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Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso

“Só fazemos melhor aquilo que repetidamente insistimos em melhorar. A busca da

excelência não deve ser um objetivo, e sim um hábito.”

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Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso

Quem sou eu?

Olá, eu sou o João! Se você adquiriu esse ebook é porque conhece um

pouco do meu trabalho; mas agora eu gostaria de falar um pouquinho mais

sobre mim!

Eu me formei em nutrição em 2008 – e de lá para cá, posso dizer que

me dediquei quase que exclusivamente à área de nutrição, metabolismo e

exercício. Ou seja, ao longo desses 10 anos, tive o privilégio de fazer uma

especialização em fisiologia do exercício, além de fazer mestrado e doutorado

na Universidade de São Paulo! Tudo isso, para tentar aprender um pouquinho

mais sobre essa área tão apaixonante que é a nutrição esportiva! Entender

como o nosso organismo utiliza os nutrientes durante o exercício físico e

descobrir como a nutrição pode ajudar praticantes de exercícios e atletas é

algo que realmente me fascina!

Também tive a oportunidade de compartilhar um pouco desse

conhecimento, como professor convidado, em alguns cursos de pós-graduação

ao longo de todo o Brasil, além de participar, também como palestrante, em

alguns congressos de âmbito nacional em diversas regiões do nosso país,

desde cidades como Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, até Macapá, no

Amapá.

Assim, tendo um pouco de contato com alunos e profissionais da área

da saúde, percebi que, para muitos – apesar de terem interesse em estudar de

maneira mais aprofundada a nutrição esportiva – por algumas vezes, faltava

uma base necessária para dar suporte em assuntos mais avançados. Foi assim

que nasceu o meu interesse de escrever esse ebook sobre nutrição esportiva!

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Neste espaço, compartilharei com você, em mais de 50 páginas, qual é

a diferença entre atletas e praticantes fisicamente ativos e como essa diferença

pode influenciar na conduta nutricional. Aprenderemos também como calcular o

gasto energético diário de uma pessoa que realiza exercício físico – ponto

essencial para prescrição dietética. Não menos importante, abordaremos as

recomendações de carboidratos, proteínas e lipídios para praticantes de

exercícios físicos. Não esquecendo das necessidades de vitaminas, minerais e

hidratação!

Vale a pena dizer que esse material será o primeiro de outros que eu

desenvolverei – na tentativa de contribuir para a formação de profissionais

nutricionistas, educadores físicos e de outras áreas afins! Por isso, a

necessidade de inicialmente apresentar o cenário geral da nutrição esportiva!

Boa leitura!

João Alfredo Pedroso


Nutricionista (UNIFIL)
Especialista em Fisiologia do Exercício (UNOPAR)
Mestre em Ciências (USP)
Doutor em Ciências (USP)

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Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso

SUMÁRIO

1. NUTRIÇÃO ESPORTIVA E SUAS PARTICULARIDADES 5

2. O GASTO ENERGÉTICO 9

3. CARBOIDRATOS 14

4. PROTEÍNAS 22

5. LIPÍDIOS 34

6. HIDRATAÇÃO 44

7. VITAMINAS E MINERAIS 48

8. CONCLUSÃO 59

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1. Nutrição esportiva e suas particularidades

Já é bem discutida a importância da nutrição adequada na prática de

exercício físico, seja voltado para o desempenho, no caso de atletas de alto

rendimento, bem como para pessoas fisicamente ativas, que visam a promoção

da saúde, a qualidade de vida, a prevenção de doenças e o bem-estar.

Portanto, a alimentação em ambos os casos é uma grande aliada – mas com

estratégias e objetivos diferentes.

Para entendermos a importância da nutrição nos dois casos,

inicialmente, é necessário diferenciar o atleta e o praticante de exercício físico.

O atleta

De maneira bem resumida, o atleta seria “pessoa que pratica um

esporte, participando geralmente de competições”. Ou seja, é um indivíduo que

visa um “resultado”, em outras palavras, um desempenho físico. Portanto, o

programa nutricional para ele deve ser muito bem desenvolvido, levando em

consideração a modalidade esportiva praticada, a fase de treinamento, o

calendário de competição, os objetivos da equipe técnica em relação ao

desempenho, a demanda energética de treino, as necessidades de

modificação da composição corporal e os fatores clínicos presentes, como as

condições de mastigação, digestão e absorção.

Tendo em vista o elevado gasto energético desses indivíduos, que

podem gastar 2.500 – 8.000kcal por dia, e o pequeno tempo de recuperação

entre os treinamentos (muitas vezes, os atletas treinam 2 vezes por dia), a

utilização de suplementos alimentares é essencial para alcançar as

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recomendações energéticas diárias, para ajudar na velocidade de recuperação

e, assim, contribuir para a melhora do desempenho físico.

Nesse sentido, o nutricionista deve conhecer a fundo as particularidades

metabólicas da modalidade física praticada, para saber qual será o suplemento

mais indicado. Por exemplo, a suplementação de creatina pode ser útil para o

levantador de peso, mas não para o maratonista. É necessário entender de

qual maneira o suplemento atua para, com isso, descobrir para quem ele é

importante.

O fisicamente ativo

Os indivíduos fisicamente ativos, em geral, não visam desempenho. A

maior preocupação é com emagrecimento, ganho de massa muscular ou

prevenção de doença. Ou seja, ter uma vida mais saudável. Assim, para essas

pessoas, uma dieta balanceada, que atenda às recomendações dadas à

população em geral, é suficiente para a manutenção da saúde e do bom

resultado. Nesse sentido, um programa nutricional apropriado deve abranger

todas as necessidades nutricionais (manutenção, reparação, atividades diárias,

crescimento e desenvolvimento), além de incluir todos os nutrientes em

quantidade adequada, respeitando-se a proporção entre cada um deles.

Deste modo, pessoas fisicamente ativas devem se preocupar em

melhorar a qualidade da alimentação através da ingestão de alimentos

variados, aumentar o consumo de carboidratos complexos e fibras, reduzir o

uso de açúcares refinados, gorduras e sódio. Além disso, devem manter o

consumo calórico balanceado, para controlar o peso corporal e, dessa forma,

evitar o ganho excessivo de gordura corporal.

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Embora a propaganda de suplementos alimentares seja voltada para

essas pessoas (que praticam exercício com objetivo de saúde), na verdade,

elas são as que menos precisam. Isso porque seu gasto energético, na maioria

das vezes, não é muito elevado, sendo perfeitamente possível de ser atingido

através da alimentação com “comida de verdade”. Além disso, o tempo de

recuperação é bastante longo, tendo pelo menos 24 horas de recuperação

entre as sessões de exercícios. Por fim, indivíduos que praticam exercício

físico voltado para saúde não visam desempenho físico. Isso significa que os

benefícios que alguns suplementos fornecem, de melhora de resultado,

acabam não trazendo muita contribuição, na prática, para pessoas fisicamente

ativas. Por exemplo: para uma pessoa que corra na esteira 30min por dia,

utilizar um suplemento que melhore sua performance em 5% – o que isso

significaria na vida real?

Eu costumo dizer que, para praticantes de exercício físico, a utilização

de suplementos alimentares é uma conveniência. Às vezes, em um

determinado momento do dia, é mais fácil fornecer suplemento do que alimento

(por exemplo: a pessoa não consegue levar um lanhe para o meio da tarde e

prefere suplementar). Ou até mesmo para facilitar a distribuição dos

macronutrientes (por exemplo: aumentar proteína e reduzir carboidrato). Mas é

importante ficar claro que é possível, sim, atingir os objetivos desses indivíduos

(seja emagrecimento ou ganho de massa muscular) com a mínima utilização

de suplementos alimentares. Não é necessário gastar horrores com

suplementos – como infelizmente vemos nos dias de hoje.

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Recomendações nutricionais na
prática esportiva

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2. O GASTO ENERGÉTICO

O primeiro ponto que se deve pensar na hora da elaboração do plano

dietético é a quantidade energética gasta durante o dia. De maneira geral,

nosso gasto energético diário total (GET) é constituído pela Taxa de

Metabolismo Basal (TMB), também conhecida como a quantidade mínima de

energia (calorias) necessária para manter as funções vitais do organismo em

repouso, pelo Efeito Térmico dos Alimentos (ETA), que é a energia que o

organismo gasta para digerir e absorver o alimento, e, por fim, pelo Efeito

Térmico da Atividade Física (ETAF), que é a energia gasta, acima da taxa

metabólica de repouso, para realizar qualquer atividade física, como, por

exemplo, escovar os dentes ou uma sessão de musculação.

GET: TMR + ETA + ETAF

Figura 1. Exemplificação do gasto energético total

Foge do objetivo deste ebook discutir os principais métodos para

mensurar cada uma dessas variáveis. Apesar de essas metodologias serem

muito importantes, principalmente do ponto de vista laboratorial e para

pesquisa científica, aqui vou me ater ao ponto de vista prático. Por isso, vou

discutir, de maneira superficial, como mensurar o gasto energético através de


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equações de predições, que são muito utilizadas pelo nutricionista para

elaboração do plano dietético.

