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LUXAÇÃO (MD 401) – VITOR BIDU DE SOUZA

LUXAÇÃO ESCAPULOUMERAL

INTRODUÇÃO
A articulação glenoumeral é a mais frouxa do corpo humano e
permite o maior número de movimentos (flexão, extensão,
abdução, adução, rotação externa, rotação interna,
circundução). Suas luxações são mais frequentes.
A cavidade glenoide é rasa, anterovertida a 7-10º, e tem uma
superfície articular menor que a da cabeça do úmero, que é
retrovetido em 20-30º. Essa disposição traria grande
instabilidade à articulação, se não fossem três fatores:
q Labrum (lábio glenoidal): estrutura fibrocartilaginosa que
forma uma orla que se prende ao contorno da glenoide,
aumentando a sua profundidade para articular a cabeça
umeral - promove pressão negativa (maior adesão-coesão
entre a cavidade glenoide e o úmero). Luxação: é a perda total da congruência entre duas superfícies
articulares.
q Reforço por ligamentos intracapsulares (ligamento
coracoumeral, ligamentos glenoumerais superior, médio e Subluxação: A perda parcial
inferior - este o mais importante); Frouxidão ou hiperelasticidade: excesso de mobilidade das
q Reforço muscular: manguito rotador e porção longa do articulações. Não desloca.
bíceps braquial. Instabilidade: (facilmente desloca/origem: subluxação
traumática e lesões por repetição)

Labrum - aumenta a concavidade da cabeça do úmero


Cápsula: produz líquido/pressão osmótica/aumenta o contato
Glenumeral não deixa ir para frente cobrindo a cabeça do úmero

EPIDEMIOLOGIA
A luxação glenoumeral é a mais comum  perda da relação
entre a cabeça do úmero e a cavidade glenoide da escápula.
O tipo mais comum é luxação anterior (90-95%), na qual a
cabeça do úmero desloca-se numa localização anterior à
glenoide. Nos casos restantes, ocorre luxação posterior, causada
por fortes contrações musculares durante eletrocussão ou
convulsões, ou luxação inferior.
LUXAÇÃO (MD 401) – VITOR BIDU DE SOUZA

A luxação do ombro: + 20-30 anos (ligamentos e tendões mais


elásticos), com predomínio em homens.
 1,5%-2% da população em geral
 7% selecionado grupo de atletas
 Mais comum em jovens
 80% das luxações evoluem para recidivas
 90% dos casos de luxação traumática apresentam lesão
de Bankart (lesão do lábio da glenóide na sua porção
anterior)

MECANISMO
Luxação anterior: após um súbito e contundente movimento CLASSIFICAÇÃO
composto de extensão, abdução e rotação externa (braço para Patogênese: traumática ou atraumática.
trás, aberto e rodado para fora), evento comum em atividades Tempo decorrido/frequência: aguda (em até 3 semanas),
esportivas. recorrente (após evento agudo, não trata e desenvolvimento com
o tempo instabilidade - luxa várias vezes) ou crônica.
Grau: luxação (perda total do contato entre os ossos) ou
subluxação (perda parcial).
Volição: involuntário ou voluntário (já nascem com luxação,
deslocando por conta própria - pior de tratar).

Anterior

Luxação posterior: carga axial + adução + RI. Ocorre com


frequência em pacientes etílicos e epilépticos (dor no ombro
após episódio convulsivo deve ser investigado). Rotadores
internos que são afetados.
Quedas para trás sobre o braço estendido ou sobre a região
posterior do ombro podem também acarretar luxação.
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Outras lesões associadas são:


 Fraturas em 10% dos casos (tubérculo maior do úmero e/ou
Volição - Não cria a contração do músculo: situações simples como borda anterior da glenoide)
bocejar.  Rotura do manguito rotador (pacientes com > 40 anos)
Voluntária – Faz por vontade.  Lesão do plexo braquial
Traumático/Unidirecional/Lesão de bankar: desinserção capsula  Lesão de Hill-Sachs inversa ou McLaughlin - postero-medial.
abral anterinferior/Cirurgia faz logo.  Erosão da glenóide
Sem trauma/Multidirecional/Bilateral/Faz reabilitação/Se não
melhorar encurta inferiormente a capsula.

