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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO reconhece e concretiza a participação de todos na


definição de metas e na implementação de ações. Além
O que é o projeto político-pedagógico (PPP)? disso, a equipe assume a responsabilidade de cumprir os
O PPP define a identidade da escola e indica caminhos combinados e estar aberta a cobranças", aponta Maria
para ensinar com qualidade. Toda escola tem objetivos Márcia Sigrist Malavasi, coordenadora do curso de
que deseja alcançar, metas a cumprir e sonhos a realizar. Pedagogia e pesquisadora do Laboratório de Observação
O conjunto dessas aspirações, bem como os meios para e Estudos Descritivos da Faculdade de Educação da
concretizá-las, é o que dá forma e vida ao chamado Universidade de Campinas (Loed/Unicamp).
projeto político pedagógico - o famoso PPP.
Envolver a comunidade nesse trabalho e compartilhar a
Se você prestar atenção, as próprias palavras que responsabilidade de definir os rumos da escola é um
compõem o nome do documento dizem muito sobre desafio e tanto. Mas o esforço compensa: com um PPP
ele: bem estruturado, a escola ganha uma identidade clara, e a
- É projeto porque reúne propostas de ação concreta a equipe, segurança para tomar decisões. "Mesmo que no
executar durante determinado período de tempo. começo do processo de discussão poucos participem com
- É político por considerar a escola como um espaço de opiniões e sugestões, o gestor não deve desanimar. Os
formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos,
primeiros participantes podem agir como multiplicadores
que atuarão individual e coletivamente na sociedade,
modificando os rumos que ela vai seguir. e, assim, conquistar mais colaboradores para as próximas
- É pedagógico porque define e organiza as atividades e os revisões do PPP", afirma Celso dos Santos Vasconcellos,
projetos educativos necessários ao processo de ensino e educador e responsável pelo Libertad - Centro de
aprendizagem. Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica, em São
Paulo.
Ao juntar as três dimensões, o PPP ganha a força de um
guia - aquele que indica a direção a seguir não apenas para OS ERROS MAIS COMUNS
gestores e professores, mas também funcionários, alunos Alguns descuidos no processo de elaboração do projeto
político-pedagógico podem prejudicar sua eficácia e
e famílias. Ele precisa ser completo o suficiente para não
devem ser evitados: - Comprar modelos prontos ou
deixar dúvidas sobre essa rota e flexível o bastante para se encomendar o PPP a consultores externos. "Se a própria
adaptar às necessidades de aprendizagem dos alunos. comunidade escolar não participa da preparação do
documento, não cria a ideia de pertencimento", diz Paulo
Por isso, dizem os especialistas, a sua elaboração precisa
Padilha, do Instituto Paulo Freire. - Com o passar dos
contemplar os seguintes tópicos: - Missão - Clientela - anos, revisitar o arquivo somente para enviá-lo à
Dados sobre a aprendizagem - Relação com as famílias - Secretaria de Educação sem analisar com profundidade as
Recursos - Diretrizes pedagógicas - Plano de ação. mudanças pelas quais a escola passou e as novas
necessidades dos alunos.
Por ter tantas informações relevantes, o PPP se configura
numa ferramenta de planejamento e avaliação que você e - Deixar o PPP guardado em gavetas e em arquivos de
computador. Ele deve ser acessível a todos.
todos os membros das equipes gestora e pedagógica
devem consultar a cada tomada de decisão. Portanto, se o - Ignorar os conflitos de ideias que surgem durante os
projeto de sua escola está engavetado, desatualizado ou debates. Eles devem ser considerados, e as decisões,
votadas democraticamente.
inacabado, é hora de mobilizar esforços para resgatá-lo e
repensá-lo. O PPP se torna um documento vivo e - Confundir o PPP com relatórios de projetos
institucionais - portfólios devem constar no documento,
eficiente na medida em que serve de parâmetro para
mas são apenas uma parte dele.
discutir referências, experiências e ações de curto, médio
e longo prazo. A IDENTIDADE DA ESCOLA
Compartilhar a elaboração é essencial para uma No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim
gestão democrática - Infelizmente, muitos gestores projectu = lançado. É particípio passado do verbo
veem o PPP como uma mera formalidade a ser cumprida projicere, que significa lançar para frente. É um plano,
por exigência legal - no caso, pela Lei de Diretrizes e intento, desígnio. Empreendimento. Plano geral de
Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. Essa é uma edificação. Analisando com mais minúcia a etimologia do
das razões pelas quais ainda há quem prepare o termo Projeto Político Pedagógico, será mais fácil
documento às pressas, sem fazer as pesquisas essenciais familiarizar-se com o que ele diz em suas entrelinhas:
para retratar as reais necessidades da escola, ou PROJETO = vem do latim PROJICERE que significa
simplesmente copie um modelo pronto. Na última lançar para frente;
Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada no
primeiro semestre deste ano, o projeto político POLÍTICA = refere-se à ciência ou arte de governar;
pedagógico foi um dos temas em destaque. orientação administrativa de um governo; princípios
Os debatedores lembraram e reforçaram a ideia de que diretores da ação; conjunto dos princípios e dos objetivos
sua existência é um dos pilares mais fortes na construção que servem de guia a tomadas de decisão e que fornecem
de uma gestão democrática. "Por meio dele, o gestor a base da planificação de atividades em determinado
domínio; modo de se haver em qualquer assunto
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particular para se obter o que se deseja; estratégia; acompanhamento das ações, a avaliação e utilização dos
táctica;(Do grego politiké, «a arte de governar a cidade»). resultados, com a participação e envolvimento das
pessoas, o coletivo da escola, pode levá-la a ser eficiente e
PEDAGÓGICO = relativo ou conforme à pedagogia; eficaz. Desafiante porque, administrar de forma racional,
que é teoria da arte, filosofia ou ciência da educação, com sem se utilizar dos princípios da administração
vista à definição dos seus fins e dos meios capazes de os científica/taylorista, exige de todos os seus atores uma
realizar; “Projeto Político Pedagógico: ação intencional. relação dialética, uso de técnicas e habilidades humanas
Compromisso sóciopolítico no sentido de compromisso eficazes e adequadas aos objetivos a que se propõe a
com a formação do cidadão, para um tipo de sociedade e escola.
Pedagógico: no sentido de definir as ações educativas e as
características necessárias às escolas para que essas Pressupostos de um projeto político-pedagógico
cumpram seus propósitos e sua intencionalidade”.
Os objetivos desse tópico são definir o que é um projeto
político-pedagógico, como situá-lo no planejamento
FINALIDADE escolar e na gestão da escola, bem como examinar e
Toda escola deve ter definida, para si mesma e para sua analisar o que é importante a ser considerado na sua
comunidade escolar, uma identidade e um conjunto construção, isto é, que pressupostos alicerçam essa
orientador de princípios e de normas que iluminem a construção. O projeto político-pedagógico mostra a visão
ação pedagógica cotidiana. O Projeto político pedagógico macro do que a instituição escola pretende ou idealiza
vê a escola como um todo em sua perspectiva estratégica, fazer, seus objetivos, metas e estratégias permanentes,
não apenas em sua dimensão pedagógica. É uma tanto no que se refere às suas atividades pedagógicas,
ferramenta gerencial que auxilia a escola a definir suas como às funções administrativas. Portanto, o projeto
prioridades estratégicas, a converter as prioridades em político pedagógico faz parte do planejamento e da gestão
metas educacionais e outras concretas, a decidir o que escolar.
fazer para alcançar as metas de aprendizagem, a medir se
os resultados foram atingidos e a avaliar o próprio A questão principal do planejamento é expressar a
desempenho. capacidade de se transferir o planejado para a ação.
Assim sendo, compete ao projeto político pedagógico a
O PPP é diferente de planejamento pedagógico. É um operacionalização do planejamento escolar, em um
conjunto de princípios que norteiam a movimento constante de reflexão- ação-reflexão. A
importância do projeto político pedagógico está no fato
elaboração e a execução dos planejamentos, por isso,
de que ele passa a ser uma direção, um rumo para as
envolvem diretrizes mais permanentes, que abarcam
ações da escola. É uma ação intencional que deve ser
conceitos subjacentes à educação: - Conceitos
definida coletivamente, com consequente compromisso
Antropológicos: (relativos à existência humana) -
coletivo.
Conceitos Epistemológicos: aquisição do conhecimento -
Conceitos sobre Valores: pessoais, morais, étnico... - A GESTÃO DO PROJETO POLÍTICO-
Político: direcionamento hierárquico, regras... PEDAGÓGICO
Consideramos que a gestão do projeto político
IMPORTÂNCIA DE UM PROJETO PARA A pedagógico realiza-se não somente durante o seu
ESCOLA
acompanhamento, mas também durante a sua elaboração,
A relevância de um projeto escolar consiste no
cujos pressupostos foram analisados no item anterior
planejamento que, evita improvisação, serviço malfeito,
desse trabalho e onde fica claro a importância da
perda de tempo e de dinheiro. Com planejamento, fica
participação e compromisso do coletivo da escola. A
bem claro o que se pretende e o que deve ser feito para se
escola como uma instituição social difere de uma
chegar aonde se quer. Um bom Projeto Político
organização. Como instituição social a escola busca a
Pedagógico dá segurança à escola. Escolhem-se as
universalidade, tendo como referência e princípio
melhores estratégias o que facilita seu trabalho, pois o
normativo e valorativo a sociedade em que atua.
mesmo está fundamentado no Projeto que norteia toda
Unidade Escolar. A organização, por sua vez, está voltada para si, para a sua
particularidade, tendo como princípio e referência ela mesma
A CONSTRUÇÃO DO PROJETO em um processo de competição com outras com os mesmos
POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA
objetivos (CHAUI, 2003, p. 3). A escola, portanto, é uma
O estudo do planejamento e gestão educacional, e de
instituição social que se diferencia de uma organização, mas
modo particular a sua aplicação, são de enorme
que tem uma especificidade organizativa, uma cultura que
importância, ao mesmo tempo que se apresentam como
devem ser levadas em consideração em um processo de
um grande desafio aos gestores escolares. Importância
gestão. Sendo assim, a escola não pode prescindir da
porque quando implementado de acordo com a realidade
e as necessidades da instituição escola, uma gestão eficaz administração, entendida como atividade natural humana
pode fazer a diferença, utilizando-se de métodos e técnicas para alcançar certos fins e objetivos e que se utiliza de forma
adequadas e compatíveis aos seus fins e objetivos. racional de recursos materiais e humanos (PARO, 2002, p.
A articulação entre o projeto político-pedagógico, o 18).

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A questão que se coloca é como administrar, de forma do seu entorno, de modo que o PPP apresente um retrato
democrática e participativa, em um contexto de sociedade fidedigno do recorte da realidade social da escola,
dominado pelo modelo de produção capitalista, estabelecendo-se, assim, a predominância dos princípios
utilizando-se do princípio da racionalidade. Apesar das da gestão democrática não apenas no papel, em forma de
dificuldades inerentes aos sistemas da sociedade atual, o documento, mas também nos processos de reflexão e
que se pretende é que a escola tenha uma administração integração da escola com o meio ambiente e a sociedade
participativa, sem autoritarismos, que se preocupe com o dos quais faz parte.
coletivo, com o desenvolvimento dos seus profissionais,
porém sem perder a perspectiva de realização de um Somente sob essa condição primeira, do diálogo
trabalho de qualidade, que visa objetivos sociais, usando permanente aberto entre comunidade e escola,
métodos e técnicas que garantam o alcance deles. poderemos afirmar que a instituição de ensino
apresentada no PPP tem compromissos efetivos com a
Considerando que é do interesse da sociedade que seus democracia, notabilizados em seus ensinamentos e,
cidadãos sejam educados, instruídos e formados, e que simultaneamente, na aplicação prática dos conceitos
esta é a principal função da escola, administrá-la de modo trabalhados conjuntamente com os alunos.
eficiente e eficaz é uma das condições para que cumpra o
seu papel. Quando assim administrada a escola oferece O PPP elaborado sob a gestão democrática é
condições para a melhoria da qualidade do ensino e da praticamente um atestado de que também é papel da
aprendizagem. Para que a escola, realmente, alcance os escola conhecer as comunidades nas quais está inserida,
seus objetivos, é de fundamental importância que a dialogando com os cidadãos que as compõem e
construção e o acompanhamento do projeto político- reconhecendo que o ambiente escolar não é o único
pedagógico estejam alicerçados em uma administração espaço educativo na formação de cidadãos, motivo pelo
participativa, coletiva, em que as decisões sejam qual é preciso extrapolar os muros da escola em busca da
democratizadas e que o seu processo de avaliação e criação de mecanismos de participação de todos os
revisão seja uma prática coletiva constante, como sujeitos que podem atuar em benefício da construção do
oportunidade de reflexão para mudanças de direção e conhecimento.
caminhos. Agindo desse modo, em consonância com os princípios e
A IMPORTÂNCIA DA CONSTRUÇÃO DO valores democráticos expostos no seu PPP, a escola
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO SOB A reafirma na prática que a educação é vista por ela e pelas
PERSPECTIVA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA comunidades que a integram como produção, isto é, não
Principal documento da escola que representa, o Projeto somente como processos de transmissão e acumulação
Político Pedagógica (PPP) é o resultado do planejamento do conhecimento. Em síntese, o PPP como fruto de uma
da unidade escolar. O principal objetivo do PPP é gestão democrática visa a criar condições para que
apresentar as características da escola, seus princípios crianças, jovens, adultos e idosos sejam protagonistas da
norteadores, sua proposta de metodologia de ensino- existência da escola como centro educacional, o que
aprendizado, os objetivos desse projeto, as metas e ações equivale a dizer que essa escola acredita que todos podem
da escola, seus planos de cursos, os procedimentos e devem ser educadores, como nos ensinou Paulo Freire,
adotados para acompanhamento e avaliação de alunos e por meio do acolher, do cuidar e do educar.
professores, o plano de trabalho de seus diversos núcleos,
Afirma VEIGA: O projeto político-pedagógico tem a ver
os procedimentos para acompanhamento, controle e
com a organização do trabalho pedagógico em dois
avaliação da proposta nele contida e os projetos especiais
níveis: como organização da escola como um todo e
idealizados para um exercício letivo.
como organização da sala de aula, incluindo sua relação
Todavia, é importante ressaltar que, quando elaborado com o contexto social imediato, procurando preservar a
sob a perspectiva da gestão democrática, ao se referir aos visão da totalidade.
aspectos da escola, o PPP deve abordar com fidelidade o
Sem a visão do contexto social imediato, conforme
meio no qual essa escola está inserida, isto é, as
explicitado por VEIGA (idem, ibdem), o posiciona
comunidades que atende em sua específica realidade
mento da escola referente às práticas de cidadania e suas
social e a visão de mundo que essa escola pretende
concepções de ensino não abarcará valores e princípios
construir conjuntamente com elas.
da gestão democrática e, condicionalmente, não estará
Informações e dados relevantes sobre a escola e as cumprindo seu dever de formação da cidadania.
comunidades que compreendem sua realidade devem
compor, no PPP, a base das teorias pedagógicas que
embasam sua fundamentação, de modo que elas possam
– sem conflitos entre teoria e práxis – ser aplicadas na
prática diária dos espaços destinados ao procedimento de
ensino aprendizado ou salas de aula. Consequentemente,
há a necessidade intrínseca da abertura e da manutenção
de um diálogo constante entre a escola e as comunidades

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PROJETO POLÍTICO - PEDAGÓGICO DA


ESCOLA: Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além
UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA de um simples agrupamento de planos de ensino e de
Ilma Passos Alencastro Veiga atividades diversas. O projeto não é algo que é construído
e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades
Introdução educacionais como prova do cumprimento de tarefas
burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os
O projeto político-pedagógico tem sido objeto de estudos momentos, por todos os envolvidos com o processo
para professores, pesquisadores e instituições educacionais educativo da escola.
em nível nacional, estadual e municipal, em busca da
melhoria da qualidade do ensino. O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação
intencional, com um sentido explícito, com um
O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da compromisso definido coletivamente. Por isso, todo
construção do projeto político-pedagógico, entendido projeto pedagógico da escola é, também, um projeto
como a própria organização do trabalho pedagógico da político por estar intimamente articulado ao compromisso
escola como um todo. sociopolítico com os interesses reais e coletivos da
população majoritária. É político no sentido de
A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de
seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu sociedade. "A dimensão política se cumpre na medida em
trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa que ela se realiza enquanto prática especificamente
perspectiva, é fundamental que ela assuma suas pedagógica" (Saviani 1983, p. 93). Na dimensão
responsabilidades, sem esperar que as esferas pedagógica reside a possibilidade da efetivação da
administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão
lhe dêem as condições necessárias para levá-la adiante. participativo, responsável, compromissado, crítico e
Para tanto, é importante que se fortaleçam as relações criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações
entre escola e sistema de ensino. educativas e as características necessárias às escolas de
cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade.
Para isso, começaremos, na primeira parte, conceituando
projeto político-pedagógico. Em seguida, na segunda
parte, trataremos de trazer nossas reflexões para a análise Político e pedagógico têm assim uma significação
dos princípios norteadores. Finalizaremos discutindo os indissociável. Neste sentido é que se deve considerar o
elementos básicos, da organização do trabalho projeto político-pedagógico como um processo
pedagógico, necessários à construção do projeto político- permanente de reflexão e discussão dos problemas da
pedagógico. escola, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua
intencionalidade, que "não é descritiva ou constatativa,
mas é constitutiva" (Marques 1990, p. 23). Por outro lado,
CONCEITUANDO O PROJETO POLÍTICO propicia a vivência democrática necessária para a
PEDAGÓGICO participação de todos os membros da comunidade escolar
e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado, mas
O que é projeto político-pedagógico? trata-se de uma relação recíproca entre a dimensão política
No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim e a dimensão pedagógica da escola.
projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa
lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, O projeto político-pedagógico, ao se constituir em
empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral processo democrático de decisões, preocupa-se em
de edificação (Ferreira 1975, p. 1.144). instaurar uma forma de organização do trabalho
pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, relações competitivas, corporativas e autoritárias,
planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar. rompendo com a rotina do mando impessoal e
Lançamo-nos para diante, com base no que temos, racionalizado da burocracia que permeia as relações no
buscando o possível. É antever um futuro diferente do interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da
presente. Nas palavras de Gadotti: divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza
os poderes de decisão.
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas
para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com
confortável para arriscar-se, atravessar um período de a organização do trabalho pedagógico em dois níveis:
instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função como organização da escola como um todo e como
da promessa que cada projeto contém de estado melhor organização da sala de aula, incluindo sua relação com o
do que o presente. Um projeto educativo pode ser contexto social imediato, procurando preservar a visão de
tomado como promessa frente a determinadas rupturas. totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar que
As promessas tornam visíveis os campos de ação o projeto político-pedagógico busca a organização do
possível, comprometendo seus atores e autores. (1994, p. trabalho pedagógico da escola na sua globalidade.
579)
A principal possibilidade de construção do projeto

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político-pedagógico passa pela relativa autonomia da Do exposto, o projeto político-pedagógico não visa
escola, de sua capacidade de delinear sua própria simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a uma
identidade. Isto significa resgatar a escola como espaço qualidade em todo o processo vivido. Vale acrescentar,
público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão ainda, que a organização do trabalho pedagógico da escola
coletiva. Portanto, é preciso entender que o projeto tem a ver com a organização da sociedade. A escola nessa
político-pedagógico da escola dará indicações necessárias à perspectiva é vista como uma instituição social, inserida na
organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho
sociedade capitalista, que reflete no seu interior as
do professor na dinâmica interna da sala de aula,
determinações e contradições dessa sociedade.
ressaltado anteriormente.
Buscar uma nova organização para a escola constitui uma Princípios norteadores do projeto político
ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. pedagógico
A abordagem do projeto político-pedagógico, como
E para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um organização do trabalho da escola como um todo, está
referencial que fundamente a construção do projeto fundada nos princípios que deverão nortear a escola
político-pedagógico. A questão é, pois, saber a qual democrática, pública e gratuita:
referencial temos que recorrer para a compreensão de
nossa prática pedagógica. Nesse sentido, temos que nos
a) Igualdade de condições para acesso e permanência na
alicerçar nos pressupostos de uma teoria pedagógica
escola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma
crítica viável, que parta da prática social e esteja
compromissada em solucionar os problemas da educação desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no
e do ensino de nossa escola. Uma teoria que subsidie o ponto de chegada deve ser garantida pela mediação da
projeto político-pedagógico e, por sua vez, a prática escola. O autor destaca:
pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos
interesses da maioria da população. Fazse necessário, Portanto, só é possível considerar o processo educativo
também, o domínio das bases teórico-metodológicas em seu conjunto sob a condição de se distinguir a
indispensáveis à concretização das concepções assumidas democracia como possibilidade no ponto de partida e
coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas que: democracia como realidade no ponto de chegada. (1982,
As novas formas têm que ser pensadas em um contexto p. 63)
de luta, de correlações de força – às vezes favoráveis, às
vezes desfavoráveis. Terão que nascer no próprio "chão Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais que a
da escola", com apoio dos professores e pesquisadores. expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação do
Não poderão ser inventadas por alguém, longe da escota e da luta da atendimento com simultânea manutenção de qualidade.
escota. (grifos do autor) (Freitas 1991, p. 23)
b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias
Isso significa uma enorme mudança na concepção do econômicas e sociais. O desafio que se
projeto político-pedagógico e na própria postura da coloca ao projeto político-pedagógico da escola é o de
administração central. Se a escola nutre-se da vivência propiciar uma qualidade para todos.
cotidiana de cada um de seus membros, coparticipantes de
sua organização do trabalho pedagógico à administração A qualidade que se busca implica duas dimensões
central, seja o Ministério da Educação, a Secretaria de indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não
Educação Estadual ou Municipal, não compete a eles está subordinada à outra; cada uma delas tem perspectivas
definir um modelo pronto e acabado, mas sim estimular próprias.
inovações e coordenar as ações pedagógicas planejadas e
organizadas pela própria escola. Em outras palavras, as A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, a
escolas necessitam receber assistência técnica e financeira técnica. A qualidade formal não está afeita,
decidida em conjunto com as instâncias superiores do necessariamente, a conteúdos determinados. Demo afirma
sistema de ensino. que a qualidade formal: "(...) significa a habilidade de
manejar meios, instrumentos, formas, técnicas,
Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de procedimentos diante dos desafios do desenvolvimento"
organização das instâncias superiores, implicando uma (1994, p. 14).
mudança substancial na sua prática.
A qualidade política é condição imprescindível da
Para que a construção do projeto político-pedagógico seja participação. Está voltada para os fins, valores e
possível não é necessário convencer os professores, a conteúdos. Quer dizer "a competência humana do sujeito
equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou em termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins
mobilizá-los de forma espontânea, mas propiciar situações históricos da sociedade humana" (Demo 1994, p. 14).
que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer
pedagógico de forma coerente. Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de
que a qualidade centra-se no desafio de manejar os
O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem instrumentos adequados para fazer a história humana. A
mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na qualidade formal está relacionada com a qualidade política
ótica do poder centralizador que dita as normas e exerce o
e esta depende da competência dos meios.
controle técnico burocrático. A luta da escola é para a
A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as
descentralização em busca de sua autonomia e qualidade.

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maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que sua gestão.


garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de d) Liberdade é outro princípio constitucional. O princípio
todos. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta da liberdade está sempre associado à idéia de autonomia.
quantitativa de acesso global, no sentido de que as O que é necessário, portanto, como ponto de partida, é o
crianças, em idade escolar, entrem na escola. É preciso resgate do sentido dos conceitos de autonomia e
garantir a permanência dos que nela ingressarem. Em liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da
síntese, qualidade "implica consciência crítica e capacidade própria natureza do ato pedagógico. O significado de
de ação, saber e mudar" (Demo 1994, p. 19). autonomia remete-nos para regras e orientações criadas
pelos próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições
O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que externas.
exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a
definição clara do tipo de escola que intentam, requer a Para Rios (1982, p. 77), a escola tem uma autonomia
definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de relativa e a liberdade é algo que se experimenta em
sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As situação e esta é uma articulação de limites e
ações específicas para a obtenção desses fins são meios. possibilidades. Para a autora, a liberdade é uma
Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a experiência de educadores e constrói-se na vivência
construção do projeto político pedagógico. coletiva, interpessoal. Portanto, "somos livres com os
outros, não, apesar dos outros" (grifos da autora) (1982, p.
c) Gestão democrática é um princípio consagrado 77). Se pensamos na liberdade na escola, devemos pensá-
pela Constituição vigente e abrange as dimensões la na relação entre administradores, professores,
pedagógica, administrativa e financeira. Ela exige uma funcionários e alunos que aí assumem sua parte de
ruptura histórica na prática administrativa da escola, com responsabilidade na construção do projeto político-
pedagógico e na relação destes com o contexto social mais
o enfrentamento das questões de exclusão e reprovação e
amplo.
da não-permanência do aluno na sala de aula, o que vem
provocando a marginalização das classes populares. Esse
Heller afirma que:
compromisso implica a construção coletiva de um projeto
A liberdade é sempre liberdade para algo e não apenas
político-pedagógico ligado à educação das classes
liberdade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas
populares.
como o fato de sermos livres de alguma coisa,
A gestão democrática exige a compreensão em encontramo-nos no estado de arbítrio, definimo-nos de
profundidade dos problemas postos pela prática modo negativo. A liberdade é uma relação e, como tal,
pedagógica. Ela visa romper com a separação entre deve ser continuamente ampliada. O próprio conceito de
concepção e execução, entre o pensar e o fazer, entre liberdade contém o conceito de regra, de
teoria e prática. Busca resgatar o controle do processo e reconhecimento, de intervenção recíproca. Com efeito,
do produto do trabalho pelos educadores. ninguém pode ser livre se, em volta dele, há outros que
não o são! (1982, p. 155)
A gestão democrática implica principalmente o repensar
da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua Por isso, a liberdade deve ser considerada, também, como
socialização. A socialização do poder propicia a prática da liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
participação coletiva, que atenua o individualismo; da arte e o saber direcionados para uma intencionalidade
reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, definida coletivamente.
que supera a opressão; da autonomia, que anula a
dependência de órgãos intermediários que elaboram e) Valorização do magistério é um princípio central na
políticas educacionais das quais a escola é mera executora. discussão do projeto político-pedagógico.

A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a A qualidade do ensino ministrado na escola e seu sucesso
ampla participação dos representantes dos diferentes na tarefa de formar cidadãos capazes de participar da vida
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo- socioeconômica, política e cultural do país relacionam-se
pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques: estreitamente a formação (inicial e continuada), condições
de trabalho (recursos didáticos, recursos físicos e
A participação ampla assegura a transparência das materiais, dedicação integral à escola, redução do número
decisões, fortalece as pressões para que sejam elas de alunos na sala de aula etc.), remuneração, elementos
legítimas, garante o controle sobre os acordos esses indispensáveis à profissionalização do magistério.
estabelecidos e, sobretudo, contribui para que sejam
contempladas questões que de outra forma não entrariam A melhoria da qualidade da formação profissional e a
em cogitação. (1990, p. 21) valorização do trabalho pedagógico requerem a articulação
entre instituições formadoras, no caso as instituições de
Neste sentido, fica claro entender que a gestão ensino superior e a Escola Normal, e as agências
democrática, no interior da escola, não é um princípio empregadoras, ou seja, a própria rede de ensino. A
fácil de ser consolidado, pois trata-se da participação formação profissional implica, também, a
crítica na construção do projeto político pedagógico e na indissociabilidade entre a formação inicial e a formação
continuada.
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crítica da realidade.
Acreditamos que os princípios analisados e o
O reforço à valorização dos profissionais da educação, aprofundamento dos estudos sobre a organização do
garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional trabalho pedagógico trarão contribuições relevantes para a
permanente, significa "valorizar a experiência e o compreensão dos limites e das possibilidades dos projetos
conhecimento que os professores têm a partir de sua político-pedagógicos voltados para os interesses das
prática pedagógica" (Veiga e Carvalho 1994, p. 51). camadas menos favorecidas.

