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Conservadorismo

Afonso Soares
Joana Ribeiro
Margarida Pereira
12º Ano

Disciplina: Ciência Política


Professor: Marisa Tavares

Novembro 2022
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3

Desenvolvimento............................................................................................................... 4

Ideologia ........................................................................................................................ 4

Conceção do Homem .................................................................................................... 4

Organização e extensão do Estado ................................................................................ 5

Relação entre liberdade e igualdade .............................................................................. 6

Papel do governo ......................................................................................................... 10

Relação com a democracia .......................................................................................... 11

Conclusão ........................................................................................................................ 14

Bibliografia ..................................................................................................................... 15

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Introdução
Ao longo deste trabalho pretende apresentar e definir-se o conceito de
conservadorismo, explicando aquilo que é e o que representa. O trabalho foi realizado
através de uma pesquisa profunda e fidedigna acerca das principais características que
diferenciam e caracterizam um regime conservadorista. Para tal efeito é referido no
trabalho o papel do governo conservador e a organização e extensão deste estado, com o
objetivo de obter uma melhor compreensão acerca daquilo que é um regime conservador.
É ainda feita uma relação entre o conservadorismo e a democracia, tal como a relação
entre liberdade e igualdade neste regime, onde se destacam as diferenças entre o regime
conservador e a democracia moderna.

Foram usadas principalmente teses de mestrado, tais como as de Souza e Martins


e vários documentos de e acerca de conservadores, tais como Burke e Hayek para a
elaboração do trabalho e qualidade do mesmo. As perspetivas apresentadas do
conservadorismo, foram desenvolvidas, principalmente, através das obras de Edmund
Burke, um dos principais conservadores critico à revolução francesa.

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Desenvolvimento
Ideologia
O conservadorismo é uma filosofia política e social que promove a manutenção
de valores, práticas e instituições tradicionais, como a família e a religião.
Consequentemente, esta filosofia política e social, destaca-se pela sua ideologia mais
tradicional, caracterizando-se pela valorização da tradição, da hierarquia e da autoridade,
sendo muitas vezes considerado um regime intolerante e preconceituoso. Contudo, os
seus principais valores são a liberdade e a ordem, no que diz respeito à economia e à
política, defendendo por exemplo o direito de propriedade1.

Conceção do Homem
O período conservadorista caracteriza-se pelo pessimismo antropológico, ou seja,
uma visão pessimista do homem. Ao contrário da crença iluminista de que o homem é
um ser racional capaz de discernir entre o bem e o mal, a política conservadorista defende
que o Homem se rege através de dogmas e preconceitos, fundando-se na tradição e não
na razão. É devido a isto que o conservador nega a possibilidade da livre participação dos
cidadãos na política, tomada como garantida pelos iluministas, que criam um ambiente
político onde cada indivíduo pode expressar a sua opinião livremente, pois “[...] no que
concerne à participação no poder, [...] nego-lhe a faculdade de estar entre os direitos
originais do homem na sociedade ...”, como diz o conservador Burke. Portanto, como se
encontra aqui expresso, o conservadorismo defende que o direito de participar no governo
não diz respeito a todos, devido ao facto de os direitos que os iluministas pretendem obter
serem todos absolutos e a sociedade não pode ser contemplada apenas a partir de um
ponto de vista, como tal, a ideia dos direitos do homem é incompatível com a ideia de
sociedade2.
Além disto, existe uma forte presença do tradicionalismo (doutrina que vê a
tradição como a base para o conhecimento e as formas políticas tradicionais como a
expressão das necessidades da sociedade, mesmo não sendo justificáveis pela razão) na

1
SOUZA, Jamerson- Tendências Ideológicas do Conservadorismo. Pernambuco: Editora UFPE, 2016, p.
16. Disponível online em: https://editora.ufpe.br/books/catalog/download/71/74/386?inline=1. Consultado
em 23 de Outubro de 2022.
2
DOMBROWSKI, Osmir- Conservador nos costumes e liberal na economia: liberdade, igualdade e
democracia em Burke, Oakeshott e Hayek. Florianópolis: Revista Katálysis, 2020, p. 226. Disponível online
em: https://www.scielo.br/j/rk/a/mtswgxTXpRJRNxfjTN4wtym/?lang=pt. Consultado em 8 de Outubro de
2022.

