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• Contudo, a maioria destes seres ingere

alimentos complexos, que necessitam de sofrer


uma digestão até que se transformem em
substâncias mais simples, capazes de serem
absorvidas.

Unidade 1 - Obtenção de • Após esta digestão, os nutrientes


podem passar diretamente para as células ou,
matéria como acontece nos organismos mais complexos,
podem ser transportados até às células pelo
• Unidade 1.1. - Obtenção de sangue ou por outros fluidos.
Matéria pelos Seres
• Para compreender os mecanismos que
Heterotróficos garantem a obtenção de matéria a nível celular, é
necessário conhecer as estruturas responsáveis
por este fenómeno.
1.1. Uni e Pluricelularidade

• Os organismos têm uma necessidade absoluta


Ultraestrutura da membrana
de obter matéria, para a incorporar ou a plasmática
transformar em energia. Contudo, enquanto que
os seres autotróficos são capazes de sintetizar os Todas as células se encontram envolvidas por uma
seus próprios compostos orgânicos, os estrutura membranar designada membrana
seres heterotróficos não têm essa capacidade. plasmática, plasmalema ou membrana celular:
Assim, para satisfazer as suas necessidades
nutritivas, os seres heterotróficos dependem, • Esta membrana mantém a integridade
direta ou indiretamente, dos seres autotróficos. celular e delimita a fronteira entre o meio
intracelular e o meio extracelular.
• Apesar da enorme diversidade existente, • A membrana plasmática, contudo, não é
todos os seres heterotróficos requerem os totalmente impermeável; pelo contrário,
mesmos nutrientes básicos: água, minerais, constitui uma barreira seletiva, através da
vitaminas, glícidos, lípidos e proteínas. qual se processam trocas de substâncias e
energia entre a célula e o meio exterior.
• O processamento e a utilização destas • Funciona como um sensor, permitindo à célula
substâncias a nível celular são idênticos nos seres modificar-se como resposta a diversos
unicelulares e nos pluricelulares e inicia-se após a estímulos ambientais.
sua absorção.

