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NAÇÃO HAUSSA

Breve Resumo
Os hauçás, haussás ou haúsas, também conhecidos pela grafia inglesa
hausa, são um povo do Sahel africano ocidental que se encontra principalmente no
norte da Nigéria e no sudeste do Níger. A língua dominante é o haussa. O povo
nativo desse local teve uma mescla de uma grande onda migratória vinda do norte e
do leste. A tradição oral refere-se à cidade-mãe Daura, que teria dado origem às
“sete cidades” históricas: Kano, Zaria, Gobir, Katsina, Rano, Biram e Daura. A
organização política administrativa se dava por pequenas comunidades locais que
se formavam por grupos de famílias dirigidos por um chefe, sendo que a economia
se baseava na agricultura e no artesanato seguido do comércio. A religião é na sua
maioria o islamismo. Muitos Hauçás vieram para o Brasil através do tráfico negreiro.
Porém, muitos ainda permanecem em pequenos vilarejos trabalhando com a
agricultura e a pecuária.

O território

O povo Haussa habitava a área que ia desde os montes Air (norte), até o
planalto de Jos (sul), da fronteira do antigo reino de Bornu (leste), até o vale do
Níger (oeste). Desde tempos muito antigos, era a única língua indígena conhecida,
o território era chamado de Kasar hausa, que quer dizer, território de língua haussa.
(ADAMU, 2010, p. 299)

Segundo Alberto da Costa e Silva (2011, p. 457), por volta do século XI, já
havia várias comunidadesque habitavam esse território. Os Haussas habitavam o
Sudão Central principalmente, o norte da Nigéria e sudeste do Níger. Eram grupos
que compartilhavam da mesma língua e mantinham contatos com outros povos,
alguns destes, fornecendo elementos que se tornaram parte da civilização haussa.

De acordo com Guy Nicolas, “por falar a mesma língua, observar os mesmos
costumes, obedecer às mesmas instituições políticas, os Haussa formam um dos
grupos étnicos mais importantes da África. Atraídos por sua cultura, muitos povos
vizinhos abandonaram a própria língua e seus costumes para fazer parte dos
Haussa”. (Apud ADAMU, 2010, p. 300)
Abaixo temos a representação da localização desse território.(ADAMU, 2010,
p. 323)

“A lenda popular sobre a origem dos Haussa evoca a partida do príncipe


Bayajida de Bagdá para oeste, em direção ao Kanem-Bornu. Ali, o mai(rei)
deu-lhe a mão da filha em casamento, mas privou-o da escolta. Com medo
do mai, Bayajida fugiu novamente para oeste, chegando, algum tempo mais
tarde, a uma cidade cujos habitantes eram impedidos de alcançar a água por
uma serpente chamada sarki(chefe). Com sua espada, o príncipe matou a
serpente; como recompensa, Daura, a rainha local, esposou-o e também
deu-lhe uma concubina gwari. Do casamento com Daura, nasceu-lhe um filho
chamado Bawogari; a concubina deu-lhe outro menino, que foi denominado
Karbogari ou Karafgari (conquistador de cidades). A cidade passou a se
chamar Daura. Bawogari, que sucedeu o pai, teve seis filhos, três pares de
gêmeos, que se tornaram chefes de Kano e Daura, Gobir e Zazzau (Zegzeg
ou Zaria), Katsina e Rano; juntamente com Biram, governado pelo filho que
Bayajida teve com a princesa de Bornu, estes Estados formaram os
hawsabakwai, os sete (Estados) haussa. Os filhos de Karbogari também
fundaram sete Estados: Kebbi, Zamfara, Gwari, Jukun (Kwararafa ou
Kororofa), Yoruba, Nupe e Yawuri, chamados de banza bakwai, os sete
bastardos ou os sete imprestáveis.” (ADAMU, 2010, p. 303-304)

Estrutura político-administrativa  

Os primeiros haussas viviam em pequenas aldeias ou comunidades onde


cada linhagem tinha seu chefe. Alguns poderiam desfrutar de certa superioridade
aos demais por considerarem-se descendentes do fundador. Assim alguns foram
concentrando mais poder que outros. Essas aldeias foram se expandindo,
recebendo e fixando-se novas pessoas, com isso, foi se aumentando o poder e
algum chefe ia assumindo um caráter de príncipe enquanto os demais chefes da
família iam constituindo uma nobreza.(SILVA, 2011, p. 458-459)