Como calcular

Nos dias de hoje, tendo em vista a praticidade de alguns softwares de

nutrição, praticamente ninguém calcula mais o gasto energético; o próprio

programa já dá conta de fazer isso. No entanto, para entender como funciona,

vou dar um exemplo prático. É importante deixar claro que existem várias

alternativas para calcular o GET, cabendo ao nutricionista escolher qual é o

melhor método para utilizá-lo na prática.

De maneira geral, para calcular o GET, utiliza-se alguma fórmula que

calcule o TMR, multiplicando o resultado pelo Fator Atividade (FA). Ao fazer

isso, acrescenta-se ao TMR a energia necessária para as atividades diárias do

indivíduo. Importante lembrar que o FA varia conforme o nível das atividades

físicas praticadas pelo indivíduo ao longo do dia. Assim, o FA pode variar de

1,2 (para sedentários) até 2,1 (para atividades mais intensas).

Exemplo prático 1

Homem, 20 anos, peso 70kg, atividade física moderada.

1º. Passo: calcular a TMB

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Fórmula para 20 anos:

TMB: 15,3 X 70(peso) + 679: 1.750kcal

2º. passo: multiplicar pelo Fator Atividade (moderado)

GET: 1.750 X1,8: 3.150kcal

Uma outra maneira de calcular

O exemplo prático 1 é uma maneira muito simples de calcular o GET. No

entanto, no meu ponto de vista, a principal limitação é que não é possível saber

como é o gasto energético separado do indivíduo. Por exemplo, se o indivíduo

faz musculação, qual é o gasto da musculação? Utilizando apenas o FA

moderado, não é possível obter essa informação

No conjunto das atividades físicas diárias, estão incluídas atividades

como caminhar, trabalhar, etc. Porém, também o exercício físico praticado

(corrida, musculação). Eu gosto de separar o tipo de atividade na hora do

cálculo; assim, eu consigo especificar qual é o gasto calórico durante a sessão

do exercício, o que pode me ajudar, posteriormente, na hora da elaboração do

plano dietético. Só que, nesse caso, é necessário adicionar mais um cálculo: o

do exercício físico praticado (EF). Então, nossa fórmula ficaria:

GET: TMR X FA + EF

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Nesse caso, eu uso o FA fixo de 1,2 (que é um FA para sedentário) e

adiciono o gasto energético do exercício físico praticado. Veja o exemplo

abaixo:

Exemplo prático 2:
Homem, 20 anos, peso 70kg, corrida todos os dias (30min).

GET: TMB X 1,2 + EF


GET: 1.750 X 1,2 + EF
GET: 2.100 + EF

O desafio é calcular o gasto do exercício. Novamente, existe algumas

maneiras para fazer isso. Aqui, eu vou utilizar o método MET. De modo muito

resumido (porque estou visando a prática), MET é uma maneira de classificar

as atividades físicas de diferentes intensidades. Assim, um exercício de 2 MET

significa que o seu gasto energético é 2 vezes mais o gasto em repouso. Como

foi estabelecido, através de pesquisas, que o gasto calórico de 1 MET equivale

a 0,0175/kg/min, sabendo o MET da atividade, o peso do indivíduo e o tempo

de duração do exercício, fica fácil calcular o gasto calórico do exercício.

Exemplo prático 3:

Homem, 20 anos, peso 70kg, corrida todos os dias (30min).


MET corrida: 10
Cálculo do gasto energético do exercício:
EF: 0,0175 X PESO (kg) X DURAÇÃO (min) X MET da atividade
EF: 0,0175 X 70 (peso) X 30 (duração) X 10 MET atividade
EF: 367kcal

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Assim, voltando ao exemplo 2:

GET: 2.100 + EF (367kcal)


GET: 2.467kcal

Essa só foi uma demonstração de como é possível estimar o GET

calculando separadamente o gasto energético do exercício físico.

De maneira geral, as recomendações energéticas para praticantes de

exercícios físicos podem variar, conforme a intensidade e a duração do

exercício, entre 30 e 50kcal/kg/dia. Nesse sentido, indivíduos fisicamente ativos

(aqueles que praticam exercícios 30 a 40 min, 3 vezes por semana)

apresentam gasto energético de 1.800 a 2.400kcal por dia, aproximadamente,

o que corresponde a 25 a 35 kcal/kg/dia ou 200-400kcal por sessão de

exercício. Por outro lado, atletas engajados em moderado nível de treinamento

(exercícios 2 a 3 horas, 5-6 vezes por semana) podem apresentar gasto

calórico de 2.500 a 8.000kcal por dia.

Seja qual for o protocolo escolhido para estimar o gasto energético, não

se deve menosprezar esses valores; essa etapa é muito importante para o

próximo passo no planejamento dietético – que é a distribuição dos

macronutrientes.

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3. CARBOIDRATOS

Por que o carboidrato é importante para quem pratica exercício físico?

No que diz respeito às recomendações de macronutrientes e exercício

físico, sem dúvida nenhuma, o carboidrato é um dos mais importantes. Isso

porque, ele é o principal nutriente utilizado como substrato energético durante a

realização de um exercício físico. Tanto em exercícios de alta intensidade, bem

como para aqueles de longa duração, o carboidrato tem papel de destaque na

produção de energia.

Figura 2. Contribuições dos nutrientes na produção de energia durante o


exercício

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Além disso, é importante destacar que o organismo consegue

armazenar carboidrato, como glicogênio, no fígado e nos músculos. E esses

estoques são diretamente proporcionais à quantidade de carboidrato ingerida

pela dieta. Quanto menor o consumo de carboidrato pelo atleta ou praticante

de exercício, menor serão os estoques de glicogênio – o que pode

comprometer sua performance física.

Figura 3. Estoque de glicogênio muscular e desempenho físico.


Como isso pode influenciar no desempenho?

Além de ser o principal substrato energético durante o exercício e de o

seu consumo estar diretamente relacionado com o desempenho físico, o

carboidrato também apresenta outras funções interessantes. O consumo

adequado de carboidrato atenua a degradação proteica; ou seja, o carboidrato

também protege contra o catabolismo proteico. Essa parte é muito tranquila

de entender, porque o organismo precisa manter a glicose do sangue em níveis

adequados. Caso não aconteça o consumo de carboidrato de maneira

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adequada, na tentativa de manter a glicemia, o fígado começa a transformar

alguns aminoácidos em glicose (processo conhecido como neoglicogênese).

Em muitos casos, os praticantes de exercícios suplementam

aminoácidos, como glutamina e BCAA, alegando que as suas concentrações

no sangue diminuem durante o exercício, mas se esquecem de pensar no

porquê de elas estarem reduzindo-se. Na maioria das vezes, essa redução

acontece porque o fígado está utilizando esses aminoácidos para produção de

glicose ou porque o próprio músculo está utilizando energia. Nos dois casos, se

suplementássemos carboidrato, evitaríamos esses problemas.

Um outro fator interessante é que o sistema nervoso central (SNC)

utiliza a glicose do sangue como fonte de energia. Embora seja possível

que o SNC se adapte e utilize corpos cetônicos (oriundos do metabolismo da

gordura) como substrato, isso não acontece totalmente. Ou seja, mesmo nessa

condição, o SNC ainda precisará de uma certa quantidade de glicose. Por isso,

alguns autores sugerem que o baixo consumo de carboidrato para o atleta

pode comprometer a sua resposta cognitiva.

Além disso, o consumo adequado de carboidrato pode contribuir na

manutenção do sistema imunológico. Isso porque o consumo adequado de

carboidrato reduz a produção de hormônios de estresse (como o cortisol)

atenuando, assim, a imunossupressão.

Por fim, o carboidrato é importante no processo de metabolismo dos

lipídios, justificando a famosa afirmação encontrada em alguns livros de

fisiologia: “as gorduras queimam nas chamas do carboidrato”.

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Figura 4. Importância do carboidrato no metabolismo da gordura

Isso acontece porque, como mostrado na figura acima, o carboidrato

também é relevante para a produção de oxalacetato – importante intermediário

do ciclo de Krebs. Assim, o baixo consumo de carboidrato leva à redução da

produção de oxalacetato e ao comprometimento na oxidação de gordura. Para

evitar o excesso de Acetil-coA (oriundo do metabolismo das gorduras),

acontece a formação de corpos cetônicos. Embora a produção de oxalacetato

também ocorra através do metabolismo dos aminoácidos, a eficiência não é

igual à das vias dos carboidratos, por isso, o desempenho cai. O Quadro 1

resume os principais benefícios dos carboidratos no exercício físico.

Principais benefícios da ingestão adequada de carboidrato durante o


exercício físico
✓ Manutenção da glicose do ✓ Melhora no sistema
sangue imunológico

✓ Principal substrato energético ✓ Melhora da cognição


durante o exercício
✓ Preservação do catabolismo
✓ Otimização do metabolismo de proteico

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gordura

Quadro 1. Principais benefícios dos carboidratos no exercício físico

Quanto consumir?

