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A, propôs uma acção sob a forma de processo comum ordinário contra B, sua mulher,

para obter sentença judicial de divórcio.


Quid iuris.

1. Estamos perante um caso em que a Ordem Jurisdicional competente em razão da


matéria é a Ordem Judicial, o que resulta da conjugação dos Artº. 66 do CPC e o Artº. 18/1
da LOFTJ que referem ser da competência dos Tribunais Judiciais as causas que não sejam
atribuídas a outra ordem jurisdicional. Os Tribunais administrativos e fiscais têm a
competência do controlo da matéria Administrativa e Fiscal, conforme Resulta do Estatuto
dos Tribunais Administrativos e Fiscais e do CPA– incompetência absoluta – Artº 101 do
CPC.

2. O Tribunal competente hierarquicamente é o Tribunal de 1ª Instância – Artº. 70 e


Artº. 16, nº. 3 e 4 CPC, devido ao Princípio da Plenitude de Jurisdição que refere que todas
as causas dão entrada na 1ª Instância, com excepção das previstas nos Artº. 1083 – acção de
indemnização contra magistrados e Artº. 1094 – Revisão de Sentenças estrangeiras, PR etc..

Não sendo instaurada no Tribunal de 1ª Instância estaríamos perante uma incompetência


absoluta – Artº. 101 do CPC.

3. A competência territorial, segundo as regras do território, tem como Regra geral o Artº.
85 do CPC e que no caso de Pessoas Singulares, tem como competência o Tribunal do
domicílio do réu, pelo que se fosse aqui instaurada, este tribunal seria incompetente em
razão do território – Incompetência Relativa - Artº. 108 do CPC.
No entanto, aqui, não se aplica a regra geral mas a regra especial porque se trata de uma
acção de divórcio, conforme o disposto no Artº. 75 do CPC que refere ser competente o
tribunal do domicílio ou da residência do autor, local onde deve ser instaurada a acção

4. Importa agora aferir se dentro do tribunal de 1ª Instância do domicílio ou da


residência do autor, existe ou não Tribunal de Competência Especializada.
Existindo, a acção terá de ser interposta no Tribunal de Competência Especializada, que,
neste caso será o Tribunal de Família - Artº. 81 al. a) e b) da LOFTJ.
Caso não exista, a acção deve ser interposta no Tribunal de Competência Específica, nas
Varas Cíveis – Artº. 97/1 al. a) da LOFTJ que têm competência para a preparação e o
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julgamento das acções declarativas cíveis de valor superior à alçada do Tribunal da Relação
em que a lei preveja a intervenção do tribunal colectivo, nos termos do Artº. 106, al. b) da
LOFTJ.
Caso também não haja Tribunal de Competência Específica, será competente o Tribunal de
Competência Genérica, nomeadamente o Juízo de Competência Especializada Cível – Artº.
94 da LOFTJ – pois competem a estes a preparação e o julgamento dos processos de
natureza cível não atribuídos a outros tribunais.

O Divórcio nos termos do Artº 1773, nº. 1, do CC pode ser por mútuo consentimento ou
litigioso, no caso de ser por mútuo consentimento e segundo o nº. 2 Artº. 1773 do CC- a
acção pode ser requerida por ambos os cônjuges de comum acordo e interposta no tribunal
ou na conservatória do registo civil.
O processo de jurisdição voluntária está previsto nos Artº 1409 ao 1510 do CPC.
O divórcio litigioso é requerido no tribunal por um dos cônjuges contra o outro, com
algum dos fundamentos previstos nos artigos 1779.º a 1781.º do CC., pelo que o Sr. A, tem
legitimidade para o requer conforme o Artº. 1785 do CC.
O processo de jurisdição contenciosa está previsto nos Artº 460 a 1408 do CPC.

ARTIGO 1773.º
Modalidades de divórcio

1 - O divórcio pode ser por mútuo consentimento ou litigioso.


2 - O divórcio por mútuo consentimento pode ser requerido por ambos os cônjuges, de comum acordo, no
tribunal ou na conservatória do registo civil se, neste caso, o casal não tiver filhos menores ou, havendo-os, o
exercício do respectivo poder paternal se mostrar já judicialmente regulado.
3 - O divórcio litigioso é requerido no tribunal por um dos cônjuges contra o outro, com algum dos
fundamentos previstos nos artigos 1779.º e 1781.º
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Divórcio litigioso

ARTIGO 1779.º
Violação culposa dos deveres conjugais

1. Qualquer dos cônjuges pode requerer o divórcio se o outro violar culposamente os deveres conjugais,
quando a violação, pela sua gravidade ou reiteração, comprometa a possibilidade da vida em comum.
2. Na apreciação da gravidade dos factos invocados, deve o tribunal tomar em conta, nomeadamente, a culpa
que possa ser imputada ao requerente e o grau de educação e sensibilidade moral dos cônjuges.
_______

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O art. 1779.º tem redacção do Dec.-Lei n.º 496/77, de 25-11.

ARTIGO 1780.º
Exclusão do direito de requerer o divórcio

O cônjuge não pode obter o divórcio, nos termos do artigo anterior:

a) Se tiver instigado o outro a praticar o facto invocado como fundamento do pedido ou tiver intencionalmente
criado condições propícias à sua verificação;
b) Se houver revelado pelo seu comportamento posterior, designadamente por perdão, expresso ou tácito, não
considerar o acto praticado como impeditivo da vida em comum.
_______

O art. 1780.º tem redacção do Dec.-Lei n.º 496/77, de 25-11.

ARTIGO 1781.º
Ruptura da vida em comum

São ainda fundamento do divórcio litigioso:

a) A separação de facto por três anos consecutivos;


b) A separação de facto por um ano se o divórcio for requerido por um dos cônjuges sem oposição do outro;
c A alteração das faculdades mentais do outro cônjuge, quando dure há mais de três anos e, pela sua gravidade,
comprometa a possibilidade de vida em comum;
d) A ausência, sem que do ausente haja notícias, por tempo não inferior a dois anos.»

5. Em razão do valor, a acção de divórcio tem de ter um valor de 30.001€, que é o valor da
Relação, mais um cêntimo conforme resulta da conjugação do Artº. 312 do CPC (Valor das
acções sobre o Estado das Pessoas) com o Artº. 24 da LOFTJ (Valor das Alçadas – Alçada -
montante até ao qual o tribunal julga soberanamente sem a possibilidade de recurso
ordinário). O valor atribuído ao divórcio (30.001€) serve para que as acções possam ser
passíveis de recurso conforme o Princípio do Duplo Grau de Jurisdição para um Tribunal
hierarquicamente superior. Deste modo, em princípio, toda a causa pode ser apreciada por
tribunais de grau hierárquico diferente, pelo menos dois. A incompetência em razão do
valor é Relativa.
As formas do processo são Especiais e Comuns – Artº. 460 do CPC e estas revestem a
forma de processo ordinário, sumário e sumaríssimo.
O processo de divórcio e separação litigioso reveste a forma de processo especial e nos
termos do Artº. 1407 do CPC exige uma tentativa de conciliação, conforme o nº. 1 do
mesmo artigo – Caso não revista esta forma (especial) estamos perante uma incompetência
Relativa – artº. 108 CPC
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