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CADERNO FBDG – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – PROF: RICARDO

MAURÍCIO FREIRE SOARES

AULAS 01 E 02 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO


1. Características da IED – Introdução ao estudo do direito:

a) Propedêutica – apresenta caráter introdutório, utilizando termos, como a lei, por


exemplo, que serão contemplados em diversos ramos do direito. Assemelha-se,
portanto, à importância de dominar matemática básica para a resolução de
problemas mais complexos como equações;
b) Enciclopédica – apresenta caráter interdisciplinar, englobando conteúdos de
diversas áreas do conhecimento (Filosofia, Antropologia, Sociologia, História,
etc...);
c) Zetética – apresenta um caráter voltado para a valorização da capacidade de
interpretação de normas, ou seja, vincula-se à defesa de princípios em contextos
específicos, levando em consideração os aspectos humanos e sociais;
d) Epistemológica – associada ao estudo do conhecimento no âmbito jurídico –
análise da relação entre direito e ciência;

OBS: Zetética x Dogmática


Zetética Dogmática
 Valoriza a interpretação (norma-  Impositiva e inquestionável
princípio); (norma-regra);
 Leva em consideração os aspectos  Associada à generalização;
humanos e sociais;  Respeito fiel às leis;
 Vincula-se à subjetividade e a uma  Pode vincular-se a injustiças;
visão mais justa;  Não leva em consideração
 O uso excessivo pode aspectos humanos e sociais;
desencadear no abuso  Ex: A aplicação do direito alemão
incontrolável da subjetividade e durante o regime nazista;
na sobreposição acentuada do
poder judiciário;

2) Teoria da norma jurídica

2.1 – Sociedade: conceito e tipologias


 Sociedade: agrupamento de indivíduos que apresenta uma organização bem
definida (divisão de trabalho, relações de poder, repartição de funções, etc...);

Thiago Coelho (@taj_studies)


 Podem ser classificadas em humanas e não humanas (ou sub-humanas). Vale
salientar que o direito aplica-se somente nas sociedades humanas;

2.2 – Determinismo x Liberdade


 Determinismo: corrente de pensamento baseada na concepção de que as
questões biológicas interferem significativamente nos comportamentos
individuais. Durante alguns momentos da história (como nos meados do século
XIX), essa concepção foi utilizada de forma errônea ao associar-se aos seres
humanos. Teóricos como Lombroso, por exemplo, utilizou dessa vertente para
sintetizar a ideia do “criminoso nato”;
 É importante salientar que os seres humanos são essencialmente livres
(“somos escravos da nossa própria liberdade”) – nossos comportamentos não
são determinados exclusivamente por fatores biológicos. Daí a necessidade de
fixar normas de conduta em prol da convivência pacífica. Não há sociedade
humana sem direito pois caso isso ocorresse estaríamos voltando à condição de
barbaridade (“a luta de todos contra todos”);
 Para Ortega y Gesset, o homem é um “centauro ontológico”, ou seja, metade
cavalo (parte determinista) e metade homem (parte associada à liberdade –
racionalismo e absorção das normas);

2.3 – Controle social e mundo normativo


 Controle social – sistema de modelagem comportamental através do qual
somos introduzidos a normas socialmente aceitas;
 O controle social compreende as instituições (espaços de convivência social –
Família, Igreja, Escola, Estado...) e as normas (regras que estabelecem formas
de conduta e sanções caso não forem devidamente cumpridas);
 A família é tida como a instituição social, para sociólogos como Émile Durkheim,
como a mais importante pois contribui para o processo de socialização primária
do indivíduo, auxiliando-o no desenvolvimento de suas habilidades e visão de
mundo;
 Segundo Aristóteles, o homem é um animal político, ou seja, um ser social,
necessitando da interação com outros indivíduos;

2.4 – Normas sociais e a lógica do dever-ser


 As normas sociais e a lógica do dever-ser surgem a partir do mundo real e de
suas necessidades, ocorrendo a discussão de sua aplicabilidade;
 Em várias ocasiões, a realidade contribui para que o dever-ser soe como uma
utopia;
 O desafio, portanto, é tornar essa relação harmônica e válida;

2.5 – Normas técnicas x normas éticas


Thiago Coelho (@taj_studies)
 Normas técnicas – são normais sociais que regulam o comportamento humano
dado aos fins em detrimento dos meios – são neutras e independem de um
conteúdo específico, apresentando um caráter geral ou universal. Não
carregam, portanto, um caráter valorativo. Exemplo: Normas técnicas
presentes em curso de direção e as normas da ABNT;
 Normas éticas – são normais sociais que levam em consideração valores
humanos e sociais, tais como a ética, a disciplina, erigindo o respeito à
dignidade humana e à justiça – os fins não justificam os meios;
 Um trabalho cumprindo as regras da ABNT mas xingando a família de um
professor é perfeitamente técnico porém não é ético;

2.6 – Tipos de normas éticas: Etiqueta, moral e jurídica


 São normais que regulam aspectos éticos de
menor relevância envolvidos nos tratos com as
pessoas e as coisas (bom dia, boa tarde, até
ETIQUETA OU CORTESIA logo, licença);
 O descumprimento vincula-se à descortesia,
apresentando sanções difusas, sendo
espontâneas e plurais;
 São normais que regulam aspectos éticos de
maior relevância;
 Exemplo: o cumprimento dos 10
MORAIS mandamentos – “não matar...”;
 O descumprimento vincula-se à imoralidade,
apresentando sanções difusas;
 Embora essas sanções difusas vinculadas às
imoralidades sejam mais rígidas comparadas às
descortesias, ainda permanecem plurais,
espontâneas e não são pré-determinadas;
 São normas que integram o mínimo-ético
necessário para uma convivência estável;
 São aquelas determinadas pelo código jurídico;
 O direito é fundamental para o
estabelecimento de uma sociedade;
JURÍDICAS  O descumprimento vincula-se à ilicitude,
apresentando sanções jurídicas pré-
determinadas;
 Por exemplo, em caso de furto, o delinquente
poderá pagar com a privação da liberdade
e/ou ressarcimento do dano;

Thiago Coelho (@taj_studies)


 Essas sanções cabem exclusivamente ao
Estado e não devemos realizar justiça com as
próprias mãos;
OBS: Em algumas ocasiões como “não matar” pode ocorrer uma interseção entre
normas jurídicas e morais.

Diferentemente das normas técnicas, as normas éticas variam no tempo e no espaço,


espelhando assim a diversidade histórico-cultural das sociedades humanas;
As normas sociais regulam ao mesmo tempo os comportamentos humanos, podendo,
nesse sentido, convergir ou divergir em matéria da disciplina da conduta humana;
A relação do direito com a moral é bastante próxima, embora não haja uma necessária
coincidência;
O direito encontra-se na última fronteira do controle social, garantindo o chamado
mínimo ético-social;
A maioria dos comportamentos humanos são lícitos e apenas uma minoria de
comportamentos encontra-se numa zona de ilicitude (tudo o que não está
juridicamente proibido, está juridicamente permitido);
Embora caiba ao Estado a aplicação das sanções jurídicas das sociedades orientais, o
ordenamento jurídico excepcionalmente atribui a particulares a prorrogativa de impor
estas sanções;

Art 25 do Código Penal Brasileiro: Entende-se em legítima defesa quem, visando


moderadamente dos meios necessários, repele injustamente agressão, atual ou
iminente, o direito seu ou de outrem

AULA 03 – DIREITO X MORAL


1. Bilateralidade x Unilateralidade – As normas jurídicas são bilaterais pois o direito
sempre disciplina relações intersubjetivas, atribuindo direitos subjetivos a
sujeitos ativos e deveres jurídicos a sujeitos passivos. Essa bilateralidade torna
possível a exigibilidade do dever jurídico do plano intersubjetivo. De outro lado,
as normas morais são unilaterais pois a moral se dirige ao indivíduo isoladamente
considerável, não sendo possível a exigibilidade institucional do dever moral;
OBS: A relação de sujeito ativo/passivo é dinâmica. Ex: relação do patrão e
empregado;

2. Exterioridade x interioridade – As normas jurídicas são exteriores pois o direito


disciplina (regula) comportamentos no mundo externo (concretização de fatos),

Thiago Coelho (@taj_studies)


diferentemente das normas morais que disciplinam estados internos do
psiquismo humano;

3. Autonomia x heteronomia – O direito é heterônomo pois as normas jurídicas


impõem preceitos obrigatórios para as partes, independentemente da vontade.
Por sua vez, as normas morais são autônomas pois os preceitos morais são
escolhidos pelo agente social;

OBS: Em alguns países do Oriente Médio, as normas morais religiosas possuem


maior relevância comparadas ao direito.