Uma vez que o carboidrato é o principal substrato energético durante o

exercício, a sua recomendação de consumo é diretamente proporcional à carga

de trabalho. Assim, quanto maior a carga, maior a necessidade diária da

ingestão de carboidrato. A Tabela 1 resume as recomendações de carboidrato

conforme a atividade física praticada.

Tabela 1. Recomendações de carboidrato conforme atividade física

Tipo de atleta Frequência de Intensidade de Quantidade


treino treino e de ingestão
(dia/semana) duração diária
(g/kg)
Leve a
moderado. 30
Leve 3-4 3-5
a 40 min por
dia
Moderado. 1 a
Moderado 5-6 5-7
2 horas por dia
Moderado a
Intenso 6-7 intenso. 1 a 3 6-10
horas por dia
Moderado a
Ultra
6-7 intenso 4 a 5 8-12
endurance
horas por dia

Nesse sentido, é possível perceber claramente que, para aqueles

indivíduos que são classificados como praticantes de exercícios físicos,

principal público que o nutricionista frequentemente atende, seja com o objetivo

de ganho de massa muscular ou de perda de gordura corporal, a

recomendação de carboidrato, baseada na Tabela 1, deve ficar entre 3 e 7g de

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carboidrato por quilo de peso por dia. Na verdade, a experiência mostra que

poucas pessoas nessa categoria teriam necessidade de ingerir mais do que

6g/kg/dia, pois poucos praticantes de exercícios físicos (que não são atletas)

realizam 2 horas de exercício todos os dias da semana.

Por isso, a minha sugestão de recomendação nutricional é que a dieta

deva conter 3-6g/kg/dia de carboidrato. Esses valores devem variar nessa

amplitude, conforme a carga de trabalho realizada (o gasto energético do

exercício) e, também, o objetivo (ganho de massa muscular ou redução de

gordura). Se o objetivo for ganho de massa muscular ou se o gasto calórico do

exercício for alto, a recomendação seria, por exemplo, entre 5 e 6g/kg/por dia.

Agora, se o gasto energético do exercício é baixo ou se o objetivo é redução de

gordura corporal, a sugestão de recomendação seria entre 3 e 4g/kg/por dia.

Antes do exercício

É um grande desafio pensar em recomendações nutricionais antes do

exercício físico, mas, como a principal finalidade dessa refeição é aumentar os

estoques de glicogênio muscular e hepático, alguns autores sugerem a

seguinte recomendação de carboidrato:

Tabela 2. Recomendação do consumo de carboidrato antes do exercício


físico
Tempo antes do exercício Quantidade de carboidrato
3-4 horas antes 200 a 300g
1-2 horas antes 1 a 2g/kg
30-15 min antes 30 a 60g

É importante deixar claro que essas recomendações são apenas

sugestões; a escolha de uma ou todas as refeições prévias com essa

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quantidade de carboidrato dependerá exclusivamente de uma avaliação

individual realizada pelo nutricionista.

Por exemplo, eu duvido muito que um praticante de atividade física

precisará consumir essa quantidade de 200g de carboidrato 3 horas antes e

ainda 60g faltando 30min para começar o exercício. Então, a adaptação desses

valores, associada à experiência prática do nutricionista, somadas com as

necessidades do paciente, são de grande importância.

Outro ponto importante é que não precisa, necessariamente, ser

suplemento de carboidrato. Às vezes, um bom lanche já dá conta do recado. A

suplementação poderia entrar, neste caso, por conveniência (quando não é

possível fazer um lanche ou se o paciente prefere o suplemento).

Portanto, não se deve menosprezar os alimentos! Nesse caso, se bem

organizado no plano dietético, poderia ser um bolo simples, uma bananinha-

passa ou até mesmo uma goiabinha! Deve-se utilizar a imaginação, para

satisfazer a preferência do paciente – ao invés de sair suplementando

carboidrato só por suplementar!

Durante o exercício

No decorrer do exercício, a recomendação do consumo de carboidratos

é, em geral, para exercícios que tenham duração maior do que 1 hora. Nesse

sentido, sugere-se a ingestão de até 60g de carboidrato por hora de exercício,

em uma solução de 6% de concentração, para otimizar a velocidade de

absorção. Da mesma maneira, recomenda-se a ingestão periódica (a cada 15-

20min) para evitar qualquer desconforto gástrico. A necessidade da ingestão

de sódio destaca-se pela perda desse eletrólito pelo suor, como também pela
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sua participação na absorção de carboidrato pelas células intestinais. Por isso,

sugere-se o consumo de 0,5-0,7g/l de sódio

Tabela 3. Recomendação do consumo de carboidrato durante do


exercício físico
Duração do exercício Quantidade de carboidrato
Até 60min Sem necessidade
60min – 2,5h 30-60g
↑ 2,5h Até 90g

Depois do exercício o exercício

No pós-exercício, destaca-se a necessidade da ingestão de

carboidrato para fazer a ressíntese do glicogênio que foi utilizado durante o

exercício. Assim, sugere-se a ingestão de carboidrato na quantidade de 0,7 a

1,5g/kg de peso no período de 6 horas (a cada 2 horas).

Um ponto que eu gosto de lembrar é que a suplementação de

carboidrato imediatamente após o exercício é importante especialmente para

quem precisa de rápida recuperação – por exemplo: um atleta que treine 2

vezes por dia. Para um praticante de exercício físico, que, por exemplo, treine

3-4 vezes por semana, essa suplementação talvez não seja tão necessária

assim. Isso porque, embora a recuperação dele não seja rápida (sem a

suplementação), a recuperação potencialmente vai acontecer (através da

alimentação) até o próximo treino – que só ocorrerá no outro dia.

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4. PROTEÍNAS

O consumo adequado de proteína é muito importante para atletas e

praticantes de exercícios, mas, diferentemente do carboidrato, sua principal

função não está associada à produção de energia. A proteína até pode ser

utilizada como substrato energético – em situações como a de exercício de

longa duração, quando ocorre o consumo inadequado de carboidrato –, porém,

tendo em vista que algumas funções fisiológicas, como reações enzimáticas,

transportes de nutrientes em membranas e plasma, comunicação

orgânica via sinalização hormonal e atuação do sistema imunológico, são

realizadas por estruturas proteicas, a importância do consumo adequado de

proteína está mais atrelada a essas funções do que à produção de energia

propriamente dita.

Principais benefícios das proteínas


✓ Proteínas transportadoras ✓ Enzimas (Pepsina e amilase)
(albumina, hemoglobina)
✓ Proteínas reguladoras
✓ Proteína de defesa (anticorpos) (insulina, hormônio do
crescimento)
✓ Estrutural (queratina e
colágeno) ✓ Contráteis (actina e miosina)

Quadro 2. Principais benefícios das proteínas

Além disso, cabe lembrar que a ingestão de proteína está diretamente

relacionada com a manutenção do músculo esquelético. Por isso, se o

praticante de exercício físico não tem a ingestão proteica correta, isso poderá

implicar em aumento na probabilidade de lesões, queda no sistema

imunológico, perda de massa muscular, dificuldade na manutenção da saúde e,

consequentemente, queda da performance atlética.

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Para avançar no estudo sobre metabolismo proteico, deve-se lembrar

que as proteínas são sintetizadas constantemente a partir dos aminoácidos.

Esses aminoácidos podem ser oriundos da digestão, após alguma refeição, ou

o próprio organismo pode produzir certos aminoácidos através da degradação

de outras proteínas endógenas. Esse processo contínuo de

síntese/degradação proteica, também conhecido como turnover proteico,

ocorre o tempo todo, sendo importante para a reciclagem das proteínas

corporais.

Um outro ponto que vale esclarecer é que os aminoácidos que não são

utilizados imediatamente após a síntese proteica são “perdidos”, já que não

ocorre estocagem de proteínas em nosso corpo. Isso serve para justificar o

porquê de não existir necessidade da ingestão de altas doses de proteína.

Quando se ingere maior quantidade do que o nosso corpo tem capacidade de

utilizar como síntese proteica, o excesso de proteína será degradado e parte

desta proteína será eliminada, como ureia, através da urina.

Figura 5. Visão geral do metabolismo das proteínas

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É importante dizer que, em um adulto saudável, a síntese e a

degradação proteica são similares – o que costumamos dizer quando o

indivíduo está em balanço proteico neutro. Nessa situação, a massa muscular

do indivíduo é mantida.

Porém, fatores fisiológicos e ambientais também podem influenciar o

turnover proteico. Sabe-se que a taxa de síntese proteica de um recém-nascido

é maior, em comparação, a de um idoso, por exemplo. Além disso, a

alimentação equilibrada, que fornece todos os aminoácidos para corrente

sanguínea, contribui para o aumento da síntese de proteína. Por outro lado, a

concentração de hormônios anabólicos (como insulina) pode favorecer

positivamente a síntese proteica, enquanto os hormônios catabólicos (glucagon

e cortisol) favorecem o aumento da degradação proteica. Por último, qualquer

que seja o exercício físico praticado, este também pode influenciar no

metabolismo proteico – justificando a necessidade do aumento do consumo de

proteína para praticantes de exercícios físicos quando comparados com

indivíduos sedentários.