A formação continuada é um direito de todos os Veiga acrescenta, ainda, que:


profissionais que trabalham na escola, uma vez que não só A importância desses princípios está em garantir sua
ela possibilita a progressão funcional baseada na titulação, operacionalização nas estruturas escolares, pois uma
na qualificação e na competência dos profissionais, mas coisa é estar no papel, na legislação, na proposta, no
também propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento currículo, e outra é estar ocorrendo na dinâmica interna
profissional dos professores articulado com as escolas e da escola, no real, no concreto. (1991, p. 82)
seus projetos.

A formação continuada deve estar centrada na escola e CONSTRUINDO O PROJETO POLÍTICO


fazer parte do projeto político-pedagógico. PEDAGÓGICO
Assim, compete à escola: O projeto político-pedagógico é entendido, neste estudo,
a) proceder ao levantamento de necessidades de formação como a própria organização do trabalho pedagógico da
continuada de seus profissionais; escola. A construção do projeto político-pedagógico parte
b) elaborar seu programa de formação, contando com a dos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão
participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de democrática e valorização do magistério. A escola é
fortalecer seu papel na concepção, na execução e na concebida como espaço social marcado pela manifestação
avaliação do referido programa. de práticas contraditórias, que apontam para a luta e/ou
acomodação de todos os envolvidos na organização do
Assim, a formação continuada dos profissionais, da escola trabalho pedagógico.
compromissada com a construção do projeto político-
pedagógico, não deve limitar-se aos conteúdos O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar e
curriculares, mas se estender à discussão da escola como compreender a organização do trabalho pedagógico, no
um todo e suas relações com a sociedade. sentido de se gestar uma nova organização que reduza os
efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação e
Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a construção
continuada, questões como cidadania, gestão democrática, do projeto político pedagógico é um instrumento de luta,
avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas é uma forma de contrapor-se à fragmentação do trabalho
tecnologias de ensino, entre outras. pedagógico e sua rotinização, à dependência e aos efeitos
negativos do poder autoritário e centralizador dos órgãos
Veiga e Carvalho afirmam que: da administração central.
O grande desafio da escola, ao construir sua autonomia,
deixando de lado seu papel de mera "repetidora" de A construção do projeto político-pedagógico, para gestar
programas de "treinamento", é ousar assumir o papel uma nova organização do trabalho pedagógico, passa pela
predominante na formação dos profissionais. (1994, p. 50) reflexão anteriormente feita sobre os princípios.
Acreditamos que a análise dos elementos constitutivos da
Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa organização trará contribuições relevantes para a
tomada de consciência, dos princípios norteadores do construção do projeto político pedagógico.
projeto político-pedagógico, não pode ter o sentido
espontaneísta de se cruzar os braços diante da atual Pelo menos sete elementos básicos podem ser apontados:
organização da escola, que inibe a participação de as finalidades da escola, a estrutura organizacional, o
educadores, funcionários e alunos no processo de gestão. currículo, o tempo escolar, o processo de decisão, as
relações de trabalho, a avaliação.
É preciso ter consciência de que a dominação no interior
da escola efetiva-se por meio das relações de poder que se FINALIDADES
expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que
diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, os educadores precisam ter clareza das finalidades de sua
bem como por meio das formas de controle existentes no escola. Para tanto, há necessidade de se refletir sobre a
interior da organização escolar. Como resultante dessa ação educativa que a escola desenvolve com base nas
organização, a escola pode ser descaracterizada como finalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades
instituição histórica e socialmente determinada, instância da escola referem-se aos efeitos intencionalmente
privilegiada da produção e da apropriação do saber. As pretendidos e almejados (Alves 1992, p. 19).
instituições escolares representam "armas de contestação e
luta entre grupos culturais e econômicos que têm • Das finalidades estabelecidas na legislação em vigor, o que
diferentes graus de poder" (Giroux 1986, p. 17). Por outro a escola persegue, com maior ou menor ênfase?
lado, a escola é local de desenvolvimento da consciência

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• Corno é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a de uma forma material como, por exemplo, a arquitetura do
preparar culturalmente os indivíduos para uma melhor edifício escolar e a maneira como ele se apresenta do
compreensão da sociedade em que vivem? ponto de vista de sua imagem: equipamentos e materiais
• Como a escola procura atingir sua finalidade política e social, didáticos, mobiliário, distribuição das dependências
ao formar o indivíduo para a participação política que escolares e espaços livres, cores, limpeza e saneamento
implica direitos e deveres da cidadania? básico (água, esgoto, lixo e energia elétrica).
• Como a escola atinge sua finalidade de formação profissional,
ou melhor, como ela possibilita a compreensão do papel As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a ação das
do trabalho na formação profissional do aluno? administrativas, "organizam as funções educativas para
• Como a escola analisa sua finalidade humanística, ao que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas
procurar promover o desenvolvimento integral da pessoa? finalidades" (Alves 1992, p. 21).

As questões levantadas geram respostas e novas As estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente,


indagações por parte da direção, de professores, às interações políticas, às questões de ensinoaprendizagem
funcionários, alunos e pais. O esforço analítico de todos e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se
possibilitará a identificação de quais finalidades precisam todos os setores necessários ao desenvolvimento do
ser reforçadas, quais as que estão relegadas e como elas trabalho pedagógico.
poderão ser detalhadas em nível das áreas, das diferentes
disciplinas curriculares, do conteúdo programático. A análise da estrutura organizacional da escola visa
identificar quais estruturas são valorizadas e por quem,
É necessário decidir, coletivamente, o que se quer reforçar verificando as relações funcionais entre elas. É preciso
dentro da escola e como detalhar as finalidades para se ficar claro que a escola é uma organização orientada por
atingir a almejada cidadania. finalidades, controlada e permeada pelas questões do
poder.
Alves (1992, p. 15) afirma que há necessidade de saber se a
escola dispõe de alguma autonomia na determinação das A análise e a compreensão da estrutura organizacional da
finalidades e, conseqüentemente, seu desdobramento em escola significam indagar sobre suas características, seus
objetivos específicos. O autor enfatiza que: pólos de poder, seus conflitos.
• O que sabemos da estrutura pedagógica?
Interessará reter se as finalidades são impostas por • Que tipo de gestão está sendo praticada?
entidades exteriores ou se são definidas no interior do • O que queremos e precisamos mudar na nossa escola?
"território social' e se são definidas por consenso ou por • Qual é o organograma previsto?
conflito ou até se é matéria ambígua, imprecisa ou • Quem o constitui e qual é a lógica interna?
marginal. (1992, p. 19). • Quais as funções educativas predominantes?
• Como são vistas a constituição e a distribuição do poder?
Essa colocação está sustentada na idéia de que a escola • Quais os fundamentos regimentais?
deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o
trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Enfim, caracterizar do modo mais preciso possível a
Nesse sentido, ela procura alicerçar o conceito de estrutura organizacional da escola e os problemas que
autonomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem afetam o processo ensino-aprendizagem, de modo a
deixar de lado os outros níveis da esfera administrativa favorecer a tomada de decisões realistas e exeqüíveis.
educacional. Nóvoa nos diz que a autonomia é importante
para: "a criação de uma identidade da escola, de um ethos Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os
científico e diferenciador, que facilite a adesão dos pressupostos que embasam a estrutura burocrática da
diversos atores e a elaboração de um projeto próprio" escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar
(1992, p. 26). ou a modificar a realidade social. Para realizar um ensino
de qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que
A idéia de autonomia está ligada à concepção romper com a atual forma de organização burocrática que
emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola regula o trabalho pedagógico - pela conformidade às
não pode depender dos órgãos centrais e intermediários regras fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emanadas
que definem a política da qual ela não passa de executora. do poder central e pela cisão entre os que pensam e
Ela concebe seu projeto político-pedagógico e tem executam -, que conduz à fragmentação e ao consequente
autonomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma controle hierárquico que enfatiza três aspectos inter-
nova atitude de liderança, no sentido de refletir sobre as relacionados: o tempo, a ordem e a disciplina.
finalidades sociopolíticas e culturais da escola.
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e
A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de vislumbrar as possibilidades, os educadores vão
estruturas: administrativas e pedagógicas. As primeiras desvelando a realidade escolar, estabelecendo relações,
asseguram, praticamente, a locação e a gestão de recursos definindo finalidades comuns e configurando novas
humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, ainda, das formas de organizar as estruturas administrativas e
estruturas administrativas todos os elementos que têm pedagógicas para a melhoria do trabalho de toda a escola

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na direção do que se pretende.


Como alertou Domingos (1985, p. 153), "cada conteúdo
Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos deixa de ter significado por si só, para assumir uma
disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a importância relativa e passar a ter uma função bem
realidade escolar, cada instituição educativa assume sua determinada e explícita dentro do todo de que faz parte".
marca, tecendo, no coletivo, seu projeto político- O quarto ponto refere-se à questão do controle social, já
pedagógico, propiciando consequentemente a construção que o currículo formal (conteúdos curriculares,
de uma nova forma de organização. metodologia e recursos de ensino, avaliação e relação
pedagógica) implica controle. Por outro lado, o controle
CURRÍCULO
social é instrumentalizado pelo currículo oculto, entendido
Currículo é um importante elemento constitutivo da
organização escolar. Currículo implica, necessariamente, a este como as "mensagens transmitidas pela sala de aula e
interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a pelo ambiente escolar" (Cornbleth 1992, p. 56). Assim,
opção por um referencial teórico que o sustente. toda a gama de visões do mundo, as normas e os valores
dominantes são passados aos alunos no ambiente escolar,
Currículo é uma construção social do conhecimento, no material didático e mais especificamente por
pressupondo a sistematização dos meios para que esta intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica, nas
construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto
historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, "estimulam a conformidade a ideais nacionais e
portanto, produção, transmissão e assimilação são convenções sociais ao mesmo tempo que mantêm
processos que compõem uma metodologia de construção desigualdades socioeconômicas e culturais" (ibid, p. 56).
coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo
propriamente dito. Neste sentido, o currículo refere-se à Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle social
organização do conhecimento escolar. que têm permeado as principais tendências do
pensamento curricular, procurou defender o ponto de
O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera vista de que controle social não envolve, necessariamente,
simplificação do conhecimento científico, que se adequaria orientações conservadoras, coercitivas e de conformidade
à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí, a comportamental. De acordo com o autor, subjacente ao
necessidade de se promover, na escola, uma reflexão discurso curricular crítico, encontra-se uma noção de
aprofundada sobre o processo de produção do controle social orientada para a emancipação. Faz sentido,
conhecimento escolar, uma vez que ele é, ao mesmo então, falar em controle social comprometido com fins de
tempo, processo e produto. A análise e a compreensão do liberdade que dêem ao estudante uma voz ativa e crítica.
processo de produção do conhecimento escolar ampliam a
compreensão sobre as questões curriculares. Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor chama
a atenção para o fato de que a noção crítica de controle
Na organização curricular é preciso considerar alguns social não pode deixar de discutir:
pontos básicos. o contexto apropriado ao desenvolvimento de práticas
curriculares que favoreçam o bom rendimento e a
O primeiro é o de que o currículo não é um instrumento autonomia dos estudantes e, em particular, que reduzam
neutro. O currículo passa ideologia, e a escola precisa os elevados índices de evasão e repetência de nossa
identificar e desvelar os componentes ideológicos do escola de primeiro grau. (1992, p. 22)
conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a
manutenção de privilégios. A determinação do A noção de controle social na teoria curricular crítica é
conhecimento escolar, portanto, implica uma análise mais um instrumento de contestação e resistência à
interpretativa e crítica, tanto da cultura dominante, quanto ideologia veiculada por intermédio dos currículos, tanto
da cultura popular. O currículo expressa uma cultura. do formal quanto do oculto.
Orientar a organização curricular para fins emancipatórios
O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser
separado do contexto social, uma vez que ele é implica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas de
historicamente situado e culturalmente determinado. sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser
humano, como alguém que tende a aceitar papéis
O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização necessários à sua adaptação ao contexto em que vive.
curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas Controle social, na visão crítica, é uma contribuição e uma
instituições têm sido orientadas para a organização ajuda para a contestação e a resistência à ideologia
hierárquica e fragmentada do conhecimento escolar. Com veiculada por intermédio dos currículos escolares.
base em Bernstein (1989), chamo a atenção para o fato de
que a escola deve buscar novas formas de organização O TEMPO ESCOLAR
curricular, em que o conhecimento escolar (conteúdo) O tempo é um dos elementos constitutivos da organização
estabeleça uma relação aberta e interrelacione-se em torno do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o
de uma ideia integradora. A esse tipo de organização tempo: determina o início e o fim do ano, prevendo os dias
curricular, o autor denomina de currículo integração. O letivos, as férias, os períodos escolares em que o ano se
currículo integração, portanto, visa reduzir o isolamento divide, os feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas à
entre as diferentes disciplinas curriculares, procurando avaliação, os períodos para reuniões técnicas, cursos etc.
agrupá-las num todo mais amplo.
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O horário escolar, que fixa o número de horas por semana interesses da população, deve prever mecanismos que
e que varia em razão das disciplinas constantes na grade estimulem a participação de todos no processo de decisão.
curricular, estipula também o número de aulas por Isto requer uma revisão das atribuições específicas e
professor. Tal como afirma Enguita (1989, p. 180): “(..) As gerais, bem como da distribuição do poder e da
matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o mesmo descentralização do processo de decisão. Para que isso seja
número de horas por semana, e são vistas como tendo possível há necessidade de se instalarem mecanismos
menor prestígio se ocupam menos tempo que as demais”. institucionais visando à participação política de todos os
envolvidos com o processo educativo da escola. Paro
A organização do tempo do conhecimento escolar é (1993, p. 34) sugere a instalação de processos eletivos de
marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é, escolha de dirigentes, colegiados com representação de
consequentemente, organizado em períodos fixos de alunos, pais, associação de pais e professores, grêmio
tempo para disciplinas supostamente separadas. O estudantil, processos coletivos de avaliação continuada
controle hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é dos serviços escolares etc.
desperdiçado e controlado pela administração e pelo
professor. AS RELAÇÕES DE TRABALHO
É importante reiterar que, quando se busca uma nova
Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo, organização do trabalho pedagógico, está se considerando
mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais, que as relações de trabalho, no interior da escola, deverão
reduzindo, também, as possibilidades de se estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de
institucionalizar o currículo integração que conduz a um reciprocidade e de participação coletiva, em contraposição
ensino em extensão. à organização regida pelos princípios da divisão do
trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico. É
Enguita, ao discutir a questão de como a escola contribui nesse movimento que se verifica o confronto de interesses
para a inculcação da precisão temporal nas atividades no interior da escola. Por isso, todo esforço de se gestar
escolares, assim se expressa: uma nova organização deve levar em conta as condições
concretas presentes na escola. Há uma correlação de
A sucessão de períodos muito breves - sempre de menos forças e é nesse embate que se originam os conflitos, as
de uma hora – dedicados a matérias muito diferentes tensões, as rupturas, propiciando a construção de novas
entre si, sem necessidade de sequência lógica entre elas, formas de relações de trabalho, com espaços abertos à
sem atender à melhor ou à pior adequação de seu reflexão coletiva que favoreçam o diálogo, a comunicação
conteúdo a períodos mais longos ou mais curtos e sem horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos com
prestar nenhuma atenção à cadência do interesse e do o processo educativo, a descentralização do poder. A esse
trabalho dos estudantes; em suma, a organização habitual respeito, Machado assume a seguinte posição: "O
do horário escolar ensina ao estudante que o importante processo de luta é visto como uma forma de contrapor-se
não é a qualidade precisa de seu trabalho, a que o dedica, à dominação, o que pode contribuir para a articulação de
mas sua duração. A escola é o primeiro cenário em que a práticas emanai-patórias" (1989, p. 30).
criança e o jovem presenciam, aceitam e sofrem a
redução de seu trabalho a trabalho abstrato. (1989, p. A partir disso, novas relações de poder poderão ser
180) construídas na dinâmica interna da sala de aula e da escola.

Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se A AVALIAÇÃO


necessário que a escola reformule seu tempo, Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos à
estabelecendo períodos de estudo e reflexão de equipes de reflexão, com base em dados concretos sobre como a
educadores, fortalecendo a escola como instância de escola organiza-se para colocar em ação seu projeto
educação continuada. político-pedagógico. A avaliação do projeto político-
pedagógico, numa visão crítica, parte da necessidade de se
É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu conhecer a realidade escolar, busca explicar e
conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão compreender criticamente as causas da existência de
aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o problemas, bem como suas relações, suas mudanças e se
projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo esforça para propor ações alternativas (criação coletiva).
para os estudantes se organizarem e criarem seus espaços Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
para além da sala de aula.
Avaliadores, que conjugam as ideias de uma visão global,
O PROCESSO DE DECISÃO analisam o projeto político-pedagógico, não como algo
Na organização formal de nossa escola, o fluxo das estanque, desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não
rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um
tarefas, das ações e principalmente das decisões é compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia
orientado por procedimentos formalizados, prevalecendo das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar
as relações hierárquicas de mando e submissão, de poder o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da
autoritário e centralizador. própria organização do trabalho pedagógico.

Uma estrutura administrativa da escola, adequada à Considerando a avaliação dessa forma, é possível salientar
realização de objetivos educacionais, de acordo com os dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato
dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

político-pedagógico. Segundo ela imprime uma direção às Hamburgo, agosto de 1991 (mimeo).
ações dos educadores e dos educandos. ______. "Crítica da organização do trabalho pedagógico e da
didática". Tese de livre-docência. Campinas,
O processo de avaliação envolve três momentos: a Unicamp, 1994.
descrição e a problematização da realidade escolar, a GADOTTI, Moacir. "Pressupostos do projeto pedagógico".
compreensão crítica da realidade descrita e problematizada In: MEC, Anais da Conferência Nacional de
é a proposição de alternativas de ação, momento de Educação para Todos. Brasília, 28/8 a 2/9/94.
criação coletiva. GIROUX, Henry. Teoria crítica e resistência em: educação: Para
além das teorias da reprodução. Petrópolis, Vozes, 1986.
HELLER. Agnes. Para mudar a vida. São Paulo, Brasiliense,
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser
1982.
instrumento de exclusão dos alunos provenientes das
MACHADO, Antônio Berto. "Reflexões sobre a organização
classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, do processo de trabalho na escola". In: Educação em
deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do aluno Revista n° 9. Belo Horizonte, jul. 1989, pp. 27-31.
de apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais e MARQUES, Mário Osório. "Projeto pedagógico: A marca da
tecnológicos produzidos historicamente e deve ser escola". In: Revista Educação e Contexto. Projeto
resultante de um processo coletivo de avaliação pedagógico e identidade da escola n2 18. Ijuí, Unijuí,
diagnóstica. abr./jun. 1990.
MOREIRA, Antônio Flávio B. "Currículo e controle social".
FINALIZANDO In: Teoria e Educação n° 5. Porto Alegre, Pannonica,
A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, de 1992.
sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa criar NÓVOA, Antônio. "Para uma análise das instituições
condições para gerar uma outra forma de organização do escolares". II:: Antônio Nóvoa (org.) As organizações
trabalho pedagógico. escolares em análise. Lisboa, Dom Quixote, 1992.
PAIO, Victor 1lenrique. "Situações e perspectivas da
A reorganização da escola deverá ser buscada de dentro administração da educação brasileira: Uma
para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa será o contribuição". In: Revista Brasileira de Administração da
empenho coletivo na construção de um projeto político- Educação. Brasília, Anpae, 1983.
pedagógico e isso implica fazer rupturas cone o existente RIOS, Terezinha. "Significado e pressupostos do projeto
pedagógico". In: Série Idéias. São Paulo, FDE, 1982.
para avançar.
SAVIANI, Dermeval. "Para além da curvatura da vara". In:
Revista Ande n° 3. São Paulo, 1982.
É preciso entender o projeto político-pedagógico da ______. Escola e democracia: Teorias da educação, curvatura da
escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela vara, onze teses sobre educação e política. São Paulo,
precisa de um tempo razoável de reflexão e ação, para se Cortez Autores Associados, 1983.
ter um mínimo necessário à consolidação de sua proposta. VEIGA, Ilma P.A. "Escola, currículo e ensino". Ira: I.P.A.
Veiga e M. Helena Cardoso (org.) Escola fundamental:
A construção do projeto político-pedagógico requer Currículo e ensino. Campinas, Papirus, 1991.
continuidade das ações, descentralização, democratização VINGA, lima P.A. e CARVALHO, M. Helena S.O. "A
do processo de tomada de decisões e instalação de um formação de profissionais da educação". In: MEC.
processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório. Subsídios para unia proposta de educação integral à criança
em sua dimensão pedagógica. Brasília, 1994.
Finalmente, há que se pensar que o movimento de luta e
resistência dos educadores é indispensável para ampliar as Como referenciar este artigo nas referências
possibilidades e apressar as mudanças que se fazem bibliográficas finais do nosso texto:
necessárias dentro e fora dos muros da escola. VEIGA, Ilma Passos da. Projeto político-pedagógico da
escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, Ilma Passos da
(org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção
Bibliografia
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ALVES, José Matias. Organização, gestão e projecto educativo das
escolas. Porto, Edições Asa, 1992.
BERNSTEIN, Basil. Clases, códigos y control. Madri, Akal, 1989. Como referenciar as frases deste artigo no corpo de
nosso texto: (VEIGA, 1998, p.11-35)
CORNBLETH, Catherine. "Para além do currículo oculto?".
In: Teoria e Educação n° 5. Porto Alegre, Pannonica,
1991.
DEMO, Pedro. Educação e qualidade. Campinas, Papirus, 1994.
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sociologia da educação. Lisboa, Fundação Calouste
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ENGUITA, Mariano F.. i face oculta da escola: Educação e
trabalho no capitalismo. Porto Alegre, Artes Médicas,
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da
Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova
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FREITAS, Luiz Carlos. "Organização do trabalho
pedagógico". Palestra proferida no VII Seminário
Internacional de Alfabetização e Educação. Novo
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PLANEJAMENTO: CONCEPÇÕES preenchimento de fichas e formulários, o que reduz o


processo de planejamento a um mero formalismo.
O planejamento não deve ser tomado apenas como mais • O planejador é visto como o principal agente de mudança,
um procedimento administrativo de natureza burocrática, desconsiderando-se os fatores sociais, políticos, culturais
decorrente de alguma exigência superior ou mesmo de que engendram a ação, o que se traduz numa visão
alguma instância externa à instituição. Ao contrário, ele messiânica daquele que planeja. Essa visão do planejador
deve ser compreendido como mecanismo de mobilização geralmente conduz a certo voluntarismo utópico.
e articulação dos diferentes sujeitos, segmentos e setores • Ao mesmo tempo em que, por um lado, há uma
que constituem essa instituição e participam da mesma. secundarizarão das dimensões social, política, cultural da
realidade, por outro lado, prevalece a tendência de se
A preocupação com o planejamento se desenvolveu, explicar essa realidade e as mudanças que nela acontecem
principalmente, no mundo do trabalho, no contexto das como resultantes, basicamente, da dimensão econômica
teorias administrativas do campo empresarial. Essas que a permeia
teorias foram se constituindo nas chamadas escolas de
O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
administração (abordadas na Sala Ambiente Políticas e
O planejamento estratégico, por sua vez, se desenvolveu
Gestão na Educação), que têm influenciado o campo da dentro de uma concepção de administração estratégica
administração escolar. Para muitos teóricos e que se articula aos modelos e padrões de organização da
profissionais, os princípios por elas defendidos seriam produção, construídos no contexto das mudanças do
aplicáveis em qualquer campo da vida social e ou do setor mundo do trabalho e da acumulação flexível, a partir da
produtivo, inclusive na gestão da educação e da escola. segunda metade do século XX.
Essa influência deixa suas marcas também no que se Essa concepção de administração e de planejamento
refere ao planejamento, à medida que o mesmo assumiu procura definir a direção a ser seguida por determinada
uma centralidade cada vez maior, a partir dos princípios e organização, especialmente no que se refere ao âmbito de
métodos definidos por Taylor e os demais teóricos que o atuação, às macropolíticas e às políticas funcionais, à
seguiram. Isso porque, a partir do taylorismo, assim como filosofia de atuação, aos macros objetivos e aos objetivos
das teorias administrativas que o tomaram como funcionais, sempre com vistas a um maior grau de
referência, uma das principais tarefas atribuídas à gerência interação dessa organização com o ambiente. Essa
foram o planejamento e o controle do processo de interação com o ambiente, no entanto, é compreendida
trabalho. como a análise das oportunidades e ameaças do meio
ambiente, de forma a estabelecer objetivos, estratégias e
Na verdade, o formalismo e a burocratização do processo ações que possibilitem um aumento da competitividade da
de planejamento no campo educacional decorrem, em boa empresa ou da organização.
medida, das marcas deixadas pelos modelos de
organização do trabalho voltados, essencialmente, Em síntese, o planejamento estratégico concebe e realiza o
para a busca de uma maior produtividade, eficiência e planejamento dentro um modelo de decisão unificado e
eficácia da gestão e do funcionamento da escola. Isso homogeneizador, que pressupõe os seguintes elementos
secundariza os processos participativos, de trabalho básicos:
coletivo e do compromisso social, requeridos pela • determinação do propósito organizacional em termos de
perspectiva da gestão democrática da educação. É o caso, valores, missão, objetivos, estratégias, metas e ações, com
por exemplo, dos modelos e das concepções de foco em priorizar a alocação de recursos
planejamento orientadas pelo horizonte do planejamento • análise sistemática dos pontos fortes e fracos da
organização, inclusive com a descrição das condições
tradicional ou normativo e do planejamento estratégico.
internas de resposta ao ambiente externo e à forma de
Mas, em contraposição a esses modelos, se construiu a modificá-las, com vistas ao fortalecimento dessa
perspectiva do planejamento participativo. O organização
planejamento tradicional ou normativo O planejamento • delimitação dos campos de atuação da organização
tradicional ou normativo trabalha em uma perspectiva em
NÍVEIS DO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL
que o planejamento é definido como mecanismo por meio
O planejamento educacional é um ato de intervenção
do qual se obteria o controle dos fatores e das variáveis técnica e política (CALAZANS, 1990) que se efetiva em
que interferem no alcance dos objetivos e resultados três níveis distintos e, ao mesmo tempo, interrelacionados.
almejados. Vejamos, inicialmente, como se definem esses níveis em
suas especificidades.
Nesse sentido, ele assume um caráter determinista em que
o objeto do plano, a realidade, é tomada de forma estática,
O planejamento no âmbito dos Sistemas e Redes de
passiva, pois, em tese, tende a se submeter às mudanças
Ensino Planejar a educação no âmbito de sistemas e redes
planejadas. Ao lado dessas características, outros
de ensino implica a tomada de decisões, bem como a
elementos marcam o planejamento normativo:
implementação de ações que compõem a esfera da política
educacional propriamente dita. De acordo com Baia
• Há uma ênfase nos procedimentos, nos modelos já
Horta, o planejamento educacional constitui uma forma
estruturados, na estrutura organizacional da instituição, no
específica de intervenção do Estado em educação, que se

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relaciona, de diferentes maneiras, historicamente a principal função da administração escolar no processo


condicionadas, com as outras formas de intervenção do de desenvolvimento do capitalismo é, ao tornar o sistema
Estado em educação (legislação e educação pública), escolar, cada vez mais, uma organização burocrática,
visando a implantação de uma determinada política permitir ao Estado um controle sobre a educação para
educacional do Estado, estabelecida com a finalidade de adequá-la ao projeto econômico, descaracterizando-o
levar o sistema educacional a cumprir funções que lhe são como atividade humana específica e submetendo-o a uma
atribuídas enquanto instrumento deste mesmo Estado avaliação, cujo critério é a produtividade, no sentido que
(BAIA HORTA, 1991). lhe atribui a sociedade capitalista (FÉLIX, 1986).

