leis anteriores não haviam se mostrado eficazes, nova lei que previa a obrigatoriedade de
vacinação contra a varíola foi aprovada em 1904, em meio a um forte movimento de oposição ao
Governo de Rodrigues Alves, que culminou em uma campanha contrária à própria vacinação45 .

De um lado, o Governo afirmava que a vacinação era de inegável e imprescindível interesse para a
saúde pública, ante a epidemia de varíola e, de outro, a oposição questionava os métodos
truculentos de execução da lei, sendo a vacina pouco confiável e aplicada por agentes públicos com
“instintos brutais e moralidade discutível”46 .

Durante a Revolta da Vacina, os opositores manifestavam que

“se o governo acreditava plenamente nas qualidades e na necessidade da vacina, então que
deixasse a cada consciência a liberdade de decidir pela sua aplicação, podendo, até mesmo,
escolher as condições que melhor lhe conviessem para recebê-la”47 .

Até mesmo Rui Barbosa, pessoa culta e bem-informada, se opôs à vacinação compulsória:

“E o que é notável: mesmo um elemento conservador, culto e bem informado como Rui Barbosa,
político de grande envergadura, respeitado pelo público e por seus pares, denotava enorme
insegurança quanto às peculiaridades, à qualidade e aos métodos de aplicação da vacina
antivariólica prevista pela lei: ‘Não tem nome, na categoria dos crimes do poder, a temeridade, a
violência, a tirania a que ele se aventura, expondo-se, voluntariamente, obstinadamente, a me
envenenar, com a introdução no meu sangue, de um vírus sobre cuja influência existem os mais bem
fundados receios de que seja condutor da moléstia ou da morte’”48 .

Observa-se que à época estavam em jogo não só o livre exercício das liberdades individuais de
opção por submeter-se a tratamento com o imunizante, mas também a defesa do indivíduo contra o
arbítrio do Estado que, para levar a obrigatoriedade de vacinação à efeito, previa a violação dos
domicílios e a vacinação forçada, ou seja, contra a vontade das pessoas.

Além disso, a regulamentação da lei exigia comprovantes de vacinação para a realização de


matrículas nas escolas, a demissão sumária de quem não se vacinasse, além de outras restrições ao
direito de cidadania, contra os quais os insurgentes se revoltaram.

Ante a ilegitimidade da forma como foi implementada a obrigatoriedade da vacinação em 1904, após
confrontos sangrentos, a obrigatoriedade da vacinação foi revogada 6 dias após sua entrada em
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vigor49 .

Atualmente, a obrigatoriedade de vacinação encontra-se positivada na Lei 6.259/75 (LGL\1975\282),


que instituiu o programa nacional de imunizações que, no entanto, não estabelece sanções aos que
se recusarem a cumprir esta obrigação50 .

De igual forma, a Lei 13.979/2020 (LGL\2020\1068), em seu parágrafo quarto, estabelece que as
pessoas devem cumprir as medidas sanitárias nela previstas, sob pena de responsabilização, nos
termos previstos em lei51 .

Neste ponto, é necessária a análise acerca da possibilidade do Estado, de limitar a autonomia


individual e estabelecer a vacinação como obrigatória, partindo da premissa de que a proteção à
saúde coletiva constitui um dever fundamental.

Referida discussão passa pelo que se denomina paternalismo estatal, que ocorre quando o Estado
estabelece uma relação assimétrica de superioridade e inferioridade entre este e o indivíduo,
ultrapassando o âmbito meramente moral52 .

Na doutrina de Daniel Sarmento, o paternalismo se assenta na ideia de que o Estado sabe melhor o
que é bom para cada pessoa do que ela mesma, infantilizando os indivíduos. “Daí sua tensão
potencial com o princípio da dignidade da pessoa humana, que demanda que as pessoas sejam
tratadas como sujeitos, e não como objetos da ação de terceiros, ainda que benevolente”53 .