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Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso

Figura 6. Fatores que afetam o turnover proteico

Esse assunto será melhor abordado no próximo tópico.

Balanço proteico e sua relação com o exercício

Exercício de endurance

Embora pouco discutido, o treinamento físico de endurance, como

corrida e ciclismo, influencia o metabolismo, aumentando a taxa de síntese

proteica (TSP). Sem sombra de dúvida, essa síntese proteica não é

significativa a ponto de aumentar a massa muscular, como a musculação, por

exemplo. Mas o aumento da TSP após o treinamento de endurance pode

refletir nas adaptações associadas a esta modalidade de exercício – que

incluem aumentos no volume mitocondrial, a atividade enzimática mitocondrial,

a densidade capilar, o número de capilares em torno de uma dada fibra

muscular, assim como as proteínas miofibrilares. Ou seja, mesmo que ela não

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seja predominantemente utilizada como energia, a proteína é essencial para

otimizar as adaptações do treinamento aeróbico.

Além disso, deve-se lembrar que, durante a prática de exercício, ocorre

aumento da degradação de proteínas; portanto, durante a recuperação, o

aporte adequado de proteína para atletas de endurance é necessário para

induzir o reparo muscular dos danos causados às fibras musculares durante o

exercício, evitando que o atleta tenha perda de massa muscular e todas as

outras consequências já discutidas.

Treinamento de força (TF)

Particularmente no balanço proteico, sabe-se que o TF promove forte

influência na síntese (SPM) e na degradação proteicas musculares (DPM). O

TF promove substancial aumento da SPM e o concomitante aumento, de

menor magnitude, da DPM – o que resulta em balanço proteico muscular

menos negativo quando comparado com jejum (Phillips et al., 1997). Todavia, o

balanço proteico muscular torna-se positivo pela ingestão de alimentos

proteicos que, posteriormente aos processos de digestão e absorção, fornecem

aminoácidos para o tecido muscular (Phillips et al., 1997).

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Figura 7. Balanço proteico em diferentes situações

Assim sendo, o processo de hipertrofia ocorre quando a taxa de síntese

proteica muscular excede a taxa de degradação, acarretando em saldo positivo

do balanço proteico muscular. No entanto, este efeito é relativamente lento,

demonstrando que, durante o TF, há a necessidade de sucessivos estímulos e

de período de tempo relativamente prolongado (seis a oito semanas) antes que

alterações visíveis no fenótipo, como alteração no tipo de fibra e ganho de

massa muscular, sejam observadas.

Além desses benefícios no metabolismo proteico, o TF aumenta a

sensibilidade à leucina para estímulo hipertrófico, diminuindo, assim, o “limiar

de leucinemia” necessário para aumentar a taxa de SPM (Phillips, 2014). Por

essa razão, atualmente, têm sido investigados os efeitos da suplementação de

proteínas e/ou aminoácidos associados ao TF sobre a síntese proteica e os

ganhos de massa muscular.

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Quanto consumir?

Conforme já foi discutido, a necessidade proteica para praticantes de

exercícícios em comparação à população em geral é definida com base na

necessidade de aumento e promoção da síntese de proteínas relacionadas ao

movimento (ou seja, regeneração de músculos, tendões e ligamentos), além da

otimização no metabolismo aeróbico (como produção de enzimas e

mitocôndrias).

Tendo em vista os diferentes efeitos no metabolismo proteico do

exercício de endurance e do treinamento de força, as recomendações para o

consumo de proteina são:

Tabela 4. Recomendação do consumo de proteína


Recomendações
População 0,8g/kg
geral
Atletas de 1,2-1,4g/kg
Endurance
Atletas de 1,2-1,7gkg
Musculação

Especificamente para o ganho de massa muscular, uma recente meta-

análise demonstrou que as respostas à adaptação ao exercício foram melhores

com doses entre 1,6 e 2,2g/kg de peso ao dia. Na conduta nutricional, muitos

profissionais começam com a prescrição de doses inferiores e vão evoluindo

até chegar a 2,2g/kg em indivíduos mais adaptados ao treinamento. Porém,

estudos demonstram que, curiosamente, a síntese proteica é maior em

indivíduos que estão na fase inicial de treinamento em comparação aos

indivíduos experientes. Assim, pode-se sugerir as doses superiores já para

quem está no início da fase de treinamento.

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Qual é o melhor momento para consumir proteína?

Por muito tempo, acreditou-se que o consumo de proteína

imediatamente após o treino era o melhor momento para otimizar a síntese

proteíca e o ganho de massa muscular. No entanto, recentes pesquisas têm

mostrado que a história não é bem assim.

Um estudo publicado por Schoenfeld e colaboradores mostrou que a

suplementação proteica pré ou pós-treino teve efeitos semelhantes sobre a

hipertrofia muscular. O mesmo pesquisador, em 2013, em uma meta-análise

reunindo aproximadamente 20 estudos sobre o tema, concluiu que o momento

de consumir proteína parece não promover significativo aumento na força ou

na massa muscular.

Além disso, hoje em dia, sabe-se que a taxa de SPM pode ficar

aumentada até quase 20 horas depois de uma sessão de exercício, indicando,

portanto, que não necessariamente depois do treino o consumo de proteína

seja importante, mas sim a distribuição de proteína ao longo do dia.

Dessa maneira, alguns pesquisadores têm sugerido que o padrão na

distribuição do consumo de proteína ao longo do dia seja um importante

modulador do balaço proteico muscular – o que pode otimizar o ganho de

massa muscular.

Além disso, um outro ponto que recentemente tem chamado a atenção

diz respeito ao consumo de proteína antes de dormir. A ideia é baseada no fato

de que o sono noturno é o maior momento de “jejum” e, dessa forma, a síntese

proteica está reduzida. Portanto, o consumo de proteína antes de dormir

aumentaria a oferta de aminoácidos, estimulando a síntese proteica e o ganho

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de massa muscular. A ideia, sem dúvida, é muito interessante, mas ainda

faltam estudos para confirmar esse hipótese.

Mesmo ainda faltando evidências científicas que sustentem que

suplementar proteína antes de dormir ajude no ganho de massa muscular,

alguns autores indicam o seu consumo.

Quantidade de proteína por refeição

Um trabalho publicado, em 2013, no periódico The Journal of

Physiology, monitorou, em três grupos, durante 12 horas de recuperação, após

uma sessão de musculação, o consumo de 80g de proteína, através de

distribuições diferentes: um grupo consumiu proteína fracionadamente, em 8

doses de 10g, a cada 1,5h. Outro grupo ingeriu 4 doses de 20g a cada 3h. E o

último grupo consumiu somente em 2 doses de 40g, a cada 6 horas. O objetivo

era saber se o padrão de ingestão proteica da dieta poderia influenciar na

síntese proteica. Os autores concluíram que o grupo que consumiu 20g de

proteína a cada 3 horas apresentou melhor resultado na síntese proteica do

que os demais grupos.

Importante frisar que 20g, neste caso, representam um valor absoluto;

logo, não se pode utilizar o mesmo valor para uma pessoa de 90kg e para

outra de 50kg e esperar o mesmo resultado. Assim, para relativar esse valor

pela massa corporal, tem sido recomendada a ingestão de 0,25-0,30g/kg por

refeição.

Sendo assim, baseado no que foi discutido até agora, tem sido sugerida

a distribuição do consumo proteico para otimizar o ganho de massa muscular

da seguinte maneira: 4-5 refeições diárias, com quantidade de 20-25g de

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proteína (ou 0,25 - 0,30g/kg), com intervalo de 3-4 horas entre elas, ao longo

do dia (Phillips e Van Loon, 2011). Além disso, alguns autores sugerem a

ingestão de 20-40g de proteína antes de dormir – para otimizar a síntese

proteica durante o sono noturno.

Porém, ainda não é possível afirmar qual é a melhor maneira de ingerir

proteína para o ganho de massa muscular. A maioria dos estudos citados

acima, que investigaram a quantidade de proteína por refeição bem como a

distribuição ao longo do dia, foi desenvolvida em protocolo agudo (após uma

única sessão de exercício) e também com suplementos de rápida absorção.

Assim, não é claro se esse protocolo (0,25-0,3g/kg a cada 3-4 horas) é o mais

efetivo para o ganho de massa muscular no longo prazo.

Nesse ponto, apesar de estar clara a influência da quantidade de

proteína a ser consumida e do tempo no estímulo da síntese proteica, uma

recente meta-análise mostrou que o controle dessas variáveis não

necessariamente se traduz em ganho de massa muscular no longo prazo. Ao

invés disso, parece que alcançar as recomendações de ingestão proteica diária

(1,6-2,2g/kg) é o fator mais importante para hipertrofia muscular.

Por isso, baseados nessas evidências, recentes artigos científicos da

área têm sugerido distribuir a quantidade de proteína diária em doses similares

entre 4 refeições ao dia. Novamente, não dá para afirmar que esse protocolo

seja melhor do que aquele que eu havia citado previamente. No entanto, na

prática, distribuir o consumo de proteína em 4 refeições com doses similares

acaba sendo mais viável – ao invés da preocupação da ingestão a cada 3

horas.

