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ARTES VISUAIS NA REDE

Unidade II
5 A EDUCAÇÃO NA REDE

Neste tópico iremos abordar as Artes Visuais e a Educação, destacando como as tecnologias podem
favorecer a disseminação das Artes Visuais no campo educacional. Você perceberá que muitos autores
serão citados ao longo do texto para completar as ideias que queremos compartilhar com você.

Para iniciarmos nossa leitura, vale a pena começarmos refletindo que é impossível ao homem viver
isolado. Segundo Engelmann (2008, p. 23),“ele faz parte de uma sociedade detentora de uma cultura,
em que há manifestações artísticas que constituem a essência da vida de um povo”.

Ele quis nos dizer que, de acordo com cada sociedade, desenvolvem-se diferentes formas de criação
e divulgação de artes.

Quando falamos em arte visual estamos nos referindo às áreas que envolvem teatro, dança, pinturas,
colagens, gravuras, cinema, fotografia, escultura, arquitetura, moda, paisagismo, decoração etc.

Com o surgimento e o crescimento das novas tecnologias, observamos que o conceito de Artes
Visuais também vem se desenvolvendo. Não é apenas o campo das artes que tem ganhado muita
procura: outras áreas, como o webdesign, têm um grande impacto na sociedade atual e trabalham
aliadas às imagens, às mídias sociais e às diferentes formas de tecnologia.

E você, conhece outras áreas do conhecimento que estão relacionadas às Artes Visuais?

O que diremos agora provavelmente seja bem familiar para você.

Quem, em seu dia a dia, não utiliza as redes sociais para compartilhar o seu cotidiano, opiniões e
as mais diferentes expressões? Quem não gosta de colocar nas redes sociais imagens fotográficas para
ilustrar festas, encontros com os amigos e as famosas selfies? Quem já não participou de uma aula em
que o professor utilizou algum tipo de tecnologia ligado à internet?

Quem, em sua profissão, não buscou formas rápidas e mais ágeis para resolver algo ligado ao seu
trabalho utilizando os recursos presentes na internet?

Com as constantes mudanças que ocorrem, somos impulsionados a acompanhar as transformações


sociais. Há um professor que também tem percebido as rápidas alterações: é o professor Engelmann
(2008, p. 20), e ele nos diz que “à medida que o homem transformou o mundo em que vivia, as suas
concepções foram mudando e sua forma de interpretar a realidade foi se aprimorando”.

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Com isso, vamos desenvolvendo nossas capacidades de usar os avanços tecnológicos para criar mais
acessos às artes e à educação.

Em nossas casas, em nossos trabalhos e em nossas vidas, de uma forma geral, sempre buscamos
formas rápidas e simples de resolver as coisas. Muitas vezes, nem conseguimos acompanhar as facilidades
que nos são colocadas diariamente no mercado.

Isso pode ocorrer no campo educacional, no nosso meio profissional ou mesmo na nossa vida
cotidiana. Você já passou por isso? O autor deste livro-texto vivencia essa situação quase todos os dias.

Na sua universidade, você tem percebido que as salas de aula têm investido em novas tecnologias
para auxiliar o professor? Dentro das instituições educacionais, essas ações estão deixando de ser apenas
algo eventual e têm se tornado um recurso constante durante as práticas pedagógicas.

Nos mais diferentes cursos universitários, profissionalizantes, de aperfeiçoamento e até de curta


duração, vemos cada vez mais a crescente necessidade do uso desses recursos tecnológicos. Podemos
dizer que hoje não podemos mais separar a educação da hiperconectividade.

O desenvolvimento do ensino das Artes Visuais nas escolas representa a importância conquistada
por esse saber na formação do profissional e na interdisciplinaridade.

Lembrete

É importante lembrar que há diferença entre interdisciplinaridade,


multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. A interdisciplinaridade trabalha
duas ou mais disciplinas para resultar em uma. A multidisciplinaridade é o
cruzamento de duas ou mais disciplinas, e cada uma segue o seu caminho.
Na transdisciplinaridade há a transposição de uma disciplina para outra.

Mais uma vez, o professor Engelmann (2008, p. 68) destaca essa afirmação nos dizendo que “a
arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e
aprendizagem e está relacionada com as demais disciplinas”.

Falar sobre as Artes Visuais e a Educação é lembrar que esse processo de ensino e aprendizagem
não está ligado a técnicas e receitas prontas de como construir uma obra, e sim a um aprofundamento
reflexivo do poder que o ato educativo por meio das artes pode proporcionar à formação humana.

Isso já deve ter acontecido com você em vários momentos na universidade. Segundo Engelmann
(2008, p. 69),“a educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção
estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana”.

Dessa forma, podemos compreender as linguagens da arte presentes na vida que nos possibilitam
vivenciar a criação, as emoções, a sensibilidade, os pensamentos e as nossas essências.
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Figura 34 – O Pouso da Libélula, de Aurelice Vasconcelos

Um dos aspectos importantes sobre a linguagem visual é o seu poder de fazer as pessoas saírem do
seu estado anestésico e entrarem na estesia. Desse modo, pode proporcionar ao homem a compreensão
da realidade, de forma mais sensível e contemplativa.

De acordo com as professoras de artes Martins, Picosque e Guerra (2010), que se apoiam no filósofo
e psicólogo Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), nossos sentidos nos revelam o mundo.

Merleau-Ponty trouxe em seus estudos fatos de que a consciência é a percepção, e a percepção é


consciência.

Esse autor nos ajuda a aprofundar um pouco mais nossos conhecimentos sobre as imagens e sobre
nós que produzimos as Artes Visuais.

Para ele, o ponto de partida de toda experiência perceptiva é a experiência corporal. Nesse sentido,
o corpo é a forma que representa o ser-no-mundo. O corpo projeta imagens, sensações, pensamentos.
O corpo é autor e intérprete das mediações e das relações entre o externo e o interno.

Outro professor nos traz uma boa reflexão sobre essas ideias que acabamos de ver e que também
são conhecidas como fenomenologia. Engelmann (2008, p. 67) nos faz o seguinte questionamento:
“como a arte pode aguçar sua sensibilidade, a fim de despertar sua curiosidade de conhecer o mundo e
a realidade? Será que a educação interfere?”. O que você responderia para o professor?
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Essas ideias que acabamos de ver serão abordadas de forma mais ampla nesta unidade que se
inicia. Não podemos esquecer que elas compreendem um amplo conjunto de fatores socioculturais,
econômicos e políticos que foram se desencadeando nas últimas décadas e que compõem fatos da
nossa atualidade.