Umas aldeias cresciam mais do que outras, foram tornando-se maiores e


sobrepondo-se às menores. Uma das características da ascensão de uma aldeia
era a construção de murros para se proteger de ataques. As aldeias tinham um
chefe, as vilas, maiores, tinham o chefe da vila. Havia também o chefe do território.
O rei tinha poder absoluto e caráter sagrado, estando à frente do país.  Apesar de
haverem diferenças regionais, a organização política seguiu um padrão semelhante,
“[...] o sistema administrativo surgiu nos Estados haussa, desde o século XIV,
testemunha a influência do Kanem-Bornu, de onde vieram os modelos de muitas
instituições e funções [...].” (ADAMU, 2010, p. 329)

Com o crescimento das cidades apareceram Estados centralizados como


centros do poder político, cada um com suas características, e sua importância
variou com o tempo. Podemos citar alguns desses Estados como Kano, Katsina,
Rano, Gobir, e outros.

De acordo com a lenda Kano e Rano tornaram-se sarakunanbabba (os reis


do índigo), pois sua principal ocupação era a produção e tintura de tecidos; Katsina
e Daura foram denominadas sarakunankasuwa (os reis do mercado), pois todo
comércio concentrava-se nestas cidades. Gobir era sarkinyaki(o rei da guerra), e
sua função era a de defender as outras cidades contra os inimigos do exterior;
Zazzau (Zegzeg ou Zaria) tornou-se sarkinbayi (o rei dos escravos), pois fornecia
mão de obra servil às outras cidades haussa. (ADAMU, 2010, p. 304)

A vida econômica dos Haussas

Segundo Adamu, os Haussas se desenvolveram economicamente devido as


suas jazidas de minério de ferro que eram ricas e bem distribuídas. A qualidade do
seu solo foi outro fator determinante, pois na sua totalidade era rica e fértil. Dessa
forma, a agricultura era a atividade econômica mais importante dos Estados
Haussas (2010, p.331).

O território era bastante povoado, porém a população não se concentrava


demograficamente em uma região do país. A localização geográfica do território,
entre o Sahel e o Saara ao norte, a savana e a floresta tropical ao sul; podia, desta
forma, ser intermédio de mercadorias entre estas regiões. Devido a esses fatores, o
território haussa logo desenvolveu o artesanato e o comércio de longa distância.

A agricultura era o centro da vida econômica do país. A terra era utilizada


sobre a supervisão de um chefe da comunidade (aldeia, vila, cidade). Nunca era
vendida, e seu usufruto cabia aos que a cultivavam. O agricultor (talaka) era dirigido
em suas atividades por um chefe de culturas (sarkin poma), responsável pela
observação rigorosa do início da estação das chuvas e pelos sacrifícios a serem
feitos aos deuses locais, para que se assegurassem boas colheitas (ADAMU, 2010,
p.332).

 Com o tempo foram existindo três tipos de fazendas as


gandumsarkin(campos do rei), caracterizadas por grandes extensões; as
gandumgide(campos de família), chamados geralmente de gona(nome genérico
para todos os campos), e finalmente a gayaunaougayamma(pequeno lote de terra
pertencente a um indivÍduo) (ADAMU, 2010, p.332).

No artesanato graças a divisão do trabalho e a especialização, desde bem


antes do século XIV alcançou-se um nível de produção relativamente alto, sendo, a
indústria têxtil a ocupar o primeiro lugar. O trabalho em metal era também um
artesanato muito antigo. Além desses, temos também a cerâmica que fornecia
recipientes necessários para a conservação de líquidos e cereais. Grande parte das
atividades artesanais eram controladas pelos guildas, que tinham um chefe
escolhido pelo rei com o objetivo de arrecadar tributos. Porém o local preferido para
os intercâmbios comerciais era o mercado, aonde se vendia de tudo.

As principais unidades monetárias eram feitas de algodão. No século XV


quando se inicia a transformação da economia do território, os haussas começaram
a desenvolver seus negócios e assumiram algumas rotas, principalmente as que
levaram ao sul. O comercio fluía em várias direções, aproveitando a localização
geográfica do território e a diversidade de produtos carentes em outras regiões.
Como aponta Adamu, as principais mercadorias do comércio haussa podem ser
classificadas de acordo com o seu local de origem: existiam produtos locais-artigos
de algodão, couro e artigo de couro, produtos agrícolas (principalmente o milhete-
destinado aos oásis do Saara), almíscar de algalha, penas de avestruz e
provavelmente borracha; produtos da África setentrional (e, em parte, da Europa)-
objetos de metal, armas, cavalos, pérolas, artigos de vidro e vestimentas de luxo;
produtos do Saara – barras de estanho, das minas de Takdda (Azeline), sal e natro
de bulma e de outras minas de sal do Saara. Os principais centros do comércio de
sal eram Agadez e Gobir; produtos do sul o principal produto importado eram os
escravos vítimas de incursões ou tributos pagos pelos países vizinhos. Exerciam
vários papéis, sendo usados como moeda ou mercadoria, domésticos, soldados,
guardas, mão de obra agrícola e artesanal. O segundo produto comercializado era a
noz de cola. (ADAMU, 2010, p.335-336)