4. Maior e menor coercitividade - O direito costuma ser mais coercitivo que a moral
pois as normas jurídicas geram um receio maior de punição na mente dos
agentes sociais;

5. Maior e menor coactividade – O direito costuma ser mais coativo que a moral
pois a sanção jurídica impõe um comportamento patrimonial e pessoal mais
severo que as sanções morais;

6. Sanção organizada x sanção difusa – As sanções jurídicas são pré-determinadas


pelo Estado e são mais coativas ao passo que as sanções morais são difusas por
serem sustentadas de forma espontânea e plural pela própria sociedade;

AULA 04 – TEORIA DOS CÍRCULOS ÉTICOS E ATRIBUTOS DAS NORMAS


JURÍDICAS

1. Teoria dos círculos éticos

1.1 – Concepção dos círculos éticos concêntricos – a visão jusnaturalista da Idade


Média: Trata-se de uma visão segunda a qual o direito seria o centro do mundo
moral a partir da existência dos chamados direitos naturais – direitos inatos e
universais que decorreriam de um código moral gravado na essência humana
(atuais direitos humanos – vida, liberdade, propriedade...)
Embora tenha o mérito de reconhecer a relação entre direito, moral e justiça,
tal visão é criticada pelo fato de não considerar a relatividade histórico-cultural
dos direitos bem como por não considerar a possibilidade de tratamentos
diferentes dados pela moral e pelo direito ao comportamento humano.

Thiago Coelho (@taj_studies)


1.2 – Concepção dos círculos éticos separados – a visão positivista da Idade
Moderna: Trata-se de uma visão segunda a qual direito e moral seriam esferas
éticas totalmente independentes. O direito regularia o Estado enquanto a moral
regularia as relações privadas (organização da sociedade civil). Nesse sentido, os
juristas não poderiam utilizar as suas convicções morais para criar, interpretar e
aplicar o direito.
Em primeiro lugar, a separação entre direito e moral produziu inúmeras
injustiças. Tal concepção é incapaz de visualizar a possibilidade de zonas de
interseção entre essas duas esferas, bastante evidente na contemporaneidade.
Vale salientar também que essa perspectiva esteve vinculada, em alguns
momentos, à consolidação de regimes totalitários, como por exemplo, sendo
utilizada pelos nazistas para justificar as perversidades cometidas contra os
judeus (previsto por lei mas fora do campo da moral).

1.3 – Concepção dos círculos secantes – a visão pós-positivista da Idade


Contemporânea: Trata-se de uma concepção segunda a qual direito e moral
apresentariam uma zona de intersecção, mantendo, contudo, zonas
independentes na regulação do comportamento humano. Nessa zona de
intersecção, encontraríamos os direitos humanos afirmados no plano
constitucional.
É a partir dessa perspectiva, sobretudo a partir do término da Segunda Guerra
Mundial, que os debates em relação aos direitos humanos foram ampliados assim
como o estabelecimento de tratados internacionais. A criação da ONU também
constituiu um fato de extrema relevância. Embora tal visão tenha permitido a
retomada do debate sobre a justiça, ela é criticada por ampliar a insegurança
jurídica, além de permitir os decisionismos arbitrários pelo judiciário.

Thiago Coelho (@taj_studies)


A valorização de princípios como igualdade, equidade, equilíbrio contribuiu
para a consolidação da análise zetética do direito sendo vista por muitos como
sinônimo de insegurança.

Humanos
Direitos
2. Atributos das normas jurídicas

2.1 – Validade: Consiste na adequação vertical da norma jurídica inferior com a


norma jurídica superior ou, colocando de outra forma, consiste na
compatibilidade entre uma norma jurídica inferior e uma norma jurídica superior.
Para a verificação da validade, revela-se importante o uso da pirâmide normativa
de Hans Kelsen

Normas individualizadas (contratos, testamentos, decisões judiciais)  Normas


internas (estatutos e regimentos)  Decretos regulamentares (regulamentos
para execução da lei)  Normas legislativas (medidas provisórias, leis
complementares, leis ordinárias...)  Normas constitucionais (Originárias e
derivadas):

Por exemplo, um edital de um concurso público deve, obrigatoriamente,


submeter-se à Constituição e, consequentemente, às leis superiores.

Thiago Coelho (@taj_studies)


2.1.1 – Validade formal – consiste na possibilidade de uma norma jurídica
superior estabelecer a forma de criação da norma jurídica inferior. Nesse
sentindo, a norma superior estabelece a competência (quem) e o
procedimento (como) da norma inferior;
2.1.2 – Validade material – diz respeito à possibilidade da norma jurídica
superior estabelecer o conteúdo da norma jurídica inferior (Por exemplo,
a ideia de que o consumidor deve ser protegido levou à criação do Código
de Defesa do Consumidor);

2.2 – Vigência: Consiste no tempo de validade de uma norma jurídica (“tempo de


vida”). Existem normas de vigência determinada e normas de vigência
indeterminada.

2.2.1 – As normas de vigência determinada são aquelas que possuem tempo


(prazo) determinado. Por exemplo, ao analisarmos um contrato por
tempo determinado – um jogador assinou um contrato com um time por
3 anos;
2.2.2 – As normas de vigência indeterminada são aquelas que não preveem
término da sua validade. Por exemplo, podemos considerar a Constituição
de 1988 (“Constituição Cidadã”) para ilustrar essa observação;

OBS: Caducidade x Revogação – Caducidade corresponde ao fim da vigência


determinada de uma norma jurídica. A Revogação vincula-se à substituição de
uma norma jurídica por outra que trata do mesmo tema de modo diverso. A
revogação é controlada nas hipóteses de normas de vigência indeterminada. Vale
ressaltar que a revogação de uma norma de vigência indeterminada pode resultar
em outra de vigência indeterminada ou em uma de vigência determinada;

 Tipos de Revogação:
a) Total ou parcial – Em uma revogação total, como o ocorrido na Constituição
de 1988 em relação a anterior (1967), ocorre uma alteração global da norma
jurídica antecedente. Em uma revogação parcial, altera-se alguns dispositivos
da norma anterior, como por exemplo, a revogação do Código Comercial pelo
Civil;

b) Expressa ou tácita – Em uma revogação expressa ocorre uma alteração


textual, como a ocorrida no Código Civil. Em compensação, o oposto verifica-
se em uma revogação tácita, como a revogação da antiga Lei de Imprensa
pela Constituição de 1988;

Thiago Coelho (@taj_studies)


OBS: Incidência imediata x incidência mediata – A primeira vincula-se à relação entre a data
de publicação e o início de sua vigência, sem a presença de um intervalo. Por outro lado,
uma incidência mediata relaciona-se à ocasião em que a norma jurídica inicia a sua vigência
após a sua publicação, sendo previsto um prazo de vacatio legis (um “intervalo”,
geralmente, de 45 dias de acordo com o artigo primeiro da LINDB caso não houver uma
explícita vigência);

OBS: Repristinação - É a restauração (“ressureição”) dos efeitos jurídicos de uma norma


revogada pela revogação da norma revogadora. No Brasil, admite-se tão somente a
repristinação expressa, conforme o artigo segundo da LINDB (L1, L2, L3 – L3 revoga L2 e
restaura a L1, por exemplo);

2.3 – Vigor: Consiste na força vinculante de uma norma jurídica que regula os fatos
ocorridos durante a sua vigência, permanecendo a eles vinculados mesmo após a
sua vigência. A sistemática geral do vigor compreende três princípios – o princípio
da segurança jurídica, o princípio de que o tempo rege o ato e o princípio da
irretroatividade das leis

2.3.1 – O princípio da segurança jurídica: realização da previsibilidade na


aplicação do direito
2.3.2 – O princípio de que o tempo rege o ato: os atos jurídicos se regem pela
lei da época em que ocorreram, sendo essa utilizada como parâmetro
para tomar decisões sejam elas administrativas ou judiciais
2.3.3 – O princípio da irretroatividade das leis: uma lei nova não retroage, ou
seja, não pode voltar ao passado, não considerando situações já
consolidadas na vigência da lei anterior

O sistema de vigor comporta algumas exceções. A principal exceção é encontrada


no Direito Penal: A Lei Penal retroage para beneficiar o réu, conforme estabelece
o artigo quinto da Constituição e do Código Penal Brasileiro.

Ex: Thiago e Bruno firmaram um contrato em 2019. Em 2020, passa a entrar em


vigência uma nova lei. Em 2021, os dois se desentendem e Thiago entra com uma
ação contra Bruno. A lei de 2019, embora não esteja mais em vigência, encontra-
se em vigor para esse contrato estabelecido entre os dois.

2.4 – Eficácia: Consiste na possibilidade concreta de produção de efeitos jurídicos.

Thiago Coelho (@taj_studies)


2.4.1 – Eficácia técnico-jurídica: aplicabilidade – Uma norma jurídica é aplicável
quando ela produz os seus efeitos independentemente da criação de outra
norma jurídica (Ex: Brasília é a capital federal).
Um exemplo de norma que não possui aplicabilidade trata-se do artigo
153, inciso 7 da Constituição de 1988. A Constituição estabelece que
compete à União legislar sobre impostos sobre grandes fortunas nos
termos de lei complementar (depende, portanto, da lei complementar que
ainda não foi elaborada).

2.4.2 – Eficácia social: efetividade – É a adequação fática de uma norma


jurídica com a realidade social, quando seus preceitos são, de fato,
observados pelos conjuntos dos agentes sociais.
Entre a legitimidade e a efetiva encontra-se um grande caminho,
principalmente em países como o Brasil, ilustrado, por exemplo, no
Estatuto do Idoso que embora tenha uma aprovação social elevada,
carece de maior eficácia (respeito a filas e a vagas preferenciais...);
Um exemplo de normas eficazes são verificadas no trânsito

2.5 – Legitimidade: Consiste na adequação valorativa da norma jurídica. A norma


legítima é aquela que é considera justa pela maioria da sociedade em dado
contexto histórico-cultural. Ex: A Lei da Ficha Limpa, baseada na cassação de
mandatos políticos de indivíduos que foram desmascarados em crimes
impactantes, apresenta uma aprovação significativa pela população.