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política conservadora, que defende os hábitos e os costumes. Esta política defende
instituições tradicionais, como os Estados Gerais da França ou o Parlamento inglês, cuja
função é servir os interesses da nação3. Nestas instituições não deveriam participar os
membros do terceiro estado que não cabiam lá nem poderiam fazer ideia do que fosse um
Estado, mas sim os cavalheiros da alta sociedade, que saberiam desempenhar esta
função4.
Este tradicionalismo conservador provém de um ponto de vista de utilitarismo
historicista5. Esta doutrina em que a sociedade não é definida por um contrato, mas sim
pela ordem da história, defende que cada homem individualmente não é determinante,
mas é sim determinado pela história. Esta é essencialmente a sociedade e as instituições,
pois foi a partir dela que surgiram tais coisas6.

Organização e extensão do Estado


Segundo os conservadores, tal como Burke, o Estado não deve interferir na
propriedade, pois isto seria não só uma violação da privacidade do cidadão, mas também
a destruição da segurança, do poder e da tradição que beneficiam apenas alguns, os mais
abastados. É também devido à tentativa de manutenção da harmonia política e social, ou
seja, a prevenção de revoltas por parte da elite e dos proprietários, que o conservadorismo
vê como essencial que o Estado não intervenha na economia7. Era como tal, uma
economia liberal, pois permite a propriedade privada, a livre-concorrência e o câmbio-
livre, sendo os indivíduos e as empresas quem tomam a maior parte das decisões políticas
tendo o Estado apenas que dar condições para a economia fluir naturalmente8.

3
DOMBROWSKI, Osmir- Conservador nos costumes e liberal na economia: liberdade, igualdade e
democracia em Burke, Oakeshott e Hayek. Florianópolis: Revista Katálysis, 2020, p. 226. Disponível online
em: https://www.scielo.br/j/rk/a/mtswgxTXpRJRNxfjTN4wtym/?lang=pt. Consultado em 8 de Outubro de
2022.
4
Idem, Ibidem, p. 225
5
MARTINS, Pedro- Inquérito à modernidade bicentenário da morte de Edmund Burke (1729-1997).
Minho: Universidade do Minho, 1999, p. 73. Disponível online em:
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/46224/1/O%20Conservadorismo%20pol%C3%ADtic
o%20de%20E.%20Burke_1999.pdf. Consultado em 6 de outubro de 2022.
6
Idem, Ibidem, p. 75
7
ROMANO, Roberto- O pensamento conservador. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1994,
p. 29. Disponível online em: https://core.ac.uk/download/pdf/328069467.pdf. Consultado em 6 de outubro
de 2022.
8
TRIGUEIRO, Gabriel- Conservadorismo: Perspectivas Conceituais. Rio de Janeiro: Universidade
Federal Fluminense, 2019, p. 110. Disponível online em:
https://periodicos.uff.br/revista_estudos_politicos/article/view/39782. Consultado em 9 de Outubro de
2022.

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O Estado organizava-se de forma a que os seus governantes fossem eleitos por
meio da competição, na qual apenas a elite poderia participar, de forma a que este não se
tornasse plutocrático (sociedade governada por um grupo de pessoas de grande riqueza
ou renda), como advogou Hayek, pois pretendia-se a todos os custos atingir uma harmonia
política e social9.
Quanto às instituições, o Estado conservador pretende atribuir-lhes o máximo
poder possível no âmbito de evitar a centralização do poder. Para isto é importante que
se defendam sobretudo as instituições intermédias, tais como a religião, a família e as
escolas, na medida de instruir os seus cidadãos e de manter a tradição e os costumes. É
assim que neste regime surge o bem como a valorização dos ideais de hierarquia e
autoridade, estando isto acima de tudo 10.

Relação entre liberdade e igualdade


A análise entre a relação da liberdade e da igualdade à luz do conservadorismo
exige, tal como os demais tópicos deste trabalho de pesquisa, a interpretação dos autores
que estiverem na sua origem, bem como a dos seus críticos. Para além disso é prudente a
clarificação conceptual de “liberdade” e “igualdade”, inspirada nos princípios filosóficos
de Aristóteles, René Descartes e até, mais tarde, de Immanuel Kant, que foi adotada pelos
conservadores.

