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MULHERES NEGRAS E ESCRAVIDÃO:
REFLEXÕES SOBRE AG~NCIA, VIOL~NCIAS SEXUAIS
E NARRATIVAS DE PASSIVIDADE

l.uc1ana da Cruz Brito

São da cor do mar, da cor dt1 mata


Os olhos 1,-erdes da mulata
São cismadores e fatais, fatatS
E no betJO ardente, perfumado
Cow,en•a o cra1"' du pecado
Di: saborosos cambucás
(Olhos verdes, canç:io de\ JC.:nte Paiva, 1951)

Eu Juro i·ocê vai me pagar


Cada láJ{rima que eu choTt'I
Eu guardei só pra te dar
E você 1,oa1 beber no inferno
No inferno

Eu sou a preta que tu cume e não assume


E não e questão de etumes
Tampouco de Je
Por <1caso eu não sou uma mulher?

(Ain 't Ia \\ Í>man, canção J._. l.w<lJ1 Luna, 2020)


152 MARIA HELENA MACHADO • LUCIANA BRITO • !AMARA VIANA • Fl.AVIO GOMES ORc,
153
'\o ano de 2020, 0 projeto l)~.>\ do Brasil divulgou os primeiros resulta demonstrado tanto parte das pesqu1,;a d O\g) id
0
<los de uma pesquisa que visa conhecer as caractenst1cas gem:tKas da P<,pu uanto têm d enunciado os movimento soei 1
. . ª ~tuproe\1
lação brasileira Entender o prod~to da diversidade racial do pais, fruto d4 oram prát1cascornquc1ras no Hrasilescra\/wa nma.z:ea) d
tão celebrada "miscigenação", sena uma das pnnc1pa1s razoes do lntcr1:s ......,.da e negada pelo 1magmáno social e ate me,; ·-=='-"-''""
.,..... mope1 int wuali
dos pesquisadores e pesquisadoras. As analises do material genet1co da Pn ileira durante muito tempo
mciras 1247 pessoas revelou um resultado parcial impressionante h,ra e sentido, es te capítulo parte de um esforç_o incipiente de
• . rn
confirmados dois dados Já conhecidos: o trá fi1co transat1ant1co trou xe parar, ctos ensíve1sou dificeís~ercadotemadaes;cr pr
...1~-
arncmzadii
\ MAi.'
Brasil uma diversidade enorme de nações afncanas e _a m1sc1gcnaçao rd ai lillJ~·.....,._ _que..celcbram a tal " m1sc1genação racial' Embora sa
teve grande impacto na formação do povo brasileiro. A informação no, a rt \e são muito comum e dominante nos discurso oficiai e olar na
!ada pelos dados da pesquisa foi a seguinte: a misc1genaçao se deu de foro-d de uma época, na tdedramaturg1a e no imagmano ,.= ai d
. . . . """1 preten
bastante assimétrica em termos de gênerQ e raça. De acordo com as cara com a h1stonograf1a social da e,-crav1dào para ""nsaro
.-~ ut ras \ ersoe<;
-
terísticas genéticas das pessoas pesquisadas, no que di z respeito ao !)~ 4. r::t-1,!~=d,.,o, que viu seu caráter v1olcnto apélZlguado por discurc;os c.om
mitocondrial materno, ficou evidente que na população brasileira de e 1ú ·dos com a negação da des1gua!Jadc racial Jo Brasil Coloco n~ e1x
herdado das mulheres africanas e 34% das mulheres indígenas Da rnc~rna debate a crença n a passividade das mulhere,, nc~ras, que senam cor
forma, é salutar destacar outra informação divulgada na pesquisa O J)~A -~:H·ri-junto com..as.m~eHnd1genas. pelos resultad~ prescnt
masculino do povo brasileiro é 75% europeu, ou seJa, o homem branco foi 0 ·e Q nosso ~A Com isso, pretendo d1scut1r se sena posst\el
grande promotor, do lado paterno, do processo de formação do PO\o hra~1 der o cotidiano dessas mulheres e sobretudo e,quadrmhar os se~
leiro. Enquanto homens africanos representam 14,5% do nosso D'\ A paterno tos na época q ue a ~ociedade bras1le1ra se formava num contexto
0 homem indígena quase não deixou descendentes, sendo ele responsawl por ta, de forma tão d escqu1hbrada e desigual
0,5% do DNA da população brasileira.
O desequilíbrio desses números divulgados no século XXI. e qul.'. n:íl,
tem nossa matriz histórico-genética, acabam Eºr consolidar o homem ores desabusados e escravas submissas:
branco como prin-9.Ral reprodutor masculino, o que só corrobora o que ílto da passividade

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1 ::>obre o proJeto n:--;,'\ do Brasil, ver· '\l\~s. Estudo com 1 200 ~enoma, mJrx•,a dl\er ,d..
:;;;..---"'-