AULAS 05 E 06 – CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

1. Quanto ao sistema:
Thiago Coelho (@taj_studies)
1.1 - Normas estrangeiras: São normas jurídicas que são criadas fora do território de
um Estado soberano no âmbito da comunidade jurídica internacional. Ex:
Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU – 1948);
1.2 - Normas internas: São normas jurídicas produzidas no âmbito de um dado
ordenamento jurídico nacional. Ex: A Constituição Federal Brasileira de 1988;

2. Quanto à relação com a vontade:


2.1 – Normas cogentes: São normas que impõem preceitos obrigatórios os quais não
podem ser afastados pelas vontades das partes. Ex: A legislação tributária;
2.2 – Normas dispositivas: São normas que admitem a modulação dos efeitos pela
vontade das partes (são mais facilmente relativizadas, flexíveis...). Ex: As normas
do Código Civil que tratam do regime patrimonial de bens do casamento
(comunhão total e comunhão parcial);

3. Quanto à relação entre as normas jurídicas:


3.1 – Normas primárias: São normas que regulam diretamente o comportamento
humano seja para permitir, proibir e obrigar uma dada conduta. Ex. Art. 121 do
CPB – crime de homicídio;
3.2 – Normas secundárias: São normas que regulam o modo de criação,
interpretação e aplicação de outras normas jurídicas. Ex: O artigo primeiro da
LINDB – determina uma incidência mediata de 45 dias (normas que tratam de
outras normas);

4. Quanto à sistematização legal:


4.1 – Normas codificadas: São normas que integram os códigos (leis dotadas de
grande generalidade e abstração, além de serem oriundas de um projeto único
discutido no âmbito de um parlamento). Ex: Código Civil, Código Penal, Código
Tributário, Código de Defesa do Consumidor...;

4.2 – Normas consolidadas: São normas que pertencem às consolidações (leis que
reúnem normas específicas de outras leis preexistentes, não apresentando a
mesma generalidade e coerência lógica que os códigos). Resumindo, são normas
jurídicas que resultam da reunião ou da justaposição de leis esparsas vigentes
sobre um mesmo assunto. Ex: A CLT – consolidação das leis do trabalho;

4.3 – Normas esparsas ou extravagantes ou especiais: São aquelas normas que


tratam de aspectos éticos e jurídicos relativos a um campo bastante
particularizado da vida humana em sociedade. Elas criam os chamados
microssistemas jurídicos. A segunda metade do século XX, tendo em vista uma
sociedade cada vez mais heterogênea, é caracterizada pela expansão desses
Thiago Coelho (@taj_studies)
microssistemas jurídicos. Ex: Estatuto do Idoso, Lei Maria da Penha, Estatuto da
Igualdade Racial, Estatuto do Índio, Estatuto da Pessoa com deficiência, Estatuto
da Criança e do Adolescente;

5. Quanto à estrutura:

5.1 – Princípios: São normas jurídicas dotadas de abertura semântica, generalidade e


carga valorativa, que aproximam o direito da moral, potencializando a realização
da justiça (associação com os poros de uma pele ou com as janelas de um
edifício). Ex: Princípios da dignidade da pessoa humana e da cidadania – Art 1 da
Constituição de 1988;

OBS: A aplicação dos princípios exige um esforço hermenêutico muito maior,


sendo denominada de concretização da atividade interpretativa que delimita o
significado de um princípio (vínculo com uma análise zetética do direito). Se não
bastasse a concretização de um princípio, muitas vezes os princípios entram em
choque com outros, gerando uma necessidade de ponderação;

5.2 – Regras: São normas que descrevem situações específicas, estabelecendo


previamente as consequências jurídicas para os aplicadores do direito. O papel
das regras é estabelecer marcos de segurança jurídica para gerar previsibilidade
social (vínculo com uma análise dogmática do direito). As regras são aplicadas
através de uma atividade lógico-dedutiva denominada subsunção (premissa
maior + premissa menor = conclusão). Ex: artigo 82 da Constituição Federal de
1988 – o mandato do presidente da república possui a duração de 4 anos.

6. Quanto ao grau de aplicabilidade:

6.1 – Normas de aplicabilidade plena: São normas jurídicas que produzem os seus
efeitos independentemente da criação de outras normas jurídicas. Ex: Brasília é a
capital federal (artigo 18, parágrafo primeiro da Constituição Federal de 1988);

6.2 – Normas de aplicabilidade limitada: São normas que dependem da criação de


outra norma jurídica para produzir os seus efeitos. Ex: Artigo 153, inciso 7 –
compete à União a aplicação de impostos sobre grandes fortunas tendo em vista
a elaboração de uma lei complementar;

6.3 – Normas de aplicabilidade contida ou restringível: Conjunto de normas cujas


produções em um primeiro momento apresenta a possibilidade de uma restrição
de seus efeitos originais por conta da elaboração de uma norma posterior. Ex:
Thiago Coelho (@taj_studies)
Artigo 5, inciso 13 da Constituição Federal - Estabelece a liberdade de qualquer
ofício ou profissão de acordo com as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;

6.4 – Normas de aplicabilidade exaurida: Normas que produzem os seus efeitos no


mundo dos fatos por conta de um evento específico, permanecendo assim
vigente por força de mera reminiscência histórica. Ex: Artigo 2 do ato das
disposições tradicionais transitórias – no dia 07 de setembro de 1993 será
realizado um plebiscito para a escolha da forma e estrutura do governo;

7. Quanto aos âmbitos de validade:

7.1 – Validade espacial: contempla as normas gerais e as especiais. As normas gerais


são válidas em todo o território nacional – Ex: A Constituição Federal de 1988, o
Código Penal, entre outras. As normas especiais são normas que alcançam
parcelas específicas do território de um estado soberano – Ex: A Constituição do
Estado da Bahia, a Lei orgânica do munícipio de Salvador, entre outras;

7.2 – Validade pessoal: contempla as normas genéricas e as normas individualizadas.


As normas genéricas são aquelas que alcançam destinatários indefinidos – Ex: o
artigo 5 da Constituição Federal estabelece que todos são iguais perante a lei
(quem são todos? – explícita indefinição).

OBS: Quanto maior a hierarquia, maior a generalidade (relembrar a pirâmide


normativa de Hans Kelsen, contemplada em aulas anteriores);

As normas individualizadas são aquelas que alcançam destinatários definidos.


Vale ressaltar, que quanto menor a hierarquia da norma, maior a sua
individualização. Ex: Ricardo Maurício celebrou um contrato com a Sky;

7.3 – Validade material: contempla as normas de direito público e as normas de


direito privado. As normas de direito público são normas geralmente cogentes
que disciplinam a relação entre órgãos estatais e a relação do Estado com os
cidadãos, tendo em vista a realização do interesse da coletividade. Ex: Artigo 2 da
Constituição Federal – estabelece que são poderes harmônicos e independentes
entre si os poderes legislativo, executivo e judiciário;

As normas de direito privado são normas que disciplinam, geralmente de forma


dispositiva (flexíveis, que podem ser relativizadas..), relações entre particulares
tendo em vista a supremacia do interesse individual. Ex: As normas de contratos
Thiago Coelho (@taj_studies)
civis e comerciais (como o estabelecimento de contratos de prestação de
serviços). Vale salientar que as normas do direito privado visam à supremacia dos
interesses individuais;

OBS: Atualmente verifica-se uma diluição das fronteiras seja porque acontece um
processo de publicitação do direito privado seja porque ocorre,
concomitantemente, um processo de privatização do direito público. Um exemplo
pode ser percebido na aplicação do Código de Defesa do Consumidor;

7.4 – Validade temporal: contempla três subcritérios – vigência, incidência e


reatroatividade

7.4.1 – Vigência – Existem normas de vigência determinada e normas de


vigência indeterminada. As normas de vigência determinada são normas
jurídicas que estabelecem o término de sua validade. Ex: As medidas
provisórias. As normas são ditas de vigência indeterminada quando não
dispuser sobre o final de sua duração. Ex: A Constituição Federal de 1988;

7.4.2 – Incidência – Existem normas de incidência mediata e normas de


incidência imediata. Vale ressaltar que a incidência vincula-se à relação
entre a data de publicação e o início da vigência de uma norma. As
normas de incidência imediata são aquelas que o início da sua vigência
coincide com a data de publicação – Ex: A Constituição Federal de 1988.
As normas de incidência mediata são aquelas que pressupõem a
existência de um prazo de vacância (vacatio legis) entre a data da
publicação e o início da sua vigência – Ex: O Código Civil de 2002 que
previu um vacatio legis de um ano;

OBS: No geral, a maioria das normas jurídicas apresentam incidência imediata;

7.4.3 – Retroatividade – Existem normas retroativas e irretroativas. Normas


retroativas são normas que produzem efeito no passado, alcançando
situações ocorridas antes do início de sua vigência – Ex: A lei nº 11.106/05
que descriminalizou o adultério no Brasil. Vale ressaltar que apenas uma
minoria das normas jurídicas retroagem – no Direito Penal para beneficiar
o réu..., sendo a grande parcela irretroativas– normas que não produzem
efeitos no passado e que produzem efeitos prospectivos do presente em
direção ao futuro – Ex: A Constituição de 1988 não regula ações ocorridas
antes da sua vigência (durante a Ditadura Militar, por exemplo);

Thiago Coelho (@taj_studies)


OBS: As normas são irretroativas, em sua maioria, por força dos princípios da segurança
jurídica, do tempo que rege o ato, a fim de não alterar as situações ocorridas no passado.
Nesse sentido, a lei deve respeitar o direito adquirido à coisa julgada e ao ato jurídico
perfeito.

