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Sistemas Automotivos

Sistemas de Transmissão

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Lincoln Nascimento Ribeiro

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Sistemas de Transmissão

• Sistema de Transmissão de um Veículo Automotor.


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Apresentar ao aluno os conceitos relacionados aos componentes do sistema responsável
pela transmissão de potência do motor para as rodas em um veículo automotor.
UNIDADE Sistemas de Transmissão

Sistema de Transmissão
de um Veículo Automotor
Uma vez que o Sistema de Propulsão, tendo como ator principal, o motor, produz
a energia necessária para movimentar o veículo, torna-se necessário fazer com que
essa energia chegue até as rodas do veículo.

O Sistema de Transmissão é o Sistema Automotivo responsável por transmitir a


potência, o torque e o movimento do motor para as rodas do veículo.

Os dois principais componentes do Sistema de Transmissão são:


• Embreagem: é o dispositivo responsável por acoplar o volante do motor no
câmbio. Na Figura 1, é possível visualizar um exemplo de embreagem por atrito
aplicada em veículos automotores. À esquerda, está o platô da embreagem, e à
direita, o disco da embreagem;

Figura 1 – Exemplo de embreagem – Platô e disco


Fonte: Getty Images

• Câmbio: é o dispositivo responsável por transmitir o movimento e a potên-


cia do motor para o eixo da roda do veículo. Dependendo do tipo de câm-
bio, em seu interior, podem se encontrar engrenagens ou polias e correias.
Na Figura 2, é possível visualizar um exemplo de engrenagens dentro de
um câmbio;

Figura 2 – Aspecto interno de uma caixa de engrenagens de um câmbio


Fonte: Getty Images

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• Diferencial: é o dispositivo responsável por realizar o acoplamento do eixo do
câmbio com o eixo das rodas.

Esses três componentes principais, trabalhando em conjunto, permitem que a


transferência de torque e a potência do motor para as rodas se mantenham da
forma mais suave possível.

Na Figura 3, é possível visualizar, de forma ilustrativa, a localização da embrea-


gem e do câmbio, em relação ao motor.

Figura 3 – Localização da embreagem, câmbio e motor


Fonte: Acervo do conteudista

Por que não posso ligar o motor diretamente nas rodas?

Durante a utilização de um veículo automotor para executar um determinado tra-


jeto, ocorrem diversas solicitações diferentes para o motor.

Em alguns momentos, o veículo precisa percorrer um trecho em aclive, por exem-


plo, o que exigirá maior torque desse motor. Em outros momentos, esse mesmo
veículo precisará percorrer trechos planos, ou em declive, o que permitirá maior
velocidade e exigirá mais potência desse motor.

Isso significa que, para atender todas essas demandas, é necessário alterar cons-
tantemente a relação de transmissão entre o eixo virabrequim do motor e o eixo
onde da roda do veículo. Por esse motivo, é necessário instalar um sistema de trans-
missão entre o eixo do motor e o eixo da roda do veículo.

A seguir, vamos conhecer mais detalhes sobre a embreagem, o câmbio e o diferencial.

Embreagem
Como dito, a embreagem é o dispositivo responsável para por o volante do motor
no câmbio do veículo.

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UNIDADE Sistemas de Transmissão

Além disso, a embreagem permite que se desacople o motor do câmbio quando


necessário. Isso ocorre, por exemplo, quando existe a necessidade de troca da mar-
cha no câmbio manual.

O principal tipo de embreagem utilizada em veículos automotores é a Embreagem


por atrito, que também é chamada de embreagem de fricção. Esse tipo de embrea-
gem utiliza o atrito entre superfícies metálicas para transmitir a potência e o movimento.

A seguir, vamos conhecer mais detalhes da embreagem por atrito.

Embreagem por Atrito


A embreagem por atrito ou fricção é um dos tipos de embreagens mais utilizados
nos sistemas de transmissão de veículos automotores.

Nesse tipo de embreagem, existem 2 componentes principais: o Platô de embre-


agem e o Disco de embreagem.

O disco de embreagem é fabricado utilizando um material abrasivo que serve para


maximizar o atrito entre o disco e a chamada placa de pressão, que faz parte do
platô de embreagem.

