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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n1-109
Recebimento dos originais:07/12/2020
Aceitação para publicação:07/01/2021
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo produzir uma cerveja artesanal do estilo Catharina
Sour adicionado de Araçá-boi com 10% de polpa. Os grãos de malte de cevada e trigo
foram triturados com auxílio de um moinho de discos para grãos de cereais e misturados
com água na mostura. A panela foi aquecida a 57 °C, após 15 minutos a mostura foi
elevada para 68 °C por 60 minutos até ser finalizada com mash out de 78 °C. O mosto
filtrado foi aquecido a 98°C por 15 minutos e resfriado a 45 °C para inóculo de bactérias
lácteas e posterior acidificação do mosto até atingir pH próximo 3,5. Em seguida foi
fervido por 60 minutos, agitado em movimento de whirlpool e resfriado até temperatura
de 29 °C e inoculado com leveduras. Após o resfriamento o mosto foi mantido a 22°C
por 5 dias, em seguida a 24,5°C por 2 dias antes da maturação. A cerveja foi submetida
ao processo de carbonatação forçada com CO2 em post mix e por fim envasada em garrafa
de vidro para condução das análises. Foi realizada avalição físico-química da cerveja
Catharina Sour de Araçá-boi e alguns parâmetros foram comparados com valores obtidos
pela análise de cervejas do mercado do estilo American Lager. Foram realizadas análises
de Extrato Primitivo, Extrato Aparente, Teor Alcoólico, Cor e Amargor (EBC, 1987). As
cervejas foram submetidas a avaliação sensorial através de painel de 05 degustadores e
sommeliers profissionais de cervejas. A cerveja apresentou densidade inicial de 1,046
g/cm3, densidade final de 1,009 g/cm3, teor alcoólico de 4,06 % v/v, amargor de 7,92
IBU, cor de 6,38 SRM e pH de 3,25, todos os parâmetros atenderam as especificações do
BJCP. A cerveja apresentou cor amarelo clássico e turva, aroma de frutas amarelas com
destaque para araçá-boi, leves notas de laranja e floral. No sabor apresentou acidez
característica da fermentação láctea e leve nota cítrica ao final do gole, amargor médio-
baixo, dulçor baixo, corpo baixo, teor alcoólico comum, carbonatação média, O fruto
araçá-boi de mostrou uma excelente alternativa para produção de cervejas do estilo
Catharina Sour, uma vez que além de agregar com suas características sensoriais de aroma
ABSTRACT
The aim of this study is to produce a Catharina Sour craft beer added with 10% pulp. The
malt grains of barley and wheat were ground with the aid of a cereal grain disc mill and
mixed with water in the mash. The pan was heated to 57 ° C, after 15 minutes the mash
was raised to 68 ° C for 60 minutes until finished with a mash out of 78 ° C. The filtered
must was heated to 98 ° C for 15 minutes and cooled to 45 ° C for inoculation of dairy
bacteria and further acidification of the must until it reached a pH close to 3.5. It was then
boiled for 60 minutes, stirred in whirlpool and cooled to 29 ° C and inoculated with yeast.
After cooling the must was kept at 22 ° C for 5 days, then at 24.5 ° C for 2 days before
ripening.The beer was subjected to the forced carbonation process with CO2 in post mix
and finally bottled in a glass bottle to conduct the analyzes. A physicochemical evaluation
of Catharina Sour beer from Araçá-boi was performed and some parameters were
compared with values obtained by the analysis of American Lager style beer market.
Primitive Extract, Apparent Extract, Alcohol Content, Color and Bitter (EBC, 1987)
analyzes were performed. The beers were subjected to sensory evaluation through a panel
of 05 professional beer tasters and sommeliers. The beer presented an initial density of
1.046 g / cm3, a final density of 1.009 g / cm3, an alcohol content of 4.06% v / v, a
bitterness of 7.92 IBU, a color of 6.38 SRM and a pH of 3.25. All parameters met the
BJCP specifications. The beer had a classic and cloudy yellow color, yellow fruit aroma
with emphasis on guava, light notes of orange and floral. In the flavor it presented
characteristic acidity of the fermentation lactea and slight citrus note at the end of the sip,
medium-low bitterness, low sweetness, low body, common alcohol content, medium
carbonation. The guava fruit showed an excellent alternative for beer brewing. Catharina
Sour style, as in addition to adding to its sensory characteristics of aroma and flavor it
can also contribute positively to the parameter attainment established by the BJCP style
guide.
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é o segundo maior centro de origem de espécies frutíferas tropicais,
ficando atrás apenas do Sudeste Asiático. Na Amazônia Brasileira podem ser encontradas
cerca de 44% das 500 espécies de frutas nativas do país. Segundo EMBRAPA (2016)
existem 220 plantas produtoras de frutos comestíveis na região, porém poucas são
domesticadas, vindo a maioria do extrativismo. Diversas espécies vegetais são utilizadas
no mercado local, como ingredientes de diversos produtos, entre elas o cupuaçu, camu-
camu (PIMENTEL et al., 2019) e araçá-boi.
