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DIREITO CIVIL – FAMÍLIA AULA 15/28

TEMA: 8 Conhecimentos transdisciplinares DATA: 09/05/2022

TEMPO: 100 minutos

CONTEÚDO DA AULA:

8.3 Adoção
A atual disciplina da adoção
Quem pode adotar ou ser adotado
Requisitos da adoção
Efeitos da adoção
Situações peculiares

TEXTO

Nas aulas anteriores já abordamos:

00. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do


Adolescente, dispõe sobre a proteção à criança e ao adolescente.
Regulamenta o artigo 227 da Constituição.
originalmente 267 ARTIGOS agora mais!

Trata-se de um microssistema jurídico, dispondo de um centro de


gravidade autônomo.
Mesmo sendo anterior ao Código Civil, suas regras têm prevalência
sobre o Código Civil, não se podendo alegar a sua derrogação.

O ECA trata de crianças e adolescentes, e excepcionalmente, às


pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade, em determinadas situações
expressas na lei. Como no cumprimento de medida de internação por ato
infracional praticado quando ainda menor) (art. 2º)

O adolescente emancipado continua subordinado ao ECA porque


suas normas não estão subordinadas à capacidade, mas a idade.

Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852/2013). Quem é o jovem


mencionado no § 8º do art. 227?

É o jovem entre 15 e 29 anos.


Jovem adolescente 15 a 18 anos
Jovem adulto 18 a 29 anos

00.1 Princípios

PROTEÇÃO INTEGRAL (CF, art. 227 e ECA, art. 1º)


MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA

RESPONSABILIDADE TRIPARTIDA E PRIORIDADE


ABSOLUTA (CF, art. 227 e ECA, art. 4º)

CONDIÇÃO PECULIAR DE PESSOA EM


DESENVOLVIMENTO (ECA, art. 6º)

CONVIVÊNCIA FAMILIAR (ECA, art. 19)


00.2 Do direito à convivência familiar e comunitária

Família natural e a família extensa ou ampliada (art. 25)

Programa de acolhimento:
Acolhimento familiar (art. 19, § 1º). Família acolhedora.
Acolhimento institucional (art. 19, § 2º). Inst. acolhedora.
Apadrinhamento (art. 19B).

Preferencialmente retorna à família (art. 19 § 3º); ou vai para a

Família substituta, mediante guarda, tutela e adoção (art. 28)

A colocação em família substituta deve ser feita com atendimento às


disposições gerais previstas nos arts. 28 a 32. Sempre que possível, a criança
e o adolescente devem ser ouvidos por equipe interprofissional. O
adolescente deve consentir (ECA 28 §1º e §2º).

Ademais serão considerados:

- parentesco e afinidade (ECA 28 §3º);


- irmãos devem ser mantidos juntos (ECA 28 §4º);
- preparação gradativa e acompanhamento posterior (ECA 28
§5º).

A lei trata também da colocação em família substituta de crianças


indígenas e quilombolas, que por práticas culturais de suas tribos ou
comunidades, algumas vezes acabavam sendo rejeitadas (art. 28, §6º).

Exige a intervenção da Funai (REsp 1.698.635-MS, Rel. Min. Nancy


Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 01/09/2020, DJe
09/09/2020).
00.2 Guarda (arts. 33 a 35)

A expressão guarda é utilizada tanto pelo CCi como pelo ECA.

No ECA o termo guarda tem um significado um pouco diferente da


guarda do CCi, na medida em que diz respeito a menores que estão com seus
direitos ameaçados ou violados (art. 98).

CCi trata dos filhos de uma sociedade conjugal desfeita;


(1.583 a 1.590) podem estar com parentes, sem riscos.
Rito: CPC, arts. 693 a 699.

ECA trata de crianças e adolescentes que convivem ou não


(33 a 35) com os pais, com seus direitos ameaçados (art. 98).
Rito: ECA, arts. 165 a 170.
Dentro do chamado Direito Assistencial

No ECA a guarda, tem duas finalidades:

- para regularizar a posse de fato (GUARDA DE FATO); e

- como medida liminar ou incidental nos procedimentos de


tutela e adoção. (33, § 1º):

Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral


e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito
de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo
ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela
e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de
tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir a falta
eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de
representação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de
dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive
previdenciários.
§ 4 Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da
autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada em
preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou
adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos
pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de
regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério
Público.

Será sempre excepcional e temporária.

Guardião tem obrigação material, educacional e moral (33, caput).

Pode se opor à terceiros, inclusive aos pais (33, caput).

Pais mantem direito de visitas e dever de alimentos (33, § 4º).

A guarda gera efeitos previdenciários. A criança adquire condição


de dependente para todos os efeitos, inclusive previdenciários (§ 3º).

ou

A guarda não gera efeitos sucessórios (Lei dos Planos de


Previdência Social - Lei 8.213/91) excluiu.

