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A genética da obesidade humana

Pós -Graduação a Dist ância

A genética da obesidade humana


Professora Dra. Daniela Caetano Gonçalves

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A genética da obesidade humana

Introdução à Genética da Obesidade Humana 3


Genética da obesidade humana 3

Regulação do comportamento alimentar 3


Leptina e regulação da ingestão alimentar 4
SUMÁRIO Hormônios do trato digestório e regulação da ingestão alimentar 4

Tipos de obesidade 7

Mecanismos moleculares da genética da obesidade 8

Características hereditárias: função do DNA 8


Estrutura do DNA 8
Transcrição gênica 11
Síntese proteíca 13
Função das proteínas nas características individuais 14
Doenças de origem genética 14

Obesidade relacionada à genética humana 16


Obesidade monogênica 16
Síndromes da obesidade 18
Obesidade poligênica 19

Terapia Gênica 20

Referências 20

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A genética da obesidade humana

INTRODUÇÃO À GENÉTICA DA chave na regulação central do comportamento


alimentar em humanos. O hipotálamo, em particular
OBESIDADE HUMANA o núcleo arqueado, recebe constantemente sinais
neurais, metabólicos e endócrinos, ajustando não
somente a ingestão energética, mas também o
Genética da obesidade humana gasto energético. Apesar da maioria dos sinais
serem originados pelo trato digestório, outros
Os avanços e investigações científicas do século
órgãos estão envolvidos ativamente. Dois tipos
passado levaram a humanidade a importantes
de sinais são descritos: primeiramente sinais que
descobertas no campo da biologia molecular. O
são periodicamente liberados, a maioria pelo trato
mapeamento do genoma humano e o aprimoramento
digestório, em resposta ao estado alimentado ou
das técnicas de biologia molecular moderna
ao jejum, que representam o estado nutricional
propiciaram o descobrimento do funcionamento
agudo; segundo, sinais tônicos, que são liberados
do DNA e dos nossos genes, assim como de que
constantemente, a maioria pelo tecido adiposo, em
forma o ambiente é capaz de modular os mesmos,
proporção á quantidade de gordura nos depósitos
caracterizando os diferentes indivíduos. Dentre as
celulares, responsáveis em sinalizar o estado
descobertas realizadas neste milênio, podemos
nutricional crônico. Na primeira categoria, econtra-se
destacar a participação de genes no processo de
a ghrelina, o hormônio da fome liberado em jejum,
desenvolvimento da obesidade, comprovando a
e muitos hormônios responsáveis pela saciedade
participação da herança genética na etiologia da
liberados no estado pós prandial (alimentado) como:
mesma. Antes de discutir as principais influências
PYY, GLP-1, PP, colecistocinina, entre outros. A ação
genéticas na obesidade, é importante se conhecer
desses hormônios na alimentação e comportamento
os mecanismos de regulação alimentar e de fome
alimentar pode também atuar diretamente,
e saciedade, visto que grande parte dos genes
na modulação do esvaziamento gástrico, ou
envolvidos com a obesidade estão relacionados a
indiretamente, na modulação de neuropeptídeos
este mecanismo.
anorexígenos (estimulam saciedade) e orexígenos
(estimulam a fome) no núcleo arqueado. A segunda
REGULAÇÃO DO COMPORTAMENTO categoria de sinais periféricos inclui a leptina, liberada
pelo tecido adiposo, e a insulina, liberada pelo
ALIMENTAR
pâncreas. Estes dois hormônios desempenham papel
O comportamento alimentar em geral e o apetite importante na regulação do peso corporal não apenas
em particular, são fenômenos complexos que de forma direta, agindo como sinais de adiposidade,
podem ser conceituados pela seleção de alimentos estimulando neuropeptídeos anorexígenos e inibindo
em particular e o tamanho e a frequência dos neurônios orexígenos, mas também de forma indireta
episódios alimentares, que juntos determinam não modulando a sensibilidade do cérebro por sinais de
somente a energia total mas também a ingestão saciedade e determinando a ingestão alimentar e
de macronutrientes. Apesar dos fatores fisiológicos cada refeição individual.
e ambientais contribuírem para o apetite e
Além disso, o controle fisiológico do apetite,
comportamento alimentar, atualmente sabe-se que a
a presença de estímulos externos provindos dos
influência social e ambiental fortemente sobrepõe-se
alimentos, e o ambiente desempenham papel chave
a influência fisiológica.
na ingestão alimentar. Estímulos ambientais, sociais,
No âmbito fisiológico, é bem estabelecido que a psicológicos e culturais têm demonstrado exercer
região hipotalâmica do cérebro desempenha papel poderosos efeitos na escolha do alimento.

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Neste contexto, duas variáveis cognitivas Ob-Rb. Apesar davariedade de áreas que expressam
demonstram um importante papel no apetite e receptores de leptina no hipotálamo, o principal sítio
ingestão alimentar: a restrição e a desinibição de ação da leptina envolvido na regulação da fome
alimentar. As dietas restritivas são aquelas aonde o é o núcleo arqueado. Nesta região hipotalâmica
indivíduo se preocupa com a ingestão dos alimentos, há neurônios anorexígenos, responsáveis pelo
preocupado com fatores como saúde e manutenção estímulo neural do apetite e neurônios orexígenos,
do peso corporal. Os desinibidos são indivíduos responsáveis pelo estímulo neural da fome. A leptina
que tendem a promover uma superalimentação, e interage tanto com os neurônios anorexígenos quanto
possuem quadros de compulsão alimentar, motivados orexígenos.
por fatores externos e emocionais. A ingestão
alimentar é também um controle hedônico, ativado
pela sensação de prazer e palatabilidade de certos
alimentos.