“Não existe princípio mais básico na filosofia conservadora do que a incompatibilidade inerente e
absoluta entre a liberdade e a igualdade.” 11

Os conservadores advogam que a ideia de liberdade, enquanto garantia do


individuo, dos seus bens e propriedade e da sua família, é contrária à ideia de igualdade,
pois essa defende a “redistribuição ou nivelamento dos valores imateriais e materiais

9
DOMBROWSKI, Osmir- Conservador nos costumes e liberal na economia: liberdade, igualdade e
democracia em Burke, Oakeshott e Hayek. Florianópolis: Revista Katálysis, 2020, p. 230. Disponível online
em: https://www.scielo.br/j/rk/a/mtswgxTXpRJRNxfjTN4wtym/?lang=pt. Consultado em 7 de outubro de
2022.
10
SOUZA, Jamerson- Edmund Burke e a gênese conservadorismo. São Paulo: Serviço Social e Sociedade,
2016, p. 368. Disponível online em:
https://www.scielo.br/j/sssoc/a/GqXmyVz6Ws4v9dqnfdbgXNC/?lang=pt. Consultado em 7 de outubro de
2022.
11
NISBET, Robert- O Conservadorismo. Lisboa: Editorial Estampa Lda., 1987, pp. 83-91. Disponível
online em:
https://felipemaiasilva.files.wordpress.com/2016/05/nisbet-r-o-conservadorismo.pdf. Consultado em 7 de
outubro de 2022.

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duma comunidade”12, colocando em causa os fundamentos do direito de propriedade
fundamentais à manutenção da liberdade. “Não existe questão pela qual os conservadores
combatessem mais os liberais ou os socialistas tão energeticamente como pela ameaça
legal de a propriedade sair do domínio da família por meio de tributação ou qualquer outra
forma de redistribuição.”13 Neste sentido, consideram que a promoção da igualdade é
prejudicial para os “os mais fortes e mais brilhantes”, ou seja, pressupõem que as pessoas
natural e socialmente favorecidas vêm as suas liberdades suprimidas em função da
igualdade da comunidade.14 In Reflexões sobre a Revolução em França, Edmund Burke,
um dos pais do conservadorismo, criticou, reiteradamente, a intervenção do governo, por
meio das leis, destinada à instituição da igualdade, pois considera que “contribui para a
erosão das condições sociais e morais da liberdade dos cidadãos.”15. Esta concessão
negativa no que concerne à intervenção do Estado deve-se à permutação da liberdade
individual, enquanto ser livre e racional, pela liberdade coletiva, ou seja, do povo
enquanto comunidade, que participa na sociedade em função do Contrato Social. Esta
ideia, o Contrato Social, introduzida por Rousseau, é censurada pelos conservadoristas
pois pensam que a verdadeira liberdade está centrada no individuo, enquanto unidade
capaz de se autodeterminar a si, aos seus bens, às suas propriedades e aos seus direitos,
ou seja, o único poder exercido sobre cada um é apenas o da sua consciência, proveniente
da sua vontade livre. Quer com isto dizer que os conservadores rejeitam,
peremptoriamente, o poder exercido por um homem, por um conjunto de homens ou por
um povo, pois poder é poder e, por isso, despótico.

“O Homem livre é senhor da sua vontade e somente escravo da sua consciência.”16

A conceção da sociedade e da política, para os conservadores, é orgânica e


inigualitária. A visão burkiana da natureza humana e da sua moralidade, não obstante
destacasse o papel da razão na ação e no conhecimento, não sobrevalorizava a sua
importância nem ostentava uma confiança excessiva e ilimitada nos seus poderes. Esta
abordagem conservadora não rompe completamente com as Luzes mas rejeita a

12
NISBET, Robert- O Conservadorismo. Lisboa: Editorial Estampa Lda., 1987, pp. 83-91. Disponível
online em: https://felipemaiasilva.files.wordpress.com/2016/05/nisbet-r-o-conservadorismo.pdf.
Consultado em 7 de outubro de 2022.
13
Idem, Ibidem, p. 91.
14
Idem, Ibidem, p. 86.
15
Idem, Ibidem, p. 84.
16
Aristóteles - provérbio hassídico