ANATOMIA PATOLÓGICA
1) Lesão de Bankart: é uma lesão do labrum glenoidal antero-
inferior, o principal ligamento estabilizador do ombro. No
lábio da glenóide estão inseridos os ligamentos
glenoumerais, estes conferem boa parte da estabilidade do
ombro.
2) Lesão de Hill-Sachs: fratura compressiva (impactada) da
porção póstero-lateral do úmero proximal. Ocorre quando a
cabeça do úmero sofre luxação anterior e se desencaixa da
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
glenóide. No momento em que o úmero retorna ao seu
lugar, a parte de trás da sua cabeça acaba batendo Em geral, história de trauma esportivo, dor, deformidade e
novamente na glenóide, porém dessa vez machucando a incapacidade de mover o ombro. Deve-se investigar se já tentou
cabeça do úmero. pôr no lugar (caso sim e ainda esteja luxado, não tentar
Qualquer uma destas lesões aumenta a chance de recidiva da novamente - relocação somente em sala cirúrgica).
luxação, ao provocar instabilidade articular. O paciente nota imediatamente que alguma coisa saiu do lugar
ou quebrou e sente-se incapaz de usar o braço, o qual tende a
suportar com a mão oposta.
ANAMNESE: Foi imobilizado? Fez fisioterapia? Déficit de
movimentos? Houve trauma? Foi colocado no lugar? Em qual
hospital? Fez radiografia?
Ao exame, o ombro está doloroso, ligeiramente rodado
externamente e abduzido e apresentando uma depressão em
sua face lateral, onde deveria estar a cabeça do úmero,
conhecida como “sinal da dragona”. Avaliar Glenoide vazia –
palpação e compressão do plexo braquial
Há uma proeminência anterior (cabeça do úmero deslocada),
além de impotência funcional da articulação. É possível ocorrer
lesão do nervo axilar (circunflexo do úmero), manifestando-se
com parestesias e hipoestesia na região lateral do deltoide, bem
como fraqueza deste músculo.
O sinal da dragona é o principal achado (o ombro perde a sua
curvatura e acrômio fica proeminente).
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ANTERIOR E POSTERIOR (FUKUDA)


O diagnóstico confirmatório é feito por meio de achados do EF e
Teste do sulco/hiperfrouxidão: o braço do paciente é puxado
radiográficos (AP, perfil escapular e axilar).
pelo examinador no sentido caudal, observando-se o surgimento
de um sulco acrômio-umeral > 1 cm.

Teste da gaveta anterior e posterior: O examinador, por trás do


Y - espinha da escapula/acrômio/borda da escápula paciente (que está com o braço junto ao tronco), segura
No meio do Y - cabeça do úmero firmemente a sua escápula enquanto, com a outra mão, desloca
Artroressonância é padrão ouro para identificar instabilidade passivamente a cabeça do úmero para frente e para trás.
(Lesão abral/Ruptura manguito) Deslocamento > 25% indica teste positivo.

Teste da relocação: paciente em decúbito dorsal. O examinador,


após colocar o braço do mesmo na posição do teste de
apreensão (subluxação), segura, com a outra mão, a cabeça
umeral, tracionando-a para baixo (recolocação). No teste
positivo, o paciente sente desconforto no ombro com a posição
de apreensão, aliviado prontamente com a recolocação.

TRATAMENTO
É necessário sempre radiografar o ombro antes de proceder à
PROVAS DE INSTABILIDADE
redução, pois uma fratura do colo ou da cabeça impossibilita a
Teste da apreensão: examinador, por trás do paciente, faz um redução fechada.
movimento passivo de abdução, extensão e rotação externa do
O tratamento é de emergência, se não o paciente pode
braço, enquanto comprime anteriormente com o polegar da outra
desenvolver graves lesões neurovasculares e capsulite adesiva do
mão a face posterior da cabeça umeral. Quando há instabilidade
anterior, a sensação de uma subluxação provoca desconforto e ombro.
apreensão do paciente. Deve ser prontamente executada redução fechada por
manipulação, havendo três principais opções, sob sedação e
analgesia, com uso de opioides, bloqueio do plexo braquial ou
anestesia geral nas duas últimas, de acordo com o paciente:
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 Manobra de Stimson: paciente em decúbito ventral e


sedado, membro mantido para fora da mesa com peso de 2- Em pacientes que se apresentam com luxação crônica, as
3 kg amarrado a ele. Geralmente é tentada primeiro, quando manobras de redução fechada não são mais possíveis, pela
a redução ocorre normalmente em poucos minutos; se após rigidez articular. Neste caso, a redução cruenta é indicada.
10 min a luxação não for corrigida, deve-se tentar uma outra
manobra.
Em todas as luxações, pode ocorrer um grau de descolamento do
labrum; por isso, é preferível, após redução, manter membro
imobilizado em rotação neutra (opção é a rotação interna).