5.1 A escola e a educação no mundo hiperconectado

Vamos começar falando sobre a educação como um processo que implica uma visão de mundo
e de sociedade. A educação, por consequência, acompanha os avanços tecnológicos como aliados a
pesquisas, comunicações e desenvolvimento científico.

Você já deve ter visto nas escolas que frequentou que as informações e os conhecimentos rompem,
cada vez mais, as fronteiras da escola e chegam ao mundo virtual de forma aberta e prática.

Por causa disso, as escolas estão inserindo, cada vez mais, novas tecnologias nos processos educativos.
Segundo um autor chamado Pierre Lévy (1993, p. 40),“a multimídia interativa adequa-se particularmente
aos usos educativos”.

É bem conhecido o papel fundamental do envolvimento pessoal do aluno no processo de


aprendizagem. Isso é verdade! Quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição de um
conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo que aprende de forma mais descontraída. Você já deve
ter tido aulas dessa forma que lhe proporcionaram prazer em aprender.

Observamos que as tecnologias e as Artes Visuais apresentam muitos aspectos em comum, em


especial, o poder de seduzir e tornar as atividades mais espontâneas e dinâmicas está crescendo cada
vez mais no ambiente escolar.

Durante o seu processo educativo e até na universidade, percebemos que tudo o que mexe com
nossos sentidos torna-se mais atrativo e conquista nossa atenção.

O pesquisador Lévy (1993, p. 40) também percebeu isso e nos conta que “a multimídia interativa,
graças a sua dimensão reticular ou não linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo lúdica, face
ao material a ser assimilado. É portanto, um instrumento bem-adaptado a uma pedagogia ativa” e cheia
de desafios.

Quem não gosta de um processo de ensino cheio de novidades? Apreciamos sempre as inovações
durante o processo de aprendizagem. O professor Engelmann (2008, p. 67) afirma que “a finalidade da
educação com relação à arte é desenvolver uma convivência harmoniosa do sujeito com a obra em si”.

Acreditamos que quando você procurou um curso de Artes Visuais, você estava em busca de
desenvolver suas expressões criativas.

Segundo Lévy (1993, p. 40),“há toda uma dimensão estética ou artística na concepção das máquinas
ou dos programas, aquela que suscita o envolvimento emocional, estimula o desejo de explorar novos
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territórios existenciais e cognitivos, conecta o computador a movimentos culturais, revoltas, sonhos”.


Geralmente, as Artes Visuais conseguem provocar e despertar os sentidos.

Saiba mais
Leia o livro:
DEMO, P. O porvir: desafio das linguagens do século XXI. Curitiba:
Ibpex, 2007.
Este é um livro bem interessante que coloca como foco do ensino a prática
que ainda está por vir. O livro aborda questões de hipermídia, mostrando-
nos que é também por meio do ciberespaço que os jovens leem o mundo.
O desafio está em conhecermos e utilizarmos essas novas linguagens e
leituras, para que a escola não seja uma instituição medieval perdida em
um mundo com humanos digitais, ciborgues e realidades virtuais. Para
isso, é necessário à escola contraler. A obra nos apresenta uma proposta de
redefinição de métodos pedagógicos, objetivando aproximar o ensino e a
realidade do aluno. Ótima leitura para alunos e toda a comunidade escolar.

5.2 O papel da educação para o processo de ensino e aprendizagem de


Artes Visuais

Você sabia que o processo de aprendizagem de Artes Visuais começa antes mesmo de entramos no
mundo escolar? Muitos pesquisadores e autores nos falam sobre esse processo que se desenvolve no
decorrer de nossa infância. Nosso imaginário sempre nos desperta para processos criativos.

Se pensarmos em nossa infância ou observarmos uma criança, recordaremos e veremos muitos


exemplos implicados das linguagens visuais. Filmes, danças, fotografias, pinturas, colagens. Todos nós
tivemos bons contatos com esses instrumentos e boas experiências.

Essas vivências também são conhecidas como linguagens visuais e vão sendo deixadas de lado nos
campos educacional e pessoal com o passar do tempo. Isso deve ter acontecido com todos nós, e é uma
ideia também reforçada por Timm (2015, p. 157), quando diz que “na escola pouco espaço é dado à livre
expressão, imaginação e criação, e não se consegue enxergar a arte como uma atividade humana, ou
seja, vivência cultural que proporciona desenvolvimento”.

Durante o seu período escolar, você deve ter percebido que as escolas acabam se preocupando mais
com a transmissão de conteúdos do que com recursos que poderiam ser aliados para o desenvolvimento
do processo educativo.

Quando se fala em arte como atividade humana e cultural, percebemos que muitos professores, por
vezes, ignoram seu papel e os objetivos advindos dos anseios de apreciação e criação artística.

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Podemos entender a importância da arte de várias formas. Na área da educação, ela não vai resolver
todos os problemas que envolvem a instituição ou o aluno e pode até não entrar no programa desta
escola, mas certamente, se não constar do programa, vai ocasionar um grande problema, uma vez que
está relacionada com experiências técnicas que envolvem o social, o aluno e o sentimento. Portanto,
o uso de linguagens artísticas pode auxiliar o professor a tornar as aulas mais atrativas, e você, como
aluno, sabe o quanto tudo isso se torna relevante no processo de formação.

No campo educacional as Artes Visuais podem ser criadas por meio de vários materiais e instrumentos:
todos já tiveram a experiência, na escola, de ter contato com vários materiais, desde os mais comuns,
como papéis, madeiras, gessos e argila, até outros que têm se tornado bem usuais, como máquinas de
captação e reprodução de imagens, a exemplo de máquinas fotográficas e filmadoras, inclusive recursos
mais contemporâneos, como programas de informática.

Com as facilidades de modalidades presenciais e semipresenciais, e até as da educação a distância,


muitas pessoas estão tendo mais oportunidades de acesso à escolarização de acordo com a disponibilidade
de tempo, inclusive no processo de ensino e aprendizagem de Artes Visuais. Isso tem sido algo muito
importante para que, cada vez mais, cresça o acesso aos meios educacionais.

A educação formal, geralmente, é realizada em instituições de ensino regulamentadas por órgãos


educacionais, que incluem nos currículos oficiais de ensino o uso de tecnologias a serviço da educação
e o ensino de artes.

Vale pensar que nas escolas ou em outros espaços em um sistema de educação formal a razão sobrepõe
outras características do ser humano, deixando de lado, por exemplo, o emocional. Essa característica
do desenvolvimento emocional é crucial para a criação e a construção das artes, principalmente para as
Artes Visuais. Nesse caso, Artes Visuais podem ser consideradas como pontes de interação do homem
com suas matrizes estéticas.

