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Centros de Treinamento Esportivo para o Esporte de Alto Rendimento no


Brasil: Um Estudo Preliminar

Article · January 2012

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4 authors, including:

Leandro Carlos Mazzei Flavia Bastos


University of Campinas University of São Paulo
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CENTROS DE TREINAMENTO ESPORTIVO PARA O
ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO NO BRASIL:
UM ESTUDO PRELIMINAR

MAZZEI, L. C.a; BASTOS, F. C.b; FERREIRA, R. L.c; BÖHME, M. T. S.d


a
Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Gestão do Esporte; Universidade Nove de
Julho-UNINOVE, Brasil (leandromazzei@gmail.com)
b
Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão do Esporte, GEPAE, EEFE-USP, Brasil.
c
LCR Consultoria Esportiva, Brasil
d
Grupo de Estudo e Pesquisa em Esporte e Treinamento Infanto-Juvenil, GEPETIJ,
EEFE-USP, Brasil.

Palavras chave: Políticas do Esporte, Centros de Treinamento


Esportivo, Esporte de Alto Rendimento.

Resumo
O presente estudo teve por objetivo identificar a existência e descrever
do ponto de vista da gestão, as instalações esportivas existentes no Brasil
destinada ao Esporte de alto rendimento. Foi realizada pesquisa descritiva,
de caráter exploratório, com base em fontes secundárias documentais e
informações de dirigentes de confederações de modalidades esportivas
olímpicas. Os resultados mostraram que o país não dispõe de uma Política
efetiva para o desenvolvimento de Centros de Treinamento Esportivo. A
gestão destas instalações é predominantemente privada sendo que algumas
Confederações possuem este tipo de instalação, porém não podem ser
classificadas como Centros de Treinamento segundo requisitos internacionais
deste tipo de estrutura.

Abstract
The objective of this study was to identify the existence and describe
the management Sport Facilities in Brazil aimed elite sport. Performed was
descriptive and exploratory research based on documentary of secondary
sources and information with managers of National Olympic Sports
Organizations. The results showed that the country no have an effective policy
for development Sport Facilities. The management of these facilities is mostly
private their own national sport organizations and someone’s have facilities
for training athletes, but is not possible to classify this structures as training
centers according to international requirements of this build for elite sport.

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1575-1584, 2012 1575


Objetivo
Estudos que visam comparação de diferentes políticas e estruturas
esportivas têm sido desenvolvidos levando a um aumento substancial da
produção de conhecimento sobre o tema nos últimos anos. O crescimento
de trabalhos com esta temática está associado a diversas razões e interesses.
Mas, para além da simples comparação, os objetivos dos estudos geralmente
estão relacionados na busca por modelos que permitam identificar pontos
comuns entre as políticas esportivas de sucesso existentes (GREEN e
OAKLEY, 2001; DIGEL, 2002a, 2002b; THUMM, 2006; BERGSGARD et al,
2007; UKSPORTS, 2007; HOULIHAN et al, 2008; DE BOSSCHER et al, 2008,
2009; VAEYENS et al, 2009).
Nesses modelos, buscam-se a compreensão de fatores ou
características que expliquem bons resultados esportivos alcançados por
nações que possuem tradição em termos do bom desempenho em
competições esportivas de âmbito internacional. Algumas tendências já foram
descritas e sistematizadas por Green e Oakley (2001). Esses autores
identificaram que diversos países que possuem sucesso esportivo
internacional seguem a linha adotada pelos países do antigo Bloco Socialista,
ou seja, possuem políticas centralizadoras com relação às ações voltadas
ao desenvolvimento esportivo.
Digel (2002a; 2002b) concluiu que alguns pontos convergentes podem
ser apontados em diferentes países quanto ao desenvolvimento do esporte,
como por exemplo, a interação do sistema esportivo com a política e a
economia do país; o papel das forças armadas e o sistema educacional; a
pesquisa científica específica, o apoio do setor privado e da mídia em geral
no desenvolvimento do esporte.
Estudos mais recentes como os do UKSports (2007) e de De Bosscher
et al (2008 e 2009), apontam fatores ou pilares que podem influenciar o
sucesso esportivo internacional de um país. Com base nesses estudos foi
elaborado um modelo teórico baseado em nove pilares que podem, através
de métodos de comparação transnacional, explicar a obtenção de bons
resultados esportivos internacionais de uma nação.
Dentre os pilares visualizados na figura 1, os investimentos financeiros
são considerados os inputs do sistema. Já nos processos (throughputs)
deverão existir investimentos e ações voltadas às estruturas organizacionais
do esporte; ao desenvolvimento de talentos esportivos, apoio à carreira de
atletas e técnicos, uma calendário de competições esportivas e a aplicação
de pesquisa científica específica ao esporte.