Apesar do comportamento alimentar ser um


fenômeno multifatorial, o controle fisiológico e
neuroendócrino é uma importante ferramenta
a ser discutida e é amplamente modulada por
fatores fisiológicos como o exercício físico. A seguir
discutiremos os hormônios envolvidos na regulação
da fome e saciedade e os respectivos mecanismos
de ação.

Os neurônios anorexígenos são inibidos pela leptina,


Leptina e regulação da ingestão diminuindo a expressão do NPY e AgRP, potentes
alimentar neuropeptídeos estimuladores da ingestão alimentar.
Em contraste a esse efeito, os sistemas anorexígenos
Quando comparada a todos os hormônios são estimulados, produzindo o propagador de sinais
responsáveis pela inibição da fome, a leptina é a que POMC no núcleo arqueado. O POMC é o precursor
possui o maior efeito inibitório do apetite até hoje do neuropeptídeo α-MSH, um importante regulador
relatado. Experimentos realizados com camundongos do apetite, via interações com os receptores MC4-R
modificados incapazes de produzir leptina mostram e/ou MC3-R Além do α-MSH, outro neuropeptídeo
que quando administrado esse hormônio, esses regulador do apetite é o CART, também produzido no
animais possuem uma redução de aproximadamente núcleo arqueado via estímulo da leptina. Desta forma
75% da ingestão calórica. Ao administrar leptinas em a ação da leptina está relacionada tanto a inibição da
animais que produzem naturalmente este hormônio, fome, quanto ao estímulo da saciedade.
também observa-se uma redução da ingestão
calórica, mas esse efeito é bem menos dramático em
relação aos camundongos modificados. Hormônios do trato digestório e
regulação da ingestão alimentar
A leptina liberada na circulação se liga a seus
receptores presentes no hipotálamo, principalmente Grelina: A grelina foi descoberta inicialmente
nos núcleos arqueado, ventromedial dorsomedial e como um ligante endógeno do receptor secretagogo
lateral, aonde há uma maior prevalência do receptor do hormônio do crescimento (GHRS). É um hormônio
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péptico produzido pelas glândulas oxínticas do PYY: O peptídeo YY é um hormônio secretado


estômago e sua secreção é induzida pela perda de pelo intestino que está relacionado ao neuropeptídeo
peso, jejum e hipoglicemia induzida pela insulina. Y (NPY). É produzido pelas células L ao longo
A administração de ghrelina estimula a ingestão do intestino, entretanto é encontrado em maior
alimentar, através do aumento da fome via sistema concentração na porção distal. É liberado após
nervoso central, desta forma é conhecida como o as refeições, principalmente com a presença de
“hormônio do apetite”, pois evidências indicam que a ácidos graxos livres no intestino. O PYY possui
Grelina pode regular a fome pré prandial. ação anorética, diminuindo a ingestão alimentar, via
ativação hipotalâmica. Humanos obesos possuem
A grelina possui ação hipotalâmica e age no núcleo sensibilidade normal aos efeitos anoréticos do PYY,
arqueado, possuindo ação antagônica à leptina. Ela e a concentração plasmática deste peptídeo não se
se liga a seus receptores presentes nos neurônios encontra aumentada na obesidade, diferentemente
orexígenos e estimula a produção de NPY/AgRP. Além da circulação plasmática de leptina. Alguns estudos
dos efeitos agudos da grelina no aumento da fome relatam que indivíduos obesos possuem baixa
em situações como jejum, atualmente sabe-se que o concentração circulante de PYY tanto em jejum,
aumento crônico na concentração de grelina participa quanto pós prandial, mas outros estudos não mostram
de outras formas na regulação do metabolismo diferenças entre a concentração plasmática de PYY
energético. Este aumento crônico geralmente em ambos os grupos, sugerindo que a redução da
pode ser promovido pela perda de peso, ou por liberação de PYY não parece ter uma relação com a
situações patológicas, como a síndrome de Prader etiologia da obesidade. Injeções com altas
Willi. Essas ações no metabolismo incluem estímulo doses de PYY estão associadas à aversão a certos
da adipogênese, inibição da apoptose, diminuição alimentos em roedores e parecem causar náuseas e
da utilização de ácidos graxos para oxidação e enjôos em humanos. Este efeito colateral é acentuado
substituição deste substrato energético pela glicose, em uma rápida adminstração. Doses basais de PYY,
além da inibição da atividade do sistema nervoso quando administradas por infusão intravenosa podem
simpático. Entretanto em humanos, a concentração reduzir a ingestão alimentar sem causar efeitos
sérica de grelina está inversamente relacionada com adversos em ratos e náuseas em humanos. A eficácia
a adiposidade, apresentando-se diminuída no obeso de uma administração crônica de PYY em reduzir a
e aumentada em indivíduos magros, o que, portanto, ingestão alimentar é grande e, portanto, ele é um
não demonstra a interferência direta da grelina no potente candidato à droga anti-obesidade.
aumento da adiposidade.
Colecistocinina: A função da colecistocinina
no pâncreas exócrino e na vesícula biliar está bem
estabelecida desde 1973, e foi o primeiro hormônio
intestinal a ser conhecido pelo seu efeito na ingestão
alimentar. A colecistocinina possui papel fundamental
na digestão através de três importantes funções:
Contração da vísicula biliar para a liberação dos sais
biliares no duodeno; relaxamento do esfíncter de
oddi, permitindo a passagem do suco pancreático
para o duodeno; retarda o esvaziamento gástrico,
diminuindo os movimentos peristáuticos do trato
Fonte: http://quizlet.com/11224223/insulinglucagonobesity-flash-cards/
digestório. Os estudos subsequentes confirmam as
descobertas prévias de que além dessas 3 funções