Todos nós esperamos que o nosso processo educativo nos traga contribuição e faça sentido na
vida. Engelmann (2008, p. 71) também tem essa preocupação e nos diz que “além de ser uma forma de
expressão, a arte é também um meio educativo, pois é resultado da interação do sujeito com a sociedade
e com a realidade em si”. É uma forma de se reconhecer em uma cultura e praticá-la.

Observação

O grande fotógrafo Henri Cartier Bresson foi um dos maiores mestres do


fotojornalismo. Ele criou o termo instante decisivo para ficarmos atentos
aos momentos únicos que temos na vida e perceber que somos cercados
de decisões. Assim é na carreira que escolhemos, no nosso aprendizado e
na vida.

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Figura 35 – Fazendo Farinha de Mandioca, de Aurelice Vasconcelos

Você sabia que a educação tem uma lei que estabelece tudo o que é referente à área? Chama-se Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.395/96) e define em seu artigo 26, parágrafo 2º,
que “o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação
básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.

Você já participou de algum curso, oficina ou encontro organizado por ONGs, igrejas, sindicatos ou
outros grupos sociais? Esse tipo de educação é conhecido como educação informal.

Engelmann (2008, p. 71) destaca que “as práticas educativas surgem de mobilizações sociais,
pedagógicas, filosóficas e, no caso das artes, também artísticas e estéticas”. As artes visuais
acontecem de forma espontânea por meio de oficinas e encontros para que os participantes
manifestem seu processo criativo.

Tanto na educação formal quanto na educação informal as artes visuais representam um estímulo
essencial, em várias etapas do desenvolvimento das pessoas, para trabalhar a criatividade e a imaginação.
O professor Engelmann (2008, p. 67) defende que “o ensino e aprendizagem da arte devem estar de
acordo com as normas e valores estabelecidos em cada ambiente cultural”. Todo esse processo proporciona
novas formas de olhar o mundo e o desenvolvimento de diversas habilidades.

Por que será que o trabalho utilizando o recurso de artes visuais nos desperta tantos sentimentos?
Como você já foi despertado para as linguagens artísticas e, ainda, por que escolheu um curso voltado
à arte?

Segundo Engelmann (2008, p. 25),“projetamos nela esses ou aqueles sentimentos que brotam do
mais profundo do nosso ser e, evidentemente, não estão na superfície dos nossos receptores, mas
relacionados à mais complexa atividade do nosso organismo”. Esses, geralmente, são os sentimentos
mais perceptíveis para nós.
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Quando elaboramos ou apreciamos uma obra de arte, os sentimentos são inúmeros, como

sentir prazer ao ver, ouvir ou produzir. Nesse caso a obra de arte significa
concentrar-se no que se ouve, vê ou produz, significa mergulhar no que se
está fazendo, deixar-se fora do campo da consciência por alguns momentos
e, assim, permitir aos sentimentos sua expressão maior (ENGELMANN,
2008, p. 25).

Para reforçar as ideias sobre os processos educativos por meio das artes visuais, há um pensamento
segundo o qual a educação deveria dar mais atenção à leitura e ao desenvolvimento estético,
proporcionando uma formação educativa por meio da arte e visando à liberdade na produção dessa
arte por cada indivíduo.

Essa afirmativa reforça o papel dos professores de todos os segmentos na construção de processos
educativos sobre as artes visuais, de forma que possa combinar imaginação, criatividade e conteúdos
ligados à cultura e aspectos históricos.

Dessa forma, Engelmann (2008, p. 68) completa nos dizendo que “a arte conduz a uma flexibilização
da forma de ver e perceber a realidade e, ao mesmo tempo, estimula a busca pelo aprendizado”. Essa
concepção é a que a maioria dos alunos busca no ambiente escolar.

Figura 36 – Natureza em Chamas, de Aurelice Vasconcelos

Diante de tudo isso que vimos até agora, Timm (2015, p. 157) nos revela que “a arte, como atividade,
no desenvolvimento humano, possibilita a consciência dos sentimentos e das emoções a partir de cada
vivência da atividade artística”.

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Engelmann (2008, p. 71) termina nos dizendo que “quando caracterizadas em seus diferentes
momentos históricos, ajudam a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação
com a própria vida”.

5.3 A linguagem visual da fotografia como recurso pedagógico

Você sabia que a arte é uma forma de criação de linguagens artísticas, como a linguagem visual
e muitas outras? Quando temos a oportunidade de trabalhar com essa linguagem, conquistamos
a oportunidade de sentir o coração e a mente atuando juntos, criando no fotógrafo uma poética
de intimidade.

De acordo com o pesquisador Dubois (2012, p. 348),“de todas as artes das imagens, a fotografia é,
com certeza, aquela em que a representação está ao mesmo tempo, ontologicamente, mais próxima de
seu objeto”. Quem gosta de fotografia sabe que ela é capaz de remeter a histórias e muitos significados
por si só.

A partir da nossa experiência com a Fotografia, sabemos que, por definição, ela é essencialmente a
técnica de criação de imagens por meio de exposição luminosa, fixando-as em uma superfície sensível.

A primeira fotografia reconhecida remonta ao ano de 1826, contudo a invenção da fotografia não é
obra de um só autor, mas um processo de acúmulo de avanços por muitas pessoas, trabalhando, juntas
ou em paralelo, ao longo de muitos anos.

Gostaríamos de compartilhar nossa experiência de como olhar uma fotografia. Em primeiro lugar,
é importante valorizar o salto entre o momento em que o objeto foi clicado e o presente, em que se
contempla a imagem, porém a ocasião fotografada contém o antes e o depois.

A fotografia está ligada à área de Artes Visuais e está relacionada com o poder criativo e estético do
qual o ser humano pode se utilizar para manifestar aquilo que ele deseja que o outro também veja, por
meio do que foi capturado em um determinado momento.

Observação

Artes Visuais na fotografia de natureza é arte do momento, do


instigante, do desequilíbrio provocador, do questionável, da eternização
do fugaz, é a designação dada ao conjunto de artes que representam o
mundo real ou imaginário e que tem a visão como principal forma de
avaliação e apreensão.

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Figura 37 – Pôr do Sol no Cerrado, de Aurelice Vasconcelos

Você já percebeu que tudo o que nos rodeia são imagens? Essas mesmas imagens são as que nos
trazem memórias, percepções e, consequentemente, aprendizados. Esse fato amplia o nosso olhar
para os elementos presentes na visualidade, como cores, formas, linhas, pontos, volume, luz, espaço,
composições e muitos elementos que fazem parte de uma arte visual.

A fotografia pode ser utilizada como ferramenta pedagógica para o ensino de diversas áreas do
conhecimento. Pode, inclusive, contribuir de forma consistente no processo de ensino e aprendizagem.
Imagine a alegria de alguém poder se aproximar de um animal, uma paisagem, uma pessoa por meio de
uma imagem fotográfica. Você pode conhecer, inclusive, as mais diferentes formas de culturas. Você já
teve essa experiência? Como foi?