~-.,.,...-~
nde e senzala, livro publicado pe_lo sociologo Gilberto f re-. r.:
n h e c ido como um d os maiore:, interprdes do Bra,,1 o c1ut r
d.i população bras1le1ra, Folha de S Paulo, 23 set 2020 D1sponivd cm < https "' re o cotidiano das ca:,as-grandcs para falar da forma da
folha uol com br/c1enc1a/ 2020/ 09/ c,tudo-com-1200 gcnomas-mape1a-d1hr~1daJ, olonial e escra\ i!-ta UuhzanJo tom ~ud a
populacao bras1le1ra shtml > .\cesso em. 19 JUI 2021, Escobar, C ientista, \Jo d, \
o ambiente patriarcal, de,cmo como ao mc.,mo tempo
receita genet1ca do povo braMle1ro, Jornal da USP, 1O dez 201 9 D,spomwl cm <hur,,
Jornal usp nr/c1enc1as/ c1enc1as•da saudc/ c1cnttstas querem d esvendar r.:cc,ta g, ,t onioso. Para tanto, Freire !azia um malaban'-mO para t r
do-povo- bras1le1ro/> Acesso em 19 JUI 2021 : [d. D'\'A preserva historia de fl(pul
ções escravizadas no genoma do, bras1k1ros, Jornal da L .SP 04 no\ 20.?0 l l1spo111\ 1
<h11ps / /Jornal usp br/cienc1as/cienc1as b1olog1cas/ dna preserva• htstoria de 1nd1fi n
-e cscra\o, no-gcnoma-dos-bras1lciros/> /\cesso cm 19 Jul .?0.?1, Bezerra l ma n
____
tênc ia de um ccnario afetuoso, mc,mo que atra\ essado por
.,;.-_.:;;:,_ ade d e todas as ordens l) que se Cl lebra nt.: s.i nclIT t1\ a
rus atriarca branco comograndcrclcrênaa dc..\mh.d
se faz na cama' Como proJclo que analisou o D:\'\ dos bras1lc1ros comprmou n _____u..,,e servia d e RCQt1cna amostra daJ>oc1cdadc bra~1lc1ra 1).:
gcm violenta e m1sc1gcnada, 04 dez 2020 Dtsponi\cl em < https.// 11. ""' uni con br t t
ro.> po rtagcn s•cspec1a1s/d ados do genoma de bras1le1ros revelaram \ ioknto pr
• 1iskoki, nesse projeto hekro~,.-xualrncntc mpul
m1sc111enacao/#cover> .'\ ce,so em 19 JUI 202 1 ução tem 1mportânc1a tundamcntal a mulher
154 MAR
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1/\ lifll/ IA, M.t.CHADO • LUCIANA. 8~110 • IAMARA VIA.t IA. • FlA\IIQ OM

niulhrrcs ncgr,1s, fordm rdt..-gaJasa um lug,tr dl· "pai;s1v1J.iJ, , h 5 negras {'2ten t'1hzou
\iCZ q\JI! St'lt'i ' . 1 1 I011ra l!!!:::;;.'--m O estuprador d cnm
, . 1:orpo11 l l amo ?J.l'tl' di.! urn l'o11troll• b,1~1 ante n q1do
Seguindo essa ll·nd, nc1,1, dtntrc as vária!!, ienças sohrc a c cnas5em c.<:tqH~
\<l gt· n t ~ 11a c.l • nornia
e s c,isas 81an es, t'm <..asa grrtnd,· e ~l'11zala t,ustt:mam ,ssc pos 1vd
de r<tSst vidaJc d,t mulher escravuada 1• do seu c(,nsentmiemo ar~ a .:m I r,oo..Afon
os St' llS p~opnd,arios Vc1amos come, ess,1 noçao da pa!.i&JvidaJ~ da i!. Gco_grafi o Bra
rcs frn ut1lizad<1 para .th:nuar a violência sofrida por das qu;in li L).Ja ha~a i-" rito u
Sll[)ustarm•ntc subm1,;t,as de ficnhorcs .itivos t.into do n,int d cioualidadc brasil
' ,. o 1 t
1