Conceitos importantes:

 Direito adquirido – é aquele direito que já se incorporou ao patrimônio do


titular - Ex: Um concluinte do Ensino Médio não precisa mais retornar para
buscar ser aprovado em uma disciplina;
 Ato jurídico perfeito – consiste em uma situação jurídica que se
consolidou no passado pelo fato de observar os requisitos legais da época;
 Coisa julgada – corresponde a uma decisão judicial que se tornou
imodificável pois dela não cabe mais recursos - Ex: Um indivíduo precisa
pagar um valor de indenização à pessoa que ele traiu em um momento em
que o adultério era considerado crime. Essa decisão se mantém apesar da
criação da lei que descriminalizou o adultério em 2005;

AULA 07 – FONTES DO DIREITO


1. Fontes do direito são os diversos modos de manifestação da normatividade jurídica
que brotam diretamente da realidade social – Ex facto oritur jus (dos fatos surge o
direito), ou seja, o direito é um produto da realidade social.

2. A etimologia vincula-se à origem dos vocábulos

3. Monismo jurídico x Pluralismo Jurídico:

No âmbito da Teoria dos direitos fundamentais, os monistas defendem que o Estado


seria o único centro produtor das normas jurídicas. Nesse sentido, a sociedade não
produziria o direito. Esta foi a visão defendida pelo positivismo durante a Idade Moderna
(vincula-se à Teoria dos círculos éticos separados).

O Monismo Jurídico entra em crise após a Segunda Guerra Mundial como decorrência da
própria crise do Positivismo. Por sua vez, o Pluralismo Jurídico defende a ideia de que o
direito não é um produto exclusivo do Estado mas, sobretudo, um produto da sociedade.
Este protagonismo social é um decorrência do reconhecimento dos direitos humanos
fundamentais, de reaproximação do direito com a moral e da necessidade da
redemocratização política (vincula-se à Teoria dos círculos éticos secantes).

Thiago Coelho (@taj_studies)


4. Tipologias:

 Fontes materiais x fontes formais – Fontes materiais são todos aqueles elementos
econômicos, políticos e ideológicos que se referem à criação do direito. Eles
oferecem a matéria-prima para a criação do direito e, por conseguinte, das normas
jurídicas (refere-se ao conteúdo e a uma análise zetética).

 As fontes formais do direito são as normas jurídicas propriamente ditas, nascendo da


institucionalização das fontes materiais (fatores econômicos, políticos, ideológicos...)

 As fontes formais se subdividem em estatais e não estatais. As fontes formais estatais


são aquelas fontes normativas que se originam diretamente do Estado – a legislação
e a jurisprudência. As fontes formais não estatais são aquelas fontes que não se
originam dos Estados, brotando diretamente da sociedade civil – os costumes, a
doutrina, os negócios jurídicos e o poder normativo dos grupos sociais

5. Espécies de fontes do direito:

5.1 – Legislação: É uma fonte formal estatal que compreende todas aquelas espécies
legislativas num dado ordenamento jurídico. Uma lei é um conjunto de normas escritas,
abstratas (porque vincula-se a questões hipotéticas e ideias do mundo dever-ser), genérica
(porque se dirige a destinatários indefinidos), de origem predominante parlamentar (porque
geralmente as leis são elaboradas pelo Poder Legislativo, com raras exceções destinadas ao
Executivo) que regulam as relações entre o Estado e os cidadãos (direito público) bem como
as relações entre os agentes privados (direito privado).

O sistema jurídico denominado civil law (de origem romano-germânica e geralmente


associada a países do Ocidente Europeu e por eles colonizados – no caso do Brasil),
compreende a lei como a principal fonte do direito embora não seja a única.

A lei se tornou a principal fonte do direito ocidental após as revoluções liberais burguesas
(Gloriosa, Americana e Francesa)

A Lei garante estabilidade e segurança para o sistema capitalista e também para a


consolidação de regimes democráticos.

OBS: No estado brasileiro entende-se por lei a Constituição Federal de 1988, as constituições
estaduais, as leis orgânicas dos municípios, as leis complementares, as leis delegadas, as leis

Thiago Coelho (@taj_studies)


ordinárias, as emendas constitucionais, os decretos legislativos e as resoluções
parlamentares.

No Brasil, a lei continua sendo a principal fonte do direito mas verifica-se, hoje, o aumento
da relevância da jurisprudência, fonte típica do sistema common law (origem anglo-
saxônica).

5.2 – Jurisprudência: É o conjunto de decisões judiciais no mesmo sentido que formam um


padrão interpretativo capaz de influenciar futuros julgamentos. Trata-se de uma fonte
formal estatal que brota do poder judiciário. Além disso, consiste na principal fonte jurídica
ao lado dos costumes no sistema de common law. No Brasil, após a Constituição de 1988 e o
Código de Processo Civil de 2015, a jurisprudência ganhou enorme relevância no
ordenamento jurídico nacional.

Desde a Constituição de 1988, a jurisprudência vem colaborando para o exercício de um


direito mais justo e mais efetivo, muitas vezes, antecipando alterações na ordem jurídica, a
partir do reconhecimento de direitos implícitos mas não expressos da Constituição. São
exemplos disso os alimentos gravídicos, a guarda compartilhada, o aborto de acefálicos,
entre outros temas.

A jurisprudência aproxima o direito da realidade social.

No Brasil, contudo, critica-se muito a existência de múltiplos entendimentos


jurisprudenciais. Após reiteradas decisões, os tribunais podem produzir súmulas para
sintetizar o entendimento jurisprudencial. Existem dois tipos de súmulas – as súmulas
persuasivas (não obrigatórias) e as súmulas vinculantes (são obrigatórias, sendo impostas
pelo Supremo Tribunal Federal – STF – com base no art.103-A da Constituição inserido pela
emenda constitucional N 45 de 2004. A título exemplificado, o STF já produziu 736 súmulas
persuasivas e 58 súmulas vinculantes.

5.3 – Súmulas: são enunciados interpretativos que sintetizam a jurisprudência dos tribunais.

 Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável,


íntegra e coerente.
§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno,
os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência
dominante.
§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias
fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.

Thiago Coelho (@taj_studies)


5.3.1 – Súmulas persuasivas: São aquelas que não vinculam formalmente o poder
judiciário e a administração pública. A título exemplificativo, o STF já produziu
736 súmulas persuasivas;

5.3.2 – Súmulas vinculantes: São impostas pelo Supremo Tribunal Federal – STF – com
base no art.103-A da Constituição inserido pela emenda constitucional N ° 45 de
2004. A título exemplificativo, o STF já produziu 58 súmulas vinculantes;

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei

https://www.conjur.com.br/2018-jul-12/fernanda-quintas-sumulas-vinculantes-separacao-
poderes

VANTAGENS DAS SÚMULAS VINCULANTES DESVANTAGENS DAS SÚMULAS


VINCULANTES
 Realizam o Princípio da Celeridade  O Princípio da Separação dos
ou Princípio da Rapidez Processual Poderes é comprometido
(implica no desenvolvimento de (supremocracia), a quem veja nisto
relações processuais rápidas); uma função legislativa do judiciário;
 Reforçam o Princípio da Segurança  Comprometem o Princípio do Livre
Jurídica por aumentar a Convencimento Judicial (“positivismo
previsibilidade decisória; sumular” – o juiz torna-se um mero
 Realizam o Princípio da Isonomia aplicador de súmulas com autonomia
Decisória (manutenção de mesmos limitada);
critérios para causas idênticas);  Promovem um engessamento da
 Desafogam o Poder Judiciário, jurisprudência, bloqueando a
abrindo espaço para o julgamento de atualização do direito;
novas causas;  Comprometem o Princípio do Duplo
 Realizam o Princípio da Eficiência Grau de Jurisdição (o direito de
Administrativa no aspecto da recorrer);
economicidade, tendo em vista os  O STF é um tribunal que costuma
elevados custos para a consolidação atuar de forma conservadora em
de um processo; matérias de natureza política e
 Criam um horizonte de estabilidade econômica;
econômica, favorecendo a realização  Abrem o risco para a perpetuação de
de investimentos no mercado; uma interpretação judicial;
Thiago Coelho (@taj_studies)
5.4 – Doutrina: Consiste no conjunto de livros, artigos e obras dos grandes estudiosos
do Direito que tecem os argumentos de autoridade intelectual capazes de
fundamentar a tomada de decisões legislativas, administrativas e judiciais. Ex: O
livro “Teoria Geral do Direito” de Ricardo Maurício Freire Soares;

5.5 – Negócio Jurídico: Consiste na manifestação de vontades unilaterais ou bilaterais


que disciplinam as relações entre os entes privados, produzindo efeitos no mundo
jurídico. Ex: contratos e testamentos;

OBS: Tais negócios jurídicos podem ser escritos ou não escritos. Vale ressaltar que
a maioria dos contratos não estão escritos;

5.6 – Costume Jurídico: É o conjunto de práticas sociais repetidas que se desenvolvem


no plano da convivência humana para estabelecer direitos e deveres jurídicos. Ao
lado da jurisprudência, é a principal fonte jurídica dos sistemas de common law,
embora sejam também utilizados no âmbito do civil law. Ex: No direito brasileiro,
pode-se citar o cheque pré-datado, surgido através dos costumes do direito
comercial. Outro exemplo, é evidenciado na aplicação do 13 ° salário, um costume
que foi convertido em lei;

OBS: O Costume Jurídico pode interferir na eficácia social (eficiência) de uma


norma jurídica e não possui vínculos com o atributo denominado validade.

