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BREVE HISTÓRIA
DO RITO ADONHIRAMITA
Sergio Emilião
MI - F R+C
OBSERVAÇÕES
• A apresentação foi baseada em documentos históricos relacionados ao Rito Adonhiramita, originários da França, EUA,
Inglaterra, Portugal e Brasil
• Os comentários refletem apenas a opinião pessoal do apresentador, e não a posição oficial do Grande Oriente do Brasil nem de
qualquer Potência Simbólica ou Filosófica na qual o Rito Adonhiramita é praticado
AVISO LEGAL
O ingresso na sala virtual desta apresentação implica na tácita concordância com a íntegra do que dispõe a Lei Geral de Proteção
de Dados, Lei Federal n° 13.709, de 14.08.2018
INTRODUÇÃO
• Como afirmei, e sabemos, estes dois livros são a base da Lenda do Terceiro Grau
• O Livro dos Reis, chamado de M’lakhim no hebraico possui nas versões modernas
dois volumes
• O Livro das Crônicas, Dibré Hayyâmim (“assunto dos dias”) no hebraico, também
é dividido em duas partes
• Cronologicamente, o Livro dos Reis é anterior ao Livro das Crônicas
• Em síntese, o Livro das Crônicas reescreve a construção do Templo de Jerusalém,
adicionando maiores detalhes
• Os originais foram escritos em hebraico, e primeiramente traduzidos para o grego,
na versão que foi denominada Septuaginta, pois foi escrita por uma comissão de
70 sábios judeus, e mais tarde versados para o latim, chamando-se Vulgata Editio,
tendo como tradutor o bispo Jerônimo de Strídon
• Após isso, muitas outras traduções e versões foram feitas, possivelmente
distorcendo os textos originais
• Desta forma, surgem grafias diferentes para os personagens envolvidos na
polêmica em nosso idioma, Adoniram, Adonirão, Aduram, Adurão, e Hiram, Hirão,
e Huram
• Nesta apresentação, utilizei a versão para o português da edição de 1611 da Bíblia
do Rei James, por entender possuir maior probabilidade de ter sido utilizada na
época
ADONHIRAM
• 1 Reis, 5; 14-16
“E o rei Salomão levantou uma leva de gente oriunda de todo o Israel; e a
leva era de trinta mil homens”.
“E ele os enviou para o Líbano, dez mil por mês, em alternância; um mês
eles estavam no Líbano, e dois meses em casa; e Adonirão estava sobre a leva.
(...)
“Além do chefe dos oficiais de Salomão (Adonhiram) que estavam acima do
trabalho, três mil e trezentos, os quais dominavam sobre o povo que trabalhava na
obra”.
• 1 Reis, 6; 14
“Assim, Salomão construiu a casa (de Deus), e a terminou”.
• 1 Reis, 7;13
“E o rei Salomão mandou retirar Hirão de Tiro”.
• 1 Reis, 10; 18
“Então, o rei Roboão enviou Adorão, que estava sobre o tributo; e os filhos
de Israel o apedrejaram com pedras, de modo que morreu. Porém, o rei Roboão
apressou-se em subir na sua carruagem, e fugiu para Jerusalém”.
HIRAM ABIF
• Antes de tudo ressalto que o personagem não é chamado de Abiff na Bíblia, apenas de
Hiram
• 1 Reis, 7; 14-51
• 2 Crônicas, 2; 13-14
“Envia-me (é Salomão quem solicita), agora, portanto, um homem perito para
trabalhar em ouro, e em prata, e em bronze, e em ferro, e em púrpura, e escarlate, e azul, e
que possa ser hábil em entalhar com os peritos que estão comigo em Judá e em Jerusalém,
aos quais Davi, o meu pai, proveu”.
“E agora eu envio um perito (Hiram rei de Tiro é quem afirma), dotado de
entendimento, Hirão, o pai (...) o filho de uma mulher das filhas de Dã, e o seu pai era um
homem de Tiro, perito no trabalho em ouro, e em prata, em bronze, em ferro, em pedra, e
em madeira, em púrpura, em azul e em linho fino, e em escarlate; também para entalhar
toda sorte de entalhes, e para desvendar toda intervenção que lhe for apresentada, com os
teus peritos, e com os peritos do meu senhor David, teu pai”.
