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Literaturas São-tomense,
Cabo-verdiana e
Guineense
Docente: Doutora Doris Wieser
NÁDIA SOFIA DA CRUZ ALMEIDA
São Tomé e Príncipe (aulas:2,3,4,5)
Golfo da Guiné
Área total:
1030 km2 (S. Tomé: 847 km2)
Príncipe: 114 km2) [Comparação:
Portugal:92.256 km2, Cabo
Verde: 4033 km2]
Habitantes:
aprox.190.000, dos quais aprox.
7.300 na ilha do Príncipe
[Comparação:Coimbra:140.000
Cabo Verde: 560.000]
Capital:
São Tomé (aprox. 60.000
habitantes)
{Comparação: Município da
Figueira da Foz)
Linha equatorial:
Ilhéu das Rolas
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Nádia Almeida
2021212133
São Tomé:
50 km de comprimento
30 km de largura
lha montanhosa
Picos de até 2000 m
Príncipe:
30 km de comprimento
6 km de largura
Picos de até 948 m
Clima:
Quente e húmido
Temperatura média anual: 22 a 30°C
Chuvas em março e setembro;
Vento/ "gravana" de maio a agosto;
Maior calor de dezembro a fevereiro.
o Deve utilizar-se o termo “pessoa escravizada” e não o termo “escravo”. Este segundo
termo faz com que se pense que “ser escravo” é toda a essência da pessoa em questão.
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Nádia Almeida
2021212133
• 1500: Ilha do Príncipe passa para António Carneiro, mantendo-se pertença desta
família até 1753
• 1515: carta régia - alforria aos luso-descendentes e suas mães (escravas)
• 1528: carta régia - regulamentação da participação dos mestiços na administração
quando fossem “homens de bem e bem casados" (quem decide é o estado colonial.
Origem da assimilação)
o A ideia das famílias ricas brancas era lucrar com a produção da cana-de-açúcar e com o
tráfico de escravos.
o Ideia de superioridade dava origem a violações para a procriação afim de “branquificar” a
raça negra. Esta é a origem dos mestiços.
o Foi uma oportunidade dos mestiços se tornarem donos da sua própria terra.
o Não existiu uma guerra, uma luta armada, pela independência/libertação nacional.
Existiram revoltas, mas nunca uma guerra concreta, como na Guiné-Bissau.
o “Civilizados” eram negros/mestiços aos quais eram concedidos alguns direitos.
o Após ataques como o Massacre, o povo acorda e percebe que não é possível dialogar com os
colonos de forma pacífica. Em São Tomé e Príncipe isso acontece em 1960 com a criação
da CLSTP.
História - Pós-independência
• 12 de julho de 1975: Independência
• Renomeação do partido para Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe
(MLSTP)
• Primeiro governo:
• Presidente: Manuel Pinto da Costa
• primeiro-ministro: Miguel Trovoada
• 1990: nova constituição - introdução do sistema multipartidário
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Nádia Almeida
2021212133
• Renomeação do partido para Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe -
Partido Social Democrata (MLSTP-PSD)
• 1994: fundação do partido Ação Democrática Independente (ADI)
o A independência de São Tomé e Príncipe (assim como nos outros países colonizados) deu-
se após o 25 de abril de 1974.
o O comité passa a ser um partido político.
o Após a independência e a criação de uma constituição, o país abre-se a um sistema
multipartidário.
Taxa de alfabetização
•1975: 80% de analfabetos
• Grandes campanhas de alfabetização no pós-independência
• 2017: 90% dos são-tomenses com mais de 15 anos sabem ler e escrever.
• 2018: A população conclui uma média de 6,3 anos de escolaridade.
o A taxa de alfabetização não significa que sabem ler ao nível europeu, significa que os
cidadãos são capazes de ler alguma coisa.
Palavras importantes
• Moradores = colonos brancos
• Filhos-da-terra = descendentes das relações entre europeus e negros escravizados
do período da cana-de-açúcar - aristocracia mestiça, governante do território durante
o "grande pousio"
• Forros = pessoas de origem africana livres, confundem-se na segunda colonização com
os filhos-da-terra
• Angolares =descendentes dos sobreviventes do suposto naufrágio, no século XV, de
um navio negreiro, no sul da ilha de S. Tomé, ou descendentes de pessoas
escravizadas fugidas (c. quilombos no Brasil), pescadores
• Tonga = pessoa natural da Ilha de S. Tomé independentemente da origem étnica
• Moncó = pessoa natural da Ilha do Príncipe
• leve-leve = expressão popular
NOTA: “O Rei Amador” - Rei dos angolares e líder de uma revolta contra o sistema
colonial em 1595.
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Nádia Almeida
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As 5 línguas
• Época colonial: as línguas crioulas não foram reivindicadas como base identitária.
• A população alfabetizada costuma expressar-se em português.
• Hoje: Crioulo forro: falado por 83% dos habitantes da Ilha de S. Tomé, língua de
Força social e mobilização popular, p. ex. captação de votos em campanhas eleitorais.
Cultura
• São-tomensidade = matriz mestiça
• Socopé: "só com o pé" / "só com os pés", dança e música típicas
• Tchiloli ou Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carlos Magno (São
Tomé), representado ao ar livre, auto com música, dança e diálogos, dura mais de cinco
horas. Apropriação sincrética de uma peça de matriz europeia, envolvendo ciúme, amor,
traição e morte.
• Auto de Floripes, São Lourenço do Príncipe (Príncipe), história de cristãos e
mouros, Floripes é uma donzela moura apaixonada por um cavaleiro cristão
Gastronomia
• Fruta pão
• Matabala
• Vinho de palma
•Calulu
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Nádia Almeida
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Obra De Manuel ferreira (no reino de Caliban ii)
Romance de Seu Silva Costa:
«Seu Silva Costa
chegou na ilha...»
Ui!
Seu Silva Costa
virou branco grande:
su calça não é fiozinho
e sus moedas não têm mais ilusão!...
(Ilha de nome santo,1942)
o O “Silva Costa” é um colonizador português que chegou à ilha. O início entre aspas
significam que alguém afirmou a outra pessoas.
o Em seguida, mostra-se a forma como chegou. O colonizador chegou pobre.
(Emigração portuguesa durante o estado novo).
o “Dois moeda“—> mímica da fala santomense.
o “E vontade de voltar” —> provavelmente alguém sem coragem, fraco.
o Enriqueceu às custas dos negros. Deu-se conta do privilégio e aproveitou-se dele.
o A linguagem é diferente, um português deturpado que não chega a ser crioulo.
Coloca-se no papel de um são tomense que verifica enriquecimento do homem
branco.
o Olhar de escárnio que desaprova o comportamento do colonizador. Uma forma do
são tomense se libertar da opressão e rir-se daquilo que acontece.
o “Romance” —> género sobretudo ibérico. O autor utiliza um género típico do branco,
com uma linguagem deturpada com a intenção de “gozar”.
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Nádia Almeida
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Inícios da literatura são-tomense
Jornalismo
• 1857: primeira edição do Boletim Oficial do Governo da Província de S. Tomé e
Príncipe
• A elite de filhos-da-terra cria uma imprensa de caráter não governamental
• Revistas, jornais e boletins de associações, p.ex. O Africano, A Voz d'África, O
Negro, A Verdade, O Correio d'Africa
• Exigência de reformas dentro do sistema colonial
• Poemas dispersos, p.ex. de Francisco Stockler, António Lobo de Almada Negreiros
(pai do pintor Almada Negreiros)
• Construção de um sentimento unitário, protonacionalista
Literatura colonial
• Roça = fazenda de café ou cacau
• O "ciclo-da-roça"
• Literatura romântico-realista noventista, visão idílica
• Perspetiva ultramarina: conflitos resolvem-se pela compaixão paternalista
• Exaltação da macro etnicidade lusitana
Exemplos do século:???
o A ideia era guiar os estudantes são tomenses a pensar de acordo com os ideias do estado
novo, no entanto, aconteceu o contrário. Os jovens juntaram-se e daí surgiram líderes
revolucionários anti-colonialista.
EU E OS PASSEANTES
Passa uma inglesa,
E logo acode,
Toda surpresa:
What black my God!
Se é espanhola,
A que me viu,
Diz como rôla:
Que alto, Dios mio!
E, se é francesa:
Ô quel beauu negre!
Rindo para mim.
Se é portuguesa,
Ô Costa Alegre!
Tens um atchim!
(versos, 1916)
Francisco José Tenreiro (1921-1963)
• Mestiço; filho de um administrador português e de mãe africana
• Passou a maior parte da sua vida em Lisboa
• Professor universitário de geografia
• Político (deputado da Assembleia Nacional)
• Escritor (poeta e contista)
• Negritudinista + neo-realista
• Intermediário entre a negritude e o luso-tropicalismo
• Tenta abrir um espaço político liberalizante durante o Estado Novo
simultaneamente contestatário e conciliatório (Hamilton 1984: 249)
• Ilha de nome santo. Novo cancioneiro (1942) - considerado obra fundacional da
literatura são-tomense
• Crioulidade são-tomense — ideia de que os são tomenses são mestiços, de que
têm uma cultura híbrida, com várias origens.
o Não tentou combater o estado de forma direta, mas sim de forma a ser um
intermediário.
Obras
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Nádia Almeida
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Poema Canção do Mestiço (1942)
Mestiço!
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Nádia Almeida
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Poema Corpo Moreno (1967)
Se eu dissesse que o teu corpo moreno
tem o ritmo da cobra preta deslizando
mentia.
Mentia se comparasse o teu rosto fruto
ao das estátuas adormecidas das velhas civilizações de África
de olhos rasgados em sonhos de luar
e boca em segredos de amor.
o Época colonial;
o Este poema fala-nos do mesmo tema, no entanto, fá-lo de forma mais seria e
de forma mais lírica.
o Porque é que o sujeito poético “mentia” se afirmasse o que afirmou?
o Pois não é igual à restante África, tem uma tradição mestiça e não
africana.
o São uma mistura de povos africanos e europeus;
o Elogio do corpo moreno, mestiço, que possui uma estrita relação com a
natureza.
o A Ilha de São Tomé e a sua população misturam-se, conectam-se.
o FJT é o primeiro grande poeta que se propõe a criar uma identidade nacional:
uma identidade ligada à natureza, à beleza natural.
o Na última estrofe, o sujeito poético interpela a própria ilha com a intenção de
que esta se mantenha forte e fiel a si, independentemente daquilo que se diz
à sua volta.