Uma pessoa adulta, capaz e com completo entendimento sobre as consequências de seus atos
poderia rejeitar a proteção estatal paternalista, quando dessa escolha não advenham prejuízos a
outrem54 .

A princípio, a opção pela não submissão a uma campanha de vacinação obrigatória consistiria no
livre exercício de um direito subjetivo, o qual o indivíduo poderia deixar de exercer em razão de suas
convicções pessoais, motivados por aspectos religiosos ou existenciais, que norteiam sua lei moral e
concepção de vida boa.

Entretanto, para ser legítima, esta faculdade não poderia gerar danos a terceiros. Sobre o tema, a
clássica lição de Stuart Mill:

“[...] que o único propósito pelo qual o poder pode ser constantemente exercido sobre qualquer
membro de uma comunidade, contra a vontade deste, é o de prevenir danos para os outros
membros. O próprio bem dele, seja físico ou moral, não é causa suficiente. Ele não pode ser
compelido a fazer ou a deixar de fazer algo porque isso seria melhor para ele, ou porque iria fazê-lo
mais feliz ou porque, na opinião dos outros, isso seria o melhor ou mesmo o correto”55 .

Assim, em sentido oposto ao que foi afirmado, tratando-se concretamente de campanhas de


vacinação obrigatória relativa a doenças contagiosas, como se observa em relação à Covid-19, não
se pode afirmar que as consequências advindas da não submissão à vacinação gere efeitos
somente ao indivíduo.

Ao revés, ao optar por não se submeter à vacinação, a conduta do indivíduo tem a potencialidade de
manter a circulação do vírus, prolongando a manutenção das restritivas medidas sanitárias que tanto
limitam o exercício das liberdades individuais e tem gerado danos à ordem econômica.

Pedra aduz que “o dever imposto a um indivíduo não deve corresponder a um esforço exorbitante
para ele” 56 , pois mesmo a ideia de solidariedade não pode impor um sacrifício extraordinário. “A
noção de ‘dever de solidariedade’ é, portanto, o estágio mais avançado da cidadania”57 .

Dessa forma, mais uma vez retornando ao conceito de dever fundamental adotado nesta pesquisa,
podemos afirmar que a proteção à saúde coletiva, no que se refere à eventual obrigatoriedade de
vacinação contra Covid-19, constitui um dever fundamental a que estão submetidos os indivíduos,
pois se trata de conduta proporcional que pode vir a ser imposta com base no princípio da
solidariedade, àqueles submetidos a uma ordem democrática, com a finalidade de promoção do
direito fundamental à saúde própria e de terceiros.

Sobre a proporcionalidade:
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Vacinação obrigatória (Covid-19): a autonomia como
componente fundamental da dignidade da pessoa
humana versus o dever fundamental de preservação da
saúde coletiva

“Dessa forma, a trivialidade do esforço dependerá não apenas do sujeito do dever como também do
contexto em que se busca proteger os direitos fundamentais que dependem do referido dever.
Assim, por um lado, é possível falar em ponderação subjetiva, que leva em consideração a
capacidade do indivíduo de cumprir os comportamentos que lhe são exigidos. Por outro, o contexto é
importante para mensurar o quanto é necessário ser exigido de cada um, e por isso também se deve
considerar uma ponderação objetiva”58 .

O equilíbrio entre a dignidade como autonomia e a dignidade como heteronomia e a


proporcionalidade da possibilidade de imposição de vacinação contra Covid-19 podem ser extraídos
de recente acórdão do Supremo Tribunal Federal, que a seguir será abordado.

4 A constitucionalidade da vacinação obrigatória (Covid-19) à luz da jurisprudência do


Supremo Tribunal Federal

O ambiente político existente durante a pandemia Covid-19 guarda certa semelhança com a
efervescência de ânimos existente em 1904, durante a Revolta da Vacina. Uma forte polarização
política ofusca a discussão necessária acerca da eficiência e segurança de uma vacina e a devida
informação ao indivíduo, para que ele tenha condições de se orientar acerca de sua importância.