Indicações para o tratamento cirúrgico:


 Falha no tratamento conservador
 Dor persistente
 Instabilidade multidirecional do ombro
 Luxações/subluxações recorrentes ou irredutíveis
 Apreensão no trabalho ou esportes
Manobra de Hipócrates (atual): contratração feita por um
 Lesão de Hill-Sachs grande (>30% superfície articular)
auxiliar segurando a axila do paciente com um tecido - professor
mais explicou ela. O musculo precisa estar relaxado. Paciente  Fratura da glenóide ( >25% da superfície articular).
deitado sobre o dorso, o médico deve posicionar gentilmente A cirurgia artroscópica apresenta vantagens:
seu pé sobre a axila do paciente (você leu isso mesmo), realizar  pouca agressividade
tração contínua de todo membro superior variando levemente  redução do tempo de internação
 pouca perda de movimentação
 redução dos riscos de infecção
 permitir o diagnóstico e tratamento de lesões
intraarticulares.
É contraindicada em caso de erosão da borda da glenóide > 20%,
defeito da cabeça umeral e presença de avulsão severa do
ligamento da cabeça umeral.
graus de abdução.
Manobra de Kocher (mais complexa): tração inferior do membro
com o cotovelo em flexão de 90°, fazendo em seguida rotação
externa e abdução, e, por fim, rotação interna e adução.

Outras técnicas menos utilizadas:


Cirurgia de Bankart-reinserção cápsulolabral ântero-inferior na
borda da Glenóide

Após reduzida a articulação, devem ser repetidas as radiografias


para confirmar o reposicionamento e para afastar fraturas
associadas. O paciente então é liberado com uma tipoia, que
deve ser mantida por três semanas.
Cirurgia aberta

Após a retirada da imobilização, a cinesioterapia passiva é


fundamental para desfazer as aderências articulares e exercícios
de reforço muscular devem ser feitos diariamente.
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Vale ressaltar que a instabilidade multidirecional aumenta o risco


de tendinite e lesão do manguito rotador.
A sintomatologia pode ser uni ou bilateral, referida como dor ou
“cansaço” no ombro em atividades de movimento do braço ou
simplesmente carregar peso.
Alguns pacientes “sentem que o ombro é frouxo e que já vai sair
do lugar”, outros são capazes de luxar o ombro voluntariamente
CAPSULOPLASTIA EM T (NEER) sem dor. O diagnóstico é clínico, baseado em diversas manobras
que comprovam a instabilidade.
O tratamento da instabilidade multidirecional visa melhorar a
síndrome dolorosa e prevenir luxações recidivantes. A terapia
conservadora é suficiente com exercícios de reforço muscular do
manguito (rotação interna e externa) e do deltoide, sempre com
o braço abaixo da linha horizontal, pelo menos 6 meses.
Em casos de tendinite do manguito rotador associada, uma única
COMPLICAÇÕES DA LUXAÇÃO infiltração subacromial de corticoide pode ser indicada, para que
 Luxações Recidivantes os exercícios não sejam interrompidos.
 Fratura-luxação- Tubérculo > O tratamento cirúrgico é indicado nos casos de comprovada
 Rigidez articular falha da terapia conservadora, sendo contraindicado nos
pacientes com luxação voluntária do ombro.
 Artrose da articulação gleno-umeral
 Lesão do Nervo Axilar
 Lesão da Artéria Axilar
 Ruptura do manguito rotador

LUXAÇÃO REINCIDIVANTE PÓS-


TRAUMÁTICA
É causada pela lesão de Bankart associada ou não à lesão de
Hill-Sachs, causadas por uma luxação traumática prévia do
ombro. A lesão deve ser diagnosticada pela artro-RNM. Estes
pacientes devem receber tratamento cirúrgico.
A cirurgia de Bankart é o reparo (artroscopia) da lesão com a
reinserção do labrum e cápsula articular anterior na borda da
glenoide, utilizando miniâncoras (parafuso em forma de âncora).
O paciente fica com uma tipoia por 2-3 semanas e segue para
fisioterapia (cinesioterapia passiva e reforço muscular). Pode
voltar ao trabalho após 30-40 dias e ao esporte após 2-3 meses.

INSTABILIDADE MULTIDIRECIONAL DO
OMBRO
É definida por uma síndrome dolorosa no ombro (uni ou
bilateral), com o exame físico comprovando instabilidade da
articulação GU em três direções (anterior, posterior e inferior).
Esta síndrome pode ser idiopática, porém é mais comum em
atletas de esportes que usam o braço acima do ombro (voleibol,
natação, ginástica), estirando progressivamente os ligamentos
capsulares, e em indivíduos que apresentam frouxidão
ligamentar hereditária, como na síndrome de Ehler-Danlos.
Existem pessoas passíveis de subluxação do ombro ao exame,
porém sem história de dor; estas são ditas portadoras de
hiperelasticidade do ombro (uma variante constitucional), mas
não de instabilidade do ombro.

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