• A absorção é a passagem de substâncias


Constituição da membrana
do meio externo para o meio interno. Nos seres plasmática
unicelulares, a absorção implica a passagem de
• As proteínas presentes na membrana
substâncias pela membrana celular.
plasmática possuem composição e funções
diversas.
• As substâncias podem atravessar a
• Estas moléculas podem ter uma função
membrana diretamente ou podem ser
meramente estrutural ou intervir
incorporadas na célula no interior de vesículas,
no transporte de substâncias através da
sofrendo, posteriormente, digestão intracelular.
membrana. Funcionam, ainda,
como recetores de estímulos químicos, vindos
• Alguns organismos multicelulares pouco
do meio extracelular, ou como enzimas,
complexos podem absorver as substâncias do
catalisando reações que ocorrem
meio diretamente para as suas células.
na superfície da célula.
• Os lípidos constituintes da membrana • Estudos posteriores, com eritrócitos,
plasmática são, maioritariamente, fosfolípidos revelaram que a quantidade de
(presentes em todas as membranas fig. 4), fosfolípidos isolados da
colesterol e glicolípidos. membrana fosfolipídica era suficiente para
• Os fosfolípidos e os glicolípidos são formar uma dupla
moléculas anfipáticas, isto é, possuem camada à
uma extremidade polar que superfície de cada
é hidrofílica (tem afinidade com as moléculas eritrócito.
de água) e uma extremidade apolar que • Estes resultados levaram Gorter e Crendel a
é hidrofóbica (não tem afinidade com as apresentar, em 1925, um modelo estrutural
moléculas de água). baseado numa bicamada fosfolipídica.
• O colesterol é uma molécula pertencente ao • Segundo estes cientistas, as zonas hidrofóbicas
grupo dos esteroides (lípidos que possuem das duas camadas estariam situadas frente a
uma estrutura contendo anéis de carbono). É frente e as zonas hidrofílicas voltadas para o
insolúvel em água e ocorre em menor exterior, de ambos os lados.
quantidade que os fosfolípidos. • Mais tarde, evidências respeitantes à
• Os glícidos membranares situam-se na parte permeabilidade e tensão
exterior da membrana plasmática. Embora as superficial fosfolipídica da membrana
suas funções não sejam totalmente celular permitiram concluir que as membranas
conhecidas, sabe-se que têm um papel seriam estruturas
importante no reconhecimento de certas mais complexas do
substâncias por parte da célula. que simples
bicamadas
lipídicas.
• Em 1935, Davson e Danielli propuseram um
modelo em que a bicamada fosfolipídica seria
revestida interna e externamente por uma
camada de proteínas, que facilmente se
ligariam às extremidades polares hidrofílicas
dos fosfolípidos.
• Com o advento da microscopia eletrónica,
surgiram comprovações do modelo
proposto por Davson e Danielli. A membrana
aparecia como uma
estrutura formada
por duas linhas
escuras, separadas
por uma banda clara.
• As linhas escuras corresponderiam às
Estrutura da membrana plasmática proteínas e às partes
• Em 1885, dois hidrofílicas
investigadores, Nageli e Cramer, descobriram dos fosfolípidos, que
que a célula possuía uma membrana a fixam o ósmio,
envolvê-la. Em 1899, Overton deduziu que a enquanto que a banda clara corresponderia as
membrana deveria ser constituída por lípidos. partes hidrofóbicas dos fosfolípidos.
• Este modelo, no entanto, não explicava a
Esta dedução baseou-se no facto de, quanto
mais lipossolúvel for uma substância, maior ê passagem, através da membrana, de
a sua velocidade de penetração na moléculas polares, tais como a água, os
célula. Overton também verificou que a aminoácidos e os monossacarídeos, pois uma
membrana era destruída quando sujeita à camada contínua de fosfolípidos não seria
ação de substâncias solventes dos lípidos. atravessada por esse tipo de substâncias, o
que levou a que, mais tarde, os mesmos
cientistas propusessem uma alteração ao transversais de fosfolípidos de uma camada
modelo inicial. para a outra (movimentos de flip-flop).
• Deste modo, a membrana plasmática possuiria • Neste modelo de membrana, proposto
poros revestidos internamente por proteínas, por Singer e Nicholson, tal como os lípidos,
que formariam passagens hidrofílicas através também algumas proteínas apresentam
das quais as substâncias polares poderiam mobilidade, enquanto que outras estão fixas.
atravessar a membrana. As substâncias não • Pode-se, então,
polares, por sua vez, atravessariam a classificar as
membrana diretamente através da bicamada proteínas
lipídica. membranares em
• Apesar da coerência deste modelo, análises dois grandes
quantitativas revelaram que as proteínas não grupos: as
poderiam revestir toda a superfície da proteínas periféricas e as proteínas
bicamada fosfolipídica. Por outro lado, integradas.
verificou-se que, quando se sujeitavam as • As proteínas periféricas ou extrínsecas estão
membranas a uma ação enzimática, a camada à superfície, podendo ser facilmente isoladas
fosfolipídica era mais facilmente danificada do da membrana, pois encontram-se associadas
que as proteínas. Além disso, verificou-se por ligações eletrostáticas fracas às partes
também que algumas proteínas se destacavam hidrofílicas dos lípidos ou de proteínas
da membrana com facilidade, enquanto que integradas.
outras dificilmente conseguiam ser • Por sua vez, as proteínas
removidas. integradas ou intrínsecas estão fortemente
• Outra controvérsia ao modelo ligadas às zonas hidrofóbicas dos lípidos,
de Davson e Danielli: verificou-se que as podendo mesmo atravessar a membrana de
proteínas da membrana apresentavam regiões um lado ao outro. Quando isto acontece, são
hidrofílicas e regiões hidrofóbicas. Se estas designadas proteínas transmembranares.
proteínas se encontrassem dispostas na • Na superfície externa da membrana
superfície dos fosfolípidos, isso implicaria que plasmática, existem moléculas de glícidos
algumas regiões hidrofóbicas teriam que estar ligadas às proteínas, formando
em contacto com a água. glicoproteínas e, em alguns casos, ligadas aos
• Além dos dados referidos, outros resultados lípidos, formando glicolípidos. Estas moléculas
experimentados contribuíram para o formam o glicocálix e são responsáveis
desenvolvimento do Modelo de Mosaico pelo reconhecimento
Fluido. de certas substâncias por parte da célula.
• O Modelo de Mosaico Fluido é assim
chamado devido Movimentos transmembranares
ao facto de • A membrana plasmática é uma estrutura que
admitir que a separa o meio intracelular do meio
membrana não é extracelular, permitindo a passagem de
uma estrutura diversas substâncias nos dois sentidos. Esta
rígida, existindo passagem, contudo, não ocorre de igual forma
movimentos das moléculas que a constituem, para todas as substâncias.
dotando-a, assim, de grande fluidez. • A membrana apresenta maior permeabilidade
• Verifica-se que as moléculas fosfolipídicas têm para umas substâncias do que para outras,
grande mobilidade lateral, trocando de sendo mesmo impermeável a alguns
posição com compostos. Esta permeabilidade seletiva está
outras que se espelhada na diferente composição dos fluidos
encontrem intracelular e extracelular e pode variar
na mesma conforme as circunstâncias.
camada. • A passagem de substâncias através da
Ocasionalmente, podem ocorrer movimentos membrana pode ocorrer através de vários
mecanismos e está dependente, entre outros
fatores, da configuração molecular dessas se osmose e é explicada por diferenças de
substâncias. concentração de soluto nos dois meios.
• Há sempre um fluxo de água do meio
Osmose com menor concentração do soluto
(meio hipotónico_hipopótamo) para o meio
• A água é uma substância que intervém em com maior concentração do soluto (meio
muitas funções celulares e é formada por hipertónico). Quando a concentração do
pequenas moléculas polares, que atravessam soluto é igual nos dois meios, eles dizem-se
facilmente a membrana celular em ambos os isotónicos e o fluxo de água é igual nos dois
sentidos. Estes movimentos de água através sentidos.
da membrana são controlados por • O mecanismo de osmose também pode ser
fenómenos físicos. estudado com hemácias. No entanto, como
• As células da epiderme das pétalas, para além todas as células animais, as hemácias não
de possuírem um núcleo, citoplasma e parede possuem parede celular, pelo que, quando são
evidentes, apresentam, normalmente, um colocadas numa solução muito hipotónica, o
vacúolo desenvolvido, que contém pigmentos fluxo contínuo de água para o interior da célula
dissolvidos em água, que conferem a cor pode levar ao aumento do volume celular para
característica às pétalas (fig. 9). lá da capacidade elástica da membrana,