Ainda antes do registro de vacinas contra a Covid-19 no Brasil, a discussão acerca da possibilidade
e necessidade de impor sua obrigatoriedade deixou a arena das ideias e discussões e chegou ao
Supremo Tribunal Federal.

Nesse sentido, duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade chegaram à Corte no mês de outubro de
2020. A primeira ação direta de inconstitucionalidade, de número 6.586, foi proposta pelo Partido
Democrático Trabalhista e objetivava que a Corte Constitucional conferisse interpretação conforme
ao art. 3º, inciso III, “d” da Lei 13.979/2020 (LGL\2020\1068) para estabelecer que seria competência
dos Estados e Municípios determinar a realização de vacinação compulsória e outras medidas
profiláticas em relação à pandemia da Covid-1959 .

A segunda ação direta de inconstitucionalidade, de número 6.587, foi proposta pelo Partido
Trabalhista Brasileiro e, em sentido oposto, almejava a interpretação conforme o art. 3º, inciso III, “d”
da Lei 13.979/2020 (LGL\2020\1068), para que fosse impedida a vacinação compulsória nos casos
em que as vacinas carecessem de comprovação científica quanto a sua eficácia e segurança60 .

Ainda sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal enfrentou a questão trazida no Tema de
Repercussão Geral 1.103, que tratava da “Possibilidade dos pais deixarem de vacinar os seus filhos,
tendo como fundamento convicções filosóficas, religiosas, morais e existenciais”61 .

As Ações Diretas de Inconstitucionalidade 6.586 e 6.587 foram julgadas parcialmente procedentes,


conferindo interpretação conforme ao art. 3º, inciso III, “d” da Lei 13.979/2020 (LGL\2020\1068), com
a seguinte tese de julgamento:

“(I) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, porquanto facultada sempre a recusa
do usuário, podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais
compreendem, dentre outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de
determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham como base
evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham acompanhadas de ampla
informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos imunizantes, (iii) respeitem a
dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas, (iv) atendam aos critérios de
razoabilidade e proporcionalidade e (v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e (II)
tais medidas, com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como
pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência”62 .

Depreende-se do acórdão e dos votos que a Corte Constitucional reconheceu a possibilidade de se


considerar a vacinação contra Covid-19 como obrigatória, entretanto estabeleceu as condições que
devem concorrer para que esta possibilidade se mostre legítima e constitucional.

Isso porque, nos termos do voto do Ministro relator, Ricardo Lewandowski, foi salientado que a
dignidade humana é um verdadeiro sobreprincípio, concebido para inspirar a convivência pacífica e
civilizada entre as pessoas, impondo limites à atuação do Estado63 .

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Vacinação obrigatória (Covid-19): a autonomia como
componente fundamental da dignidade da pessoa
humana versus o dever fundamental de preservação da
saúde coletiva

O Min. Lewandowski salientou em seu voto que a concreção ao valor da dignidade humana
desdobra-se no direito à vida, à liberdade, à segurança, à propriedade, à intimidade e à vida privada,
bem como na vedação à tortura e ao tratamento desumano ou degradante (art. 5º, caput, III e X da
Constituição Federal), estabelecendo, ainda, os inúmeros tratados que o Brasil é signatário,
parâmetros jurídicos e éticos a serem considerados no debate acerca dos limites da obrigatoriedade
da vacinação64 .

O relator citou o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, internalizado pelo Decreto
592/92 (LGL\1992\36), que veda não só a tortura, mas também a submissão de pessoas, sem seu
livre consentimento, a experiências médicas ou científicas, bem como o Pacto de San José da Costa
Rica, internalizado pelo Decreto 678/92 (LGL\1992\9), que dispõe acerca do respeito à integridade
física, psíquica e moral da pessoa65 .