Historicamente, em nosso país, o planejamento A autora salienta, porém, que, se a organização


educacional compôs uma forma de exercício do controle, burocrática da escola se configura como uma ameaça à
por parte do Estado, sobre a educação, cujo ápice se especificidade da educação, mediante o seu controle por
observa durante o regime militar. Os anos que marcaram parte do Estado, este controle se dá de forma relativa,
esse período produziram sucessivos Planos, dos quais pois, na escola, reproduzem-se as contradições geradas no
resultou uma intensa burocratização do sistema escolar. seio da sociedade: (...) a relação antagônica entre as
Como forma de viabilizar o controle, o Estado classes sociais mantém o movimento contraditório no
desencadeia um processo de burocratização das nível da estrutura e da superestrutura. Logo, a escola não é
instituições. Procedendo à análise histórica do apenas a agência ’reprodutora’ das relações sociais, mas o
desenvolvimento capitalista no Brasil, Félix nota que, ao espaço em que se reproduz o movimento contraditório da
se configurar um Estado de caráter plenamente sociedade que gera os elementos da sua própria
intervencionista, intensifica-se o processo de transformação (FÉLIX, 1986).
burocratização do sistema escolar. Salienta que, na década
de 1970, este processo se verificou de forma mais A história evidencia que há uma estreita aproximação
acentuada em decorrência das relações que se entre planejamento e poder, e entre estes e o saber: “o
estabeleceram entre a burocracia existente e o Estado plano se situa na articulação do saber e do poder, ali onde
autoritário. Fundamenta sua constatação da seguinte o pensamento cessa de ser puro, mas onde a ação não é
forma: ainda senão um projeto” (MASSÉ apud BAIA HORTA,
(...) as relações que se estabelecem, na década de 70, 1991).
resultam de um processo histórico da formação de Estado
capitalista brasileiro que data do período colonial...( ), esse A perspectiva de planejamento educacional como atributo
corte histórico só se justifica pelo fato de ser, nessa do exercício do poder constitui uma abordagem
década, que se dá a consolidação da forma de Estado funcionalista na qual: o plano torna-se funcional, não em
intervencionista, cuja emergência pode ser atribuída a uma relação ao todo social, mas em relação a uma vontade
causa mais imediata que é o golpe de 64 (FÉLIX, 1986). política que pode estar alienada do projeto da própria
sociedade, e que se utiliza do plano como instrumento
Verifica-se, então, (...) a criação de mecanismos e órgãos para fazer valer seu próprio projeto (BAIA HORTA,
no aparelho de Estado que assumem o planejamento, 1991).
execução e controle sobre a política econômica do país.
Isso pode ser constatado nos governos pós 64 e de modo Ainda segundo Baia Horta, estruturam-se três grandes
mais sistemático nos governos da década de 70, que se concepções de política educacional, cada uma delas
incumbem da execução dos Planos Nacionais de engendrando formas específicas de planejamento. Assim,
Desenvolvimento (FÉLIX, 1986). O aperfeiçoamento da uma concepção ingênua de política educacional firma
burocracia corresponde, segundo Félix, às exigências do como princípio que a educação tem autonomia suficiente
desenvolvimento econômico do país, o que implica, por para demarcar seus fins, cabendo ao Estado cuidar para
sua vez, a modernização da administração pública, que eles sejam atingidos. Atribui-se, aqui, uma aparente
atingindo, além do setor econômico, também outros neutralidade ao planejamento educacional, que
setores, como é o Criam-se, assim, os Planos Setoriais de comportaria mais um caráter técnico do que propriamente
Educação e Cultura. político. Uma segunda concepção de política educacional
assume um caráter liberal, na medida em que toma como
O primeiro deles, durante o governo Médici e, os dois ponto de partida a idéia de que são os “interesses
últimos, nos governos Geisel e Figueiredo. Maria de coletivos” que legitimam os rumos a serem tomados.
Fátima Félix analisa cada um desses planos e conclui que Nesta concepção, o planejamento adquire legitimidade,
possuíam como principal objetivo intensificar o processo uma vez que as decisões são tomadas em nome de
de burocratização do sistema escolar brasileiro, para “todos” ou da “maioria.
adequá-lo ao projeto econômico. Este processo foi
evidenciado a partir da análise dos Planos Setoriais de A terceira concepção de política educacional, realista,
Educação e Cultura. Ficou evidente, em todos os planos, a segundo o autor, tem como princípio que as decisões
relação estabelecida pelo governo entre a política tomadas nesse âmbito articulam-se aos interesses dos grupos
econômica e a política social e, de modo específico, a hegemônicos, constituindo, portanto, um problema
política educacional, provocando a predominância dos fundamentalmente político. Nesta perspectiva, o
interesses econômicos da classe dominante, mesmo planejamento educacional reflete as relações entre poder e
quando foram anunciadas medidas orientadas para o saber numa dada sociedade. Seria possível, então, pensar uma
atendimento das necessidades das classes dominadas concepção de planejamento educacional articulada, de fato, a
princípios democráticos comprometidos com um projeto de
educação emancipatório?
Com base nas análises efetuadas, a autora conclui que: (...)
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Que pressupostos e métodos deveriam estar contidos planejamento, no interior das escolas, adquiria os
nessa concepção? Certamente entre esses pressupostos e contornos de instrumento a serviço da viabilização do
métodos estariam: a construção de uma direção política e controle. Em virtude desta natureza burocrática, o
pedagógica de forma transparente e coletiva; o diagnóstico planejamento passou a ser tido como mero instrumental
e as prioridades dela resultantes definidos de forma técnico, amplamente criticado durante o processo de
participativa, extensiva a todos os aspectos da ação redemocratização do país.
educacional: financiamento, currículo, avaliação etc.; o
conhecimento amplo da realidade para a qual se planeja; a Neste momento, para se contrapor a essa concepção
definição de objetivos de forma consistente e articulada às tecnicista, sem negar, porém, a necessidade do
ações; o acompanhamento sistemático e coletivo das planejamento, é que se passa a disseminar a necessidade
ações implementadas, com o fim de redirecionamento, de elaboração do Projeto Político Pedagógico, como
sempre que necessário; e, sobretudo, a construção da forma de democratizar o planejamento na escola,
autonomia das escolas, pautada em um projeto educativo incorporando o princípio da participação. Neste contexto
consensual, comprometido com uma educação de redemocratização do país, outras políticas educacionais
emancipatória. passam a ser implementadas e, desse modo, nos vemos
diante da indagação: de que forma se constituem as
O princípio norteador desse planejamento, a relações entre o planejamento no âmbito do sistema e o
participação, pode ser compreendido em quatro planejamento nas unidades escolares?
dimensões:
a) Processo: enquanto tal, ela se constrói e se desenvolve A principal forma pela qual ocorre a intervenção do
através de um sem número de pequenas ações, no Estado na educação é por meio de ações que buscam
cotidiano educacional, não podendo ser adquirida de produzir alterações no sistema educacional. Quando essas
repente, por um ato jurídico, ou decreto; proposições abarcam um conjunto significativamente
b) Objetivo: precisamente para poder ser caracterizado como amplo de ações, elas caracterizam um processo de reforma
participativo, um processo deve ter como propósito, educacional. Tais proposições se pautam em determinadas
como fim, a participação plena, irrestrita, de todos os concepções de educação, de escola, de trabalho docente,
agentes desse processo; de currículo e são, com frequência, o resultado de
c) Meio: constrói-se a participação, precisamente, mediações oriundas das relações de poder que se
participando. Ela é, portanto, seu próprio método; estabelecem no processo de constituição das proposições.
d) Práxis: se a participação é entendida como processo, que Essas concepções e mediações se explicitam na forma
os seres humanos constroem, conscientemente, com fito com que passam a ser incorporadas pelas escolas. Tendo
de alcançar, como fim, a participação plena (leia-se em vista a implementação das proposições oficiais, tem-se,
democracia real), então podemos entendê-la como uma geralmente, na sequência, um conjunto de ações que
prática, cujo caráter é político (PINTO, 1994). compõem o planejamento no âmbito dos sistemas e redes
de ensino.
O PLANEJAMENTO NO ÂMBITO DA UNIDADE
ESCOLAR As propostas e ações têm, sobre as escolas, no entanto,
O planejamento da escola se concretiza pela elaboração de alcance limitado, ainda que sejam capazes de atuar como
seu Projeto Político-Pedagógico Na perspectiva aqui um forte componente ideológico que pode conferir
desenvolvida, deve pautar- se pelo princípio da busca da legitimidade às mudanças propostas. O alcance relativo do
unidade entre teoria e prática e se institui como momento planejamento no âmbito do sistema educacional sobre as
privilegiado de tomada de decisões acerca das finalidades escolas se verifica na medida em que as mudanças
da educação básica. propostas confrontam-se com as práticas já consolidadas.
Neste processo, as escolas atribuem às proposições
O planejamento no âmbito da unidade escolar caracteriza- oficiais significados muitas vezes distintos das
se como meio, por excelência, do exercício do trabalho formulações originais.
pedagógico de forma coletiva, ou seja, como possibilidade
ímpar de superação da forma fragmentada e burocrática Ainda que as escolas reinterpretem, reelaborem e
de realização desse trabalho. Na definição do Projeto redimensionem as proposições oficiais, não se pode
Político Pedagógico, materializam-se os diferentes menosprezar a importância desse nível do planejamento
momentos do planejamento: a definição de um marco no que se refere à produção de transformações no sistema
referencial, a elaboração de um diagnóstico e a proposição educacional.
de uma programação com vistas à implementação das
ações necessárias à realização de uma prática pedagógica Ele tem se sido capaz de adquirir legitimidade, seja ao
crítica e reflexiva. assumir o discurso de inovação educacional, seja ao
articular se a um ideário pedagógico já legitimado. Martins
A concepção de planejamento escolar sustentada na idéia realiza uma interessante pesquisa em que se propôs a
de Projeto Político Pedagógico emerge, em nosso país, a analisar os limites e as possibilidades de gestão autônoma
partir da crítica ao modelo de planejamento tecno da escola pública da rede estadual de ensino paulista,
burocrático, que se consolidou ao longo do regime militar. tomando como base as relações que se estabeleciam, no
Este modelo buscava produzir uma maior aderência entre contexto investigado2 , entre as medidas legais e os
as proposições da esfera governamental e as ações das programas do governo e a sua materialização pelos
escolas propriamente ditas. Com esta finalidade, o educadores. Dentre as conclusões da autora, destacamos:

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o acompanhamento cotidiano das ações que movimentam experiência de vida dos alunos, não como mera
a unidade escolar possibilitou o desvendamento dos aplicabilidade dos conteúdos ao cotidiano, mas como
problemas que atingem a rede de ensino, pois, com efeito, possibilidade de conduzir a uma apropriação significativa
as questões de ordem burocrática - aliadas às graves desses conteúdos. Como afirma Lopes, “essa relação,
questões sociais e econômicas que afetam boa parte da inclusive, mostra-se como condição necessária para que ao
clientela que a frequenta - dominaram o cenário e as mesmo tempo em que ocorra a transmissão de
relações de trabalho, ocupando espaço central em conhecimentos, proceda-se a sua reelaboração com vistas
detrimento de questões pedagógicas. Nesse sentido, a à produção de novos conhecimentos” (LOPES, 1992).
observação do cotidiano escolar propiciou uma visão mais
ampla do campo de tensão constituído pelo imbricamento Deste modo, o planejamento de ensino passa a ser
entre a norma formal e a norma vivida, ou entre a compreendido de forma estreitamente vinculada às
instituição imaginada e a instituição vivida, pois esta (re) relações que se produzem entre a escola e o contexto
significa aquela (Lobrot, 1966). histórico-cultural em que a educação se realiza. Nesta
perspectiva, deve-se levar em conta, ainda, as articulações
Compreender as representações em tela, tecidas por um entre o planejamento do ensino e o planejamento global
intrincado e ambíguo jogo de resistências, contradições e da escola, explicitado em seu Projeto Político- Pedagógico.
conflitos, permitiu vislumbrar parte de um universo O planejamento de ensino se verifica, portanto, como um
turbulento que extrapola, invariavelmente, os limites dos elemento integrador entre a escola e o contexto social. Em
relatórios oficiais (MARTINS, 2001).[...] A equipe aceitou virtude deste seu caráter integrador, é fundamental que se
e rejeitou, ao mesmo tempo, as orientações da Secretaria paute em alguns elementos: No estudo real da escola em
de Estado da Educação, compreendendo que a relação ao contexto: o que demanda a caracterização do
sobrevivência da instituição escolar dependerá universo sócio-cultural da clientela escolar e evidencia os
permanentemente dessa relação ambígua, pois a interesses e necessidades dos educandos; Na organização
necessidade cotidiana de (con)viver com os rituais que do trabalho didático propriamente dito, o que implica:
materializam as medidas políticas não permite ilusões: a) definir objetivos - em função dos três níveis de
mergulhados na necessidade de cumprimento das aprendizagem: aquisição, reelaboração e produção de
formalidades burocráticas, transitaram pela escola conhecimentos (LOPES, 1992);
obedecendo a horários rígidos estabelecidos pela b) prever conteúdos - tendo como critérios de seleção a
Secretaria de Educação, preenchendo quantidades finalidade de que eles atuem como instrumento de
infindáveis de papéis, planilhas, encaminhando processos compreensão crítica da realidade e como elo propiciador
e fazendo negociações com a comunidade em torno da da autonomia;
escola para doações, colaborações e trocas de notas fiscais. c) selecionar procedimentos metodológicos - considerando
[...] os diferentes níveis de aprendizagem e a natureza da área
do conhecimento
Observou-se, ainda, que professores e equipe de direção
procuravam explicitar, à comunidade, as medidas d) estabelecer critérios e procedimentos de avaliação -
impostas, de um lado, mas, de outro, demonstravam considerando a finalidade de intervenção e retomada no
cumprir de maneira ritual as normas e a regulamentação processo de ensino e aprendizagem, sempre que
legal, alegando terem sido demandados apenas para necessário. Nesta forma de planejamento de ensino, a
executarem tarefas (MARTINS, 2001). Observa-se, assim, avaliação da aprendizagem adquire especial relevância,
um distanciamento entre as proposições do planejamento uma vez que não pode constituir-se unicamente em forma
ao nível do sistema educacional e sua incorporação pelas de verificação do que o aluno aprendeu. Antes de mais
escolas, ao planejar suas próprias ações. Isto implica que nada, deve servir como parâmetro de avaliação do
se considere que, na relação entre esses dois âmbitos do trabalho do próprio professor.
planejamento, produzem-se mediações que muitas vezes
escapam ao controle puro e simples dos propositores das Estabelecer critérios mais, ou menos, rigorosos de
políticas educacionais. É neste movimento, muitas vezes, avaliação não é tarefa difícil. Difícil é saber trabalhar com
que se consolida a autonomia das escolas, que se constitui, os resultados obtidos, de modo a construir instrumentos
no entanto, de forma sempre relativa. O planejamento no de análise que permitam intervir no processo de ensino e
âmbito do Ensino Lopes indica alguns pressupostos para aprendizagem no momento mesmo em que ele está
um planejamento de ensino que considere a dinamicidade ocorrendo. A avaliação da aprendizagem, nessa acepção,
do conhecimento escolar e sua articulação com a realidade não pode ocorrer somente após ter-se concluído um
histórica. São eles: período letivo (bimestre, semestre etc), mas é processo,
sem o qual compromete-se, irremediavelmente, a
Produzir conhecimentos tem o significado de processo, de qualidade do ensino.
reflexão permanente sobre os conteúdos aprendidos
buscando analisá-los sob diferentes pontos de vista; Avaliar o desempenho do educando não pode se tornar,
Significa desenvolver a atitude de curiosidade científica, de ainda, mecanismo de coerção, por parte do professor, em
investigação da realidade, não aceitando como um exercício arbitrário de poder. A avaliação como
conhecimentos perfeitos e acabados os conteúdos mecanismo disciplinar traumatiza e anula individualidades,
transmitidos pela escola (LOPES, 1992). mediante a imposição da visão de mundo daquele que
pretensamente “detém” o saber. Deste modo, a avaliação
O processo de seleção da cultura, materializado no da aprendizagem deve constituir-se em instrumento por
currículo e, em especial, nos conhecimentos a serem meio do qual o professor possa ter condições de saber se
trabalhados, deve estar intimamente relacionado à houve, e em que medida houve, a apropriação do
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conhecimento de forma significativa por parte do aluno. planejamento participativo como concepção e modelo de
Deve permitir, ainda, ao professor, reconhecer se houve planejamento. O planejamento participativo deve, pois,
adequação em termos de suas opções metodológicas, bem enquanto metodologia de trabalho, constituir a base para
como evidenciar em que medida as relações pedagógicas a construção e para a realização do Projeto Político-
estabelecidas contribuíram para o processo de ensino e Pedagógico da escola. O planejamento participativo não
aprendizagem. Torna-se, assim, elemento ímpar para o possui um caráter meramente técnico e instrumental, à
planejamento das ações docentes. Esta perspectiva de medida que parte de uma leitura de mundo crítica, que
planejamento de ensino toma, ainda, como principais apreende e denuncia o caráter excludente e de injustiça
diretrizes: presente em nossa realidade. As características de tal
1) a ação de planejar implica a participação de todos os realidade, por sua vez, decorrem, dentre outros fatores,
elementos envolvidos no processo; da falta ou da impossibilidade de participação e do fato
2) a necessidade de se priorizar a busca da unidade entre de a atividade humana acontecer em todos os níveis e
teoria e prática; aspectos.
3) o planejamento deve partir da realidade concreta e estar
voltado para atingir as finalidades da educação básica Nessa perspectiva, a participação se coloca como
definidas no projeto coletivo da escola; requisito fundamental para uma nova educação, uma
nova escola, uma nova ordem social, uma participação
4) o reconhecimento da dimensão social e histórica do que pressupõe e aponta para a construção coletiva da
trabalho docente. Nesta abordagem, o planejamento escola e da própria sociedade
ultrapassa o caráter de instrumental meramente técnico e
adquire a condição de conferir materialidade às ações O planejamento participativo na educação e na escola
politicamente definidas pelos sujeitos da escola traz consigo, ainda, duas dimensões fundamentais: o
trabalho coletivo e o compromisso com a transformação
Um dos maiores desafios, nesta perspectiva, é o da social. O trabalho coletivo implica uma compreensão
produção de coerência entre o planejamento da escola e mais ampla da escola. É preciso que os diferentes
o planejamento de cada professor, ao nível do ensino segmentos e atores que constroem e reconstroem a
propriamente dito. A este respeito, Cruz (1995), aponta escola apreendam suas várias dimensões e significados.
algumas dificuldades: Isso porque o caráter educativo da escola não reside
a) muitos dos professores não acreditam que o plano global apenas no espaço da sala de aula, nos processos de
vá ser colocado em prática concretamente. Muitos ensino e aprendizagem, mas se realiza, também, nas
pensam que ficará só no discurso (como acontece em práticas e relações que aí se desenvolvem.
muitas escolas mesmo);
b) muitas instituições querem o Planejamento Participativo A escola educa não apenas nos conteúdos que transmite, à
para organizar a escola e não como instrumento de medida que o processo de formação humana que ali se
transformação social; desenvolve acontece também nos momentos e espaços de
c) não há clareza teórico-conceitual e diálogo, de lazer, nas reuniões pedagógicas, na postura de
metodológica de certos conceitos utilizados com seus atores, nas práticas e modelos de gestão vivenciados.
frequência nos marcos referenciais como: democracia, De outra parte, o compromisso com a transformação
participação, justiça, liberdade, solidariedade, igualdade, social coloca como horizonte a construção de uma
consciência crítica; sociedade mais justa, solidária e igualitária, e uma das
d) por outro lado, há desconhecimento da forma tarefas da educação e da escola é contribuir para essa
camuflada como a escola e as instituições reproduzem transformação. Por certo, como já analisamos em outros
mecanismos de discriminação e controle social, de momentos neste curso, a escola pode desempenhar o
injustiça, de consumismo, de tutela e outros mais, através papel de instrumento de reprodução do modelo de
das práticas educativas que realizam. Diante dessas sociedade dominante, à medida que reproduz no seu
dificuldades, muitos professores fazem a opção pelo interior o individualismo, a fragmentação social e uma
isolamento, comprometendo, com isso, a possibilidade compreensão ingênua e pragmática da realidade, do
de potencialização do trabalho pedagógico, pelo não conhecimento e do próprio homem. Em contrapartida, a
reconhecimento de sua natureza coletiva. É justamente educação e a escola articuladas com a transformação social
neste momento que a força do coletivo deve se mostrar, implicam uma nova compreensão do conhecimento,
não como imposição, mas como elo catalizador, com tomado agora como saber social, construção histórica,
vistas a orientar um trabalho pedagógico consistente e instrumento para compreensão e intervenção crítica na
orgânico ao Projeto Político Pedagógico da escola. realidade. Concebem o homem na sua totalidade e,
portanto, visam a sua formação integral: biológica,
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO: material, social, afetiva, lúdica, estética, cultural, política,
CONCEPÇÃO, CONSTRUÇÃO, entre outras. A partir dos aspectos aqui destacados, é
ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO O possível definir os seguintes elementos básicos que
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO definem e caracterizam o planejamento participativo:
• distanciam-se daqueles modelos de organização do
• engajamento de todos os níveis da organização para a trabalho que separa, no tempo e no espaço, quem toma as
consecução dos fins maiores. Em contraposição a esses decisões de quem as executa
modelos de planejamento, a perspectiva da gestão
democrática da educação e da escola pressupõe o

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• conduzem à práxis (ver conceito na Sala Ambiente modalidades de planejamento, articulados entre si o plano
Projeto Vivencial) enquanto ação de forma refletida, da escola, o plano de ensino e o plano de aulas.
pensada
• pressupõem a unidade entre pensamento e ação Há três modalidades de planejamento, articulados entre si
• o poder é exercido de forma coletiva o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aulas.

• implicam a atuação permanente e organizada de A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO


todos os segmentos envolvidos com o trabalho educativo ESCOLAR
• constituem-se num avanço, na perspectiva da superação O planejamento é um processo de racionalização,
da organização burocrática do trabalho pedagógico organização e coordenação da ação docente, articulando a
escolar, assentado na separação entre teoria e prática. atividade escolar e a problemática do contexto social. A
escola, os professores e alunos são integrantes da dinâmica
O trabalho coletivo e o compromisso com a das relações sociais; tudo o que acontece no meio escolar
transformação social colocam, pois, o planejamento está atravessado por influências econômicas, políticas e
participativo como perspectiva fundamental quando se culturais que caracterizam a sociedade de classe. Isso
pretende pensar e realizar a gestão democrática da escola. significa que os elementos do planejamento escolar –
Ao mesmo tempo, essa concepção e esse modelo de objetivos-conteúdos-métodos – estão recheados de
planejamento se constituem como a base para a implicações sociais, têm um significado genuinamente
construção do Projeto Político-Pedagógico da escola. O político. Por essa razão o planejamento, é uma atividade
planejamento participativo implica, ainda, o de reflexão acerca das nossas opções e ações; se não
aprofundamento crescente, a discussão e a reflexão sobre pensarmos didaticamente sobre o rumo que devemos dar
o tema da participação. ao nosso trabalho, ficaremos entregues aos rumos
estabelecidos pelos interesses dominantes da sociedade.
Planejamento participativo, construção, acompanhamento
e avaliação. O planejamento faz parte da ação especifica O planejamento tem assim as seguintes funções:
humana e a problematização e suas concepções. O a) Explicar os princípios, diretrizes e procedimentos do
planejamento participativo tem a sua importância teórica a trabalho docente que as segurem a articulação entre as
descentralização do sistema educacional ao encontro do tarefas da escola e as exigências do contexto social e do
caminho democratização da gestão na melhoria de processo de participação democrática.
qualidade de ensino. A proposta tem as suas condições de b) Expressar os vínculos entre o posicionamento filosófico,
um ajuste social nas condições grupais devidos aos político-pedagógico e profissional e as ações efetivas que
problemas que encontram no cotidiano escolar. o professor irá realizar na sala de aula, através de
objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas de
A sua realidade é proporcionar um equilíbrio de criar ensino.
novas perspectivas necessárias à execução no seu c) Assegurar a racionalização, organização e coordenação do
planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação trabalho docente, de modo que a previsão das ações
em todo o projeto com intencionalidade politica docentes possibilite ao professor a realização de um
determinante. ensino de qualidade e evite a improvisação e a rotina.
d) Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir de
A construção do Projeto Político Pedagógico da escola em consideração das exigências postas pela realidade social,
sua proposta de participação de todos e construção do nível de preparo e das condições sócio culturais e
coletiva das metas e seus compromissos de organização e individuais dos alunos.
gestão escolar. Estas perspectivas da continuidade do e) Assegurar a unidade e a coerência do trabalho docente,
projeto educacional que contribui na formação cidadã uma vez que torna possível inter-relacionar, num plano,
com o planejar técnico com valores e objetivos, que marca os elementos que compõem o processo de ensino: os
a realidade dando soluções aos grupos sociais ou pessoas. objetivos (para que ensinar), os conteúdos (o que ensinar),
os alunos e suas possibilidades (a quem ensinar), os
Nos diferentes segmentos das instituições galga a realidade métodos e técnicas (como ensinar) e avaliação que
do sistema escolar com a sua autonomia de forma intimamente relacionada aos demais.
relacional dentro do contexto de interdependência. Com o f) Atualizar os conteúdos do plano sempre que for preciso,
seu olhar critico no processamento de resolução dos aperfeiçoando-o em relação aos progressos feitos no
problemas que afetam a sua diretriz administrativa e o seu campo dos conhecimentos, adequando-os às condições de
fragmento que é vivenciado pelas atitudes não aprendizagens dos alunos, aos métodos, técnicas e
correspondente aos processos educacionais. recursos de ensino que vão sendo incorporados nas
experiências do cotidiano.
O PLANEJAMENTO ESCOLAR - JOSÉ CARLOS g) Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material
LIBÂNEO didático em tempo hábil, saber que tarefas professor e
O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui alunos devem executar. Replanejar o trabalho frente a
tanto a previsão das atividades em termos de organização novas situações que aparecem no decorrer das aulas. Para
e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a que os planos sejam efetivamente instrumentos para a
sua revisão e adequação no decorrer do processo de ação, devem ser como guia de orientação e devem
ensino. O planejamento é um meio para programar as apresentar ordem sequencial, objetividade, coerência,
ações docentes, mas é também um momento de pesquisa flexibilidade.
e reflexão intimamente ligado à avaliação. Há três
O plano é um guia para orientar o professor em suas
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ações educativas O plano é um guia de orientação, pois plano de ensino. Não pode esquecer que cada tópico novo
nele são estabelecidas as diretrizes e os meios de realização é uma continuidade do anterior; é necessário assim,
do trabalho docente. Sua função é orientar a prática considerar o nível de preparação inicial dos alunos para a
partindo da exigência da própria prática. O plano deve ter matéria nova.
uma ordem sequencial, progressiva. Para alcançar os
objetivos, são necessários vários passos, de modo que a
ação docente obedeça a uma sequência lógica. Por Deve, também, tomar o tópico da unidade a ser
objetividade entendemos a correspondência do plano com desenvolvido e desdobrá-lo numa sequência lógica, na
a realidade que se vai aplicar. Não adianta fazer previsões forma de conceitos, problemas, ideias. Trata-se de
fora das possibilidades humanas e materiais da escola, fora organizar um conjunto de noções básicas em torno de
das possibilidades dos alunos. uma ideia central, formando um todo significativo que
possibilite ao aluno percepção clara e coordenada do
Deve haver coerência entre os objetivos gerais, objetivos assunto em questão. Ao mesmo tempo em que são
específicos, os conteúdos, métodos e avaliação. Coerência listadas as noções, conceitos, ideias e problemas, é feita a
é relação que deve existir entre as ideias e a prática. O previsão do tempo necessário. A previsão do tempo, nesta
plano deve ter flexibilidade no decorrer do ano letivo, o fase, ainda não é definitiva, pois poderá ser alterada no
professor está sempre organizando e reorganizando o seu momento de detalhar o desenvolvimento metodológico da
trabalho. Como já dissemos o plano é um guia e não uma aula.
decisão inflexível.
Em cada um dos itens mencionados, o professor deve
Existem pelo menos três níveis de planos: o plano da prever formas de verificação do rendimento dos alunos.
escola, o plano de ensino, o plano de aula. O plano da Precisa lembrar que a avaliação é feita no início (o que o
escola é um documento mais global; expressa orientações aluno sabe antes do desenvolvimento da matéria nova),
gerais que sintetizam, de um lado, as ligações da escola durante e no final de uma unidade didática. A avaliação
com o sistema escolar mais amplo e, de outro, as ligações deve conjugar várias formas de verificação, podendo ser
do projeto pedagógico da escola com os planos de ensino informal, para fins de diagnóstico e acompanhamento do
propriamente ditos. O plano de ensino (ou plano de progresso dos alunos, formal para fins de atribuição de
unidade) é a previsão dos objetivos e tarefas do trabalho notas ou conceitos.
docente para o ano ou semestre; é um documento mais
elaborado, dividido por unidades sequenciais, no qual Os momentos didáticos do desenvolvimento
aparecem objetivos específicos, conteúdos e metodológico não são rígidos. Cada momento terá
desenvolvimento metodológicos. duração de tempo de acordo com o conteúdo, com o
nível de assimilação dos alunos. Às vezes ocupar-se-á mais
O plano de aula é a previsão do desenvolvimento do tempo com a exposição oral da matéria, em outras, com o
conteúdo para uma aula ou conjunto de aulas e tem um estudo da matéria. Outras vezes, ainda, tempo maior pode
caráter específico. O plano de aula é um detalhamento do ser dedicado a exercício de fixação e consolidação. Por
plano de ensino. As unidades e subunidades (tópicos) que exemplo, pode acontecer que os alunos dominem
foram previstas em linhas gerais são agora especificadas e perfeitamente os conhecimentos e habilidades necessárias
sistematizadas para uma situação didática real. A para enfrentar a matéria nova; nesse caso, a preparação e
preparação de aulas é uma tarefa indispensável e, assim introdução do tema pode ser mais breve. Entretanto, se os
como o plano de ensino, deve resultar em um documento alunos não dispõem de pré-requisitos bem consolidados, a
escrito que servirá não só para orientar ações do professor decisão do professor deve ser outra, gastando-se mais
como também para possibilitar constantes revisões e tempo para garantir uma base inicial de preparo através da
aprimoramentos de ano para ano. Em todas as profissões recapitulação, pré-testes de sondagem e exercícios.
o aprimoramento profissional depende da acumulação de
experiências conjugando a prática e reflexão criteriosa O desenvolvimento metodológico pode se destacar aulas
sobre ela, tendo em vista uma prática constantemente com finalidades específicas: aula de exposição oral da matéria,
transformada para melhor. aula de discussão ou trabalho em grupo, aula de estudo
dirigido individual, aula de demonstração prática ou estudo
Na elaboração de um plano de aula, deve-se levar em do meio, aula de exercícios, aula de recapitulação, aula de
consideração, em primeiro lugar, que a aula é um período verificação para avaliação. O professor consciencioso deverá
de tempo variável. Dificilmente completamos em uma só fazer uma avaliação da própria aula. Sabemos que o êxito dos
aula o desenvolvimento de uma unidade ou tópico de alunos não depende unicamente do professor e do seu
método de trabalho, pois a situação docente envolve muitos
unidade, pois o processo de ensino e aprendizagem se
fatores de natureza social, psicológica, o clima geral da
compõe de uma sequência articulada de fases: preparação
dinâmica da escola etc. Entretanto, o trabalho docente tem
e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; um peso significativo ao proporcionar condições efetivas
desenvolvimento da mataria nova; consolidação (fixação, para o êxito escolar dos alunos. Ao fazer a avaliação das
exercícios, recapitulação, sistematização); aplicação, aulas, convém ainda levantar questões como estas: Os
avaliação. Isso significa que devemos planejar não uma objetivos e conteúdos foram adequados à turma? O tempo
aula, mas um conjunto de aulas. de duração da aula foi adequado? Os métodos e técnicas de
ensino foram variados e oportunos em suscitar a atividade
Na preparação de aulas, o professor deve reler os mental e prática dos alunos? Foram feitas verificações de
objetivos gerais da matéria e a sequência de conteúdos do aprendizagem no decorrer das aulas (informais e formais)? O

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relacionamento professor-aluno foi satisfatório? Houve uma


organização segura das atividades, de modo ter garantido um
clima de trabalho favorável? Os alunos realmente
consolidaram a aprendizagem da matéria, num grau suficiente
para introduzir matéria nova? Foram propiciadas tarefas de
estudo ativo e independente dos alunos?