poJl·r senhonal que controla o trabalho quanto da wx11altch J. lirmanaguc "a


•CfJ<rtar.
{1e, rorpo e dos c.lc!ll'JOS se olmgad
i'\ otamcnro e

A CSl:.i sc1. Jc mulh,·rl'!i b1,1n~a,, rir,u zon,,s J1 cunfr,1ll 111tzd~ ,.,) ti ficava que o trabalho d~intt>r
11 ~~:,i..::::
n·dore11 e vc11c1dos, entre scnh,11 ca e eJKravos S.:m d1·1xarc1n <l1 ser , ..: 1,, sua resignação mabala\cl eram
dos hrnnco~com mulhc11·, de< or de "MIP, norL11" rnn1 "mknorc t 11<Jr do~. no füai;1l.Jama1s havia cx,~ud
nunwrudcc:.iso11, de senhon ,dcs<1busJdoscsad1c-osc11n,._~ ,,tvd pi senhor que estava impressa md
1
..,,,ram •sc, cnlt o:t.1nto, mm ,1 ntCL'SSÍtl.ldt• 1. >;pntmt'nt,H.l,, po, rmnto re o corpo fez da v1olenc1.i sexual
Hl0Hlltu1rcm fom1ha dentro dcs!la!I circun,itanuaH' llOhrc •~ fla~ ca,;ao de mulh,m:s e lambem de homens
n o autor. "Nao ha t.>serav1dão sem depr
hcyrc usa o verbo "ac.loçar'' para descn•vcr 9 sexo entre enhort•\ mulh o que dtz Angcla D~ 1 br a
rc.i; c&o.:ravt:r.adas_._ equacionando o desequihbúo d~ R()Uer e as p<,,~,, l!J ll ~ rx~crmz.adas. · o c:.tupw..m 1 a : r ~ a
to,•s kva1ttc1<las 1mhrc as c1rcunstanc1as na, quais se firmaram ei " r 1 ,11; mo ecnnom1co do pr, :rn târ
atr,lV\'S e.lo erotismo e do romancE:. l'or 0~1tro lado, podemos rcconhc , ., as na con<l1ça,J de trabalhad u
esse, encontros foram marcados por profunda complex1dadc I rm nt<1d \;ni:;uahdadc fundamental
por m tcrcsi-cs diversos. De acordo com SaiJiya l lartman, as pr.à(lc-.i \C lo do wnhor nas casas $U'.a
de rrcusa d!! mulheres negra1, contra o hcteropatnarcado e a v1okn 1,1St? ru na lundamcntal t mbcm
apontam como dcSCJO, p<><lcr e violência operam junto!:! como mc1..an 1 moe!,., o patnarca. fo para oon
domin,,<;ão e rnl'<ltaçào dos conflttos. Amda segundo l lartman, ,1 ri:t1r da~ am,•nte, Hartman nos faz r
concli1;ao cfa viol~ncia na vt a sexual e.las mulhcrc, negr,1s, mi sil~n, 10 la idade t.: das suhJet1v1dad da
l'as,1s-grilndc~, chamacJas por l"L_cyre çk_cspaços dt "l.'rot1l>mo", cud,n v.c'l. que sendo essa uma r1:a
como a ~unaltt·miJt1c.le fo1 marc,tnte n,1 s1.:xualidade Jescnvc1lv1d,, lcn1wJu
eal I vci10 \lesmo Sl"lll negar a agência dcssa'> rnulhcrci;, que c n ,1r;im d1vn
c~t, atcgrn!i p.ira sobreviver e, minimamente, prcscr\'a1 -;,e d., forniapo, 11
------ umenta1s. torna - e d1hc1I men u

nesse t1mb1cntc, poclcmc)s afirmar gul·a pl:Qpria vuln~·rabtlidadl· Jacc,nJiç u,;t1on11nd1h R, of l


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qw m, ,ef11110 lo pau \ 1 tá
, ~,. k,,lc, o ,1, 1n cw .. 'i""· r i111 Mmdltn
1Í h ~fl\ ( d d /;l11UJ1 f!:! 1 li aJ.i Tllf,1 p
156 MIIWIA t-1! 1CNII MACt

cons1•nt1m1'nto ' r 1
i/\00 • l UCIANA 81tlTO • !AMARA VIANA• fl.ÁVIO G 'M

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11'1."l1o l' n,1 suh1u!{,1çan
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. \ lih-1 .itur•I ' tholi uomst,1, aqul·1,t lhl<J autoh10g1,1fit,i i.-~ 1,n 1 s Jc p<> ,•r a1.,l • • d
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a: • { l p,1ss1vtl ,ldl· <la mulhl't e 1,1, 111Ja di 1ntc 1
' • ' p o lll\(1 d. nan.:•ta"ª . 1 •ocupaJ,1 t:m e , rn 1:r uma vcrsao harmonio
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"lll or\~ dé rsua,ns I m A et1l>m111 tfo p<.11 7im1a.1, publi1ado cm l1•hl ~ 1.rlieS rac1a1s 1 .,r,1s11t:ir,.
alxilictonist,1 l l,1rrt1•t B Stowc, o perfil p,uisivo e suhrn,sso J ~la ,....~ 1 , ipanc>u 1!p1sod1os que r deseJ,wa 4ucJ,0sscm s1lcnua
11s li . ,, p, rsi ,11:i 'm .....IM. da tum -,cn ' .., . 1
. HP-'" 'J "'--h., ~ nu:;MbtliJa1ks de autonomrn I mantciru ut1 1z
1. ,1, llm,t lll\l ll'I nq~r.1 mcsll•·a CSCI l\'11. 1Ja CJlll ' l ' l 1 ue1.1 OS, .-,v IC.1 1 -
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e li N·t·avizttdas e l1ben,1s, h1entcs .-1fmna ,1uc narr lt'- d
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1 ii;a grnndc, 1d lctm,1 aqfü•ll• t1p1co d,1._ esn,,, 1.: 1,h, di mt . 1 dll r mu 1ercs e,... ·• .
' ' ~,dadc. s ubnw,s,,o e p.ir,ili~1.1 <li.mio.: Ja v1Ql1.•nc1.1 ai.::.tbamllQr rcfi r r
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ldeia d e que ,1 un1,·•·a rt:1<>ssih1lt<lad.:: <l • lib_crdade '-Pns1der,1da par,1 mulh
nll l\lo~ tnat 1ngn'l'ls, in<ll'( ai r,,vl·ts produ:.m.los pd,ti> r, l,,,·,,l 11111 , 1 :.. as eram aqul.'las vinculad,1s [1R barg,mh,ts scxu,ui; 1)o.:statmndc> .i
, , ~1111111c
,. su,1s 1'!'11.'1,1v11.11d,1s, ao nh•sm" tempo qul' devemos 1,·ronl11·c ,., qu, ,1~ mulhc ~ h a s " do c-,unpo du s1sll'tn.t de Jum111,1c.•,10 sexual, sa. rc, ltd d l;:

lC!i nao 1c,1rarn 1mpass1v,·h J1antl' d,ts mvcsttc.l,1s -;i:nlv•rtats ·1\I r11~r cu Cogm_._romantiz,1<las numa narrativa que colo1:,\\ a o homem br ,mco
"'
f')t\l .:xcmplo. ,1 ,1utob1og1,1li,1 de 1111111d J;1rnbll, public,Kl.1 cm l>H,1 1 lJYc oW,,:O de.aedução da pessoa csc1aviz,1Ja 1
descri.'\~. J, ntt,· outras COISilS, as 1'slr,11\.•g1a1, Jc Ja, ohll, unia 10,cm mulh,r Ahistoriografi11 n os n:vda que for.im bem 1..hvc1s,1R ,,s, tr.11i:g1a o.: m 1
, sei,\\ 1:t,1d,1, par<1 rcsihtH ou s,' protégcr do ílssc<lm 1. , 1ol(·n1 ia sc,11,11do~ utibzadoe por mulh~cs negcas, c:.c.ra, J.Zad,,., ou libertas, para adqumr aut
s1•nlw1, o que se tornou m<ltc Ja suu íug,1 p,tra ,1 rc~1au norte <lo"S 1, 1.,J, o<;;;a financeira. l\luito ah'nt,1s a Jtnámk,, Jn comi:r( 10 c economia da
l. ni<los I',1mbcm ro<l_cmos t1la1 a hu;loriu de ( :cha, mulher 1•s, 1t1\ 11aJ,1qu, .;c;;iade escravista, as ganhadl.'i1 ,\!1 .,s conlwl"cdor,1s di; pratica rcl1g10 1