• Quando a célula é colocada em água destilada,


a água entra para o vacúolo, que aumenta de
volume, comprimindo o citoplasma e o núcleo acabando a célula por rebentar (lise celular).
contra a parede celular (fig. 9C). • Numa situação de osmose, a partir do
• Quando isto acontece, diz-se que a célula momento em que a água se começa a
ficou túrgida, ficando com uma cor mais clara, movimentar, a velocidade osmótica vai
graças à menor concentração dos pigmentos. diminuindo.
• Numa célula vegetal em turgescência, todo o
conteúdo celular exerce uma pressão sobre a • A velocidade osmótica varia, de forma
parede da célula (pressão de turgescência), proporcional, com a diferença
que, por sua vez, oferece resistência a esta de concentração entre os dois meios. No
pressão. início, dado que a diferença
• Quando a célula é colocada numa solução de concentrações é máxima, a velocidade
concentrada de cloreto de sódio, dá-se um osmótica também é máxima. A medique as
movimento de água do vacúolo para o concentrações dos dois meios começam a ser
exterior da célula, o que faz com que o vacúolo mais próximas, a velocidade vai diminuindo,
diminua de volume e fique com uma cor mais até que as concentrações se igualam e os
intensa e o citoplasma se desprenda dois meios se tornam isotónicos.
parcialmente da parede celular (fig. 9A). Nesta
situação, diz-se que a célula se
Difusão Simples
• A água não é a única substância que se
encontra plasmolisada.
• A difusão de moléculas de água entre dois movimenta através da membrana celular.
meios separados por uma membrana Várias outras substâncias o fazem, através de
permeável à água e pouco permeável ou um fenómeno designado difusão simples, no
impermeável ao soluto denomina- qual as moléculas se movimentam do meio
onde a sua concentração é mais elevada para
o meio onde a sua concentração é mais através da membrana e a sua separação da
baixa (isto é, a favor do gradiente de permease;
concentração).  Regresso da permease à sua forma inicial.
• Quando se atinge um equilíbrio de
concentrações, este movimento de moléculas • O facto de a difusão facilitada efetuar-se
não para; no entanto, o número de moléculas com intervenção de permeases explica
que atravessa a membrana num sentido é que a velocidade de transporte da
idêntico ao que atravessa no sentido inverso, substância aumente com a concentração,
não ocorrendo, por isso, nenhuma alteração mas só até ao ponto em que todos os
nas concentrações em qualquer um dos lados locais de ligação às permeases estão
da membrana. ocupados. Nesta altura, a velocidade de
• O processo de difusão simples é considerado transporte estabiliza, mesmo que a
um transporte passivo, porque ocorre devido concentração da substância aumente. Este
à agitação térmica das moléculas e, tal como mecanismo ocorre sem gasto de energia
na osmose, a sua ocorrência não acarreta por parte da célula.
gasto de energia por parte da célula.
• A difusão simples explica, assim, a Transporte ativo
movimentação através da membrana de • Apesar dos processos de transporte
pequenas moléculas apolares e de alguns iões. passivo de substâncias através da
membrana permitirem atingir um
Difusão facilitada equilíbrio de concentrações entre os meios
intracelular e extracelular, a célula
também pode manter várias substâncias
no seu interior, em concentrações muito
diferentes das do meio que a rodeia.
• Esta capacidade deve-se à permeabilidade
seletiva da membrana celular e garante a
manutenção das concentrações do meio
intracelular, de para que aí possam ocorrer
as reações químicas vitais para a célula.
• Um elevado número de moléculas polares de • A manutenção de um meio interno mais ou
dimensões consideráveis como a glicose, os menos constante, independente das
aminoácidos ou algumas vitaminas, atravessa variações de concentrações do meio
a membrana celular a favor do gradiente de externo, implica gastos de energia por
concentração, mas a uma velocidade superior parte da célula. Esta energia é utilizada
à esperada, se o fizesse por difusão. para o movimento de substâncias contra
• A difusão facilitada deve-se à existência de um gradiente de concentração, através de
proteínas transportadoras na membrana, que proteínas transportadoras, num processo
promovem a passagem destas moléculas. As designado transporte ativo.
proteínas são específicas para cada tipo de • No transporte ativo, ao contrário do que
substância e denominam-se permeases. acontece na difusão facilitada as
• A ligação da molécula a transportar à parte mudanças de forma na proteína
hidrofílica da permease faz com que esta transportadora ocorrem devido à
modifique a sua forma, permitindo a passagem energia resultante da hidrólise de
da molécula e regressando, em seguida, à sua ATP (Adenosina trifosfato). Nesta situação
forma inicial (fig. 10). as proteínas transportadoras comportam-
• O processo de difusão facilitada efetua-se se como enzimas, sendo
em três etapas: designadas ATPases.
 Ligação da molécula a transportar à • A bomba de sódio e potássio é um dos
permease; exemplos mais estudados de transporte
 Alteração conformacional da permease, ativo. Neste caso, a
que permite a passagem da molécula mesma ATPase promove a movimentação
do Na+ e do K +, através da geralmente, com lisossomas (vesículas que
membrana, contra um gradiente de contêm enzimas digestivas), dando origem a
concentração. vacúolos digestivos, onde se dá a digestão
• Através da hidrólise do ATP em ADP e Pi, a das substâncias fagocitadas.
bomba de sódio e potássio promove − A fagocitose constitui o processo digestivo de
a saída de três iões Na+ e a entrada de dois muitos organismos unicelulares, como a
iões K+, assegurando assim a diferença de amiba, mas também pode ser observada em
concentrações entre os células animais, como nos macrófagos do
meios intra e extracelular. sistema imunitário. Neste último caso,
constitui um mecanismo de defesa contra
bactérias, células cancerosas e outras
partículas estranhas ao organismo.