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COMPONENTES DO PROCESSO DE ENSINO Segundo Castanho,1996, os objetivos da educação são os


APRENDIZAGEM resultados buscados pela ação educativa: comportamentos
individuais e sociais, perfis institucionais, tendências
OBJETIVOS estruturais. Em outras palavras, são mudanças esperadas
A seleção dos objetivos de ensino é considerada um como consequência da ação educativa nas pessoas e
elemento fundamental no processo de planejamento da grupos sociais, nas instituições de âmbito mais largo
prática educativa, pois dá segurança ao educador, responsáveis por políticas educacionais. Libâneo1991 –
orientando a sua atuação pedagógica, ajudando-o na 120-130, afirma que:
seleção dos meios mais adequados para a realização de seu 1. Os objetivos de ensino são importantes no
trabalho. Podemos definir objetivos educacionais como os desenvolvimento do trabalho docente, pois o fato de que
resultados que o educador espera alcançar por meio de a prática educativa é socialmente determinada,
uma ação educativa intencional e sistemática. respondendo às exigências e expectativas dos grupos e
Historicamente, os objetivos de ensino têm assumido classes sociais existentes na sociedade, cujos propósitos
diferentes formas de elaboração (tendo em vista as são antagônicos em relação ao tipo de homem a educar e
Tendências da Educação: Tradicional, Escola no vista e às tarefas que este deve desempenhar nas diversas esferas
Tecnicista). da vida prática. Procuramos destacar, especialmente, que a
prática educativa atua no desenvolvimento individual e
A partir da década de 70 (após o modelo de social dos indivíduos, proporcionando-lhes os meios de
desenvolvimento econômico de 1964) pôde-se perceber, apropriação dos conhecimentos e experiências
no sistema educacional brasileiro, uma grande ênfase na acumuladas pelas gerações anteriores, como requisito para
proposta behaviorista de formulação de objetivos a elaboração de conhecimentos vinculados a interesses da
educativos, presente no modelo pedagógico tecnicista, população majoritária da sociedade.
objetivos estes, que possam ser previstos, observados, 2. Os objetivos educacionais expressam, portanto,
medidos e comparados. As raízes deste modelo, propósitos definidos, explícitos quanto ao
remontam os E.U.A. nos anos 10, quando começou a desenvolvimento das qualidades humanas que todos os
apologia da administração cientifica (mais conhecida indivíduos precisam adquirir para se capacitarem para as
como “taylorismo”). Segundo Castanho (1989), o lutas sociais de transformação da sociedade. O caráter
movimento chegou logo à educação e com ele, a busca de pedagógico da prática educativa está, precisamente, em
eficiência na escola, à semelhança do que se fazia na explicar fins e meios que orientem tarefas da escola e do
fábrica. A visão da escola como empresa, primando pela professor para aquela direção. Em resumo, podemos dizer
eficiência, fabricando em séries, aceitando que não há prática educativa sem objetivos.
comportamentos esperados e repelindo comportamentos 3. Três são as referências para formulação dos objetivos
que fogem da previsão, passou a dominar em tal educacionais:
perspectiva. • Os valores e ideais proclamados na legislação educacional
e que expressam os propósitos das forças políticas
Esta ênfase exagerada com a formulação muito precisa dominantes no sistema social.
dos objetivos educativos, pareceu se tornar suficiente para • Os conteúdos básicos das ciências, produzidos e
garantir a eficácia do desenvolvimento do processo de elaborados no decurso da prática social da humanidade.
ensino, através do desenvolvimento de processos de • As necessidades e expectativas de formação cultural
aprendizagem necessários, em vez de tomá-los (os exigidas pela população majoritária da sociedade,
objetivos educativos) como o “(...) primeiro passo para decorrentes das condições concretas de vida e de trabalho
estudar a ação que os processos de ensino têm que e das lutas pela democratização. Essas referências estão
desenvolver para que, estimulando e guiando os processos interligadas e sujeitas a contradições, não podendo ser
de aprendizagem, o aluno alcance, de alguma forma, os tomadas isoladamente, pois por exemplo, os conteúdos
objetivos propostos. O projeto consiste em prever o escolares estão em contradição não somente com as
processo de ensino mais adequado para despertar o possibilidades reais dos alunos em assimilá-los como
processo de aprendizagem nas condições precisas para também com os interesses majoritários da sociedade, na
que o aluno alcance as metas. medida em que podem ser usados para disseminar a
ideologia de grupos e classes minoritárias. 0 mesmo se
Partir de objetivos claros e definidos não é somente o pode dizer em relação aos valores e ideais proclamados na
primeiro passo para adequar o projeto que prefigura tanto legislação escolar. Isso significa que a elaboração dos
o processo de ensino como o de aprendizagem”. objetivos pressupõe, da parte do professor:
(Sacristán em Merchan,2000 –p.37) A crítica realizada pelo • Uma avaliação crítica das referências que utiliza, em face
autor citado, estabelece que esta pedagogia visa através da dos determinantes sócio-político da prática educativa.
educação, a mudança direcionada de comportamento, Uma avaliação da pertinência dos objetivos e conteúdos
definida com exatidão nos objetivos operacionais que propostos pelo sistema escolar oficial, verificando em que
devem ser alcançados para promover estas mudanças, medida atendam as exigências de democratização política
especificando: 1. O que o aluno deve fazer em termos de e social.
conduta final; 2. Que objetivos específicos, o aluno deve • Saber compatibilizar os conteúdos com necessidades,
alcançar, através das estratégias de ensino (ações), para aspirações, expectativas da clientela escolar, bem como
manifestar a conduta prevista no objetivo geral? torná-los exequíveis face às condições sócio culturais e de
aprendizagem dos alunos.

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• Se perceber como agente de uma prática profissional Objetivos Específicos de Ensino - determinam exigências
inserida no contexto mais amplo da prática social, capaz e resultados esperados da atividade dos alunos, referentes
de fazer a correspondência entre os conteúdos que ensina a conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções cuja
e sua relevância social, frente às exigências de aquisição e desenvolvimento ocorrem no processo de
transformação da sociedade presente e diante das tarefas transmissão / assimilação ativa das matérias de estudo.
que cabe ao aluno desempenhar no âmbito social, Estes devem ser vinculados aos objetivos gerais sem
profissional, político e cultural. perder de vista a situação concreta (escola, matéria,
alunos) em que serão aplicados. Norteiam, de forma mais
Segundo Libâneo, 1991, os professores que não tomam direta, o processo ensino aprendizagem. Na redação dos
partido de forma consciente e crítica, ante as contradições objetivos específicos, o professor transformará tópicos
sociais, acabam repassando para a prática profissional das unidades de ensino, em proposição (afirmação), onde
valores, ideais, concepções sobre a sociedade contrários se expresse o resultado esperado, que deve ser atingido
aos interesses da população majoritária da sociedade. por todos alunos ao final daquela unidade.
Assim sendo, os objetivos educacionais são uma exigência
indispensável para o trabalho docente, requerendo um Os resultados podem ser de: CONHECIMENTOS
posicionamento ativo do professor em sua explicitação, (conceitos, fatos, princípios, teorias, interpretações, ideais
seja no planejamento escolar, seja no desenvolvimento das organizadas, etc.)
aulas.
HABILIDADES (o que o aluno deve aprender para
NÍVEIS DE OBJETIVOS EDUCACIONAIS desenvolver suas capacidades intelectuais: organizar seu
Consideraremos, aqui, dois níveis de objetivos estudo ativo e independente; aplicar formulas em
educacionais, objetivos gerais e objetivos específicos: exercícios; observar, coletar e organizar informações sobre
Objetivos Gerais expressam propósitos mais amplos determinado assunto; raciocinar com dados da realidade;
acerca do papel da escola e do ensino, diante das formular hipóteses; usar materiais e instrumentos como,
exigências postas pela realidade social e diante do dicionários, mapas, réguas, etc.).
desenvolvimento da personalidade dos alunos. Os
objetivos Gerais, definem, em grandes linhas, perspectivas ATITUDES, CONVICÇÕES E VALORES que se deve
da prática educativa na sociedade brasileira, que serão desenvolver em relação à matéria, ao estudo, ao
depois convertidas em objetivos específicos de cada relacionamento humano, à realidade social (atitude
matéria de ensino, conforme os graus escolares e níveis de cientifica, consciência crítica, responsabilidade,
idade dos alunos. Os objetivos gerais são explicitados em solidariedade, etc.) Orientações que se deve observar ao
três níveis de abrangência, do mais amplo ao mais formular objetivos específicos:
específico: • Formular objetivos consiste em descrever os
a) pelo sistema escolar, que expressa as finalidades conhecimentos a serem assimilados, as habilidades, os
educativas de acordo com ideais e valores dominantes na hábitos e as atitudes a serem desenvolvidos, ao final do
sociedade; estudo dos conteúdos de ensino.
b) pela escola, que estabelece princípios e diretrizes de • Os objetivos devem ser redigidos com clareza, realidade,
orientação do trabalho escolar com base num plano expressando tanto o que o aluno deve aprender, como os
pedagógico-didático que represente o consenso do corpo resultados de aprendizagem possíveis de serem
docente em relação à filosofia da educação e à prática alcançados.
escolar; (Projeto Político Pedagógico) • Nesta tarefa ainda deve-se levar em conta, além das
c) pelo professor, que concretiza no ensino da matéria a sua orientações acima, o tempo que se dispõe, as condições
própria visão de educação e de sociedade. Ao considerar em que se realiza o ensino, a capacidade de assimilação
os objetivos gerais e suas implicações para o trabalho dos alunos conforme a idade e nível de desenvolvimento
docente em sala de aula, o professor deve conhecer os mental e a utilidade dos objetivos para motivar e
objetivos estabelecidos no âmbito do sistema escolar encaminhar a atividade dos alunos.
oficial, seja no que se refere a valores e ideais educativos,
seja quanto às prescrições de organização curricular e Os objetivos específicos particularizam a compreensão
programas básicos das matérias. das relações entre escola e sociedade e especialmente do
papel da matéria de ensino. Eles expressam, pois, as
Esse conhecimento é necessário, não apenas porque o expectativas do professor sobre o que deseja obter dos
trabalho escolar está vinculado a diretrizes nacionais, alunos no decorrer do processo de ensino. Têm sempre
estaduais e municipais de ensino, mas também porque um caráter pedagógico, porque explicitam o rumo a ser
precisamos saber que concepções de homem e sociedade impresso ao trabalho escolar, em torno de um programa
caracterizam os documentos oficiais, uma vez que de formação. A cada matéria de ensino correspondem
expressam os interesses dominantes dos que controlam os objetivos que expressam resultados a obter:
órgãos públicos. “Isto significa que não se trata conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes e
simplesmente de copiar os objetivos e conteúdos convicções, através dos quais se busca o desenvolvimento
previstos no programa oficial, mas de reavaliá-los em das capacidades cognoscitivas dos alunos. Há, portanto,
função de objetivos sócio-políticos que expressem os estreita relação entre os objetivos, os conteúdos e os
interesses do povo, das condições locais da escola, da métodos.
problemática social vivida pelos alunos, das peculiaridades
sócio culturais e individuais dos alunos”. (Libanêo, 1991)

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OS MÉTODOS DE ENSINO

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AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM A expressão avaliação educacional, por sua vez, começou


a ser mais utilizada no Brasil para designar as análises em
De forma geral, a avaliação escolar pode ser definida grande escala realizadas pelo Estado para avaliar o sistema
como um meio de obter informações sobre os avanços e de educação pública. Segundo Luckesi: A avaliação
as dificuldades de cada aluno, constituindo-se em um educacional, em geral, e a avaliação de aprendizagem
procedimento permanente de suporte ao processo ensino- escolar, em particular, são meios e não fins, em si mesmas,
aprendizagem, de orientação para o professor planejar estando assim delimitadas pela teoria e pela prática que as
suas ações, a fim de conseguir ajudar o aluno a prosseguir, circunstancializam. Desse modo, entendemos que a
com êxito, seu processo de escolarização. Os avaliação não se dá nem se dará num vazio conceitual,
instrumentos de avaliação mais usados são provas escritas mas sim dimensionada por um modelo teórico de mundo
ou orais, seminários, tarefas, pesquisas e dinâmicas de e de educação, traduzido em prática pedagógica.
grupos. (LUCKESI, 1995, p. 28).

No processo de avaliação dos diversos graus de ensino, as Reconhecer as diferentes trajetórias de vida dos
notas e conceitos são decisivos para a continuidade dos educandos implica flexibilizar os objetivos, os conteúdos,
estudos. No Brasil, particularmente na última década, as formas de ensinar e avaliar, ou seja, contextualizar e
surgiu um intenso debate em torno do lugar da avaliação recriar o currículo. Segundo Luckesi (1995), a avaliação
escolar, uma vez que ela estaria perdendo a sua dimensão tem sua origem na escola moderna com a prática de
pedagógica e metodológica e assumindo crescentemente a provas e exames que se sistematizou a partir do século
dimensão de controle. As questões relativas à avaliação XVI e XVII, com a cristalização da sociedade burguesa.
tem se dividido entre a avaliação “externa” que tem sido
imposta em nosso sistema educacional e considera mais A prática de avaliação da aprendizagem que vem sendo
aspectos administrativos padronizados e a avaliação desenvolvida nas nossas instituições de ensino nos remete
“interna” que se dá no espaço da sala de aula e que tem a uma posição de poucos avanços. Não tem sido utilizada
mobilizado os docentes para as mudanças qualitativas de como elemento que auxilie no processo ensino
suas ações pedagógicas. aprendizagem, perdendo-se em mensurar e quantificar o
saber, deixando de identificar e estimular os potenciais
Dessa forma, a avaliação no processo ensino- individuais e coletivos.
aprendizagem tem sido considerado um tema delicado por
possuir implicações pedagógicas que extrapolam os Encontramos em Luckesi (1995), alguns pontos que nos
aspectos técnicos e metodológicos e atinge aspectos auxiliam a compreender estas questões. O ato de avaliar
sociais, éticos e psicológicos importantes. A prática tem sido utilizado como forma de classificação e não
avaliativa poderia tanto estimular, promover, gerar avanço como meio de diagnóstico, sendo que isto é péssimo para
e crescimento, quanto desestimular, frusta, impedir o a prática pedagógica. A avaliação deveria ser um momento
avanço e crescimento do sujeito que aprende. Segundo de “fôlego”, uma pausa para pensar a prática e retornar a
Cipriano Luckesi, em Avaliação da aprendizagem escolar, ela, como um meio de julgar a prática. Sendo utilizada
a avaliação escolar, assim como as outras práticas do como uma função diagnóstica, seria um momento
professor, seria dimensionada por um modelo teórico de dialético do processo para avançar no desenvolvimento da
mundo e de educação, traduzido em prática pedagógica, ação, do crescimento para a autonomia e competência.
tenha o professor consciência disto ou não. Como função classificatória, constitui-se num instrumento
estático e freador do processo de crescimento, subtraindo
do processo de avaliação aquilo que lhe é constitutivo, isto
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996,
é, a tomada de decisão quanto à ação, quando ela está
inova em relação à anterior, por tratar a frequência e a
avaliando uma ação.
avaliação do rendimento escolar em planos distintos.
Prevê-se que deve haver avaliação “contínua e cumulativa
Desta forma, a avaliação desempenha um papel
do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos
significativo para o modelo social liberal-conservador, ou
qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao
seja, o papel disciplinador. Os “dados relevantes” que
longo do período sobre os de eventuais provas finais”.
devem ser considerados para o julgamento de valor,
Algumas regras forçaram a mudança do sentido que se
tornam-se “irrelevantes”, sendo que o padrão de exigência
atribuía à avaliação, orientando para não mais uma
fica ao livre arbítrio do professor.
avaliação com vistas a promover ou reter alunos, mas uma
avaliação que permita: “possibilidade de avanço nos
O professor ao planejar suas atividades não estabelece o
cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado.”
mínimo necessário a ser aprendido efetivamente pelo
aluno, utilizando-se da “média” de notas, o que não
O termo avaliação escolar é muito usado com o mesmo expressa a competência do aluno, não permitindo a sua
sentido de avaliação de aprendizagem, avaliação da reorientação. A média então, é realizada a partir da
aprendizagem escolar ou avaliação educacional. Porém, quantidade e não da qualidade, não garantindo o mínimo
com as novas políticas educacionais brasileiras, a partir de de conhecimento, (LUCKESI, 1995). Esta prática torna a
1996, a avaliação da aprendizagem tem sido considerada avaliação nas mãos do professor um instrumento
uma das “interfaces” da avaliação escolar. Enquanto a disciplinador de condutas sociais, utilizando-a como
primeira foca mais o indivíduo a segunda refere-se ao controle e critério para aprovação dos alunos, buscando
coletivo. controlar e disciplinar, retirando destes a espontaneidade,
criticidade e criatividade, transformando-os reféns de um
sistema autoritário e antipedagógico.
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A aprendizagem neste contexto, deixa de ser algo avaliação da aprendizagem na prática escolar tem sido um
prazeroso e solidário, passando a ser um processo solitário mecanismo de conservação e reprodução da sociedade
e desmotivador, contribuindo para a seletividade social, através do autoritarismo? A avaliação constitui-se em um
principalmente para atender as exigências do sistema momento dialético de reflexão sobre teoria-prática no
econômico vigente. Segundo Hoffmann (1996, p.66): processo ensino aprendizagem. Nesta perspectiva, além
dos aspectos cognitivos, os aspectos de natureza não
Quando a finalidade é seletiva, o instrumento de avaliação cognitiva (afetividade, participação, compromisso,
é constativo, prova irrevogável. Mas as tarefas, na escola, responsabilidade, interesse, habilidades e competências)
deveriam ter o caráter problematizador e dialógico, têm que ser considerados.
momentos de trocas de ideias entre educadores e
educandos na busca de um conhecimento gradativamente AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
aprofundado. A avaliação da aprendizagem escolar adquire seu sentido
na medida em que se articula com um projeto pedagógico
O educador, ao lidar com a avaliação da aprendizagem e com seu consequente projeto de ensino. A avaliação,
escolar, deve ter em mente a necessidade de colocar em tanto no geral quanto no caso específico da aprendizagem,
sua prática diária, novas propostas que visem a melhoria não possui uma finalidade em si; ela subsidia um curso de
do ensino, pois a avaliação é parte de um processo e não ação que visa construir um resultado previamente
um fim em si e deve ser utilizada como um instrumento definido. No caso que nos interessa, a avaliação subsidia
para a melhoria da aprendizagem dos educandos. decisões a respeito da aprendizagem dos educandos, tendo
em vista garantir a qualidade do resultado que estamos
Diz Hoffmann: A avaliação, enquanto mediação, significa construindo. Por isso, não pode ser estudada, definida e
encontro, abertura ao diálogo, interação. Uma trajetória de delineada sem um projeto que a articule.
conhecimento percorrida num mesmo tempo e cenário
por alunos e professores. Trajetos que se desencontram, Para os desvendamentos e proposições sobre a avaliação
por vezes, e se cruzam por outras, mas seguem em frente, da aprendizagem, que serão expostos neste texto, teremos
na mesma direção (2005, p. 40). sempre presente este fato, assumindo que estamos
trabalhando no contexto do projeto educativo, que
Para redirecionar a prática de avaliação faz-se necessário prioriza o desenvolvimento dos educandos - crianças,
assumir um posicionamento pedagógico explícito, com jovens e adultos - a partir de um processo de assimilação
um redimensionamento global das práticas pedagógicas de ativa do legado cultural já produzido pela sociedade: a
modo a orientá-la, no planejamento, na execução e na filosofia, a ciência, a arte, a literatura, os modos de ser e de
avaliação. Nesta perspectiva, para que se dê um novo viver.
rumo à avaliação seria necessário o resgate da sua função
diagnóstica, ou seja, deveria ser um instrumento dialético A ESCOLA OPERA COM VERIFICAÇÃO E NÃO
do avanço, um instrumento de identificação de novos COM AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
rumos. “Enfim, terá de ser o instrumento do Iniciemos pelos conceitos de verificação e avaliação, para,
reconhecimento dos caminhos percorridos e da a seguir, identificarmos se a fenomenologia da aferição do
identificação dos caminhos a serem perseguidos” aproveitamento escolar, descrita no item anterior, se
(LUCKESI, 1995, p.43). configura como verificação ou avaliação. O termo
verificar provém etimologicamente do latim - verum
Não há como negar que na avaliação, as disciplinas usam facere - e significa "fazer verdadeiro". Contudo, o
como critério as notas e todas atribuem pesos conceito verificação emerge das determinações da conduta
diferenciados para cada atividade, dependendo do grau de de, intencionalmente, buscar "ver se algo é isso mesmo..:",
valoração de cada uma, de acordo com critérios "investigar a verdade de alguma coisa. .:". O processo de
estabelecidos somente pelos professores. A avaliação da verificar configura-se pela observação, obtenção, análise e
aprendizagem é feita de forma a classificar o aluno num síntese dos dados ou informações que delimitam o objeto
certo estágio de desenvolvimento. ou ato com o qual se está trabalhando. A verificação
encerra-se no momento em que o objeto ou ato de
A partir desta análise, podemos dizer que a prática “dita” investigação chega a ser configurado, sinteticamente, no
como avaliação da aprendizagem, não passa de uma pensamento abstrato, isto é, no momento em que se
verificação da aprendizagem. Como refere Luckesi (1995), chega à conclusão que tal objeto ou ato possui
este fato fica claro na escola brasileira, quando determinada configuração.
observamos que os resultados da aprendizagem têm tido a
função de estabelecer uma classificação do educando que A dinâmica do ato de verificar encerra-se com a obtenção
se expressa em aprovação ou reprovação. Nas práticas do dado ou informação que se busca, isto é, "vê-se" ou
pedagógicas preocupadas com a transformação, a "não se vê" alguma coisa. E.. . pronto! Por si, a verificação
avaliação é utilizada como um mecanismo de diagnóstico não implica que o sujeito retire dela consequências novas
da situação enxergando o avanço e o crescimento e não a e significativas.
estagnação disciplinadora. Sendo assim, para romper com
o modelo de sociedade devemos romper com a pedagogia O termo avaliar também tem sua origem no latim,
que o traduz. provindo da composição a-valere, que quer dizer dar valor
a..:". Porém, o conceito "avaliação" é formulado a partir
A partir dessas observações, passa a haver uma questão: a das determinações da conduta de "atribuir um valor ou

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qualidade a alguma coisa, ato ou curso de ação...", que, em sã consciência, pode desejar para si ou para outrem.
por si, implica um posicionamento positivo ou negativo
em relação ao objeto, ato ou curso de ação avaliado. Isto O modo de trabalhar com os resultados da aprendizagem
quer dizer que o ato de avaliar não se encerra na escolar - sob a modalidade da verificação- reifica a
configuração do valor ou qualidade atribuídos ao objeto aprendizagem, fazendo dela uma "coisa" e não um
em questão, exigindo uma tomada de posição favorável ou processo. O momento de aferição do aproveitamento
desfavorável ao objeto de avaliação, com uma escolar não é ponto definitivo de chegada, mas um
consequente decisão de ação O ato de avaliar importa momento de parar para observar se a caminhada está
coleta, análise e síntese dos dados que configuram o ocorrendo com a qualidade que deveria ter. Neste sentido,
objeto da avaliação, acrescido de uma atribuição de valor a verificação transforma o processo dinâmico da
ou qualidade, que se processa a partir da comparação da aprendizagem em passos estáticos e definitivos. A
configuração do objeto avaliado com um determinado avaliação, ao contrário, manifesta-se como um ato
padrão de qualidade previamente estabelecido para aquele dinâmico que qualifica e subsidia o reencaminhamento da
tipo de objeto. ação, possibilitando consequências na direção da
construção, dos resultados que se deseja.
O valor ou qualidade atribuídos ao objeto conduzem a
uma tomada de posição a seu favor ou contra ele. E, o Encaminhamentos Diante do fato de que, no movimento
posicionamento a favor ou contra o objeto, ato ou curso real da aferição da aprendizagem escolar, nos deparamos
de ação, a partir do valor ou qualidade atribuídos, conduz com a prática escolar da verificação e não da avaliação, e
a uma decisão nova, a uma ação nova: manter o objeto tendo ciência de que o exercício efetivo da avaliação seria
como está ou atuar sobre ele. A avaliação, diferentemente mais significativo para a construção dos resultados da
da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção aprendizagem do educando, propomos, neste segmento
de configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer do texto, algumas indicações que poderão ser estudadas e
ante ou com ele. A verificação é uma ação que "congela" o discutidas na perspectiva de gerar encaminhamentos para
objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa a melhor forma de condução possível do ensino escolar.
trilha dinâmica de ação.
USO DA AVALIAÇÃO
As entrelinhas do processo descrito no tópico anterior Em primeiro lugar, propomos que a avaliação do
demonstram que, no geral, a escola brasileira opera com a aproveitamento escolar seja praticada como uma
verificação e não com a avaliação da aprendizagem. Este atribuição de qualidade aos resultados da aprendizagem
fato fica patente ao observarmos que os resultados da dos educandos, tendo por base seus aspectos essenciais e,
aprendizagem usualmente têm a função de estabelecer como objetivo final, uma tomada de decisão que direcione
uma classificação do educando, expressa em sua o aprendizado e, consequentemente, o desenvolvimento
aprovação ou reprovação. O uso dos resultados encerra-se do educando. Com isso, fugiremos ao aspecto
na obtenção e registro da configuração da aprendizagem classificatório que, sob a forma de verificação, tem
do educando, nada decorrendo daí. Raramente, só em atravessado a aferição do aproveitamento escolar. Nesse
situações reduzidas e específicas, encontramos professores sentido, ao avaliar, o professor deverá:
que fogem a esse padrão usual, fazendo da aferição da • Coletar, analisar e sintetizar, da forma mais objetiva
aprendizagem um efetivo ato de avaliação. possível, as manifestações das condutas cognitivas,
afetivas, psicomotoras - dos educandos, produzindo uma
Para estes raros professores, a aferição da aprendizagem configuração do efetivamente aprendido;
manifesta-se como um processo de compreensão dos • Atribuir uma qualidade a essa configuração da
avanços, limites e dificuldades que os educandos estão aprendizagem, a partir de um padrão (nível de expectativa)
encontrando para atingir os objetivos do curso, disciplina preestabelecido e admitido como válido pela comunidade
ou atividade da qual estão participando. A avaliação é, dos educadores e especialistas dos conteúdos que estejam
neste contexto, um excelente mecanismo subsidiário da sendo trabalhados;
condução da ação. • A partir dessa qualificação, tomar uma decisão sobre as
condutas docentes e discentes a serem seguidas, tendo em
A partir dessas observações, podemos dizer que a prática vista: - a reorientação imediata da aprendizagem, caso sua
educacional brasileira opera, na quase totalidade das vezes, qualidade se mostre insatisfatória e o conteúdo, habilidade
como verificação. Por isso, tem sido incapaz de retirar do ou hábito, que esteja sendo ensinado e aprendido, seja
processo de aferição as consequências mais significativas efetivamente essencial para a formação do educando; - o
para a melhoria da qualidade e do nível de aprendizagem encaminhamento dos educandos para passos
dos educandos. Ao contrário, sob a forma de verificação, subsequentes da aprendizagem, caso se considere que,
tem-se utilizado o processo de aferição da aprendizagem qualitativamente, atingiram um nível da satisfatoriedade
de uma forma negativa, à medida que tem servido para no que estava sendo trabalhado.
desenvolver o ciclo do medo nas crianças e jovens, através
da constante "ameaça" da reprovação. Em síntese, o atual Assim, o objetivo primeiro da aferição do aproveitamento
processo de aferir a aprendizagem escolar, sob a forma de escolar não será a aprovação ou reprovação do educando,
verificação, além de não obter as mais significativas mas o direcionamento da aprendizagem e seu consequente
consequências para a melhoria do ensino e da desenvolvimento.
aprendizagem, ainda impõe aos educandos consequências
negativas, como a de viver sob a égide do medo, através A prática da avaliação da aprendizagem, em seu sentido
da ameaça de reprovação - situação que nenhum de nós, pleno, só será possível na medida em que se estiver
efetivamente interessado na aprendizagem do educando,
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ou seja, há que se estar interessado em que o educando


aprenda aquilo que está sendo ensinado. Parece um
contrassenso essa afirmação, na medida em que podemos
pensar que quem está trabalhando nó ensino está
interessado em que os educandos aprendam.
Todavia, não é o que ocorre O sistema social não
demonstra estar tão interessado em que o educando
aprenda, a partir do momento que investe pouco na
Educação. Os dados estatísticos educacionais estão aí para
demonstrar o pequeno investimento, tanto do ponto de
vista financeiro quanto do pedagógico, na efetiva
aprendizagem do educando.