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Obviamente que, na prática, todas essas recomendações necessitam

ser padronizadas pelos hábitos e pelo estilo de vida. Mas, uma sugestão da

distribuição proteica para um paciente de 70kg, que treine musculação no meio

da tarde, seria dessa maneira:

Exemplo prático 4:

Recomendação do consumo diário: 2,2g/kg

70X 2,2 : 154g

Distribuir em 4 refeições:

154 / 4; 38,5g por refeição

Café da manhã (08:00 horas) 38,5g de proteína


Almoço (12:00 horas) 38,5g de proteína
Treino realizado às 15 horas
Suplementação pós-treino (16:00 horas) 38,5g de proteína
Jantar (19-20:00 horas) 38,5g de proteina
Total consumido de PTN 154g*
*dentro das recomendações

Os horários podem ser adaptados. Acredito que o fundamental seria

fazer essa distribuição ao longo dia (em intervalos de até 5 horas). Além disso,

observe, no exemplo acima, que a suplementação depois do treino foi

adicionada, pois o intervalo de consumo de proteína daria aproximadamente 4

horas após a última – que foi o almoço. Caso o treino fosse realizado às 11

horas, que seria antes do almoço, não haveria a necessidade de suplementar

depois do treino, pois o indivíduo já iria almoçar. Nessa situação, às 16 horas,

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deveria ser feito um lanche com o valor de proteína estabelecido ou, se fosse

mais conveniente, a própria suplementação.

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5. LIPÍDIOS

Os lipídios representam um grupo de substâncias orgânicas que são

insolúveis em água. Os lipídios mais importantes para os seres humanos são

os triglicerídeos (TGL), o colesterol e os fosfolipídios. Os três possuem funções

muito importantes para o organismo.

Por exemplo, sabe-se que o colesterol é muito importante por ser

precursor dos ácidos biliares, que auxiliam na digestão dos lipídios. Da mesma

forma, os fosfolipídios são os principais constituintes das membranas celulares.

No entanto, são guardadas aos TGL as funções de fornecimento e

armazenamento de energia no organismo. Por isso, neste ebook, no que diz

respeito ao metabolismo dos lipídios no exercício físico, abordarei somente a

participação dos TGL nesse processo.

A maior parte de energia armazenada no organismo é na forma de

gordura, mais especificamente na forma de TGL (para lembrar: uma molécula

de TGL é formada por 3 ácidos graxos e 1 glicerol). Os TGL são, em geral,

armazenados no tecido adiposo, mas, também, em certa quantidade, no

músculo (sendo denominados como triglicerídeos intramusculares). Também

constituem a molécula mais energética – 9kcal/g em comparação com 4kcal/g

do carboidrato e da proteína. Além disso, a molécula de gordura contém pouca

água, em comparação aos 3-4 gramas de água armazenados em cada grama

de glicogênio. Todos esses dados, em conjunto, fazem da gordura uma

molécula muito mais eficiente no quesito armazenamento de energia em

comparação com os outros macronutrientes. Só para efeito de comparação: um

homem magro armazena cerca de 80.000 a 100.000kcal de gordura e somente

2.000kcal de carboidrato.
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Produção de energia durante o exercício

As duas principais fontes de energia durante o exercício são o

carboidrato e a gordura (através dos ácidos graxos). Em geral, os dois

substratos são utilizados simultaneamente, mas a predominância de uso

depende de fatores como intensidade, duração, dieta e condição de

treinamento do indivíduo.

Por exemplo: em exercícios submáximos (60-70% da capacidade

máxima), ocorre predominância da oxidação de gordura, ao passo que, em

exercícios mais intensos, o principal substrato energético é o carboidrato. Da

mesma maneira, a oxidação de gordura é diretamente proporcional à duração

do exercício – principalmente se não ocorrer a ingestão de carboidrato. Assim,

quanto mais longo é o exercício, maior a oxidação de gordura. Por fim, a

prática de exercício físico promove adaptações no metabolismo lipídico, de

maneira que o organismo melhora a utilização de gordura como fonte

energética. Para ilustrar melhor: tanto em repouso como em exercício físico,

um atleta oxida mais gordura do que um não atleta.

Assim, como exposto acima, a energia proveniente da gordura ocorre

através da oxidação dos ácidos graxos (AG). Os AG usados pelo músculo

durante o exercício podem ser derivados das lipoproteínas (quilomícrons e

VLDL), por exemplo. Nesse sentido, uma enzima conhecida como lipase

lipoproteica faz a hidrólise (quebra) da lipoproteína, liberando seus ácidos

graxos – que serão captados pela célula muscular. No entanto, acredita-se que

a duas principais fontes de AG utilizados durante o exercício sejam aquelas

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que são provenientes da lipólise do tecido adiposo e também dos triglicerídeos

musculares.

A seguir, será discutida a utilização dos AG oriundos da lipólise do tecido

adiposo.

Figura 8. Visão geral do metabolismo dos lipídios

1º. passo: lipólise

Por definição, lipólise significa a quebra de 1 molécula de triglicerídeo

em 3 ácidos graxos e 1 glicerol. É a primeira etapa do metabolismo lipídico

para a utilização da gordura como energia durante o exercício.

Para melhor entendimento, é necessário, inicialmente, lembrar que, com

a realização do exercício físico, ocorre a produção de diversas substâncias

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para a corrente sanguínea, como hormônios, citocinas e etc. Dentre essas

substâncias, destaca-se a produção de secreção de catecolaminas (adrenalina,

noradrenalina e dopamina). As catecolaminas, em especial a adrenalina e a

noradrenalina, são importantes para preparar o organismo para uma situação

de estresse (também conhecido como mecanismo de “luta ou fuga”). Desta

maneira, uma vez produzidas durante o exercício, as catecolaminas se ligarão

em seus receptores de membrana presentes no tecido adiposo. A partir disso,

ocorrerá uma série de alterações intracelulares que resultarão na ativação de

uma enzima conhecida como lipase hormônio sensível (LHS). Essa enzima

cataboliza os TGL, transformando-os em AGL e glicerol. Ou seja, é a LHS que,

ativada pelas catecolaminas produzidas durante o exercício, de fato promoverá

a lipólise no tecido adiposo. Como resultado, ocorrerá o aumento da

concentração de ácidos graxos e glicerol no sangue.

Cabe ressaltar que somente o fígado apresenta a enzima capaz de

metabolizar o glicerol. Por essa razão, após a lipólise, o glicerol será

transportado para o fígado para dar sequência aos seus processos

metabólicos.

2º. passo: transporte no sangue

Na sequência, os AG oriundos da lipólise no tecido adiposo serão

transportados até o tecido muscular ligados à albumina. Isso ocorre devido à

insolubilidade de AG em meio aquoso; por isso, eles precisam ser carregados

no sangue.

É relevante destacar a importância do transporte de AG pela albumina

como um possível fator limitante do metabolismo lipídico. Muitas promessas

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“emagrecedoras” destacam produtos e técnicas que aumentam a lipólise, como

uma possível alternativa para o emagrecimento. No entanto, de nada adianta

aumentar a lipólise de tal maneira que ultrapasse a capacidade da albumina

em fazer o transporte para o músculo adequadamente. Isso aumentaria a

concentração de AG no sangue. Para evitar o execesso de AG no sangue, o

organismo realiza um processo chamado de ‘reesterificação lipídica’. Ou seja,

aqueles AG que ficaram na corrente sanguínea voltam a ser transformados em

TGL e serão armazenados novamente. Por isso, qualquer tratamento que

“venda” a ideia de que aumente a lipólise, não necessariamente promoverá

emagrecimento efetivo.

3º. passo: captação pelo músculo

Após serem transportados, a próxima etapa é a captação de AG pela

célula muscular. Essa etapa acontece por meio de uma proteína transportadora

de AG, conhecida como FABP, que fica localizada na membrana plasmática da

célula muscular. Curiosamente, as fibras musculares do tipo I (aeróbicas)

apresentam maior conteúdo de FABP do que as fibras do tipo II (anaeróbicas).

Além disso, tem sido mostrado que o exercício físico de endurance aumenta a

concentração de FABP, bem como a sua atividade, indicando, portanto, como a

prática de exercício físico aeróbico melhora o metabolismo de gordura pelos

músculos.

4º. passo: mitocôndria

O metabolismo dos lipídios ocorre através da via aeróbica, aquela em

que há a participação do oxigênio. Nesse sentido, é importante lembrar que

boa parte do metabolismo aeróbico ocorre no interior da mitocôndria (ciclo de

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Krebs e fosforilação oxidativa). Dessa maneira, fica fácil entender que a

próxima etapa do metabolismo dos lipídios seria o transporte dos AG, que já

estão dentro da célula muscular, para o interior da mitocôndria. Assim, no

interior da célula, um complexo enzimático, que usa um transportador chamado

de carnitina, carrega os AG para as mitocôndrias.