A OPOSIÇÃO DOS RITUALISTAS
• Os ritualistas que desenvolveram a Lenda do Terceiro Grau tinham algumas
certezas, e outras tantas incertezas
• Eles sabiam que Adonhiram e Hiram Abiff eram personagens diferentes na
narrativa bíblica
• Também sabiam que nenhum dos dois é mencionado como arquiteto do
Templo de Jerusalém
• Alguns passaram a defender que Adonhiram, embora não fosse arquiteto,
trabalhou durante a construção do templo, como uma espécie de supervisor
ou mestre de obras, e, portanto, deveria ser o escolhido
• Outros tantos argumentavam que Hiram Abif, que também não era
arquiteto, era um escultor, um fundidor de metais, que fez o Mar de Bronze,
as colunas e os candelabros dente outros itens. Poderia ser associado a
Tubalcain, Bezaleel e Aoliabe das versões anteriores, estaria ligado aos
elementos simbólicos da Maçonaria, portanto, deveria ser o eleito
• O que eles fizeram, portanto, foi uma simples escolha, justificada de forma
lógica por cada uma das duas correntes, de acordo com seu ponto de vista
• Como sabemos, a corrente Hiramita prevaleceu na maioria dos Ritos
• Pelo que sei, atualmente além do Rito Adonhiramita, apenas o Rito Sueco
Trinitário atribui à Adonhiram a identidade de arquiteto do Templo de
Salomão
• No entanto, segundo alguns pesquisadores, o Rito Francês, chamado no
Brasil de Moderno, durante certo tempo comungou da mesma opinião em
relação à Adonhiram
A FORMALIZAÇÃO DO RITO
• Entre 1781, e 1782, é publicada a primeira edição da obra Recueil Précieux de la Maçonnerie
Adonhiramite, traduzida como Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita para o
português. Não é exatamente um ritual como conhecemos atualmente, mas um conjunto de
perguntas e respostas, acrescidos de algumas notas e observações, mas se tornou a obra de
referência para o Rito Adonhiramita, e também seu marco formal
• A obra é assinada por Guillemain de Saint-Victor, e no primeiro dos dois volumes que a
compõem, referente ao catecismo do Grau de Mestre, expõe seu entendimento sobre o
arquiteto do Templo:
“Muitos, sem saber muito porque, fundaram o Grau de Mestre com base em Hiram, sábio artista
na metalurgia, que a Bíblia diz-nos ter sido filho de Hur, tírio, e de uma viúva da tribo de Nephtali.
Vários outros, menos instruídos ainda, quiseram substituir Hiram, rei de Tiro, quando apareceu
impresso um catecismo em que se estabeleceu o nome simbólico, sob o qual o Grau de Mestre
devia ser fundado. Uma parte pretendia que devia ser Hiram, e a outra queria que tivesse sido
Adonhiram. Os adeptos do primeiro supunham que o nome Adon era um apelido dado a Hiram
quando ele terminou os trabalhos de bronze, ou após sua morte, e acreditando estarem bem
instruídos para os Altos Graus, ousavam concluir que a Bíblia e todos os autores sagrados
tinham se enganado, e que era preciso ler Hiram, grande arquiteto do Templo.
Os que respeitavam a Santa Escritura refutavam essas asserções e tratavam seus autores
de inovadores; então os dois partidos trocavam injúrias, acusavam-se reciprocamente de
ignorantes (...)
As Escrituras dizem positivamente, no décimo quarto versículo, do quinto capítulo, do
Terceiro Livro dos Reis, que era Adonhiram. Josefo e todos os autores sagrados dizem o mesmo
e distinguem-no para não deixar dúvida em relação à Hiram, tírio, artesão de metais. Assim, é
Adonhiram quem deve ser honrado (...)”
FLÁVIO JOSEFO
• Tanto Travenol, como Saint-Victor, citam Flávio Josefo, considerado o maior historiador
judeu da antiguidade, para justificar suas conclusões. Este é o texto da obra “História dos
Judeus”, de Josefo
• Talvez seja surpresa para alguns, mas na edição de 1785 da Compilação Preciosa, que é
mais elaborada que as anteriores, contendo inclusive ilustrações, estão inseridos
rituais completos de todos os Graus para Lojas femininas, as Lojas de Adoção
• Portanto, Saint-Victor, e provavelmente os maçons praticantes do Rito Adonhiramita à
época, não eram contrários à presença feminina na Maçonaria, o que volta a aproximar
o Rito Adonhiramita do Rito de Memphis-Mizraim, como já ocorrera com os rituais de
Tschoudy
• Talvez este tenha sido um dos fatores que levaram o Rito Adonhiramita ao declínio na
França
• Contudo, apesar desse claro e aberto posicionamento, não há notícias da fundação de
Lojas da Adoção Adonhiramitas na França, e nem em Portugal, ou Brasil, a qualquer
época
AS ORIGENS DA MAÇONARIA ADONHIRAMITA
• Como afirmei, o Stekenna tem sua origem no Livro das Revelações (5: 1-6)
“Os sete selos que estão nesse livro designam os Sete Graus da Maçonaria;
e o Cordeiro deitado sobre ele que é o Stekenna, mostra-nos que como só
ele é digno de romper os selos, somente o verdadeiro Rosa-Cruz goza do
privilégio de ler o livro que contém a doutrina completa dos maçons e de
penetrar em seus mistérios mais secretos”.