Figura 38 – Extração da Borracha da Seringueira, de Aurelice Vasconcelos

A linguagem da arte nos permite ver o mundo mostrando-o de um modo próprio e particular,
extrapolando o que é previsível e o que é conhecido. Quando você produz ou contempla uma imagem,
ela provoca sua intuição, a percepção, o sentimento/pensamento e o conhecimento adquirido na vida.
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De acordo a vivência em registrar diversos aspectos que remetem às belezas que tocam e provocam
a experiência estética do fotógrafo nessa construção, como artista, ele percebe e propõe o mundo, a
vida e a própria arte, produzindo imagens únicas, inconfundíveis e insubstituíveis, criando, na verdade,
imagens poéticas.

Saiba mais

Para um melhor entendimento sobre a fotografia da natureza, leia o


livro: VASCONCELOS, A.; MATSUSHITA, R. H.; GENTILINI FILHO, J. S. Vida:
uma poética ao cerrado. Brasília: Senado Federal, 2012. v. 1. 60 p.

Essa obra mostra fotografias do bioma do cerrado com poemas de Cora


Coralina e Reynaldo Jardim.

Figura 39 – Tamanduá-bandeira, de Aurelice Vasconcelos

A fotografia, por meio de seus elementos constitutivos, emprega a vida ao redor do fotógrafo
como agente principal de interesse e atenção por meio de uma representação estética resultante
do processo de criação/construção do mundo, que pode dramatizar ou valorizar esteticamente
seus cenários, de acordo com sua inspiração e seu trabalho artístico, revelando-se como uma
grande estimulação natural à sensibilidade humana por meio da imagem construída de forma a
captar o olhar de forma contempladora.

Para o autor deste livro-texto, a vivência fotográfica é um processo que desencadeia muitas ações
educativas. As imagens são capazes de construir uma base ética e afetiva mínima de sustentação pessoal
e grupal para se alcançar as metas propostas.
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Unidade II

Segundo a pesquisadora e artista Schunck (2006, p. 31),

a arte é efetivamente um meio transversal de sensibilização e diálogo,


apropriado para a Educação, destacadamente para a Educação Ambiental,
capaz de articular diferentes níveis de percepção da realidade, resultando
na expansão de nossas visões de mundo e natureza (SCHUNCK, 2006, p. 31).

Dessa forma, uma imagem fotográfica é capaz de provocar estesia porque nela podemos encontrar
elementos que nos remetem a nossas sensibilidades.

A sensibilidade capta uma forma de sentimento que nos nutre simbologicamente, ampliando nosso
repertório de significações. Adquirimos um conhecimento daquilo que ainda não sabíamos e, por isso
mesmo, transferimos nossa relação sensível com o mundo e as coisas do mundo.

Diante disso, nos cursos de Artes Visuais é evidente o interesse dos alunos em aprender a fotografar.
Eles se sentem despertados a se apropriarem dos recursos que as imagens fotográficas proporcionam.

De acordo com Souza Neto (2010, p. 43), “em todo momento há transferências e contratransferências,
buscas de objetos de desejo imaginários e sonhados, nunca alcançados”. Quando produzimos uma
imagem fotográfica, ela pode se tornar cheia de significados, e podemos transmitir nossa percepção
daquilo que estamos vendo e sentindo.

Figura 40 – Águia-real, de Aurelice Vasconcelos

O contato com a fotografia pode permitir que coisas esquecidas ou nunca vistas sejam percebidas,
educando o sujeito para a imaginação e para um olhar multifacetado que vai além da imagem estática
que se tem.

A linguagem artística como atividade educativa, por sua vez, busca a união de conhecimentos por meio
de um processo dinâmico que favorece a expressão da criatividade e conduz a aprendizagens significativas.

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Por meio da arte, é possível que os indivíduos representem simbolicamente seus conceitos e valores,
favorecendo o exercício da sua imaginação, criatividade e liberdade de expressão.

6 A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA COMO CAMINHO A SER ALCANÇADO NA REDE


POR MEIO DAS ARTES VISUAIS

O termo estética origina-se etimologicamente do grego clássico aisthesis, referindo-se ao


conhecimento sensível, por meio dos sentidos, das sensações. Segundo Engelmann (2008, p. 70),“a
educação pela arte permite uma compreensão da realidade e da cultura e possibilita a cada sujeito a
sua própria experiência estética”.

Diante desse conceito, gostaríamos de trazer muitas reflexões sobre esse tema. Vamos compartilhar
a experiência de uma aula intitulada Cartografias do Sentir, da Pós-graduação em Educação, Arte e
História da Cultura da Universidade Mackenzie, com o professor doutor Paulo Roberto Monteiro de
Araujo (2016).

Ele iniciou a aula nos fazendo refletir com uma frase que ficou durante todo o semestre causando
provocações. Afirmou que o “sentir é um ato, ato constante que nos remete a nós mesmos, aos outros
e ao mundo. Não é por acaso que a estética se remete ao sentir, à sensação como princípio imediato de
apreensão de algo em suas possibilidades significativas”.

A partir dessa ideia, resolvemos fazer um pequeno estudo de caso investigativo sobre a percepção
que as pessoas têm da fotografia. Convidamos um grupo de alunos do curso superior de Fotografia para
participar de uma experiência estética, com o objetivo de verificar se, no fim, uma mediação cultural
havia realmente acontecido, utilizando a linguagem visual da fotografia nesse processo.

Saiba mais

Vale assistir ao documentário sobre o fotógrafo e a essência de


fotografar.

FOTÓGRAFOS Brasileiros – Caçadores da alma – Fotografia e emoção.


Realização: Sílvio Tendler. Brasília: TV Brasil – EBC, 2012.

São vários depoimentos de fotógrafos famosos, como André Liohn,


Anna Kahn, Araquém Alcântara, Christian Cravo, Daniel Kfouri, Jonne Roriz,
Kitty Paranaguá, Luiz Garrido, Mirian Fichtner, Miro, Orlando Azevedo, Paulo
Rubens, Ronaldo Câmara, Vânia Toledo e Willian Lima.

Eles compartilham seus trabalhos com a fotografia, dão dicas e,


principalmente, inspiram bastante. Temos certeza de que você gostará.

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Quando inicia uma pesquisa, a primeira decisão que você precisa tomar é qual tema quer investigar.
Para isso criamos uma pergunta para a qual, posteriormente, você terá uma possível resposta.