Aqui, polêmica!!! A jurisprudência é vacilante:

Ag 1.347.407 PI Não admite p/ fins previdenciários.

EREsp 1.104.494 RS Permite. Julgado em 03.02.2021.

Competência:

Direitos ameaçados ou violados, inclusive pelos pais VIJ


Demais casos VF

Foro: domicílio de quem detém a guarda (Su STJ 383).

Su STJ 383 – A competência para processar e julgar as ações


conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do
detentor de sua guarda.
00.3 Tutela (arts. 36 a 38)

Tutela é o encargo conferido por lei a uma pessoa capaz, para cuidar
da pessoa do menor e administrar seus bens. Destina-se a suprir a falta do
poder familiar e tem nítido caráter assistencial.

CUIDAR DE MENOR SUPRIR A FALTA DO


PODER FAMILIAR

ENCARGO e

ADMINISTRAR SEUS BENS CARÁTER


ASSISTENCIAL

O poder do tutor é semelhante ao poder familiar, mas mais


limitado. O tutor não é usufrutuário dos bens do pupilo, por exemplo.

“É um instituto jurídico que se caracteriza pela proteção dos menores,


cujos pais faleceram ou que estão impedidos de exercer o poder familiar, seja
por incapacidade, seja por terem sido dele destituídos ou terem perdido este
poder.”1

A tutela: - é limitada aos 18 anos incompletos


- é incompatível com o poder familiar;
- mas não desfaz o vínculo familiar; e
- implica na guarda. (art. 36)

Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de
até 18 (dezoito) anos incompletos.
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia
decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica
necessariamente o dever de guarda.

1 Álvaro Villaça Azevedo, citado por Carlos Roberto Gonçalves, 13 ed., p. 648.
Os encargos do tutor são, em grande parte, de ordem patrimonial.

(Lembram da causa suspensiva do art. 1523, IV?)

É um múnus público, uma delegação do Estado.

Aqui surge a questão da competência. A mesma da guarda.

Direitos ameaçados ou violados, inclusive pelos pais VIJ

Demais casos VF

Manifestação do tutelado:

Sempre que possível, a criança e o adolescente devem ser


ouvidos por equipe interprofissional (ECA 28 § 1º).

Se tiver mais de 12 anos, adolescente é necessário o seu


consentimento (ECA 28 § 2º).

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante


guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da
criança ou adolescente, nos termos desta Lei.

§ 1 Sempre que possível, a criança ou o adolescente será


previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu
estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as
implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada.

§ 2 Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será


necessário seu consentimento, colhido em audiência.

[...]
Mais os artigos:

Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento


autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art. 1.729 da Lei n o
10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil , deverá, no prazo de 30
(trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado
ao controle judicial do ato, observando o procedimento previsto nos arts.
165 a 170 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os


requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo deferida a
tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar
comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra
pessoa em melhores condições de assumi-la. (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.

Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas


judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na
legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado
dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.
Respostas às questões da aula anterior:

01. José iniciou relacionamento afetivo com Tânia em agosto de 2009,


casando-se cinco meses depois. No primeiro mês de casados, desconfiado do
comportamento de sua esposa, José busca informações sobre seu passado.
Toma conhecimento de que Tânia havia cumprido pena privativa de
liberdade pela prática de crime de estelionato. José, por ser funcionário de
instituição bancária há quinze anos e por ter conduta ilibada, teme que seu
cônjuge aplique golpes financeiros valendo-se de sua condição profissional.
José, sentindo-se enganado, decide romper a sociedade conjugal.
Considerando que você é o advogado de José, responda aos itens a seguir,
empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal
pertinente ao caso: a) Na hipótese, existe alguma medida para reverter o
estado de casado? b) Quem tem legitimidade para propô-la? c) Qual o prazo
envolvido? (III Exame de Ordem Unificado - adaptada)

a) José descobriu, após o casamento, que Tânia praticou crime


que, por sua natureza, tornará insuportável a relação do casal. Cuida-se de
erro essencial sobre o cônjuge (1.557, II),

cabendo ação judicial a fim de que o casamento seja anulado,


fundada no art. 1550, III cc 1.557, II e art. 1.556 do CC.

b) Somente o cônjuge que incidiu no erro - no caso José - poderá


propor a ação (art. 1.559); e

c) O prazo é decadencial de três anos a contar da celebração do


casamento (art. 1.560, III).
02. Mariana foi casada durante dez anos com Emanuel. Durante esse
período o casal teve um filho - Pedro, de oito anos - e amealhou um
considerável e complexo patrimônio comum. Entretanto, Emanuel e
Mariana, de maneira consensual, entendem que o casamento terminou e
querem dissolver o vínculo conjugal rapidamente. Comente o caso
esclarecendo: a) como este vínculo conjugal pode ser dissolvido? b) A
partilha de um patrimônio complexo vai dificultar essa dissolução? c) É
necessária a realização de uma audiência de conciliação ou ratificação neste
caso? d) Em que consiste a chamada Cláusula de Dureza?