OBS: Os costumes jurídicos, diferentemente da legislação, não apresentam forma


escrita (jus non scriptum);

5.7 – Poder normativo dos grupos sociais: Consiste no poder de criar novas normas
jurídicas no plano das diversas instituições que compõem a sociedade. Trata-se de
um exemplo do Pluralismo Jurídico. Ex: Convenções condominiais, regulamentos de
empresas...;

AULAS 09 E 10 – TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO


1. Conceito - Trata-se da parte da Teoria Geral do Direito que sustenta a possibilidade
do direito ser estudado como um sistema. Enquanto a Teoria da Norma Jurídica
estuda as normas jurídicas isoladamente, a Teoria do Ordenamento Jurídico examina
a relação das normas jurídicas entre si. Tendo em vista a construção de um sistema
jurídico.

Thiago Coelho (@taj_studies)


Entende-se por sistema um conjunto de elementos ordenados racionalmente. Todo
sistema compreende um repertório (conjunto de elementos) e uma estrutura
(padrão de organização dos elementos). Todo sistema é uma tentativa de
organização racional de uma realidade caótica.

2. A noção de sistema jurídico – No mundo do direito é possível também concebermos


a noção de sistema jurídico, havendo algumas concepções que discutam a
hegemonia na teoria jurídica. De um lado podem ser encontrados defensores da
ideia de um sistema jurídico circular, tendo como maior expoente o pensador Niklas
Luhmann.

De outro lado, encontra-se a corrente da visão de um sistema jurídico piramidal, a


qual é defendida, dentre outros, pelo jurista Hans Kelsen, autor da Teoria Pura do
Direito. Essa segunda concepção apresenta-se, contudo, mais didática e operacional
para o jurista prático, embora se revele limitada em sua utilização dos sistemas de
common law, baseados na jurisprudência e nos costumes.

3. O problema da completude: lacunas jurídicas

3.1 - O problema da completude diz respeito à possibilidade do sistema jurídico


oferecer respostas para todos os fatos da realidade social. De um lado existem
defensores da completude do sistema jurídico, isto é, ausência de lacunas,
inspirados no positivismo jurídico. De outro lado, existem os defensores da
incompletude da ordem jurídica que reconhecem a existência de lacunas,
inspirados no pós-positivismo jurídico.

Thiago Coelho (@taj_studies)


ARGUMENTOS EM PROL DA COMPLETUDE ARGUMENTOS EM PROL DA
INCOMPLETUDE
 O direito seria completo pois tudo o  O direito seria incompleto pois a
que não está juridicamente proibido, sociedade se transforma num ritmo
está juridicamente permitido; mais célere (rápido) do que o direito,
 O direito seria completo pois a daí surgindo as lacunas jurídicas. A
própria ordem jurídica prevê os existência dos mecanismos de
mecanismos de integração do direito integração do direito é a
(analogias, costumes, princípios demonstração da existência de
gerais do direito e equidade); lacunas;
 O direito seria completo pois o  O direito é incompleto pois o
julgador não pode deixar de decidir, legislador não está dotado de
alegando a falta e a obscuridade da perfeição racional (é incapaz de
lei (a decisão judicial como reposta prever o futuro e dar conta de todos
normativa); os fatos presente). Sendo assim, após
a Segunda Guerra Mundial, firmou-se
o entendimento de que o direito se
revela incompleto e lacunoso, visão
hoje considerada predominante na
Teoria do Direito;

3.2 – Lacunas jurídicas: conceito e tipologias –

3.2.1 – Conceito: Consiste em qualquer imperfeição que compromete a


completude do sistema jurídico, seja pela incongruência normativa, seja
pela incongruência fática ou valorativa;

3.2.2 – Tipologias:

3.2.2.1 – Normativas: São as lacunas tradicionais que se manifestam toda vez


que se verifica a ausência de norma jurídica para tratamento da
matéria. Ex: Ausência de legislação específica no Brasil sobre o uso da
inteligência artificial (IA) para processos judiciais;

3.2.2.2 – Fáticas: São as lacunas jurídicas que se verificam toda vez que a
norma jurídica vigente deixa de ser observada no âmbito dos fatos
sociais (perda de efetividade). Ex: a prática do jogo do bicho;
Thiago Coelho (@taj_studies)
3.2.2.3 – Valorativas ou axiológicas: Ocorre toda vez que a norma jurídica,
embora vigente, perde contato com a realidade social no tocante à
ideia de justiça (perda da legitimidade). Ex: A obrigatoriedade do voto,
previsto no art 14 da CF/1988;

4. Integração do direito

4.1 – Conceito: Consiste na atividade de preenchimento das lacunas normativas


fáticas e valorativas com o objetivo de restaurar a completude da ordem jurídica.

4.2 – Instrumentos: A ciência jurídica oferece quatro instrumentos de integração do


direito, os quais podem ser utilizados em conjunto ou isoladamente. O
ordenamento jurídico brasileiro prevê todos eles nos planos legislativo,
jurisprudencial e doutrinário. Nesse cenário, não há uma hierarquia entre esses
instrumentos.

4.2.1 – Analogia: Consiste na aplicação de uma norma jurídica que trata de


uma dada situação social a uma outra situação social semelhante, que,
contudo, não se encontra disciplinada expressamente. O raciocínio
analógico está baseado na identificação relevantes de similitude. Ex: A
aplicação da lei de proteção aos animais aos presos políticos durante a
Ditadura Militar brasileira. Outro exemplo consiste na aplicação analógica
da guarda compartilhada para animais;

O uso da analogia não tem a mesma amplitude nos mais diversos ramos jurídicos.
Naqueles ramos regulados pelo princípio da legalidade estrita, a analogia é vista com
reservas, sendo utilizada de modo excepcional. Por exemplo, no direito penal, a
analogia só pode ser usada para beneficiar o réu.

4.2.2 – Costumes: São práticas sociais reiteradas que criam normas não
escritas para solucionar lacunas jurídicas. Ex: A possibilidade do uso de
costumes para o preenchimento das lacunas contratuais, conforme
estabelecido pelo Código Civil brasileiro;

4.2.3 – Princípios gerais do Direito: São normas expressas ou implícitas,


constitucionais ou infraconstitucionais que aproximam o direito da moral,
potencializando a realização da justiça. Os princípios gerais devem ser
Thiago Coelho (@taj_studies)
utilizados, sobretudo, no preenchimento de lacunas fáticas e valorativas
(axiológicas). Ex: O uso do princípio da insignificância na hipótese de furtos
famélicos (aqueles utilizados para saciar necessidades urgentes);

4.2.4 – Equidade: Trata-se da realização do sentimento de justiça do julgador


diante de um caso concreto. Vale dizer, seria a autorização conferida ao
aplicador do direito a fazer um juízo moral. Ex: O art segundo da lei
brasileira de arbitragem, que autoriza expressamente o uso do juízo
equitativo na resolução extrajudicial de certos conflitos de interesses;

5. O problema da coerência: antinomias jurídicas e os critérios de solução dos


conflitos normativos

5.1 – Conceito: Exige-se que o sistema jurídico não apresente contradições ou se elas
ocorrerem, o ordenamento jurídico possa solucionar tais contradições;

5.2 - Antinomias jurídicas: São conflitos normativos que se manifestam toda vez que
uma norma permite e outra proíbe uma mesma conduta, gerando uma situação
de capaz de comprometer a coerência do sistema jurídico. Ex: A abertura dos
templos religiosos e o conflito entre os direitos de liberdade religiosa, saúde e
vida;

5.3 – Critérios de solução dos conflitos normativos

5.3.1 – Hierárquico: Conforme a pirâmide normativa de Hans Kelsen, conflito


entre norma jurídica superior e norma jurídica inferior, prevalece a norma
jurídica superior. Ex: A Constituição Federal que prevê a igualdade de
gênero prevalecerá diante de um concurso que reserva um maior número
de vagas a pessoas do sexo masculino;

5.3.2 – Cronológico: Havendo conflito entre posterior e uma norma anterior,


ambas da mesma hierarquia, prevalece a norma posterior (a mais nova).
Ex: Conflito entre o Código Civil de 1916 e o Código de Defesa do
Consumidor de 1990 em matéria de contratos bancários;

5.3.3 – Especialidade: Pelo critério da especialidade, havendo conflito entre


norma geral e norma especial, estando na mesma hierarquia, prevalece a
norma especial. Ex: No conflito entre o Código de Defesa do Consumidor e
Thiago Coelho (@taj_studies)
o Estatuto do Idoso no que se refere ao direito ao transporte dos idosos
consumidores, prevalecerá o Estatuto do Idoso;

OBS: Discute-se muito sobre a chamada antinomia de conflito: o conflito gerado entre
uma norma anterior especial e uma norma posterior geral, ambas da mesma
hierarquia. Não há aqui um meta-critério que possa ser utilizado para solucionar
eventuais conflitos normativos, cabendo ao aplicador do direito aplicar as normas
conforme a especificidade do caso concreto.