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Nádia Almeida
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Alda Espírito Santo (1926-2010)
• Mestiça
• Professora primária
• Curtas estadias em Portugal para concluir os estudos
• Presa pela PIDE por atividades políticas
• Após a Independência: ocupou vários altos cargos no governo de STP
• Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura, Presidente da
Assembleia Nacional
• Foi Secretária-Geral da União Nacional de Escritores e Artistas de São Tomé e
Principe Autora da letra do hino nacional, Independência total
o Entrou na política após a independência da ilha…
Obra
Poema Onde Estão os Homens Caçados Neste Vento de
Loucura
o Metáforas bastante presentes na primeira estrofe, assim como a
repetição, dando a ideia de que o massacre não pára.
o Os negros/mestiços não tinham cidadania plena, então, o sujeito poético
afirma “homens que não são homens”.
o O “Zé Mulato” trai a sua parte negra. É um mestiço que participa neste
massacre do lado dos verdugos (brancos). O Sujeito Poético não consegue
compreender esse feito.
o É difícil perceber de que lado o mestiço se encontra devido à sua cor e à
suas origens, o que pode levar a um sentimento de desconfiança por parte
de negros e de brancos.
o Dor e desejo de vingança/ justiça por parte do sujeito poético ao longo da
segunda estrofe. Pelo meio, o eu lírico vai descrevendo a morte e interpela
diretamente o Zé Mulato.
o O poema é de 1958, 5 anos após o acontecimento. Escrito numa época
colonial, ou seja, numa época sem liberdade e sem dependência. Por esse
motivo, o SP termina o poema com o desejo e a esperança da liberdade.
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Nádia Almeida
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O Massacre de Batepá (1953)
o O governo português inventa um rumor que a própria PIDE acaba por desmentir.
Negrismo
Négritude
Pan-africanismo
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Nádia Almeida
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• Uma das vozes mais populares do panafricanismo.
Referências:
• Willie McGee: executado nos EUA em 1951 pelo roubo de um camião.
• Nicolás Guillén: poeta do negrismo, Cuba.
• “I too am America”: poema de Langston Hughes, de 1926, Black Renaissance.
• Alioune Diop: Senegal, negritude.
• Chaka-Senghor: Leopold Sédar Senghor, Senegal, poema “Chaka” (1951) sobre
o líder Zulu.
• Joaquim Namorado: poeta português da resistência, poema “África”, do livro
“Aviso à Navegação”, de 1941.
Contos analisados:
• “Leve, Leve”
• “Sóya, sempre sóya”
• “Rosas de porcelana”
Análise
“Leve, Leve”:
• Uma ideia de são-tomensidade.
• Narradora muito conectada com a autora.
• Ficção mistura-se com a realidade.
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Nádia Almeida
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• Apresenta uma ideia positiva e negativa associada à expressão “leve, leve”.
Por um lado, é uma filosofia de vida, mas por outro lado, torna-se um
estereotipo negativo em Portugal.
• Em São Tomé não se sofre tanto do coração - referência através do
cardiologista.
• “leve, leve” é o “dicionário da vida” que transmite sabedoria e
resiliência, mas também resignação. Cria o estereótipo de que o pais não
avança, pois, os nativos não querem trabalhar devido à sua filosofia de
vida.
• Para Olinda Beja esta filosofia é positiva: “Bênção diurna”, “luz da alma”,
pretende/objetivo de criar uma imagem positiva do país.
• Como reação ao estereótipo de que o país não avança devido aos nativos, a
narradora assume uma posição de repudio e magoa, ao ver um artigo sobre
isso numa revista.
• Há um poema inserido no conto que faz parte do livro “leve, Leve”.
• Ideia de seguir em frente com ligeireza, num país marcado pelas
adversidades.
• “reinfância” aproveitam para conviver de outra forma, uma vez que se
encontram sem eletricidade.
• Para o cardiologista estar em São Tomé é libertador, um alívio da correria
que é a sua vida. Aproveita para se libertar da rotina.
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Nádia Almeida
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“Rosas de porcelana”:
• Possuí um nº reduzido de personagens.
• Tempo do conto: início dos anos 80 onde São Tomé e Príncipe vivia numa
situação muito frágil- as razões económicas e políticas eram o foco
principal, o que levou a uma escassez de produtos e aumento da população
e das suas necessidades. A busca pela independência-conquistada em
1975-era um fator importante.
• De que maneira se constrói uma ideia de são-tomensidade (identidade
nacional são-tomense) nestes contos? A narradora opõe a pobreza
económica com a riqueza da natureza - a pobreza económica é uma
consequência da independência - através da falta de trabalho para os
recém-licenciados.
• Personagem principal: Maria Emília
• “fazer filhos em mulher alheia”: a mulher alheia é a ilha, e Portugal é visto
como um pai ausente: os são-tomenses são filhos ilegítimos de Portugal,
são um produto da colonização.
• Portugal deveria de ter a responsabilidade de dar um apoio mínimo até São
Tomé ter competências para tratar de tudo na sociedade.
• Maria Emília, professora em São Tomé. Que relação cria com a ilha, em
dois anos? Estabelece uma relação de grande proximidade com a ilha, com
os alunos, com as pessoas, com a natureza….
• Paixão pela ilha e pela natureza tropical.
• Maria Emília é a figuração de Olinda Beja – foi, também, professora.
• Episódio das rosas de porcelana: Maria Emília gosta muito dessas rosas –
ideia de encantamento/deslumbramento. Esta flor é tao importante que é
como se fosse de porcelana.
Questões:
1. De que maneira se constrói uma ideia de são-tomensidade (identidade
nacional são-tomense) nestes contos?
2. Quais são os elementos-chave e que valor lhes é atribuído?
3. Quais são os aspetos narratológicos e estilísticos mais característicos dos
contos?
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Nádia Almeida
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Guiné-Bissau (aulas:7,8,9,10
Área:
• 36.125 km2
• Cabo Verde: 4.033 Km2- STP: 1.030 Km2
População:
• 1,7 milhões
• Cabo Verde: 560,000- STP: 190,000
Capital:
• Bissau (aproximadamente 500,000 habitantes).
Divisão Política:
• 8 regiões.
• 1 setor autónomo: Bissau.
História
• Reino de kaabu, permanece até ao século XVIII.
• Reino do Mali, maior reino da África Ocidental pré-colonial, islamização no século
XI.
• 1444/46: Chegada dos portugueses ao território (Nuno Tristão e Álvaro
Fernandes).
• 1558: Fundação da Cacheu, início da colonização da costa.
• Século XIX: início da colonização do interior.
• Nome antigo: Guiné-Portuguesa.
• 1956: Fundação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC).
• 1959: Massacre de Pindjiguiti/ Pidjiguiti- repressão de uma greve no porto de
Bissau, 40-70 mortos.
• 1963: Assassinato de Amílcar Cabral a 20 de janeiro.
• 1973: declaração unilateral da independência a 24 de setembro, por Nino Vieira,
reconhecida por vários países comunistas e africanos.
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• 1974: Portugal reconhece a independência da Guiné a 10 de setembro.
História: pós-independência
• Primeiro Presidente: Luís Cabral (irmão de Amílcar Cabral).
• Até 1980 tentativa do PAIGC de criar uma unidade entre Cabo Verde e Guiné-
Bissau.
• 1980: golpe de estado, Movimento Reajustador, líder: João Bernardo (Nino) Vieira
que se tornara o novo presidente.
• Causas do golpe: prisões e fuzilamentos em massa de guineenses que tinham
pertencido ao exército colonial português (devido à “africanização da guerra”), crise
económica.
• 1994: primeiras eleições multipartidárias.
• 1998: golpe de estado, Nuno Vieira é derrubado.
• 1998/99: guerra civil.
• 2003: golpe de estado.
• 2004: revolta.
• 2009: assassinato de Nuno Vieira e de Tagme Na Waie (chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas).
• 2012: golpe de estado
História
• 1460: Descobrimento de Cabo Verde= ligação administrativa entre a Guiné-
Portuguesa e Cabo Verde.
• Políticas diferentes: a Guiné permanece um entreposto de comércio de
escravizados, mas a política em Cabo Verde vai permitir o surgimento de uma
burguesia de mestiços.
• Guiné: poucas estruturas de colonização, pouca penetração administrativa do
interior até aos inícios do século XX.
• Até à década de 1870: subordinado à administração de Cabo Verde.
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• Até à década de 1960: quase inexistência de guineenses formados no sentido
europeu.
• Os letrados da Guiné-Portuguesa eram sobretudo imigrados de Cabo Verde.
• A cegada em assa de cabo-verdianos era incentivada pelas autoridades coloniais.
• Os cabo-verdianos eram usados como agentes culturais da colonização, da
miscigenação cultural e biológica.
História: pós-independência
• Presidente atual: Umaro Sissoco Embaló- Partido: Movimento para Alternância
Democrática, fundado por ex-membros do PAIGC em 2018.
• Cargo anterior: primeiro-ministro, de 2016-18.
• 2022: tentativa de golpe (1 de fevereiro)
• Conclusão: grande instabilidade política.
Demografia
• Grupos culturais/ etnias: fulas, mandingas, balantas, manjacos, bijagós, entre
outras- falam línguas diferentes.
• 1920: 87,448 habitantes, entre eles 1000 europeus.
• 1949: criação do primeiro liceu em Bissau.
• 1950: apenas 1,478 negros (0,3%) são considerados “civilizados”.
• Desde fins do século XIX: cabo-verdianos em posição de pequenos
administradores, funcionários públicos e comerciantes.
Línguas
• Mais de 20 línguas da família das línguas nigero-congolesas:
- Balanta, mandinga, manjaco, mancanha, papel, fula, entre outras.