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FIGURA 1
Modelo teórico que propõe nove pilares como influenciadores para o
sucesso internacional em uma estrutura esportiva
(adaptado de De Bosscher et al 2008).

Além dos pilares citados, o desenvolvimento de políticas esportivas


voltadas para as instalações esportivas (“training facilities”) destinadas ao
treinamento e desenvolvimento de atletas do Esporte de Alto Rendimento
(EAR) também é um dos fatores no processo que supostamente leva ao
sucesso esportivo internacional, sejam elas desenvolvidas de forma
centralizada, como afirmam Green e Oakley (2001), ou como considera Digel
(2002a), desenvolvidas em associação com as Forças Armadas ou com o
setor privado.
Desde os anos 1960, países como a Alemanha, China, Estados Unidos,
França, Rússia, e mais recentemente Austrália, Inglaterra, Bélgica, Itália e
Espanha, investem grandes recursos na construção de centros de excelência
esportiva com o objetivo de oferecer instalações para a preparação e o
desenvolvimento de atletas de alto rendimento.
A Espanha é um exemplo de país que passou recentemente à investir
e regulamentar condições indispensáveis para a infraestrutura de um Centro
de Treinamento Esportivo(CONSEJO SUPERIOR DE DEPORTES, 2002):
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• Instalações de caráter multidisciplinar (várias modalidades
esportivas) ou monodisciplinar (uma única modalidade esportiva),
com equipamentos esportivos de alta qualidade;
• Possuir estrutura de alojamentos, com residências amplas,
localizadas em áreas silenciosas, próximas dos espaços esportivos
e de centros educacionais, oferecendo ainda áreas de estudo e
de convivência;
• Dispor de um órgão de gestão administrativa que controla o
funcionamento da instalação;
• Contar com uma equipe técnica esportiva; dispor no local de
serviço médico-esportivo dirigido para a prevenção e tratamento
de lesões e enfermidades, e de reabilitação física;
• Dispor no local de departamentos científicos e de investigação,
que ajudem tanto aos treinadores como aos esportistas a conseguir
seus objetivos de rendimento;
• Dispor de um centro educacional, na própria instalação ou próximo
a ela.
No Brasil, pelo fato do país ter assumido um maior destaque na
organização de eventos esportivos internacionais, criou-se a expectativa de
um aumento quantitativo e qualitativo de Centros de Treinamento: em 2002
o país sediou os Jogos Sul-Americanos, em 2007 os Jogos Pan-americanos
e em 2011 os Jogos Mundiais Militares; em 2014 sediará a Copa do Mundo
de Futebol e em 2016, a 31ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão.
Entretanto, instalações destinadas a eventos geralmente não possuem
características de centros esportivos voltados ao processo de formação e
desenvolvimento de atletas de alto rendimento, ou seja, Centros de
Treinamento Esportivo (CTE) não são considerados equivalentes à instalações
destinadas para o Esporte espetáculo.
O Estado tem historicamente destinado recursos para o
desenvolvimento de modalidades olímpicas através de aportes passados
ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e às Confederações Brasileiras
Olímpicas. A partir de 2004 recursos passaram a ser destinados de maneira
sistemática através de mecanismo específico criado para este fim. A Lei nº
10.264 (Lei Agnelo/Piva; BRASIL, 2004) determina que dois por cento (2%)
da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam repassadas
ao COB e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB).
O COB fixa os valores que cada Confederação deve receber de acordo
com critérios pré-estabelecidos (técnicos, da elaboração de projetos e de
planos de trabalho, além da prestação de contas e do desempenho em
eventos esportivos internacionais). As Confederações devem aplicar os
recursos em seis ações: Programas e projetos de fomento; Manutenção da
Entidade; Formação de recursos humanos; Preparação técnica; Manutenção
de atletas; Organização e participação em eventos esportivos (Instrução
Normativa 039/2001 do Tribunal de Contas da União; BRASIL, 2008).

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Especificamente em Programas e Projetos de Fomento, os recursos
podem ser aplicados em: Desenvolvimento de candidaturas para sediar
eventos esportivos internacionais no Brasil; Aquisição de equipamentos e
materiais esportivos e administrativos para o COB e para as Confederações
Brasileiras Olímpicas; Criação, adaptação, construção, instalação,
administração e manutenção de unidades como: Centro Olímpico de
Desenvolvimento de Talentos, Museu Olímpico, Academia Olímpica, Centro
Olímpico de Alto Rendimento e Centro de Treinamento.
Além disso, existem outras opções para investimento em instalações
esportivas como programas de incentivo fiscal para o esporte (federais e
estaduais) e recursos provenientes de empresas estatais e da iniciativa
privada.
Dessa forma, os objetivos deste trabalho foram identificar os CTE
existentes no país ligados às modalidades esportivas Olímpicas.