5.3.4 – Ponderação de bens e interesses: Toda vez que um princípio


constitucional entrar em choque com outro princípio, não será possível a
utilização dos critérios anteriores, restando o uso da ponderação. Ela
consiste no estabelecimento de uma relação de prioridade concreta entre
os princípios em disputa após a investigação zetética dos fatos e valores
envolvidos (busca por uma conciliação harmônica). Ex: O conflito entre o
princípio da liberdade religiosa e o princípio da igualdade do caso de
candidatos adventistas.

Em matéria de ponderação de bens e interesses, não há uma única resposta


correta, podendo haver a prevalência de diversos princípios a depender das
circunstâncias dos casos concretos. Não há, assim, uma hierarquia prévia dos
princípios constitucionais entre si. A sua prevalência é estabelecida
concretamente, utilizando-se da razoabilidade.

Os críticos da ponderação de bens e interesses referem que não haveria uma


racionalidade na interpretação da ponderação, constituindo-se numa fachada
pseudocientífica para as escolhas subjetivas dos aplicadores do direito (é a
história do cavalo de troia). Ex: No caso da discussão da abertura de templos
religiosos em tempos de pandemia, um intérprete considerado um cristão
fervoroso está sujeito a uma ponderação distinta daquele intérprete considerado
ateu. A ponderação seria apenas um disfarce das escolhas subjetivas dos
operadores do direito.

AULA 11 – RELAÇÃO JURÍDICA


1. Conceito: Trata-se do vínculo intersubjetivo que se estabelece toda vez que um fato
materializa uma hipótese abstrata da norma jurídica, polarizando de um lado um
sujeito ativo, titular do direito subjetivo e um sujeito passivo, obrigado ao
cumprimento de um dever jurídico. Ademais trata-se de um vínculo intersubjetivo

Thiago Coelho (@taj_studies)


que justifica a aplicação de uma sanção jurídica para aquele que pratica uma
ilicitude.

2. Características: Como já examinado anteriormente, a relação jurídica é bilateral e


exterior porque supõe manifestações concretas no mundo dos fatos.

3. Elementos constitutivos:

3.1 – Fato jurídico: Consiste em todo e qualquer acontecimento humano (voluntário) ou


natural (involuntário) que materializa uma hipótese abstrata da norma jurídica,
produzindo consequências no mundo do direito. O fato jurídico em sentido amplo
compreende duas categorias: o fato jurídico em sentido estrito e o ato jurídico.

a) O fato jurídico em sentido estrito - É o fato jurídico, de caráter involuntário, que


realiza a forma abstrata da norma jurídica para produzir consequências no
mundo do direito. Ex: Nascimento, morte natural e a passagem do tempo;

b) O ato jurídico - É o ato que realiza uma hipótese normativa que produz efeitos
no mundo do direito. Ex: Celebração de contratos;

3.2 – Sujeitos de direito: São todos aqueles entes que integram os polos ativo e passivo
de uma relação jurídica. Como sujeito ativo, titularizando direitos subjetivos; como
sujeito passivo, obrigando-se ao cumprimento de um dever jurídico.

Os sujeitos de direito podem ser:

a) Pessoas naturais ou físicas – São pessoas dotadas de estrutura corpórea cujo


surgimento ocorre a partir do nascimento com vida. Ex: O professor Ricardo
Maurício Freire Soares;

b) Pessoas jurídicas – São pessoas dotadas de existência abstrata ou ficta, as quais


se apresentam como criações do espírito humano desprovidas, portanto, de
existência concreta. Existem pessoas jurídicas tanto do direito privado, que
atuam nas relações entre particulares - ex: sociedades comerciais, agrupamento
de indivíduos que visam a bens lucrativos (bancos, empresas...) e associações
civis, agrupamento de indivíduos que visam a bens não lucrativos (grêmios
estudantis...); como também existem pessoas jurídicas no direito privado,
responsáveis por representar coletividades - ex: organismos internacionais,
Estados soberanos e entes federativos.

Thiago Coelho (@taj_studies)


c) Entes despersonalizados – São sujeitos desprovidos de personalidade que não
interagem, titularizando, contudo, direitos e obrigados a cumprir. Ex: nascituro
(ser que encontra-se em formação dentro do útero materno) – isso justifica a
proibição do aborto no Brasil tendo em vista que fere o direito à vida do
indivíduo;

OBS: Não se pode confundir pessoa física e pessoa jurídica mas em situações
excepcionais em que há riscos de fraudes a credores admite-se a aplicação da teoria da
desconsideração da pessoa jurídica;

OBS: Atualmente constata-se que está em curso um processo de reconhecimento de


novos sujeitos de direitos. A título exemplificativo pode-se citar animais e entes dotados
de inteligência artificial (IA);

3.3 – Dever jurídico: Trata-se do conjunto de obrigações assumidas pelo sujeito passivo
da relação jurídica, contemplando três obrigações:

a) Obrigação de fazer – Corresponde à obrigação de realizar um dado


comportamento, como, por exemplo, a prestação de um serviço;

b) Obrigação de não fazer – Corresponde a uma abstenção, como, por exemplo,


respeitar a vida alheia (não se pode matar o outro) e preservar o sigilo
profissional (não se pode falar da vida do cliente a outras pessoas);

c) Obrigação de dar – Corresponde à obrigação de entregar um bem, como, por


exemplo, o pagamento de um tributo;

Tipologias dos deveres jurídicos:

3.3.1 – Dever jurídico patrimonial x dever jurídico extrapatrimonial – O dever jurídico


patrimonial é aquele dever jurídico que possui conteúdo econômico. Ex: O
pagamento de um tributo. O dever jurídico extrapatrimonial é aquele que não
apresenta conteúdo econômico. Ex: O respeito à vida alheia;

3.3.2 – Dever jurídico positivo x dever jurídico negativo – O dever jurídico positivo é
aquele que consagra uma obrigação de dar e/ou uma obrigação de fazer. Ex: A
prestação de um serviço. O dever jurídico negativo é aquele que corresponde a
uma obrigação de não fazer. Ex: A preservação do sigilo profissional;

Thiago Coelho (@taj_studies)


3.3.3 – Dever jurídico instantâneo x dever jurídico sucessível – O dever jurídico
instantâneo é aquele que se consuma em um único ato. Ex: O pagamento a vista.
O dever jurídico sucessível é aquele que se projeta no tempo, compreendendo
diversas prestações ao longo do tempo. Ex: O pagamento de pensão alimentícia;

3.3.4 – Dever jurídico público x dever jurídico privado – O dever jurídico público é
aquele cumprido no âmbito de uma relação em que o Estado figure como parte.
Ex: O pagamento do auxílio emergencial em tempos de pandemia. O dever
jurídico privado é aquele cumprido no âmbito de relações entre os particulares.
Ex: O pagamento do salário de um empregador a um empregado;

3.4 - Direito subjetivo: Trata-se do conjunto de faculdades ou poderes conferidos pela


norma jurídica ao sujeito ativo da relação jurídica. A título exemplificativo pode-se
citar os direitos de propriedades e as faculdades de usar, gozar e dispor de um dado
bem

OBS: O objeto do direito subjetivo é nada mais nada menos que o cumprimento do dever
jurídico correlato;

Tipologia dos direitos subjetivos

3.4.1 - Direito subjetivo patrimonial x direito subjetivo extrapatrimonial – O direito


subjetivo patrimonial é aquele que se vincula a conteúdo econômico. Ex: O direito
de propriedade privada tem conteúdo econômico. O direito subjetivo
extrapatrimonial é aquele que está fora do comércio jurídico. Ex: O direito de
liberdade de locomoção;

3.4.2 – Direito subjetivo público x direito subjetivo privado – O direito subjetivo público
é aquele direito exercido no âmbito de uma relação em que o Estado integre um
sujeito. Ex: O direito subjetivo à segurança pública. O direito subjetivo privado é
aquele exercido no âmbito de uma relação entre particulares. Ex: O direito de
crédito trabalhista;

3.4.3 – Direito subjetivo absoluto x direito subjetivo relativo – O direito subjetivo


absoluto é aquele exercido no âmbito de uma relação no qual o sujeito passivo é
indeterminado. Ex: O direito à vida e o direito de propriedade privada - nesse caso
o dever jurídico negativo é, na verdade, a obrigação imposta a toda comunidade
jurídica. O direito subjetivo relativo é aquele exercido perante um sujeito passivo

Thiago Coelho (@taj_studies)


determinado. Ex: O direito de crédito trabalhista, o direito de crédito comercial –
nesse caso o sujeito passivo cumpre uma obrigação de fazer ou de dar;

3.5 – Ilicitude: É o comportamento positivo ou negativo que contraria preceitos da


normatividade jurídica seja pelo descumprimento do dever jurídico pelo sujeito
passivo (inadimplemento) seja pelo exercício abusivo, desproporcional ou
desarrazoado pelo sujeito ativo.