 Pinocitose:
− Constitui um processo semelhante, em que as
substâncias que entram na célula
são substâncias dissolvidas ou fluidos, pelo
que as vesículas são de menores dimensões.
− Ocorre, por exemplo, no epitélio intestinal.

• Embora, no essencial, a fagocitose e a


pinocitose sejam fenómenos semelhantes,
a fagocitose ocorre
principalmente em células fagocíticas especia
lizadas e envolve a formação de vesículas de
Transporte de partículas — grandes
dimensões, denominadas fagossomas ou vesí
endocitose e exocitose culas de fagocitose, que contêm
• Para além dos mecanismos de difusão e microrganismos ou fragmentos celulares.
transporte de pequenas moléculas através da
• Por outro lado, a pinocitose ocorre, de
membrana, as células possuem ainda
forma quase contínua, na maioria das células
outros recursos que permitem o transporte,
eucarióticas, através da formação
para o interior ou para o exterior,
de pequenas vesículas, contendo fluidos e
de macromoléculas, de partículas com solutos.
maiores dimensões ou mesmo de pequenas
• Endocitose mediada por recetor:
células. − A endocitose mediada por recetor é
• O transporte deste tipo de material para o
um processo de endocitose em
interior da célula por invaginação da
que macromoléculas entram na
membrana plasmática chama-se endocitose
célula, ligadas à membrana das vesículas de
• Existem vários tipos de endocitose, como
endocitose.
a fagocitose, a pinocitose e a endocitose
mediada por recetor:

 Fagocitose: • Exocitose:
− A membrana plasmática engloba partículas de − Processo inverso à endocitose, no qual as
grandes dimensões ou mesmo células inteiras. células libertam para o meio extracelular
− A célula emite prolongamentos, substâncias armazenadas em vesículas.
denominados pseudópodes, que englobam a − As vesículas de secreção fundem-se com
partícula, formando a membrana plasmática, libertando o
uma vesícula fagocítica que se destaca da seu conteúdo para o meio extracelular.
membrana para o interior do citoplasma.
As vesículas assim formadas fundem-se,
− Fundamental para a célula se livrar de • Os resíduos que se formam neste processo são
resíduos da digestão intracelular, mas expulsos da célula por exocitose. Este tipo de
também pode fazer parte do processo digestão é típica de seres eucarióticos
digestivo de seres pluricelulares. De facto, é unicelulares, como a ameba ou a paramécia.
por este processo que são segregadas, (É nos lisossomas que ocorre a digestão das
por exemplo, as enzimas digestivas no substâncias captadas por endocitose, graças às
pâncreas. enzimas hidro- líticas provenientes do lisossoma,
num processo denominado heterofagia. Por outro
lado, os lisossomas também participam na
digestão dos próprios organelos celulares, quando
é necessário, formando-se para tal vacúolos
autofágicos. Neste caso, fala-se de autofagia.)