O araçá-boi (Eugenia stipitata) é uma fruta da Amazônia Ocidental, usualmente
cultivada no Brasil, Peru e Bolívia. O fruto é uma baga oblata de cor amarela, possui
diversas sementes no seu interior, podendo atingir o peso de 450g por fruto. Pertence a
família das Mirtáceas, que é a mesma da goiaba e jabuticaba. A planta é um arbusto com
cerca de três metros de altura, com ramos desde o solo. Podendo ser encontrados diversos
trabalhos de pesquisas como geleia, iogurte, bebida láctea, bebida alcoólica fermentada,
bombons e licores, ressaltando seu aroma e acidez característicos (DO SACRAMENTO
et al., 2008).
Uma alternativa para a utilização dos frutos de araçá-boi é como ingredientes de
cervejas artesanais, combinando seu aroma e sabor com estilos levemente ácidos. As
cervejas artesanais são bebidas que utilizam uma grande diversidade de matérias-primas
cervejeiras e trabalham diversos estilos da bebida para atender um público seleto. A
produção em pequena escala possibilita produtos diferenciados aos consumidores, mais
exigentes com o cuidado na seleção da matéria-prima e levando a uma tendência da
valorização de matérias-primas regionais.
Catharina Sour é um estilo de cerveja com fermentação hibrida, ou seja, é
processada através da fermentação láctea e alcoólica. De origem brasileira, recentemente
o Brasil catalogou o estilo Catharina Sour no guia de estilos Beer Judge Certification
Program (BJCP), o primeiro estilo de cerveja brasileiro, uma cerveja de trigo, clara,
refrescante, com uma acidez láctea limpa, adicionada de frutas e elevada carbonatação
(OLIVER, 2012).
Com isso o presente estudo tem como objetivo produzir uma cerveja artesanal do
estilo Catharina Sour adicionado de Araçá-boi.
Para elaboração da cerveja conforme guia BJCP, foi testada concentração de 10%
de araçá-boi, acompanhamento do processo de mostura, acidificação do mosto,
fermentação e maturação da cerveja, realizar análises físico-químicas da cerveja, realizar
análise sensorial por meio de um painel de degustadores profissionais e sommeliers de
cervejas, avaliar o enquadramento do estilo conforme especificações do BJCP.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O movimento cervejeiro artesanal no Brasil chegou através de etapas, a partir dos
anos de 1980. A primeira etapa em 1986 foi a instalação da cervejaria Bavarian Park em
Curitiba, lentamente o movimento se espalhou. Surgiram as micro cervejarias, mas o
movimento ainda era tímido, bares boêmios tradicionais, por sua vez, reforçaram suas
marcas (MORADO, 2018).
na bacia inferior do rio Ucayali. Embora tenha sido usada e quase domesticada desde os
tempos antigos por nativos da Amazônia, apenas no janeiro 1930 foi recolhido e
herborizada por G. Klug em Loreto, na cidade de Mishuyacu perto de Iquitos, Peru. E
coleções enviadas o Museu Field de História Natural, em Chicago, onde o Dr. Roger
McVaugh descreveu em 1956 como uma nova espécie para a ciência com o nome de
família Eugenia stipitata McVaugh de Mirtáceas, ou seja, goiaba crua (GADVAY
YAMBAY, 2015).
O araçá-boi é uma fruta da Amazônia Ocidental, sendo cultivada no Brasil, Peru
e Bolívia; uma espécie arbustiva de pequeno a médio porte, que possui folhagem densa,
de coloração verde-escura. Os galhos e folhas jovens são avermelhados. Suas folhas são
simples, opostas de lâmina elíptico-ovalada, medindo entre 6 a 18 cm de comprimento e
3,5 a 9,5 cm de largura, ápice acuminado e base arredondada. As flores estão dispostas
em pequenos ramos de 3 a 8 flores pediceladas, com 4 pétalas brancas, 75 a 150 estames
e um pistilo, ovário com 3 a 4 lóculos, cada um com 5 a 8 óvulos (FERREIRA, 2014).
As plantas do araçá-boi florescem e frutificam o ano inteiro, com diversos picos
de diferente intensidade em algumas épocas, com mudança foliar logo após a frutificação
(FALCÃO et al., 1988). A fruta é uma baga, como peso variando entre 30 a 500 g,
apresenta aparência arredondada ou achatada, diâmetro longitudinal de 5 a 10 cm e
transversal de 5 a 12 cm, casca fina de coloração amarela, polpa ácida de coloração
amarelo-clara, com 4 a 10 sementes de 0,5 a 1,0 cm de comprimento. A polpa é rentável
e bastante ácida usualmente sendo manipulada para a preparação de sucos, sorvetes e
geleias para a produção de néctar, sendo satisfatória na mistura com polpa de frutas de
baixa acidez (DO SACRAMENTO et al., 2008).