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convicção de que a natureza humana seja maleável e plástica e que pode ser moldada ou
manipulada por pedagogos, legisladores ou politicas revolucionárias. Ao invés disso,
revela o papel fulcral dos sentimentos, dos hábitos, e até dos preconceitos, na orientação
da conduta falível dos indivíduos, a qual jamais poderia ser compreendida desligada dos
grupos, agremiações e instituições em que estão naturalmente inseridos e enquadrados.
Existe, portanto, algum ceticismo face à racionalidade e sabedoria dos indivíduos isolados
numa multidão acéfala, mas a crença na sabedoria coletiva da humanidade. Deste modo,
fica implícito na defesa conservadora dos grupos contra a soberania, a valiosidade das
associações intermédias como contextos mediadores e estimulantes dos indivíduos mas
também como estabilizadores do poder obsessivo do estado e do seu credo pela
igualdade.17 18

“Nós não somos os convertidos de Rousseau; não somos os discípulos de Voltaire; Hielvetius
não fez quaisquer progressos entre nós. Os ateus não são os nossos pregadores; os loucos não são os
nossos legisladores. Sabemos que não fizemos descobertas; e pensamos que, na moralidade, não há
descobertas a fazer; nem tão pouco as há em abundância nos grandes princípios do governo, nem nas
ideias de liberdade, que foram compreendidos muito antes de termos nascido […)."19

O posicionamento dos conservadores aproxima-se da visão clássica e orgânica da


sociedade política, patente em Aristóteles e na Segunda Escolástica, na qual a aceitação
das desigualdades deve ser vista como algo natural. Ora, isto significa, que as
desigualdades sociais e económicas não são consideradas injustas desde que garantida a
igualdade legal, constitucional, moral e uma vaga igualdade civil na satisfação de
necessidades e direitos básicos, como a proteção da propriedade, com base numa visão
muito minimalista dos “direitos do homem”. O direito natural escolástico, também
conhecido como modelo aristotélico, assume a existência de um fundamento teológico
para as regras básicas da moral patente a todos os indivíduos, pois considera que os

17
MARTINS, Pedro- História da Filosofia Política. Lisboa: Editorial Presença, 2020, p. 424.
18
NISBET, Robert- O Conservadorismo. Lisboa: Editorial Estampa Lda., 1987, p. 87. Disponível online
em: https://felipemaiasilva.files.wordpress.com/2016/05/nisbet-r-o-conservadorismo.pdf. Consultado em 8
de outubro de 2022.
19
BURKE, Edmund- Reflections on the Revolution in France and on the Proceding in Certain
Societies in London Relative to that Event. Londres: J. Dosley, 1890, p. 127. Disponível online em:
https://books.google.pt/books?id=RqkJW27DfWkC&printsec=frontcover&dq=BURKE,+Edmund+-
+Reflections+on+the+Revolution+in+France+and+on+the+Proceeding+in+Certain+Societies+in+Londo
n+Relative+to+that+Event&hl=en&sa=X&ved=2ahUKEwjz3_6XxfP6AhXB34UKHVSOBdgQuwV6BA
gKEAY#v=twopage&q&f=false. Consultado em 8 de outubro de 2022.

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mesmos são seres de hábitos, preconceitos e religião, e, concomitantemente, seres
essencialmente comunitários e sociais.20
A corrente conservadorista advoga que, excetuando a igualdade legal e
constitucional, a maior parte dos mecanismos utilizados para atingir a igualdade surge
acompanhados de ameaças à liberdade individual e dos grupos, pois consideram que o
alvo igualador do Estado incide em valores intrínsecos e invioláveis de qualquer ser
racional. Quer com isto dizer que os conservadores, em linha com o pensamento de Kant,
julgam que a violação da propriedade individual, da família ou de qualquer outro grupo
não é fruto de uma vontade autónoma, mas sim de uma vontade heterónoma, ou seja, que
não se autodetermina por um imperativo moral de natureza racional, mas que se rege por
regras que lhe são impostas a partir do exterior, neste caso o Estado. Para além disso, este
caminho para a homogeneidade das massas é, para os conservadores, um desrespeito pela
dignidade humana dos mais abastados, pois esses são utilizados como meios para alcançar
um fim, através de políticas de redistribuição que se apropriam dos seus bens21.

