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Universidade de São Paulo


Instituto de Relações Internacionais
Economia Internacional I
Profa. Daniela Schettini
1o Semestre, 2023
Maria Victoria Fagundes Saraiva Straus
N. 9867869

A Consolidação da economia chinesa, de importadora a exportadora, pelo


artigo “ Impactos da Abertura Chinesa sobre o Comércio Internacional
(1998-2006)”

O artigo “Impactos da Abertura Chinesa sobre o Comércio Internacional


(1998-2006)”, de Jorge Antonio Pasin (Pasin, 2008), pretende demonstrar o processo, mais
contundente a partir dos anos de 1990, de inserção da China no comércio internacional, tanto
através de participações/porcentagens nas exportações quanto importações. Sobressaem como
posicionamentos estruturais do artigo, na descrição desta trajetória de inserção, a forma como
esta performance foi incisivo reflexo da escolha do país de desenvolver e potencializar sua
indústria nacional, e a maneira pela qual empenhou, destinou suas importações no
investimento, mais do que de implementar, de sofisticar esta indústria. Ou seja, neste
raciocínio, a China importou para desenvolver uma indústria doméstica que não só
capacitasse o país, como o tornasse um exportador no comércio internacional.

É interessante também a forma como o texto permite constatar que, em um curto


espaço de tempo, pode-se afirmar, a China foi deslocada de um país que estava praticamente
estabelecendo sua indústria interna, com base em uma modelo mais simples, primário e de
bens de consumo não duráveis, para uma nação que se propôs a acompanhar o avanço
industrial dos outros países mais desenvolvidos do comércio internacional. Também é
relevante a reflexão presente, sobre até que ponto são as exportações que dizem sobre o bom
desempenho de indústrias domésticas, em comparação às importações. Cabe reforçar também
o papel do parâmetro periódico, ou seja, a definição cronológica da performance chinesa no
comércio internacional, em subsidiar a compreensão de como essa construção se deu.
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Resumo do Artigo

O princípio da defesa da China como um país que passou a participar do comércio


internacional, neste, dentro do segmento de produtos industrializados, se dá com a
identificação do PIB doméstico como um indicador da influência chinesa no comércio
internacional. Logo em seguida, começa a ser apontada a relevância das relações
internacionais, tanto com países centrais de indústria intensa em tecnologia quanto com o
aproveitamento de nações asiáticas (reforçando o argumento proposto por Krugman referente
à importância, para o comércio internacional, da interação entre países fisicamente
próximos), nos investimentos que permitiram a ascenção produtiva chinesa e seu destaque
como fornecedora para o mercado entre países.

Com isso, começam a ser abordadas as referências que sustentam tais alegações. Uma
menção eloquente é a que confirma o papel das relações internacionais no desenvolvimento
chinês, primeiramente avaliando as (...)matrizes de insumo (...) (Pasin, 2008) do país, sendo
assim, sua capacidade interna de subsidiar este setor econômico, e a participação de nações
estrangeiras no abastecimento de bens intermediários para a China, o que permitiu ao país
produzir materiais específicos e tributários de um aprimoramento técnico. Aspectos como
fontes internas de insumos, setores de produção vislumbrados, e tipos de mercados mirados
pelas mercadorias chinesas são reparados como indícios da função das relações externas no
incentivo à esta indústria.

O autor também acena para o fato das mudanças nas relações comerciais chinesas
serem desdobramentos das transformações nas estruturas produtivas domésticas. Cita como
parâmetro o contato com os Estados Unidos e o tipo de mercadoria importada pela China
para refletir sobre este processo de crescimento industrial. Após as considerações de suas
fontes que reiteram a participação da China no comércio internacional, no que diz respeito à
importação e exportação de mercadorias industrializadas, Pasin já parte para a abordagem
de como a história do país na criação de uma indústria própria tem como fator sintomático
seus fluxos comerciais. Além disso, o termo (...) abertura do comércio chinês (...) (Pasin,
2008) também é assertivo para assinalar que a condição para o desenvolvimento de uma rede
produtiva fora a nação ceder às interações do mercado mundial. Ou seja, ao introduzir a
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década de 1970 como o momento em que a nação deu seus primeiros movimentos em direção
ao desenvolvimento de uma economia industrializada, este marco temporal é seguido pela
observação de que um espaço de vinte anos fora suficiente para atestar a produção de
mercadorias que fizeram a nação sobressair como fornecedora no mercado mundial.

Fica expresso, dessa maneira, que de um país que estava apenas se dispondo a
desenvolver uma economia baseada no capital produtivo, em meio à outras nações há muito
estabelecidas neste setor, o desempenho chinês fora elevado de uma forma exponencial ao
ponto em que a nação sobressaiu no comércio internacional, inclusive enquanto fornecedora.