- São as línguas maternas da maioria da população.
• Kriol/ Crioulo guineense:
- Falado por aproximadamente 60% da população, língua franca.
- Devido à presença dos imigrantes cabo-verdianos, o crioulo cabo-verdiano
estabeleceu-se como língua franca na Guiné, mas desenvolveu características
distintas ao longo do tempo.
- É menos próximo do português do que o cabo-verdiano.
- Foi a língua de mobilização social durante a luta pela independência, pelo que
se tornou também língua literária (na poesia).
- Existem três dialetos principais de Kriol.
• O português, língua oficial, é falado por:
- 46,3% da população em zonas urbanas.
- 14,7% em zonas rurais (censo de 2009)
• Francês:
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- Língua oficial dos países vizinhos.
- É ensinado nas escolas.
- Falado por 10% da população em zonas urbanas.
NOTA: Bilinguismo, poliglotismo.
Regiões
• Islão: aproximadamente 50%
• Religiões africanas: aproximadamente 40%
• Cristianismo: aproximadamente 10%
Economia
• Um dos países mais pobre do mundo.
• Economia muito fraca devido à instabilidade política e ao êxodo dos portugueses
(quadros formados) depois da independência (o chamado “retorno da África).
• Infraestrutura deteriorada.
• Atividade económica sobretudo na agricultura e pesca.
• Entreposto do narcotráfico da América Latina a caminho de Europa.
• O trabalho infantil é frequente.
Educação
• Taxa de alfabetização estimada: 55% (em 2011), 59,9% (em 2019, segundo
indexmundi.com).
• No tempo colonial houve muito poucas condições para o surgimento de uma elite
intelectual africana.
• Sem movimento cultural-literário no tempo colonial, antes da luta pela
independência.
Epígrafe:
“Si fere ala, fere bonde ko fere?” / “Se não há saída, uma má saída é saída?”
É difícil acreditar
numa boa saída para o
país
Estrutura:
• 10 capítulos que podem ser lidos quase como contos.
• Unidos por um “leitmotiv” (a mistida), e personagens que reaparecem, por
exemplo, O Comandante e Mama Isabel.
• Todos os capítulos são antecedidos por um parágrafo em prosa e uma epígrafe
(poema, canção, muitas vezes em crioulo, de engajamento político), e terminam
com a afirmação que as personagens têm “uma mistida a safar”.
Personagens:
• na maioria cidadãos socialmente marginalizados.
Estilo:
• Linguagem simples, quotidiana.
• Emprego de palavras de origem africana:
- Tabanca (aldeia);
- Bolanha;
- Bantabá;
- Klandô;
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- mancarra;
- kambletch.
Capítulo 1- Madjudho:
Epígrafe: “One Love” de Bob Marley -referência cultural (vontade de contactar
com outras pessoas)
(versos do refrão não incluídos na epígrafe que podem dar uma pista para a
interpretação: “Let´s get together and feel alright”).
Um início um bocado de realismo cru.
Personagens:
o O seu percurso revela traumas.
o O comandante: ex-combatente da guerra pela independência (também
mencionado no capítulo 2, página 45), é contra a Unidade.
o “chamado de Matchudho e de Madjudho” - Madjudho (=escravo)/
Matchudho(=desnorteado, perdido): jovem de 17 anos, foi transportador de
armamento (p.29) (cf. Os jovens de Mortu Nega).
Não são parentes, o comandante resgata o jovem quando a tabanca (aldeia)
desse é atacada por aviões e queimada com “napalm”.
Lugar:
Posto de controle/ posto de sentinela dos portugueses que foi conquistado
durante a luta- “Eu é que libertei este aqui e ele foi-me confiado” (p.20).
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• O comandante diz que ficará “Até o dia em que definitivamente
regressarem o orgulho e a dignidade na nossa terra” (p.20).
• O posto de controle simboliza a luta e os sonhos associados a esta luta.
• Não abandonar o posto significa estar convencido de que os sonhos ainda
não foram atingidos.
• Lembrança da luta pela independência: “Era o orgasmo de uma
masturbação incompleta, inútil, fugaz… Mas numa alvorada sem glória nem
paixão, de sonhos estéril, para que serviam os hinos?” (p.28) - sentido da
Nação?
Relativamente às personagens:
• O Comandante:
• Operação Imunidade Total: O comandante decide manter os olhos
fechados durante o dia. Justificação: “Este mundo está cheio de
hipocrisia, não quero ver. […] E de maldade” (p.21).
• Contra a Unidade: Guiné-Bissau e Cabo-verde. Era contra a existência de
vários partidos dentro do país, tendo a vontade de criar um governo em
paz.
• A medalha: trofeu de guerra. O comandante tirou-a de um avião abatido
(um bombardeiro) que tinha lançado “napalm” sobre a tabanca de
Madjudho. Trata-se de um instrumento de cockpit, com um ponteiro,
provavelmente uma bússola ou um altímetro.
O ponteiro: Aponta o caminho para o Norte/ uma sociedade
melhor no futuro? (Aponta um caminho melhor)
• Madjudho:
• Madjudho esconde a medalha: “[…] eu e esta medalha, quem é que tem
mais valor para ti?” (p.29).
• Ingenuidade/ falta de experiência e formação do jovem Madjudho-
decide conhecer a vida (p.24).
• Memória truncada de Madjudho: “Por mais que tentasse olhar para trás
na sua vida não conseguia ir para além daquele dia em que o Comandante o
abraçou a correr e fugiu com ele para a mata. Atrás tinha deixado a
tabanca em chamas” (p.24) - Trauma.
• O sol:
• Qual é a cor do sol de hoje? - Madjudho não consegue ver nada diferente.
• “E depois de tanto tempo ainda não és capaz de entender que este sol
está quase a cair?” (p.32).
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• “Tenta… a ver se descobres o outro sol, aquele que brilhará para nós.
Para todos nós…” (p.33).
• “A ver se abres os olhos” (p.34).
• “Daqui a nada vai nascer o nosso sol e a partir daí não haverá mais
ladrões na nossa terra” (p.35).- o Comandante quer o seu “sol”
simboliza a esperança;
também pode simbolizar quem
está no poder (há vários “sóis”)
Intertextualidade:
• Ahmadou Kourouma: “Les soleils des indépendances (1968), Costa de Marfim
[Os sóis das independências] – romance.
• Na língua malinke, téle (sol) significa também dia e época.
• Neste romance, o sol é também uma metáfora pela renovação e também pela
claridade experimentada no pós-independência.
• O colonialismo seria a época da escuridão, da sombra.
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o “…hostilidade da ambição; …” – ambição dos políticos de acumular poder numa
pessoa só
o “Crença na redenção?” – palavra-chave: redenção
-Konoton (p.47-48)
• Mudo (decidiu ser mudo, ao reconhecer a sua falha de não conseguir levar a
bom porto o seu projeto de independência) - atos simbólicos de desespero(no
1ºcapítuulo o comandante tinha fechado os olhos)), foi Comissário Político,
visionário da construção de um país independente de que o povo terá orgulho,
foi confrontado pelos seus alunos que perguntaram onde estava esse país
agora, ficou mudo (=sem resposta).
-Woro (p.50)
• Foi torturado.
• Outro prisioneiro.
• Não conseguiu distinguir as cores de um pássaro que levantou voo, um Alma-
beafada. – “ …não conseguia distinguir as cores…”
• Ouviu uma voz que anunciou o casamento do sol e da lua- o fim da escuridão.
(p.54).
• Alma-beafada (calau)- grande pássaro ao qual são atribuídas na Guiné-Bissau
qualidades de bom ou de mau presságio, dependendo da cor em que se vê
(preto ou branco).
• Acusam-no porque pensam que é um código político.
• Os prisioneiros saem da prisão com uma mistida em mente.
• “Uma daquelas aas iria muito provavelmente matar alguém. Iria rasgar
músculos, quebrar ossos e fazer brotar sangue. Muito sangue, de certeza.
Num instante, iria pôr termo a uma vida que levara muitos anos a construir.
De um momento para outro uma pessoa deixava de viver. Sem mais nem
Dimensão
biográfica
menos. Só pela acção de uma bala. Às vezes entrava o sofrimento pelo meio, é
verdade, mas nesse não vale a pena pensar. Ele está por todo o lado, em todos
os momentos presente. Antes, durante e depois de uma operação. Em que
morre e em quem mata. Talvez por isso, um militar aprende tudo sore a
guerra, estratégias, tácticas, mas nada sobre o sofrimento. É como se ele não
existisse…”
• Vê o soldado tuga (nome que dão aos soldados portugueses como forma de
crítica) morto nos seus sonhos (trauma que causa pesadelos diurnos onde o
morto surge a perguntar porque tinha disparado sobre ele).
• Trauma, stress pós-traumático.
• Responde que os verdadeiros culpados são aqueles que o mandaram para esta
guerra neste terra que não lhe diz respeito.
• O soldado morto desaparece.
• Aparece outro espírito, pessoa de mil rostos, atormenta-o, recordando-lhe a
sua condição de africano, e exigindo que pague uma tal dívida.
• Personagem que não consegue encontrar paz.
• Espírito revela a sua identidade: “Somos os Bretton Woods” (p.79) - 1944,
ONU, regras para o sistema monetário internacional.
• Mata o fantasma de mil rostos.
• Visitas da mãe e da noiva do soldado morto- o stress pós-traumático continua.
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Nádia Almeida
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Volta ao primeiro eixo temporal da narração
• Invade o velório do seu patrão, expulsa as pessoas- vê o soldado português no
caixão (em vez do patrão) -alucinação.
• Expulsa os presentes, abraça o cadáver, o morto revive.
• Assiste-se a uma junção dos dois. ( “Pela primeira vez em vários anos, viu a sua
sombra projectar-se no chão. Com um sorriso aberto nos lábios, abriu os
braços para receber o corpo que, lentamente, se erguia do solo.” )
• O soldado tuga e o protagonista, 20 anos mais jovens, saem juntos dizendo
que tinham uma mistida urgente a safar. (“Saíram de mãos dadas, sem uma
palavra de despedida. Só disseram uma coisa: tinham uma mistida urgente a
safar.”)
