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CASO CLÍNICO

 QUESTIONAMENTOS:

Dentre as estratégias nutricionais temos o “jejum intermitente” e a dieta “low carb”. Como
cada uma delas poderia ter um efeito no peso corporal e no controle glicêmico?

O jejum intermitente (JI) é uma terapia nutricional em que os períodos de consumo normal de
alimentos e bebidas são intercalados por períodos de restrição severa de energia ou por jejum,
geralmente em 1 a 3 dias por semana. O objetivo do jejum é criar uma redução do valor
energético total, criando assim um balanço energético negativo culminando em perda de peso
(Hill, Wyatt, Peters, 2012).

Além disso, aumentos na sensibilidade à insulina também têm sido demonstrados como
impactos decorrentes da terapia utilizando o jejum intermitente como estratégia. Conforme
exposto acima, a estratégia nutricional utilizando o jejum intermitente tem se mostrada
positiva, uma vez que pode contribuir para a redução do risco de agravos a saúde.

Malaisse e colaboradores (1976) encontraram uma associação entre o jejum e uma menor
quantidade e, aparentemente, maior redução de variabilidade da capacidade de fosforilação
da glicose. Os autores concluíram que o jejum provocou a adaptação das principais enzimas
glicolíticas tanto nas ilhotas pancreáticas quanto no fígado.

As alterações enzimáticas poderiam explicar, pelo menos em parte, a redução na resposta


secretora de insulina evocada pela glicose, em ilhotas de animais em jejum, assim como taxa
reduzida de glicólise. Em contrapartida, em estudo realizado por Kassab et al. (2004) houve
aumento significativo nos níveis séricos da leptina e da insulina durante o mês do jejum do
Ramadã, associado a redução dos níveis séricos do neuropeptídeo Y, estabelecendo-se uma
correlação entre tecido adiposo e insulina, bem como entre as taxas séricas de leptina e de
insulina. Esse estado de hiperinsulinemia e de hiperleptinemia pode estar associado ao
aumento da ingestão de comida à noite, durante o período do Ramadã. O estudo confirma que
devido ao jejum prolongado ao longo do dia, a leptina e a insulina se tornam mais sensíveis aos
sinais de ingestão calórica (KASSAB et al, 2004).

Segundo estudos recentes, confirmou-se a melhora da glicemia e da resistência à insulina em


indivíduos que realizaram jejum intermitente diurno quando comparado a grupos controle.
Esses resultados parecem estar relacionados à diminuição do índice de massa corporal, à
redução dos níveis de leptina e ao aumento dos níveis de adiponectina.

Diversos artigos atuais discutem os benefícios do jejum intermitente, no entanto, a maioria


dos trabalhos analisados traz ressalvas de que novos estudos ainda devem ser realizados para
maiores evidências e estatísticas mais acuradas. Além disso, a falta de estudos de longo prazo
afeta o seguimento adequado das evidências, bem como falhas metodológicas, como a falta
de correlação do tipo de protocolo estudado, a definição da população estudada, o tipo de
alimentação do indivíduo e possíveis comorbidades. Há que se considerar, ainda, que alguns
estudos extrapolam os resultados obtidos em animais para humanos, o que ratifica a
necessidade de aprofundar as pesquisas acerca do assunto. Portanto, percebe-se que
evidências acerca dos benefícios do jejum intermitente e suas possíveis alterações a curto e a
longo prazo no metabolismo humano ainda são obscuras, tornando-se necessário o incentivo a
pesquisas nesse cenário, já que essas estratégias têm sido amplamente aplicadas em dietas
atuais.

Segundo a descrição do termo, a expressão “Low Carb”, significa, “baixo carboidrato”. É uma
estratégia nutricional onde há uma redução do consumo de um macronutriente, o carboidrato,
sendo ele refinado, sob a forma de farinhas brancas e açúcares (monossacarídeos), alimentos
industrializados e processados, bebidas adoçadas, alimentos ricos em amido, ou seja, cereais e
leguminosas e de alto índice glicêmico (FAYAD, 2019)

De acordo com Gardner et al., (2018) vários estudos relataram que a dinâmica inicial da
insulina pode explicar o sucesso da perda de peso diferencial obtida por meio de uma dieta
Low-Fat versus uma Low-Carb. Por exemplo, indivíduos com maior resistência à insulina
podem ter mais sucesso com dietas Low-Carb devido à menor demanda de insulina para
eliminar uma quantidade menor de carboidratos da dieta administrados na circulação.

Dentre vários estudos, foi constatado que a dieta Low-Carb revelou ser benéfica e eficaz na
perda de peso e diminuição da massa gorda (composição corporal), contribui para melhora dos
níveis lipídicos, aumento significativo do HDL (colesterol de alta densidade), diminuição dos
triglicerídeos (TG) e controle glicêmico, cujo ponto está diretamente relacionado com a
ativação da insulina e consequente acúmulo de gordura, além de melhoria de alguns
parâmetros de risco cardiovascular (XAVIER, 2017; MANSOO et al., 2016; HASHIMOTO et al.,
2016).

Os efeitos metabólicos resultam em uma redução da insulina liberada, o que promove um


aumento da circulação dos ácidos graxos livres do tecido adiposo, que por sua vez são
utilizados na oxidação e produção de corpos cetônicos no fígado, para posteriormente serem
usados pelos tecidos como fonte energética, num curto período de tempo. Este processo
estimula o organismo a maximizar a oxidação de gordura e aumentar o gasto energético
culminando assim na perda de peso (XAVIER, 2017).

A dieta Low Carb revelou ser eficaz na perda de peso e redução da massa gorda, contribui para
melhora do perfil lipídico, aumento significativo do HDL, diminuição dos triglicerídeos e
controle glicêmico, além de melhoria de alguns parâmetros de risco cardiovascular (XAVIER,
2017). As dietas Very Low Carb, na qual os hidratos de carbonos (HC) são extremamente
restringidos, não modificam somente a composição corporal, como também alteram o perfil
bioquímico dos indivíduos. Observa-se redução significativa de pressão arterial, glicemia de
jejum e as concentrações de lipídios séricos (BACKER, PROJETTO, & JERUMS, 2009)

Porém, dietas com restrição de carboidrato podem prejudicar a capacidade do indivíduo de


praticar atividade física, por reduzir os estoques de glicogênio muscular e aumentar a fadiga
durante o exercício (WHITE et al., 2007). Uma das maiores complicações em relação às dietas
com restrição calórica é o ganho de peso subsequente envolvido para os indivíduos com
intervenções (LOWEI, 2015; BOSY-WESTPHAL et al, 2015). O fenômeno catch up fat é
conhecido como o aumento do peso de gordura corporal após período de adaptação
metabólica. São numerosos também os relatos e resultados insatisfatórios sobre a disposição
física, ganho de peso posteriormente e, principalmente, baixo adesão na dieta com restrição
de carboidratos.

Conclui-se que os indivíduos que utilizam uma dieta pobre em hidratos de carbono
apresentam um aumento do LDL, porque ao restringir carboidratos, há um aumento da
ingestão de gorduras totais, inclusive saturada. Diante desse aumento dos níveis de LDL, e
sendo este altamente aterogênico, torna-se importante esclarecer se a dieta Low Carb pode
promover a morbidade/mortalidade em longo prazo.

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