No campo da biomedicina, o voto condutor tratou do conceito de “livre convencimento informado”, no


sentido de que qualquer intervenção no domínio da saúde só pode ser efetuado após ser prestado à
pessoa as informações adequadas, relativas a suas consequências e riscos, e dela obtido o livre
consentimento66 .

Desses fundamentos, depreende-se que o corpo do indivíduo é intangível, concluindo-se que

“[...] a obrigatoriedade a que se refere a legislação sanitária brasileira quanto a determinadas vacinas
não pode contemplar quaisquer medidas invasivas, aflitivas ou coativas, em decorrência direta do
direito à intangibilidade, inviolabilidade e integridade do corpo humano, bem como das demais
garantias antes mencionadas. Em outras palavras, afigura-se flagrantemente inconstitucional toda
determinação legal, regulamentar ou administrativa no sentido de implementar a vacinação forçada
das pessoas, quer dizer, sem o seu expresso consentimento”67 .

Como fundamento para a decisão, o relator trata da proteção à saúde coletiva, afirmando que ela
não pode ser prejudicada por pessoas que deliberadamente se recusem a ser vacinadas, invocando
o princípio da solidariedade para admitir que o Estado, “atendidos os pressupostos de segurança e
eficácia das vacinas, restrinja a autonomia individual das pessoas com o fito de cumprir o dever de
dar concreção ao direito social à saúde[...]”68 .

Neste ponto, importante salientar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
atendidos os pressupostos de eficácia e segurança, aprovou o uso emergencial das vacinas
Coronavac, Covishield e Jansen e, o registro definitivo das vacinas Astrazeneca e Pfizer como
medidas preventivas à transmissão da Covid1969 .

O Min. Luís Roberto Barroso, em seu voto, também aduziu que, embora a Constituição assegure a
todos os indivíduos o direito de formularem suas próprias concepções de vida boa, de visão de
mundo, quando elas colidem com os direitos da coletividade à vida e à saúde, devem ceder a estes,
face a prevalência que o “valor comunitário” deve ter em relação ao valor intrínseco da pessoa e sua
autonomia, visando, em primeiro lugar, preservar os direitos fundamentais e a dignidade de terceiros,
esta concebida como dignidade da pessoa como heteronomia. E, em segundo lugar, para a própria
proteção do indivíduo70 .

Com estes mesmos fundamentos, o Min. Barroso, relator do Tema 1.103 (ARE. 1.267.879), que
tratava da “Possibilidade dos pais deixarem de vacinar os seus filhos, tendo como fundamento
convicções filosóficas, religiosas, morais e existenciais.” decide que:

“É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de


vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações, ou (ii) tenha sua
aplicação obrigatória determinada em lei ou (iii) seja objeto de determinação da União, Estado,
Distrito Federal ou Município, com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se
caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis,
nem tampouco ao poder familiar”71 .

Neste tema de repercussão geral, além dos fundamentos adotados como ratio decidendi pela Corte,
o Relator aduziu que o poder familiar não autoriza os pais, invocando convicção filosófica, a
colocarem em risco a saúde dos filhos, invocando o princípio do melhor interesse da criança72 .

Ao final, tanto nas Ações Diretas de Constitucionalidade 6.586 e 6.587 quanto no Tema de
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Vacinação obrigatória (Covid-19): a autonomia como
componente fundamental da dignidade da pessoa
humana versus o dever fundamental de preservação da
saúde coletiva

Repercussão Geral 1.103, o Supremo Tribunal Federal sedimentou o entendimento no sentido de


que: 1. A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, ou seja, há de ser respeitada a
integridade física e psíquica do indivíduo; 2. As consequências da não submissão à vacinação
obrigatória somente podem ocorrer de forma indireta, com a restrição ao exercício de certas
atividades ou à frequência a determinados lugares, desde que previsto em lei.

Além disso, para que as vacinas possam ser consideradas obrigatórias, é preciso que, segundo o
Supremo Tribunal Federal:

“(i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham
acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos
imunizantes, (iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas; (iv)
atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e (v) sejam as vacinas distribuídas
universal e gratuitamente; [...]”73 .