Nham-Nham
• Onomatopeia: imita o som de mastigar.
• Monstro, possuído pelo poder, necessidade de ser adorado, um rei
despótico.
• Acredita nas mentiras de Amambarka que o engana.
• “A epopeia de que ele seria o único e verdadeiro protagonista iria
marcar uma nova era, a da vitória da penumbra sobre a sombra” (p.89)
Amambarka
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Nádia Almeida
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• O confidente de Nham-Nham, considera-se grande e inteligente, o
único que merece o trono (p.92).
• Come excrementos, oportunista, calculista, cobiçoso, cheio de ódio.
• A palavra do mandinga, significa “coisa ruim, que não presta” (Augel
2005: 319)
Significado:
• Ambos são inspirados por pessoas reais, mas transformados em caricaturas
grotescas.
• Repete-se a menção das cores do céu (sol) e da nova era (sol).
• Representam a desilusão co a política do pós-independência.
• No romance, não são humanos; são uma espécie de demónios.
• Timba= porco-formigueiro.
Analepse:
• Primeiro encontro das duas. A rapariga engana os clientes. É hostil.
• A rapariga: “eu não vou voltar para a escola numa mais! Já perdi estes
anos todos e isso chega. Eu não vou ser como as minhas irmãs, não.
Perderam tanto tempo e nada. Não têm trabalho, não têm dinheiro, não
têm nada” (p.109) - Faz um balanço negativo da escola que não trás trabalho
para pessoas com formação.
• A rapariga começa a entrar no carro de um homem (torna-se,
possivelmente, trabalhadora sexual- não se sabe exatamente o que
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Nádia Almeida
2021212133
acontece entre eles), depois desparece. Mama Sabel encontra-a chorando
na casa da mãe (Caso de violência ou violação fica entre linhas). Mama
Sabel consola-a. Criam uma amizade.
Capítulo 6- Muntudu
• “Tinha chegado ao limite da sua canseira, por isso ela tinha que acabar.
A bem ou a mal, mas tinha que acabar nesse dia” (p.118).
Analepse:
(p.119-123)
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Nádia Almeida
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• A protagonista volta, depois de dias em casa com febre, ao seu lugar de
trabalho: um beco onde costumava vender produtos. Mas o lugar está
cheio de lixo.
“Foram apenas alguns dias de febre que a obrigaram a ausentar-se
do beco onde passara quase uma vida inteira sentada e logo tinha
sido desalojada. Quando voltou, o lixo já tinha se apossado do seu
lugar.”
• Lixo= é o lixo que os governantes produzem, simboliza a corrupção e a
decadência.
• A protagonista é uma desalojada, injustiçada, e começa uma “guerra”
contra o lixo que cresce cada dia.
(páginas 143-145)
• Projeto de lei consiste em propor aceitar a corrupção, discriminar a
corrupção, criar uma lei que permite a corrupção.
(páginas 149-151)
• relação do poder com a violência-Chegam à conclusão de que andam sempre
juntas.
• Através do dinheiro que é possível comprar o povo, com gratificações
instantâneas. É através de um partido ou de uma religião que se pode enganar
o povo- solução da amiga.
• Ter poder significa ter de usar violência:
Uma violência física;
Uma violência simbólica;
Salto no tempo:
• Reencontro das amigas no night club, vários anos mais tarde: Djiba=
símbolo da emancipação das mulheres daquela terra […], uma mulher que
subira todos os degraus do poder (p.151). - Ela era poderosa, tinha até,
guarda-costas […] uma Alta Dignatária da Nação (p.153).
• Djiba: “Tenho uma mistida urgente a safar e preciso da vossa valiosa
contribuição” (p.154) - capítulo final.
Capítulo 8- Yem-Yem
• Yem-Yem: torturador, polícia ao serviço de um regime ditatorial, o regime
de Nham-Nham.
• Afirma ter um problema por causa de uma palavra.
• Embebeda-se num Klandô (=bar).
• Inspira medo nas pessoas presentes que lhe deram primeiro o nome de
“Carrasco” e depois Yem-Yem (=silêncio).
• É comparado com uma “fera ferida”, um “tigre em agonia” (p.159).
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Nádia Almeida
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• Parece ter uma dupla personalidade: “[…] ficaram só com a dúvida de saber
se o animal era aquele que viam e que estava permanentemente a rugir, ou
o outro, o invisível, que se escondia e crescia dentro do primeiro”
(p.161).
• Reflexão sobre como se sobe na carreira política num país profundamente
corrupto. Yem-Yem aceitou o jogo desonesto e hipócrita dos favores, da
corrupção, das falsas promessas, do engano do povo (p.162-165).
• Yem-Yem chegou a ter um “couro” na política, mas um amigo seu da
infância não aceitou esse jogo.
Analepse:
• O amigo salvou-lhe a vida na infância. Tornaram-se melhores amigos.
• “Mas depois veio a política e estragou tudo”. Estragou amizades, estragou
casamentos, estragou a confiança e agora até queria estragar a terra. Só
porque todos queriam mandar e ninguém queria deixar” (p.169).
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Nádia Almeida
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•
À beira do mar, encontra uma "sonda" (o kambletch/amuleto de
Ndani?)
• Tinha recebido uma mensagem do mar.
o Por faltarem algumas palavras da mensagem, Madjudho não consegue
cumprir com o que lhe foi pedido. Não sabe aonde deve viajar, nem de
quem deve receber a mensagem.
Capítulo 10
• Este capítulo amarra os cabos soltos: As diversas mistidas que as
personagens anunciaram nos distintos capítulos são realizados.
• Reaparecem não só personagens dos outros capítulos, mas também os
elementos que carregam valores simbólicos/metafóricos:
O contraste entre escuridão e
claridade
O casamento do sol e da lua
O lixo
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Nádia Almeida
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Crise do governo causada pela rebelião do povo: (leitura pág. 194-
99)
• Amambarka dá uma má noticia ao seu chefe Nham-Nham (rei/ditador):
a chegada dos defuntos que estão a pedir “amor e tolerância para os
vivos”
• Nham-Nham responde: “Então diz-lhes que amor é uma pura ilusão, uma
fantasia que só os deficientes mentais imaginam possuir. Do que os
vivos precisam todos os dias é de me render homenagem. Homenagem e
fidelidade, é disso que todos, vivos e mortos, precisam …”
• Amambarka: “Assim, fizera o melhor de si para produzir uma imagem
que provocava os olhos de Nham-Nham o fascínio do poder absoluto, o
delírio da veneração num reino de gente acéfala e sonolenta”
• Nham-Nham: “Pela primeira vez em vários anos, encarou a realidade do
país que dizia dele”
• “um feixe de raios com uma luz muito intensa” (pág.197), “claridade
excessiva” (pág.198)
• “Estão a roubar o lixo. […]. O lixo que me garante o poder? Diz-me a
verdade, Amambarka. […]. Podem roubar-me tudo menos o meu lixo”
(pág.198-199)
• “Havia muita gente e diversas máquinas a remover o lixo. Parecia a
maior festa que jamais fora organizada naquela terra. […]. Eram
inúmeras relíquias de uma era acabada”
• Nham-Nham é removido com o lixo alegria de Amambarka
• Também Amambarka é removido e esmagado pelas máquinas de lixo
(não tem sangue, só uma massa viscosa incolor): “Esse recém-chegado
explicou então que o que tinham à frente não era um ser humano, mas
sim uma emanação da maldade e da escuridão que dominavam aquela
terra”
Nível metaficcional:
• Djidiu de caneta (pág.210) = narrador (djidiu = rapsodo africano que vai
de terra em terra declamando as façanhas de personalidades célebres)
• O narrador dirige-se ao leitor/à leitora – referencia a outras obras de
Sila (pág.214)
Imprensa
• 1879: primeira tipografia em Bolama (arquipélago de Bijagós), início da imprensa da
Guiné-Portuguesa, em mãos dos portugueses radicados no território
• 1930-31: O Comércio da Guiné, primeiro jornal editado por um guineense, Armando
António Pereira, com colaboração de Juvenal Cabral (pai de Amílcar Cabral), entre
outros
• Defende os interesses dos guineenses dentro do sistema colonial; mantém-se num
discurso luso-tropicalista e colonialista, porém reformista.
Literatura colonial
• Literatura etnográfica (p. ex. sobre as etnias bijagó, balanta, manjaco, fula,
mandinga) e ficção colonial escritas por não-guineenses
• Boletim Cultural da Guiné Portuguesa (1946-73), órgão oficial, publica amostras
traduzidas da tradição oral
• Publicação de algumas coletâneas de lendas, mitos e contos de diferentes grupos
étnicos
• Ficção: Fausto Duarte (cabo-verdiano); Fernanda de Castro (portuguesa)
• Poesia: Terêncio Anahory, cabo-verdiano (incluído na antologia org. por Mário Pinto
de Andrade, Poesia Negra de Expressão Portuguesa)
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Nádia Almeida
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• Guineense, influenciado pela tradição francesa (arcaísmo, romantismo à
Vitor Hugo), viveu no Senegal, na Suíça e na frança, escreveu também em
francês — atuação secreta contra o PAIGC (Hamilton 1984: 218).
• Sem livro publicado; poemas publicados em;
• 1963: Poetas e contistas africanos - antologia, São Paulo, org. João Alves
das Neves
• 1972: Poesia e ficção - cadernos da Sociedade de Língua Portuguesa
• 1973: Poilão - coletânea
Vasco Cabral
• 10 poemas escritos entre 1955 e 1975, em Portugal, publicados em 1979
na revista África
• Participou nas atividades da Casa dos Estudantes do Império (CEI)
• 1981: A luta é a minha primavera
Tony Tcheka (1951, Bissau) -nome artístico de António Soares Lopes Júnior
• Jornalista e poeta
• Foi diretor da Rádio Nacional da Guiné-Bissau (RDN)
• Um dos fundadores da Associação de Escritores da Guiné-Bissau (AEGUI), 2013
(outros: Abdulai Sila, Odete Semedo, Agnelo Regalla, Atchutchi Ferreira, entre outros)
• Poesia:
- Noites de Insónia na Terra Adormecida (1996)
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Nádia Almeida
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- Guiné: Sabura Que Dói (2008)
- Desesperança no Chão de Medo e Dor (2015)
• Conto:
- Quando os cravos vermelhos cruzaram o Geba (2022)
Alusão ao 25 de abril
Início (23-26):
Personagem principal • Basinho volta à sua tabanca de origem, Sambasabi – silêncio palavra-
chave do conto
• Basinho "matou o irmão gémeo" ao nascer (24) – culpa
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Nádia Almeida
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- papel psicológico: menos soldados portugueses mortos, melhor
aceitação da guerra em Portugal.