1.2. Digestão Intracelular – Importância


do sistema endomembranar

Retículo Endoplasmático
Complexo de Golgi
Lisossomas

• Mantém uma
relação funcional
entre si.
• Sintetizam/
Transformam/ 1.3. Obtenção de Matéria pelos Seres
Armazenam Heterotróficos Multicelulares
substâncias que
intervém na Ingestão, Digestão e Absorção
digestão • Ingestão: Entrada dos alimentos para o
intracelular. organismo.
• Digestão: Conjunto de processos que permite
a transformação de moléculas complexas em
moléculas mais simples.
• Os organelos complexo de Golgi, lisossomas e • Absorção: Passagem dos nutrientes
retículo endoplasmático, estão diretamente resultantes da digestão para o meio interno.
envolvidos na digestão intracelular. • Egestão: Eliminação de resíduos.
• Esta ocorre após as partículas alimentares
serem interiorizadas na célula, pelo processo
de endocitose, formando-se vesículas A finalidade da digestão é transformar – através
endocíticas. de reações de hidrólise e com intervenção de
• A nível do retículo endoplasmático, formam-se enzimas – as moléculas grandes e complexas dos
proteínas enzimáticas que são incorporadas alimentos noutras mais pequenas, simples e
em vesículas, como os lisossomas, que as solúveis, que as células poderão utilizar no seu
transportam até ao complexo de Golgi. metabolismo.
• Aqui, estas fundem-se com as vesículas
endocíticas, formando um vacúolo digestivo, • A digestão extracelular ocorre em cavidades
onde ocorre a digestão intracelular. digestivas que, apesar de se encontrarem
dentro do organismo, fazem parte do meio
externo, pois não são mais do que do tubo. A digestão pode ocorrer em vários
prolongamentos desse meio para o interior do órgãos por processos mecânicos diferentes e
corpo. devido a ação de diferentes enzimas.
• Nestas cavidades, são lançados sucos • Nos vertebrados (ex.: mamíferos):
digestivos que contêm enzimas, que atuam O tubo digestivo também é completo como o
sobre os alimentos, transformando-os em da minhoca, mas muito mais complexo (tem
substâncias mais simples, capazes de serem órgãos anexos ao tubo digestivo – pâncreas e
absorvidas. fígado).
• A digestão extracelular representa uma No Homem, a digestão extracelular inicia-se na
vantagem evolutiva para os organismos, dado boca, logo após a ingestão do alimento, que é
que podem ingerir quantidades significativas triturado por ação da mastigação e sofre a
de alimento em cada refeição, que é assim ação da enzima amílase, que hidrolisa glícidos.
armazenado e vai sendo lentamente digerido. O bolo alimentar assim formado é deglutido,
Desta forma, o organismo não necessita de passando, através do esófago, para o
estar continuamente a captar alimento. estômago. O estômago possui uma parede
• A digestão extracelular processa-se, musculosa, provida de glândulas produtoras
maioritariamente, em cavidades ou num tubo de ácido clorídrico e de enzimas proteolíticas
digestivo, onde são lançados sucos digestivos (enzimas que degradam prótidos). A ação
com enzimas – digestão extracelular conjunta do ácido, das enzimas e dos
intracorporal. movimentos das paredes do estômago
• O tubo digestivo pode ser completo ou (movimentos peristálticos) continua a digestão
incompleto: dos alimentos, originando o quimo, que passa
 Incompleto: para o duodeno (intestino delgado). Nas
• Possui apenas uma abertura para o exterior; paredes do duodeno, também existem
• A digestão ocorre na cavidade gastrovascular; glândulas que produzem o suco intestinal, que
• As moléculas já mais simples passam por possui várias enzimas digestivas, que atuam
fagocitose, para células digestivas onde sobre o quimo. Ao duodeno chegam ainda a
termina a digestão. bílis, produzida pelo fígado, e o suco
• Exemplo: Hidra. pancreático, produzido pelo pâncreas. A bílis
atua como um emulsionante para os lípidos,
isto é, provoca a sua separação em porções
pequenas, facilitando a sua digestão. O suco
pancreático possui várias enzimas, que atuam
sobre o quimo, transformando-o em quilo. As
moléculas simples resultantes da digestão são
• Exemplo: Planária (neste seres a cavidade então absorvidas. Esta absorção é eficiente
gastrovascular é mais complexa, sendo muito devido à enorme superfície da parede
ramificada e possuindo uma faringe). intestinal, que resulta do grande comprimento
do intestino e da existência de pregas cobertas
por vilosidades (fig. 26). Por sua vez, as células
do epitélio intestinal possuem
microvilosidades, que aumentam ainda mais a
superfície de absorção (fig. 27).
 Completo:
• Possui duas aberturas para o exterior;
• Nos anelídeos
(ex.: minhoca):
Os alimentos
deslocam-se num
único sentido, o
que permite uma
digestão e uma absorção sequenciais ao longo
Seres autotróficos: Produzem a sua matéria tendo
como fonte de carbono o 𝐶 presente na molécula
de 𝐶𝑂2 (molécula inorgânica).