De fato, se ensinamos, os alunos não aprenderam e


estamos interessados que aprendam, há que se ensinar até
que aprendam; há que se investir na construção dos
resultados desejados. A avaliação só pode funcionar
efetivamente num trabalho educativo com estas
características. Sem esta perspectiva dinâmica de
aprendizagem para o desenvolvimento, a avaliação não
terá espaço; terá espaço, sim, a verificação, desde que ela
só dimensione o fenômeno sem encaminhar decisões.

A avaliação implica a retomada do curso de ação, se ele


não tiver sido satisfatório, ou a sua reorientação, caso
esteja se desviando. A avaliação é um diagnóstico da
qualidade dos resultados intermediários ou finais; a
verificação é uma configuração dos resultados parciais ou
finais. A primeira é dinâmica, a segunda, estática.

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INTERDISCIPLINARIDADE Nicolescu (Nicolescu, 1996) formula a frase: "A


transdisciplinaridade diz respeito ao que se encontra
A interdisciplinaridade, segundo Saviani (Saviani, 2003) é entre as disciplinas, através das disciplinas e para além
indispensável para a implantação de um processo de toda a disciplina". A esta última colocação entende-se
inteligente de construção do currículo de sala de aula – "zona do espiritual e/ou sagrado".
informal, realístico e integrado. Através da
interdisciplinaridade o conhecimento passa de algo O indivíduo do terceiro milênio está exposto a problema
setorizado para um conhecimento integrado onde as cada vez mais complexos. Estes podem estar ligados a
disciplinas científicas interagem entre si. própria complexidade do inter-relacionamento dentro da
sociedade humana ou através do grau de especialização
Bochniak (Bochniak, 1992) afirma que a atingido pelo conhecimento científico da humanidade.
interdisciplinaridade é a forma correta de se superar a
fragmentação do saber instituída no currículo formal. O fato é que o ser social deste novo milênio,
Através desta visão ocorrem interações recíprocas entre caracterizado pela era da informação, do avanço
as disciplinas. Estas geram a troca de dados, resultados, tecnológico diuturno, da capacidade de interconexão em
informações e métodos. Esta perspectiva transcende a rede e de outras propriedades que caracterizam os
justaposição das disciplinas, é na verdade um "processo paradigmas que constituem essa nova era, precisa
de coparticipação, reciprocidade, mutualidade, diálogo encontrar na escola, seu ente social para a formação, o
que caracterizam não somente as disciplinas, mas todos aparato técnico-científico-social capaz de "cunhar" para
os envolvidos no processo educativo"(idem). a sua participação social.

Diante de paradigmas tão dispares quanto os que são


vivenciados hoje pela humanidade, a necessidade de se
repensar o processo de ensino- aprendizagem atual se
faz necessário.

Intercâmbio mútuo e interação de diversos


conhecimentos de forma recíproca e coordenada;
perspectiva metodológica comum a todos; integrar os
resultados; permanecem os interesses próprios de cada
disciplina, porém, buscam soluções dos seus próprios
problemas através da articulação com as outras
disciplinas. Etapa superior a interdisciplinaridade; não atinge
apenas as interações ou reciprocidades, mas situa essas
relações no interior de um sistema total; interação
TRANSDISCIPLINARIDADE global das várias ciências; inovador; não é possível
A transdisciplinaridade foi primeiramente proposta por separar as matérias.
Piaget em 1970 (PIAGET, 1970) há muitos anos,
contudo, só recentemente é que esta proposta tem sido
analisada e pontualmente estudada para implementação
como processo de ensino/aprendizado.
Para a transdisciplinaridade as fronteiras das disciplinas
são praticamente inexistentes. Há uma sobreposição tal
que é impossível identificar onde um começa e onde ela
termina.
"à transdisciplinaridade como uma forma de ser, saber e
abordar, atravessando as fronteiras epistemológicas de
cada ciência, praticando o diálogo dos saberes sem perder
de vista a diversidade e a preservação da vida no
planeta, construindo um texto contextualizado e
personalizado de leitura de fenômenos". (Theofilo,2000).

A importância deste novo método de análise das


problemáticas sob a ótica da transdisciplinaridade pode
ser constatada através da recomendação instituída pela
UNESCO em sua conferência mundial para o ensino
Superior (UNESCO, 1998).

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EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO diversidade humana e cultural. No entanto, a inclusão tem


INCLUSIVA encontrado imensa dificuldade de avançar, especialmente
devido as resistências por parte das escolas regulares, em
A Educação Especial é o ramo da Educação que se se adaptarem de modo a conseguirem integrar todos os
ocupa do atendimento e da educação de pessoas com alunos.
deficiência, preferencialmente em escolas regulares, ou em Iniciou-se nos anos de 1980, época marcada pela ampla
ambientes especializados tais como escolas para surdos, discussão acerca dos direitos da pessoa humana. A
escolas para cegos ou escolas para atender pessoas com educação inclusiva passa a integrar o projeto político-
deficiência intelectual. Dependendo do país, a educação pedagógico da escola regular, promovendo o atendimento
especial é feita fora do sistema regular de ensino. Nessa às necessidades educacionais especiais de alunos com
abordagem, as demais necessidades educativas especiais deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas
que não se classificam como deficiência não estão habilidades e/ou superdotação. A educação inclusiva é um
incluídas. Não é o caso do Brasil, que tem uma Política processo em que se amplia a participação de todos os
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-
Educação Inclusiva (2008) e que inclui outros tipos de se de uma reestruturação da cultura, da prática e das
alunos, além dos que apresentam deficiências. políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas
respondam à diversidade de alunos.
A educação especial é uma educação organizada para
atender especifica e exclusivamente alunos com É uma abordagem humanística, democrática, que percebe
determinadas necessidades especiais. Algumas escolas o sujeito e suas singularidades, tendo como objetivos o
dedicam-se apenas a um tipo de necessidade, enquanto crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de
outras se dedicam a vários. O ensino especial tem sido todos Fundamentos Legais e Papel do Professor.
alvo de críticas por não promover o convívio entre as
crianças especiais e as demais crianças. Por outro lado, a DECLARAÇÃO DE SALAMANCA
escola direcionada para a educação especial conta com Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve
materiais, equipamentos e professores especializados. O ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível
sistema regular de ensino precisa ser adaptado e adequado de aprendizagem.
pedagogicamente transformado para atender de forma
inclusiva.
Segundo SALAMANCA cabe aos governos:
ATENDIMENTO EDUCACIONAL Atribuir a mais alta prioridade política e financeira ao
ESPECIALIZADO – AEE aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido
O Atendimento Educacional Especializado, ou AEE, é de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças,
um serviço da Educação Especial na perspectiva da independentemente de suas diferenças ou dificuldades
educação inclusiva, de caráter complementar ou individuais.
suplementar à formação dos alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas Em 1994, realizou-se a Conferência Mundial sobre
habilidades/ superdotação, considerando as suas Necessidades Educativas Especiais, na Espanha, onde se
necessidades específicas de forma a promover acesso, assinou a DECLARAÇÃO DE SALAMANCA em que
participação e interação nas atividades escolares no ensino ficaram estabelecidas as diretrizes a serem implantadas em
regular. É realizado no turno inverso ao da sala de aula relação às necessidades educativas especiais.
comum nas salas de recursos multifuncionais. O
atendimento na sala de recursos multifuncionais não é um A educação especial, que se inicia no nascimento, é uma
reforço escolar, visa desenvolver as habilidades dos alunos modalidade de educação escolar oferecida,
nas suas especificidades, sendo importante a realização de preferencialmente, na rede regular de ensino, para
um plano de desenvolvimento individual (PDI). educandos com necessidades especiais, havendo a
existência de serviços de apoio especializado, na escola
EDUCAÇÃO INCLUSIVA regular, para atender às peculiaridades da clientela de
O conceito de educação inclusiva ganhou maior educação especial quando necessário.
notoriedade a partir de 1994, com a Declaração de
Salamanca. No que diz respeito às escolas, a ideia é de que Toda criança possui características, interesses, habilidades
as crianças com necessidades educativas especiais sejam e necessidades de aprendizagem que são únicas. Os
incluídas em escolas de ensino regular e para isto todo o sistemas educacionais devem designar programas
sistema regular de ensino precisa ser revisto, de modo a educacionais a serem implementados no sentido de se
atender as demandas individuais de todos os estudantes. levar em conta a vasta diversidade de tais características e
necessidades.
O objetivo da inclusão demonstra uma evolução da
cultura ocidental, defendendo que nenhuma criança deve Àqueles com necessidades educacionais especiais devem
ser separada das outras por apresentar alguma diferença ter acesso a escola regular, que dever acomodá-los dentro
ou necessidade especial. Do ponto de vista pedagógico de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer
esta integração assume a vantagem de existir interação a tais necessidades.
entre crianças, procurando um desenvolvimento conjunto,
com igualdade de oportunidades para todos e respeito à Adotar o princípio da educação inclusiva em forma de lei

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ou de política, matriculando todas as crianças em escolas sociedade que exige saber conviver para sobreviver,
regulares, a menos que existam fortes razões para agir de necessitamos cada vez mais nos esforçar para garantir a
outra forma. inclusão deles, desde os primeiros anos de idade, em todos
os espaços sociais, e a escola não está à parte desse
Segundo SALAMANCA cabe aos governos: Desenvolver espaço.
projetos de demonstração e encorajar intercâmbios com É fato que ao longo da vida, em nossas tantas lutas
países que possuam experiências de escolarização adaptativas, encontramos pessoas que nos facultam apoio
inclusiva. Estabelecer mecanismos participativos e e formação, seja de caráter ou de conhecimento teórico,
descentralizados de planejamento, revisão e avaliação de para seguirmos nosso caminho. Não poderia ser diferente
provisão educacional para crianças e adultos com na educação formal. Assim, é que no âmbito escolar – em
necessidades educacionais especiais. sala de aula, no pátio, no refeitório, enfim, em cada parte -
o professor tem papel decisivo e de imensa
Segundo SALAMANCA cabe aos governos: Encorajar e responsabilidade nesse processo.
facilitar a participação de pais, comunidades e
organizações de pessoas portadoras de deficiências nos Não basta que haja numa escola a proposta de inclusão,
processos de planejamento e tomada de decisão não basta que a arquitetura esteja adequada. É claro que
concernentes à provisão de serviços para necessidades estes são fatores favoráveis, mas não fundamentais. É
educacionais especiais. Investir maiores esforços em preciso que o coração esteja aberto para socializar-se e
estratégias de identificação e intervenção precoces, bem permitir-se interagir. E, como quem semeia com o tesouro
como nos aspectos vocacionais da educação inclusiva. do conhecimento, que refaz e constrói, é o professor que
alavancará os recursos insubstituíveis para uma educação
Garantir que no contexto de uma mudança sistêmica, inclusiva de qualidade.
programas de treinamento de professores tanto em
serviço como durante a formação, incluam a provisão de Para isso, portanto, seu coração também precisa estar
educação especial dentro das escolas inclusivas. Escolas aberto. Ele igualmente terá que acreditar e se ver em
Inclusivas processo de inclusão permanente, terá que criar e recriar
Com o movimento pela Inclusão, começaram a surgir as oportunidades de convivência, provocar desafios de
Escolas Inclusivas, como uma terceira espécie, interação e aproximação, estabelecer contatos com os
caracterizando-se por receberem, simultaneamente, na diversos e distintos saberes, planejando de forma flexível,
mesma sala de aula, pessoas com e sem necessidades mas objetiva, entendendo que a comunhão, a busca do
educacionais especiais. semelhante e o reconhecimento de que ninguém detém
um saber, favorecem a troca, a parceria e a segurança de
O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO uma inclusão com qualidade.
INCLUSIVA
Comete grande equívoco quem pensa que o ato de incluir- Se o professor acreditar que incluir é destruir barreiras e
se, o esforço de socializar-se, está restrito aos alunos que ultrapassar as fronteiras é viabilizar a troca no
público-alvo da educação especial. Avaliando todo o processo de construção do saber e do sentir, ele exercerá
nosso processo de vida, desde o ventre materno à velhice, seu papel, fundamental, para assegurar a educação
todos nós estamos em constante movimento de inclusão. inclusiva que todos nós desejamos, semeando assim um
Quando rompemos a vida intrauterina e despertamos no futuro que sugerirá menos discriminação e mais
nascimento, passamos imediatamente a ser incluídos. No comunhão de esforços na proposta de integrar e incluir.
primeiro momento, em nosso núcleo familiar. Aos
poucos, todos ao redor terão que se adaptar à chegada de I. APRESENTAÇÃO
mais um, que, diga-se de passagem, muda toda uma rotina. O movimento mundial pela inclusão é uma ação
Depois, temos que lutar para que sejamos incluídos nos política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em
grupos com os quais desejamos interagir. defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos,
aprendendo e participando, sem nenhum tipo de
Ainda existem as inclusões relativas a cada indivíduo, discriminação. A educação inclusiva constitui um
aquelas que vão acontecendo paralelamente a todas as já paradigma educacional fundamentado na concepção de
citadas. Incluir-nos no paradigma de beleza construído direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença
pala sociedade, nos padrões da moda de cada estação… É como valores indissociáveis, e que avança em relação à
o “feio” que precisa ser incluído no universo dos ideia de equidade formal ao contextualizar as
“bonitos”, o idoso que precisa incluir-se numa sociedade circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro
que demonstra que, cada vez mais, não está preparada e fora da escola.
para abraçar seus “velhos”, o analfabeto que precisa
incluir-se numa sociedade de signos, nem sempre fáceis de Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos
serem decifrados… sistemas de ensino evidenciam a necessidade de
confrontar as práticas discriminatórias e criar
INCLUSÃO, INCLUSÃO, INCLUSÃO… alternativas para superá-las, a educação inclusiva assume
É de inclusão que se vive a vida. Para Paulo Freire, é espaço central no debate acerca da sociedade
assim que os homens aprendem, em comunhão. “O contemporânea e do papel da escola na superação da
homem se define pela capacidade e qualidade das trocas lógica da exclusão. A partir dos referenciais para a
que estabelece” e isso não seria diferente com os construção de sistemas educacionais inclusivos, a
portadores de necessidades especiais. Inseridos numa organização de escolas e classes especiais passa a ser
repensada, implicando uma mudança estrutural e
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cultural da escola para que todos os alunos tenham suas


especificidades atendidas. Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com
deficiência passa ser fundamentado pelas disposições da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº.
4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à
Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria educação, preferencialmente dentro do sistema geral de
de Educação Especial apresenta a Política Nacional de ensino.
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que A Lei nº. 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao
acompanha os avanços do conhecimento e das lutas definir ‘tratamento especial’ para os alunos com
sociais, visando constituir políticas públicas promotoras “deficiências físicas, mentais, os que se encontrem em
de uma educação de qualidade para todos os alunos. atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e
os superdotados”, não promove a organização de um
II. MARCOS HISTÓRICOS E NORMATIVOS sistema de ensino capaz de atender as necessidades
A escola historicamente se caracterizou pela visão da educacionais especiais e acaba reforçando o
educação que delimita a escolarização como privilégio encaminhamento dos alunos para as classes e escolas
de um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas especiais.
políticas e práticas educacionais reprodutoras da ordem
social. A partir do processo de democratização da Em 1973, é criado no MEC, o Centro Nacional de
educação se evidencia o paradoxo inclusão/exclusão, Educação Especial – CENESP, responsável pela
quando os sistemas de ensino universalizam o acesso, gerência da educação especial no Brasil, que, sob a égide
mas continuam excluindo indivíduos e grupos integracionista, impulsionou ações educacionais voltadas
considerados fora dos padrões homogeneizadores da às pessoas com deficiência e às pessoas com
escola. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem superdotação; ainda configuradas por campanhas
apresentado características comuns nos processos de assistenciais e ações isoladas do Estado.
segregação e integração que pressupõem a seleção,
naturalizando o fracasso escolar. Nesse período, não se efetiva uma política pública de
acesso universal à educação, permanecendo a concepção
A partir da visão dos direitos humanos e do conceito de de ‘políticas especiais’ para tratar da temática da
cidadania fundamentado no reconhecimento das educação de alunos com deficiência e, no que se refere
diferenças e na participação dos sujeitos, decorre uma aos alunos com superdotação, apesar do acesso ao
identificação dos mecanismos e processos de ensino regular, não é organizado um atendimento
hierarquização que operam na regulação e produção das especializado que considere as singularidades de
desigualdades. Essa problematização explicita os aprendizagem desses alunos.
processos normativos de distinção dos alunos em razão
de características intelectuais, físicas, culturais, sociais e A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus
linguísticas, entre outras, estruturantes do modelo objetivos fundamentais, “promover o bem de todos,
tradicional de educação escolar. sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º inciso
A educação especial se organizou tradicionalmente IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito
como atendimento educacional especializado de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da
substitutivo ao ensino comum, evidenciando diferentes pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o
compreensões, terminologias e modalidades que levaram trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a
a criação de instituições especializadas, escolas especiais “igualdade de condições de acesso e permanência na
e classes especiais. Essa organização, fundamentada no escola” , como um dos princípios para o ensino e,
conceito de normalidade/anormalidade, determina garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento
formas de atendimento clínico terapêuticos fortemente educacional especializado, preferencialmente na rede
ancorados nos testes psicométricos que definem, por regular de ensino (art. 208).
meio de diagnósticos, as práticas escolares para os O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº.
alunos com deficiência. 8.069/90, artigo 55, reforça os dispositivos legais
supracitados, ao determinar que "os pais ou
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência
responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos
teve início na época do Império com a criação de duas
ou pupilos na rede regular de ensino”. Também, nessa
instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em
década, documentos como a Declaração Mundial de
1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o
Educação para Todos (1990) e a Declaração de
Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, atual Instituto
Salamanca (1994), passam a influenciar a formulação das
Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no
políticas públicas da educação inclusiva.
Rio de Janeiro. No início do século XX é fundado o
Instituto Pestalozzi - 1926, instituição especializada no Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação
atendimento às pessoas com deficiência mental; em Especial, orientando o processo de ‘integração
1954 é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos instrucional’ que condiciona o acesso às classes comuns
dos Excepcionais – APAE e; em 1945, é criado o do ensino regular àqueles que "(...) possuem condições
primeiro atendimento educacional especializado às de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares
pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que
Helena Antipoff.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

os alunos ditos normais”. (p.19). Ao reafirmar os


pressupostos construídos a partir de padrões A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no
homogêneos de participação e aprendizagem, a Política Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as
não provoca uma reformulação das práticas pessoas com deficiência têm os mesmos direitos
educacionais de maneira que sejam valorizados os humanos e liberdades fundamentais que as demais
diferentes potenciais de aprendizagem no ensino pessoas, definindo como discriminação com base na
comum, mantendo a responsabilidade da educação deficiência, toda diferenciação ou exclusão que possa
desses alunos exclusivamente no âmbito da educação impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de
especial. suas liberdades fundamentais. Esse Decreto tem
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional importante repercussão na educação, exigindo uma
- Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os reinterpretação da educação especial, compreendida no
sistemas de ensino devem assegurar aos alunos contexto da diferenciação adotada para promover a
currículo, métodos, recursos e organização específicos eliminação das barreiras que impedem o acesso à
para atender às suas necessidades; assegura a escolarização.
terminalidade específica àqueles que não atingiram o
nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução
em virtude de suas deficiências e; a aceleração de CNE/CP nº1/2002, que estabelece as Diretrizes
estudos aos superdotados para conclusão do programa Curriculares Nacionais para a Formação de Professores
escolar. Também define, dentre as normas para a da Educação Básica, define que as instituições de ensino
organização da educação básica, a “possibilidade de superior devem prever em sua organização curricular
avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do formação docente voltada para a atenção à diversidade e
aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades que contemple conhecimentos sobre as especificidades
educacionais apropriadas, consideradas as características dos alunos com necessidades educacionais especiais.
do alunado, seus interesses, condições de vida e de
trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de
Sinais como meio legal de comunicação e expressão,
Em 1999, o Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº determinando que sejam garantidas formas
7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a como a inclusão da disciplina de Libras como parte
educação especial como uma modalidade transversal a integrante do currículo nos cursos de formação de
todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a professores e de fonoaudiologia.
atuação complementar da educação especial ao ensino
regular. A Portaria nº 2.678/02 aprova diretriz e normas para o
uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille
Acompanhando o processo de mudanças, as Diretrizes em todas as modalidades de ensino, compreendendo o
Nacionais para a Educação Especial na Educação projeto da Grafia Braile para a Língua Portuguesa e a
Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, recomendação para o seu uso em todo o território
determinam que: nacional.
Os sistemas de ensino devem matricular todos os
alunos, cabendo às escolas organizar-se para o Em 2003, o Ministério da Educação cria o Programa
atendimento aos educandos com necessidades Educação Inclusiva: direito à diversidade, visando
educacionais especiais, assegurando as condições transformar os sistemas de ensino em sistemas
necessárias para uma educação de qualidade para todos. educacionais inclusivos, que promove um amplo
(MEC/SEESP, 2001). processo de formação de gestores e educadores nos
municípios brasileiros para a garantia do direito de
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial acesso de todos à escolarização, a organização do
para realizar o atendimento educacional especializado atendimento educacional especializado e a promoção da
complementar ou suplementar a escolarização, porém, acessibilidade.
ao admitir a possibilidade de substituir o ensino regular,
não potencializa a adoção de uma política de educação Em 2004, o Ministério Público Federal divulga o
inclusiva na rede pública de ensino prevista no seu artigo documento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e
2º. Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de
disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a
O Plano Nacional de Educação - PNE, Lei nº inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da
10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a escolarização de alunos com e sem deficiência nas
década da educação deveria produzir seria a construção turmas comuns do ensino regular.
de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à
diversidade humana”. Ao estabelecer objetivos e metas Impulsionando a inclusão educacional e social, o
para que os sistemas de ensino favoreçam o Decreto nº 5.296/04 regulamentou as leis nº 10.048/00
atendimento às necessidades educacionais especiais dos e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a
alunos, aponta um déficit referente à oferta de promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência
matrículas para alunos com deficiência nas classes ou com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o
comuns do ensino regular, à formação docente, à Programa Brasil Acessível é implementado com o
acessibilidade física e ao atendimento educacional objetivo de promover e apoiar o desenvolvimento de
especializado. ações que garantam a acessibilidade.
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sistêmica da educação que busca superar a oposição


O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº entre educação regular e educação especial.
10.436/2002, visando a inclusão dos alunos surdos, Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade
dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina da educação especial nos diferentes níveis, etapas e
curricular, a formação e a certificação de professor, modalidades de ensino, a educação não se estruturou na
instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da perspectiva da inclusão e do atendimento às
Língua Portuguesa como segunda língua para alunos necessidades educacionais especiais, limitando, o
surdos e a organização da educação bilíngüe no ensino cumprimento do princípio constitucional que prevê a
regular. igualdade de condições para o acesso e permanência na
Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividade escola e a continuidade nos níveis mais elevados de
das Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em ensino (2007, p. 09).
todos os estados e no Distrito Federal, são formados O Decreto nº 6.094/2007 estabelece dentre as diretrizes
centros de referência para o atendimento educacional do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do
especializado aos alunos com altas acesso e permanência no ensino regular e o atendimento
habilidades/superdotação, a orientação às famílias e a às necessidades educacionais especiais dos alunos,
formação continuada aos professores. Nacionalmente, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas.
são disseminados referenciais e orientações para
organização da política de educação inclusiva nesta área, III. DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
de forma a garantir esse atendimento aos alunos da rede O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente
pública de ensino. em todas as escolas de educação básica, acompanha, na
educação especial, indicadores de acesso à educação
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com básica, matrícula na rede pública, inclusão nas classes
Deficiência, aprovada pela ONU em 2006, da qual o comuns, oferta do atendimento educacional
Brasil é signatário, estabelece que os Estados Parte especializado, acessibilidade nos prédios escolares e o
devem assegurar um sistema de educação inclusiva em número de municípios e de escolas com matrícula de
todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem alunos com necessidades educacionais especiais.
o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a
meta de inclusão plena, adotando medidas para garantir A partir de 2004, com a atualização dos conceitos e
que: terminologias, são efetivadas mudanças no Censo
Escolar, que passa a coletar dados sobre a série ou ciclo
As pessoas com deficiência não sejam excluídas do escolar dos alunos atendidos pela educação especial,
sistema educacional geral sob alegação de deficiência e possibilitando, a partir destas informações que registram
que as crianças com deficiência não sejam excluídas do a progressão escolar, criar novos indicadores acerca da
ensino fundamental gratuito e compulsório, sob qualidade da educação.
alegação de deficiência;
Os dados do Censo Escolar/2006, na educação especial,
As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino registram a evolução de 337.326 matrículas em 1998
fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em para 700.624 em 2006, expressando um crescimento de
igualdade de condições com as demais pessoas na 107%. No que se refere à inclusão em classes comuns
comunidade em que vivem (Art.24). do ensino regular, o crescimento é de 640%, passando
de 43.923 alunos incluídos em 1998, para 325.316 alunos
Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o incluídos em 2006, conforme demonstra o gráfico a
Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a seguir:
UNESCO lançam o Plano Nacional de Educação em
Direitos Humanos que objetiva, dentre as suas ações,
fomentar, no currículo da educação básica, as temáticas
relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações
afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e
permanência na educação superior.