“Mais claramente ainda dá na vista esta colisão com o princípio de humanidade em outros homens
quando tomamos para exemplos ataques à liberdade ou à propriedade alheias. Porque então é evidente que
o violador dos direitos dos homens tenciona servir-se das pessoas dos outros simplesmente como meios,
sem considerar que eles, como seres racionais, devem ser sempre tratados ao mesmo tempo como fins, isto
é unicamente como seres que devem poder conter também em si o fim desta mesma acção.”22

Não obstante, os conservadores apoiam, prontamente, os “movimentos


horizontais e verticais” dos indivíduos numa sociedade onde deve ser valorizada a
criatividade e a produtividade dos mesmos, permitindo os cidadãos de mais baixa
condição se elevarem à mais alta.

20
MARTINS, Pedro- História da Filosofia Política. Lisboa: Editorial Presença, 2020, p. 428.
21
Idem, Ibidem, p. 429.
22
KANT, Immanuel- Grundlegung zur Metaphysic der Sitten, (tradução do original por Paulo Quintela).
Lisboa: Edições 70, 2007, p. 70. Disponível online em:
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjElYvZyPP6Ah
UV_hoKHcHNCNQQFnoECBUQAQ&url=https%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fpluginfile.php%2
F4410708%2Fmod_folder%2Fcontent%2F0%2FKANT%252C%2520Immanuel.%2520Fundamenta%25
C3%25A7%25C3%25A3o%2520da%2520metaf%25C3%25ADsica%2520dos%2520costumes%252039-
73.pdf%3Fforcedownload%3D1&usg=AOvVaw0BLT8F6hmF5iFzsK_PbFT7. Consultado em 8 de
outubro de 2022.

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Papel do governo
A perspetiva conservadorista, tendo por base a ideologia exposta por Edmund
Burke, in Reflexões sobre a Revolução em França, advoga que o sistema de governo
parlamentar deve ser visto como um órgão essencial à manutenção da liberdade do povo.
Neste sentido, embora o papel da aristocracia e dos grupos intermédios, como a família e
a igreja, sejam sobrevalorizados, os conservadores consideram que o governo, a lei, e a
religião são pilares basilares em sociedade.23 Não obstante, este órgão social deve ser
visto, pelos conservadores, como limitado no seu modo e poder de atuação, pois a sua
gênese não se baseia nas vantagens da sua existência, mas sim nas desvastagens da sua
inexistência. Ou seja, o governo é, em sentido lato, um “mal necessário” do ponto de vista
dos teóricos conservadores, ao qual competem funções que a sociedade, no seu estado
natural e orgânico, é incapaz de garantir. Deste modo, é responsável por assegurar o
cumprimento da lei, a manutenção da ordem e, consequentemente, a segurança dos
indivíduos, sem que isso reproduza qualquer supressão à sua liberdade individual, mas,
pelo contrário, garanta a sua autodeterminação, enquanto ser livre e racional. Ora, isto
significa que a atuação do governo parte da observância, ao invés do intervencionismo,
pelo que a sociedade se rege pelo direito natural que, por si, estabelece regras gerais de
conduta, embora, em casos excecionais, o governo tenha de intervir para restabelecer a
ordem e a paz, fatores que se revelam essenciais à própria liberdade individual. Isto
significa que a salvaguarda da liberdade e integridade do individuo e dos seus bens
relativamente à coerção por parte de terceiros deve ser uma preocupação do Estado.
Em linha com a ideia de governo limitado, intimamente ligada ao
constitucionalismo, os conservadores estabelecem um contraste entre lei e legislação.
Estes pensadores entendem por “lei as regras gerais de conduta, descobertas pelos
indivíduos ao longo dos tempos e independentes da vontade dos mesmos. A legislação,
por seu lado, é uma intervenção humana que prefigura comandos específicos destinados
a alcançar determinados objetivos, e que, ao ser confundida como lei, acaba por incorrer
no construtivismo racionalista”24. Deste modo, o problema que os conservadores

23
HANZAWA, Takamaro- Government and Politics- Vol. II- Conservatism. Tokyo: Tokyo Metropolitan
University, 2014, p.7. Disponível online em: https://www.eolss.net/sample-chapters/C04/E6-32-04-
03.pdf. Consultado em 23 de outubro de 2022.
24
PIRES, Samuel- Do Conceito de Liberdade de Friedrich A. Hayek. Lisboa: Universidade Técnica de
Lisboa, ISCSP, 2011, pp. 65-68. Disponível online em:
https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3536/1/Dissertação%20-%20SPP%20-
%20Do%20Conceito%20de%20Liberdade%20em%20F.%20A.%20Hayek.pdf. Consultado em 23 de
Outubro de 2022.