Essa é a questão central, que nesse estudo foi a seguinte: ao visualizar fotografias de natureza, os
alunos de graduação do curso superior em Fotografia poderão sinalizar o distanciamento de alguns
pontos da essência da vida e a necessidade do seu religamento?

Em outras palavras, ao visualizarem fotografias de natureza, eles poderão ligar-se às técnicas e aos
desejos mercadológicos, ou poderão manifestar seus sentimentos?

Participaram da atividade e da pesquisa 16 alunos universitários do curso de Fotografia, dos quais 14


do sexo feminino e 2 do sexo masculino. A idade variou entre 19 e 34 anos de idade.
Sexo (16 respostas)
A)
Feminino
Masculino
12,5%

87,5%

Idade (16 respostas) 6%


B) 6,5%
12,5% 19-20
6% 21-22
12,5% 23-24
6,5%
25-26
12,5% 27-28
29-30
37,5% 31-32
33-34

Figura 41 – Quadro estatístico relacionado à distribuição dos participantes da pesquisa:


A) conforme o sexo; B) conforme a idade

Para realizar o estudo, apresentamos cerca de 50 imagens fotográficas retratando o bioma do


cerrado brasileiro, por meio de uma narrativa visual, buscando a aproximação entre os sujeitos e as
imagens apresentadas.

Em seguida, distribuímos um questionário com perguntas abertas sobre “Sentimentos que a


fotografia de natureza provoca”.

O desafio foi perceber se eles ficaram presos a técnicas, já que estavam em uma instituição
que oferece uma formação técnica em fotografia, necessitando entrar no mercado competitivo,
global e controlador.
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Sabe qual foi o resultado?

Os alunos revelaram que por meio da mediação de fotografias de natureza eles conseguiram fazer
uma leitura de si e do mundo, resgatando sentimentos, pensamentos e redescobrimentos sobre a
necessidade de religamentos.

Figura 42 – Lobo-guará, de Aurelice Vasconcelos

Quando escolhemos e utilizamos a linguagem visual fotográfica, buscamos a referência da


fenomenologia. Você lembra que no início do tópico abordamos esse tema? Agora vamos falar um
pouco mais sobre os pensadores dessa teoria.

Escolhemos a fenomenologia porque ela pode revelar o que se manifesta de forma oculta no
ente que é o homem. O ser mora na casa da linguagem. Na linguagem, inclusive visual, tudo se
revela e se esconde.

O desejo de compartilhar essa experiência torna-se uma referência para pensarmos nas
possibilidades que as artes visuais podem proporcionar para alcançar experiência estética por
meio, inclusive, de redes sociais.

6.1 O uso de imagens fotográficas como sentido de mundo por meio da


fenomenologia

Agora que você já tem um pouco mais de entendimento sobre a fenomenologia, abordaremos essa
teoria com base na relação que ela tem com o estudo das imagens. Segundo os estudos, é um termo
que veio do grego phainesthai – aquilo que se apresenta ou que mostra – e logos– explicação, estudo.

Os autores que trabalham com essa abordagem afirmam a importância dos fenômenos, que são a
essência e sua significação.
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Diante da importância de trazer para o campo acadêmico autores e leituras acerca de estudos sobre
a imagem, acreditamos apresentar a referência de autores que trabalham com a fenomenologia como
possibilidade metodológica e teórica muito presente nos estudos de imagens.

Para melhor entender o mundo das aparências e dos objetos, apresentamos Husserl, que apresenta a
fenomenologia como a identificação dos aspectos da percepção dos objetos, do que é percebido ou do
modo de percebermos os objetos.

Para Merleau-Ponty – que vimos no início – são muitas as definições de fenomenologia. Ele fala dos
estudos das essências e depois estabelece uma filosofia que recoloca as essências na existência.

Ele afirma, ainda, que é uma filosofia para a qual não se pode compreender o homem e o mundo
senão a partir de sua facticidade. Considera, também, a fenomenologia uma filosofia transcendental,
para se compreender as afirmações da atitude natural.

Fenomenologia é também a tentativa de uma descrição direta de nossa experiência tal como é, sem
levar em conta a sua gênese psicológica e as explicações causais do cientista.

Um outro grande pensador referência da fenomenologia é Heidegger (1989, 2012). Ele nos diz que
a essência do homem depende de sua relação com o ser, não de algum tipo de racionalidade. Para ele, a
fenomenologia está ligada à essência do homem, que é a relação com o ser. Ele afirma que o homem é
como o “pastor do ser”, que guarda e escuta o ser.

Heidegger se refere ao mundo como o conjunto de coisas utilizáveis e, também, faz referência a
como se dá a relação entre ser-no-mundo e ser-com-os-outros. O ser das coisas equivale ao seu ser
utilizado pelo homem.

O que é interessante para Heidegger é que o homem, portanto, não é um espectador do grande
teatro do mundo, ou seja, o homem está no mundo, envolvido nele, em suas vicissitudes.

Lembrete

Fenomenologia (do grego phainesthai – aquilo que se apresenta ou que


mostra – e logos – explicação, estudo) é o estudo dos fenômenos. Afirma a
importância dos fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados
em si – tudo o que podemos saber do mundo resume-se nesses fenômenos,
nesses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma
palavra que representa a sua essência, sua “significação”. Os objetos da
Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o
propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades
objetivas que correspondem a elas (noema).

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ARTES VISUAIS NA REDE

Essa ideia pode ser identificada nas falas de muitos universitários que estudam a fotografia.
Compartilharemos os pensamentos e as ideias desses alunos.

Uma futura fotógrafa diz: “nunca tive uma câmera boa para registrar esses momentos. Mas
já acampei, já fiz trilha, passei por bons momentos dentro de matas, mas sem uma boa câmera
para registrar”.

As coisas – nesse caso, a natureza – , são sempre instrumentos que satisfazem um prazer estético,
mas, se as considerarmos úteis, poderão ser vistas objetivamente, ou seja, tendo como fundo um projeto
pessoal para que a pessoa possa utilizar.

O homem compreende uma coisa quando sabe o que fazer dela, do mesmo modo que compreende
a si quando sabe o que pode fazer consigo, isto é, quando sabe o que pode ser, como vemos em: “sim,
gosto bastante de fotografar plantas, insetos e paisagens”.

“A macrofotografia é incrível e eu gosto de usá-la”. A universitária completa a fala dizendo: “sou


apaixonada por fotos de fungos e passo muitos finais de semana enfiada nos meios de mato me sujando,
deitada no solo da mata para registrar pequenos cogumelos”.