Em 2007, no contexto com o Plano de Aceleração do


Crescimento - PAC, é lançado o Plano de
Desenvolvimento da Educação – PDE, reafirmado pela
Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência,
tendo como eixos a acessibilidade arquitetônica dos
prédios escolares, a implantação de salas de recursos e a Quanto à distribuição das matrículas nas esferas pública
formação docente para o atendimento educacional e privada, em 1998, registra-se 157.962 (46,8%) alunos
especializado. com necessidades educacionais especiais nas escolas
privadas, principalmente em instituições especializadas
No documento Plano de Desenvolvimento da filantrópicas. Com o desenvolvimento de políticas de
Educação: razões, princípios e programas, publicado educação inclusiva, evidencia-se um crescimento de
pelo Ministério da Educação, é reafirmada a visão 146% das matrículas nas escolas públicas, que passaram
de 179.364 (53,2%) em 1998, para 441.155 (63%) em

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

2006, conforme demonstra o gráfico a seguir: fundamental; 51% possuíam ensino médio e 45,7%
ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professores que
atuam na educação especial, 0,62% registraram somente
ensino fundamental, 24% registraram ensino médio e
75,2% ensino superior. Nesse mesmo ano, 77,8% destes
professores, declararam ter curso específico nessa área
de conhecimento.

IV. OBJETIVO DA POLÍTICA NACIONAL DE


EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA
Com relação à distribuição das matrículas por etapa e
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
nível de ensino, em 2006: 112.988 (16%) são na
A Política Nacional de Educação Especial na
educação infantil, 466.155 (66,5%) no ensino
Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo
fundamental, 14.150 (2%) no ensino médio, 58.420
assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência,
(8,3%) na educação de jovens e adultos, 46.949 (6,7%)
transtornos globais do desenvolvimento e altas
na educação profissional (básico) e 1.962 (0,28%) na
habilidades/superdotação, orientando os sistemas de
educação profissional (técnico).
ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com
participação, aprendizagem e continuidade nos níveis
No âmbito da educação infantil, as matrículas
mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade
concentram-se nas escolas/classes especiais que
de educação especial desde a educação infantil até a
registram 89.083 alunos, enquanto apenas 24.005 estão
educação superior; oferta do atendimento educacional
matriculados em turmas comuns, contrariando os
especializado; formação de professores para o
estudos nesta área que afirmam os benefícios da
atendimento educacional especializado e demais
convivência e aprendizagem entre crianças com e sem
profissionais da educação para a inclusão; participação
deficiência desde os primeiros anos de vida para o seu
da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica,
desenvolvimento.
nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e
informação; e articulação intersetorial na implementação
O Censo das matrículas de alunos com necessidades
das políticas públicas.
educacionais especiais na educação superior registra que,
entre 2003 e 2005, o número de alunos passou de 5.078
V. ALUNOS ATENDIDOS PELA EDUCAÇÃO
para 11.999 alunos. Este indicador, apesar do
ESPECIAL
crescimento de 136% das matrículas, reflete a exclusão
Por muito tempo perdurou o entendimento de que a
educacional e social, principalmente das pessoas com
educação especial organizada de forma paralela à
deficiência, salientando a necessidade de promover a
educação comum seria mais apropriada para a
inclusão e o fortalecimento das políticas de
aprendizagem dos alunos que apresentavam deficiência,
acessibilidade nas instituições de educação superior.
problemas de saúde, ou qualquer inadequação com
relação à estrutura organizada pelos sistemas de ensino.
A evolução das ações da educação especial nos últimos
Essa concepção exerceu impacto duradouro na história
anos se expressa no crescimento do número de
da educação especial, resultando em práticas que
municípios com matrículas, que em 1998 registra 2.738
enfatizavam os aspectos relacionados à deficiência, em
municípios (49,7%) e, em 2006 alcança 4.953 municípios
contraposição à dimensão pedagógica.
(89%), um crescimento de 81%. Essa evolução também
revela o aumento do número de escolas com matrícula,
O desenvolvimento de estudos no campo da educação e
que em 1998 registra apenas 6.557 escolas e chega a
a defesa dos direitos humanos vêm modificando os
54.412 escolas em 2006, representando um crescimento
conceitos, as legislações e as práticas pedagógicas e de
de 730%. Destas escolas com matrícula em 2006, 2.724
gestão, promovendo a reestruturação do ensino regular
são escolas especiais, 4.325 são escolas comuns com
e especial. Em 1994, com a Declaração de Salamanca se
classe especial e 50.259 são escolas comuns com
estabelece como princípio que as escolas do ensino
inclusão nas turmas de ensino regular.
regular devem educar todos os alunos, enfrentando a
situação de exclusão escolar das crianças com
O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios
deficiência, das que vivem nas ruas ou que trabalham,
escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557
das superdotadas, em desvantagem social e das que
estabelecimentos de ensino com matrícula de alunos
apresentam diferenças linguísticas, étnicas ou culturais.
com necessidades educacionais especiais possuíam
sanitários com acessibilidade. Em 2006, das 54.412
O conceito de necessidades educacionais especiais, que
escolas com matrículas de alunos atendidos pela passa a ser amplamente disseminado, a partir dessa
educação especial, 23,3% possuíam sanitários com Declaração, ressalta a interação das características
acessibilidade e 16,3% registraram ter dependências e individuais dos alunos com o ambiente educacional e social,
vias adequadas (indicador não coletado em 1998). chamando a atenção do ensino regular para o desafio de
atender as diferenças. No entanto, mesmo com essa
Em relação à formação dos professores com atuação na perspectiva conceitual transformadora, as políticas
educação especial, em 1998, 3,2% possuíam ensino educacionais implementadas não alcançaram o objetivo de

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

levar a escola comum a assumir o desafio de atender as


necessidades educacionais de todos os alunos. O atendimento educacional especializado disponibiliza
programas de enriquecimento curricular, o ensino de
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial linguagens e códigos específicos de comunicação e
passa a constituir a proposta pedagógica da escola, sinalização, ajudas técnicas e tecnologia assistiva, dentre
definindo como seu público-alvo os alunos com outros. Ao longo de todo processo de escolarização,
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas esse atendimento deve estar articulado com a proposta
habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que pedagógica do ensino comum.
implicam em transtornos funcionais específicos, a educação
especial atua de forma articulada com o ensino comum,
A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde
orientando para o atendimento às necessidades
se desenvolvem as bases necessárias para a construção
educacionais especiais desses alunos.
do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa
Consideram-se alunos com deficiência àqueles que têm
etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de
impedimentos de longo prazo, de natureza física,
comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos
mental, intelectual ou sensorial, que em interação com
físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e
diversas barreiras podem ter restringida sua participação
a convivência com as diferenças favorecem as relações
plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com
interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Do
transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que
nascimento aos três anos, o atendimento educacional
apresentam alterações qualitativas das interações sociais
especializado se expressa por meio de serviços de
recíprocas e na comunicação, um repertório de
intervenção precoce que objetivam otimizar o processo
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo.
de desenvolvimento e aprendizagem em interface com
Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes
os serviços de saúde e assistência social.
do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com
altas habilidades/superdotação demonstram potencial
Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o
elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas
atendimento educacional especializado é organizado
ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança,
para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo
psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada
oferta obrigatória dos sistemas de ensino e deve ser
criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e
realizado no turno inverso ao da classe comum, na
realização de tarefas em áreas de seu interesse. Dentre os
própria escola ou centro especializado que realize esse
transtornos funcionais específicos estão: dislexia,
serviço educacional.
disortografia, disgrafia, discalculia, transtorno de atenção
e hiperatividade, entre outros.
Desse modo, na modalidade de educação de jovens e
adultos e educação profissional, as ações da educação
As definições do público alvo devem ser contextualizadas e
não se esgotam na mera categorização e especificações especial possibilitam a ampliação de oportunidades de
atribuídas a um quadro de deficiência, transtornos, escolarização, formação para a inserção no mundo do
distúrbios e aptidões. Considera-se que as pessoas se trabalho e efetiva participação social. A interface da
modificam continuamente transformando o contexto no educação especial na educação indígena, do campo e
qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação quilombola deve assegurar que os recursos, serviços e
pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, atendimento educacional especializado estejam presentes
enfatizando a importância de ambientes heterogêneos que nos projetos pedagógicos construídos com base nas
promovam a aprendizagem de todos os alunos. diferenças socioculturais desses grupos.

VI. DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE Na educação superior, a transversalidade da educação


EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA especial se efetiva por meio de ações que promovam o
EDUCAÇÃO INCLUSIVA acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas
A educação especial é uma modalidade de ensino que ações envolvem o planejamento e a organização de
perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o recursos e serviços para a promoção da acessibilidade
atendimento educacional especializado, disponibiliza os arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de
serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que
os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no
turmas comuns do ensino regular. desenvolvimento de todas as atividades que envolvem o
ensino, a pesquisa e a extensão.
O atendimento educacional especializado identifica,
elabora e organiza recursos pedagógicos e de Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas comuns, a
acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena educação bilíngue - Língua Portuguesa/LIBRAS,
participação dos alunos, considerando as suas desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na
necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como
atendimento educacional especializado diferenciam-se segunda língua na modalidade escrita para alunos
daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e
substitutivas à escolarização. Esse atendimento Língua Portuguesa e o ensino da Libras para os demais
complementa e/ou suplementa a formação dos alunos alunos da escola. O atendimento educacional
com vistas à autonomia e independência na escola e fora especializado é ofertado, tanto na modalidade oral e
dela. escrita, quanto na língua de sinais. Devido à diferença
linguística, na medida do possível, o aluno surdo deve
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

estar com outros pares surdos em turmas comuns na Jomtiem/Tailândia, 1990.


escola regular.
BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre
O atendimento educacional especializado é realizado necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO,
mediante a atuação de profissionais com conhecimentos 1994.
específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da
Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
língua, do sistema Braille, do soroban, da orientação e Educação Especial. Política Nacional de Educação
mobilidade, das atividades de vida autônoma, da Especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994.
comunicação alternativa, do desenvolvimento dos
processos mentais superiores, dos programas de BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e
enriquecimento curricular, da adequação e produção de Bases da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de
materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de dezembro de 1996.
recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e
outros. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação Educação Especial. Decreto Nº 3.298, de 20 de
especial na perspectiva da educação inclusiva, dezembro de 1999.
disponibilizar as funções de instrutor,
tradutor/intérprete de Libras e guia intérprete, bem BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
como de monitor ou cuidador aos alunos com Educação Especial. Lei Nº 10.048, de 08 de novembro
necessidade de apoio nas atividades de higiene, de 2000.
alimentação, locomoção, entre outras que exijam auxílio
constante no cotidiano escolar. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Especial. Lei Nº 10.098, de 19 de dezembro
Para atuar na educação especial, o professor deve ter como de 2000.
base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos
gerais para o exercício da docência e conhecimentos
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação
no atendimento educacional especializado e deve Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a
aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da atuação Educação Especial na Educação Básica. Secretaria de
nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, Educação Especial - MEC/SEESP, 2001.
nos centros de atendimento educacional especializado, nos
núcleos de acessibilidade das instituições de educação BRASIL. Ministério da Educação. Lei Nº 10.172, de 09
superior, nas classes hospitalares e nos ambientes de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de
domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de Educação e dá outras providências. BRASIL. Decreto
educação especial. Nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. Promulga a
Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas
Esta formação deve contemplar conhecimentos de gestão as Formas de Discriminação contra as Pessoas
de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o Portadoras de Deficiência. Guatemala: 2001.
desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas,
visando à acessibilidade arquitetônica, os atendimentos de BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
saúde, a promoção de ações de assistência social, trabalho e Educação Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de
justiça. 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS e dá outras providências.
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Educação Especial. Decreto Nº 5.296 de 02 de
Bases da Educação Nacional, LDB 4.024, de 20 de dezembro de 2004.
dezembro de 1961.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Educação Especial. Decreto Nº 5.626, de 22 de
Bases da Educação Nacional, LDB 5.692, de 11 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei Nº 10.436, de 24
agosto de 1971. de abril de 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de


Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988. Educação Especial. Direito à educação: subsídios para a
gestão dos sistemas educacionais – orientações gerais e
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de marcos legais. Brasília: MEC/SEESP, 2006.
Educação Especial. Lei Nº. 7.853, de 24 de outubro de
1989. BRASIL. IBGE. Censo Demográfico, 2000. Disponível
em: <http://www.ibge.gov.br/
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente no home/estatistica/populacao/censo2000/default.shtm>.
Brasil. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Acesso em: 20 de jan. 2007.

BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para BRASIL. INEP. Censo Escolar, 2006. Disponível em:
Todos: plano de ação para satisfazer as necessidades <http://
básicas de aprendizagem. UNESCO, http://www.inep.gov.br/basica/censo/default.asp >.
nuceconcursos.com.br 43
Parte integrante da apostila do NUCE. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Acesso em: 20 de jan. 2007.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS.


Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, 2006.
BRASIL. Ministério da Educação. Plano de
Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e
programas. Brasília: MEC, 2007.

44 nuceconcursos.com.br
Parte integrante da apostila do NUCE. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL “A Educação Ambiental, apoiada em uma teoria crítica


que exponha com vigor as contradições que estão na raiz
"Entendem-se por educação ambiental os processos por do modo de produção capitalista, deve incentivar a
meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem participação social na forma de uma ação política. Como
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e tal, ela deve ser aberta ao diálogo e ao embate, visando à
competências voltadas para a con- servação do meio explicitação das contra- dições teórico-práticas subjacentes
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia a projetos societários que estão permanentemente em
qualidade de vida e sua sustentabilidade." disputa.”

Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº “A EA deve se configurar como uma luta política,
9795/1999, Art 1º. compreendida em seu nível mais poderoso de trans-
formação: aquela que se revela em uma disputa de
“A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é posições e proposições sobre o destino das socie- dades,
atividade intencional da prática social, que deve imprimir dos territórios e das desterritorializações; que acredita que
ao desenvolvimento individual um caráter social em sua mais do que conhecimento técnico- científico, o saber
relação com a natureza e com os outros seres humanos, popular igualmente consegue proporcionar caminhos de
visando potencializar essa atividade humana com a participação para a susten- tabilidade através da transição
finalidade de torná-la plena de prática social e de ética democrática”.
ambiental.”
“Um processo educativo eminentemente político, que visa
“A educação ambiental é a ação educativa permanente pela ao desenvolvimento nos educandos de uma consciência
qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência crítica acerca das instituições, atores e fatores sociais
de sua realidade global, do tipo de relações que os homens geradores de riscos e respectivos conflitos
estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas socioambientais. Busca uma estratégia pedagógica do
derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela enfrentamento de tais conflitos a partir de meios coletivos
desenvolve, me- diante uma prática que vincula o de exercício da cidadania, pautados na criação de
educando com a comunidade, valores e atitudes que demandas por políticas públicas participativas conforme
promovem um comportamento dirigido a transformação requer a gestão ambiental democrática.”
superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos
naturais como sociais, desenvolvendo no educando as "Educação ambiental é uma perspectiva que se inscreve e
habilidades e atitudes necessárias para dita transforma- se dinamiza na própria educação, formada nas relações
ção.” estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e
do ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza”
“A educação ambiental é um processo de reconhecimento categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a
de valores e clarificações de conceitos, ob- jetivando o adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida
desenvolvimento das habilidades e modificando as que serve para destacar dimensões “esquecidas” historica-
atitudes em relação ao meio, para en- tender e apreciar as mente pelo fazer educativo, no que se refere ao
inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou
meios biofísicos. A educação ambiental também está denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do
relacionada com a prática das tomadas de decisões e a paradigma analítico-linear, não-dialético, que separa:
ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida” atividade econômica, ou outra, da totalidade social;
sociedade e natureza; mente e corpo; ma- téria e espírito,
“A Educação Ambiental deve proporcionar as condições razão e emoção etc."
para o desenvolvimento das capacidades ne-cessárias; para
que grupos sociais, em diferentes contextos "Processo em que se busca despertar a preocupação
socioambientais do país, intervenham, demodo qualificado individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo
tanto na gestão do uso dos recursos ambientais quanto na o acesso à informação em linguagem adequada,
concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência
do ambiente, seja físico-natural ou construído, ou seja, crítica e estimulando o enfrentamento das questões
educação ambiental como instrumento de participação e ambientais e sociais. Desenvolve- se num contexto de
controle social na gestão ambiental pública.” complexidade, procurando trabalhar não apenas a
mudança cultural, mas também a transformação social,
“A Educação Ambiental nasce como um processo assumindo a crise ambiental como uma questão ética e
educativo que conduz a um saber ambiental materi-alizado política."
nos valore séticos e nas regras políticas de convívio social e
de mercado, que implica a questão distributiva entre O modelo econômico capitalista proporcionou um
benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da acelerado processo de industrialização, intensifi- cando a
natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a produção e o consumo. Esse fato desencadeou grandes
cidadania ativa considerando seu sentido de problemas de ordem ambiental, em razão da intensa
pertencimento e co-responsabilidade que, por meio da exploração dos recursos naturais e as diversificadas formas
ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a de poluição. Diante disso,uma mudança de atitude se torna
superação das causas estru- turais e conjunturais dos necessária. A Educação Ambiental surge com o propósito
problemas ambientais.” de des- pertar a consciência da população global sobre os
problemas ambientais consequentes das atividades
humanas.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Conforme definido no Congresso de Belgrado, no ano de consciência ambiental e tenham atitudes responsáveis em
1975, a Educação Ambiental é um processo que visa relação ao meio ambiente.
“formar uma população mundial consciente e preocupada EDUCAÇÃO AMBIENTAL E
com o ambiente e com os problemas que lhe dizem DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as A educação ambiental está intimamente relacionada com o
competências, o estado de espírito, as motivações e o desenvolvimento sustentável, porque tem como finalidade
sentido de participação e engajamento que lhe permita primordial encontrar uma forma de desenvolvimento que
trabalhar individual- mente e coletivamente para resolver atenda às necessidades do presente sem comprometer as
os problemas atuais e impedir que se repitam”. próximas gerações de suprir suas próprias necessidades.

A Educação Ambiental é uma vertente da educação A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL


direcionada aos assuntos relacionados à interação homem- No Brasil, a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, sobre
ambiente, despertando uma consciência crítica sobre os educação ambiental, decretada pelo Congresso Nacional e
problemas ambientais. Trabalha o lado racional juntamente sancionada pela presidência da República, dispõe no artigo
com o sensível e de valores, promovendo o desenvolvimento 1º: Entendem por educação ambiental os processos por
de novos valores e ações de respeito e proteção ao Meio meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
Ambiente. valores sociais, conhecimento, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
Não se restringe apenas na abordagem de temas como:
uso comum do povo, essencial à sua qualidade de vida e
preservação ambiental, lixo, poluição, proteção dos animais,
sua sustentabilidade.
etc. Assume um caráter mais complexo e realista,
considerando o ambiente em sua tota- lidade, analisando os
aspectos naturais, artificiais, políticos, econômicos, históricos A Lei dispõe, no artigo 2º: A educação ambiental é um
e culturais. Objeti- vando sempre um possível equilíbrio entre componente essencial e permanente da educação nacional,
o homem e o ambiente, na constante busca pelo progresso e devendo estar presente, de forma articulada, em todos os
desenvolvimento. níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não formal.
A BUSCA PELO EQUILÍBRIO HOMEM-MEIO
A Educação Ambiental é uma ferramenta de fundamental A educação ambiental nasceu com o objetivo de gerar
importância na busca pelo desenvolvimento sustentável, uma consciência ecológica em cada ser humano,
pois ela proporciona um amplo processo de preocupada com o ensejar a oportunidade de um
alfabetização e conscientização ecológica. conhecimento que permitisse mudar o comportamento
volvido à proteção da natureza.
Busca constantemente a mudança de atitudes do homem,
onde esse deve ter plena consciência que é parte integrante O desenvolvimento sustentável deve estar, também, aliada
do meio, agindo de forma racional, contribuindo para a à educação ambiental, a família e a escola devem ser os
preservação do Meio Ambiente. iniciadores da educação para preservar o ambiente natural.
A criança, desde cedo, deve aprender cuidar da natureza,
O Que É Educação Ambiental: no seio familiar e na escola é que se deve iniciar a
conscientização do cuidado com o meio ambiente.
Educação ambiental é todo o processo empregado para Para melhorar a qualidade ambiental diz Frers (2000):
preservar o patrimônio ambiental e criar modelos de ¨Dar a conhecer a um público cada vez mais amplo as
desenvolvimento, com soluções limpas e sustentáveis. causas principais do problema e conseguir nele a
compreensão e conscientização sobre isso, conhecer,
Esta é uma área essencial na sociedade, pois desperta nos compreender, tomar consciência e atuar, essa deve ser a
indivíduos o cuidado com a prática de atividades que dinâmica e final- mente, formar uma Associação não
possam causar impacto ambiental, entre elas, a poluição governamental que congrega a todos os participantes
do ar, dos rios, a degra- dação do solo, a pesca predatória, ativos no processo, com o objetivo de organizar
o desmatamento, a produção de energia com o uso de professores e estudantes do sistema educativo nacional
com- bustíveis poluentes, o destino do lixo etc. desde os níveis elementares até os pós-graduados, a todos
as associações civis não governa- mentais e em fim a toda
A educação ambiental é uma ação que hoje já está pessoa que responsável e organizadamente, baseada em
presente em todas as nações, que buscam o sua própria experiência ou em dos demais, deseja atuar
desenvolvimento tecnológico sem exaurir os recursos para oferecer um projeto alternativo e fundamentado que
naturais do planeta. possa dar aos governos de mecanismos de ação cuja
proposta seja da sociedade civil organizada¨.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS
A preservação do meio ambiente depende muito da forma OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
de atuação das gerações presentes e futuras, e o que estão A escassez de água em São Paulo, a enchente histórica no
dispostas a fazer para diminuir o impacto ambiental das Acre, o desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica, a
suas ações. extinção de espécies. Basta um rápido olhar pelo noticiário
Por esse motivo, a educação ambiental é de extrema para constatar a magnitude dos problemas ambientais que
importância e deve ser abordada nas escolas, para que o mundo e o Brasil, mais especificamente, enfrentamcomo
todos os membros da sociedade desenvolvam uma consequência do uso ilimitado e irresponsável dos

46 nuceconcursos.com.br
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

recursos naturais.

Se hoje a necessidade de preservar o meio ambiente é pauta


da agenda internacional e discussão unânime dentro da
sociedade, trata-se do fruto de um movimento de
conscientização e de imple mentações de políticas públicas
relativamente recente. Foi somente a partir de 1972, ano
da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente, realizada em Estocolmo, Suécia, que os países
começaram a criar órgãos ambientais e leis para
regulamentar a intervenção humana sobre a natureza.

O tema ainda demoraria mais algumas décadas para chegar


às salas de aula. No Brasil, a instituição da Política
Nacional de Educação Ambiental data de 1999. Com a lei,
o meio ambiente passou a ser um tema transversal
obrigatório dos currículos escolares, pensado para ser
abordado de forma interdisciplinar e contínua.

Entretanto, apesar de difundida, a Educação Ambiental


ainda enfrenta desafios. Os principais deles referentes à
qualificação dos professores que, muitas vezes, não
recebem treinamento adequado para abordar o tema em
suas disciplinas, além da própria ausência de um projeto
pedagógico consolidado para dar conta da tarefa.
Apesar do Ministério da Educação promover cursos à
distância sobre o tema, o direcionamento dado à questão
fica quase sempre a critério dos interesses e do empenho
das instituições e dos próprios professores.

Na maioria dos casos, o assunto fica a cargo dos docentes


de Ciências pela compatibilidade com o tema ou limitado a
projetos esporádicos realizados ao longo do ano.

“Embora a gente tenha um conjunto grande de pesquisas


sobre Educação Ambiental, pouco disso está sistematizado
de forma a compor um panorama do que, de fato, se
passa nas escolas”, diz Luiz Marcelo de Carvalho,
professor do Instituto de Biociências da Unesp de Rio
Claro e coordenador do grupo de pesquisas Temática
Ambiental em Processo Educativo.

Este quadro, segundo o professor, é bastante diverso. Há


desde ações mais pontuais, determina- das por alguma data
comemorativa como Dia Mundial do Meio Ambiente, até
escolas que arriscam uma disciplina na grade curricular.
“Agora, uma perspectiva que me parece mais concreta,
eficiente, é o desenvolvimento do tema por meio de
projetos, o que é interessante porque permite uma
multiplicidade de experiências e vivências a partir de
diferentes áreas curriculares que dá uma compreensão
muito mais ampla da questão”, coloca.

Para Elza Neffa, professora da Faculdade de Educação e


coordenadora do Núcleo de Referência em Educação
Ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
o maior problema enfrentado pelos educadores refere-se à
dificuldade de entender esta interdisciplinaridade e de
aplicá-la no cotidiano da sala de aula. “O campo ambiental
é um objeto transdisciplinar e, como tal, apresenta temas e
problemas que se expressam em distintas esferas de
interação, em múltiplos níveis de realidade. Nesse sentido,
entendemos que uma disciplina isolada não dá conta de
explicar a complexidade da realidade socioambiental”,
aponta.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL


DO PROFESSOR

SUGESTÕES PARA TAREFA DE ESTUDO

Perguntas para trabalho independente dos alunos

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

DIDÁTICA E PRATICA HISTORICO CULTURAL

PRÁTICA EDUCACIONAL E SOCIEDADE

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO ESCOLAR, PEDAGOGIA E


DIDÁTICA

EDUCAÇÃO, INSTRUÇÃO E ENSINO

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

COMPROMISSO SOCIAL E ÉTICO DO S


PROFESSORES

A educação está envolvida no contexto social ao qual ela


está inserida. Enquanto fenômeno histórico e social, a
educação é a transmissão de cultura, é o estabelecimento.
A cultura é a relação da educação e a sociedade, o mundo
transformado pelo homem, porque o homem é um ser-
no-mundo, o mundo está dentro do homem, há uma
reciprocidade, pois o homem dele se resulta. O mundo
existe para o homem na medida do conhecimento que o
homem te dele e da ação que exerce sobre ele. O mundo
se apresenta ao homem num aspecto de natureza, onde o
mundo independe do homem para existir e que os
próprios homens fazem parte em seus aspectos
biológicos, fisiológicos. Existe um outro aspecto que é o
da cultura, o mundo transformado pelo homem. Os
homens fazem a cultura por necessidade, por
sobrevivência, para satisfazer essas necessidades eles Poe
em ação sua razão e sua criatividade. O homem é um ser
de desejos colados às necessidades. Os desejos se
manifestam como fonte do humano, propulsores da
SUGESTÕES PARA TAREFAS DE ESTUDO
passagem do estabelecimento para o inventado. O
conceito de desejo indicara a presença da liberdade
PERGUNTAS PARA O TRABALHO
associada à necessidade.
INDEPENDENTE DOS ALUNOS
O senso comum identifica a cultura como erudição,
acúmulo de conhecimentos, atividade intelectual. Os
cientistas sociais, antropólogos, conceituam cultura como
tudo o que resulta da interferência dos homens no mundo
que os cerca e do qual fazem parte. Ela se constitui no ato
pelo qual ele vai de homo sapiens a ser humano. Assim,
todos os homens são cultos, na medida em que participa,
de algum modo da criação cultura, estabelecem certas
normas para sua ação, partilham, valores e crenças. Tudo
isso é resultado do trabalho. Por isso não se fala em
cultura sem falar em trabalho, intervenção intencional e
consciente dos homens na realidade. É o trabalho que faz
os homens saberem, serem. O trabalho é a essência do
homem. A ideia de trabalho não se separa da ideia de
sociedade, na medida em que é com os outros que o
homem trabalha e cria a cultura. No trabalho o homem
começa a produzir a si mesmo, os objetos e as condições
de que precisa para existir. A primeira coisa que o homem
produz é o mundo, mas o mundo tornado humano pela
presença do homem e pela organização social que, pelo
trabalho, lhe impõe.