• Saint-Victor afirma, nesta mesma edição, que o Grau 12, Cavaleiro Rosa-Cruz, seria o NEC PLUS
ULTRA, expressão latina que significa “nada há além”, o que levou alguns autores, dentre eles
Albert Pike, a entenderem ser este o último Grau
• Ocorre que a obra é encerrada com a publicação da tradução para o francês de um ritual do Grau
de Cavaleiro Prussiano, ou Noaquita, que Saint-Victor assinala como um anexo, uma
“curiosidade” por assim dizer
• Apesar disso, no exame do próprio ritual, Saint-Victor explica que “(...) Os Cavaleiros Prussianos,
como reconhecimento e acreditando poder confiar seus mistérios apenas aos descendentes de
Adonhiram...”
• Isto foi encarado como uma espécie de “Grau Honorífico”, e mesmo que tenha sido um erro de
interpretação, como afirmou Pike, o Rito Adonhiramita sempre foi praticado com 13 Graus, desde
1781
• No Brasil éramos tratados como “Rito dos Treze Graus”, e chamados de Cavaleiros Noaquitas
O DECLÍNIO NA FRANÇA
• Embora alguns autores afirmem ter sido o Rito mais praticado na Europa, sua prática
na França, por exemplo, foi muito breve, e na década seguinte já havia sido
erradicado
• Muitos fatores, como a religiosidade, a presença de nobres e aristocratas nas Lojas,
e a simpatia pela presença feminina, podem ter colaborado para isso. Mas a verdade
é que a sociedade francesa estava em plena ebulição
• Havia luta contra o despotismo, a instituição do Estado laico, democrático, e da
extinção da influência da igreja
• Nessa época as Lojas maçônicas eram formadas pela elite, nobres e aristocratas,
inimigos dos revolucionários. Muitos maçons foram executados, e outros fugiram
para países vizinhos e suas colônias, incluindo o Brasil
• A classe média, oprimida pelo autoritarismo, e principal fomentadora da Revolução
Francesa, dominou as Lojas, inserindo os conceitos liberais e racionalistas na
Doutrina Maçônica
• O lema original, Amor Fraternal, Alívio e Verdade, foi substituído pelo ideal
revolucionário, Liberdade, Igualdade e Fraternidade
• Provavelmente por conta de sua religiosidade e conservadorismo, o Rito
Adonhiramita migrou para Portugal, onde teve mais aceitação por tratar-se da maior
nação cristã da época, e para suas Colônias, notadamente para o Brasil
• Mas a Maçonaria portuguesa sofreu perseguições políticas e religiosas, e desta
maneira, por volta de 1802, o Rito Adonhiramita inicia sua migração para o Brasil,
passados apenas 20 anos desde sua formalização na França
• Este é um dos fatores que levaram à escassez de literatura dedicada e pesquisas,
certamente o Rito Adonhiramita foi encarado pelos maçons europeus como mais um,
dentre tantos outros Ritos, cujo futuro era a extinção total
• Felizmente para nós não foi o caso, e a semente plantada em nossa terra floresceu
A CHEGADA AO BRASIL
• Há rumores da prática no Brasil desde o final do século XVIII, incluindo as teorias sobre a
fragata La Preneuse, e do capitão francês Larcher, que teria fundado Lojas Maçônicas na
costa do nordeste brasileiro desde 1795, incluindo a famosa Loja Cavaleiros da Luz, na
Bahia, em 1797
• Dão conta disso documentos do Arquivo Público da Bahia, publicados pelo historiador e
maçom Francisco Borges de Barros, primeiro Grão-Mestre da Grande Loja da Bahia
• Esta hipótese foi contestada por um grupo de pesquisadores da UNB, que examinando
documentos da marinha francesa, constatou que nessa época, a fragata Preneuse
navegava nas águas da Ilha de França, e não mais sob o comando de Larcher, cuja atuação
no Brasil seria a de espião, mapeando a costa brasileira com vistas à uma invasão
francesa
• Muitos autores dos séculos XIX e XX, apontavam a Loja Reunião, fundada em 1801, em
Niterói, no Rio de Janeiro, e obediente ao Grande Oriente da Ilha de França, hoje Ilhas
Maurício, como praticante do Rito Adonhiramita
• Outros apontam para a Loja Commércio e Artes, fundada em 1815, sob obediência do
Grande Oriente Lusitano, reerguida em 2 de junho de 1821, com o título de Commércio e