Na Figura 4, é possível visualizar um exemplo de disco de embreagem.

Figura 4 – Exemplo de disco de embreagem


Fonte: Getty Images

O Platô da embreagem, na verdade, é um conjunto formado por diversos compo-


nentes, dentre os quais podem se destacar 3 principais:
• Carcaça;
• Placa de pressão;
• Mola diafragma.

Na Figura 5, é possível visualizar, de forma esquemática, os principais componen-


tes do platô da embreagem.

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Figura 5 – Componentes principais do platô de embreagem
Fonte: Acervo do conteudista

Na Figura 6, é possível visualizar um exemplo de platô de embreagem empregado


na transmissão de veículos automotores.

Figura 6 – Exemplo de platô de embreagem


Fonte: Getty Images

Na Figura 7, é possível visualizar uma ilustração esquemática na forma de vista


explodida, na qual aparecem, além do disco de embreagem e de componentes do
platô da embreagem, dois novos componentes:
• Rolamento: montado no eixo do câmbio;
• Garfo da embreagem: é o dispositivo que, ao ser acionado, pressiona o rola-
mento de forma a pressionar a mola diafragma do platô de embreagem.

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Figura 7 – Vista esquemática explodida da embreagem


Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

Na Figura 8, é possível visualizar os componentes principais da embreagem por


atrito também em vista explodida. Porém, nessa Figura, os componentes são reais.

Figura 8 – Componentes da embreagem


Fonte: Adaptado de Getty Images

O funcionamento da embreagem em um veículo com troca de marchas manual


obedece às seguintes etapas:
1. O pedal de embreagem é acionado;

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2. O garfo da embreagem pressiona o rolamento que, por sua vez, aciona
a mola diafragma;
3. A mola diafragma, ao ser acionada, afasta a placa de pressão do disco de
embreagem, causando o desacoplamento entre o movimento do volante
do motor e o eixo do câmbio.

Esse desacoplamento permite, por exemplo, que o motorista possa efetuar a tro-
ca de marchas no câmbio, visto que não há movimento nas engrenagens.

Na Figura 9, é possível visualizar, à esquerda, a posição dos componentes da em-


breagem antes do acionamento do pedal de embreagem e, à direita, a posição desses
mesmos componentes, depois de o acionamento do pedal de embreagem.

Figura 9 – Funcionamento da embreagem


Fonte: Acervo do conteudista

Em um Sistema de Transmissão que não tenha pedal de embreagem, o aciona-


mento do garfo de embreagem pode ser realizado por meio de um cilindro hidráulico
acionado por válvulas com solenoide.

Existem outros tipos de embreagens?

Outros Tipos de Embreagens


Além da embreagem do Sistema de Transmissão do veículo automotor, outros 2
tipos de embreagens ainda podem ser encontrados em outras partes do veículo:

Embreagem Viscosa
Também chamada de embreagem hidráulica. Esse tipo de embreagem utiliza a
pressão do óleo em seu interior e o atrito viscoso para transmitir a potência e o movi-
mento. É bastante utilizado em ventiladores de sistemas de arrefecimento de veículos
que não possuem o motor elétrico para seu acionamento. Isso é muito comum em
caminhões e ônibus. Nesses casos, o acionamento do ventilador ocorre por meio do
acoplamento do eixo do ventilador em uma polia que está ligada ao eixo do motor.

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UNIDADE Sistemas de Transmissão

Nesse caso, o acoplamento ocorre por meio de uma embreagem que possui uma
câmara em seu interior que se enche de óleo de alta viscosidade, quando é necessá-
rio que ocorra a transmissão de movimento e potência do motor para o ventilador.

Não contato entre as partes metálicas. Apenas o atrito entre as partículas do óleo
efetuam a transmissão de movimento.

Na Figura 10, é possível visualizar um corte em um exemplo de ventilador de siste-


ma de arrefecimento que utiliza embreagem viscosa. As estrias no disco representam
a câmara onde entra o óleo de alta viscosidade durante o acoplamento.