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já pré estabelecidas na literatura, a colecistocinina colaterias, ainda promovem efeito redutor no apetite.
desempenha papel muito importante na regulação Fome, saciedade e náusea parecem ser pontos de
do apetite. Este hormônio é liberado pelo intestino um mesmo espectro fisiológico. Outros hormônios
delgado em estado pós prandial, e parece reduzir a relacionados à regulação da saciedade quando
ingestão alimentar através da interação com o receptor administrados em altas doses também são capazes
de colecistocinina 1 (CCK 1 receptor) no nervo vago de promover náusea.
vagal. Os antagonistas do receptor CCK1 promovem
um aumento da ingestão alimentar em roedores PP: O polipeptídeo pancreático (PP) é sintetizado
e humanos, e um tipo específico de rato que não e liberado pelo pâncreas endócrino. É liberado após
possui este receptor é obeso e hiperfágico, sugerindo as refeições e reduz o apetite. A administração
que a colecistocinina possui um papel fisiológico periférica de PP em ratos e humanos reduz a ingestão
importante na regulação da ingestão alimentar. alimentar e a administração crônica reduz o peso
Contudo, uma infusão contínua de colecistocinina corpóreo em ratos obesos deficientes em leptina.
parece não ter influência na ingestão alimentar após Estudos utilizando administração intravenosa de
24 horas, e apesar da administração intermitente PP em humanos, não mostraram efeitos colaterais
reduzir a ingestão alimentar agudamente, esse efeito como náuseas e enjôos. O efeito anorético do PP
é compensado pelo aumento da ingestão durante as ocorre em parte pela diminuição do esvaziamento
injeções. Estudos mostram que a colecistocinina não gástrico. A ingestão alimentar e massa adiposa de
consegue ativar os circuitos vagais específicos em camundongos transgênicos que expressam grandes
concentrações circulantes endogenamente, sugerindo quantidades de PP estão reduzidas, entretanto esses
que seu modo de ação supostamente ocorre de forma animais apresentam esvaziamento gástrico reduzido.
parácrina ou neurócrina, mas não endócrina. Altas Apesar dos estudos atuais, o papel fisiológico do PP
doses de colecistocinina podem provocar náuseas, no balanço energético ainda é desconhecido.
mas baixas doses, além de não apresentar efeitos

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GLP-1: O mesmo tipo de célula intestinal que para determinar o tipo de obesidade de acordo com
sintetiza o PYY sintetiza uma grande família de o depósito de gordura são:
proteínas precursoras chamadas de preproglucagon.
Esta proteína irá por sua vez produzir inúmeros 1 – Obesidade global: O acúmulo de gordura
peptídeos biologicamente ativos, incluindo o ocorre na região abdominal, porém há também
glucagon, o glucagon-like-peptide (GLP-1), o um acúmulo nos membros superiores (tríceps) e
glucagon-like-peptide 2 (GLP-2) e a oxintomodulina. inferiores (coxa, panturrilha), ou seja, o indivíduo
O GLP -1 é liberado na circulação após uma acumula gordura “por inteiro”.
refeição e é considerado uma potente incretina,
pois a administração central ou periférica estimula 2 – Obesidade ginóide: Característica do gênero
potentemente a liberação de insulina. A administração feminino, o estrogênio favorece aumento da LPL na
intracerebroventricular de GLP-1 reduz fortemente a região glúteo femural, levando a um maior depósito
ingestão alimentar em roedores, e a administração de gordura na região dos quadris e coxa.
periférica de GLP-1 inibe o apetite em animais e
humanos. Atualmente um novo medicamento foi 3 – Obesidade androide: Obesidade encontrada
lançado no mercado para o diabetes, com o princípio principalmente no gênero masculino, há um acúmulo
do GLP-1. Este medicamento têm demonstrado de gordura na região abdominal, caracterizada por um
resultados positivos no controle da fome e tratamento aumento do tecido adiposo subcutâneo abdominal e
para obesidade. visceral.