• Números:
- nos três espaços de guerra, um total de 170.000 militares
- dos quais 83,000 africanos = 48%
Personagens:
• Capitão;Capiton, Basinho(conhecido por vários nomes), Bikas, Alferes
Mon di Ferro (alcunhas), João Bicanka Sory Bá;
• Omi-Garandi, o patriarca, pai de Basinho, Aladje Mam Bá;-tem mão de
ferro ao defender a tradição africana
• Sona Mawa, mãe de Basinho;
• Tia Bedja, curandeira tradicional;
• Tio Fodé Mama Só;
• Djondjon, amigo de Bissau que conhece Lisboa;
• O padre Manel, padre católico;
• Musna Na Faiõe, camarada da guerra que se muda a Lisboa.
««««««
Dia 20 de março
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Nádia Almeida
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• Trisia Cady Baldé, mãe
• António Sory Dansó, pai – título: Aladje
• Tumane Badinco, tio
• Aissa e Awa, irmãs de Antoninho
• Tumane Badincó, tio avô
• Rosa Linda, amiga portuguesa de Antoninho, em Lisboa
• Motar Só, vizinho
Lugares:
• Tabanca de Começada: região leste do país
• Origem da família: tabanca de Campeane, sul da Guiné – fugiram de lá
por causa da guerra
• Lisboa
Estrutura:
• Dividido em 5 partes (capítulos), o primeiro sem título
• Narrador omnisciente
• Frequentes analepses (lembranças do protagonista)
• Trabalha com vocabulário solto e frases inteiras em crioulo
(traduzidas em nota de rodapé)
Tema central:
• A luta contra a mutilação genital feminina (MGF). É um homem que faz
a denuncia (Tony Tcheca)
Legislação:
• Na Guiné-Bissau o ritual é proibido desde 2011.
• A lei é bem categórica, e para quem violar os princípios
fundamentais consagrados na constituição, sob o regime jurídico
alínea g) do artigo 86º da Constituição da República da Guiné-
Bissau (CRGB), a lei nº14/2011 aprovada em 6 de julho “visa
prevenir, combater e reprimir a excisão feminina na República da
Guiné-Bissau” e, prevê no seu artigo 4º a prisão de 2 a 6 anos para
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Nádia Almeida
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quem praticar a excisão feminina seja com ou sem o consentimento
da vítima.
• E no artigo 5º, se a vítima for menor de idade a punição é de 3 a 9
anos de prisão. Por outro lado, os pais, encarregados de educação ou
qualquer pessoa a quem cabe a custodia da menor de idade deve
impedir a prática. O não cumprimento do que foi regulado pela lei, a
punição é de 1 a 5 anos de prisão.
• Soma-se a isto, o artigo 6º prevê: “quem com a intenção de praticar
a excisão sobre outrem lhe causar efeitos previstos nas alíneas c),
d) e e) do artigo 115º do código penal, prisão será de 2 a 8 anos de
prisão”. Ainda mais, o artigo 6º/2 se efeitos no artigo 115º
mencionado no artigo 6º/1 da lei nº14/2011 resultar a morte da
vítima, a pena será de 4 a 10 anos de prisão.
• Segundo Nader (2014) “apesar de a lei ser obrigatória e possuir
coercibilidade, não dispõe de meios para impedir a violação dos seus
preceitos” (Dju 2021, pág.7)
- Este ritual não é apenas uma prática africana. Muitas vezes, este ritual é associado
à região islâmica, mas isto é linear, ou seja, no Corão não há nenhuma referência ao
ritual.
• Análise pág. 144/47: Antoninho é um rapaz novo que entra com entusiamo
no processo de independência e na construção de um novo país.
Poesia:
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Nádia Almeida
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“Falsa valsa” - Do livro Noites de insónia na terra adormecida (1996)
“Valsa” -remete para O sujeito poético está cansado
repetição (rotina do trabalho) na mesa pelo trabalho duro e pela falta
“Falsa” - o sustento não é falho de tudo de comida
garantido gira uma falsa valsa
- Proximidade do som dá
ideia de que não há a velha plaina
escapatória o martelo A profissão dele
o cuteloj poderia ser carpinteiro
o malho
não fazem pão
Vinga-se no tambor
na palma e no caju
mas o ritmo não sai
Grei silêncio
Já não é um lugar de
quebrado
alegria, um lugar
nas gargalhadas de Kussilintra
mágico
em quedas de água
Quedas de água
moldando pedras
esfriando corpos
esculpidos
no corpo do bissilão Tipo de árvore grande
Guiné
é um grito
saído de mil ais
que se acolhe n calcanhar da
terra adormecida
Mas
Análise de poemas:
“Quando te propus”
Tema central: Esperança de construir um país melhor, ligado à
• Anáfora; luta pela independência. O “tu” poderia ser “mãe
• Indica uma proposta África”, embora não seja
Quando te propus muito preceptivo neste
a luta pela um amanhecer diferente poema OU uma mulher em
independência concreto, uma pessoa amada
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Nádia Almeida
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a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes
Ideia: os homens não estavam preparados
Não tinham a perspetiva
para a luta, ainda era necessário prepará-los
certa do que era a luta
Falta de ferramentas, políticas;
Quando te propus
falta de instrução e conhecimento
a conquista do futuro
vazias eram as mãos
Não tinham ferramentas negras como breu o silêncio da resposta
intelectuais necessárias (físicas
e armas) Quais?
Quando te propus
• Pode ser o próprio
o acumular de forças trabalho como prisão;
O POVO tinha de acordar e o sangue nómada e igual • Políticos
adquirir conhecimento coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens
Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
As dores dos condenados, ideia era igual a «Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da
de se sentir condenado. terra»
Quando te propus
Imagens que
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
aludem à luta. Não
surdos eram os céus e a terra
Sentem que não têm é tempo de chorar
receptivos as balas e punhais
ajuda, não há esperança, pelo passado.
as amaldiçoavam cada existência nossa
o poema pretende criá-
la
Quando te propus
abraçar a história, amor
• Expressão metafórica; tantas foram as esperanças comidas
• Algo abstrato-aceitar o
insondável a fé forjada
passado
no extenso breu de canto e morte
• Nos ultimos dois versos de cada estrofe, a situação em que se encontra o povo no
início da luta.
“Nós somos”
• Tema central: Retrata a identidade guineense; A união do povo guineense.
Nós somos
Trabalham arduamente para
aqueles que dia e noite
produzir os bens mais
fazem com suas mãos
essências à vida. São eles que
produzem os bens essenciais. os alicerces da vida.
Referencia a um discurso
Nós somos de Winston Churchill em que
lágrimas, suor e sangue a ideia é a mesma deste
que desafiando mortes e séculos... poema: o chamamento para a
luta, que a luta é essencial.
fundiram esperanças e fé!
Nós somos
dança, música e ritmo
que em anos 40
sobreviveram a tempestade da fome.
Nós somos
o tam-tam da verdade
Existe para os rapazes e
em místicas noites do fanado
para as raparigas
nós somos irmãos
a certeza e o porvir!
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Nádia Almeida
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• Quem fala? O sujeito poético fala na 1ª pessoa do plural, o “nós” que é o povo.
• A quem se dirige? À própria comunidade, ao sujeito coletivo.
• Adota a mesma técnica da do poema anterior: utiliza a anáfora “nós somos”.
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Nádia Almeida
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Odete Semedo (Bissau, 1959)
• Poeta, política, professora universitária
• Licenciatura em Literaturas Modernas pela Univ. Nova de Lisboa
• Vários cargos políticos relacionados com o ensino
• Ministra de Educação Nacional (1997-99)
• Ministra da Saúde (2004-5)
• Doutoramento pela Pontifícia Universidadè Católica de Minas Gerais (2010)
• Co-fundadora da Associação de Escritores da Guiné-Bissau (2013)
• Foi vice-presidente do PAIGC.
Análise de poemas:
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Nádia Almeida
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Nesta língua lusa
E eu sem arte nem musa Sensação de não ter o mesmo domínio
Mas assim terei palavras para deixar com a língua portuguesa como tem do
Aos herdeiros do nosso século crioulo. É mais eficaz no crioulo.
Em crioulo gritarei
A minha mensagem
Que de boca em boca
Fará a sua viagem.
Deixarei o recado
Num pergaminho
Reconhece a importância Nesta língua lusa
do português, como a
Que mal entendo
vantagem que dá para a
No caminho da vida
transmissão da história
Os netos e herdeiros
Saberão quem fomos
Paro e oiço
É a voz do lamento
É a voz do desencanto
São mágoas profundas
Olhares tristes
Vagueantes...
Gente em fuga
Ansiedade
E paro: é o incerto!
Olho e vejo
Um vazio
O presente
Emoções que
Transformando-se em rio
despertam a angústia,
o desalento e a
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ansiedade-expressam
Nádia Almeida
aquilo que se passa à
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O novo envelhecendo-se
O decrépito
Caminhando
Para o vazio: é o estio.
Escuto e sinto
Apela aos sentidos
Vozes
Canções da noite
Uivos, gritos
Lamentos
Passos de asalmas...
É o insólito.
Paro e oiço
Vejo
E sinto
Lágrimas a deslizar
Em olhos imóveis
E tudo caminha
Fluindo...
É o porvir!