2.1. Fotossíntese
• O processo autotrófico mais conhecido é a
fotossíntese, que é realizado pelas
cianobactérias, pelas algas, e pelas plantas.
• Estes seres autotróficos utilizam energia
luminosa para produzir compostos orgânicos
a partir de dióxido de carbono e água.
• Pode, por isso, dizer-se que estes seres
convertem a energia luminosa em energia
química.
• Pode equacionar-se a fotossíntese da seguinte
maneira:
Uma vez absorvidos, os nutrientes terão de ser
transportados para todas as células do organismo, 𝐿𝑢𝑧
através da corrente 6𝐶𝑂2 + 12𝐻2 𝑂 → 𝐶6 𝐻12 𝑂6 + 6𝑂2 + 6𝐻2 𝑂
𝐶𝑙𝑜𝑟𝑜𝑓𝑖𝑙𝑎
sanguínea e linfática.
Os resíduos dos • Nota: A clorofila é um pigmento de cor verde,
alimentos não sintetizado pelas células dos seres
absorvidos continuam fotossintéticos, fundamental para a captação
o seu trajeto até ao da energia luminosa.
intestino grosso, onde
ocorre a reabsorção da água. Formam-se assim as
fezes, que são expulsas pelo ânus (fig. 28). • Os órgãos fotossintéticos mais importantes
• Excecionalmente a digestão pode ocorrer fora são as folhas.
do corpo do organismo – digestão extracelular
extracorporal – os fungos lançam enzimas • Que contém inúmeros cloroplastos.
para o exterior do corpo, onde se realiza a
digestão.
• Que são constituídos por lamelas – os
EM SUMA: tilacoides.

• Onde se encontram os pigmentos


fotossintéticos.

Unidade 1.2. - Obtenção de Pigmentos Fotossintéticos


Matéria pelos Seres Autotróficos Captação da energia luminosa.
1
𝐻2 𝑂 → 2𝐻+ + 2𝑒 − + 𝑂2
Grupo Pigmento Cor Distribuição 2
Plantas, algas,
a
cianobactérias
Plantas, algas
• Oxidação da clorofila a
b
Clorofila Verde verdes
Algas castanhas, 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑒𝑙𝑒𝑡𝑟õ𝑒𝑠
c 𝑐𝑙𝑜𝑟𝑜𝑓𝑖𝑙𝑎 𝑎 → 𝑐𝑙𝑜𝑟𝑜𝑓𝑖𝑙𝑎 𝑎 → 𝑐𝑙𝑜𝑟𝑜𝑓𝑖𝑙𝑎 𝑎
diatomáceas
𝑙𝑢𝑚𝑖𝑛𝑜𝑠𝑎 𝑒𝑥𝑐𝑖𝑡𝑎𝑑𝑎 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑓𝑒𝑟𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎𝑑𝑎
d Algas vermelhas
Todos os
carotenos Laranja
fotossintéticos • Fluxo de eletrões
exceto as
Carotenóides cianobactérias
xantofilas Amarela
Algas castanhas, 𝐴𝐷𝑃 + 𝑃 + 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 → 𝐴𝑇𝑃 + 𝐻2 𝑂
diatomáceas
ficoeritrina Vermelha Algas vermelhas,
Ficobilinas ficocianina Azul cianobactérias • Redução de NADP