4 – Obesidade visceral: Indivíduos dificilmente


armazenam gordura no tecido adiposo subcutâneo,
TIPOS DE OBESIDADE caracterizando portanto dobras cutâneas que
Apesar da função do tecido adiposo branco em caracterizam eutrofia ou até mesmo desnutrição.
armazenar gordura, atualmente sabe-se que este Entretanto estes indivíduos acumulam a gordura no
estoque não ocorre de forma homogênea. Indivíduos tecido adiposo visceral, especificamente omental
possuem capacidade de estoque de gordura em (gordura que recobre as vísceras), logo abaixo do
diferentes localizações do tecido adiposo, sendo este abdome, caracterizanado a barriga “dura” (similar de
uma característica fenotípica, ou seja, o indivíduo mulheres grávidas).
possui uma susceptibilidade genética em estocar
Como descrito anteriormente, estas características
gordura em determinadas regiões do tecido adiposo,
possuem componente genético, como vários
entretanto esta distribuição pode sofrer interferências
aspectos da obesidade discutidos anteriormente.
ambientais, como por exemplo o tipo de dieta
Apesar de a genética não ser em 95% dos obesos
consumida e o nível de atividade física.
um fator preponderante para o desenvolvimento da
Desta forma, a obesidade pode ser classificada obesidade, a herança genética pode contribuir de
não apenas pelo excesso de massa gorda, mas forma mínima para o início ou desenvolvimento do
também de acordo com o acúmulo de gordura do processo de acúmulo de peso.
indivíduo. Este fenômeno ocorre pois determinadas
regiões do tecido adiposo possuem maior expressão
de enzimas lipases de lipoproteína (LPL), favorecendo
maior captação e consequentemente maior depósito
em regiões específicas. As classificações propostas

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MECANISMOS MOLECULARES DA Estrutura do DNA


GENÉTICA DA OBESIDADE
O Ácido desoxirribonucleico (DNA ou ADN em
Mudanças na dieta e no nível de atividade física português) é uma estrutura linear formada de
levaram ao aumento da prevalência da obesidade nucleotídeos. Estas moléculas são formadas por
não apenas em adultos, mas em crianças, em um um açúcar denominado ribose, um grupo fosfato
intervalo de tempo relativamente curto. Entretanto, e uma base nitrogenada que difere nos tipos de
é importante destacar a contribuição da influência nucleotídeos existentes. O DNA humano é formado
da hereditariedade no peso corporal, especialmente de uma sequência contendo milhões de nucleotídeos.
neste momento aonde os cientistas começam a
entender melhor como as moléculas envolvidas com Estrutura de um nucleotídeo:
a fome e controle do balanço energético funcionam
e como a variação genética associada a elas pode
influenciar na obesidade humana.

A contribuição genética no peso corpóreo tem


sido estabelecida por meio de estudos familiares,
investigações sobre relações de parentesco e estudo
sobre gêmeos adotados por diferentes famílias. Estes
estudos mostram que a hereditariedade é responsável
pelas características de um ser humano em 40 a
70%. Destes fatores, peso e altura são as principais
características fenotípicas que sofrem interferência Fonte: http://sainsbio4d.blogspot.com.br/
da hereditariedade, sendo a altura o principal. No
caso da estatura, aonde as mudanças nutricionais dos Existem cinco tipos diferentes de nucleotídeos,
últimos cinquenta anos contribuíram para aumentos mas apenas 4 compõe a cadeia de DNA. São eles:
substanciais na média final de estatura de muitas citosina, guanina, adenina, uracila e timina. Eles
populações, fatores ambientais juntamente com diferem entre si pela composição e forma de ligação
os fatores genéticos levaram ao aumento do peso das bases nitrogenadas, como ilustrado a seguir.
corporal da maioria das populações.
Na molécula de DNA são encontrados os
nucleotídeos adenina, citosina, guanina e timina.
CARACTERÍSTICAS HEREDITÁRIAS: Estes formam a fita de DNA por uma ligação covalente
FUNÇÃO DO DNA extremamente rígida realizada entre a ribose e o
grupo fosfato. Entretanto o DNA é composto de uma
Para melhor compreensão de como os fatores fita dupla e portanto, há também ligações iônicas
hereditários podem influenciar na gênese da (mais fracas) entre as duas fitas, que ocorre pelas
obesidade, é necessário o entendimento de como bases nitrogenadas.
esta molécula repassa as características para o
organismo humano e como ele sofre modulação de
fatores externos, como os alimentares.

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Fonte: http://coo.erasmusmc.nl/genetica/ZO_Mitose/M1-1.htm

Fonte: http://lifelog.blog.naver.com/ Fonte: http://www.4shared.com/photo/aLh2RCch/figura_RNA_e_DNA_1.html

As bases nitrogenadas se unem uma a outra portanto a ligação entre bases é ocorre sempre de
por interações entre suas moléculas. Desta forma, forma fixa:
cada base faz ligação com outra específica sempre,
Adenina – Timina e Citosina - Guanina

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Em alguns organismos complexos, como os seres herdados dos pais. A fita dupla de DNA condensada
humanos, a cadeia de DNA está condensada nos nos cromossomos representa nosso código genético
cromossomos, dentro do núcleo celular. A espécie e possui todas as informações necessárias sobre o
humana possui 23 pares de cromossomos, sendo 23 funcionamento do organismo.
cromossomos herdados da mãe e 23 cromossomos

Fonte: http://www.chemieonline.de/

Estrutura de um cromossomo e condensação do DNA. O DNA está condensado


em estruturas proteicas chamadas de histonas, formando o cromossomo.