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Nádia Almeida
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Ao sentir Transmite a ideia de que a
Foram tão poucas infância acabou cedo. O sujeito
As histórias que ouvi não considera suficiente o que
viveu na infância
O prenúncio pulava
• Pesa no povo;
de avôs para netos
• Que a guiné teria um futuro de pais para filhos
melhor; Quase se tornou numa passada Neste caso representa uma
• As promessas feitas no pós- de outros tempos esperança, ou seja, é um
independência e essa ilusão fetos bebé que acaba por não
que o país iria entrar numa
de histórias de outra vida nascer/uma esperança que
boa fase.
não se concretiza.
O vaticínio pairava
feito lenda
e cantigas de dito
repartindo lições de moral
Técnica corrente de Odete para filhos mal abençoados
Semedo, de repetir a ideia portadores da desgraça
central no 1ºverso de cada
estrofe O prenúncio montou
na vontade dos homens
na gana de ser
e quebrou
a espinha das gentes Perder a esperança
Dia vai
Entra-se na dia vem
rotina chuva sai
entra seca
Metáfora da influência
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que vem de fora Nádia Almeida
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e vem outra chuva
a tecno e a sua logia
a demo e a sua cracia
mais casados do que nunca
Algo que exerce poder obrigaram a outros caminhos
outras gentes surgiram
... com outras ideias
com outros ideais
Alguma alegria
reajustes
aberturas
acordos
muitos dissabores
mal-estar
Cabo-verde
Ilhas de Barlavento:
• Santo Antão
• São Vicente
• Santa Luzia (desabitada)
• São Nicolau
• Sal
• Boa Vista
• Ilhéus: Branco, Raso
Ilhas de Sotavento:
• Maio
• Santiago
• Fogo
• Brava
• Ilhéus: Santa Maria, Grande Rombo, Baixo, de Cima, do Rei, Luís Carneiro, Sapado,
Areia.
Geologia: Vulcão ativo na ilha do Fogo= ponto mais elevado, Pico do Fogo (2829m), última
erupção em 2014.
Clima
• Zona subsaheliana
• Clima árido ou semiárido(dependente da ilha)
• Média atual entre 20 e 25 graus
• Estações: “As-águas” (agosto a outubro) e “As-secas” / “Tempo de brisas” (dezembro a
julho)
• Ilhas mais secas: São Vicente e Sal
• Ilhas mais chuvosas: Santo Antão, Santiago e Fogo
• Na estação seca: o vento harmatão traz areias do Saara= “bruma seca”
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Nádia Almeida
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Parece um poema quase popular.
A bruma seca aparece, segunda imagem, comparada com a neve.
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Nádia Almeida
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Demografia
• Aprox. 560.000 (Lisboa: aprox. 507.000)
• Descendentes de pessoas oriundas da África e da Europa
• População mestiça
• Idade média: 24 anos
• Religião: 95% cristãos
• Emigração: sobretudo para Estados Unidos, Portugal e França.
• Taxa de alfabetização: aprox. 86,8%
Economia
• Agricultura: produção para o mercado interno
• Exportação limitada: café, banana e cana-de-açúcar
• Dependência do exterior
Um pouco de História
• Descobrimento: 1460, por Diogo Gomes (as ilhas estavam desabitadas)
• Colonização: começa pelas ilhas de Santiago (Ribeira Grande-1ª cidade que se constrói,
hoje em dia encontra-se quase em ruínas) e Fogo
• Sistema feudal, latifundiário, com mão-de-obra escrava
• Pouca presença portuguesa- necessidade de funcionários insulares
• Posição estratégica: Entreposto do tráfego de escravizados para o Brasil, o Caribe e o
sul dos Estados Unidos.
• Após a abolição da escravatura (1876), o arquipélago perde importância para Portugal e
entra em decadência.
Cabo-verdianidade
• A cor da pele acaba sendo menos importante que a classe social. A cor de pele não
aparece tanto na literatura como noutros países.
• Censo de 1960: 70% mestiços, 20% negros e 10% brancos
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Nádia Almeida
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• Anos de 1930: surge a ideia de uma identidade cultural particular, autóctone e original.
(os cabo-verdianos descobrem que são africanos após a luta da independência da Guiné-
Bissau, por volta da década de 60.
• Os grandes temas desta época: a seca, a fome, as epidemias, o desemprego e a
emigração.
• A luta diária de sobreviver era mais importante do que o colonialismo.
• Dilema: como aceitar ambas as origens, a europeia e a africana?
As línguas
• Língua oficial: português
• Língua nacional: crioulo/Kriolu ou língua cabo-verdiana/ Kabuverdianu
• Em cada ilha fala-se uma variedade diferente
• Está em processo de codificação/ criação de uma norma
• Cruzamento do português com línguas africanas da Costa da Guiné
• Língua materna para a grande maioria da população
• É muito usada na música, bastante na poesia, mas pouco na narrativa
Música
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Nádia Almeida
2021212133
• Morna-estilo de música mais conhecido (cantada por uma pessoa, música lenta,
instrumentos acústicos, letras p.ex. de Eugénio Tavares)- Cesária Évora
• Funaná (estilo de dança e música de acordeão/ gaita + dança)- Sema Lopi
• Coladeira (ritmo mais rápido + dança, guitarra, cavaquinho, outros)- Américo Brito
• Batuque/ Batuco (tambores tocados por mulheres, às vezes com a voz de um homem
pelo meio)
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Nádia Almeida
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A Revista Claridade (1936-37 e 1947-60)
• Fundadores: Baltasar Lopes, Jorge Barbosa, Manuel Lopes
• Lugar: Mindelo (ilha de são Vicente)
• Objetivos implícitos: afastar-se dos cânones portugueses, expressar a voz coletiva do
povo cabo-verdiano, a sua autenticidade, intenção de renovação.
• Lema: “fincar os pés na terra” – conhecer em a realidade cabo-verdiana, contactar com
essa realidade, identificar-se com a terra
• Dilema: “querer ficar/ ter que partir” ou “ter que ficar/ querer partir” – grandetema
dos anos 30 e 60
• Tópicos: seca/chuva, terra/mar, insularidade/cosmopolitismo
• Publica poemas em crioulo- desafio à autoridade
• Também poemas em português, contos, excertos do romance Chiquinho
• Nº 2 da revista: estudo de Baltasar Lopes sobre a formação do crioulo
• Denúncia social, sem ser militante
• Influência do regionalismo do Nordeste brasileiro e (menos) do modernismo português
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Nádia Almeida
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Análise de poemas, pertencentes à revista Claridade (relativos à construção
da identidade cabo-verdiana):
“Paisagem”
- poema do ano 1941
- Título: Será o tópico central, o tema, do poema? Não, o tema é
a fome.
Referência à seca, à falta
Desabafo do sujeito poético de água que prejudica e leva
Malditos
que vivência/vivenciou esta à dificuldade de produção
estes anos de seca!
realidade agrícola
Mete dó
o silêncio triste
da terra abandonada
esmagada
sob o peso
do sol penetrante!
Pobres enxadas
que não servem mais!
esquecidas nos cantos dos quintais,
cobertas
de poeira e de estrume...
E a terra seca
cheia de sol!
Em tudo
o cenário dolorosíssimo
da estiagem
-da fome!
(Ambiente. 1941)
“Poema do mar”
- O que significa o mar para os cabo-verdianos? Para os cabo-
verdianos, o mar é como uma espécie de 2ª pátria.
- Relação dos cabo-verdianos com o mar é de amor-ódio
- Ideia de identidade nacional é construída com base nos homens, na
experiência dos homens.
O drama do Mar,
o desassossego do Mar,
sempre
sempre
dentro de nós!
O mar está em todo o lado, pois são
Revela a força do mar O Mar! ilhas e como tal estão cercadas pelo
cercando mar, predominando a ideia de
prendendo as nossas Пhas, limitação. VÊ-se o mar em todo o lado.
desgastando as rochas das nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias,
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Nádia Almeida
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batendo a sua voz de encontro aos montes,
baloiçando os barquinhos de pau que vão por estas costas....
O Mar!
pondo rezas nos lábios,
deixando nos olhos dos que ficaram
a nostalgia resignada de países distantes
Repetição que passa a que chegam até nós nas estampas das ilustrações
imagem de que o mar nas fitas de cinema
está sempre ali e nesse ar de outros climas que trazem os passageiros
quando desembarcam para ver a pobreza da terra!
O Mar!
a esperança na carta de longe
que talvez não chegue mais!...
O Mar!
saudades dos velhos
marinheiros contando histórias de tempos pas-
[sados,
histórias da baleia que uma vez virou a canoa...
de bebedeiras, de rixas, de mulheres,
nos portos estrangeiros...
São os homens cabo-verdianos, Remete para
O Mar!
pois as mulheres são vistas uma nostalgia,
/colocados como objetos que dentro de nós todos, saudades em
estão a ser observados/olhados. no canto da Morna, quem ficou
Mulheres como objeto de no corpo das raparigas morenas,
desejo, de fruto da nas coxas ágeis das pretas,
sexualidade. no desejo da viagem que fica em sonhos de muita gente!
Palavras-Chave:
-1ª remete no sentido de ir embora Este
da convite de toda a hora
que o Mar nos faz para a evasão!
ilha. Uma luta diária pela sobrevivência.
Este desespero de querer partir
-2ªremete para um lema que virou slogan
dessa geração e que é transversal. e ter que ficar!
(Ambiente, 1941)
“Crioulo”
- Tema: Identidade crioula, a identidade dos cabo-verdianos.
- Como é o crioulo? Como é o cabo-verdiano?
- Como se caracteriza este cabo-verdiano, este crioulo? O seguinte
poema, conclui que ele é humano, possui uma característica muito
valiosa uma vez que já sofreu muito.
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Nádia Almeida
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Há em ti a chama que arde com inquietação
e o lume íntimo, escondido, dos restolhos,
Este “tu” que - que é o calor que tem mais duração.
aparece é o crioulo A terra onde nasceste deu-te a coragem e a resignação.
Deu-te a fome nas estiagens dolorosas.
Deu-te a dor para que nela
sofrendo, fosses mais humano.
Deu-te a provar da sua taça o agri-doce da compreensão,
e a humildade que nasce do desengano...