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reconhecem nos governos democráticos é a substituição da lei pela legislação, o que
implica um alargamento do intervencionismo estatal, conduzindo à transformação de uma
sociedade livre num sistema dirigido pelos interesses do governo. É por este motivo que
os conservadores defendem a importância da existência de uma constituição que limite o
governo e impeça que o seu poder legislativo se expanda a objetivos que confrontam com
os direitos e liberdades individuais. Este princípio, explicado anteriormente nesta
dissertação, tem por base o dogma conservador de que a justiça social e a redistribuição
da riqueza, adotada pelos governos, é profícua ao detrimento do livre-arbítrio dos
indivíduos. Em suma, na visão conservadora, as áreas de atuação do governo têm de ser
restritas e o exercício do poder constrangido, permitindo o maior grau possível de
liberdade a cada cidadão. Para que tal aconteça é essencial um governo limitado pelo
estado de direito e sem intromissão nos assuntos quotidianos dos indivíduos, sempre que
esses não entrem em conflito com as suas próprias liberdades.25

Relação com a democracia


Genericamente, é possível afirmar que a ideologia conservadorista é
antidemocrática, pois os valores que defende e que os seus partidários corroboram não se
enquadram com os valores da democracia moderna26. A redefinição contrarrevolucionária
da liberdade, que por sua vez influenciou os movimentos políticos que surgiram na
Europa no início do século XIX, notadamente o liberalismo, estavam em concordância
com conservadores como Eberhard e Edmund Burke. Estes pensadores defendem que a
democracia não só é um conceito absolutamente distinto da liberdade como também
potencialmente prejudicial à mesma27. De acordo com a corrente ideológica em questão,
a manutenção da liberdade dos indivíduos não passa pela expansão do controlo popular
sobre o governo, mas pela criação de barreiras contra a interferência do Estado na vida
das pessoas, os cidadãos. Ora, isto significa, que neste contexto político, a democracia

25
PIRES, Samuel- Do Conceito de Liberdade de Friedrich A. Hayek. Lisboa: Universidade Técnica de
Lisboa, ISCSP, 2011, pp. 65-68. Disponível online em:
https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3536/1/Dissertação%20-%20SPP%20-
%20Do%20Conceito%20de%20Liberdade%20em%20F.%20A.%20Hayek.pdf. Consultado em 23 de
Outubro de 2022.
26
DIJN, Annelien- Freedom an Unruly History. Londres: Harvard University Press, 2020, p. 4. Disponível
online em: https://books.google.pt/books?id=UdHoDwAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Consultado em 5 de outubro de 2022.
27
DOMBROWSKI, Osmir- Conservador nos costumes e liberal na economia: liberdade, igualdade e
democracia em Burke, Oakeshott e Hayek. Florianópolis: Revista Katálysis, 2020, pp. 231-232. Disponível
online em: https://www.scielo.br/j/rk/a/mtswgxTXpRJRNxfjTN4wtym/?lang=pt. Consultado em 5 de
outubro de 2022.

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deve ser vista como um método que se preocupa, essencialmente, por limitar o poder de
quem governa, o que se opõe à concessão de origem francesa, que vê a democracia assente
em princípios como o bem comum e a vontade geral, na qual se incluem os estadistas28.
Os conservadores, como Hayek e Burke, fazem corresponder a conceção geral da
democracia francesa e continental como um método de governo que assenta na regra da
maioria, contra-argumento que utilizam para fundamentar a sua tese, ou seja, que a
maioria pode e está errada29.

“O liberalismo considera desejável que só aquilo que a maioria aceita deva ser lei, embora não
acredite que isto é necessariamente bom. O seu objectivo é o de persuadir a maioria a observar determinados
princípios. Aceita a regra da maioria como um método de decisão, mas não como uma autoridade para o
que deve ser a decisão”. 30