Dessa forma, o Supremo Tribunal Federal sedimentou o entendimento de que a vacina contra a
Covid-19, diante do princípio da solidariedade e do dever fundamental de proteção à saúde coletiva,
pode ser considerada obrigatória. Entretanto essa obrigatoriedade não se confunde com vacinação
forçada, somente podendo ser implementada a compulsoriedade através de medidas indiretas, como
ocorre com outras vacinas, a exemplo a de febre amarela.

5 Considerações finais

A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental da República Federativa do Brasil,


previsto no art. 1º, inciso III da Constituição Federal, sendo um verdadeiro valor que constitui
fundamento de validade para todos os direitos fundamentais.

A dignidade humana em seu sentido de autonomia está aliada à própria ideia de liberdade, em que o
indivíduo tem o direito de fazer suas próprias escolhas do que entende como vida boa e de suportar
suas consequências, desde que não viole direitos de outras pessoas.

Por outro lado, a dignidade da pessoa como heteronomia significa a existência de valores sociais
compartilhados que se sobrepõem às liberdades individuais, ligando-se à concepção de que, além
de detentores de direitos, os indivíduos também possuem deveres. O direito à saúde constitui não só
um direito fundamental social de todos, mas também um dever do Estado.

Para que o direito à saúde coletiva seja concretizado, além das prestações positivas estatais, é
preciso que os particulares concorram para sua efetivação, pois, diante do alto contágio da doença,
medidas de proteção pessoal e dos demais integrantes da Sociedade se mostram imperativas, como
o uso de máscaras, o distanciamento social, entre outras.

A questão da obrigatoriedade da vacinação no Brasil se mostrou tormentosa no passado, em razão


de uma sequência de fatos que culminaram com a chamada Revolta da Vacina, em 1904.

Tratando-se de campanhas de vacinação obrigatórias relativas a doenças contagiosas, como se


observa em relação à Covid-19, não se pode afirmar que as consequências advindas da não
submissão à vacinação gere efeitos somente ao indivíduo.

Ainda antes do registro de vacinas contra a Covid-19 no Brasil, a discussão acerca da possibilidade
de impor sua obrigatoriedade chegou ao Supremo Tribunal Federal, que sedimentou o entendimento
de que a vacina contra a Covid-19, diante do princípio da solidariedade e do dever fundamental de
proteção à saúde coletiva, pode ser considerada obrigatória.

Em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, a Corte Constitucional dispôs que a


obrigatoriedade não se confunde com vacinação forçada, sendo intangível a integridade física e
psíquica da pessoa.

Assim, a obrigatoriedade de vacinação somente pode ser implementada aos recalcitrantes através
de medidas indiretas, como a proibição de frequentar determinados lugares e de exercer certas
atividades, como ocorre, por exemplo, quanto à vacinação contra febre amarela.

6 Referências
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Acesso em: 08.05.2021.

1 O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito do Grupo de Pesquisa Estado, Democracia


Constitucional e Direitos Fundamentais, do Programa de Pós-Graduação em Direitos e Garantias
Fundamentais da Faculdade de Direito de Vitória.

2 FIOCRUZ. A revolta da vacina. 2005. Disponível em:


[https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2]. Acesso em: 10.12.2020.

3 LISBOA,Vinícius. Em queda há 5 anos, cobertura vacinais preocupam Ministério da Saúde.


Agência Brasil, 2020. Disponível em:
[https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-10/em-queda-ha-5-anos-coberturas-vacinais-preocupam-ministeri
Acesso em: 11.12.2020.

4 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em:


[www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm]. Acesso em: 21.12.2020.