OBS: A ilicitude é a forma mais grave de infração ética quando comparada à


imoralidade e à descortesia;

OBS: Vale ressaltar que a maioria dos comportamentos humanos são lícitos, sendo
somente uma minoria integrante da zona da ilicitude;

Exemplo de inadimplemento – um cliente não paga um tributo; Exemplo de exercício


abusivo pelo sujeito ativo – uma operadora telefônica passa a ligar para o cliente
inadimplente em horários não comerciais e enche-o de e-mails.

3.6 – Sanção jurídica: Trata-se da consequência patrimonial (Ex: multa de trânsito) ou


pessoal (Ex: a pena de morte, a privação da liberdade...) imputada ao ilícito como
consequência deste comportamento proibido pelo direito. Nas sociedades
ocidentais contemporâneas, a sanção jurídica apresenta natureza organizada, isto é,
previamente determinada pelo monopólio do Estado.
OBS: A sanção jurídica apresenta função punitiva, educativa e preventiva;

AULA 12 – JUSNATURALISMO E POSITIVISMO LEGALISTA


1. Jusnaturalismo

1.1 – Conceito: Trata-se da doutrina dos direitos naturais: direitos universais e imutáveis
que decorreriam da própria natureza humana;

1.2 – Teses fundamentais:

1.2.1 – Reconhecimento de um código de justiça ética único, gravado na essência


humana e base para o exercício dos direitos naturais. Ex: Quando um indivíduo
agride um idoso, esse já tem consciência automática de que cometeu uma
ilicitude;

Thiago Coelho (@taj_studies)


1.2.2 – Superioridade dos direitos naturais em face do direito positivo – o direito criado
pelo Estado deve respeitar. Ex: Se o direito à vida trata-se de um direito natural, o
Estado jamais poderia criar uma norma que prevê pena de morte;

1.3 – Fases do pensamento:

1.3.1 – Jusnaturalismo cosmológico (Idade Antiga): para tal concepção a fonte dos
direitos naturais seria a harmonia com o universo. Ex: Os sofistas são
considerados os responsáveis por fundar as bases do Jusnaturalismo, sendo ainda
na Idade Antiga, essa doutrina desenvolvida mais precisamente por nomes como
Platão e Aristóteles;

1.3.2 – Jusnaturalismo teológico (Idade Média): consiste na perspectiva da Idade


Média, segunda a qual a vontade divina como a fonte da justiça e dos direitos
naturais. Por exemplo, pode-se citar os pensamentos de Santo Agostinho e de
São Tomás de Aquino – baseados na crença de que a razão encontrava-se a
serviço da fé;

1.3.3 – Jusnaturalismo racionalista (Idade Moderna): para tal concepção, a fonte da


justiça e dos direitos naturais seria a razão humana universal. A título
exemplificativo, pode-se citar Immanuel Kant, no que tange a crítica à razão pura
e crítica à razão prática – baseado na busca por se estabelecer normas de
conduta universais (não farei com o outro aquilo que não quero que se faça
comigo);

1.3.4 – Jusnaturalismo cosmopolita (Idade Contemporânea): para tal concepção, o


fundamento dos direitos naturais, agora denominado direitos humanos, seria o
consenso internacional estabelecido por diversos povos ou nações;

1.4 – Balanço de críticas:

CRÍTICAS POSITIVAS CRÍTICAS NEGATIVAS


 Possibilita o debate sobre a  O Jusnaturalismo confunde validade
legitimidade de um direito justo; com legitimidade – para os adeptos,
 O Jusnaturalismo desenvolveu a aquilo que seria injusto não seria
primeira noção de sistema jurídico válido, gerando uma intensa
(um prédio de dois andares – direito confusão;
natural acima do direito positivo).  A ideia de justiça varia no tempo e no
Assim, percebe-se o início de um espaço – negligenciam a concepção
debate acerca da existência de uma de que as normas éticas são flexíveis

Thiago Coelho (@taj_studies)


hierarquia normativa; e, portanto, mudam a depender do
 O Jusnaturalismo possibilitou a contexto;
consolidação da democracia, tendo  Os direitos naturais não existem pois,
em vista o desenvolvimento da teoria a rigor, os direitos são criados pela
dos direitos humanos; sociedade dentro de contextos
histórico-culturais;

OBS: Apesar de ter perdido força, o Jusnaturalismo ainda existe, percebendo-se nos
dogmas religiosos, por exemplo, em relação ao estigma associado ao aborto que, em
tese, fere o direito à vida;

2. Positivismo Legalista

2.1 – Conceito e origem: Trata-se de uma concepção surgida na Idade Moderna, após as
revoluções liberais burguesas dos séculos XVII e XVIII (Revolução Gloriosa,
Independência dos Estados Unidos e Revolução Francesa). Trata-se da doutrina do
direito positivo, expresso nas leis – defendendo a supremacia do direito positivo,
geralmente corporizado em leis;

Este legalismo se justificava pela ascensão da burguesia, pelo desenvolvimento do


capitalismo moderno e pelo racionalismo – a lei passa a garantir maior segurança
(estabilidade) ao sistema capitalista, sendo essa lei também um projeto de
racionalização da vida humana em sociedade.

A principal manifestação do Positivismo Legalista foi a chamada Escola de Exegese,


formada pelos comentadores do Código Napoleônico de 1804. Partindo desse
pressuposto, o Positivismo Legalista não se delimitou à França mas foi nela em que
essa doutrina teve o seu maior expoente.

2.2 – Teses fundamentais:

2.2.1 – Identificação do direito com a lei (Legalismo Extremado);


2.2.2 – Defesa do monismo jurídico (O Estado como fonte do direito);
2.2.3 – Crença na perfeição racional do legislador (O legislador seria absoluto, capaz de
criar leis perfeitas);
2.2.4 – Defesa da completude do sistema legal (ausência de lacunas jurídicas);
2.2.5 – Defesa da coerência do sistema legal (ausência de antinomias jurídicas);
2.2.6 – Afirmação da Teoria dos círculos éticos separados (crença na separação entre
direito e moral);
Thiago Coelho (@taj_studies)
2.2.7 – Negação da existência de direitos naturais (os direitos positivos seriam os
únicos existentes);
2.2.8 – Identificação da justiça com a segurança jurídica (visão dogmática do direito);
2.2.9 – Crença na moderação judicial (o juiz colocado como uma “boca da lei” –
parafraseando Barão de Montesquieu);
2.2.10 – O desenvolvimento de uma intepretação literal da lei (vincula-se a um caráter
mais dogmático do direito);
2.3 – Balanço crítico:

CRÍTICAS POSITIVAS CRÍTICAS NEGATIVAS


 O Positivismo Legalista contribuiu  A lei não é a única fonte do direito,
para o desenvolvimento da ciência existindo outras estatais e não
jurídica, principalmente no âmbito do estatais (jurisprudência, negócio
Direito Civil; jurídico, costume jurídico, poder
 A defesa da legalidade permitiu a normativo dos grupos sociais e
consolidação da democracia e do doutrina);
capitalismo;  A moderação judicial pode gerar uma
 Possibilitou o desenvolvimento da aplicação dogmática e injusta da lei,
doutrina como fonte do direito; correndo o risco da produção de
decisões injustas;
 O legislador e a lei não apresentam
perfeição, sendo comuns tanto
lacunas quanto antinomias;

AULA 13 – HISTORICISMO JURÍDICO, SOCIOLOGISMO JURÍDICO E TEORIA


PURA DO DIREITO

3. Historicismo Jurídico

3.1 – Conceito e origem: Trata-se da primeira grande corrente de crítica ao Positivismo


Jurídico, surgida na Alemanha durante o século XIX. Esse movimento surgiu a partir de uma
polêmica doutrinária envolvendo dois grandes juristas germânicos da época: Thibaut e
Savigny. Dessa forma, Frederich Savigny, contrário ao Código Napoleônico, foi o mentor da
escola histórica do direito.

Thiago Coelho (@taj_studies)


3.2 – Teses fundamentais:

 Afirmação do costume como a principal fonte do direito;


 Afirmação do direito como uma manifestação cultural de cada sociedade variável no
tempo e no espaço;
 Defesa do Pluralismo Jurídico, ou seja, da concepção de que existem outros centros
produtores e aplicadores de normas jurídicas além do Estado;
 Afirmação do espírito do povo (Volksgeist) como base do direito costumeiro;
 Reconhecimento da imperfeição do legislador e da lei – defesa da existência de
lacunas e antinomias jurídicas;
 Ênfase à interpretação histórica do direito (leitura retrospectiva do fenômeno
jurídico);
 Resgate do estudo do direito romano como base para a compreensão do direito
ocidental;

3.3 – Balanço crítico:

CRÍTICAS POSITIVAS CRÍTICAS NEGATIVAS


 O Historicismo Jurídico teve o mérito  Os costumes, por serem fontes não
de situar de forma adequada o escritas, acabam sendo normas
direito no hall dos objetos culturais incapazes de trazer segurança
(superação do idealismo); jurídica;
 O Historicismo Jurídico demonstrou  A noção de espírito do povo
que o sistema legal não é perfeito (Volksgeist) traz inúmeras
como imaginado pelo Positivismo estereotipações, ou seja, deformações
Legalista; da própria realidade. Essas
 O Historicismo Jurídico demonstra generalizações são bastante
como o direito romano é importante perigosas uma vez que nem todos
para a compreensão do fenômeno pensam e sentem da mesma forma;
jurídico;  A noção de espírito do povo foi
historicamente utilizada para
legitimar regimes autoritários;
 O Historicismo Jurídico possui
dificuldade de se adequar a sistemas
jurídicos de civil law;

4. Sociologismo Jurídico

4.1 – Conceito e origem: Trata-se de uma corrente de oposição ao Positivismo Legalista que
surgiu na França durante o século XX como uma reação à questão social gerada pela
Thiago Coelho (@taj_studies)
Revolução Industrial. Trata-se da aplicação dos conhecimentos da Sociologia no estudo dos
fenômenos jurídico. A partir da França, o Sociologismo Jurídico se desviou para diversos
países – a exemplo pode-se citar Estados Unidos, Rússia, Noruega, Finlândia, México e Brasil.
Augusto Comte é considerado o pai da Sociologia e Émile Durkheim é considerado o pai do
Sociologismo Jurídico, sendo esse movimento considerado o mais contundente no que diz
respeito à oposição ao Positivismo Legalista.