E deu-te esta esperança desenganada
em cada um dos dias que virão Significa que há esperança
e esta alegria guardada
para a manhã esperada Significa que a
em vão... esperança é quebrada
“Encruzilhada”
- Tema: mestiçagem. Cruzamento de raças.
- Estabelece uma diferença com o poema anterior na medida em que o
anterior é repleto de afirmações das características do crioulo e o
segundo é repleto de dúvidas (O que será? O que acontecerá? Qual o
seu destino, o seu caminho
- O sistema colonial impunha uma tradição mais europeia que africana.
Esta encruzilhada
de caminhos e de raças
onde vai ter?
Por que virgens paragens se prolonga?
Fome
Aonde vão nas suas andanças
os homens mestiços de cara chupada?
Sobreviver em
cabo-verde é um
67 ato heroico
Nádia Almeida
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Que significa para eles o amanhecer?
“Anti-evasão”
- Faz uma intertextualidade com o poema de Manuel Bandeira.
Ao camarada poeta
João Vário
Pedirei
Suplicarei
Chorarei • É um sonho/paraíso fictício.
Não vou para Pasárgada
• Traduz-se no uso da ilusão
por parte do poeta para
negar o local onde está - é
Atirar-me-ei ao chão uma utopia.
e prenderei nas mãos convulsas
ervas e pedras de sangue
Gritarei
Berrarei
Matarei
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Nádia Almeida
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“Toti cadabra”
- Tem um ritmo comum (cada verso tem 5 sílabas métrica) –
imitação de versos populares.
- Relato de uma realidade cabo-verdiana.
No enterro de Toti
nem padre nem gente
na campa de Toti
nem flor de finado
Na campa-buraco
teu corpo mirrado
já eras da larva
Pessoa esquecida, que já bem antes da cova
estava morta antes de
Toti Cadabra É um cadáver em vida
morrer.
de vida macabra
OU
já eras cadáver
Pode ter morrido de fome e
que é mais um no meio de
bem antes da morte
Jogo de palavras
tantos
Bem antes da morte
já eras cadáver
Toti Cadabra
de vida sinistra
O grogue e a fome
são traças são bichos
já eras da larva
bem antes da cova
No enterro de Toti
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Nádia Almeida
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nem padre nem gente
na campa de Toti
nem flor de finado.
(in Vértice, n. 334/335, 1971)
Epígrafe:
O corpo é transportado de um lado
70 para outro, no entanto, o coração
continua a identificar-se com a terra.
Nádia Almeida
Ou seja, apesar do corpo sofrer
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escravidão, o coração cria uma
“corpo, qu’e nêgo, sa ta bái;
Coraçom, qu’e fôrro, sa ta fica…”
- só dois filhos vivos (Nina morreu aos 3 anos) -Chiquinho, Lela, Nanduca
- Pitra Marguida – rapaz que ajuda nas hortas da família; criado que se torna
quase um filho
• Praia Branca:
- Titio Joca – irmão do pai (Chatearam-se por causa de uma herança); é uma
figura importante para Chiquinho, é quem o incentiva a estudar.
• Ribeira de Prata:
- Casamento - casamento a que Chiquinho é levado; o encontro com um
ambiente diferente do seu.
Linguagem:
• Síntese entre a língua cabo-verdiana (falada) e a língua portuguesa (falada e
escrita)
• Mistura entre o registo oral, semi-oral e escrito
• Cabo-verdianização da língua portuguesa
• Invenção de uma língua literária cabo-verdiana
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Nádia Almeida
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Fala familiar: entre a família de Chiquinho há personagens de condições sociais
diferentes.
• Rural: “-Pitra, tu é que fizeste filho em Zepinha?”
• Urbano: “-Também já fui assim. Sentia gagê no corpo. Passava o tempo consultando
o espelho.”
• Culto: “- terra de agricultura, vizinho. Gosto muito de plantas. Eu devia ter ficado a
cultivar terra, em vez de me meter na vida parasita do funcionalismo” – associado ao
uso de vocabulário técnico.
• Fala de Chiquinho-criança: “Quando eu era tamanhinho, figurava a América uma
ribeira muito bonita, cheia de hortas muito verdes. Na ribeira, Papai trabalhava de
agricultura”
Criatividade linguística:
• Menimência (=infância), tamanhinho, agorinha, colhetar, porquidade, pardal jardinol,
corpo queixoso, lágrima comovida, temo como areia, etc.
Análise:
Capítulo 2:
• Ausência do pai que se faz presente através de cartas, mobílias, etc.
• Chiquinho cria uma ideia da América (imagina-a como Cabo Verde, mas maior)
• O pai trabalha nas fábricas
• Referencia à seca de 1915– atingiu uma grande zona
O livro foi publicado parcialmente na Revista Claridade, e publicado integralmente
em 1947, por isso, devemos ter consciência que o livro não fala dos anos 40.
• São mencionados amigos do pai de Chiquinho, logo este e os irmãos não
crescem sem referências masculinas.
• Há apenas três livros naquela casa: Gramática do Português, Código Civil
(contexto ditatorial, deviam de conhecer os seus direitos e deveres) e o
Lunário Perpétuo (ensina como tratar a terra)
Capítulo 3:
• é apresentado um elemento importante para a criação da alma crioula.
• As histórias contadas são uma mistura de várias origens. São misturadas
pelas contadeiras de Cabo Verde, são transmitidas de boca em boca =
importância da tradição / oralidade.
• As crianças entretêm-se a ouvir, logo não é apenas o retrato da tradição.
Estas histórias criam um imaginário em Chiquinho e nos irmãos que se sentem
numa ilha onde o mal não existe.
Capítulo 5:
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Nádia Almeida
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• Através de Chic’Ana questiona-se se é melhor partir ou ficar? Chic’Ana foi um
marinheiro, mas desistiu dessa profissão em prol da família.
• Agora trabalha as terras da família de Chiquinho e sente-se arrependido. No
entanto, não sabe se a vida de marinheiro teria sido melhor.
• Tonton Menga Menga é uma personagem misteriosa que é consultado pelos
habitantes. É uma espécie de adivinho/conselheiro/sábio.
Capítulo 7: (pág.35 – 37)
• Recordações de Mamãe-Velha
• Começa com uma referência a uma epidemia de cólera – muitas pessoas
morreram. É um exemplo de uma situação difícil que Chiquinho viria a viver –
catástrofes cíclicas.
• Para Chiquinho tudo são histórias contadas seja histórias de escravidão ou de
Carlos Magno, são iguais.
• São referidas as pirataria/piratas.
• É neste capítulo que aparece a citação inicial.
Aprendizagens agradáveis e
dolorosas/difíceis
• Chiquinho deixa o mudo da infância (pobreza, aventuras, carinho) e entra numa nova
fase da sua vida (novas amizades e uma nova visão de Cabo-verde).
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Nádia Almeida
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Alto de Miramar- bairro de Mindelo
- Cap. 3, p. 124-125:
contém informação sobre o “Grémio cultural” e a
caracterização de Andrezinho.
insularidade e o drama da formação étnica (mestiços)
Andrèzinho deu como um lema para o grémio cultural,
ultrapassar a limitação de cabo-verde e envolver-se no
mundo.
Chiquinho começa a olhar pela 1ªvez para a ilha através de
fora (nasce numa ilha diferente, da que está agora, e na
qual tem uma história/vida completamente diferente,
conseguindo abstrair-se e analisar a experiência de outros
olhos”
- Cap. 8, p. 140-141:
Ideia de encaixar o caso de cabo-verde nas especialidades
humanas.
Cabo-verde=Universo
Implícito um fundamento machista: o ser humano depende
de uma forma direta das suas bases económicas
ponto de vista da revista: ver, analisar e recuperar o animo
de vive. Tem uma dimensão mais política do que literária ao
contrário da revista claridade em que a dimensão literária
é superior à política.
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Nádia Almeida
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“…na Patagónica…” -escrever contos e poemas que apenas
se possam desenrolar em Cabo-verde (não escrever de
forma universal) – permite compreender a realidade do
país.
A Associação Operária:
- Cap. 18, p. 186-187:
Surge “Zeca Araújo” numa tentativa dos jovens
estudantes em se aliarem aos operários para formar
grupos/manifestações rodeada de dificuldades em
convencer os operários da sua solidariedade. Este é um
operário que alinha e apoia as ideias dos jovens, tentando
ser o intermediário entre jovens estudantes/intelectuais e
operários.
- Cap. 22, p. 197-198:
Tentativa de criar uma federação – reflete a mentalidade
africana que não conseguem compreender as novas formas
de ver a vida.
Não conseguem compreender este discurso intelectual, a
sua vida é muito rotineira e por isso não têm tempo para
refletir.
Há muitas pessoas que já perderam a esperança, pois já
passaram por tentativas anteriores de mudança em que
nada mudou.
- Cap.23, p.198:
Parafuso morre de tuberculose e juntamente com ele a
esperança da sua família, pois era visto como uma possível
fonte de sustento.
A visita do Governador
- Cap. 12, p. 154-155:
Chegada do governador/visita - provoca esperança nos
jovens de poderem falar com o governador sobre aquilo
que os assusta e provoca angústia. O que não acontece.
B-Pobreza
o Declínio do Porto Grande/Prostituição:
- Cap. 13, p. 159-160:
Fala-se da pobreza.
João Col tentava arranjar trabalho, às vezes arranja
trabalho, mas maior parte das vezes não. Vive em
condições de pobreza.
mocrata=prostituição; havia muita emigração de cabo-
verdianas para Dakar para trabalhar na prostituição, numa
expectativa de mudança de vida para melhor.
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Nádia Almeida
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Doença e morte de Parafuso.
- Cap. 23, 198-200:
Parafuso morre de tuberculose e juntamente com ele a
esperança da sua família, pois era visto como uma possível
fonte de sustento.
Parafuso era um amigo querido e adorado pelo grupo,
apesar de ser o mais pobre do grupo.
Episódio que anuncia as outras mortes que acontecerão na 3ªparte do livro.