• Os pigmentos fotossintéticos captam/ 𝑁𝐴𝐷𝑃+ + 2𝑒 − 𝑒𝑛 + 2𝐻+ → 𝑁𝐴𝐷𝑃𝐻 + 𝐻+


absorvem radiações, de diferentes
comprimentos de onda, que são essenciais no
processo fotossintético.
• As clorofilas – pigmentos existentes em maior
quantidade – absorvem radiações de
comprimento de onda correspondentes ao
azul-violeta e ao vermelho-alaranjado.
• As radiações de comprimentos de onda
correspondentes ao verde são refletidas.
Fase Química
… as folhas são verdes.
• As clorofilas a e b são os pigmentos mais • Divide-se em 3 fases:
eficientes na captação de radiações.  Fase 1: Fixação do
carbono.
 Fase 2: Redução do
Fotossíntese – Mecanismo carbono.
• Atualmente admite-se que a fotossíntese tem  Fase 3: Regeneração
duas fases: da ribulose difosfato
 Fase fotoquímica: Depende diretamente da (RuDP).
luz.
 Fase Química: Depende dos produtos da fase • Realiza-se no
fotoquímica, dependendo, assim, estroma dos cloroplastos.
indiretamente da luz. • São utilizadas as moléculas de ATP e NADPH
sintetizadas na fase fotoquímica.
 O ciclo inicia com a combinação de 𝐶𝑂2 com
Absorção da Luz moléculas de 5 carbonos (RuDP);
 Resultam moléculas de 3 carbonos (3𝐶);
 Essas moléculas vão ser fosforiladas pelo ATP
e reduzidas pelo NADPH
 Das moléculas resultantes:
Parte vai regenerar Parte é utilizada na
as moléculas síntese de compostos
acetonas de 𝐶𝑂2 orgânicos.
(RuDP).
Fase Fotoquímica
• Fotólise da água
Quimiossíntese
• Divide-se em 2 fases:
 Fase 1:
− O substrato mineral (sulfureto de
hidrogénio, 𝐻2 𝑆 ou amoníaco, 𝑁𝐻3 ) –
perde eletrões – fica oxidado Formação
de NADPH e de ATP.
 Fase 2:
− São utilizadas moléculas de ATP e NADPH
sintetizadas na primeira fase;
− Combinação do com moléculas de 5
carbonos (5𝐶);
− Síntese dos compostos orgânicos.

Unidade 2 – Distribuição de
Matéria
• Unidade 2.1. – Transporte nas O que é transportado?
• Seiva bruta (no xilema)
Plantas – água e sais minerais
desde o solo até aos
Sistemas de transporte órgãos fotossintéticos.
• Plantas não vasculares – Não tem tecidos • Seiva elaborada (no
condutores. As substâncias são absorvidas floema) – água e solutos
diretamente por difusão. orgânicos dos órgãos
• Plantas vasculares – Têm tecidos condutores. fotossintéticos a todas
O transporte das substâncias – translocação – as partes da planta.
é feito através de vasos condutores.
Xilema (lenho ou tecido traqueano)
• Circulação de seiva bruta ou seiva xilémica.
• Constituído por células mortas, como:
• Os tracoides são células longas e de seu funcionamento. São células vivas,
extremidades afiladas, as quais contactam possuindo núcleo e os restantes organelos.
entre si, formando tubos que permitem a • As fibras, de comprimento variável,
passagem de água e de sais minerais. desempenham funções de suporte.
• Os elementos de vasos são células vasculares • O parênquima, que, tal como no caso do
com um diâmetro superior ao dos tracoides. xilema, é formado por células vivas, pouco
Resultam de células mortas, que perderam as diferenciadas, tem funções de reserva.
paredes transversais e cujas paredes laterais
apresentam espessa- mentos de lenhina, uma
substância que lhes confere rigidez.
• As fibras lenhosas são constituídas por células
mortas cujas paredes são espessas devido à
deposição de lenhina e desempenham funções
de suporte.
• O parênquima lenhoso é um tecido formado
por células vivas, pouco diferenciadas, que
desempenham importantes atividades
metabólicas nas plantas, tais como a
fotossíntese, o armazenamento ou a secreção Sistemas de Transporte
de substâncias. As células deste parênquima • Os vasos condutores agrupam-se em feixes
são as únicas células vivas do xilema e condutores:
desempenham funções, essencialmente, de
reserva.  Feixes simples e alternos (raízes)
 Feixes duplos e colaterais (caules e folhas)

Floema (tecido crivoso ou líber)