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Transcrição gênica polimerase e o DNA, permitindo assim a transcrição


e a futura tradução. Qualquer proteína necessária
O DNA se comporta como um grande livro de para o início da transcrição, mas que não seja parte
receitas, pois possui em seu código genético a integrante do RNA polimerase. Os nutracêuticos
sequência de aminoácidos necessária para a formação agem como fatores de transcrição, modulando a
de todas as proteínas, peptídeos e compostos expressão gênica (a quantidade de RNAs mensageiros
proteicos do organismo. Cada “receita” contida no produzidos). Os fatores de transcrição se ligam ao
DNA é chamada de gene. Existem no DNA humano promotor do gene, iniciando o processo de transcrição
cerca de trinta mil genes diferentes. gênica (confecção de RNA mensageiro).

Toda vez que uma célula necessita de uma Após a ligação da RNA polimerase no gene, as
proteína, ela acessa o gene presente no DNA, no fitas duplas se separam e a enzima faz a transcrição
núcleo celular, e produz um RNA mensageiro, ou seja, do gene, copiando a cadeia de nucleotídeos de forma
a cópia do gene desejado. Entretanto, para acessar inversa, obedecendo sempre as ligações base – base.
um gene, a célula precisa de uma “chave” especial de Como a cadeia a ser sintetizada é de um RNA, este
acesso, ou um fator de transcrição. não contém timina na sua composição e sim uracila,
um outro nucleotídeo similar. Desta forma a cadeia
Fatores de transcrição são peptídeos ou proteínas de RNA será formada de forma inversa ao DNA e será
que se ligam ao DNA de células eucarióticas para adicionado uma uracila ao invés de uma timina.
permitir que haja uma ligação entre a enzima RNA-

Fonte: http://desybio.wordpress.com/2010/03/30/

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A molécula de RNA mensageiro segue para fora do núcleo, em direção ao ribossomo localizado no
citoplasma.

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Síntese proteíca
O ribossomo é a organela responsável pelo síntese proteica. O processo de síntese protéica dá início
quando o RNA mensageiro passa liga-se à subunidade de um ribossomo, que consegue ler dois códons por
vez (códon é a sequência de 3 nucleotídeos).

Cada códon liga-se ao anticódon especifico de um coberto. Neste ocorre o mesmo processo já citado,
RNA transportador e o aminoácido que está ligado à então isso ocorre até chegar ao códon terminal
extremidade CCA do RNAt se liga ao outro aminoácido (o ultimo códon do RNAm) e então formou-se
do RNAt, ou seja, ocorre uma ligação peptídica entre nesse processo uma cadeia de aminoácidos, que
os dois aminoácidos dos RNAts na subunidade maior é a proteína. O processo acaba no códon terminal,
do ribossomo. O ribossomo ou RNAm se deslocam porque ele não tem um anticódon correspondente,
(se o RNAm ligar-se à subunidade menor de um cessando o processo e acabando o processo de síntese
ribossomo “solto” no citoplasma, o ribossomo move- protéica. Existem 64 códons diferentes se tomarmos
se, mas se o RNAm ligar-se à subunidade menor todas as combinações de 3 códos utilizando-se de
de um ribossomo que está na parede do reticulo 4 códons diferentes. Portanto cada aminoácido tem
endoplasmático rugoso, o RNAm move-se), onde o pelo menos dois códons diferentes equivalentes.
primeiro códon é descoberto e o códon seguinte é
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Abaixo a tabela ilustra os aminoácidos e todos os códons equivalentes

Fonte: http://www.biologia.edu.ar/adn/adntema2.htm

Função das proteínas nas características Doenças de origem genética


individuais
As doenças genéticas podem ter origem quando
As proteínas desempenham papel fundamental ocorre alteração da cadeia de DNA, alterando
no funcionamento do organismo. Possuem diversas a sequência gênica e a expressão da proteína
funções, como função estrutural, hormonal, correspondente. Esta alteração pode ocorrer através
enzimática, regulatória, sistema imune, sinalizador, do processo de mutação gênica, ou seja, processo
entre outras. Todas as funções do metabolismo pelo qual um gene sofre uma mudança estrutural,
dependem do funcionamento e da expressão destas ocorrido por agentes externos, como radiação,
proteínas e estes fatores são definidos por fatores temperatura, poluição, fumo, entre outros. As
genéticos associados principalmente aos fatores mutações distinguem-se das aberrações por serem
ambientais. O estilo de vida é um dos mais importantes alterações induzidas, envolvendo a eliminação ou
componentes das características metabólicas do substituição de um ou poucos nucleotídeos da fita
indivíduo e de todos eles a alimentação é o fator de DNA.
mais importante, podendo alterar a expressão gênica
e proteica em até 60%.