Artes na Idade da Razão
• Porém, essas afirmações atualmente são objeto de contestação, tendo em vista não
existirem atas e documentos que possam comprova-las
• Essa escassez de documentos certamente foi ocasionada pelo Decreto de D. João VI, de 30
de março de 1818, que proibiu a Maçonaria no Brasil. A forte perseguição aos maçons fez
com que muitas atas e documentos fossem destruídos
• Formalmente, a publicação do primeiro Ritual Adonhiramita em solo brasileiro, pelo
Grande Oriente do Brasil, ocorreu em 1836
AS EVIDÊNCIAS NO BRASIL DO SÉCULO XIX
• Tudo que foi produzido em termos de história da maçonaria brasileira, nos séculos XIX e
XX, identificando o Rito Adonhiramita como primaz da Maçonaria brasileira era aceito até
pouco tempo. Atualmente este fato é contestado, surgindo a possibilidade desta condição
pertencer ao Rito Moderno, cuja prática, notadamente na época, era muito similar
• Portanto, a maioria dos argumentos da literatura assumiu a condição de evidência
• Apesar de alguns maçons, de ambos os Ritos, encararem essas pesquisas como a disputa
de um troféu, acho a discussão extremamente saudável e desejável, pois vem trazendo à
tona fatos relevantes da história da Maçonaria no Brasil
• O que vou apresentar a seguir, são as evidências que sugerem a existência da prática
Adonhiramita nas terras brasileiras, na ocasião da fundação do Grande Oriente Brasílico,
atual Grande Oriente do Brasil, primeira Potência Simbólica do Brasil independente,
ocorrida em 1822
• São elas:
D. Pedro I
José Bonifácio de Andrada e Silva Joaquim Gonçalves Ledo Irmão Guatimozim
Irmão Pitágoras Irmão Diderot
O RITUAL DAS LOJAS FUNDADORAS
• Em 2012, ano em que comemorava 190 anos de fundação, o GOB publicou uma edição
do ritual praticado em 1822, que batizou de “Ritual de 1822, das Lojas Fundadoras”
• Respeitável Loja de São João Commércio e Artes na Idade do Ouro N°001
• Respeitável Loja de São João União e Tranquilidade N°002
• Respeitável Loja de São João Esperança de Nichteroy N°003
• O texto é semelhante ao da Compilação Preciosa, mas igualmente do Regulador
Maçom, publicado na França de 1801
• Dentre as semelhanças existentes entre a prática dos Ritos Adonhiramita e Moderno,
está, por exemplo a Bateria do Grau
• Porém, nos Rituais Adonhiramitas há uma pergunta a mais no processo de Abertura da
Loja, em relação ao Regulador do Maçom: “Para que nos juntamos?”, e esta pergunta
consta do Ritual das Lojas Fundadoras
• Apesar de poder ser considerada uma evidência mais concreta, as dúvidas ainda não
estão totalmente dirimidas
AS ATAS DE 1832
• Na ata da 10ª reunião do Supremo Conselho de Montezuma, em 1832, Joaquim
Gonçalves Ledo, se pronunciando como membro da comissão incumbida de
conferir Altos Graus, faz a seguinte observação:
“(...) havendo a Gr Loj accordado dar o gr de Eleito Secr aos IIr filiados nos
nossos quadros, constituidos em os ggr de MMestr PPerf.: 1º, 2º e 3º Eleitos pela
Maçonaria dos 13…” era por ora impossível porque “… tendo a Maçonaria dos 7
reduzido os ggr desde Mestr Perf até Eleito dos 15 ao de Eleito Secret.: não havia
os necessarios reguladores para a iniciação deste gr”
• Este é o texto comum à Compilação Preciosa e o ritual de 1831 da Loja Commércio e Artes
“(...) a Maçonaria não é outra coisa senão o símbolo de toda a natureza; que sua moral é a
homenagem que se deve prestar ao Criador do universo e que, entre nós, esta homenagem é
praticar a nossa religião; e que, nos primeiros tempos do Cristianismo, apenas se fazia
prosélitos após tê-los batizado.
Quando esses recém-iniciados vinham à Loja, faziam-lhes a pergunta em questão, esperando
que sua resposta (Venho da Loja de São João) queira dizer, expressamente, acabo de
purificar-me pelas águas do Batismo. Ninguém ignora que tenha sido São João que instituiu
este sacramento: assim, não é justo que a pergunta sobre os deveres de uma Ordem seja
baseada na primeira ação que esta Ordem exige?”