O ser-no-mundo do homem expressa-se, também, pelo cuidar das coisas. Nesse caso, a fotografia de
natureza é vista da seguinte forma: “acho que é um foco para mim. Acredito que posso colaborar muito
com o conhecimento daquilo que precisamos saber sobre toda a natureza e o mundo animal”. Expressa
ainda a necessidade de manifestar esse cuidado como responsabilidade de todos, visto na seguinte fala:
“amo a natureza e gostaria de chamar a atenção para ela”.

Figura 43 – Flores do Cerrado, de Aurelice Vasconcelos

Já o seu ser-com-os-outros manifesta-se pelo cuidar dos outros, coisa que constitui a estrutura
fundamental de toda possível relação entre os homens. Trazemos um exemplo que remete a essa
interação com o outro, despertando assim essa relação do cuidado:

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Unidade II

Alegria por saber que apesar dos problemas que o planeta está
enfrentando, ainda existem animais, flora, fauna. Gratidão por poder
partilhar tanta beleza e ousadia. A leveza de sua voz me fez viajar nas
imagens e percebi que sou pequena, ao observar o que a fotografia pode
proporcionar para a humanidade, permitindo assim, a conscientização
de se preservar o meio ambiente.1

O cuidar dos outros pode assumir duas vertentes.

Na primeira, procura-se subtrair os outros de seus cuidados. Entendemos esse cuidado como a
existência de algo vivo, e não como uma manutenção de zelo, como no seguinte exemplo: “me emociono
ao saber que alguns animais estão em extinção. Fico muito curioso pela natureza, todas as espécies, a
fauna e a flora”.

Outro exemplo que completa a ideia que vimos anteriormente, de que as imagens proporcionaram:
“sentimentos ótimos de amor, respeito e proteção, pois é justamente essa a área que quero seguir, pois
desde pequena fui ensinada a gostar e respeitar a natureza. Eu amo e tenho paixão por tudo isso”. Nesses
casos, temos subtendido um estar junto, mesmo sendo por meio de imagens fotográficas, e estamos
diante de uma forma inautêntica de coexistência.

Na segunda vertente, procura-se ajudá-los a conquistar a liberdade de assumir seus próprios


cuidados. Percebemos em algumas falas tais situações, em que as imagens trazem “paz, calma, admiração,
liberdade, a sensação de união com o mundo, unidade e, principalmente, o desejo de estar presente nas
situações mostradas”.

Nesse caso, temos um autêntico coexistir, despertando inclusive o transcendente, como na seguinte
fala, em que as cenas “me refletem sentimentos de esperança, conquista e eterna paz. Pois não tem como
não perceber Deus nos detalhes de sua criação”. Em outras palavras, a pessoa foi capaz de identificar no
objeto uma abrangência de outras categorizações possíveis.

Saiba mais

Assista ao documentário:

THE PHOTOGRAPHERS. EUA: National Geographic, 1996. 55 minutos.

Trata-se de um ótimo documentário com entrevistas e visionamento do


trabalho de alguns dos mais conceituados fotógrafos da atualidade.

1
Voz da pesquisadora Aurelice Vasconcelos narrando o texto “Sinta o Cerrado”, em palestra na Universidade Paulista – UNIP,
em 17-3-2016.

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ARTES VISUAIS NA REDE

Figura 44 – Amanhecer, de Aurelice Vasconcelos

O homem não pode reduzir-se a simples objeto, ou seja, a simples estar-presente. O modo de ser do
homem é a existência, e a ela se atribui o poder-ser. Podemos citar a seguinte fala como reflexão desse
pensamento: “Despertaram sentimento de paz, e que a vida é muito mais do que a cidade grande. Nos
mostra sentimento de que somos tão pequenos nessa imensidão e diversidades de seres vivos”.

Poder-ser, porém, significa também projetar, como nesta fala: “não saberia bem como explicar, mas
sentimentos bons de realidade, de como estivesse ali naquela cena”.

Já para Merleau-Ponty o mundo não é aquilo que pensamos, mas aquilo que vivemos. Podemos
observar isso no seguinte exemplo: “Sempre que posso vou ao ecológico ou ao Jardim Botânico
fotografar e, também, fui a Brejões (Bahia). Um lugar muito belo e calmo. Foi uma experiência incrível,
e pretendo voltar para lá sempre que puder”.

O estudioso afirma que o homem deve estar sempre aberto ao mundo e se comunicando
indubitavelmente com ele, mas não o possuindo, pois ele é inesgotável, como é visto na fala em que as
imagens de que o estudante mais gostou foram as “fotografias das aves e onças, pelas cores e sensação
de movimento, principalmente, da onça toda preta e olhos brancos, passa um ar de mistério e ao mesmo
tempo medo e respeito”.

Dessa forma, podemos dizer que o sentido surge de nossa relação com o mundo e com os outros,
como vemos na seguinte fala: “Eu viajo muito para o Nordeste a passeio, e sempre carrego minha
câmera comigo. Então quando vejo uma cena perfeita de natureza não deixo de registrar”.

A fala, ainda, mostra outras relações do cotidiano, como: “é na janela do meu quarto [que] dá para
ver o céu bem aberto e limpinho, então não deixo de fotografar a luz do dia e da noite”.
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Unidade II

Com a intenção de percebê-lo, o ser humano intui algo sobre ele, imagina-o em toda a sua plenitude
e será capaz de descrever o que ele realmente é. Isso pode ser notado na seguinte fala: “eu gostei mais
da águia [...] pois amo a águia, pois ela enxerga lá na frente e quando precisa tocar o pico se guarda, eu
me vejo com algumas características dela”.

Continua a descrição: “com os galhos com o céu, é porque também amo a composição de galhos,
reflete algo rústico. E o céu estrelado porque toda vez que olho para o céu eu vejo Deus e sua grandeza”.

6.2 Sentimentos que a fotografia de natureza provoca

Para falar sobre os sentimentos que a fotografia de natureza desperta nas pessoas, compartilhamos
com vocês o pensamento da professora Masini (2012). Ela nos ensina que para compreender a percepção
é necessário considerar o sujeito da percepção e saber de sua experiência perceptiva, bem como estar
atento às suas formas próprias de explorar e perceber.

Figura 45 – Gato-do-mato, de Aurelice Vasconcelos

Um exemplo dessa ideia é quando foi perguntado de qual foto o estudante mais gostou, e a resposta
foi: “no caso da onça causa um certo medo, pois em todas as fotos eu me imagino no local, e se eu
estivesse lá naquele momento estaria morrendo de medo, nem sei se seria capaz de fotografar, assim
como a foto da harpia, uma ave enorme, maior do que eu, me encarando”. Quando descreve a foto: “do
céu me transmite calma e beleza”.