O fato deste desempenho acenar para uma performance surpreendente da China,


contudo, leva em consideração que a participante ainda assim demorou para conquistar sua
estabilidade, no que se refere às suas porcentagem nas contas internacionais que medem tanto
a responsabilidade dos países como vendedores quanto como compradores. O processo de
assimilação de capital de origem externa, sendo através de investimentos ou de bens de
capital implicantes de uma produção potencializada, não providenciou, nitidamente, um
resultado imediato. Não se pode ignorar, tão pouco, o significativo deslocamento já apontado
desta economia, o fato de que esta teve sucesso em reunir condições necessárias para sua
indústria dentro da história das economias industrializadas; se o também descrito intervalo de
vinte anos foi estratégico e usado de forma otimizada, dos anos de 1990 adiante a
participação de chinesa conjugada à de outros países não parou de ser verificada. Colaboram
para esta afirmação, para propor um passo processual, os seguintes trechos do artigo:

De 1984 até a ligeira retração observada no contexto da


crise asiática de 1997, o somatório de importações e
exportações do país apresentou altas consecutivas,
quase sempre superiores à variação observada no
comércio internacional (...). Ao longo do período
1984-1997, o crescimento médio anual da corrente de
comércio chinesa foi de 15,3% ao ano, contra 9,3% da
média mundial. [PASIN, pp 312]
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Depois de 1998, os fluxos comerciais da China


passaram a crescer de forma contínua [grifo da
resenha] e ainda mais acelerada: entre 1998 e 2006, o
país registrou uma expansão média anual de 23,6% em
sua corrente de comércio, contra 9,7% ao ano da média
mundial. (...) [PASIN, pp 312]

O ano de 1998, dentro das alusões dos autores, pode ser entendido como mais
representativo na ascensão chinesa, considerando que foi a partir deste que o comércio
atingiu consolidação. Sempre importante retomar que as trocas comerciais implicam na
importação simultânea à exportação, ou seja, uma relação de complementariedade entre
ambas. Aspectos como “magnitude e amplitude do crescimento”(pg QUAL) são, logo,
indicativos. da mesma maneira, a presença de bens de capital “em ambas as faces da
balança”[PG] colocam novamente a possibilidade de fortalecimento da produção chinesa.
Nesse sentido, o Gráfico 2 do artigo dá subsídios para a hipótese de uma reversão das
tendências chinesas no comércio internacional, de 1998 a 2006; as exportações chinesas de
bens de consumo são acompanhadas (e até superadas por alguns ítens) das exportações de
insumos produtivos de indústrias sofisticadas, como os ítens parte e peça.

Também é notada a complementariedade entre Gráfico 2 e Gráfico 3 na sinalização de


que as altas porcentagem de importações de insumos industriais e materiais para mercadorias
tecnológicas se deram no sentido de investir na produção própria destes mesmos materiais.
Na medida em que uma das premissas iniciais deste texto é a de como o país em questão
instaurou seu espaço na indústria interna e, concomitantemente, componente do mercado
exterior, através da produção e fornecimento de bens de consumo, também é fundamental a
observação das transformações destes bens dentro da balança comercial chinesa no período
proposto pelos gráficos.

É relevante a discrepância entre a escolha de importação de bens que


compõem/estimulam a produção interna em relação a produtos de consumo. As importações
por categorias BEC (Broad Economic Categories) são abordadas no texto de um modo que o
seguinte trecho ilustra bem sua participação, principalmente ao aludir ao BK sem rodas:
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Observa-se que as importações de categorias BEC


concernentes ao investimento (BK sem roda e insumos
industriais) foram aquelas que apresentaram crescimento
mais intenso, ao passo que as categorias associadas ao
consumo (alimentos e bebidas e bens de consumo)
registraram uma expansão mais modesta. Esse diferencial
reflete a presença de taxas de investimento superiores a 40%
do PIB verificadas na China desde o início da década de
2000. [PASIN, pp 314]

Após uma descrição geral dos segmentos industriais nos quais ocorreram as
importações e exportações chinesas e as relações entre eles e a otimização da indústria
doméstica, os autores no “Estudo de Caso” se debruçam sobre os materiais específicos
importados e exportados pela dentro do contexto do mercado mundial, levando ao
entendimento dos tipos de produtos que China x mercado mundial importam ou exportavam.
Esse dado, portanto, expôs a posição da indústria chinesa em relação às outras indústrias
domésticas reunidas pelo mercado mundial, principalmente no que concerne aos tipos de
materiais intensos em capital e tecnologia que a China escolheu aprofundar seu mercado, ou
seja, os segmentos industriais em que o país escolheu atuar.