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A genética da obesidade humana

Ocorrem milhares de mutações estáveis ao longo ou defeitos nos cromossomos, pela deleção de uma
da vida (mutações que atingem genes que não são parte de seu segmento.
expressos em determinadas células), entretanto
o maior problema ocorre quando estas mutações Alguns tipos de doenças genéticas podem ocorrer
ocorrem na células germinativas. Desta forma, estes por polimorfismos, ou seja, a presença de dois genes
genes são transmitidos aos descendentes. Como homólogos dominantes diferentes que promovem
a expressão de um gene se dá pela característica uma expressão proteica diferenciada, alterando a
genética do par de cromossomos (cada um característica desta proteína.
proveniente de um progenitor), para ocorrer uma
doença genética é necessário que os dois progenitores Com os avanços na biologia molecular e o estudo
transfiram este gene mutante para seu descendente. de mapeamento genético permitido pela descoberta
Esta classe de doenças genéticas é denominada do genoma humano, foram descobertos atualmente
doença autossômica recessiva. aproximadamente 240 genes ligados à obesidade
(mutações ou polimorfismos). A figura abaixo
Podem ocorrer também outras doenças representa o mapa genético da obesidade, mostrando
genéticas derivadas de trissomias (3 cromossomos todos os genes descobertos, cromossomo onde este
homólogos que ocorrem pela má divisão das células gene está localizado, assim como a sua posição.
germinativas), como é o caso da síndrome de Down,

Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/rn/v17n3/21882f1.gif

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OBESIDADE RELACIONADA À O primeiro caso humano relatado de obesidade


ocasionada pela genética foi o da deficiência
GENÉTICA HUMANA da leptina. Uma mutação no gene da leptina foi
A genética da obesidade humana pode ser dividida encontrada nos dois alelos (ob/ob), caracterizando
em três classes, de acordo com a sua característica: portanto uma doença recessiva autossômica rara. Já
foram identificadas várias crianças que não produzem
• Obesidade Monogênica: Provinda de um leptina: elas nascem com peso normal, mas, devido
único gene, mais severa e rara a um apetite voraz, rapidamente se tornam obesas.

• Síndromes da obesidade: além do


desenvolvimento da obesidade, está associado a
outras patologias relacionadas a uma disfunção
genética

• Obesidade poligênica: Numerosos genes


contribuem de forma mínima para determinar o
fenótipo da obesidade

O início do estudo da genética molecular da


obesidade dá-se com a clonagem dos genes agouti
e da leptina em roedores. Em 1994 foi clonado o
gene da leptina, que desencadeou uma verdadeira
revolução na compreensão da biologia da obesidade.
A leptina é um marcador da quantidade de tecido
adiposo, de modo que, com o aumento da massa
adiposa, aumenta a produção de leptina, que reduz
a ingestão alimentar (via inibição de neuropeptídeo
Y) e aumenta o gasto energético, o que tende a fazer
a massa adiposa retornar ao seu “set point”. Nas
pessoas obesas, no entanto, o “set point” é diferente,
talvez devido à resistência à ação da leptina.

Obesidade monogênica
Aproximadamente 200 casos de obesidade humana
foram descobertos e associados com um único gene
mutante. Dentre estes casos, foram encontradas
mutações em 11 genes diferentes. Geralmente
os sintomas se manifestam na infância e estão
associados ao comportamento, desenvolvimento e
disordens endócrinas.

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A genética da obesidade humana

O tratamento destes indivíduos se dá pelo uso de ao balanço energético. A presença de mutações


leptina injetável, revertendo os parâmetros alterados nos genes do receptor da Melanocortina 4 (MC4R),
como aumento da fome e excesso de peso. No foram encontradas em diversas etnias humanos,
entanto, a maioria das pessoas obesas apresentam sendo portanto, a mutação mais encontrada em
excesso de leptina e não falta, sugerindo que o humanos. Estudo com 2000 obesos mostrou que
mecanismo seja mais uma resistência à ação deste 5 a 6% apresentavam mutações neste receptor.
hormônio do que sua falta. Estes indivíduos apresentam algumas características
metabólicas, como: hiperfagia, aumento de massa
O segundo caso relatado de obesidade monogênica gorda e massa magra, aumento na densidade mineral
está relacionado à deficiência do receptor de óssea, curva de crescimento acelerada.
leptina, também caracterizado por mutações deste
gene. Os indivíduos nascem com peso normal, Os autores concluem ser a mutação para MC4R
mas apresentam severa hiperfagia no primeiro ano uma causa importante de obesidade grave em
de vida, e na restrição alimentar respondem com crianças com expressão e penetrância variáveis.
agressividade. Apresentam taxa metabólica basal Mehmet e col, estudando a mutação no gene MC4R
normal, Concentração de cortisol e glicemia normais no seu projeto “Estudo do Genoma da Obesidade
e a insulina um pouco elevada. Não apresenta na Turquia” refere que o fenótipo assemelha-se ao
tratamento específico para esta alteração genética. estado de deficiência MC4R no rato com relação à
preservação da capacidade reprodutiva. Os indivíduos
Duas crianças alemãs apresentaram deficiência afetados apresentam hiperfagia na infância, que perde
genética de Proopiomelanocortina (POMC), um intensidade em idades posteriores, suas alturas são
propagador de sinais produzido pelo estímulo da normais e diabetes mellitus está presente. Acumula-se
leptina no hipotálamo e responsável pela produção evidência de que o sistema endócrino melanocortina
do neuropeptídeo α- MSH (Melanocyte stimulating ou defeito de sinalização de melanocortina apresenta
hormone). Ambas apresentavam hiperfagia diferentes características em ratos e em humanos,
e obesidade precoce. A produção de POMC é assemelhando-se às variações observadas em
importante na transmissão do sinal anorexígeno, ou ambas as espécies no que tange à leptina. A via
seja, o estímulo da saciedade ocorre no hipotálamo, da melanocortina tem se tornado extremamente
especificamente no núcleo ventromedial. Para que excitante em termos de elucidação de mecanismos
esta informação chegue a este núcleo é necessário a fisiopatológicos envolvidos na obesidade por várias
formação do neuropeptídeo α- MSH, que se liga a um razões:
receptor denominado MC4R no núcleo paraventricular,
desencadeando as informações de estímulo de 1. Ela inclui mais genes da obesidade do que a via
saciedade no núcleo ventromedial. Crianças com da leptina;
certas mutações deste gene apresentam cabelo
avermelhado, insuficiência adrenal e obesidade. 2. Inclui o gene com a mutação mais comum
O aspecto da cor dos cabelos é devida à influência causadora de obesidade;
do aMSH sobre os receptores MC1R, enquanto a
influência sobre a ingestão alimentar deve-se à ação 3. Sua descoberta ilustra de uma maneira enfática
sobre os receptores MC3R e MC4R no hipotálamo. que a compreensão da biologia pode seguir-se à
compreensão das vias envolvidas no processo.
De todos os receptores de melanocortina, o
número 4 (MC4R), tem sido diretamente associado