\ 1\ 1.1 no 1•s1ado <lo t-.ltssouri e· qul.' ma1ou o seu prnprict,11 ui ,1po, ~,, \'~tu ~ciantc:l, ctm,1s de leite tnl•mhrns J,, irma1\d,1<lcs rd 1g_10 s qu promo
p1 ,1du pot de Icpl'I id,1s vez,·s, cksde o dia cm que fo1 n>mp1 ,1d,1 ~ aJuda mutua, cncuntraram íorm,1& dl" t1.1tc1 a lthcrd,1J., pllra um hon
No Hrnsil, a hi:,tcmo~r.tfia dt1 escravidão taml-:wm lt.'lll rcvdaJo i:p1SQ<l1 ,onte próxjmo.J\ htt;l()J i,1dor l Julian,t 1 ,mas, pnt ,·xc.mplo JlCSQUISO\I o
de mulheres que rcsiHtiram J vwh:nc1,1, ,\O abuso Sl'xual e ,tu c~tupru ttl\m empreend1men10... <ll' mullwrl's mina,- nos nwrn<los <lo l{1n de lan iro 1: fi 1
d11 ,mdo a po1,s,:, <la su<1 st·xtt.tltda<lc e <lo sru corpo. '\ lrn,t11rt.1du1,1 l~tb: paragaranttro monopoli0Jl·sscconwr1.."1oqlh: hnguram c11t1 e I e com mau
Reis, por c,,i:m )IC>, cv1denc1a 1..·pii;od1ús dt• íug,,s l' ,Jt1., mc,.mu Jt: ~l11<1J10 doe pouco promu,sorcs, dcqut·m muit,1s ,cz, sscdl\orc:iatam 1 la t,11nbcm
1nl,m111,;1daos,1llav1..·s Jos9.u,11s cs,.,1s mulhl.'tcs, Jc to, m11 t·xtrcm,1, 1mpunh,rn questionavam na 1ustu;a m,·did,1o; l\•ga1s que i.:,1us.1\ am um unpal to ni; .llt'li
1,u,1s ,ontadcs \( S,indrn Gr.th,1m, no li vro Ccuilarw clt nao, rch•l,, ,1 h,,toru noa seus ne&ocios, fnnh fund,1m, nt,11 dtt sua autonomia finan..:cua
~k \llll,1 ni~1lh~•1 ei;cr,wizad.1 qu1• foi ,Ili' ,is ultimas inst~nc1as PQS~I\," iK•r Também l·nront rei n\\lllwrc,-. no:gra • t ,tnt<> es1 r,1, izadas quanto libcrw
r.:l lJ o 11 um homem q1w n,10 l!rn do seu .,grado que, na ci<ladt· UI.' S,1lv,11.ior l' no l{ecónc-,1, o B,11ano. monopoh ¼1ffi ,.,,....,n,.
dos que raziam g,mhos fin.u,H:tros e impacta, am a economia d
ll~1(11u111 'x-Jmti ,11u11d1b,·K11 ,,.,, l'own ( ,,11,il,,o, 11) u ? 1111<1gm \\,m1u1\\1 cm que viviam 1\ mu1ur1,\ ..kl,1s, <l1• acordo 1,.om seus Lc tam\:nto e r..: 1 r
\ p, p11m •~111 1'>•1{,
li l1unu Ih, :-..,m k .or1,l1h, lmg,,,r,•n ~lat.:rn,,l(mcl R,1,1< ll'ror,·çllon .nJtl,-\!
,,f Sl.1,,1\ S/ 11"1,V 6 \/;0/1111111, ,, IS n ll I' ,o 'OI
1} 11,u 1111,111 8..lu.i1on anJ th, Ru>te uf l'uwr1 , C:,111<1/1111, \' t<I 11 • 1 mcri.-m \\, m \\ 1 I' l u, nt, /), pm,s. l f '"' p 1◄
1' 1lln.i,, $<,h li Qo\ ,·m,) ,1., m11lhc1< e , 111,111 ,
V< J> , pr I 1111
1O I{, 1 1, ,•11< 111 no C11,1tJ1,111u ,1, n1ullu" n, li"" n,t llah,11 wux., 11 Rmd..-J~rhn u.lui11n1lo \1:\ m :\i\t,'1' T ru
1 llhl J \111/11111 Ih 1,1 p 17 11,;
H :so,,,. , Ai g,rnh,1.tcir,., 11111lh.r, , e
\ 51,1 li 1 , 11 r,7 !')'Ih
1l 1 ,,.,h,11 , ,11 """
158 MARIA HELENA MACHADO • LUCIANA BRITO • IAMARA VIANA • Ft.A VENTRES LIVRES" 159
VIOG01,,1E.,
. • IORc.s
cartonais, compraram :.ua propria alforria. Destaco aqui Oe ·s meninos, na qual css.:s ultimas Ja faziam 1.:us
"e scn h o r e.
C f . aso d"' s h1 ' oleques . . ,
ruz, a ncarm que viveu na Bahia durante o levante dos • · .i 11a.1.
• m,l11:s •
.,e' l1l , . . de penetração nos primeiros
"<i eO exerc1c1os
alforriada, dona de escravos, de in1óvcis e vivia do com~rc 10 J . · ~ l!Ue Jt1 er~ prüO-eitO'
1 "[ · t P1 0\lu10 <l. 1 1o 1:,,susse um ou mais molcqui'S, um ou mm curu
canos. 1, uno atenta ao valor Jc uma <ll'laçao à rcvnlt 1 mu &afr,
~ . ~ u111\,ina 11 1 havia l'I\S,l on ~ i •
d c, l 0" .,::,,
, , b. . . , '
~a ma concedeu,, pohna mformaçot-s 1mportantl s. l ' do, Nl0 <la ,os ( apm;hosde nhonhil eram-Ih, oc.i\ ,tio o };:\: a
• so )r.., 1 v(lunas consagr,1 •" • . . •
e conseguiu
. barganh.u
. bcncf1cios para s1. N,\ P,11 aiba cios" · 1•·1r11ti
. ,.,,,, 1() \ 1\ )llint, . <)s i.:on'\J),\Oh..:1rm,, os cn,1do,
~cadas, os ,u111~os, •
to11adora ~olangc Ro(;ha conta,, trnjctm ia til' mulhcrcs qu1.. · ' 1h1
10 1
. J" 1 ,tn1 ,1 JI · t ·o~ c.louinwntats que rC'lat,1111 .1s m, i:st1das do -.;nho
ibl·r<ladc, brigando Jud1c1,,lnwntc contra o:. ltlh
11.'tvm 1c,1r st1<1 %1~
. . ~~
~ 9 são os n:g1s i "
antigos scn hores, qm.' romp1,,m ,1n>rdos firmados cntrl' d 1, •
• ,, l S\'\J \ fl!
11
S.:'1! os hon11..•ns n,·.0 ros. pan • , sncia
. r ·.:us JcscJos scxu,11~ l m raro n .:g1 t ro
t,n1os ,mtcs Jc morr,•1 1 1111, ~IQ re h ton i\Jor ( ' lissio S,mt,tna, que efü ontrm1 um l p1 o
trado ~wIO is •
Sl· ,1s alfon1,,s cond1non,1is ,,cahav,1m criando t111',\ ro, r,·nk foi encon passo\\ n,1 e.1e.1•,<l••.. c..h• t :,1c.. hodr,1 em l H:; l 4u,indo o 1.:M rav1z.1do
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1w~H1s I t ~ond,•n,1,to pt•l.1 1nqms1, ,10 ,. rwl,1 1LIH'J. ,1 n1111h, 1 o . D• grandes reprodutoras a mães:
' • "' :-.u ~litt,
s,·nhrn 1.'s l' ,•s1.·1,1\ 11,1dos t' ,., ,·nt n qtw dl'l,1)\1 pou,·us 11·g1st 11 h dn, um,·ut,u:. o ventre e a m aternidade
1),•ss,•s h'gtsta \ls, \ 1J,m ,•nu)nt t uu 11'1 !01 m,1, tlt'S 1mh11.' ,•s1l1p1 11 d, Ili< 1111101
1.• 1.I,• hnnw11s, ,t:; \ ,•:,n, suh p11111wss,1s 1..h· lilwr dnd,· 1.•1n h 111 ,1 d, ,.,.,0 '\,i A mtcl,•1. t u,,l l· ., t ivist.1 1 ,·li,• l ~11nz,1h·s l,11. 11111111npo 1 tanl\ 1, íl, x 10 ht
uhi.1 d,· F11'\ 1,._ prn 1.'\.1.'l\lplu, ,•ss,\ 11•),11, ,10 ,IJ',ll ,•11.• 1\,1 l\lt 11\,1 d.1 ' ,11111 ,t,I, L amulher m.~~l,I l\U n, ,1s1l ,·s, H\\'ISl 1 \ 11\1. Sl\\,l ll\Ullw1, 1 ll Xl'I li 1J I l 1 \' 11