Métodos e Resultados
Esta pesquisa se caracteriza como estudo descritivo, de caráter
exploratório, segundo critérios de tipologia de pesquisa de Vergara (2005),
dada a falta de conhecimento sistematizado sobre o tema instalações
esportivas para o esporte olímpico e de alto rendimento no Brasil.
Na primeira etapa foi realizada coleta de informações em fontes
documentais secundárias, através de levantamento de leis e de material
institucional sobre CTEs para modalidades olímpicas e sua gestão. As fontes
utilizadas foram os sites do Ministério do Esporte (ME), do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e
Confederações Esportivas de modalidades Olímpicas.
Na segunda etapa foram levantadas informações junto às
Confederações responsáveis pelo desenvolvimento de modalidades
Olímpicas. Para tanto, foi realizado contato por correio eletrônico e telefônico
com gestores das 311 confederações esportivas responsáveis por 43
modalidades que fazem parte do programa olímpico no sentido de
confirmação e complementação das informações disponíveis nos sites. Este
etapa foi realizada durante os anos de 2009 e 2010.
Como resultados verificou-se que não existe na legislação esportiva
brasileira atual nenhuma ação efetiva ou referência específica quanto ao
papel do Estado na construção e manutenção de Centros de Treinamento
para as modalidades olímpicas e para o esporte de alto rendimento, bem
como os requisitos necessários para a classificação de uma estrutura com
esta finalidade.

1
Além de modalidades tradicionais, foram consideradas como Olímpicas o Basebol e Softbol (que sairão do
programa Olímpico oficial em breve), e o Golf e o Rugby (que entrarão no programa Olímpico a partir de 2016.

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Por outro lado, em 2004 houve uma iniciativa por parte do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em levantar as instalações
esportivas públicas existentes no país, Porém, os resultados desta pesquisa,
denominado “Pesquisa de Esporte 2003” (IBG, 2003), levaram em
consideração apenas as instalações destinadas ao esporte de lazer e o
esporte educacional sob a gestão pública, consequentemente que não
atendem especificamente ao treinamento integral de atletas de elite.
No levantamento junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB, 2006)
foram identificados dois tipos de instalações para as modalidades olímpicas
no Brasil: Centros de Treinamento (CT) e Centros de Desenvolvimento (CD).
Nos dados referentes ao ano 2000, de um total de 40 modalidades olímpicas,
somente cinco (05) possuíam Centros de Treinamento no país. Na tabela 1 é
apresentada a evolução do número dos Centros de Treinamento no país
das modalidades olímpicas, no período entre 2000 e 2010.
Em 2010, o COB indicou que 17 Confederações “Olímpicas” possuíam
Centros de Treinamento: Atletismo, Badminton, Beisebol e Softbol (excluído
dos relatórios do COB em 2009), Boxe, Canoagem (Velocidade), Esgrima,
Futebol, Ginástica, Hóquei sobre Grama e Indoor, Judô, Levantamento de
Peso, Lutas, Pentatlo Moderno, Tiro com Arco, Tiro Esportivo, Tênis de
Mesa,Voleibol (Quadra e Praia).
E outras 12 Confederações Olímpicas, segundo o COB, não possuem
Centro de Treinamento controlam o: Basquete, Ciclismo, Desportos de Neve,
Desportos de Gelo, Handebol, Hipismo, Desportos Aquáticos (natação, polo
aquático e nado sincronizado), Remo, Taekwondo, Tênis, Triathlon e Vela e
Motor.
TABELA 1
Centros de Treinamento de Modalidades Olímpicas No Brasil
adaptado de COB, 2006.

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Em levantamento de informações quanto à existência dos Centros de
Treinamento, realizado entre os anos de 2009 e 2010, responderam à
confirmação de existência de CTE 54,83% (17) gestores responsáveis por
Confederações brasileiras de modalidades Olímpicas, incluindo as
Confederações Brasileiras de Golf e Rugby. As informações referentes às
demais confederações foram obtidas nos sites das mesmas. Os resultados
podem ser vistos na Tabela 2.
TABELA 2
Centro de Treinamento de Confederações Brasileiras

Das 31 confederações de modalidades olímpicas, 15 (48,30%) afirmam


possuir local específico utilizado como CTE: Atletismo, Badminton, Basebol
(Softbol), Boxe, Esgrima, Futebol, Hóquei sobre Grama e Indoor, Judô,
Levantamento de Peso, Lutas Associadas, Pentatlo Moderno, Tênis de Mesa,
Tiro ao Arco, Tiro Esportivo e Voleibol.
Foi ainda possível verificar que a Confederação Brasileira de
Canoagem, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos e a
Confederação Brasileira de Ginástica possuem Centro de Treinamento (3 –
9,60%), mas este tipo de instalação contempla apenas uma das modalidades
que controlam.
Não confirmaram a existência de CTE as confederações de
Basquetebol, Ciclismo, Desportos do Gelo, Desportos da Neve, Handebol,
Golfe, Hipismo, Remo, Rugby, Taekwondo, Tênis, Triathlon e Vela e Motor
(13 – 42,10%).