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A genética da obesidade humana

O estudo da via da melanocortina iniciou- glicêmica, hipogonadismo hipogonadotrófico,


se com o estudo dos ratos obesos com pelagem hipocortisolismo, níveis baixos de insulina, mas níveis
amarela (conhecidos como ratos amarelos agouti), elevados de POMC e de pró-insulina.
descobertos há mais

de 100 anos. O gene mutado é chamado agouti ou Síndromes da obesidade


proteína sinalizadora do agouti
Há aproximdamente 20 a 30 disordens genéticas
(ASIP). Vários estudos têm demonstrado que a relacionadas com pacientes obesos, ou seja, além de
injeção intra-ventricular de aMSH resulta em reduzida vários sintomas diferentes, os pacientes apresentam
ingestão alimentar. o genótipo da obesidade. Dentre as disordens
existentes, 3 são as mais encontradas:
A via da melanocortina inclui:
• Síndrome de Prader-Willi (PWS)
- MC4R: expresso no hipotálamo, onde liga-
se ao aMSH, com redução de ingestão alimentar. • Síndrome de Bardet – Biedl (BBS)
Pode causar formas autossômicas dominantes ou
recessivas de obesidade. • Síndrome de Alström

- PC1 ou PCSK1 (Pró-Convertase 1) - sua função é Essas síndromes são acompanhadas de retardo
processar a conversão de POMC a aMSH. Há um caso mental, anormalidades no desenvolvimento de alguns
descrito de uma mulher que teve início precoce de órgãos, entre outros. Pode estar relacionado a defeitos
obesidade na infância e apresentava as duas cópias nos genes ou anormalidades nos cromossomos, ou
de PCSK1 mutadas. A paciente apresentava alteração ligada ao cromossomo X.

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A genética da obesidade humana