Só pode ser dissolvido através de um divórcio judicial (arts. 1.571, IV,


CCi cc 731, CPC).

O divórcio poderá ser concedido sem a prévia partilha de bens (art.


1.581).

Não é mais necessária a realização de audiência de conciliação ou


ratificação (REsp 1.482.841 RS).

A Cláusula de Dureza consiste no poder do Juiz, de negar a


homologação de um acordo de Divórcio se apurar que a convenção não
preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges (art.
1.574, § único).
01. Adoção (arts. 39 a 52 D)

Adoção é o ato jurídico solene pelo qual alguém recebe, em sua


família, na qualidade de filho, pessoa a ela estranha.2

Adoção é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos


legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de
parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo
para sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é
estranha. 3

Uma fictio iuris.

Origem remota, na necessidade de dar continuidade na família sem


filhos. Um dos institutos mais antigos que se tem notícia. 4

A mesma religião que obrigava o homem a casar para ter filhos.

Que impunha o divórcio em caso de esterilidade.

Que substituía o marido impotente por um parente capaz de ter filhos.

Oferecia um último recurso: a adoção!

CCi 1916:

Só era permitida aos maiores de 50 anos, sem filhos


Seguia a ideia romana de dar descendentes a quem não tinha
nem poderia mais tê-los.
Vínculo de parentesco unicamente entre adotante e adotado.

2 Carlos Roberto Gonçalves, 13 ed., p. 372.


3 Maria Helena Diniz, citada por Carlos Roberto Gonçalves, 13 ed., p. 372.
4 Maria Berenice Dias, 12 ed., p. 505.
Lei nº 3.133/57:

Permitia para maiores de 30 anos com ou sem filhos.


Introduziu a ideia de proteger os menores desamparados.
Um lar a quem não tem. Não dava direitos sucessórios.
Não desligava o adotado da família biológica.

Lei nº 4.655/1965;

Introduziu a legitimação adotiva.


Desligava da família original.
Era como um registro tardio.

Lei nº 6.697/1979 (Código de Menores de 1979)

Revogava a legitimação adotiva


Instituía a adoção plena.
Só ao menor em situação irregular.

Nesta situação coexistiam:

A adoção simples no CCi 1916


Revogável p/ vontade das partes;
Sem desvincular da família de sangue.

A adoção plena no Código de Menores / 1979


Como filho biológico.
Com a CF 1988 e o ECA a adoção passou a nova regulamentação:

Adoção simples CCi de 1916


civil ou restrita Restrita para maiores.

Adoção plena ECA


ou estatutária Para menores de 18 anos.

Atualmente, ficou só a estatutária, a plena, no ECA, até para


maiores. Agora, simplesmente adoção.

NOTA: Estatuto da Adoção, PLS nº 394/2017, patrocinado pelo


IBDFAM. Em tramitação no Senado Federal.
01.1 A atual disciplina da adoção

Tem fundamento constitucional (art. 227, § 5º):

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
[...]
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da
lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de
estrangeiros.
[...]

A Lei nº 12.010/2009 – Chamada Lei da Adoção, alterou a


legislação (especialmente o ECA) e revogou expressamente quase todo o
texto do CCi sobre o tema. No CCi ficaram apenas dois artigos, que remetem
ao ECA:

Art. 1.618. A adoção de crianças e adolescentes será deferida na


forma prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
Criança e do Adolescente.

Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da


assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-
se, no que couber, as regras gerais da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
- Estatuto da Criança e do Adolescente.

Assim, o ECA, no novo sistema, trata tanto de crianças e adolescentes,


como maiores. Atualmente existe apenas a “adoção”.

Regras gerais, na Parte Geral do ECA arts. 39 a 52;

Procedimentos, na Parte Especial do ECA arts. 141 a 224.


O ECA:

Reforça o direito de a criança ser criada por sua família biológica,


sendo a adoção considerada medida excepcional (art. 39, § 1º).

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o


disposto nesta Lei.
§ 1 A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve
recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança
ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único
do art. 25 desta Lei.
[...]

Determina que a adoção deve observar o princípio do melhor


interesse da criança (art. 43).

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais


vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.

Cria cadastros para facilitar o encontro de crianças e adolescentes em


condições de serem adotadas (art. 50, § 5º);

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro


regional, um registro de crianças e adolescentes em condições de serem
adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.
[...]
§ 5 Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacional
de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas
ou casais habilitados à adoção.
§ 6 Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residentes
fora do País, que somente serão consultados na inexistência de postulantes
nacionais habilitados nos cadastros mencionados no § 5o deste artigo.
[...]
§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas interessadas
em adotar criança ou adolescente com deficiência, com doença crônica ou
com necessidades específicas de saúde , além de grupos de irmãos.
Estabelece prazos para dar maior rapidez aos processos:

A perda do poder familiar terá de ser feita no máximo em 120


dias após o encaminhamento do processo à autoridade judicial (art. 163).

Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de


120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notória inviabilidade
de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a criança
ou o adolescente com vistas à colocação em família substituta.

Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a suspensão


do poder familiar será averbada à margem do registro de nascimento da
criança ou do adolescente.

Recursos só no efeito devolutivo e prazo máximo de 60 dias


(arts. 199 a 199 D).

Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149 caberá
recurso de apelação.

Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito desde


logo, embora sujeita a apelação, que será recebida exclusivamente no
efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver
perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando.

Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos


genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá ser recebida
apenas no efeito devolutivo.

Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de


destituição de poder familiar, em face da relevância das questões, serão
processados com prioridade absoluta, devendo ser imediatamente
distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer situação,
oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para julgamento sem
revisão e com parecer urgente do Ministério Público.

Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para


julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua
conclusão.
A competência é exclusiva das Varas de Infância e Juventude, quando
o adotando for menor de 18 anos e das Varas de Família, quando o adotando
for maior de 18 anos.

Menores VIJ (ECA, 148, III)

Maiores V. Família (Lei 11.697/2008 – Org. Jud. DF)


(art. 27, VI)5

NOTA: Tendência tudo na VIJ

Discussão crianças em situação regular, não exposta a


risco, seria V. Família

5 Maria Berenice Dias, 12 ed., p. 537.


01.2. Quem pode adotar ou ser adotado

Quem pode adotar:

Art. 42 Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos,


independentemente do estado civil.

§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.

§ 2 Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam


casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a
estabilidade da família.

§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho


do que o adotando.

§ 4 Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-


companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre
a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha
sido iniciado na constância do período de convivência e que seja
comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele
não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão.

§ 5 Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado efetivo


benefício ao adotando, será assegurada a guarda compartilhada, conforme
previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código
Civil.

§ 6 A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca


manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes
de prolatada a sentença.

As pessoas maiores de 18 anos (ECA, art. 42, caput). Por menor de


18 anos é nula (CCi, art. 166, VII, 2ª fig.), não podendo ser confirmada
quando o adotante atingir a maioridade.

Implícito que o adotante deve estar em condições morais e materiais


de desempenhar seu papel de verdadeiro pai do adotando.
É vedada a ascendentes e irmãos do adotando (art. 42, § 1º)

Confunde os laços de família.


Interesse econômico deixar uma pensão;

A lei não alcança parentes de 3º grau nem afins, assim, tio pode
adotar sobrinho e sogro pode adotar nora ou genro, após o falecimento do
filho.

Pode adotar filho não reconhecido, mas não pode adotar filho.

Se reconhece o filho após a adoção, esta caduca, fica sem efeito.

Avô não pode adotar neto. Em casos muito particulares, existe


jurisprudência admitindo.6

Pode ser pessoa solteira ou casal:

Unilateral por uma pessoa


Bilateral ou conjunta por um casal

Se casal, exige comprovação de estabilidade da família (§ 2º).

E a manifestação conjunta de vontade. Se não pleiteada pelo


casal, indispensável a anuência do outro cônjuge (art. 165, I). Se um não
concordar ou desistir, a adoção não será permitida. 7

Irmãos não podem adotar conjuntamente (§ 2º). Entretanto, existe


jurisprudência admitindo:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


ADOÇÃO PÓSTUMA. VALIDADE. ADOÇÃO CONJUNTA.
PRESSUPOSTOS. FAMILIA ANAPARENTAL. POSSIBILIDADE.
[...]
IX. Nessa senda, a chamada família anaparental – sem a presença
de um ascendente –, quando constatado os vínculos subjetivos que

6 REsp 1.448.969 SC, julgado em 21.10.2014. Casal adotou menina de oito anos, grávida, vítima de
abuso sexual e, posteriormente adotou a criança que nasceu.
7 REsp 1.421.409 DF, julgado em 18.08.2016. “... não pode o Judiciário impor ao cônjuge não

concordante que aceite em sua casa alguém sem vínculos biológicos.”


remetem à família, merece o reconhecimento e igual status daqueles
grupos familiares descritos no art. 42, §2, do ECA.
Recurso não provido. (STJ, REsp 1.217.415 RS, Min. Nancy
Andrighi, j. 19.06.2012, DJe 28.06.2012)

Casais separados podem adotar, excepcionalmente (§ 4º).

O falecido pode adotar, excepcionalmente (§ 6º). Em situações


excepcionais, até mesmo antes de iniciado o processo de adoção.8

Tutores e curadores, só após a prestação de contas (art. 44).

Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu
alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o curatelado.

Um cônjuge pode adotar o filho do outro. E neste caso mantém os


laços familiares com o cônjuge ou companheiro do adotante. É uma adoção
unilateral.

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os


mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de
qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos
matrimoniais.
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro,
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou
concubino do adotante e os respectivos parentes.
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até
o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária.