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,1,,,1,· lll '\,l\ 11·1, 1 ,11 hl \ ,111m·~ '"'ll' ), \/ui/o,. 1111 ~1·" 1' s 1 ,1 de. i\,I,,~ "" ""'" \ 1\. "' 1'11. Nlll li\\ ~ \Il i
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l 60 MARIA HELENA MA 161
CHAOO • LUCIANA BRITO • IAMARA VIANA • Fl.ft,
. )/lôGoMes 0 ~
de nsta do trabalho d us •J dl" subi \.'l udn .,pos a promul nçao d L ~ d \ \; t
d , o sexo e, atr<n ~s do sexo da sua e ip· d 1atcrn1 a '.
uz1r ma1s pessoas escravizadas g•'r"ndo
"· f • ~ "
'"ª.
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" IS rtqucza p
•'
,\c.1 <1dc de r~Pr.o. n
• O
·J .· c.lis pda histonografta bra tldni
1.•VI l'Ol hl <.
n.:~. assem eh.'S orandcs propr· 't . - . ara ~l.'Us scnL . • dl! 2~ tl1.· :-l!tl!rnbro d
_ "' . 11: anos ou na9. A.ss,m a . 'Ili• tr •
se mscrc no e d , \ 101cni..ia ,\ ~ntrc as mâC's as t·nan\'"' mge
~ ampo as práticas de controle do corpo e co '~Xua}
reprQduçào da escra . . p mo nl('("an1,n11 d · - tr,1halho dd,,._ -:- de
filh ~ ,ana. rcscntenaobrade Frcvrecanoçàod " ) ~ r
t os de mucamas e. mães pretas" e senhor's b. e mulato, os no a eto. nas relações de cu1d,1do e d, amor
e rancos que fora
no amb iente P.atriarcaJ "como se fossem filhos" ..;. - m cnaJ -
suas casas-g
. . randes" eram Just1ficati\ as ..:mpr1.: •ada na u a
L. d ecomo 1rmaosd•
receucn o afeto e instrução sob as benesses d, l - ~ ..:na,ào ~ tutores para manterem a, crianças no trabalho r
d d e rc açoes paternalista -\ s senh oras\;
e acor, o com Freyre, essas mulheres teriam sido recompensa<l . s inJ ' ; con-1pktarcm )1 ano:, ou at" dc1xHs da l e1 do 1 , de
ave1. ah:
d o seu ventre gerador". ªl' por ~au,sa • o ra Ionc Celeste d-:- -:.Oue-a s h1 ton

asc1d s apos a Ll' t e ~, t 1ca\ am , oh


Desde logo salientamos a doçura das relações de senhor 's t½. m ktarcm ~ an
d · ~ c-c,m "era•
omcsttcos. talvezmaiornoBrasildoqueemquaJqueroutrarurt,J \ •' ificava oferecer l!d ~
a d [; ,--.. -~ ª nien,a disputas jud1c1a1s cn
casa-grao e azia sub1r da senzala para o serviço mais mt:Jmo e ddk d
senhoresumasene " d em
' d in duos·amasdecriar mucamas ,rm- ·d :a,J,
0 no scn iço domcsnco e mcnmos
. . . ' · ao;; e,na,i J ,
merunosbrancos lndl\.'J.duosc1-0olugai,nafamiliaficava" ..ndo naoo - d~~r.n dultos.Sc. nessa disputa.~Cli •' >Cobnn:i.. alrnuk
- .........
mas o ~ de casa. Espécie de parentes pobres nas fanul . "' melh.9res cond1çõcs qu<' as mãe~ e a
. ias europ.-,a, a
mesa patnarcal das casas-grandes senta\ am-se como se fossem da 1·am l • essas mães ~ a\ os dci,,a,.am ~
• 1 1anum;:
rosos mulatinhos cnas. maJuogos. moleques de esnmaça'o -\lgun, . filhos e filhas da autoridadl! e .:-xplor
• "'llam d.
cano com os senhores, acompanhando-os aos passeios como se fos..--.:m ftlh
· ulatinhos futuros d outores qul! foram
:\ndrea Li,insev, historiadora, demonstra como relaç;:..,." qu.. u e.senhores e senhoras uc nutnam la-.o
. - --- "'-" , ~ JXi-ta
me~te poq:3aro corue□t.p_[Qt~o e_privilegios poderiam aprofundar atn.i!. a go tado pela h1stonografia qu ' , ,
mais os sentunentos ele ód.io,...eosse e controle dos senhores sobre as mulh.:rn