As importações, por sua vez, representam os tipos de produtos para os quais a


economia chinesa deu prioridade, para compor suas produções. O que é relevante é a
comparação do tipo e da porcentagem destas entradas na China com as importações mundo, e
a forma como estas, reiterando, assinalam as trocas graduais da economia chinesa no sentido
de passar a importar bens de consumo não duráveis e duráveis/tecnológicos paralelamente a
bens de capital, para direcionar sua produção interna à mercadorias mais intensas em capital e
tecnologia do que em trabalho (o que é atestado pelos insumos importados pelo país), ou seja:
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A discrepância das importações da China em relação às do mundo revela que,


comparada às importações mundo, a China ainda é a principal participante nas importações
no mercado internacional, no que concerne a produtos mais sofisticados. Isso demonstra a
distância da economia do país em relação às outras domésticas do mundo, durante o período
citado. A posição deprimida das economias mundo neste momento tem como uma das
justificativas colocadas pelo texto o fato de que os atentados de setembro de 2001 geraram
um recuo das importações das nações centrais no comércio internacional, o que nitidamente
foi aproveitado pela China para esta, novamente, tentar alcançar o desenvolvimento
produtivo das outras economias.

Outra observação é que mesmo que a importação de produtos de consumo, intensos


em tecnologia, apresentem porcentagens individualmente maiores do que as de insumos
industriais, estes insumos caracterizam ainda a maioria da receita das importações chinesas,
atestando novamente o investimento na indústria nacional de bens de capital.
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Primeiramente, é possível constatar que o tipo de mercadoria consumida entre mundo


e China revela os parâmetros do quão primária e do quão desenvolvida tecnologicamente é a
indústria chinesa em comparação às outras indústrias domésticas. O período de 2002 a 2006,
ainda assim, além de expor uma queda das importações chinesas em relação à 1998-2002, no
que se refere à insumos industriais e bens de consumo duráveis (sugerindo avanços da
indústria doméstica) também mostra que os bens que há maior discrepância entre China e
mundo são de intensidades diferentes em termos de sofisticação agregada.

Os bens em que a China importou o dobro em relação ao mundo, podendo-se


constatar uma certa paridade entre China e Mundo, são de consumo duráveis, intensos em
tecnologia. O outro consumo equiparado, o de Combustíveis e óleos minerais, é condição
para o uso de um dos bens- automóvel.

Há uma compra em porcentagem semelhante e igualmente amena, da China e do


Mundo, de plásticos e químicos orgânicos, o que atesta uma possível “autonomia” tanto da
indústria chinesa quanto da doméstica de outros países sobre estes produtos.

A discrepância no consumo de minérios a granel e de Ferro e Aço pela China em


relação ao mundo todo permite constatar, sendo que eles são a maior porcentagem das
importações, o dobro da China em relação à mundo- 65% China contra 33% Mundo, que o
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país está investindo mais em uma indústria de produtos complexos mais intensos em
tecnologia do que em trabalho, em segmentos específicos.

O fio condutor do presente artigo é a proposta de descrição da trajetória da indústria


chinesa em direção à própria autonomia a partir de seu processo de inserção no comércio
internacional e dos resultados que obteve neste, ou seja, a inserção da China, tanto como
exportadora quanto como importadora operou como um indicativo do momento mais
expressivo de desenvolvimento, exponencial, de sua indústria doméstica (1998-2006).

Sendo assim, é possível partir para a Conclusão. Seu primeiro aspecto é retomar
como o reflexo do crescimento econômico chinês, a partir da superação da crise chinesa
(embora está não seja propriamente aprofundada no artigo) é a capacidade de participação da
China no comércio internacional. Essa participação atesta a ascensão deste mercado 1. no
desenvolvimento de uma indústria própria que pode tanto vender quanto comprar produtos
para se desenvolver (provando que as importações também são indicadores do
desenvolvimento interno da capacidade produtiva, sendo as primeiras uma forma de investir e
na última e potencializá-la), ainda que, conforme os autores, seja colocada a ponderação (...)
se mudanças resultaram do crescimento no processamento interno de mercadorias ou de uma
intensificação da integração vertical da China com seus parceiros comerciais (...) (Pasin,
2008, pp 320)

Também é ressaltada a transição na produção de bens primários intensos em trabalho


para bens tecnológicos e bens de capital (especificamente, bens sem roda) na pauta
exportadora chinesa, reforçando a transformação da China, de uma das principais
fornecedoras de bens de consumo não duráveis no comércio internacional para uma
alternativa de abastecimento, para outras nações, de bens de capital e tecnológicos
(refletindo, novamente, as escolhas de seu mercado doméstico).