O pai biológico deve ser citado! Na sua ausência, os avós.9

O deficiente pode adotar (EPD, art. 6º):

8 REsp 1.326.728 RS, julgado em 28.08.2013.


9 Maria Berenice Dias, 12 ed., p. 518 e 519.
Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive
para:
[...]
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como
adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas.

Homossexuais podem adotar.

A adoção por homossexual tem sido admitida.

No caso de casais homossexuais também (REsp 889.852 RS e


REsp 1.281.093 SP).

Possibilidade de adoção unilateral na união homoafetiva (REsp


1.281.093 SP)

Quem pode ser adotado

Qualquer um. Maiores e menores podem ser adotados. Um único


termo: adoção! Assim, acabou a adoção simples!
01.3. Requisitos da adoção

Exige um procedimento de habilitação para a adoção (ECA, arts.


197 A a 197 E).

E um cadastramento prévio, precedido de um período de


preparação psicossocial e jurídica (art. 50, caput e § 3º);

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro


regional, um registro de crianças e adolescentes em condições de serem
adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.
[...]
§ 3 A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um
período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe
técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio
dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia
do direito à convivência familiar.
[...]

Que só pode ser dispensado em três casos (ECA, 50 § 13, I a III):

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro


regional, um registro de crianças e adolescentes em condições de serem
adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.
[...]
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato
domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos desta Lei
quando:
I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
II - for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente
mantenha vínculos de afinidade e afetividade;
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de
criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo
de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e
não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações
previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.
[...]

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem


sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação
em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a
terceiro, mediante paga ou recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva
a paga ou recompensa.

Exige um estágio de convivência (art. 46);

Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a


criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar,
observadas as peculiaridades do caso.
§ 1 O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando
já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente
para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo.
§ 2 A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da
realização do estágio de convivência.
[...]

Depende do consentimento dos pais naturais e da anuência do


adotando adolescente.

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do


representante legal do adotando.
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou
adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do
poder familiar.
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será
também necessário o seu consentimento.

Em caso de conflito de interesses com terceiros, inclusive com


os pais, deve prevalecer os direitos e interesses do adotando (art. 39, § 3º)

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o


disposto nesta Lei.
[...]
§ 3º Em caso de conflito entre direitos e interesses do adotando e
de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, devem prevalecer os
direitos e os interesses do adotando.
Este consentimento pode ser revogado até a publicação da
sentença de adoção.

Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou


suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao
pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado
diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes,
dispensada a assistência de advogado.
[...]
§ 5 O consentimento é retratável até a data da publicação da
sentença constitutiva da adoção.
[...]

Depende de efetivo benefício para o adotando (art. 43).

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens


para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.

Exige diferença de 16 anos entre adotante e adotado (art. 42, § 3º);

Imita a natureza. No caso de adoção por casal, há quem entenda


que basta um dos dois atender a este requisito.10

A existência de vínculo afetivo tem relaxado esta regra legal da


diferença de idade. O STJ em 08/10/2019, autorizou a flexibilização em um
caso em que a filha foi adotada pelo novo companheiro da mãe com pouco
menos de 16 anos de diferença. A adoção foi pleiteada após cerca de trinta
anos de convivência. Adotante com 56 anos e adotanda com 41 anos de idade
(REsp 1.785.754 RS).

Exige a presença do adotante. É vedada a adoção por procuração (art.


39, § 2º);

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o


disposto nesta Lei.
[...]

10 Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, 11 ed., p. 1.009.


§ 2 É vedada a adoção por procuração.
[...]

Depende de processo judicial e exige Sentença (art. 47). É um ato


complexo. Sempre com a participação do MP pois se trata de questão
envolvendo o estado de pessoas e a ordem pública.

A sentença será registrada no registro civil. Cancela o registro


original e gera um novo registro.

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial,


que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se
fornecerá certidão.
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem
como o nome de seus ascendentes.
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro
original do adotado.
§ 3 A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no
Cartório do Registro Civil do Município de sua residência.
§ 4 Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas
certidões do registro.
[...]
No caso de maiores:

Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da


assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-
se, no que couber, as regras gerais da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
- Estatuto da Criança e do Adolescente

Indispensável a inequívoca vontade do adotante e do adotado.

Dispensável o consentimento dos pais biológicos que,


entretanto, devem ser citados (REsp 1.444.747 DF)

Entretanto, os pais biológicos devem ser chamados ao processo,


como litisconsortes necessários, uma vez que a sentença de adoção fará
intervenção na vida deles, fazendo cessar o vínculo parental. 11

Dispensável o estágio de convivência.

11 Rodrigo da Cunha Pereira, p. 437.


01.4. Efeitos da adoção

1/3 Efeitos de ordem pessoal

Gera um parentesco entre adotante e adotado, extinguindo o


parentesco anterior, exceto os impedimentos para o casamento.

O Poder familiar é transferido do pai natural para o adotante, com


todos os direitos e deveres. (ambos no art. 41, caput).