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

educação se revela na medida em que se cumpre as


Qualquer sociedade se organiza como base na produção perspectivas de determinado interesse, está sempre
da vida material de seus membros e das relações servindo as forças que lutam para perpetuar e / ou
decorrentes. A cultura precisa ser preservada e transmitida transformar a sociedade. A escola da sociedade capitalista
exatamente porque não está incorporada ao patrimônio não tem caráter democrático, socializando o saber e
natural. A educação, no sentido amplo, está definida como recurso para apreendê-lo e transformá-lo, porque ela tem
processo de transmissão de cultura, está presente em estado a serviço da classe dominante, veiculando a
todas as instituições, ou seja, escolas. Escola é o espaço de ideologia dessa classe. A escola quer formar o cidadão
transmissão sistemática do saber historicamente dócil e o operário. É necessário refletir e encontrar
acumulado pela sociedade, com o objetivo de formar caminhos para sua transformação.
indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na
construção dessa sociedade. Os papeis sociais do educado são definidos levando-se em
consideração as instituições onde esse desenvolve a
A sociedade capitalista se caracteriza por ter sua prática dos sujeitos. O educador desenvolve sua prática no
organização sustentada numa contradição básica –aquela espaço da instituição que é a escola. É tarefa da escola a
que se dá entre capital e trabalho - e que provoca a divisão transmissão / criação sistematizada da cultura entendida
de seus membros em duas classes antagônicas, a classe como resultado da intervenção dos homens na realidade
burguesa e a trabalhadora. Na sociedade capitalista, a transformando-a e transformando a si mesmos. A escola
escola, enquanto instituição, tem sido o espaço de tem características específicas e cumpre uma função
inserção dos sujeitos nos valores e crenças da classe determinada que resulta do trabalho e das relações
dominante. A ideologia liberal é o elemento de estabelecidas em seu interior e na prática desses sujeitos.
sustentação do sistema capitalista, este conjunto de ideias,
crenças, valores, ganha corpo e solidifica, dissimulando a O educador exerce sua função tem que realizar suas
realidade por interesses da classe dominante. Assim, as obrigações e uma maneira especifica usando-se de
diferenças sociais, as discriminações, são justificadas com competência, saber fazer bem, técnica e politicamente.
base em princípios considerados um contexto histórico Isto na prática significa, ter domínio no saber escolar,
especifico. Isso é evidente na escola brasileira. Ela é habilidade de organizar e transmitir esse saber, organizar
transmissora do saber sistematizado acumulado os períodos de aula, desde o momento da matrícula,
historicamente, mas deveria ser fonte de apropriação da agrupamento de classes, currículo, e métodos de ensino,
herança social pelos que estão no seu interior. Entretanto, saber relacionar o preparo técnico da escola e os
a população está excluída do processo educativo formal, a resultados de sua ação, e compreender a relação escola e
maioria que frequenta a escola está não tem oferecido sociedade.
condições para aquela apropriação. A relação escola-
sociedade, a escola é parte da sociedade e tem com o todo O sentido político da prática docente se realiza pela
uma relação dialética, uma interferência recíproca e social. mediação da competência técnica. Fazer bem é ir de
E contraditória, pois é um fator de manutenção e que encontro daquilo que é desejável, está vinculado aos
transforma a cultura. Ela tem um conjunto de práticas que aspectos técnicos e políticos da atuação do educador. A
mantêm e transforma a estrutura social. ética é a mediação, pois defini a organização do saber que
será vinculado na instituição escolas e na direção que será
A ação dos homens em sociedade é uma ação de caráter dada a esse saber na sociedade. A qualidade da educação
político, que onde o poder é um elemento presente como tem sido prejudicada por educadores preocupados em
constituinte do social. A ideia de política está associada ao fazer o bem, sem questionar criticamente sua ação. O
poder, e a medida a organização da vida material maior problema que se enfrenta no que diz respeito as
determina a organização das ideias e relações de poder. dimensões técnica e política da competência do educador,
Não há vida social que não seja política, pois se toma é a desarticulação na realidade. O saber fazer técnico
partido, de situações, não ficar indiferente em face das constitui condições necessária porque é a base do querer
alternativas sociais, participar e produzir em relação com político, ainda que a dimensão política da tarefa docente
toda a vida civil e social, é ter um conjunto de intenções não seja percebida como tal.
como programa de ação. Com respeito à relação existente dentre moral e política,
se percebe que os educadores não têm clareza da
É preciso refletir sobre os objetivos específicos da dimensão política de seu trabalho. Ao interpretarem
educação, para distinguirmos da prática política, mas política como envolvimento partidário, ou mesmo
vemos esta pratica, na ação educativa. sindical, alguns até negam que tenham algo a ver com isso.
A função da educação tem uma dimensão técnica e Não podem se recusar a admitir a presença da moralidade
política. O pedagogo realiza a dimensão política na prática em sua ação. Essa moralidade aparece de forma extremada
educativa, preparando o cidadão para a vida na polis, – o moralismo.
transmitindo saber acumulado e levando a novos saberes;
tecnicamente significa dizer, que a criação de conteúdos e A ideia de responsabilidade que se encontra articulada
técnicas que possam garantir a apreensão do saber pelos com a de liberdade, conceito que representa o eixo central
sujeitos e a atuação no sentido da descoberta e da da reflexão ética está ligada à noção de compromisso
invenção. Conteúdos e técnicas são selecionados, político e moral. Os professores não têm clareza quanto a
transmitidos e transformados em função de determinados implicação política de seu comprometimento, veem como
interesses existentes na sociedade. O papel político da parte de uma essência do educador. As mulheres

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

educadoras dão-se ênfase a afetividade. Ao A escola deve ser um espaço de predominância do


desconhecimento na presença político na ação educativa e consenso e da persuasão. Onde o consenso resultaria de
ético, aparece misturado com o sentimento e essa mistura aproveitar o espaço existente na sociedade civil para seu
contribui para reforçar o espontaneísmo e para manter as fortalecimento e para a transformação necessária na
falhas da instituição escolar. estrutura social.
É necessário evitar o moralismo, mas não é possível A dimensão técnica carrega a ética, onde a ética é a
desvincular moral e política, buscar discutir os valores mediação da técnica e da política expressando a escolha
morais dominantes na sociedade. A ética da competência técnica e política dos conteúdos, dos métodos, dos
pode ajudar-nos a desvelar elementos da ideologia que sistemas de avaliação e os desvendando-os.
permeia nossa educação. Não há como afastar a Técnica, ética, política são referências que devemos
subjetividade que está presente na valorização, na descobrir na nossa vivência real em nossa prática. É a
intencionalidade que se confere a prática social. reflexão que transforma o processo social educativo em
busca de uma significação mais profunda para a vida e o
É preciso distinguir subjetividade de singularidade ou para o trabalho.
individualidade. O singular é o que diz respeito ao
indivíduo, as pessoas de sua atuação que o distinguem dos O educador competente terá de ser exigente, sua
demais e é na vida em sociedade que ele adquire essa formação deverá ser a formação de um intelectual atuante
individualidade. no processo de transformação de um sistema autoritário e
repressivo: o rigor será uma exigência para sua prática. O
O comportamento do homem é político enquanto razão e educador se contribuirá da filosofia para a educação e
palavra. E a moralidade são as escolhas exigências de reflexão crítica a busca de sua compreensão.
caráter social no que se chama de técnico no ensino, no
trabalho educativo. Essas escolhas têm implicações ético- A visão do professor e de educação é de mediar a ação
política. Vontade, liberdade, consequência são conceitos mediadora. A relação professor-aluno. Educador-
do terreno ético político. A articulação entre esses educando, é a aquisição do conhecimento, onde ambos
conceitos é que nos auxilia na busca da compreensão da são sujeitos conhecedores. O professor estabelece o
com potência do educador, pois não basta levar em conta diálogo do aluno como o real. O objeto que é o mundo é
o saber, mas é preciso querer. O saber e a vontade nada apreendido, compreendido e alterado, numa relação que é
valem sem a explicitação do dever e a presença da posse fundamental – a relação aluno-mundo. O professor é
desvinculada da dominação. Mas no poder na conjugação quem especifica a mediação do saber entre o aluno e a
de possibilidades e limites representando pelas normas cultura e a realidade.
que regem a prática dos homens em sociedade. Deveres
que se combinam com direitos e estão ligados à Há fatores intra e extraescolares que interferem na prática
consciência e a vontade dos sujeitos. dos educadores. É no cotidiano de nossas práticas que
estamos construindo a educação, que estamos fazendo a
Ao lado do saber que se identifica com o domínio dos história da educação brasileira. E é o educador que vai
conteúdos e das técnicas para a transmissão temos o saber encaminhar o educador que queremos ter. O desafio está
que sabe, a consciência de percepção da realidade crítica e na necessidade de se superarem os problemas e se
reflexiva. encontrarem / criarem recursos para a transformação.
Isso se concretiza na elaboração de projetos de ação.
A visão crítica é um primeiro passo a ter um compromisso
político. Depois a vontade e a intencionalidade do gesto Ao organizar projetos, planejamos o trabalho que temos a
do educador. intenção de realizar, lançamos-nos para diante, olhamos
para frente, projetar é relacionar-se com o futuro, é
A necessidade presente no contexto socioeconômico é o começar a fazê-lo. O presente traz no seu bojo o passado,
primeiro motor de ação do educador, a vontade de enquanto vida incorporada e memória. É isso que garante
articular a consciência é essencial a prática político moral a significação do processo histórico. Começamos a escola
do educador a liberdade responsável. O educador deve do futuro no presente. Quando se projeta, tem-se que em
associar a coletividade rompendo com a ideia dominante mente um ideal. O ideal é utópico, mas é preciso
do pensamento burguês que é a de individualismo. recuperar o sentido autentico de utopia, que é algo ainda
não realizado.
A ideia de promessa dá-se a noção de compromisso, o A escola deve desenvolver um trabalho coletivo e
empenho da prática e envolvimento com a realização do participante, tendo como pressuposto que o trabalho que
prometido. Na maioria das situações é preciso criar essas se realiza com a participação responsável de cada um dos
circunstâncias. O gesto de compreensão e a ética no sujeitos envolvidos é o que atende de forma mais efetiva
envolvimento com aquilo que se tem por objetivo. as necessidades concretas da sociedade em que vivemos.
Compreensão é saber aprofundado e envolvimento ético- É preciso que ele seja possível. O que ainda não é pode vir
político do saber. a ser. O possível ainda não está pronto, deve ser
construído.
É preciso que o educador competente seja um educador
comprometido com a construção de uma sociedade justa, A ideia de projeto e a de utopia está ligada à ideia de
democrática interferindo no real e na organização de esperança, movimento, que é alimentada pela ação do
relações de solidariedade e não de dominação entre os homem. A organização de projetos utópicos é uma forma
homens. de se enfrentar as crises.

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

A história se faz na contraposição de valores, na


descoberta e instituição de novas significações para as
ações e relações humanas. Mas a crise pode configurar-se
como uma ruptura, uma negação de a própria dinâmica da
cultura, uma ameaça de imobilidade, sob a forma de um
suposto movimento de desordem.
Cada momento histórico apresenta aos homens um
desafio. A crise ética em nossa sociedade contemporânea
é o grande desafio da competência. A crise moral é o
desafio a ética, porque significa uma indiferença diante de
valores.

A atitude cínica nos provoca na medida em que é uma


atitude de desconsideração das normas e dos valores que
as sustentam.

Na ação competente, haverá sempre um componente


utópico no dever, no compromisso, na responsabilidade.
A competência é construída cotidianamente e se propõe
como um ideal a ser alcançado, ela é também
compartilhada, por outras pessoas, a qualidade de seu
trabalho não depende só de uma pessoa. A competência
do profissional e na articulação dessa competência com os
outros e com as circunstâncias.

Na direção do bem comum, da ampliação do poder de


todos como condição de participação na construção
coletiva da sociedade e da histórica, apresenta-se ao
educador, como profissional, em meio a crise,. A
necessidade de responder ao desafio. Ele o fará tanto mais
competentemente quanto mais garantir em seu trabalho,
no entre cruzamento das dimensões que o constituem. A
dimensão utópica. Esperança a caminho.

SUGESTÕES PARA TAREFAS DE ESTUDO

PERGUNTAS PARA O TRABALHO


INDEPENDENTE DOS ALUNOS

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

AS CARACTERISTICAS DO PROCESSO DE
ENSINO

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PROCESSO DIDÁTICOS BÁSICOS:

Ensino e Aprendizagem

I. A APRENDIZAGEM

1. O PROCESSO DE ASSIMILAÇÃO ATIVA

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

2. OS NÍVEIS DE APRENDIZAGEM
4. CARACTERÍSTICAS DA APREDIZAGEM
ESCOLAR

3. MOMENTOS INTERLIGADOS DO PROCESSO


DE ASSIMILAÇÃO ATIVA

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

II. O ENSINO

III. A UNIDADE ENTRE ENSINO E


APRENDIZAGEM

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

ESTRUTURA, COMPONENTES E DINÂMCA


DO PROCESSO DE ENSINO

(Adaptação do gráfico elaborado por L. Klingberg.)

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RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO


ASPECTOS SÓCIO EMOCIONAIS

Trataremos neste capitulo, dos seguintes temas:


• Aspecto cognoscitivos da interação professor-aluno;
• Aspecto sócio - emocionais;
• A disciplina.

ASPECTOS COGNOSCITIVOS DA INTERAÇÃO

Além dessas exigências, é indispensável que o


professor use corretamente a Língua Portuguesa,
procurando não falar errado, pois isto se reflete na
incorreção da linguagem dos alunos, prejudicando a
aprendizagem.

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE, aos alunos que apresentam alguma deficiência.


CIDADANIA E EDUCAÇÃO EM E PARA OS Para incluir a escola precisa, primeiramente, acreditar no
DIREITOS HUMANOS princípio de que todas as crianças podem aprender e que
todas devem ter acesso igualitário a um currículo básico,
Educação para a Diversidade diversificado e uma educação de qualidade. As adaptações
curriculares constituem as possibilidades educacionais de
A Educação, como mecanismo de transmissão e atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos e
reprodução do conhecimento tem um papel fundamental têm como objetivo subsidiar a ação dos professores.
na socialização de práticas e informação sobre as questões Constituem num conjunto de modificações que se
tratadas pelos temas da diversidade cujo eixo fundador realizam nos objetivos, conteúdos, critérios,
baseia-se na garantia dos direitos fundamentais e na procedimentos de avaliações, atividades e metodologias
dignidade humana, condições essenciais para o para atender as diferenças individuais dos alunos.
enfrentamento das desigualdades.
Assim sendo, é preciso desenvolver uma rede de apoio
Assim, o Ministério da Educação tem orientado suas (constituída por alunos, pais, professores, diretores,
políticas públicas para perceber e incluir os grupos psicólogos, terapeutas, pedagogos e supervisores) para
historicamente apartados buscando a promoção dos discutir e resolver problemas, trocar idéias, métodos,
direitos humanos e o reconhecimento dos diversos técnicas e atividades, com a finalidade de ajudar não
saberes das diferentes populações. somente aos alunos, mas aos professores para que possam
A proposta de Educação para a Diversidade visa ser bem sucedidos em seus papéis.
promover o debate sobre a educação como um direito
fundamental, que precisa ser garantido a todos e todas A realização das ações pedagógicas inclusivas requer uma
sem qualquer distinção, promovendo a cidadania, a percepção do sistema escolar como um todo unificado,
igualdade de direitos e o respeito à diversidade em vez de estruturas paralelas, separadas como uma para
sociocultural, étnico-racial, etária e geracional, de gênero e alunos regulares e outra para alunos com deficiência ou
orientação afetivo-sexual. necessidades especiais.

A política de inclusão, na rede regular de ensino, dos Os educadores devem estar dispostos a romper com
alunos que apresentam necessidades educacionais paradigmas e manterem-se em constantes mudanças
especiais, não consiste somente na permanência física educacionais progressivas criando escolas inclusivas e de
desses alunos na escola; mas no propósito de rever qualidades.
concepções e paradigmas, respeitando e valorizando a
diversidade desses alunos, exigindo assim, que a escola Essas estratégias para a ação pedagógica no cotidiano
crie espaços inclusivos. Dessa forma, a inclusão significa escolar inclusivo são necessárias para que a escola
que não é o aluno que se molda ou se adapta à escola, mas responda não somente aos alunos que nela buscam
a escola consciente de sua função que se coloca a saberes, mas aos desafios que são atribuídos no
disposição do aluno. cumprimento da função formativa e de inclusão, num
processo democrático, reconhecendo e valorizando a
As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversidade, como um elemento enriquecedor do processo
diversas dificuldades de seus alunos, acomodando os de ensino e aprendizagem.
diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando
uma educação de qualidade para todos mediante Portanto, incluir e garantir uma educação de qualidade
currículos apropriados, modificações organizacionais, para todos os alunos é uma questão de justiça e equidade
estratégias de ensino, recursos e parcerias com a social. A inclusão implica na reformulação de políticas
comunidade. A inclusão, na perspectiva de um ensino de educacionais e de implementação de projetos educacionais
qualidade para todos, exige da escola novos inclusivo, sendo o maior desafio estender a inclusão a um
posicionamentos que implicam num esforço de maior número de escolas, facilitando incluir todos os
atualização e reestruturação das condições atuais, para que indivíduos em uma sociedade na qual a diversidade está se
o ensino se modernize e para que os professores se tornando mais norma do que exceção.
aperfeiçoem, adequando as ações pedagógicas à
diversidade dos aprendizes. Por isso é preciso refletir sobre a formação dos
Deste modo, pode-se dizer que a escola inclusiva é aquela educadores, uma vez que ela não é para preparar alguém
que acomoda todos os seus alunos independentemente de para a diversidade, mas para a inclusão; porque a inclusão
suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais ou não traz respostas prontas, não é uma “multi” habilitação
linguísticas. Seu principal desafio é desenvolver uma para atender a todas as dificuldades possíveis na sala de
pedagogia centrada no aluno, e que seja capaz de educar e aula, mas uma formação na qual o educador olhará seu
incluir além dos alunos que apresentem necessidades aluno de um outro modo, tendo assim acesso as
educacionais especiais, aqueles que apresentam peculiaridades dele, entendendo e buscando o apoio
dificuldades temporárias ou permanentes na escola, os que necessário.
estejam repetindo anos escolares, os que sejam forçados a
trabalhar, os que vivem nas ruas, os que vivem em
extrema pobreza, os que são vítimas de abusos e até
mesmo os que apresentam altas habilidades como a
superdotação, uma vez que a inclusão não se aplica apenas

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AS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO NA
DIREITOS HUMANOS NA SALA DE AULA SOCIEDADE

A escola, como instituição de referência na educação e A educação sempre contribuiu para o desenvolvimento
central na formação dos indivíduos, não pode abrir mão da sociedade. A qual busca nas raízes da educação o
do debate, prática, promoção e garantia dos direitos verdadeiro sentido para sua evolução cultural,
humanos. A instituição só conseguirá cumprir seu papel se principalmente. Pois, é através desta interação que
olhar para este tema. “Não dá para educar sem garantir as existem contribuições, porque a sociedade só se torna
condições básicas da existência como saúde, moradia e moderna com a evolução da educação. E a própria
proteção”. sociedade tem seu papel nestas contribuições, porque é
com seu respaldo que a educação tem procurado
Uma das primeiras tarefas da escola é a oferta de uma assimilar da melhor maneira possível o que está ao seu
educação de qualidade. A Declaração afirma que “a redor.
instrução será orientada no sentido do pleno
desenvolvimento da personalidade humana”, dialogando Na educação da sociedade, o papel fundamental da
com o pressuposto central da educação integral que busca escola é planejar juntamente com sua comunidade
estimular as várias dimensões do indivíduo. o PPP (Projeto Político-Pedagógico). Neste deverá ser
escrito o que a própria quer desenvolver em seus alunos,
A Declaração afirma ainda que a instrução deve atuar no isto é, o exemplo de cidadão que formará para interagir
sentido do “fortalecimento do respeito pelos direitos com a sociedade. Também deverá ter neste documento
humanos e pelas liberdades fundamentais”. Os caminhos os objetivos a serem alcançados no decorrer do
pelos quais as instituições de ensino podem fazer isso são processo de ensino-aprendizagem, a sua filosofia...
vários, mas não basta apenas incluir uma disciplina sobre Conforme Morin (2001, p. 14) "o conhecimento do
o assunto. “É completamente insuficiente para garantir a conhecimento deve aparecer como necessidade
escola como espaço de valorização e promoção dos primeira, que serviria de preparação para enfrentar os
direitos humanos”. Quando se aborda o tema em apenas riscos de permanentes erros e de ilusão, que não cessam
uma disciplina corre-se o risco de dissociá-lo das outras. de parasitar a mente humana."
“Os direitos humanos dizem respeito a todos nós em
nossa vida atual e cotidiana. Falar de direitos, nas Ainda há muito para ser feito em prol da escola. Mas,
diferentes disciplinas curriculares, é importante para para que isso ocorra é necessário que busquemos
mostrar essa atualidade.” valorizá-la intensamente e no futuro poderemos
encontrar com esforços pelo menos o caminho a ser
“A Educação em Direitos Humanos é essencialmente a percorrido para que ela se torne ideal. E mesmo que esta
formação de uma cultura de respeito à dignidade humana busca seja cansativa, ao relembrarmos tudo o que ela fez
através da promoção e da vivência dos valores da no passado, conseguiremos compreender o seu papel
liberdade, da justiça, da igualdade, da solidariedade, da fundamental de democratização da educação.
cooperação, da tolerância e da paz. Portanto, a formação
desta cultura significa criar, influenciar compartilhar e
consolidar mentalidades, costumes, atitudes, hábitos e AS TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE
comportamentos que decorrem, todos, daqueles valores
essenciais citados – os quais devem se transformar em Abordando-se a questão social da educação é notório o
práticas.” papel da sociedade sobre esta. Pois, o fato
delas estarem interligadas não faz com que esqueçamos
das diversas transformações que a sociedade tem
passado. Entre estas transformações podem ser
consideravelmente lembradas: a democratização
da educação, a tecnologia, a evolução da cultura pelas
diversidades e respeito às mesmas...
Considerando o papel da educação na atualidade, Edgar
Morin (2003, p. 105) alega que a educação
"deve reforçar o respeito pelas culturas":
A educação deve reforçar o respeito pelas culturas, e
compreender que elas são imperfeitas em si
mesmas, à margem do ser humano.
A educação é, desde a sua gênese, objetivos e funções,
um fenômeno social, estando relacionada ao
contexto político, econômico, científico e cultural de
uma determinada sociedade. O ato de educar é
um processo constante na história de todas as
sociedades, não é o mesmo em todos os tempos e
lugares, e é, em sua essência, um processo social. Além
disso, educação e sociedade se correlacionam

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porque a primeira exerce forte influência nas entre teoria e prática produzem certas conformações e
transformações ocorridas no âmago da segunda. acomodações entre os educadores.
A partir dessa concepção, pode-se deduzir que, embora
a educação seja um processo constante na Muitos atribuem a problemática da educação às
história de todas as sociedades, o processo educativo situações associadas aos valores humanos, como a
não é o mesmo em todos os tempos e em todos ausência e/ou ruptura de valores essenciais ao convívio
os lugares, e se acha vinculado ao projeto de cidadania e humano. Assim, como alegam despreparo profissional
de sociedade que se quer ver emergir por dos educadores, salas de aula superlotadas, cursos de
meio desse mesmo processo. formação acelerados, salários baixos, falta de recursos,
currículos e programas pré-elaborados pelo governo,
A educação é, portanto, um processo social que se dentre tantos outros fatores, tudo em busca da redução
enquadra numa certa concepção de mundo, concepção de custos.
esta que estabelece os fins a serem atingidos pelo
processo educativo em concordância com as ideias Todas essas questões contribuem de fato
dominantes numa dada sociedade. A educação não pode para a crise educacional, mas é preciso ir além e
ser entendida de maneira fragmentada, ou como uma buscar compreender o núcleo dessa problemática,
abstração válida para qualquer tempo e lugar, mas, sim, encontrar a raiz desses fatores, entendendo de onde
como uma prática social, situada historicamente, numa eles surgem. A grande questão é: qual a origem
determinada realidade desses fatores que impedem a qualidade na
educação?
Partimos do pressuposto de que a educação exerce forte
influência nas transformações da sociedade. Certamente a resposta para uma discussão
A nosso ver, a educação reforça a capacidade crítica do tão atual como essa surja com o estudo sobre as
indivíduo e atesta o grau de desenvolvimento bases que compõem a sociedade atual. Pois, ao
de uma sociedade. Quanto mais desenvolvida ela for, analisar o sistema capitalista nas suas mais amplas
mais facilmente se compreenderá o papel da esferas, descobre-se que todas essas problemáticas
educação. Também é lícito referir que, em virtude de surgem da forma como a sociedade está organizada
uma maior capacidade de análise que os seus com bases na propriedade privada, lucro, exploração
cidadãos têm, maior será a transmissão do do ser humano e da natureza e se manifestam na
conhecimento, maior o nível do debate e da consciência ideologia do sistema.
com os deveres e as responsabilidades na defesa e na
promoção dos direitos humanos e sociais A continuação Um sistema que prega a acumulação privada
de políticas públicas voltadas a escolas, grupos de bens de produção, formando uma concepção de
vulneráveis, no Brasil e fora do Brasil, é mundo e de poder baseada no acumular sempre para
necessária e precisa tornar-se realidade na pluralidade consumir mais, onde quanto mais bens possuir,
institucional, em nível micro e macro, a fim de maior será o poder que exercerá sobre a sociedade,
que a educação possa cumprir o seu papel de agente acaba por provocar diversos problemas para a
transformador da sociedade. população, principalmente para as classes menos
favorecidas, como: falta de qualidade na educação,
A escola enquanto instituição fica responsável por levar ineficiência na saúde, aumento da violência, tornando
uma série de saberes necessários ao indivíduo os sistemas públicos, muitas vezes, caóticos.
não apenas para conviver no meio social, como também
para entender sobre si mesmo e tudo que o Independentemente do discurso sobre a educação, ele
cerca. sempre terá uma base numa determinada visão de
homem, dentro e em função de uma realidade histórica
e social específica.
EDUCAÇÃO, ESCOLA, SOCIEDADE E Acredita-se que a educação baseia-se em significações
COMUNIDADE ESCOLAR políticas, de classe. Freitag (1980) ressalta a frequente
aceitação por parte de muitos estudiosos de que toda
A escola, principalmente a pública, é espaço doutrina pedagógica, de um modo ou de outro, sempre
democrático dentro da sociedade contemporânea. terá como base uma filosofia de vida, uma concepção de
Servindo para discutir suas questões, possibilitar o homem e, portanto, de sociedade.
desenvolvimento do pensamento crítico, trazer as Ainda segundo Freitag (1980, p.17) a educação é
informações, contextualizá-las e dar caminhos para o responsável pela manutenção, integração, preservação da
aluno buscar mais conhecimento. Além disso, é o lugar ordem e do equilíbrio, e conservação dos limites do
de sociabilidade de jovens, adolescentes e também de sistema social. E reforça "para que o sistema sobreviva,
difusão sociocultural. Mas é preciso considerar alguns os novos indivíduos que nele ingressam precisam
aspectos no que se refere a sua função social e a assimilar e internalizar os valores e as normas que regem
realidade vivida por grande parte dos estudantes o seu funcionamento."
brasileiros.
A educação em geral, designa-se com esse termo a
Na atualidade alguns discursos tenham ganhado força na transmissão e o aprendizado das técnicas culturais, que
teoria da educação. Estes discursos e teorias, centrados são as técnicas de uso, produção e comportamento,
na problemática educacional e na contradição existente mediante as quais um grupo de homens é capaz de
satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a
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hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em rótulos.