5º. passo: β-oxidação e oxidação mitocondrial

Os AG agora já se encontram no interior da mitocôndria, porém ainda

não estão prontos para serem utilizados na produção de energia, pois não tem

como o AG ser metabolizado no ciclo de Krebs. Para que o AG consiga ser

metabolizado, ele vai precisar ser transformado em Acetil-CoA. Essa

transformação de AG para Acetil-CoA acontecerá através de uma sequência

de reações conhecidas como β-oxidação. Depois disso, o AG (agora Acetil-

CoA) pode entrar no ciclo de Krebs e dar sequência ao metabolismo aeróbico

(fosforilação oxidativa) e à produção de energia, finalizando, portanto, o

metabolismo da gordura no processo aeróbico.

O elevado consumo de gordura melhora o desempenho físico?

Em geral, não se recomenda o aumento da ingestão de lipídios para

praticantes de exercícios. A justificativa baseia-se no fato que as reservas

corporais de triglicerídeos no tecido adiposo são abundantes. Ou seja, o

elevado consumo de gordura dietética poderia promover indesejável acúmulo

de gordura corporal e, consequentemente, ganho de peso – o que não seria

interessante para o desempenho de um atleta.

Os defensores desse tipo de conduta (a de aumentar o consumo de

gordura dietética) justificam que o elevado consumo de gordura poderia


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promover maior oxidação desse nutriente e, consequentemente, preservação

de glicogênio muscular e hepático. Assim, como a redução de glicogênio tem

relação com hipoglicemia e queda de performance, o elevado consumo de

gordura proderia promover aumento de desempenho físico por preservar os

estoques de glicogênio corporal

No entanto, apesar de a ideia, na teoria, ser boa, trabalhos científicos

não sustentam essa estratégia. Por exemplo, em curto período de adaptação

para uma dieta com alto teor de lipídio (menos do que 6 dias), ocorre prejuízo

no desempenho físico. Quando essa adaptação da dieta é em longo prazo (14

dias ou mais), os resultados também não são muito animadores. Neste caso,

em exercícios de intensidade moderada (60-80% do consumo máximo de

oxigênio – V02max), o elevado consumo de gordura não prejudica a

performance, porém, também não promove qualquer efeito benéfico

comparado com a estratégia padrão (elevado consumo de carboidrato). Por

outro lado, em exercícios de alta intensidade (90-95% V02max), dietas com alto

teor de gordura prejudicaram o desempenho físico; portanto, para um atleta de

alto nível, que pratique exercício físico de alta intensidade, dietas com alto teor

de gordura não são recomendadas.

E a suplementação de triglicerídios, melhora o desempenho?

Similarmente à dieta com alto teor de gordura, a suplementação de

triglicerídeos parece não promover grandes benefícios para a performance

esportiva. Isso porque, ao contrário do carboidrato, a digestão e a absorção de

lipídios acontecem lentamente. Isso decorre, inicialmente, pelo seu potente

papel inibidor sobre o esvaziamento gástrico. Além disso, após absorvido, no

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interior da célula intestinal, existe a necessidade da reesterificação dos ácidos

graxos e glicerol para a formação dos quilomícrons – que serão absorvidos

inicialmente pela circulação linfática para só depois caírem na circulação

sanguínea. Por isso, especula-se que demoraria cerca de 3 a 4 horas após a

ingestão dos lipídios para eles estarem disponíveis para oxidação muscular.

Triglicerídeos de cadeia média (TCM)

Os TCM são triglicerídeos compostos com 6-12 carbonos na cadeia dos

ácidos graxos. Foi mostrado que os TCM apresentam propriedades físico-

químicas particulares em comparação com os demais triglicerídeos. Por

exemplo, os TCM são mais hidrossolúveis e, por isso, no que diz respeito à

absorção, não necessitam da formação do quilomícron no interior da célula

intestinal. Além disso, são captados pela circulação e são levados diretamente

para o fígado, diferentemente dos demais triglicerídeos, que são absorvidos

inicialmente pelo sistema linfático. Por fim, os TCM não dependem da carnitina

para serem transportados para o interior da mitocôndria para serem oxidados.

Todas essas características fazem com que o TCM seja absorvido,

transportado e metabolizado mais rápido do que os demais triglicerídeos; por

isso, foi postulado se sua suplementação poderia melhorar o desempenho no

exercício aeróbico.

No entanto, as pesquisas desenvolvidas para testar a hipótese – se o

TCM apresenta efeito ergogênico – concluíram que a suplementação de TCM

em doses toleráveis (por volta de 30g) não apresenta qualquer melhora no

desempenho atlético. Por outro lado, em estudos que suplementaram doses

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maiores do que 30g, a suplementação de TCM prejudicou o desempenho –

provavelmente através do aumento de relatos de desconforto gastrointestinal.

Em conclusão, esses resultados sugerem que a principal limitação da

suplementação de TCM seja a quantidade tolerada, pois, em doses baixas, não

promove aumento suficiente de ácidos graxos no plasma para promover

qualquer efeito benéfico no exercício físico. Já, em doses altas, poderia

apresentar resultado desfavorável devido ao aumento de desconforto gástrico.

Figura 9. Pontos positivos e negativos da utilização dos TCM no esporte

Recomendações

Assim, tendo em vista que o aumento do consumo de gordura na dieta,

bem como a suplementação de triglicerídeos parecem não promover qualquer

benefício no desempenho esportivo, a recomendação diária de gordura para

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praticantes de exercícios físicos é a mesma utilizada para não atletas, sendo:

20-30% da ingestão total de calorias.

Da mesma forma, devido à relação entre ingestão de gordura e

problemas de saúde, recomendam-se a redução do consumo de gordura

saturada (menos que 10%) e o consumo minímo possível de gordura trans. Por

outro lado, comer pouca gordura na dieta também não é recomendado. A

literatura sugere a ingestão de gordura de pelo menos 20% do total de calorias,

pois tal restrição poderia levar à insuficiência de uma variedade de nutrientes,

como, por exemplo, das vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, K, D e E – que

dependem de gordura para serem absorvidas) e também de ácidos graxos

essenciais – ômega-3 (ácido linolênico) e ômega-6 (ácido linoleico).

Cabe lembrar que esses ácidos graxos são importantes para manter sob

condições normais as membranas celulares, as funções cerebrais e a

transmissão de impulsos nervosos. Por isso, sua deficiência pode levar a

comprometimento de algumas funções fisiológicas.

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6. HIDRATAÇÃO

O consumo adequado de fluídos para praticantes de exercícios é muito

importante para manter a hidratação. Isso porque, ao extrair a energia contida

nos alimentos, o organismo produz calor. Assim, como na prática de exercício

físico aumenta a necessidade de enegia (para contração muscular – por

exemplo), consequentemente, também ocorre o aumento da produção de calor.

Como o corpo humano precisa manter a sua temperatura constante (36-37°C),

para manter o seu funcionamento adequado, esse calor “extra” produzido

precisa ser eliminado, para evitar um possível quadro de hipertermina (que em

níveis severos pode levar até a morte).

Existem basicamente 4 maneiras para o organismo eliminar calor:

Condução, quando o calor é transferido pelo corpo, pelo contato físico

direto. Por exemplo, ao encostar o braço em uma parede fria, a tendência

natural é que se perca calor para essa parede.

Convecção, quando o calor é transmitido pelo movimento do ar ou da

água por todo o corpo.

Radiação, transferência de calor por raios infravermelhos. Responsável

por 60% da perda de calor no repouso.

Evaporação, ao converter suor em vapor, o calor é eliminado para fora

do corpo. Cabe lembrar que, embora a evaporação seja responsável somente

por 25% da perda de calor no repouso, durante o exercício físico, o calor

produzido é eliminado principalmente através da evaporação – que necessita

de água.

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Quando a hidratação não ocorre adequadamente, a performance do

exercício é prejudicada. Isso porque ocorre uma série de modificações

fisiológicas, ocasionadas pela desidratação, que comprometem o desempenho.

Podemos citar a perda de volume plasmático sanguíneo que, por

consequência, aumentará a frequência cardíaca (pois, com menos volume de

sangue, o coração terá que trabalhar mais para mandar sangue para os

tecidos). Da mesma forma, a desidratação acelera a utilização do glicogênio,

pois, devido à redução do volume sanguíneo em função da desidratação,

ocorre maior dependência das vias anaeróbicas (principalmente a glicólise)

para produção de energia, que consomem glicogênio mais rápido do que as

vias aeróbicas. Também ocorrerá redução do volume plasmático intracelular,

resultando em menor atividade celular. Além disso, a desidratação compromete

a perda efetiva de calor, podendo levar a quadro de hipertermia,

comprometendo todo a funcionalidade do corpo humano.

Por isso, é essencial garantir que o atleta/praticante de atividade física

esteja bem hidratado.

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Figura 10. Desidratação e sua ação no metabolismo energético

Além da água, durante a hidratação, é necessário pensar em outros

nutrientes, isso porque o suor é constituído por água, mas também eletrólitos

como sódio (em maior quantidade) e potássio (em menor quantidade). Assim

sendo, o consumo desses minerais, em especial o sódio, torna-se bastante

importante.