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os


mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de
qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos
matrimoniais.

Confere ao adotado o nome do adotante e pode modificar o


prenome (o adotado deve ser ouvido).

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que


será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá
certidão.
[...]
§ 5 A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido
de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome.
§ 6 o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante,
é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos §§ 1 o e 2 o do
art. 28 desta Lei.

Com efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença de adoção,


exceto no caso de post mortem quando retroagira à data do óbito.

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que


será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá
certidão.
[...]
§ 7 A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em
julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no § 6º
do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito.
A morte do adotante não restaura o poder familiar dos pais
naturais.

Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos
pais naturais.

2/3 Efeitos de ordem patrimonial

Os mesmos dos filhos, principalmente:

Alimentos recíprocos (arts. 1.696 e 1.697)

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais


e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais
próximos em grau, uns em falta de outros.

Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos


descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos,
assim germanos como unilaterais.

Direitos sucessórios recíprocos (art. 41 § 2º)

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os


mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de
qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos
matrimoniais.
[...]
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais
até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária.

Ambos podem ser deserdados conforme prescrições legais.

Previdenciários etc.
3/3 Outros

- A adoção é irrevogável (art. 39, § 1º);

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o


disposto nesta Lei.
§ 1 A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve
recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança
ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único
do art. 25 desta Lei.
§ 2 É vedada a adoção por procuração.

Existem casos, excepcionalíssimos, de revogação. (REsp


1.545.959 SC aceita uma revogação em adoção unilateral (novo
companheiro da mãe viúva. Com a morte da mãe, a criança voltou a morar
com os familiares do pai natural já falecido).

Ademais, ocorre devolução. É aceita. Se pode destituir o


poder familiar (art. 1.638), por que não anular a adoção?

Entretanto, é considerado ato ilícito. Pode incorrer em alimentos


12
e PD.

Em São Paulo, filha adotada é devolvida após 9 anos de adoção.


Indenização por dano moral R$ 50.000,00 (junho de 2020)13

Mesmo a devolução antes da adoção, durante o estágio de


convivência, pode ser considerada ilícito.14

12 Maria Berenice Dias menciona jurisprudência estadual, 12 ed., p. 513.


13 “Filha “devolvida” para adoção após 9 anos de convivência é indenizada por dano moral”. Site
IBDFAM, 26.06.2020.
14 Gustavo Tepedino, p. 281.
Entretanto, a adoção pode ser anulada desde que ofendidas as
prescrições legais (art. 166, V e VI) e se houver vicio resultante de simulação
ou fraude (art. 167 e 166, VI).

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


[...]
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial
para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
[...]

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que


se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas
daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não
verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-
datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos
contraentes do negócio jurídico simulado.

A anulabilidade pode resultar de falta de assistência ou vicio de


consentimento (art. 171, I e II).

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é


anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo,
lesão ou fraude contra credores.

O adotado terá direito de conhecer sua filiação biológica e acesso


irrestrito ao processo que resultou em sua adoção. O chamado Direito à
Ancestralidade15, ou Direito à Ascendência Genética 16. Esse direito é
estendido aos seus descendentes que queiram conhecer a história familiar
(art. 48).

15 Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, 11 ed., p. 1.023.


16 Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, 8ª ed., p.687.
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica,
bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi
aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.

Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser


também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido,
assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.

É direito personalíssimo:

Art. 27 (ECA) O reconhecimento do estado de filiação é direito


personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado
contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o
segredo de Justiça.

O exercício desse direito não autoriza o reconhecimento de


outros efeitos (patrimoniais, por exemplo).

Não reinsere o adotado no âmbito parental do seu genitor. 17

17 Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, 8ª ed., p.687.


01.5 Situações peculiares

Adoção à Brasileira ou simulada:

1ª) Na maternidade:
assume o filho de outro.
proibida, mas tolerada na medida em que não é punida.
Crime contra o estado de filiação (CP, art. 242)
É concedido o perdão judicial, pela motivação afetiva.

2ª) O homem que assume o filho de outro:


Não pode alegar erro.
O pai, que assume o filho de outro, não pode anular.
Seria venire contra factum proprium.
Abuso de direito. Fere a boa fé objetiva.
O filho pode anular. 18

Adoção Dirigida ou intuito personae

Não é aceita pela lei, burla o sistema vigente.

Entretanto, existem posições no sentido de que nada deve


impedir a mãe de escolher a quem entregar o filho.

Se a lei assegura aos pais o direito de nomear tutor (art. 1.729)


não há porque impedir que escolha o adotante.

Art. 1.729. O direito de nomear tutor compete aos pais, em


conjunto.
Parágrafo único. A nomeação deve constar de testamento ou de
qualquer outro documento autêntico.

Ademais, o encaminhamento de crianças a adoção requer o


consentimento dos genitores (ECA, art. 45)

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do


representante legal do adotando.
18 Maria Berenice Dias, 12 ed., p. 526.
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou
adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do
poder familiar.
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será
também necessário o seu consentimento.