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5 CORTAT, Luisa C. S. Gonçalves; FABRIZ, Dauri C. Dever Fundamental: a Construção de um


Conceito. In: DE MARCO, Cristian Magnus; PEZELLA, Maria Cristina Cereser; STEINMETZ, Wilson
(Coord.). Teoria Geral e mecanismos de efetividade no Brasil e na Espanha: Tomo I. [S.l.]: Unoesc,
2013. p. 87-96.

6 BRASIL, 1988.

7 BARROSO, Luís Roberto. A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional


contemporâneo: a Construção de um Conceito Jurídico à Luz da Jusrisprudência Mundial. Belo
Horizonte: Ed. Fórum, 2020.

8 SARMENTO, Daniel. Dignidade da Pessoa Humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. Belo


Horizonte: Ed. Forum, 2016. Grifos do autor.

9 SARMENTO, 2016.

10 SARMENTO, 2016.

11 BARROSO, 2020.

12 SARMENTO, op. cit.

13 Id.

14 BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

15 SARMENTO, op. cit.

16 SARMENTO, op. cit.

17 SARMENTO, op. cit., p. 153, grifo do autor.

18 MARTEL, Letícia de Campos Velho. Direitos fundamentais indisponíveis: os limites e os padrões


do consentimento para a autolimitação do direito fundamental à vida. 2010. Tese (Doutorado em
Direito Público) – Centro de Pós-graduação em Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: https://works.bepress.com/leticia_martel/5/. Acesso em: 02 nov.
2020.

19 MARTEL, op. cit., p. 172.

20 MARTEL, loc. cit.

21 Ibid., p. 173.

22 Id.

23 BARROSO, op. cit.

24 Ibid., p. 87.

25 PEDRA, Adriano Sant'Ana. Solidariedade e deveres fundamentais da pessoa humana. In:


BUSTAMANETE, Thomas; GALUPPO, Marcelo; GONTIJO, Lucas; LOPES, Mônica Sette;
SALGADO, Karine (Org.). Human Rights, Rule of Law and the Contemporary Social Challenges in
Complex Societies: Proceedings of the XXVI World Congress of Philosophy of Law and Social
Philosophy of the Internationale Vereinigunf für Rechts- und Sozialphilosophie. Belo Horizonte: Initia
Via, 2015. p. 1133-1148.

26 HOLMES, Stephen; SUNSTEIN, Cass R. O Custo dos Direitos. São Paulo: Martins Fontes, 2019.

27 GALDINO, Flávio. Introduçao à Teoria dos Custos dos Direitos. Direitos Não Nascem em Árvores.
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Vacinação obrigatória (Covid-19): a autonomia como
componente fundamental da dignidade da pessoa
humana versus o dever fundamental de preservação da
saúde coletiva

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 226.

28 NABAIS, José Casalta. A face oculta dos direitos fundamentais: os deveres e os custos dos
direitos. Revista Da Agu, v. 1, n. 01, p. 1-24, 2005. p. 23. Disponível em:
[https://doi.org/10.25109/2525-328x.v.1.n.01.2002.525]. Acesso em: 10.05.2021.

29 HOLMES; SUSTEIN, op. cit.

30 PEDRA, op. cit.

31 Id.

32 Ibid., p. 1136.

33 Id.

34 CALHAU, Rafael C. Bastos; PERIM, Maria Clara Mendonça; BUSSINGUER, Elda Coelho de
Azevedo. O Fortalecimento das Unidades de Controle Interno como Controle Preventivo Eficaz às
Práticas Corruptas e Instrumento para a Efetividade de Políticas Públicas (de Saúde). 2021, no prelo.

35 BRASIL, op. cit.

36 SARLET, Ingo Wolfgang. Art. 196. In: CANOTILHO, J. J. Gomes et al. (Org.). Comentários à
Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 1931-1936.

37 Ibid., p. 1931.

38 PEDRA, Adriano Sant'Ana. Deveres Humanos em Situações de Calamidade Sanitária. In: BAHIA,
Saulo José Casali; MARTINS, Carlos Eduardo Behrmann Rátis; PAMPLONA FILHO, Rodolfo.
Direitos e Deveres Fundamentais em Tempos de Coronavirus: Terceiro Volume. São Paulo: IASP,
2020. p. 26-50.