Como hidratar

Traçar uma estratégia de hidratação não é tarefa fácil. Fatores como o

tipo de exercício e o ambiente que será realizada a atividade influenciam na

conduta. Assim sendo, nesta presente seção, serãos focadas apenas as

recomendações gerais; porém, deve-se lembrar que cada caso precisa ser

cuidadosamente estudado pelo nutricionista e pelos demais profissionais

envolvidos.

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A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte destaca a importância de

se iniciar a atividade física bem hidratado. Assim, sugere-se o consumo de

250-500 mililitros de água duas horas antes do exercício. Já o Colégio

Americano de Medicina do Esporte recomenda a ingestão de 5-10 mililitros por

quilo entre 2 e 4 horas antes do exercício. Durante o exercício físico, a

recomendação varia entre 500 e 2.000 mililitros/hora, conforme a taxa de

sudorese do atleta.

Para atividades com duração inferior a 1 hora, só a ingestão de água

parece já ser suficiente, não havendo a necessidade da ingestão de sódio ou

carboidrato. Para modalidades com duração superior a 1 hora, a literatura

recomenda a ingestão de carboidrato na quantidade de 30 a 60 gramas/hora e

sódio na quantidade de 0,5 a 0,7 gramas por litros. Ainda durante o exercício, a

ingestão de bebidas geladas pode ajudar a atenuar a temperatura corporal – o

que poderia melhorar a performance de exercício realizado em clima quente.

Por fim, após o término do exercício, sugere-se a ingestão de liquídos

para compensar as perdas adicionais de água pela diurese e pela sudorese.

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7. VITAMINAS E MINERAIS

Vitaminas e minerais, também classificados como micronutrientes (pois,

em geral, é necessária apenas pequena quantidade de ingestão diária dos

micronutrientes para satisfazer a nossa necessidade), são elementos que,

embora não forneçam energia, são necessários para o bom funcionamento do

nosso organismo.

Poderíamos citar diversas funções importantes dos micronutritentes.

Pensando primeiramente nas vitaminas, a importância da vitamina A para a

visão saudável, sobretudo com baixa luminosidade. A vitamina K, sendo sua

ação essencial no processo de coagulação sanguínea. Do ponto de vista dos

mineirais, poderíamos citar alguns processos fisiológicos regulados por

minerais, como contração muscular, transporte de oxigênio, condução de

impulso nervoso, além da manutenção dos suprimentos de água no organismo.

Enfim, a literatura é muito ampla, mostrando a importância dos

micronutrientes como reguladores para o desenvolvimento e o funcionamento

adequado do organismo; porém, neste ebook, focaremos a importância das

vitaminas e dos minerais somente na área esportiva. Para melhor organização

didática, inicialmente, discutiremos a primazia de alguns minerais, seguidos

das vitaminas que têm mais relevância na prática esportiva.

Ferro

A deficiência de ferro, com ou sem anemia, pode compremeter a

performance esportiva. Geralmente, a deficiência de ferro está envolvida com a

baixa ingestão de alimentos fontes deste nutriente ou com a baixa

disponibilidade. Outros fatores também podem comprometer o status de ferro

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no sangue, como: períodos rápidos de crescimento, atletas que treinam em

altas altitudes, perda de sangue menstrual, excesso de perda de ferro por suor,

urina e fezes ou até mesmo hemólise (perda de hemácias) por pancadas.

Atletas com maior risco de apresentar deficiência de ferro, como, por

exemplo, corredores de longa distância, vegetarianos ou doadores habituais de

sanguem, devem ser monitorados regularmentarmente através de exames,

como também devem ser incentivados a aumentar a ingestão de ferro pela

dieta.

Na maiora dos casos citados acima, quando a deficiência de ferro é

tratada, seja pela alimentação ou suplementação, é observado aumento da

performance do atleta, principalmente pela redução da frequência cardíaca e

pelo aumento da eficiência metabólica.

No entanto, é importante destacar que a maioria das pesquisas mostra

que a suplementação de ferro não melhora o desempenho aeróbio – a menos

que o atleta esteja com deficiência de ferro ou anemia. Ou seja, sem

deficiência, sem efeito. Outro ponto que vale a pena destacar é que até mesmo

para aqueles que apresentem alguma deficiência, seriam necessários alguns

dias para que a ingestão de ferro pudesse ser efetiva na restauração da

deficiência nutricional. Por isso, em atletas que ingerem tal suplemento

momentos antes da competição, essa ingestão não surtirá efeito, mesmo para

alguém com deficiência nutricional.

Por fim, deve-se evitar a suplementação de ferro, a menos que exista

insuficiência, pois o excesso de ferro pode promover certos efeitos

indesejados, variando entre vômitos, diarreia e dor abdominal, chegando até

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mesmo a problemas mais severos, como hemocromatose (acúmulo de ferro

nos tecidos) e insuficiência hepática.

Cálcio

O cálcio é especialmente importante para o crescimento, a manutenção

e o reparo de tecido ósseo; a regulação da contração muscular; a condução de

estímulos nervosos; e a coagulação sanguínea. Pessoas que consomem baixa

quantidade de alimentos fontes de cálcio, que seguem dieta com severa

restrição calórica ou mulheres com disfunção menstrual correm o risco de

apresentar baixos níveis de cálcio no sangue. Nesses casos, pode haver

aumento do risco de comprometimento da densidade mineral óssea,

aumentando o risco de fraturas ósseas por estresse.

Em casos nos quais a ingestão de cálcio esteja aquém dos valores

recomendados, sugere-se a suplementação de 1.500 mg de cálcio ao dia,

juntamente com 1.500-2.000 UI de vitamina D, para otimizar a saúde óssea.

Contudo, a suplementação de cálcio não melhora o desempenho físico de

atletas e praticantes de exercícios físicos que já apresentem ingestão

adequada do mineral pela dieta.

Cromo

O interesse da suplementação de cromo na área de nutrição esportiva

cresceu devido a implicação de sua participação no aumento da sensibilidade à

insulina. Com isso, surgiu a hipótese de que a suplementação deste mineral

poderia beneficar praticantes de exercícios por dois motivos:

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1) otimizaria a síntese de glicogênio, aumentando, portanto, a velocidade

de recuperação. 2) por aumentar a sensibilidade à insulina, poderia aumentar o

status anabólico, favorecendo o ganho de massa muscular.

Porém, os resutados na literatura científica não são muito animadores...

Um estudo foi feito para investigar o efeito da suplementação de cromo

na recuperação de glicogênio muscular. No trabalho, 16 homens realizaram,

por 4 semanas, a suplementação de cromo ou placebo (600ug/dia). Após esse

período, foi aplicado o seguinte protocolo para promover depleção de

glicogênio: os sujeitos realizaram 2 dias de dieta com baixo teor de carboidrato;

no dia seguinte, realizaram exercício físico para reduzir ainda mais os estoques

de glicogênio e, após o exercício, ou seja, na recuperação, os participantes

seguiram uma dieta com alto teor de carboidrato. Lembrando que a ideia era

investigar se suplementação de cromo otimizaria a ressíntese de glicogênio

após o exercício.

Como resultado, foi encontrado que a ressíntese de glicogênio no

período de recuperação foi semelhante entre os grupos suplementado com

cromo e com placebo. Portanto, concluiu-se que a suplementação de cromo

não aumentou a síntese de glicogênio muscular durante a recuperação de

exercício de alta intensidade.

Outros dois trabalhos foram desenvolvidos, com homens e mulheres,

para verificar se a suplementação de cromo tinha algum efeito na composição

corporal. Tanto em mulheres – que suplementaram 500ug por dia de cromo e

realizaram um programa de treinamento de força por 6 semanas –, bem como

em homens – com suplementação de 200ug de cromo e que também

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realizaram um programa de treino –, não foi observada qualquer modificação

na composição corporal. Curiosamente, em ambos os trabalhos, foi encontrado

aumento da excreção de cromo pela urina nos grupos suplementados. Esses

resultados demonstram que consumir cromo em excesso, através da

suplementação, não promove nenhum benefício para o esporte – e que o

mineral será eliminado pelo organismo.

Muita gente questiona se o cromo reduz a vontade de comer doce. Eu,

particularmente, nunca vi nenhum estudo científico que tenha investigado a

fundo essa questão. Acredito que essa informação seja repassada com baixo

crivo científico. É possível que as pessoas tenham experimentado esse efeito

em função de um provável efeito placebo do que por qualquer outra

possibilidade.

Sódio

O sódio é muito importante na área de nutrição esportiva, principalmente

para aqueles atletas engajados em modalidades de longa duração. É um

eletrólito que ajuda a regular o equilíbrio de fluidos, a transmissão nervosa e o

equilíbrio ácido-base. Excessivas diminuições em sódio, que podem acontecer,

por exemplo, com a desidratação – pois o sódio é o principal eletrólito

eliminado no suor – podem predispor os atletas a cólicas e a hiponatremia

(quando a concentração sérica de sódio se reduz abaixo de 130 mmol/L),

levando a consequências mais severas, como cãibras, desorientação e até

morte.