É apoiada pelo IBDFAM:

En 13 (IBDFAM). Na hipótese de adoção intuitu personae de


criança e de adolescente, os pais biológicos podem eleger os adotantes.

Jurisprudência também tem admitido, com base no melhor


interesse da criança (REsp 1.172.067 MG).

Adoção Internacional

Aquela na qual a pessoa ou casal postulante é residente ou


domiciliado fora do Brasil.

Também tem fundamento constitucional:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
[...]
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei,
que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de
estrangeiros.
[...]

De grande valia, entretanto existem riscos:


Tráfico internacional de pessoas;
Comercialização de órgãos.

Está detalhadamente regulada no ECA.


Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento previsto
nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações:
[...]

Muito discutida. Não tinha regulamentação, MBD diz que agora


tem demais. Pode inviabilizar. 19

Estabelece que a preferência da adoção é para famílias


brasileiras, mas admite a adoção por estrangeiros, após esgotadas as
possibilidades de colocação em família substituta no Brasil. 20 Preferência
para brasileiros residentes no exterior (art. 51, § 1º e 2º)

Será sempre excepcional.

Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui


medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção.

Adoção do nascituro

A possibilidade de adoção do nascituro estava expressamente prevista


no CCi 1916.

Atualmente o Estatuto da Criança e do Adolescente só admite que a


mãe consinta na adoção, após o nascimento do filho. (art. 165, § 6º)

Assim, à princípio não é admitida. Entretanto, existem


posicionamentos favoráveis.

Por outro lado, as técnicas surgidas com a inseminação artificial


colocam o instituto em posição de evidência, em razão da orfandade de
embriões excedentários. 21

A Espanha, desde 2004, autoriza a adoção de embriões não


reivindicados nas clínicas, sem aval nem identificação dos doadores.

19 Maria Berenice Dias, 12 ed., p. 521.


20 Idem, p. 522.
21 Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, 11 ed., p. 1.018.
No Brasil, o CFM autoriza que embriões não reclamados após três
anos de congelamento sejam doados para pesquisas ou casais interessados,
com autorização dos donos.

Não se admite, entretanto, a sua destruição e descarte.

O parto anônimo

A antiga Roda dos Expostos.

É considerado uma violação aos direitos da criança, de conhecer sua


identidade. 22

Algo ligeiramente semelhante foi incluído no art. 19 A:

Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar


seu filho para adoção, antes ou logo após o nascimento, será encaminhada
à Justiça da Infância e da Juventude.
§ 1º A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissional da
Justiça da Infância e da Juventude, que apresentará relatório à autoridade
judiciária, considerando inclusive os eventuais efeitos do estado
gestacional e puerperal.
§ 2º De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá
determinar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante sua expressa
concordância, à rede pública de saúde e assistência social para atendimento
especializado.
§ 3º A busca à família extensa, conforme definida nos termos do
parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará o prazo máximo de 90
(noventa) dias, prorrogável por igual período.
§ 4º Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não existir
outro representante da família extensa apto a receber a guarda, a autoridade
judiciária competente deverá decretar a extinção do poder familiar e
determinar a colocação da criança sob a guarda provisória de quem estiver
habilitado a adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de
acolhimento familiar ou institucional.
§ 5º Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de ambos
os genitores, se houver pai registral ou pai indicado, deve ser manifestada
na audiência a que se refere o § 1 o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo
sobre a entrega.

22 Gustavo Tepedino, p. 280.


§ 6º (VETADO)
§ 7º Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze) dias
para propor a ação de adoção, contado do dia seguinte à data do término
do estágio de convivência.
§ 8º Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada em
audiência ou perante a equipe interprofissional - da entrega da criança após
o nascimento, a criança será mantida com os genitores, e será determinado
pela Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar pelo
prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
§ 9º É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento,
respeitado o disposto no art. 48 desta Lei.
§ 10º (VETADO).

Muito regulamentado. Distante do parto anônimo.

Ainda esbarra no Direito à Ancestralidade (art. 48).

Adoção tardia

Adoção de crianças “idosas”, originalmente com mais de dois


anos, atualmente com mais de sete anos.

Expressão que tende a desaparecer por ser considerada


preconceituosa.23

O filho de criação

Não existem mais. São todos iguais.

Pode propor ação declaratória de paternidade afetiva.24

23 Rodrigo da Cunha Pereira, p. 442.


24 Idem, p. 533.
O Conselho Tutelar (arts. 131 a 140).

Órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado de zelar


pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta
lei (art. 131).

Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não


jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos
direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.

No DF, um em cada Região Administrativa, composto por cinco


membros, escolhido pela população local, para mandato de quatro anos,
permitida recondução sem limites (art. 132).

Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do


Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão
integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros,
escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos,
permitida recondução por novos processos de escolha. (Redação dada pela
Lei nº 13.824, de 2019)
NOTA:

Aqui nesta aula, não mencionamos os procedimentos, que estão


normatizados no ECA (arts. 152 e ss):

Perda e suspensão do poder familiar arts. 155 a 163;


Destituição da tutela art. 164;
Colocação em família substituta arts. 165 a 170;
Habilitação para adoção arts. 197 A a 197 E

NOTA:

O ECA prossegue com:

Direitos:
Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer (arts. 53 a 59)
Direito à profissionalização e à proteção no trabalho (arts. 60 a 69)

Da prevenção:
Disposições gerais (art. 70 a 73)
Prevenção Especial (arts. 74 a 85)
Da informação, cultura, lazer, esportes, diversões e
espetáculos (art. 74 80);
Dos produtos e serviços (arts. 81 e 82); e
Da Autorização para viajar (arts. 83 a 85).
NOTA: Jurisprudência em Teses. Direito da Criança e do Adolescente.
Edição n. 27: Estatuto da Criança e do Adolescente - Guarda e Adoção.

1) A observância do cadastro de adotantes não é absoluta, podendo ser


excepcionada em prol do princípio do melhor interesse da criança.

2) A jurisprudência tem excepcionado o entendimento de que o habeas


corpus não seria adequado para discutir questões relativas à guarda e adoção
de crianças e adolescentes.

3) O acolhimento institucional ou familiar temporário não representa o


melhor interesse da criança mesmo nos casos de adoção irregular ou "à
brasileira", salvo quando há evidente risco à integridade física ou psíquica
do menor.

4) É possível a adoção póstuma quando comprovada a anterior manifestação


inequívoca do adotante.

5) A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de


menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.
(Súmula n. 383/STJ)

6) Eventuais irregularidades na adoção podem ser superadas em virtude da


situação de fato consolidada no tempo, desde que favoráveis ao adotando.

7) O reconhecimento do estado de filiação constitui direito personalíssimo,


indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado sem qualquer restrição,
fundamentado no direito essencial à busca pela identidade biológica.

8) Nas disputas de custódia de crianças e adolescentes devem ser evitadas


sucessivas e abruptas alterações de guarda e residência, ressalvados os casos
de evidente risco.
9) Compete à Justiça Federal o julgamento dos pedidos de busca e apreensão
ou de guarda de menores quando fundamentados na Convenção de Haia
sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças.

10) Nos casos em que o Ministério Público promove a ação de destituição


do poder familiar ou de acolhimento institucional não é obrigatória a
nomeação da Defensoria Pública como curadora especial.

11) A falta da citação do pai biológico no processo de adoção não obsta a


homologação da sentença estrangeira, nos casos em que se verifica o
abandono ou desinteresse do genitor.

12) É possível o deferimento da guarda de criança ou adolescente aos avós,


para atender situações peculiares, visando preservar o melhor interesse da
criança.

13) Não é possível conferir-se a guarda de criança ou adolescente aos avós


para fins exclusivamente financeiros ou previdenciários.

14) Não há óbice à adoção feita por casal homoafetivo desde que a medida
represente reais vantagens ao adotando.

*****
QUESTÕES:

Questões para a próxima aula:

01. Gabriel e Júlia casaram-se jovens, com apenas 18 anos e tornaram-se


proprietários de uma empresa multinacional. Após 2 anos do matrimônio
nasceu Pedro. Desejando outro filho, no mês do aniversário de 1 ano de
Pedro, o casal ajuizou uma Ação de Adoção perante a 2ª Vara de Família de
Brasília com o intuito de adotar Lucca, 10 anos, que reside em um orfanato
no Gama/DF. Devido a rotina, o casal concedeu poderes especiais para uma
amiga atuar como sua representante no processo de adoção. Os pais de
Gabriel, entretanto, contrários à adoção e preocupados em proteger os
direitos do neto Pedro, o procuram na qualidade de advogado(a),
questionando sobre as possibilidades dessa adoção. Nesta situação, comente,
fundamentadamente, a possibilidade de sucesso da ação mencionada.
(Questão de aluno, semestre anterior)

02. Em julho de 2012, em razão de desavenças irreconciliáveis, Miguel e


Letícia rompem a sociedade conjugal que mantinham e divorciam-se. A
guarda do único filho do casal, Pedro, é compartilhada entre os pais. Ocorre
que Edith, avó paterna de Pedro, está sentindo o afastamento do neto em
razão dos ressentimentos surgidos após a separação. Letícia afirma que a avó
pode acompanhar o desenvolvimento do neto nos momentos em que a guarda
estiver sendo exercitada por seu filho Miguel. Entretanto, Edith, pretende
propor medida judicial visando garantir seu direito de visita a Pedro.
Considerando a situação, diga o que se entende por guarda compartilhada e
comente a possibilidade de sucesso da avó na via judicial. (IX Exame de
Ordem Unificado, Ipatinga/MG – adaptada).

Aula 15-28

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