escravizadas com uem tiveram filhos.· Livinsey ainda nos chama a retl~~r
sobre <Lidei a da ''esc0lba" da.mulher esÇ@·mdª' dentro das suas pos.:sibw
._____
;........,.- -0-.-d-:-ca rac1ahzaçào e das relações 1..
ores e .P.essoas hb.:-rtas É 1mportantl! pontuar que , t
.. e "mulata" carr~am significados q ue \ ão akm da ,.maçao da
dades e limites de autonomia sobre o corpo nesse contexto escra,-ista. ~lll, inar um homem ou uma mulhcr -\ , ana,;ã t
uma'-ez, podemos falar em escolhas? Em consensualidade? Quai:, os Imute; guc ser uma "m lata" coloca a mulher n
1mpo:,tos a essas mulheres, uma vez que o estupro, o castigo fisu:oou com~ ente associada ao rau r -.,;:,ual J o m
trabalho mais pesado e a venda e separação dos filhos eram elementosi:kk- os mcm ros asCa.::ia-12: e. ate tornar
ganha numa "negociação" pelo sexo? :\ manutenção dos vmculos famihan,
as estratégias de controle sobre suas crianças e a reivrndtcaçào do dir.?1t.0 ao
um m=or n.io deve ta~
G=les p 190-21- e o trabalh,.1 dos m cnu
e JmZaLi p 125 n.Tt' agni1 his1 e
ence Erubved Mothcrs and Ouldrm &m of Ra~ m, m. ' na d.: uma,, nu1Lua
!!t"T)' é-: Abolüton ~ 3S, n 2 p r l 91 201 - 1 m ~ de uuh ar a
162 VENTRES 163
MARIA HELENA MACHADO • LUCIANA BRITO • IAMARA VIANA • FLÁVIO Go1.-es