4.2 – Teses fundamentais:

 Afirmação do direito como um fato social (expressão do mundo do ser);


 Valorização da efetividade como principal atributo das normas jurídicas – ou seja, há
um ênfase na eficácia social;
 Defesa do Pluralismo Jurídico – a sociedade possui o protagonismo na criação do
direito;
 Reconhecimento da imperfeição do legislador e da lei – prevê a existência de lacunas
e antinomias no sistema jurídico;
 Valorização da jurisprudência como fonte do direito;
 Valorização da opinião pública como referencial da jurisprudência;
 Valorização da interpretação sociológica do direito (atualização do sistema jurídico às
novas demandas sociais);

OBS: É importante ressaltar a existência de pontos de interseção entre as teses fundamentais


do Sociologismo Jurídico e as teses fundamentais do Historicismo Jurídico.

4.3 – Balanço crítico:

CRÍTICAS POSITIVAS CRÍTICAS NEGATIVAS


 O Sociologismo Jurídico teve o mérito  O Sociologismo Jurídico comprometeu
de incluir a jurisprudência no hall das a autonomia da ciência do direito;
fontes do direito;  O Sociologismo Jurídico confunde o
 O Sociologismo Jurídico teve o mérito mundo do dever-ser e o mundo do
de demonstrar a importância da ser, o que pode ocasionar um quadro
efetividade como atributo das normas de anomia;
jurídicas;  Os excessos da jurisprudência podem
 O Sociologismo Jurídico promoveu a desembocar em um governo dos
desmitificação da existência de um juízes – “juristocracia” (possibilidade
legislador perfeito; de jurisprudência contra legem);

Thiago Coelho (@taj_studies)


5. Teoria Pura do Direito

5.1 – Conceito e origem: Trata-se da maior manifestação do Positivismo Lógico do século XX.
O seu grande mentor consistiu na figura de Hans Kelsen. A Teoria Pura do Direito foi
desenvolvida durante o período entreguerras e representou uma reação ao Jusnaturalismo,
ao Historicismo e ao Sociologismo Jurídico tendo em vista a busca por resgatar a autonomia
da ciência do direito. Além disso, é importante ressaltar que a Teoria Pura do Direito
representou a primeira fase do pensamento kelseniano.

5.2 – Teses fundamentais:

 Afirmação da ciência jurídica como uma ciência de normas, ou seja, seu objeto
seriam as normas jurídicas;
 Utilização da lógica do dever-ser como a lógica para o estudo das normas jurídicas;
 Exclusão dos fatos e valores sociais da experiência normativa;
 Proposição de uma ciência jurídica baseada na objetividade e na exatidão;
 Afirmação do direito positivo como única realidade jurídica – isto é, o direito posto
através das normas jurídicas;
 Compreensão da ordem jurídica como uma pirâmide normativa;
 Valorização da validade como único atributo das normas jurídicas – isto é, a
sobreposição de uma norma jurídica superior em relação a uma norma jurídica
inferior;
 Defesa da separação entre direito e moral (teoria dos círculos éticos separados);
 Negação da existência dos direitos naturais;
 Negação da possibilidade de um tratamento racional da ideia de justiça (ceticismo
normativo);
 Defesa do monismo jurídico – isto é, o Estado seria o único centro produtor e
aplicador de normas jurídicas;
 Defesa da cientificidade do conhecimento jurídico;
 Defesa de uma visão monodisciplinar – ou seja, da separação do direito com relação
a outros saberes e formas de conhecimento;

5.3 – Balanço crítico:

CRÍTICAS POSITIVAS CRÍTICAS NEGATIVAS


 Teve o mérito de resgatar a  Os fatos e os valores sociais não
identidade epistemológica da ciência podem ser excluídos da experiência
jurídica; jurídica;
 Contribuiu para um grande avanço da  O esvaziamento do debate sobre a

Thiago Coelho (@taj_studies)


ciência jurídica (conceitos, justiça desemboca numa aplicação
classificações, teorias) dogmática muitas vezes injusta do
indubitavelmente; direito;
 A valorização da normatividade  A ciência jurídica não pode ser
jurídica traz segurança e considerada um conhecimento exato
previsibilidade para as relações e objetivo porque sempre estará
sociais; submetido a multiplicidade de
 A Teoria Pura do Direito pode ser interpretações dos juristas;
utilizada em qualquer regime político-  A neutralidade da teoria kelseniana
ideológico; oportunizou o seu uso político por
regimes ditatoriais;

AULA 14 – PÓS-POSITIVISMO JURÍDICO


Conceito:

 O Pós-positivismo jurídico é uma corrente doutrinária surgida pós-Segunda Guerra


Mundial que representa uma reação às correntes do Jusnaturalismo, do Historicismo
Jurídico e do Sociologismo Jurídico;
 Trata-se de uma teoria unitária e eclética que tenta reunir os aspectos positivos de
todas as correntes anteriores.
 Embora o pós-positivismo seja uma corrente já difundida desde a década de 40 na
Europa, no Brasil somente se manifestou a partir da Constituição Federal de 1988;
 O Pós-positivismo coincide com o processo de redemocratização política que varre o
mundo ocidental após a Segunda Grande Guerra;

Teses fundamentais:

 Afirmação do direito como um conjunto de normas, fatos e valores sociais


(superação das visões unilaterais – do tratamento do direito como valor pelos
jusnaturalistas; do tratamento do direito como norma pelos positivistas legalistas e
positivistas lógicos; e do tratamento do direito como fato social pelos historicistas e
sociologistas jurídicos);
 Valorização dos atributos da validade, efetividade e legitimidade – que devem ser
levados em consideração pelos juristas;
 Valorização do diálogo interdisciplinar (diálogo do Direito com outros saberes
humanos – Sociologia, Antropologia, Economia, Filosofia, Psicologia...);
 Valorização de uma abordagem zetética do direito – abordagem que demanda uma
reflexão crítica do direito;

Thiago Coelho (@taj_studies)


 Defesa do Pluralismo Jurídico – existência de outros centros produtores de normas
jurídicas além do Estado (o direito é produzido pelo Estado e também pela
sociedade);
 Defesa da incompletude do sistema jurídico (existência de lacunas jurídicas);
 Defesa da incoerência do sistema jurídico (existência de antinomias jurídicas);
 Reconhecimento da imperfeição racional do legislador e da lei;
 Valorização dos princípios constitucionais na teoria da norma jurídica;
 Afirmação da teoria dos círculos éticos secantes (reaproximação do direito com a
moral);
 Resgate do debate sobre a justiça a partir de uma reflexão crítica (tendo em vista
uma análise zetética do direito);
 Valorização da jurisprudência como fonte do direito;
 Diluição das fronteiras dos sistemas de civil law e de common law;
 Defesa do ativismo judicial (postura criativa e construtiva de efetivação dos direitos
fundamentais pelo poder judiciário – oposição à crença do juiz como “boca da lei”);
 Diluição das fronteiras do direito nacional e internacional (globalização do direito);
 Valorização dos estudos sobre a hermenêutica jurídica;
 Valorização dos estudos sobre a retórica jurídica (teoria da argumentação jurídica);

Balanço crítico:

CRÍTICAS POSITIVAS CRÍTICAS NEGATIVAS


 O Pós-positivismo tem o mérito de  Os princípios são normas genéricas
apontar a utilização dos princípios que acabam por força da
como normas jurídicas capazes de multiplicidade, acarretando em
realizar a justiça; insegurança jurídica;
 A abordagem zetética e  O ativismo judicial pode ser entendido
interdisciplinar possibilita uma como um convite a um governo dos
melhor aplicação do direito; juízes (juristocracia);
 O ativismo judicial contribui para a  O diálogo dos direito com outras
efetivação dos direitos fundamentais ciências pode comprometer a
dos cidadãos; autonomia do direito;
 O Pós-positivismo jurídico contribui  O Pós-positivismo não tem uma
para a afirmação de uma cultura de identidade própria, sendo uma colcha
direitos humanos fundamentais, base de retalhos de outras concepções
do regime democrático; teóricas;

Thiago Coelho – FBDG 2021.1

@taj_studies

Thiago Coelho (@taj_studies)


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