39 Ibid., p. 26.

40 BRASIL. Decreto-Lei no 2.848/1940 (LGL\1940\2). Código Penal. Brasília, 1940. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 08.05.2021.

41 BRASIL. Lei no 13.979/2020 (LGL\2020\1068). Enfrentamentento Covid-19. Brasília, 2020a.


Disponível em: [www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13979.htm]. Acesso em:
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42 PAULA, Rodrigo Francisco de. Estado de emergência na saúde pública e intervenção estatal na
vida privada: para além da invasão e da revolta. 2016. Tese (Doutorado em Direitos e Garantias
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[http://site.fdv.br/wp-content/uploads/2018/06/rodrigo-francisco-de-paula-1.pdf]. Acesso em:
14.12.2020.

43 CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. São
Paullo: Cia das Letras, 2012.

44 Id.

45 Id.

46 SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina. Mentes insanas em corpos rebeldes. Ed. Unesp,
2010.

47 Id.

Página 15
Vacinação obrigatória (Covid-19): a autonomia como
componente fundamental da dignidade da pessoa
humana versus o dever fundamental de preservação da
saúde coletiva

48 Id.

49 Id.

50 BRASIL. Lei no 6.259/1975 (LGL\1975\282). Programa Nacional de Imunizações. Brasília, 1975.


Disponível em: [www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6259.htm]. Acesso em: 08.05.2021.

51 BRASIL, 2020a.

52 ADEODATO, João Maurício. Direito à saúde e o problema filosófico do paternalismo na bioética.


Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, v. 11, p. 149-170, 2012. Disponível em:
[https://doi.org/10.18759/rdgf.v0i11.203]. Acesso em: 26.11.2020.

53 SARMENTO, op. cit., p. 169.

54 CALHAU, Rafael C. Bastos; BEDÊ JÚNIOR, Américo B. Freire. Acordo de Não Persecução Cível
e Sanção de Suspensão dos Direitos Políticos: uma análise sobre os limites da Autonomia Privada e
do Paternalismo nos Negócios Jurídicos. 2021, no prelo.

55 MILL, Stuart. Sobre a liberdade. São Paulo: Editora Hedra, 2014. p. 33.

56 PEDRA, 2020, p. 42.

57 ROSSO, P. S. Solidariedade e direitos fundamentais na Constituição brasileira de 1988. Revista


de Direitos e Garantias Fundamentais, n. 3, p. 11-30, 20.09.2007. Disponível em
[https://doi.org/10.18759/rdgf.v0i3.50]. Acesso em: 05.06.2021.

58 PEDRA, op. cit., p. 43, grifos do autor.

59 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ações diretas de inconstitucionalidade. Vacinação


compulsória contra a covid-19 prevista na Lei 13.979/2020 (LGL\2020\1068). 2020b. Disponível em:
[www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=755517337]. Acesso em:
08.05.2021.

60 Id.

61 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Possibilidade dos pais deixarem de vacinar os seus filhos,
tendo como fundamento convicções filosóficas, religiosas, morais e existenciais. 2020c. Disponível
em:
[http://stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=5168065&numeroProcesso=
Acesso em: 08.05.2021.

62 BRASIL, 2020b.

63 Id.

64 Id.

65 Id.

66 Id.

67 Ibid., grifos do autor.

68 Id.

69 ANVISA. Vacinas – Covid-19. Brasília, 2021. Disponível em:


[www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/paf/coronavirus/vacinas]. Acesso em: 22.06.2021.

70 BRASIL, 2020b.
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Vacinação obrigatória (Covid-19): a autonomia como
componente fundamental da dignidade da pessoa
humana versus o dever fundamental de preservação da
saúde coletiva

71 Id., 2020c.

72 Id.

73 BRASIL, 2020b.

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