Cabe lembrar, também, que o sódio é necessário para a absorção de

glicose em nível intestinal, pois a proteína SGLT1 – que faz o transporte de

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glicose para o interior dos enterócitos – é sódio-dependente. Portanto, a

ingestão inadequada de sódio compromete a absorção de glicose, podendo

levar ao aumento de desconforto gastrointestinal e à queda da performance

esportiva.

Em geral, sugere-se a ingestão de sódio durante exercício para

modalidades com duração maior do que 1 hora. A literatura sugere que, para

modalidades com duração entre 1 e 3 horas, a ingestão de sódio na bebida é

interessante, não necessariamente para evitar a hiponatremia, mas para

melhorar a palatabilidade da bebida, bem como favorecer a absorção de

glicose. Contudo, em exercícios com duração maior do que 3 horas, a

hiponatremia já pode ser considerada um problema. Portanto, nesses casos, a

ingestão de sódio é essencial. A literatura científica recomenda cerca de 1

grama por litro de bebida ingerida durante o exercício.

Vitaminas

Pessoas envolvidas em atividades físicas são, geralmente, alvos de

propagandas proclamando a necessidade de utilizar suplementos vitamínicos e

minerais. Esses anúncios, na maioria das vezes, presumem que atletas e

praticantes de exercícios físicos correm risco de desenvolver deficiências

nutricionais e, consequentemente, comprometimento da saúde e do

desempenho físico.

Um estudo feito com atletas internacionais entre 2005 e 2007 mostrou

que 85% dos entrevistados realizavam algum tipo de suplementação e, nesse

caso, os suplementos mais utilizados eram vitaminas antioxidantes. O

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interessante é que os resultados na literatura científica sobre a efetividade da

suplementação de vitaminas para atletas ainda são escassos.

Recentes estudos têm mostrado a importância da vitamina D no

desempenho esportivo. Pesquisas têm mostrado a relação entre a vitamina D e

o aumento do tamanho e da quantidade de fibras do tipo II; a prevenção de

lesões; a reabilitação e a diminuição do risco de fratura por estresse. Nesse

sentido, quando ocorre a suplementação de vitamina D em atletas com

deficiência, é observada melhora de performance, porém, não há evidências

mostrando efeito ergogênico da suplementação de vitamina D em atletas sem

deficiência.

No entanto, cabe registrar que atletas que vivem em países de grande

latitude ou que treinam indoor durante todo o ano – como patinadores,

ginastas, etc. – correm risco de ter deficiência em vitamina D, especialmente se

eles não fazem consumo de alimentos fortificados. Nesses casos, os atletas se

beneficiariam com a suplementação entre 800 e 1.000 UI ao dia de vitamina D.

Vitaminas do complexo B também são muito discutidas na área da

nutrição esportiva. Sabe-se que as vitaminas do complexo B estão envolvidas

na regulação do metabolismo aeróbico, como: conversão do piruvato a acetil-

CoA; doação do hidrogênio no ciclo de Krebs; composição de NAD;

transferência de grupos amino no metabolismo de aminoácidos; e cofatores em

enzimas do ciclo de Krebs. Por isso, atletas com deficiência em vitaminas do

complexo B apresentam redução no desempenho em provas de longa duração.

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Porém, cabe lembrar que indivíduos que obtenham quantidades

suficientes dessas vitaminas por meio de uma dieta equilibrada não melhorarão

o desempenho com a suplementação.

Vitaminas antioxidantes, como as vitaminas C e E e os carotenoides,

desempenham papéis importantes na proteção das membranas celulares

contra o dano oxidativo causado por radicais livres. Devido ao fato de que o

exercício físico aumenta a produção de radicais livres – como consequência do

aumento do consumo de oxigênio para produção de energia e até mesmo pela

inflamação gerada pelas lesões das fibras musculares –, tem sido hipotetizado

que atletas deveriam suplementar vitaminas antioxidantes para prevenir lesões

e para manutenção da saúde. No entanto, antes de se aceitar tal hipótese, é

necessário realizar um estudo mais aprofundado sobre o assunto.

É necessário lembrar que existem dois tipos de mecanismo de defesa

utilizado pelo organismo contra os efeitos deletérios dos radicais livres. Sendo

os primeiros os antioxidantes consumidos pela alimentação, como, por

exemplo, as vitaminas já citadas acima. Além disso, existem também enzimas,

produzidas pelo próprio organismo (também conhecido como sistema

antioxidante endógeno), que combatem a ação dos radicais livres. As principais

enzimas que desempenham esse papel são superóxido dismutase (SOD) e

glutationa peroxidase (GPx).

Assim, embora tenha sido mostrado que a prática de exercício físico

aumenta a produção de radicais livres, o exercício também promove aumento

da atividade das enzimas antioxidantes, resultando em redução dos danos

causados pelos radicais livres. Portanto, é possível dizer que um atleta bem

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treinado pode ter um sistema antioxidante endógeno mais desenvolvido e pode

não se beneficiar da suplementação com antioxidantes.

Além disso, é importante lembrar que não só o excesso de radicais livres

pode ser prejudicial, mas também o excesso de antioxidantes também pode

causar certos distúrbios, devido à quebra de equilíbrio no sistema redox.

Portanto, a reflexão que fica é: “Se o exercício físico aumenta a produção

endógena de antioxidantes, será que a suplementação exacerbada de

vitaminas antioxidantes não seria prejudicial em atletas?”.

Estudos com atletas de endurance mostraram que a suplementação de

vitaminas C e E afetou negativamente as adaptações relacionadas ao

treinamento físico. Enquanto o treinamento físico aumentou a concentração de

marcadores de biogênese mitocondrial, a suplementação de antioxidantes

atenuou esse efeito. Tendo em vista a importância da mitocôndria para a

produção de energia aeróbica, os resultados desse estudo indicam que a

suplementação de vitaminas antioxidantes pode ser prejudicial a atletas que

visam melhoria de desempenho físico.

Resultados semelhantes também foram encontrados com a

suplementação de antioxidantes e o treinamento de força. Em jovens, foi

observado que a suplementação de vitaminas atenuou a fosforilação de

proteínas intracelulares envolvidas na sinalização de síntese proteica. Nesse

mesmo sentido, em idosos, foi encontrado que a suplementação de

antioxidantes prejudicou o ganho de massa muscular. Assim, baseados nesses

estudos, é possível dizer que as vias intracelulares que estão envolvidas na

adaptação do exercício (síntese proteica e biogênese mitocondrial) são

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reguladas através dos radicais livres produzidos pelo exercício físico e, quando

ocorre a suplementação em altas doses de vitaminas antioxidantes, atenua-se

este sinal, comprometendo o desempenho físico.

Figura 11. Radicais livres controlam vias de sinalização

Embora sejam muito importantes para a manutenção do organismo,

vitaminas e minerais não são consideradas substâncias ergogênicas, pois não

aumentam o desempenho físico de sujeitos que já apresentem consumo

adequado pela dieta. O que acontece, na maioria dos casos, é que o consumo

inadequado de micronutrientes pode levar a alguma deficiência nutricional – o

que promoverá redução no desempenho físico. Nessa situação, a

suplementação é recomendada.

Dessa maneira, conclui-se que “a suplementação de vitaminas e

minerais não é recomendada se a energia para a manutenção do peso corporal

é consumida por meio de uma alimentação variada. Entretanto, atletas que

restringem o consumo energético (estratégias severas de perda de peso,

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eliminam um ou mais grupos alimentares da dieta, ou consomem dietas não

balanceadas com baixa densidade de micronutrientes) podem precisar de

suplementos”.

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8. Conclusão

O objetivo do nosso ebook foi apresentar os pontos básicos sobre os

aspectos nutricionais envolvidos na prática esportiva. De maneira geral, é muito

importante entender que as necessidades nutricionais serão diferenciadas

conforme os hábitos de exercícios que o indivíduo realiza. Assim, não podemos

generalizar a conduta nutricional. É necessário ter em mente que pessoas

fisicamente ativas apresentam necessidades diferenciadas – quando

comparadas aos atletas, por exemplo.

A ingestão adequada dos macronutrientes (carboidrato, proteína e

lipídio) é muito importante para fornecer energia e aminoácidos para

recuperação energética e síntese das fibras musculares. Além disso, os

micronutrientes, apesar de não fornecerem energia, têm papel substancial na

regulação metabólica. Assim, a dieta deve ser completa para garantir a

integridade e o melhor desempenho no exercício realizado.

O presente ebook não focou os suplementos alimentares, pois deve-se

se compreender que a suplementação é como se fosse a “cereja do bolo”. De

nada adianta pensar em suplementação se a base do plano alimentar, que é a

dieta, não estiver bem consistente. Assim, nosso propósito foi fornecer o

conhecimento básico inicial. Mas esse trabalho não acaba por aqui, assim, em

breve, serão disponibilizados outros ebooks, esclarecendo aspectos sobre

suplementação, mas também assuntos mais específicos, como

emagrecimento, hipertrofia e fake news em nutrição esportiva! Até lá...

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McArdle, William D. Guanabara Koogan.

Nutrição, Metabolismo e Suplementação nas Atividades Físicas. 2ª Ed


Tirapegui, Julio. Atheneu.

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