Em um importante artigo, a histonadora \Vlamyra \lbuqucrri algum assim como também não estão as aram n
. '1ue d . trados em lugar •
cute a mserçào social de um desses mulatos oriundos da ca!;a-,granue regJS e engravidou. _
falar da traJetória do engenheiro Teodoro Sampaio Baiano de Santo \ Par aas em qu e-nos bastante s1gmfiçat1\Q r.~laoonar a noça
... : - A2J1,SS1ffi· parec ·
da Purificação, Teodoro nasceu no Engenho Canabrava de onde ITlar ~ i1 · orno uma grande P.,la11tation co 1da de Domm a
socJeda e
d b ~ e~c -
ela concordaria com a -. -.!rsào ham1omosa da h1 tona e
d
aois 10 anos para estudar no Rio de Janeiro_Filho de uma mulher 1,~an aino-nossc d
de. ao que tudo indica, um padre, de acordo com Albuquerqul•, ICQdrt.!e Quesb00 .. Jatos .. q uc fonnariam a nação Concordan o ou na
brancose mu
tlampa10 se insere multo bem nas descnções de Freyre das "crias tr.it ~ pegrc>S· d do em parte, Domm~s no:- roostta,qw:. a e~
da que con cor an
com doçura pelas sinhás. A lém da mãe, q uando partiu ainda menino ou ain Iher e mãe escravizada acabana ~r com r os dn. c-n;o,; e
. . comomu d
a capital do Im peno, Teodoro deixou para trás três irmãos, todos e'iC:• riênC18 . .
• eis cenanos,
· todos eles bastante complexo, ..mas que no, aoam..P
zados. Assim, o Jovem mulato bastardo, a quem o propno (;1lbcrto hnr ~•v -
Q chegamos as carac
terisl!cas 1
histon<:a.: -gcnc~-qucJ'CSJ u:aIA
=="""""=
ro
considerou ser um perfeito representante da "emmênc1a parda · hrae.-, e, e ~ b r a s i leiro como ele é
a despeito de ser livre, estava atrelado a fortes vmculos que o con.:tta ~lll, ~
escravidão ·•
Teodoro Sampaio, de vez em quando, ou quase sempre, era lembrad IÍt:;
eonclusão
suas origens, já q ue na sua infância ele havia sido um dos muitos· niok
tes" que viviam na casa da família Costa Pinto, propnetana do en~cnh ú ~ das casas-grandes ~itavam dor..:s profunda::i gu~ ..m.arca\'alll a
nasceu. Insultos racistas e impedunentos ao seu avanço profo,,1onal ~ r~ vida das mulheres negras escravizadas Essas dores e demab :,cnumcnt ...
constantes na sua trajetória, marcada por sucessos, decepções ataque;. rr, não estão registrados nos arqu1vos, e por t$SO deixaram ~-paç~ra õpc
conceituosos e atos de benevolência da familia Costa Pmto qut aqui e culações e versões desse cot1d1ano compr_omcudas co~1 Jl\,-ersos mtercsses
tentava protegê-lo ou favorecê-lo mobilizando seu prestígio e relaço.:~ poJ soDretuÕo aqueles ligados a uma narran, a nac1on~a...hl•t..:mnorroam,a
rosas no ambiente político e_patriarcal. Contudo, a história_ social da esc~, 1dão nos m:;mut11; nt r
Quanto à mãe de Teodoro Sampaio, a liberta dona Domingas, ela pod, outras versões do passado es1..ra, 1sta c das relac;oes ~ tic-Íanulta., Ratn rca ...
seria uma das mulatas disponiveis e passivas que panam "crias" que~~tor
nariam a parte bastarda, subalterna e trabalhadora das pla11tatw11s do Br.s...
e famílias escravizadas. "'º caso da~mulhcre:. negra:. ~,nadas. bem
hoj!,que essas.mulheres foram apartada::. do.s sCU:ifilho, adoc-ccram m rTI"
escravista -'\. despeito do filho engenheiro, Domingas ainda aguardou mu • ram de parto, perderam seus filhos para a ,.:-nda ou Q!lra a morte "'ofre
tempo para ver libertos outros três filhos, graças ao compromisso daq1. ).- a ~ontâneos ou não e tambcm .P.!:!Eeram suas cnan as amd
outro que viu partir aos 1O anos A dtnàmtca paternalista amda d aman pnmeiros dias de vidª-.,OU a.o. longo da infànc-1a -\lguma::. dda!- com
ria à familia Costa Pinto a ponto de, quem sabe, cnvelhcu~r ~end,i a mac Ç infanticídios porque se recusa,am a \IH:r a matcm1dad\? na o.e a-.1d
preta da abastada familia. Talvez, ao mesmo tempo que "grata p,: a n:. dores de perdas, que se misturavam, rah·ez. a scnumc-ntos de af1, 10 tam
cação do filho engenheiro, ela nutria a agonia por esperar tanto r,:la 1bcr geravam trau mas naquelas mulhcrcs que não foram ma"' ou que n
dade dos outros três Os sentimentos mais mtimos de Dommg~ nao" ram exercer a maternidade. Porem ao nwsmo tempo que de\"'
rarque o corpo dessas mulheres ncgrn'- cra m"trumcnto de abu
urugo <le Reis, G.:n.:ro uma calegona ulll p;ira a historia da c~cra,,dan nu !Ir , barganhas e reprodução d'-"\emos cam~m con,1derar que h , 1
( 1,-ntifia1s l lum,m.is, Sornm. ,\racaJu, v ti, n 2, p 11 ,2tj, oul 201 i
sões da sexualidade mc,.,mo no cat1\"1m Para alcm<lilSs..:n
26 ,\lhuqu.:rqm·, !<.-odoro '¼mp;uo. ".:mm.ên-,J parda".: a '\or n,10 luz1J1,1 n,
d.iJ,·.: p.i.rcíahução no tempo Ja alx,hção. in :--.tmpa10. L,m,1 fülab.1n , r el~cm tmh.un suais propna, vontctdc,. " ,(.' n
d.1 ./1)~ r,·11ç<1 menos p rojetaram seus dL-..,"'Jºs para outra" pos..-.1bi.hd d"', \:
GOMES ORGs
164 MARIA HELENA MACHAD O • LUCIANA BRITO • !AMARA VIANA • FLAVIO

qu~ respon dia às fantasias das elites das c~sas-~randes A d cumentação hlS.:,
tónca esta farta de exemplos que nos indica m lS.SO
Portan to, as vivências de mulhe res negras nas planta ções, nas senzalas e
nas casas- grande s geraram experiências, talvez muitas vezes indcscritiveis
Diante do silêncio dessas vozes nos arqui\·os, nas fontes e nos registros:
cabe-n os fazer un1 excrc1cio de fabulação critica para conjecturar sobre 0
que possivelmente lhes aconteceu, e, mais do que isso, o que sentiam e O que
pensavam. Esse cxerc1cio cspeculati\'o qualifi cado pelas pesqui sa, histoncas
pode perniit ir que tenham os um outro olhar sobre nosso passad o, reconhe
cendo seu cotidiano de exploração e extrem a violência, alem de coerções, inti-
midações, estupr os e abusos. Esse olhar, quand o livre de compr ometimento
con1 uma versão da história do povo brasileiro que omita e atenue seus con-
flitos, pode nos permit ir seguir um novo camin ho para pensar o nossu >as-
sado, talvez nos condu zindo a uma reconciliação com ele mesmo . A pesquisa
DNA do Brasil nos mostra um retrato familiar, no qual fica e\ 1dente que
mulheres negras e indígenas foram responsáveis por parir a nação literal-
mente. Home ns negros e indíge nas foram castrad os nesse proces so ~Iulhe-
res brancas foram ao mesmo tempo subme tidas e preser vadas, e o homem
branco, sobret udo aquele europe u, tinha o domín io financ eiro, religioso,
sexual e legal sobre todas elas e eles.

27 Hartma n, \'enus in Two J\cts, Smal/ Axe, v.12, n.2, p.1-14, jun. 2008.

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