A fé e religiosidade dos Haussas

As crenças religiosas dos haussas de então, deviam ser diferentes daquelas


que hoje professam as minorias de grupos que se renderam ao islamismo. Como os
outros povos africanos, acreditavam num deus supremo, distante do mundo e dos
homens, chamado Ubanjiji, e num grande número de espíritos, denominados
iscóquis, que determinavam cada aspecto da vida e conduziam o destino dos seres.

Todos os rituais foram se extinguindo e muitos mitos foram incorporados ao


islamismo.Existem diversas explicação para a difusão do islamismo no território
haussa.Uns afirmam que foram os mercadores e missionários mandigas que
introduziram na Hauçalândia o islamismo, ficando num primeiro momento restrito a
aristocracia. Os artesãos e os camponeses continuaram praticando os cultos
africanos, mais ligados ao cultivo da terra, ainda que mesclados com o islamismo.

Segundo a tradição, o Islã foi trazido para o território por Hausa


MuhommadAl-Maghili, um clérigo islâmico, professor e missionário, chegou de
Bornu no final do século XV. A islamização inicial foi muito lenta e gradual,
principalmente através de profetas, peregrinos e comerciantes. Durante séculos eles
viveram o Islã e as práticas religiosas tradicionais. No entanto, a partir do início do
século XIX, sob pressão Fulani, acelerou-se o processo de islamização
desaparecendo à prática das crenças antigas.

 Outra tese afirma que o movimento islâmico foi propagado por Osman Dan
Fódio, sendo um estudioso fervoroso do islã, pregava a volta do verdadeiro
islamismo. Essa doutrina permitiu ao movimento renovador consolidar a liderança
sobre as massas camponesas e artesãs angustiadas com as possibilidades de ser
reduzidas à escravidão. Este movimento acabou em 1811, com a completa vitória
de suas tropas. O seu expansionismo não se limitou aos territórios haussas.

Outra explicação foi encontrada na Crônica de Kano, que segundo a qual o


Islã teria sido introduzido em meados dos séculos XIV pelos Jula, vindos do Mali,
durante o reinado de Kano. Apesar de se tratar do primeiro testemunho escrito da
religião muçulmana no território haussa, é mais do que provável que a sua difusão
já se tivesse iniciado em época bem anterior, pois era praticada no Kanem – Bornu
desde o século XI.

Independente do fato de se saber qual das datas, é certo que o Islã foi
introduzido bem antes no território haussa, pelo Kanem – Bornu ou por Osman Dan
Fódio. Não se pode descartar a possibilidade de negociantes muçulmanos
provenientes do oeste ( Mali e Songhai) terem se difundido entre os comerciantes e
parte da elite dirigente haussa, antes da chegada dos Wangarawa – eruditos e
missionários muçulmanos imigrantes -, que mais tarde contribuíram para instaurar
uma tradição islâmica mais forte e extensa que  motivou a propagação de novas
ideias políticas, sociais, culturais e o desenvolvimento e a capacidade de ler e
escrever na Hauçalândia. Estes fatores contribuíram, por sua vez para melhorar a
administração do Estado, e também para aperfeiçoar várias práticas comerciais.

Os haussas islamizaram-se e tornaram-se zelosos defensores da nova fé. A


conversão religiosa influenciou e organizou a política e economia, sendo importante
para construção de novos estados.

A cultura Hauçá é fortemente ligada ao islã o que torna difícil a penetração do


Evangelho. 
Referências

SILVA, Alberto da Costa e. Os hauçás. In: SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a


lança: a África antes da chegada dos portugueses. 5. ed. rev. e ampl. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2011. p. 457-474.

ADAMU, Mahdi. Os Haussa e seus vizinhos do Sudão central. In: NIANE,


DjibrilTamsir (editor). História geral da África, IV:África do século XII ao XVI. 2. ed.
rev. Brasília: UNESCO, 2010. p. 299-336.

MAESTRI, Mário. O Sudão Central. In: História da África negra pré-colonial. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1988. p. 44-50.

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