Ao ver imagens fotográficas, algumas pessoas demonstraram estar mais ligadas no processo técnico
do que na essência do resultado das imagens, caso da seguinte manifestação do sentimento que a
fotografia trouxe: “tristeza por pensar que talvez não seja boa suficiente para chegar nesse nível”. Nesse
caso, Heidegger (1989, 2012) nos diz que o homem é dotado de racionalidade, porém não é isso o que
define a sua essência.
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ARTES VISUAIS NA REDE

Verificaram-se, ainda, outras perturbações em relação à técnica fotográfica. Uma fala revela a
apreciação por imagens “que têm pouca profundidade de campo”. Por fim, outra fala revela que o
estudante não possui interesse em fotografias de natureza, “porque gosto de algo mais interativo,
agitado, comunicativo”.

Merleau-Ponty afirma que as criações humanas são derivadas de um processo natural de informação,
mas concebido com base no modelo das máquinas humanas.

O homem se torna de fato o manipulandum que julga se entramos num regime de cultura em que
não há mais nem verdadeiro nem falso no tocante ao homem e à história, num sono ou num pesadelo
dos quais nada poderia despertá-lo.

Figura 46 – Flor amarela, de Aurelice Vasconcelos

Em contrapartida, foi possível notar que o interesse pela técnica desperta sentimentos, como na
fala: “adrenalina, pois desperta a emoção de ver essas fotos faz com que nos desperte interesse em saber
como foi feita aquela foto e também ficamos interessados em aprender as técnicas para esse tipo de
foto”.

Em outra fala, essa questão também ficou visível: “Nunca tive [vontade de fotografar a natureza],
nunca me despertou o interesse, porém depois dessas imagens bateu a vontade de fotografar”.

A perplexidade diante do mundo trouxe o desejo de ver um outro mundo e o anseio constante
de reaprender a ver este mundo, como é visto na fala em que a fotografia despertou “leveza, paz e
tranquilidade [...]”. O estudante visualizou “um lugar no qual não existe a maldade, a ganância humana,
de algo que precisa ser preservado, pois é muito belo e cativante”.

Devemos nos implicar e saber que há coisas para se ver e se dizer, como na seguinte fala, em
que a pessoa se implicou enquanto fotógrafa e relata que as imagens foram “gratificantes, pois foram
momentos sutis, mas que se não tivesse o momento decisivo e um pouco de esforço próprio não teria
tais experiências”.
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Unidade II

Outra fala remete a essa implicação prática sobre suas práticas, em que diz: “só fotografei parques,
mas me trouxe leveza e vontade de aprender cada vez mais”.

A fenomenologia vem para fazer que reaprendamos a ver o mundo e busquemos formas para até
nos curarmos, como foi o caso em que “o contato com a natureza foi uma forma que arranjei de lidar
com a ansiedade e a depressão, e poder compartilhar essas imagens é gratificante”.

Podemos observar o esforço que o homem faz para se recuperar.

6.3 O reencantamento como possibilidade de enraizamento

Trazemos mais um texto bem interessante para compartilhar, que são os escritos de O olho e o
espírito, de Merleau-Ponty.

O que mais chamou a atenção foi a forma de ele falar sobre a arte, que é o que estamos abordando
sobre a fotografia como linguagem visual artística.

Um fato muito interessante nesse texto é a entrega do artista, que oferecendo seu corpo ao mundo
transforma esse mundo em arte.

O principal ponto identificado é que ele define, na fenomenologia, o corpo como seu território de
percepção de si e do mundo.

Muitas falas retrataram essa percepção, como podemos ver nas seguintes: “me despertou o
sentimento de amor, de cuidado e carinho e delicadeza”; “Um sentimento forte é o de agradecimento”;
“Alegria, paz, surpresa”; “Despertam um sentimento de paz e ao mesmo tempo de vida”.

Figura 47 – Caligo de Olho em Você, de Aurelice Vasconcelos

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ARTES VISUAIS NA REDE

Merleau-Ponty afirma ser preciso que, com o corpo, despertem os corpos associados, os “outros”,
que não são congêneres, como diz a zoologia, mas que frequentam esse corpo e são frequentados por
ele, com os quais o corpo frequenta um único Ser atual, presente, como animal nenhum frequentou os
de sua espécie, seu território ou seu meio.

Várias falas demonstraram que os estudantes foram despertados, ao ver as fotos: “me deixou mais
inspirada, curiosa e com vontade de ter muitas experiências do tipo”.

Uma das coisas que mais surpreenderam foi o resgate do interesse de continuar no campo acadêmico,
como podemos verificar na seguinte fala: “Gostei muito da palestra e de conversar com a professora
Aurelice, me fez recuperar um pouco do ânimo que a faculdade tirou”.

O mundo fenomenológico, para Merleau-Ponty, não é o ser puro, mas o sentido que ele dá para
aquilo que interage e manifesta o desejo de “ter a experiência, é lindo de ver essas imagens, captar algo
que você tenha que contar uma história através de uma foto”.

Merleau-Ponty fala da retomada de experiências passadas do sujeito em experiências presentes e da


experiência do outro nas próprias.

Nós temos em mãos nossa sorte, tornamo-nos responsáveis por nossa história por meio da reflexão,
mas também por uma decisão em que engajamos nossa vida; nos dois casos, trata-se de um ato violento
que se verifica ao se exercer.

Figura 48 – Onça-pintada, O Maior Felino Brasileiro, de Aurelice Vasconcelos

Esperamos que você tenha gostado de conhecer o que é a fenomenologia e como é possível revelar
esse mundo vivido antes de ser significado, mundo onde estamos, solo de nossos encontros com o outro,
onde se descortinam nossa história, nossas ações, nosso engajamento, nossas decisões.

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Unidade II

Para Heidegger (1989, 2012), a essência do homem é relação com o ser, pois o ser o chama, dispõe e
determina o homem a querer, a agir, a pensar ou a raciocinar. O homem é exclusivamente espaço livre
para a presença do ser. O ser interpela o homem, e este deve responder às suas interpelações.

Terminamos com as palavras de Heidegger: “o homem é o pastor do ser”. O homem deve guardar a
verdade de si.

A imagem do homem como pastor retrata o cuidado para com o seu ser e, ao mesmo tempo, a
consciência daquilo que o próprio homem deve se tornar como ser-no-mundo.

O homem, no que ele tem de específico, depende do ser. Já o ser, pelo contrário, é voltado para
o que ele tem de específico para a essência do homem. O ser desvela a essência do homem por meio
dessa relação.

Saiba mais

Assista ao filme:

AS PONTES de Madison. Dir. Clint Eastwood, EUA: Malpaso, 1995. 135


minutos.

O filme nos traz um enredo inspirado em um fotógrafo da National


Geographic que vive um romance, em uma pequena cidade rural, com uma
mulher que apresenta as pontes da sua região.