É possível verificar entre a conclusão o crescimento gradual e concomitante chinês a


partir da importação/exportação simultânea e complementar de mercadorias diversas, exposto
pelo seguinte trecho do artigo: (...) Dean et al. (2007) fazem uma estimativa da contribuição
dos insumos importados para as exportações chinesas e concluem que cerca de 35% do valor
das vendas externas da China são oriundos de importações do país. (...) (Pasin, 2008, pp
322).
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Análise

O artigo é eficiente em demonstrar que parte da China desenvolver sua indústria


própria de bens de capital e bens duráveis foi uma possível seletividade dos segmentos em
que quereria atuar.

O posicionamento de selecionar filtrar os segmentos industriais não só permite


entender que uma nação não precisa necessariamente ser diversificada em ítens intensos em
tecnologia para ser desenvolvida em sua indústria, como a escolha reforça a vantagem
comparativa, na qual um país escolher um ítem com capital e tecnologia agregados, para se
especializar, significa que pode contar com os mercados de outros países como fornecedores
de outros ítens do mesmo tipo de duração.

O texto também tem sucesso em mostrar a importância das importações de bens de


consumo concomitantes às de bens de capital como uma forma de aplicar, novamente, o
conceito de vantagem comparativa, no seguinte aspecto: ao importar bens de consumo a
China pode satisfazer essa demanda interna enquanto escolhe desenvolver a indústria
doméstica de bens de capital. A importação de bens de consumo duráveis e tecnológicos,
como automóveis, também assinala o movimento de suprir a demanda interna dessas
mercadorias enquanto a China empenha bens de capital na sua indústria.

A seguir nos gráficos, na mesma intenção de análise das informações do artigo, é


constatada a possibilidade de fazer uma estimativa das porcentagens das participações dos
países, no mercado internacional, no que se refere aos tipos de itens importados. A divisão
das importações por insumos industriais, bens de consumo simples e semi duráveis e bens de
consumo duráveis (divisão com base na soma dos porcentagens concedidas pelo artigo, nos
gráficos das importações China X Mundo, e a partir de estimativas em cima das porcentagens
resultadas) permite esboçar o quanto a indústria chinesa, em relação às indústrias domésticas
do mercado internacional, avançou, no que se refere à necessidade de importar bens de
consumo de alta complexidade, bem como na necessidade de importar insumos externos para
desenvolver sua indústria nacional.
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No período do primeiro gráfico, bens duráveis caracterizariam 62,3% das importações


mundo, enquanto estes bens teriam sido 46,2% das importações da China (reiterando, dentro
da relação/estimativa feita). O fato do mundo ultrapassar a China nesta categoria não
assegura que o país estaria menos necessitado, em relação às outras nações reunidas, de
abastecimento externo. A importação paralela de insumos industriais pelo mercado chinês
reforça o movimento de consolidação da sua indústria, enquanto, a ausência dessas
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mercadorias nas importações de outros países reforça a possibilidade de suas indústrias


internas serem menos dependentes de abastecimento externo, além de mais desenvolvidas.

Já no segundo gráfico, o tempo decorrido revela, nas importações chinesas, a redução


dos bens duráveis em relação ao período anterior e o aumento dos insumos industriais,
levando às seguintes interpretações: os insumos importados de 1998 a 2002 tiveram sucesso
em equipar uma indústria que desse conta de iniciar um segmento de bens de consumo
duráveis, de modo que o aumento da importação destes insumos significa a continuação de
investimento na indústria doméstica.

Houve um aumento discrepante da importação mundo de insumos industriais em


relação ao período anterior, no qual houve, na verdade, um déficit destas importações por
parte dos outros países. O aumento foi tão alarmante que os insumos importados por estes
países superam a China, sugerindo que o próprio país possa ter se tornado um fornecedor para
o comércio externo, e que o período de retração da postura do mundo, em relação à China,
em setembro de 2001, pode ter causado uma insuficiência destes insumos.

OBS/DÚVIDAS QUE FICARAM NÃO EXPLANADAS E PASSÍVEIS DE MELHORA DO


TEXTO: DÉFICIT X SUPERÁVIT FERRO AÇO 1992

DÚVIDAS/ SE CHINA REALMENTE ESCOLHEU SEGMENTO DE INDÚSTRIA


TECNOLÓGICA PARA ATUAR, ESTA SERIA DE MERCADORIAS ESPECÍFICAS DO TIPO
DE ECONOMIAS DE ESCALA E MONOPÓLIO OU NÃO.

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