Síndrome de Prader-Willi (PWS) descrita pela primeira vez em 1959 por um médico
sueco. Desde então, foram descritos cerca de 500
A síndrome Prader Willi (PWS) é a síndrome casos.
da obesidade mais encontrada (1 em cada 25000
recém nascidos). Esta síndrome é caracterizada pela Este gene decodifica uma proteína ainda
obesidade, hiperfagia, diminuição da atividade fetal, desconhecida, que entretanto leva a várias alterações
retardo mental e hipogonadismo. Esta desordem fisiológicas em seus portadores. As principais
é causada pela ausência do segmento paterno 15 características desta doença são: Obesidade, distrofia
q11.2-q12 através da perda cromossomal. Muitos da retina, cardiomiopatia, falha na função renal, entre
candidatos com PWS foram estudados e sabe-se que outros. O primeiro sintoma que é percebido na criança
a origem da hiperfagia nestes indivíduos é definida é o que se denomina “nystagmus” (movimento muito
pelo grelinoma. Indivíduos com PWS possuem alta rápido e involuntário dos olhos) além de sensibilidade
concentração de grelina, responsável pela hiperfagia. à luz, que inicia-se na infância e posteriormente evolui
Desta forma, apesar de não haver tratamento para a retinopatia e cegueira. A obesidade é precoce,
específico para PWS, os tratamentos com hormônio podendo ser avaliada com dois anos de idade. Os
do crescimento têm mostrado resultados positivos no problemas auditivos começam entre os 8 e 22 anos
tratamento da obesidade destes pacientes. de idade. Ainda na infância, ocorrem alterações
metabólicas importantes como elevada concentração
Síndrome de Bardet – Biedl (BBS) de colesterol, dislipidemias, diabetes mellitus, e, de
forma lenta, mas progressiva, a insuficiência renal.
A BBS é caracterizada por obesidade precoce, Outras manifestações podem incluir manchas na
distrofia da retina, anormalidades morfológicas nos pele denominadas “acanthosis nigricans”, escoliose
dedos, dificuldades de aprendizado, doença renal, ou curvatura da coluna vertebral, pouca estatura,
entre outros sintomas. Esta síndrome foi incialmente hipotiroidismo, hipotestosteronismo nos rapazes,
caracterizada como autossômica recessiva, aumento das enzimas hepáticas, e diversos problemas
atualmente sabe-se que a BBS está associada a de coração. A insuficiência renal pode ocorrer entre
mutações em 11 diferentes locos cromossomais, os vinte e quarenta anos de idade.
sendo que há mutação em cada um deles.Portanto há
11 diferentes tipos dessa síndrome, de acordo com a
região cromossomal atingida pela mutação (BBS 1 – Obesidade poligênica
BBS 11). Atualmente algumas formas de BBS foram
relatadas com mutações recessivas no primeiro Denomina-se obesidade poligênica quando o
loco, associada com mutações heterozigóticas no indivíduo se torna obeso pois o mesmo apresenta
segundo loco, sugerindo a hipótese do trialelo modo susceptibilidade genética de receber influências
de transmissão. Seis genes foram caracterizados na ambientais que promovem aumento do consumo
BBS, entretanto suas funções ainda permanecem energético e diminuição do gasto. Nestes casos
desconhecidas, portanto a causa da obesidade nestes a sua herança genética não é a responsável pelo
pacientes ainda oermanece sem respostas. aparecimento da obesidade, mas uma união de
fatores que interagem para que surja o que se
Síndrome de Alström denomina fenótipo da obesidade. Na obesidade
poligênica, há tanto uma interação gene X ambiente
A síndrome de Alström é uma doença genética
como gene X gene e é a razão pelo qual grande parte
recessiva muito rara, causada pela mutação no gene
dos indivíduos apresentam obesidade.
ALMS1, descoberto no ano 2002. Esta síndrome foi

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A genética da obesidade humana

Como anteriormente discutido, existem mais de A geração de uma proteína funcional, determinada
400 genes relacionados com a obesidade. Estes pelo gene terapêutico, restabelece a célula-alvo, o que
genes estão relacionados a proteínas que podem pode representar a cura da doença genética. Doenças
alterar diversas funções biológicas como regulação do autossômicas recessivas são os melhores candidatos
consumo alimentar, gasto energético, metabolismo para terapia gênica, pois seu tratamento consistiria
de carboidratos e lipídios, desenvolvimento do na modificação de apenas um gene. Infelizmente,
tecido adiposo, processo inflamatório, entre outros. desordens multigênicas ou multifatoriais, tais como
Na obesidade poligênica, não ocorre exatamente doenças do coração, pressão alta, mal de Alzheimer,
uma doença genética autossômica recessiva ou artrite e diabetes, seriam especialmente difíceis
uma síndrome, mas alguns destes genes podem de serem tratadas usando essa terapia, pois são
apresentar polimorfismos, contribuindo de forma causadas por efeitos combinados de variações em
mínima com a etiologia da obesidade. Entretanto muitos genes.
as influências do ambiente, da família, hábitos
alimentares, sedentarismo, podem levar a alteração A expectativa é que a metodologia genética
da expressão de outros genes, contribuindo de forma venha a ser uma abordagem básica para promover
significativa para o aparecimento deste fenótipo. a saúde e controlar as doenças, e a terapia gênica,
um método universal na prevenção de doenças e
no desenvolvimento de tratamentos, inclusive da
TERAPIA GÊNICA obesidade monogênica e síndromes da obesidade.

A terapia gênica (TG) é um tratamento para


doenças genéticas caracterizado pela inserção de REFERÊNCIAS
um gene funcional ou fragmento de DNA dentro
de determinadas células humanas com o intuito ALBERTS, Bruce. Molecular Biology of the cell.
de conferir uma função inexistente ou melhorar os Garland Science, 2002.
efeitos de um gene anormal. Atualmente, 5% dos
indivíduos no mundo inteiro nascem com uma doença BRAY, George A. Handbook of Obesity: Clinical
hereditária ou congênita e quase 40% dos adultos Applications. New York: Informa Healthcare, 2008.
são geneticamente predispostos a desenvolver
doenças comuns, como câncer, diabetes e doenças MINE, Yoshinori. Nutrigenomics and
do coração, entre outras. proteomics in health and disease. Iowa: Willey
Blackwell, 2009.
A terapia gênica é composta basicamente de
dois tipos de técnicas: a técnica germinativa, NELSON, David L. COX, Michael. Lehninger
caracterizada pela introdução do material genético nos princípios de bioquímica. São Paulo: Sarvier, 2007
espermatozóides ou óvulos (células germinativas); a
STRYER, Lubert. Bioquímica. Rio de Janeiro:
técnica somática, pela qual se introduz o material
Guanabara Koogan, 2008.
genético em quaisquer outras células.

A introdução de um gene no interior de uma


determinada célula se dá por meio de uma molécula
carreadora, denominada vetor, como por exemplo
um vírus alterado genéticamente (retira-se o DNA ou
RNA do vírus e introdu-ze o gene determinado).

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