Resumo

Nesta unidade percebemos a relação da Educação com a rede e como


o educar está se transformando para acompanhar as mudanças técnicas e
tecnológicas do novo sistema de ensino conectado.

Vimos que os textos estabeleceram um diálogo, abordando a relação


entre as artes visuais e a educação, as mídias sociais e as imagens.

O assunto foi dividido em subtemas para melhor exploração dos tópicos.


Você encontrou um assunto muito próximo da vida de todos nós: A Escola
e a Educação no Mundo Hiperconectado. Descobriu a razão do papel da
educação para o processo de ensino e aprendizagem em Artes Visuais.

Sabemos que são muitas as artes que consideramos visuais. Nesta


unidade, apresentamos uma parte para aprofundamento, que é a Linguagem
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ARTES VISUAIS NA REDE

Visual da Fotografia como Recurso Pedagógico. Tudo isso para que você
tivesse uma melhor compreensão da experiência estética como caminho a
ser trilhado na rede por meio das Artes Visuais.

Nessa experiência, exemplificamos o trabalho de fotografia de


natureza, nas Artes Visuais, e como, por meio da rede, podemos usufruir do
ensinamento da arte, com a divulgação de portfólio e do compartilhar de
conhecimento.

Exercícios

Questão 1. Considere a charge e o texto e analise as afirmativas a seguir e a relação proposta entre elas.

Disponível em: <http://kdimagens.com/imagem/formacao-google-1557>. Acesso em: 7 jun. 2018.

Pesquisa escolar na internet preocupa

17 de março de 2015

Professores precisam ensinar que nem tudo é verdade nos sites

Em meados da década de 1990, a internet começou a se popularizar no Brasil. Entre tudo o que a
nova ferramenta tinha a oferecer, um dos principais atrativos à época (e ainda nos dias atuais) era a
facilidade em obter informações sobre tudo, dos mais variados assuntos. Parecia o fim de uma era de
pesquisas escolares em enciclopédias, livros de história, jornais e revistas antigos, das visitas a sebos e
também a bibliotecas.

E a internet, para a geração seguinte, acabou se tornando o principal meio de pesquisa para
trabalhos escolares. E, para muitos, provavelmente o único. No entanto, Francisca Romana Giacometti
Paris, pedagoga, mestra em Educação, avalia que a internet deve ser encarada apenas como mais uma
ferramenta de pesquisa para os alunos, mas com ressalvas.

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Unidade II

“Devemos apenas lembrar de que nem tudo o que está na internet é verdadeiro. Há muitas
informações falsas, equivocadas. Ou seja, deve haver muito cuidado no que se pesquisa. É sempre bom
confrontar as informações buscadas na web com outras fontes também”, sugere. Sobre o fato de que,
em determinados casos, muitos alunos optam apenas por se dar ao trabalho de copiar e colar os textos
que encontram na internet, sem realizar verdadeiramente uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema
proposto em sala de aula, a pedagoga acredita que este não é um problema exclusivo da internet.

“Antigamente, os alunos copiavam a mão páginas e mais páginas de enciclopédias, por exemplo.
Cabe aos educadores buscarem uma forma de identificar e de coibir essa prática. Mas, acima de tudo,
de despertar nos alunos o real sentido e interesse pela pesquisa”, diz. “Pesquisar é muito mais do que
dar control C mais control V. Esse seria só o começo de uma pesquisa. Depois de coletadas e checadas
as informações, tratar analiticamente os dados obtidos à luz de um referencial é verdadeiramente
pesquisar”, completa a especialista.

A recomendação é também para que os professores não atuem somente nas duas pontas, a de pedir
que os alunos façam o trabalho e, por fim, apenas a de avaliar o que foi feito, dar a nota à pesquisa
apresentada. “É importante que os professores busquem acompanhar todo o processo, orientando os
alunos sobre qual caminho seguir, com dicas de obras e bibliografias, entre outras maneiras que possam
colaborar com o trabalho que está sendo desenvolvido pelo aluno e também incentivá-lo nessa tarefa”,
diz a diretora de serviços educacionais da Saraiva.

Francisca acredita que para realizar uma boa pesquisa escolar o aluno deve selecionar o maior número
possível de informações a respeito, ler com muita atenção tudo o que conseguir encontrar e interpretá-las
da maneira mais crítica possível. “E, principalmente, é importante que o texto seja redigido pelo próprio
aluno, com uma linha de raciocínio muito clara, apresentando com o máximo de lucidez o que está sendo
discutido, suas ponderações a respeito e qual foi sua conclusão sobre o tema”, enumera a pedagoga. E,
lógico, que o aluno busque também trabalhar com outros meios de pesquisa, além da internet.

Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/33046/pesquisa-escolar-na-internet-preocupa/>.


Acesso em: 7 jun. 2018.

I – A charge e a matéria indicam que a internet tem papel importante na formação dos estudantes
atualmente, pois ela se constitui como uma fonte de pesquisa muito presente no dia a dia.

Porque

II – Para a pedagoga Francisca Romana Giacometti Paris, a pesquisa deve ir além da simples cópia,
pois o aprendizado exige a reflexão a partir das informações obtidas, seja na rede, seja em outros meios.

Assinale a alternativa correta.

A) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.

B) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.

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ARTES VISUAIS NA REDE

C) A primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa.

D) A primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira.

E) As duas afirmativas são falsas.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das afirmativas

I) Afirmativa correta.

Justificativa: a charge mostra o sujeito “formado” pelo Google e a matéria discorre sobre o uso da
internet nas pesquisas escolares.

II) Afirmativa correta.

Justificativa: a pedagoga alerta para o fato de que é necessário recolher informações (preferencialmente
também em outros meios, além da internet), ponderar sobre elas e redigir um texto autoral.

As duas afirmativas são verdadeiras, mas não há relação de causa e efeito entre elas.

Questão 2. Observe a fotografia a seguir, de Sebastião Salgado, produzida na região amazônica e


analise as afirmativas.

Disponível em: <https://hypescience.com/genesis-trabalho-de-sebastiao-salgado-e-exibido-em-londres/>. Acesso em: 7 jun. 2018.

I – A fotografia, apesar de expressiva, não apresenta características artísticas, pois é produzida por
meio de tecnologia e não estimula a consciência perceptiva.

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Unidade II

II – A fotografia em questão mostra, por meio de linguagem poética, a integração entre as


comunidades locais e a natureza.

III – A ausência de cores na fotografia prejudica a dimensão estética da imagem e torna seu efeito
menos impactante.

É correto apenas o que se destaca na(s) afirmativa(s):

A) Todas as afirmativas estão corretas.

B) I e II.

C) II e II.

D) I e III.

E) II.

Resposta desta questão na plataforma.

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