O araçá-boi se caracteriza como planta de pomar, esse fruto apresenta
possibilidades de bons negócios por isso pouco plantada, além de que quando maduros
são muito delicados, amassando-se com facilidade e, portanto, são difíceis de serem
transportados por longas distâncias, com isso dificulta a oferta de seus frutos e produtos.
Em grande escala recomenda-se o beneficiamento da polpa e comercialização congelada,
na qual foi utilizada para obtenção de outros produtos. A sua polpa possui um alto teor
de água, proteína, carboidratos e fibras, e um considerável teor de vitaminas e sais
minerais (FERREIRA, 2019). A utilização de frutas como o araçá-boi para elaboração de
cervejas do estilo Catharina Sour constitui uma excelente forma de aproveitamento do
fruto, além de produzir uma cerveja com características únicas.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 MATERIAIS UTILIZADOS
Foram utilizadas matérias-primas cervejeiras adquiridas no mercado local, na loja
Manaus Brew Shop, localizada na Avenida Mário Ipiranga, na cidade de Manaus.
As matérias-primas foram o malte de cevada e malte de trigo claro da Best Malt,
lúpulo de aroma Mittelfruth da WE, bactéria láctea RICAFERM FermentoYR02 da Rica
Nata e levedura US-05 da Fermentis. Foram utilizados frutos de araçá-boi adquiridos no
mercado da cidade de Manaus.
Foi utilizado o KIT de fabricação caseira do Lamas Brew Shop para produção de
20 L de cerveja, composto por panelas de alumínio, balde de plástico atóxico alimentício,
garrafas de vidro e arrolhador manual de garrafas.
As cervejas foram produzidas no Laboratório de Produção de Cervejas da Escola
Amazônica da Cerveja, localizada no bairro Parque 10 de Novembro, na cidade de
Manaus.
3.2 MÉTODOS
Este trabalho foi realizado em dez etapas, conforme representado na Figura 1,
abaixo.
4 RESULTADOS
4.1 CURVA DE MOSTURA
Baseada na curva citada anteriormente os resultados se mostraram alinhado aos
resultados esperados pela metodologia (Figura 2). Inicialmente a curva de temperatura
próxima a 55 ℃ foi atingida para quebra das proteínas de alto peso molecular, seguida da
temperatura de sacarificação. A finalização do processo em 76 ℃ foi suficiente para
inativação enzimática.
A desativação enzimática na mostura permite que a densidade do mosto se
mantenha constante até o momento da fervura. Caso a desativação não fosse realizada o
extrato continuaria em degradação aumentando consideravelmente o teor alcoólico da
cerveja e baixando, da mesma maneira, o corpo da bebida.
b) Enquadramento BJCP
Segundo BJCP (2018), a cerveja Catharina Sour, como uma impressão geral deve
ser uma leve e refrescante cerveja de trigo, com uma acidez láctica limpa que é
equilibrado por uma adição de frustas frescas, no aroma o caráter da fruta deve ser
imediatamente perceptível e reconhecível em um nível médio a alto, uma acidez láctica
limpa deve ser detectado em um nível baixo a médio, em apoio a fruta, na aparência, a
cor pode variar de acordo com fruta utilizada, o colarinho é de médio a alto com boa
retenção que varia de branco a tons de cor dependendo da fruta usada, no sabor, frutas
frescas dominam de um nível médio a alto, quanto a sensação na boca, o corpo baixo a
médio-baixo, média a alta carbonatação, acidez baixa a média-alta, sem adstringência.
Portanto, todos os parâmetros sensoriais foram atingidos pela cerveja elaborada no
presente estudo.
5 CONCLUSÃO
O fruto araçá-boi de mostrou uma excelente alternativa para produção de cervejas
do estilo Catharina Sour, uma vez que além de agregar com suas características sensoriais
de aroma e sabor também pode contribuir positivamente com os atingimentos de
parâmetros estabelecidos pelo guia de estilos BJCP.
A concentração de polpa utilizada no presente estudo permitiu que todos os
resultados se enquadrassem dentro do esperado. Portanto 10% de polpa foi o ideal. A
acidificação do mosto foi realizada dentro do esperado com o tempo de 48h total, sendo
de fundamental importância. O tempo de fermentação foi decorrido dentro de 7 dias,
mostrando que o fruto não gerou influência negativa, uma vez que o tempo médio de
fermentação deste estilo é de 7 dias.
Todos os parâmetros estabelecidos pelo guia de estilo BJCP para indicadores
físico-químicos e sensoriais foram atingidos. Isso mostra o correto desempenho de
processo gerando uma cerveja de excelente qualidade.
REFERÊNCIAS
DREDGE, M. Cervejas artesanais: uma volta ao mundo em mais de 350 rótulos. São
Paulo: Publifolha, 2017.