Tal como é possível ler no excerto anterior, Hayek, filósofo conservador, deixou
claro que se a democracia é sinónimo de vontade da maioria, que facilmente é
manipulável por uma estrutura interna de autoridade, o Estado, que mesmo eleito
democraticamente não legisla em função dos interesses dos seus eleitores. Quer com isto
dizer que, para os conservadores, a democracia não deve ter excessos, ou seja, nem todas
as pessoas devem ser legíveis para participar na vida política, pois corremos o risco de
colocarmos os direitos e liberdades individuais à mercê da ameaça advinda da expansão
do intervencionismo estatal. “Essa ameaça é tanto mais perigosa quanto mais se apoia em
ideais aparentemente nobres. Entre esses ideais, nenhum, provavelmente, será mais
ilusório nem terá consequências mais nefastas do que a «justiça social»”31. Em oposição
a Jonh Rawls, defensor da “justiça social”, os conservadores consideram que as
desigualdades sociais são um produto natural das trocas e interações na sociedade, e que
não podem ser anuladas por um governo intervencionista, resultado das massas. Os
conservadores recusam, veemente, que a democracia deva apontar para a igualdade, pois

28
PIRES, Samuel- Do Conceito de Liberdade de Friedrich A. Hayek. Lisboa: Universidade Técnica de
Lisboa, ISCSP, 2011, p. 29. Disponível online em:
https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3536/1/Dissertação%20-%20SPP%20-
%20Do%20Conceito%20de%20Liberdade%20em%20F.%20A.%20Hayek.pdf. Consultado em 5 de
Outubro de 2022.
29
F. A. Hayek- The Constitution of Liberty, op. cit., p. 90. Disponível online em:
https://iea.org.uk/sites/default/files/publications/files/Hayek%27s%20Constitution%20of%20Liberty.pdf.
Consultado em 8 de Outubro de 2022.
30
Idem, Ibidem, p. 90.
31
F. A. Hayek- Law, Legislation and Liberty, Vol. 2: The Mirage of Social Justice, op. cit., p. 139.
Disponível online em: https://books.google.pt/books?id=X3QihjxsYlMC&printsec=frontcover&hl=pt-
PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Consultado em 8 de outubro de 2022.

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essa é prejudicial para a liberdade de alguns indivíduos, uma minoria abastada, mais
brilhante, mais forte e mais trabalhadora32.
Os conservadoristas apontam que o sufrágio universal é o reflexo da “tirania da
maioria” invejosa, pelo que a poder político deve estar apenas centrado na elite. Neste
sentido, advogam a existência de pessoas, pertencentes a uma elite social, moral e
intelectualmente superiores, com maior peso na condução da vida pública e outras, “[...]
profissionais inferiores, ignorantes, mecânicos, [...] obscuros advogados de província
[...]” e “[...] todo o bando de chicaneiros municipais [...]”, que acatam as regras dos seus
superiores, impedindo que ocorra persuasão das mentes mais fracas.33 No entanto, é
preciso observar que, neste ponto, os conservadores, valorizam a meritocracia, como
método de seleção dos membros de governo em detrimento dos critérios plutocráticos.
Ora, isto significa, que os cidadãos mais fortes e mais brilhantes, independentemente do
seu estrato social, podem aspirar a cargos de representatividade, e apenas neste ponto
existem reflexos da democraticidade 34.

32
BURKE, Edmund- Reflections on the Revolution in France and on the Proceding in Certain
Societies in London Relative to that Event. Londres: J. Dosley, 1890, p. 56. Disponível online em:
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33
Idem, Ibidem, p. 36.
34
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democracia em Burke, Oakeshott e Hayek. Florianópolis: Revista Katálysis, 2020, pp. 230-233. Disponível
online em: https://www.scielo.br/j/rk/a/mtswgxTXpRJRNxfjTN4wtym/?lang=pt. Consultado em 9 de
outubro de 2022.

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Conclusão
Em suma, pode-se afirmar que o conservadorismo é uma filosofia política e social
essencialmente antidemocrática, não indo ao encontro dos ideais políticos atuais da
democracia. Pode até ser considerado um regime preconceituoso devido às suas
descriminações perante os populares e intolerante, pois não só se caracteriza por ser
autoritário e hierárquico, como também sobrevaloriza a tradição (religião, família e
instituições) em detrimento da evolução e da modernização.
Para lá disto pode-se referir também que o regime conservador é altamente
inigualitário, pois beneficia aquilo que define como os cavalheiros ou gentlemen, ou seja,
a nobreza, concedendo-lhes representatividade política e a liberdade de propriedade ao
contrário do povo, que não tem representatividade e que vê e trata como inferiores tanto
intelectualmente como socialmente.

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