conjunto, de modo mais ou menos ordenado e pacífico.
A educação, vista de um outro paradigma,
Como o conjunto dessas técnicas se chama cultura, uma enquanto mecanismo de socialização e de inserção social
sociedade humana não pode sobreviver se sua cultura aponta-se como o caminho para construção da ética.
não é transmitida de geração para geração; as Não usando-a para cumprir funções ou realizar papéis
modalidades ou formas de realizar ou garantir essa sociais, mas para difundir e exercitar a capacidade de
transmissão chama-se educação. (ABBAGNANO, reflexão, de criticidade e de trabalho não-alienado.
2000, p. 305-306) Assim a educação não alienada deve (...) sem ingenuidade, cabe reconhecer os limites
ter como finalidade a formação do homem para que este impostos pela exploração, pela exclusão social e pela
possa realizar as transformações sociais necessárias à sua renovada força da violência, da competição e do
humanização, buscando romper com o os sistemas que individualismo. Assim, se a educação e a ética não são as
impedem seu livre desenvolvimento. únicas instâncias fundamentais, é inegável reconhecer
que, sem a palavra, a participação, a criatividade e
A alienação toma as diretrizes do mundo do trabalho no apolítica, muito pouco, ou quase nada, podemos fazer
seio da sociedade capitalista e no modo como esse para interferir nos contextos complexos do mundo
modelo de produção nega o homem enquanto ser, pois contemporâneo. Esse é o desafio que diz respeito a
a maioria das pessoas vive apenas para o trabalho todos nós. (RIBEIRO; MARQUES; RIBEIRO 2003,
alienado, não se completa enquanto ser, tem como p.93)
objetivo atingir a classe mais alta da sociedade ou, ao
menos, sair do estado de oprimido, de miserável. Perde- A escola não pode continuar a desenvolver o papel de
se em valores e valorações, não consegue discernir agência produtora de mão de obra. Seu objetivo principal
situações e atitudes, vive para o trabalho e trabalha deve ser formar o educando como os espaços educativos,
para sobreviver. Sendo levado a esquecer de que é principalmente aqueles de formação de educadores devem
um ser humano, um integrante do meio social em orientar para a necessidade da relação subjetividade
que vive, um cidadão capaz de transformar a homem humanizado e não apenas prepará-lo para o
realidade que o aliena, o excluí. exercício de funções produtivas, para ser consumidor de
produtos, logo, esvaziados, alienados, deprimidos,
Há uma contribuição de Saviani (2000, p.36) que a fetichizados.
respeito do homem considera "(...) existindo num meio
que se define pelas coordenadas de espaço e tempo.
Este meio condiciona-o, determina-o em todas as suas ESCOLA: COMUNIDADE ESCOLAR E
manifestações." Vê-se a relação da escola na formação CONTEXTOS INSTITUCIONAL E
do homem e na forma como ela reproduz o sistema de SOCIOCULTURAL
classes.
podemos compreender que: A escola, é uma instituição
Para Duarte (2003) assim como para Saviani (1997) o de extrema importância para a formação dos indivíduos,
trabalho educativo produz nos indivíduos a e, em uma escala social, pode ser servir como auxílio ou
humanidade, alcançando sua finalidade quando os escapismo do jovem em desenvolvimento que passa
indivíduos se apropriam dos elementos culturais por situações comuns no âmbito financeiramente
necessários à sua humanização. mais pobre.
O essencial do trabalho educativo é garantir
a possibilidade do homem tornar-se livre, consciente, Além disso, é interessante ressaltar que, o contexto
responsável a fim de concretizar sua humanização. E sociocultural da instituição enquanto escola, fornece a
para isso tanto a escola como as demais esferas base para as relações humanas, além do
sociais devem proporcionar a procura, a investigação, desenvolvimento das capacidades cognitivas em sua
a reflexão, buscando razões para a explicação da fase inicial, e, especialização do indivíduo para
realidade, uma vez que é através da reflexão e do exercer sua cidadania.
diálogo que surgem respostas aos problemas.
Saviani (2000, p.35) questiona "(...) a educação visa o Sabendo-se que a educação é um processo
homem; na verdade, que sentido terá a educação se ela contínuo que se desenvolve no ambiente familiar e
não estiver voltada para a promoção do homem?" E social, é importante desenvolver ações que envolvam
continua sua indagação ao refletir "(...) uma visão o contexto familiar e a relação com o contexto
histórica da educação mostra como esta esteve sempre escolar.
preocupada em formar determinado tipo de homem. Os
tipos variam de acordo com as diferentes exigências das Nesse sentido, é interessante realizar ações que possam
diferentes épocas. Mas a preocupação com o homem é influenciar a família no processo de aprendizagem e
uma constante." objetividade, buscando compreender as articular o processo de interação escola e família, já que
relações, uma vez que, os homens se constroem na a família e a escola constituem-se como referenciais
convivência, na troca de experiências. É função fundamentais para a formação do educando e é nessa
daqueles que educam levar os alunos a romperem articulação que a educação acontece de forma
com a superficialidade de uma relação onde muitos insubstituível.
se relacionam protegidos por máscaras sociais,

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A discussão que se pretende fazer é de defender a idéia encaminhar os mais diversos assuntos, para que família e
de integrar escola, família e comunidade para a garantia escola, em colaboração mútua, possam promover uma
de um efetivo ensino de qualidade, com base na educação integral para o cidadão, em cumprimento com
formação de valores, cidadania e qualidade de vida. as exigências legais da sociedade que o espera.
Além de ressaltar as relações estabelecidas entre as
pessoas e o espaço.

Partindo da visão da Escola Especial Um Passo


Diferente APAE, percebe-se a necessidade de
desenvolver uma análise sobre a participação dos
cidadãos em torno dos princípios que norteiam a
Educação Especial.

Assim, a participação efetiva dos pais no processo de


aprendizagem facilita a prática pedagógica dos
professores. Isso evidencia a responsabilidade que a
escola tem em incentivar e apoiar sem articulação
família-escola. Por isso, a questão da parceria entre
família e escola reúne importantes pontos que nos
convidam a refletir sobre os benefícios a serem
alcançados nessa relação, uma vez que ambas as
instituições têm interesses comuns: que é o sucesso da
formação do cidadão que as exigências sociais
preceituam.

Assim, é preciso compreender, por exemplo, que no


momento em que escola e família conseguirem
estabelecer um acordo na forma como irão educar suas
crianças e adolescentes, muitos dos conflitos hoje
observados em sala de aula serão paulatinamente
superados. No entanto, para que isso possa ocorrer é
necessário que a família realmente participe da vida
escolar de seus filhos. Pais e mães devem comparecer à
escola não apenas para entrega de avaliações ou quando
a situação já estiver fora de controle. O comparecimento
e o envolvimento devem ser permanentes e, acima de
tudo, construtivos.

A escola tem grande importância educacional


na formação do ser social, por isso, a sintonia entre
escola e família é fundamental para que criem uma
força de trabalho capaz de provocar a mudança da
estrutura social. Portanto, a parceria de ambas é
necessário para que juntas atuem como agentes
facilitadores do desenvolvimento pleno do educando.
Refletir sobre a parceria entre família e escola tem uma
inerência muito forte com os resultados a serem
contemplados com esse enlace, uma vez que essa relação
deve ter como perspectiva a melhoria para o ensino e
aprendizagem.

Nesse sentido, é imperativo trazer algumas questões


para o campo das reflexões, dado que as múltiplas
relações que se estabelecem entre família e escola
centram pontos que vão desde os primeiros momentos
de inserção da criança no espaço escolar até a sua
habilitação para o exercício das atividades sociais, sendo
necessário colocar em prática uma boa relação entre
família e escola.

Ainda é importante colocar como discussão, que a


escola, na proposição de uma instituição social deve,
sem sombra de dúvida, exercer uma função educativa
junto aos pais. E esta se revela a partir de uma prática de
discussões que primem por informar, aconselhar e
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TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E por inúmeras e cada vez mais aceleradas transformações


COMUNICAÇÃO (TIC) em torno de todos os campos da sociedade, desde o
princípio da civilização o homem está sempre em busca de
Pode ser definida como um conjunto de recursos adaptações, mudanças, novos conhecimentos, aliás, fato
tecnológicos, utilizados de forma integrada, com um este implícito em sua constante busca do saber e aprender.
objetivo comum. As TICs são utilizadas das mais diversas
formas, na indústria (no processo de automação), no A preocupação com o impacto que as mudanças
comércio (no gerenciamento, nas diversas formas de tecnológicas podem causar no processo de ensino-
publicidade), no setor de investimentos (informação aprendizagem impõe a área da educação a tomada de
simultânea, comunicação imediata) e na educação (no posição entre tentar compreender as transformações do
processo de ensino aprendizagem, na Educação a mundo, produzir o conhecimento pedagógico sobre ele
Distância). auxiliar o homem a ser sujeito da tecnologia, ou
simplesmente dar as costas para a atual realidade da nossa
O desenvolvimento de hardwares e softwares garante a sociedade baseada na in- formação. (SAMPAIO e LEITE,
operacionalização da comunicação e dos processos 2000, op cit SANTOS, 2012, p. 9)
decorrentes em meios virtuais. No entanto, foi a
popularização da internet que potencializou o uso das Desde a década de 1940, quando se deu início as grandes
TICs em diversos campos. transformações tecnológicas a sociedade atribuiu a escola
e as instituições de ensino a responsabilidade de formação
Através da internet, novos sistemas de comunicação e da personalidade do indivíduo, tendo em vista a
informação foram criados, formando uma ver- dadeira transmissão cultural do conhecimento acumulado
rede. Criações como o e-mail, o chat, os fóruns, a agenda historicamente. No que se referem à escola as tecnologias
de grupo online, comunidades virtuais, webcam, entre sempre estiveram presentes na educação formal, o que faz
outros, revolucionaram os relacionamentos humanos. necessário é o fato de que as instituições de ensino têm o
papel de formar cidadãos críticos e criativos em relação ao
Através do trabalho colaborativo, profissionais distantes uso dessas tecnologias. Para tanto é preciso que as
geograficamente trabalham em equipe. O intercâmbio de mesmas abandonem a prática instrumental das
informações gera novos conhecimentos e competências tecnologias, e faça avaliações sobre o trabalho com a
entre os profissionais. inserção das novas tecnologias educativas, visto que:

Novas formas de integração das TICs são criadas. Uma Dessa forma, temos de avaliar o papel das novas
das áreas mais favorecidas com as TICs é a educacional. tecnologias aplicadas à educação e pensar que educar
Na educação presencial, as TICs são vistas como utilizando as TICs (e principalmente a internet) é um
potencializadoras dos processos de ensino – grande desafio que, até o momento, ainda tem sido
aprendizagem. Além disso, a tecnologia traz a encarado de forma superficial, apenas com adaptações e
possibilidade de maior desenvolvimento – aprendizagem - mudanças não muito significativas.
comunicação entre as pessoas com necessidades
educacionais especiais. Sociedade da informação, era da informação, sociedade do
conhecimento, era do conhecimento, era digital, sociedade
As TICs representam ainda um avanço na educação a da comunicação e muitos outros termos são utilizados
distância. Com a criação de ambientes virtuais de para designar a sociedade atual. Percebe-se que todos
aprendizagem, os alunos têm a possibilidade de se esses termos estão querendo traduzir as características
relacionar, trocando informações e experiências. Os mais representativas e de comunicação nas relações
professores e/ou tutores tem a possibilidade de realizar sociais, culturais e econômicas de nossa época (SANTOS,
trabalhos em grupos, debates, fóruns, dentre outras 2012, p. 2).
formas de tornar a aprendizagem mais significativa. Nesse
sentido, a gestão do próprio conhecimento depende da A internet atinge cada vez mais o sistema educacional, a
infraestrutura e da vontade de cada indivíduo. escola, enquanto instituição social é convocada a atender
de modo satisfatório as exigências da modernidade, seu
A democratização da informação, aliada a inclusão digital, papel é propiciar esses conhecimentos e habilidades
pode se tornar um marco dessa civilização. Contudo, é necessários ao educando para que ele exerça integralmente
necessário que se diferencie informação de conhecimento. a sua cidadania, construindo assim uma relação do homem
Sem dúvida, vivemos na Era da Informação. com a natureza, é o esforço humano em criar
instrumentos que superem as dificuldades das barreiras
A ESCOLA E AS TECNOLOGIAS DE naturais. As redes são utilizadas para romper as barreiras
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICS) impostas pelas paredes das escolas, tornando possível ao
professor e ao aluno conhecer e lidar com um mundo
As reflexões em torno do assunto tecnologia e educação diferente a partir de culturas e realidades ainda
tomou conta da sociedade há várias décadas, na realidade desconhecidas, a partir de trocas de experiências e de
desde que se notou sua influência na formação do sujeito trabalhos colaborativos.
contemporâneo, e da necessidade de explorar o assunto
diante do rápido desenvolvimento nos meios de Em uma sociedade com desigualdade social como a que
informação e comunicação. O mundo atual está passando vivemos, a escola pública em alguns casos torna-se a única

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fonte de acesso às informações e aos recursos Com todas essas disponibilidades é preciso formar
tecnológicos, das crianças de famílias da classe cidadãos capazes de selecionar o que há de essencial nos
trabalhadora baixa. A esse respeito Pretto (1999, 104) vem milhões de informações contidas na rede, de forma a
afirmar que “em sociedades com desigualdades sociais enriquecer o conhecimento e as habilidades humanas. Pois
como a brasileira, a escola deve passar a ter, também, a segundo Marchessou (1997):
função de facilitar o acesso das comunidades carentes às [...] excesso nas mídias, onde as performances tecnológicas
novas tecnologias”. e o consumo de informação submergem, “anestesiam” a
capacidade de análise dessa informação e de reflexão tanto
O uso da informática na educação implica em novas individual quanto social. Saturação e superabundância
formas de comunicar, de pensar, ensinar/aprender, ajuda ameaçam o navegador da internet que, como certas
aqueles que estão com a aprendizagem muito aquém da pesquisas mostram, não tira partido das riquezas de
esperada. A informática na es- cola não deve ser informação pertinente, não estando formado para ir
concebida ou se resumir a disciplina do currículo, e sim diretamenteao essencial. (1997, p. 15)
deve ser vista e utilizada como um recurso para auxiliar o
professor na integração dos conteúdos curriculares, sua Antes de introduzir as novas mídias interativas nas aulas
finalidade não se encerra nas técnicas de digitações e em expositivas é preciso entender suas funcionalidades e as
conceitos básicos de funcionamento do computador, a consequências de seu uso nas relações sociais, pois
tudo um leque de oportunidades que deve ser explorado somente a partir desse momento é possível utilizá-las de
por aluno e professores. forma a transformar as aulas em eventos de discussão
onde ocorra de maneira efetiva à participação de todos os
Valente (1999) ressalta duas possibilidades para se fazer indivíduos, bem como professores, alunos e
uso do computador, a primeira é de que o professor deve pesquisadores, propiciando assim a comunicação que só é
fazer uso deste para instruir os alunos e a segunda possível a partir do momento que todas as partes se
possibilidade é que o professor deve criar condições para envolvem.
que os alunos descrevam seus pensamentos, reconstrua-os
e materialize-os por meio de novas linguagens, nesse Para que os recursos tecnológicos façam parte da vida
processo o educando é desafiado a transformar as escolar é preciso que alunos e professores o utilizem de
informações em conhecimentos práticos para a vida. Pois forma correta, e um componente fundamental é a
como diz Valente: formação e atualização de professores, de forma que a
tecnologia seja de fato incorporada no currículo escolar, e
[...] a implantação da informática como auxiliar do não vista apenas como um acessório ou aparato marginal.
processo de construção do conhecimento implica É preciso pensar como incorporá-la no dia a dia da
mudanças na escola que vão além da formação do educação de maneira definitiva. Depois, é preciso levar em
professor. É necessário que todos os segmentos da escola conta a construção de conteúdos inovadores, que usem
– alunos, professores, administradores e comunidades de todo o potencial dessas tecnologias.
pais – estejam preparados e suportem as mudanças
educacionais necessárias para a formação de um novo A incorporação das TICs deve ajudar gestores,
profissional. Nesse sentido, a informática é um dos professores, alunos, pais e funcionários a transformar a
elementos que deverão fazer parte da mudança, porém escola em um lugar democrático e promotor de ações
essa mudança é mais profunda do que simplesmente educativas que ultrapassem os limites da sala de aula,
montar laboratórios de computadores na escola e formar instigando o educando a enxergar o mundo muito além
professores para utilização dos mesmos. (1999, p. 4) dos muros da escola, respeitando sempre os pensamentos
e ideais do outro. O professor deve ser capaz de
Implantar laboratórios de informática nas escolas não é reconhecer os diferentes modos de pensar e as
suficiente para a educação no Brasil de um salto na curiosidades do aluno sem que aja a imposição do seu
qualidade, é necessário que todos os membros do ponto de vista, pois com lembra Freire:
ambiente escolar inclusive os pais tenham seu papel
redesenhado. Não haveria exercício ético-democrático, nem sequer se
Atualmente o mundo dispõe de muitas inovações poderia falar em respeito do educador ao pensamento
tecnológicas para se utilizar em sala de aula, o que condiz diferente do educando se a educação fosse neutra – vale
com uma sociedade pautada na informação e no dizer, se não houvesse ideologias, política, classes sociais.
conhecimento, pois através desses meios temos a Falaríamos apenas de equívocos, de erros, de
possibilidade virtual de ter acesso a todo tipo de inadequações, de “obstáculos epistemológicos” no
informação independente do lugar em que nos processo de conhecimento, que envolve ensinar e
encontramos e do momento, esse desenvolvimento aprender. A dimensão ética se restringiria apenas à
tecnológico trouxe enormes benefícios em termos de competência do educador ou da educadora, à sua
avanço científico, educacional, comunicação, lazer, formação, ao cumpri-mento de seus deveres docentes, que
processamento de dados e conheci- mento. Usar se estenderia ao respeito à pessoa humana dos educandos.
tecnologia implica no aumento da atividade humana em (2001, p. 38-39)
todas as esferas, principalmente na produtiva, pois, “a
tecnologia revela o modo de proceder do homem para As escolas são locais onde ocorre a emancipação do
com a natureza, o pro- cesso imediato de produção de sua estudante, desde cedo já se molda cidadãos conscientes de
vida social e as concepções mentais que delas decorrem” suas responsabilidades socioambientais, formar-se
(Marx,1988, 425). indivíduos empreendedores doconhecimento e lapidam-se
vocações.
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novos caminhos sem a preocupação de ter experimentado


Portanto a necessidade de que os ambientes educativos se passar por eles algum dia, provocando assim a descoberta
tornem lugares onde crianças e jovens tenham habilidades de novos significa- dos, permitindo aos alunos resolverem
de interferir no conhecimento estabelecido, desenvolver problemas ou desenvolverem projetos que tenham sentido
novas soluções e aplicá-las de forma responsável para o para a sua aprendizagem, é nesse processo que a educação
bem-estar da sociedade. Como Piaget (2002) enunciou: “A resultaria em um exercício ético-demo- crático:
principal meta da educação é criar homens que sejam
capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repe tir o Não haveria exercício ético-democrático, nem sequer se
que outras gerações já fizeram”. poderia falar em respeito do educador ao pensamento
diferente do educando se a educação fosse neutra – vale
A aprendizagem intermediada pelo o computador gera dizer, se não houvesse ideologias, política, classe sociais.
profundas mudanças no processo de produção do Falaríamos apenas de equívocos, de erros, de
conhecimento, se antes as únicas vias eram de sala de aula, inadequações, de “obstáculos epistemológicos” no
o professor e os livros didáticos,hoje é permitido ao aluno processo de conhecimento, que envolve ensinar e
navegar por diferentes espaços de informação, que aprender. A dimensão ética se restringiria apenas à
também nos possibilita enviar, receber e armazenar competência do educador ou da educadora, a sua
informações virtualmente. formação, ao cumpri-mento de seus deveres docentes, que
se estenderia ao respeito à pessoa humana dos educandos.
O trabalho educacional a partir da informática tem papel (FREIRE, 2001ª, p. 38-39)
fundamental na prática pedagógica das es- colas, pois
possibilita a transição de um sistema de ensino O processo de incorporação das tecnologias nas ações
fragmentado para uma abordagem de conteúdos docentes guia professores e alunos para uma educação
integrados. Sendo possível também o processo de criação, libertadora e humanista, na qual homens e mulheres
busca, interesse e motivação, através de atividades que imergem na construção do conheci- mento, se tornando
exigem planejamento, tentativas, hipóteses, classificações e sujeitos da condução de sua própria aprendizagem, ou
motivações, impulsionando a aprendizagem por meio da seja, um sujeito participativo e responsável pela sua
exploração que estimula a experiência. Segundo Oliveira própria construção, deixando de lado o sujeito passivo
(2000), os trabalhos pedagógicos podem ser coerentes para se tornar autônomos e cidadãos democráticos do
com a visão de conhecimento que integre o sujeito e saber, a esse respeito Freire enfatiza que:
objetivo, assim como aprendizagem e ensino. Nessa
perspectiva, as tecnologias tornam-se ferramentas As TICs também têm papel fundamental no
poderosas, capazes de ampliar as chances de desenvolvimento de projetos, pois permite o registro
aprendizagem do aluno. desse processo construtivo, funciona como um recurso
que irá diagnosticar o nível de desenvolvi- mento dos
O computador e os demais aparatos tecnológicos são alunos, suas dificuldades e capacidades, favorecendo
vistos como bens necessários dentro dos lares e saber também a identificação e a correção dos erros e a
operá-los constitui-se em condição de empregabilidade e constante reelaboração, sem perder aquilo que já foi
domínio da cultura, é impossível fechar-se a esses criado.
acontecimentos.
A internet é uma excelente fonte Informativa como
A integração da tecnologia de informação e comunicação instrumento para a vida escolar e acadêmica é a maior
na escola favorece em muito a aprendizagem do aluno e a potencialidade das tecnologias. Porém não se pode limitar
aproximação de professores e alunos, pois através deste apenas como receptor de informações, mas sim, como um
meio tecnológico ambos têm a possibilidade de distribuidor através da lista de discussão, WWW.
construírem conhecimento através da escrita, reescrita, Mouran (1997) contribui em muito com nosso trabalho ao
troca de ideias e experiências, o computador se tornou um relatar algumas metodologias que desenvolveu em
grande aliado na busca do conhecimento, pois se trata de instituições públicas de ensino. O primeiro passo foi
uma ferramenta que auxilia na resolução de problemas e introduzir a internet para que os educandos conhecessem
até mesmo no desenvolvimento de projetos. As TICs têm e aprendessem a lidar com esta, logo após cadastrou os
como característica o fazer e o refazer, transformando o alunos para que tivessem um e-mail pessoal, assim
erro em algo que pode ser refeito e reformulado poderiam pesquisar e guardar suas pesquisas, endereços e
instantaneamente para produzir novos saberes, cada artigos.
indivíduo que explora as tecnologias de informação e
comunicação se torna um emissor e receptor de Essa atividade de integração do indivíduo com o meio
informações, mais especifica- mente leitor, escritor e tecnológico para que esse fizesse uso dessa ferramenta em
comunicador, esse emaranhado de possibilidade ocorre benefício a sua aprendizagem, motivou os alunos nas
graças ao poder persuasivo das informações contidas nas aulas, contribuiu no desenvolvi- mento da instituição, na
TICs que envolve o sujeito incitando-o à leitura e à flexibilidade mental, adaptação a ritmos diferentes,
expressão através da escrita textual e hipertextual. desenvolvimento de novas formas de comunicação,
aumento do interesse pelo estudo de línguas, ampliação
A internet proporciona ao professor compreender a das conexões linguísticas, geográficas e interpessoais.
importância de ser parceiro de seus alunos, navegar junto Podemos observar que o simples ato de introduzir a
com os alunos apontando possibilidades de percorrer internet a sua prática cotidiana, permitiu ao educando lidar

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com novos desafios e estimular a prática de trabalho pedagógico é preciso ir além de incorporar o novo
cooperativo. (tecnologia) ao velho. Diante disso, temos que entender
que, a inserção das TICS no ambiente educacional,
Um processo de ensino também muito interessante se depende primeiramente da formação do professor em
quando realizado de forma satisfatória e compromissado é uma perspectiva que procure desenvolver uma proposta
o ato de ensinar, aprender e desenvolver a prática que permita transformar o processo de ensino em algo
pedagógica por meio da integração das TICs e em especial dinâmico edesafiador com o suporte das tecnologias.
quando realizada a integração de conteúdos escolares por
meio de projetos interdisciplinares, torna o aluno muito
mais ativo, aprendendo a fazer, testar e levantar ideias e As TICs quando articuladas a uma prática formativa que
hipóteses, o que o torna investigativo e selecionador leva em conta os saberes trazidos pelo aluno, associando
daquilo que lhe é proposto como estudo. Cabe ao aos conhecimentos escolares se tornam essenciais para a
professor gerar situações instigantes que levem os alunos construção dos sabe- res. Além disso, favorece
interagir, trabalhar em grupo, e consequente- mente aprendizagens e desenvolvimentos, além de proporcionar
produzir novos saberes. melhor domínio na área da comunicação, pois como Lévy
(1999) ressalta as redes de computadores permitem as
Como podemos ver o frequente uso das tecnologias pessoas construírem e partilharem conhecimentos,
desperta a imaginação, investe na afetividade e nas tornando-os seres democráticos que aprendem a valorizar
relações como mediação primordial no mundo, sua a competências individuais.
incorporação no ambiente escolar pode ensinar seus
indivíduos a respeitar o diferente, a vencer obstáculos, a De acordo com Lévy (1993), as tecnologias se
trabalhar coletivamente, entre outros aspectos, o que transformam em tecnologias da inteligência, ao se
pretendemos com esse trabalho não é propor uma nova construírem enquanto ferramentas que auxiliam e
didática, mas uma postura que se apoia na inter-relação configuram o pensamento, tendo nele, portanto, um papel
entre professor e aluno como sujeitos que se organizam, constitutivo. Ao mesmo tempo, tornam-se metáforas,
decidem e buscam superar obstáculos, tendo em vista servindo como instrumentos do raciocínio, que ampliam e
conteúdos curriculares que podem ser intermediados com transformam as maneiras precedentes de pensar. Para o
as tecnologias, é interessante elencar a utilização destas autor citado, as tecnologias agem na cognição de duas
como molas propulsoras na sala de aula, elemento de formas: (a) transformam a configuração da rede social de
percepção sobre as complexidades do mundo atual e significação, cimentando novos agenciamentos,
como mediadoras de processos comunicacionais. possibilitando novas pautas interativas de representação e
de leitura do mundo; (b) permitem construções novas,
A inserção das TICs no cotidiano escolar estimula o constituindo-se em fonte de metáforas e analogias
desenvolvimento do pensamento crítico, criativo e a (MARASCHIN & AXT, 2005, p. 43).
aprendizagem cooperativa, uma vez que torna possível a
realização de atividades interativas. Para nós professores as TIC exigem uma linguagem
Sem esquecer que também pode ajudar o estudante a contemporânea e um aprimoramento rápido e eficaz e
desafiar regras, descobrir novos padrões de relações, devem despertar maior interesse. A forma tradicional e
improvisar e até adicionar novos detalhes a outros bancária de lecionar estão ultrapassadas e nesse sentido as
trabalhos tornando-os assim inovados ediferenciados. tecnologias cumprem um papel fundamental nas escolas
As tecnologias proporcionam que cidadãos construam rumo a modernidade porque não há uma pós-
seus saberes a partir de comunicação e interações com um modernidade.
mundo de pluralidades, no qual não há limites geográficos,
culturais e a troca de conhecimentos e experiências é
constante.

Dessa forma as tecnologias de informação e comunicação


funcionam como molas propulsoras e recursos dinâmicos
de educação, a medida que quando bem utilizadas pelos
educadores e educandos permitem intensificar a melhoria
das práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula e
fora dela.

Na sociedade atual em que estamos vivendo, na qual por


muitas vezes a máquina substitui o trabalho humano, cabe
ao homem à tarefa de ser criativo, ter boas ideias. E na era
da informação e comunicação é indispensável que as
pessoas saibam e consigam identificar o que há de
essencial.

É preciso compreender que a ferramenta tecnológica não


é ponto fundamental no processo de ensino e
aprendizagem, mas um dispositivo que proporciona a
mediação entre educador, educando e sabe- res escolares,
assim é necessário que se supere o velho modelo
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