Conclusão
Nos documentos analisados não foram encontrados indícios ou
informações efetivas quanto à existência de centros de treinamento destinados
à preparação de atletas de alto rendimento de acordo com os parâmetros
de qualidade e de estrutura que devem ser observados para este tipo de
instalação esportiva.
No site do Ministério do Esporte não foram identificadas informações
oficiais sobre CTEs no Brasil. Em contrapartida, na Política Setorial de Esporte
de Alto Rendimento (BRASIL, 2006b), e em outros documentos referentes às
Conferências Nacionais de Esporte (BRASIL, 2004; 2006a; 2010) está expressa
a expectativa de que o Brasil se torne uma potência esportiva. Uma das

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ações ou estratégias refere-se à criação de “Centros de Treinamento de
Excelência” e também de “Centros de Formação e Aperfeiçoamento
Esportivo”. Porém, como foi citado, as ações e estratégias estão apenas no
campo de projetos e expectativas.
Nos dados junto ao IBGE (2003) revelam a existência de “Complexos
Esportivos”, que segundo a descrição do órgão sobre este tipo de instalação,
poderiam ser classificados ou possuem semelhanças com CTE. Porém, não
existem informações documentadas que os Complexos Esportivos citados
são utilizados para o desenvolvimento de atletas de alto rendimento de
forma regular.
Os dados levantados no COB (2006) mostraram resultados que
sugerem a evolução do número de Centros de Treinamento no país, mas
por outro lado, o COB em seus relatórios não detalha as características e
serviços existentes nestes Centros. Dessa forma, não se pode considerar
que os centros existentes citados pelo COB cumpram as especificações
que os classificariam como Centros de Treinamento de Alto Rendimento de
acordo com os parâmetros descritos neste trabalho e que é exigido para
este tipo de instalação no âmbito internacional.
Quanto à existência de instalações esportivas para o treinamento de
atletas de alto rendimento levantados junto às Confederações Esportivas
Olímpicas, apenas alguns dos identificados, como os das modalidades
Futebol, Voleibol e Tiro com Arco apresentam diversas informações sobre
suas características que são semelhantes às encontradas junto aos parâmetros
de classificação de CTEs, ou seja, afirmam possuir instalações e
equipamentos de qualidade; meios materiais, técnicos, pedagógicos e
humanos; acomodações para atletas; oferecimento de áreas de convivência;
serviço médico-esportivo; departamentos científicos e de investigação,
mesmo que não cumprem a questão de instituições educacionais em seus
interiores ou nas proximidades.
A parceria com as Forças Armadas para a utilização de centros de
treinamento foi encontrada em duas modalidades, como acontece também
em outros países, como na Itália e França onde existem CTEs geridos ou
compartilhados com o Ministério da Defesa e de patrocínios de instituições
privada (SILVA et al, 2009).
Dessa forma, constata-se que há iniciativas isoladas e um déficit por
parte dos órgãos gestores do esporte de alto rendimento e Olímpico no
Brasil (Ministério do Esporte e COB) para o desenvolvimento de instalações
esportivas para o treinamento de atletas. Este é um cenário muito diferente
daquele encontrado em países com sucesso esportivo internacional, onde
o investimento em CTEs é recomendado por estudos que compararam
modelos de Políticas do Esporte de sucesso existentes no contexto
internacional.
O quadro descrito no presente estudo nos permite concluir que o
país não possui uma política voltada às instalações para a formação e
desenvolvimento de modalidades Olímpicas, demonstrado principalmente
pela diversidade encontrada no tipo de gestão das instalações.
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Assim, ainda que o Brasil possua sucesso esportivo internacional em
determinadas modalidades de maneira isolada, como natação, judô,
atletismo, voleibol e futebol, a existência de instalações consideradas
adequadas para o treinamento de atletas de alto rendimento são fatos
isolados. Os resultados deste estudo condizem com as análises existentes
nos relatórios sobre o esporte de alto rendimento no Brasil apresentados
pelo TCU (BRASIL, 2011) e por SILVA et al (2009).
Dada a necessidade de estruturação esportiva em nível nacional,
consideramos que outros estudos são necessários no sentido de se
acompanhar a evolução da implantação de novos CTEs, sua adequação e a
política para sua utilização no país, com vistas ao oferecimento de subsídios
para elaboração de normatização destas estruturas, como acontece e se
apresenta em países esportivamente desenvolvidos. O investimento em CTEs,
através de estratégias e ações de infraestrutura esportiva específica, é um
dos fatores que possibilitam o desenvolvimento do Esporte em médio e
longo prazo de um país.

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