• Circulação de seiva elaborada ou seiva
floémica.
• Constituído por células vivas, como: • Raízes:
• As células dos tubos crivosos são células muito
especializadas, ligadas entre si pelos topos e
cujas paredes de contacto possuem uma série
de orifícios, que se assemelham a um crivo. No
inverno, os orifícios destas placas crivosas
ficam obstruídos por uma substância
denominada calose, que se dissolve na
primavera. As células dos tubos crivosos são
vivas, embora tenham perdido a maior parte • Caule:
dos organelos.
• As células de companhia situam-se, como o
nome indica, junto das células dos tubos
crivosos, com as quais mantêm numerosas
ligações citoplasmáticas, ajudando-as assim no
• Teoria da Pressão Radicular
Absorção Radicular
• A maior
parte da
água e dos • Teoria da Tensão – Coesão –
iões Coesão
necessários
para as várias
atividades da planta é absorvida pelo sistema
radicular; Teoria da Pressão Radicular
• Normalmente, o meio intracelular das células
da raiz é hipertónico relativamente ao
exterior, pelo que a água tende a entrar na
planta por osmose, movendo-se desde o solo
até aos vasos xilémicos existentes no interior
da raiz. (Corte transversal da raíz)
• Os iões minerais, quando presentes no solo em
concentrações elevadas, entram nas células da
raiz por difusão simples; no entanto, como já 1. Entrada de sais minerais por transporte
foi referido, é usual verificar-se uma elevada ativo.
concentração destes iões no meio intracelular. • As células da epiderme ficam hipertónicas
Neste caso, os iões entram para as células por relativamente à solução do solo;
transporte ativo, com consequente gasto de 2. Entrada de água por osmose;
energia. 3. A água move-se até ao xilema;
• O transporte ativo de iões através das células 4. A água que entra no xilema exerce uma
da periferia da raiz até ao xilema cria um pressão que obriga a água que lá existe a
gradiente osmótico, que faz com que a água ascender.
tenda a passar por osmose até ao xilema.
• O efeito da pressão
radicular pode ser
Transporte no Xilema observado quando
se efetuam podas
• Transporte de seiva bruta ou xilemática. tardias em certas
plantas. Nestas
• As células da epiderme das raízes têm pelos circunstâncias, verifica-se a saída de água
radiculares que fazem aumentar muito a pela zona dos cortes efetuados num processo
superfície de absorção das plantas. conhecido por exsudação.
• Em algumas
• Os iões entram nas células, na maioria dos
ocasiões, quando a
casos, por transporte ativo.
pressão radicular é
muito elevada, a
• Logo a água tem tendência a entrar também
água é forçada a
nas células (meio hipertónico).
subir até às folhas,
onde é libertada sob a forma líquida. Este
fenómeno designa-se gutação.

Teoria da Tensão – Coesão – Coesão


• A perda de água pelas folhas é controlada pela
abertura ou fecho dos estomas;
• Quando as células estomáticas ficam túrgidas,
cria-se uma pressão de turgescência e o
estoma abre;
• O grau de turgescência pode ser determinado
pelos fatores como: concentração de iões,
luminosidade, 𝐶𝑂2 , pH…

Transporte no Floema (Fluxo de


massa/Fluxo sob pressão/ Teorema de Münch)
1. Os estomas permitem a difusão de vapor de
água – transpiração; • Transporte de seiva elaborada ou floémica.
2. Devido à saída da água, as células de mesófilo
ficam hipertónicas e gera-se uma força de • Várias experiências foram realizadas para
sucção – tensão – que faz passar as moléculas estudar o transporte no floema:
de água do xilema para essas células;
3. As moléculas de água estão ligadas entre si por  Experiência com afídios (pulgões)
pontes de hidrogénio – coesão. As moléculas − Quando o afídio atinge o floema a seiva sob
que saem do xilema para o mesófilo arrastam pressão sai da planta e entra no tubo
aquelas às quais estão ligadas e assim digestivo do animal.
sucessivamente. − Com esta experiência foi possível concluir-
Este processo gera uma coluna ascendente de se que o conteúdo floémico se encontra
água também designada por corrente de sob pressão e flui em todas as direções a
transporte; uma velocidade variável, que chega a
4. A atração entre as moléculas e a lenhina dos atingir 1 metro por hora.
vasos xilémicos – adesão – impede o
retrocesso da coluna de água;
5. A ascensão de água que está no xilema da raíz
cria um défice de água na raíz (as células ficam
hipertónicas);
6. A água do solo passa para as células da raíz por
osmose – absorção.

1. Conversão da glicose em sacarose;


Controlo da Transpiração
2. Entrada de sacarose no tubo crivoso por
transporte ativo (à custa de ATP produzido
pelas células de companhia);
3. O aumento da concentração de sacarose no
tubo crivoso aumenta a pressão osmótica;
4. Passagem de água do vaso xilémico para o
tubo crivoso;
5. Devido à entrada de água gera-se no tubo
crivoso uma pressão de turgescência (pressão
que faz com que o conteúdo da célula faz com
a parede do tubo crivoso);
6. A pressão de turgescência faz mover a seiva
elaborada em direção às zonas de menos
concentração e por isso menor pressão;
7. Nas zonas de menor pressão concentração a
sacarose sai do tubo crivoso e é gasta pelas
células ou convertida em amido e armazenada.
8. Com a saída de sacarose baixa a pressão
osmótica e a água regressa ao xilema.

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