C-Vida privada e emocional / namoro com Nuninha
-Cap. 6, p. 132-134
- Cap. 15, p. 165-167
As-Águas (3ªparte) =época das chuvas(é retratada uma fase em que as chuvas não
existem)
Casa do Caleijão
• Família
Casa na Vila (Ribeira Brava)
• Casa de parentes
• Amizades: Sr. Euclides Varanda, José Lima
Casa em Morro Braz (vai trabalhar como professor)
• Mora sozinho, isolamento
A - Vida privada
• Regresso a S. Nicolau(p. 210): regressa à sua ilha, vem com mais
conhecimento, ideias novas (como a criação de uma cultura cabo-verdiana na
literatura)
• Sr. Euclides Varanda (p.226-229): Escreve poesia com carácter religioso e
influência de Alexandre Herculano, Soares de Passos e Tomaz Ribeiro – as
revistas cabo-verdianas têm como objetivo inovar, fazer diferente dos
portugueses. O poema de Euclides escreve algo não relacionado com Cabo-
Verde - conflito gerado entre Chiquinho e Euclides em que Chiquinho quer
fazer algo novo, da experiência cabo-verdiana, pois tem como objetivo criar
uma identidade cultural nacional. Mais tarde é contado que Euclides
pretende escrever um livro intitulado “Arrependimento”.
• José Lima: cabo-verdiano que emigrou para os EUA e conta o racismo de
que foi alvo nos EUA, sendo diminuído constantemente pela sua cor. Frase
de José Lima que insinua a Chiquinho que lhe pode acontecer o mesmo que a
ele (“mind yourself”) – homem bêbado- provocando desilusão a Chiquinho.
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• Nuninha: namorada de Chiquinho que está na ilha de S.Vicente. Pensa em
romper o namoro, havendo dificuldades na relação.
B-Vida pública
• Chiquinho tem sonhos românticos com Nuninha e como artista, no entanto, a
única realidade que tem é de Ser professor (p. 253-257): única profissão. O
tio Joca avisa-o para pensar bem no que está a fazer, a não se habituar à
mediocridade da profissão e incentiva-o a sair da ilha para ter melhores
condições. Álcool como remédio para a concessão da pobreza, vida que
levaram Tio Joca e José Lima (tópico dominante na obra).
• Escrever um ensaio sobre S. Nicolau (p. 258-259)
• Volta à infância, aos contos que lia, mas com um olhar mais científico-possuí
mais saberes- compreender melhor a sua realidade e identidade-Grémio
cultural cabo-verdiano.
Possui sonhos e planos de vida que ficam inacabados devido à
seca (Capítulo 13-chave)-caracteriza os cabo-verdianos.
• Telegrama para o Ministro
• Tói Mulato-marinheiro
C-Pobreza
• Estiagem (cap. 13) – exercício tipo de exame:
- Escrever um "comentário geral" sobre um excerto: cap. 13, p.
263-271;
- Identificar os tópicos mais importantes desse excerto;
- Contextualizá-los, interpretá-los;
- Fundamentar as afirmações feitas com citações do capítulo;
- Identificar caraterísticas estilísticas/narratológicas do
excerto e relacioná-los com o conteúdo.
• Mortes sucessivas
• Rebelião/levante
• Emigração (p. 294)
Último Capítulo: queria ir estudar numa universidade americana- “American
Dream”. Ele depois recebe uma carta do pai a convidá-lo a ir viver para os EUA.
Despedida de Chiquinho que embarca para os EUA mas n pretende ser igual aos
cabo-verdianos e limitar-se a trabalhar nas fábricas, quer estudar (quem quer
algo, consegue).
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Luta pela libertação e independência
• Década de 1950: Cabo Verde vincula-se à Guiné-Bissau
• 1956: Fundação do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC) por Amílcar Cabral.
• Independência: 5 de Julho de 1975
• Primeiro presidente de Cabo Verde: Aristides Pereira
• Tentativa de unificação com Guiné-Bissau fracassa em 1980
• Desvinculação do PAIGC, criação do PAICV – Partido Africano para a Independência
de Cabo Verde
• Multipartidarismo a partir de 1990 – oposição: Movimento para a Democracia (MpD)
• Nova constituição em 1992
História literária
o Anos 1960: disputa sobre a predominância dos claridosos
o Onésimo Silveiro: "Consciencialização na Literatura Cabo-Verdiana" (1963)
o Acusações: elitismo, falta de autenticidade literária e cultural, mistificação da
terra-longe, evasionismo, "Barlaventismo", fuga aos componentes africanos
o Defensores dos claridosos: veneração dos claridosos como fundadores da
literatura cabo-verdiana
o Sintoma de desorientação
o Consequência: lenta consciencialização da africanidade cabo-verdiana; porém, os
temas e estilos de escrita permanecem (neorrealismo, denúncia das condições
sociais- Pires Laranjeira, no seu livro fala mais aprofundadamente nestes temas)
o Início dos anos 1970
o Poemas revolucionários/de combate - publicados no estrangeiro, p. ex. em
Presença Cabo-Verdiana (fundada em 1973 em Lisboa). Usam a língua como
ferramenta de luta contra o colonialismo
o Poesia de combate: escassa em Cabo Verde
o Exaltação do PAIGC e de Amílcar Cabral (assassinado em 1973) -Alguns nomes
de poetas:
Sukré d'Sal (pseudónimo de Francisco António Tomar)
Corsino Fortes
Timóteo Tio Tiofe (João Manuel Varela / João Vário)
Kaoberdiano Dambará (escreve em crioulo)
1986: Cinquentenário da revista Claridade, no Mindelo
1986: Criação do Ministério da Cultura
Dina Salústio
• Nome artístico de Bernardina Oliveira
• *1941, Santo Antão (outra ilha Barlavento é uma geração diferente de Baltasar Lopes)
• Escritora, professora, assistente social, jornalista
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Nádia Almeida
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• Trabalhou em Cabo Verde, Angola e Portugal. • Trabalhou para o Ministério das
Relações Exteriores de Cabo Verde
• Co-fundadora da Associação dos Escritores Cabo-verdianos e da Academia Cabo-
verdiana de Letras.
• “Mornas eram as noites” de Dina Salústio, é reeditado e integra coleção de clássicos da
literatura.
Contos
o Mornas eram as noites. Praia: Instituto caboverdiano do livro e do disco, 1994. ->
35 micro-contos / crônicas
o Filhos de Deus. Praia: Biblioteca Nacional de Cabo Verde, 2018.
Romances
o A louca de serrano. Praia: Spleen Edições, 1998. •Filhas do vento. Praia:
Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 1999.
o Veromar. Praia: Rosa de Porcelana Editora, 2019.
Ensaio
o Violência contra as mulheres. (estudo). Praia: ICF, 1999
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• Aumento da taxa de emigração das mulheres - procura por empregadas domésticas e
cuidadoras de infância na Europa (2018, p. 13)
Género e pobreza
• A taxa nacional de pobreza
- 37% em 2001
- 27% em 2007
- 24,2%, em 2015
• Taxa de pobreza por género, em 2007
- 33% das famílias chefiadas por mulheres
- 21% das famílias chefiadas por homens (p. 16)
• Razões:
- Mercado de trabalho altamente segregado em função do género
- O emprego remunerado é 56% masculino e 44% feminino. (2018, p. 13)
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Conto:
“Liberdade adiada”
• A maior parte escrita na 3ªpessoa, até “Quando a encontrei” – é a voz da mulher
que encontra outras mulheres ao longo do seu caminho.
• Título: exprime a ideia do suicídio como uma libertação. Porquê? Deseja
libertar-se da sua vida dura: mãe involuntária de muitos filhos, provavelmente
não tem o marido por perto. Os filhos são vistos como uma prisão (prisão para a
rapariga de 23 anos).
• O homem é ausente.
• Ela não escolheu ter estes filhos, no entanto, perante a hipótese do suicídio
muda de opinião
• O suicídio é uma opção pois “não perdia nada.”
“Campeão de qualquer coisa”
• Título: alude ao facto de as pessoas colocarem uma máscara para serem mais do
que aquilo que são. - É uma crítica que se estende a homens e mulheres? Sim
(final do livro)
• No entanto, não sabemos se o eu/tu são homens e mulheres, o eu pode ser uma
mulher devido à voz transversal que há nas outras crónicas, contudo, a autora
não crítica diretamente e sim implicitamente o patriarcado, como são
manipulados pelo mesmo à masculinidade.
• Campeão é alguém que cria uma personalidade, demonstrando que se alguém
mostra a sua vulnerabilidade é desprezado. - A autora critica isto. Esta forma de
estar foi-lhes ensinada “ensinaram-nos que devíamos ser heróis de qualquer
coisa”. Os homens não deviam mostrar os seus medos “não nos educaram…”
• Possivelmente o interlocutor é um homem que denuncia e se sente
desconfortável com esta visão, pois os rapazes são mais educados/influenciados
anão admitirem os medos-questão de masculinidade-daí o “tu” ser provavelmente
um homem que não quer seguir o patriarquismo que lhe foi incutido, desejando
ser honesto. (sociedade de pressão) – Acabam isolados das suas emoções.
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o Tira partido das vantagens relacionadas com "ser homem" numa sociedade
patriarcal.
o Apresentada por homens que não se encaixem no ideal da masculinidade
hegemônica, menos "viris".
- Marginal:
o Homens que compactuam com as normas sociais patriarcais, mas que
pertencem a grupos socialmente marginalizados ou racializados
o Condição precária, falta de capitais económicos, culturais e simbólicos
(Pierre Bourdieu)
- Subordinada:
o Homens que não participam do projeto hegemónico e das vantagens
estruturais já mencionadas
o Características frequentemente identificadas com a feminilidade segundo
o discurso heteronormativo e patriarcal
o Base da pirâmide hierárquica: feminilidade e masculinidade subordinada
(homossexual, não-binária, queer...)
Contos:
“Foram as dores…”
• situação de homicídio onde a mulher mata o homem, por causa dos abusos
sofridos, onde ela está num ciclo vicioso e a única maneira que ela encontrou de
sair da sua relação tóxica foi essa.
• Não é uma realidade muito descontextualizada
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Nádia Almeida
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