Figura 10 – Exemplo de Ventilador de Sistema de Arrefecimento


Fonte: Acervo do conteudista

Embreagem Eletromagnética
Esse tipo de embreagem utiliza um eletroímã que produz um campo magnético
que mantém unidas 2 superfícies metálicas para transmitir a potência e o movimen-
to. Esse tipo de embreagem é bastante utilizado em sistemas de ar condicionado
veicular, para acoplar a polia do eixo do compressor do ar condicionado a uma polia
ligada ao motor do veículo.

Na Figura 11, é possível visualizar um compressor de ar condicionado automotivo


que utiliza embreagem eletromagnética.

Figura 11 – Exemplo de compressor de ar condicionado automotivo


Fonte Getty Images

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Câmbio
O câmbio, ou ainda, a caixa de câmbio, é o principal componente do sistema de
transmissão do veículo automotor. O câmbio é o dispositivo responsável por transmi-
tir o movimento e a potência gerada pelo motor do veículo para as rodas de tração
do veículo.

Essa transmissão de movimento é realizada por meio de polias e correias, engre-


nagens e correntes ou, ainda, somente engrenagens. A cada combinação entre duas
engrenagens ou duas polias que transmitem o movimento de uma para a outra, com
uma determinada relação de transmissão, é chamada de marcha do câmbio.

Dessa forma, cada relação de transmissão diferente permitida por um câmbio


será chamada de marcha. Assim, um câmbio pode ter várias marchas, ou seja, várias
relações de transmissão diferentes.

Ao se desenvolver um motor de um veículo, esse motor possui uma potência má-


xima e um torque máximo de trabalho, onde ocorre a máxima eficiência do motor.

Essa máxima eficiência para o torque e para potência também tem relação com
o número de rotações por minuto do eixo virabrequim do motor.

Dessa maneira, outra função do câmbio é permitir a troca de marchas, de tal


forma que, nas diversas solicitações que ocorrem em um trajeto do veículo (subidas,
descidas, trechos planos), a rotação do motor se mantenha próxima dos valores ide-
ais para sua melhor eficiência.

Existem 2 tipos principais de câmbios:


• Câmbio manual: a troca de marchas ocorre de forma manual, ou seja, por
meio do manuseio da alavanca de troca de marchas do câmbio pelo motorista.

Na Figura 12, é possível visualizar um exemplo de alavanca de troca de marchas


de um câmbio manual. Veja que, na alavanca, estão indicadas as marchas do
veículo e como engatá-las. Esse câmbio tem a marcha ré (o veículo de desloca
para trás) e mais 5 marchas para frente.

Figura 12 – Exemplo de alavanca de troca de marchas de um câmbio manual


Fonte: Getty Images

• Câmbio automático: a troca de marchas ocorre de forma automática, ou seja,


uma vez que o motorista posiciona a alavanca do câmbio na posição D (Drive

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UNIDADE Sistemas de Transmissão

ou Dirigir), ele precisa somente pisar no acelerador, sem a necessidade de manu-


seio da alavanca de troca de marchas do câmbio. Esse tipo de câmbio também
não possui pedal de embreagem.

Na Figura 13, é possível visualizar um exemplo de alavanca de troca de marchas


de um câmbio automático.

Figura 13 – Exemplo de alavanca de troca de marchas de um câmbio automático


Fonte: Getty Images

A seguir, vamos conhecer alguns detalhes desses dois tipos de câmbios.

Câmbio Manual
O câmbio manual transmite o movimento e a potência gerada pelo motor do veículo
para as rodas de tração do veículo por meio de trocas manuais das marchas do veículo.

Ao analisar a Figura 14, é possível observar que o eixo que vem do motor (engre-
nagem verde) acopla-se ao eixo secundário (rosa) através de um par de engrenagens.

No eixo secundário, há, ainda, dois pares de engrenagens, que constituem a Pri-
meira Marcha e a Segunda Marcha, também indicadas na Figura 14.

Ao acionar a alavanca do câmbio, o garfo do câmbio irá movimentar o anel de


sincronização (roxo) que irá acoplar a engrenagem azul da primeira marcha ou da
segunda marcha ao eixo que está acoplado às rodas do veículo.

Todos esses componentes podem ser visualizados na Figura 14.

Figura 14 – Ilustração das marchas de um câmbio manual de duas marchas


Fonte: Acervo do conteudista

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Na Figura 15, é possível visualizar um exemplo de engrenagens que compõem
um câmbio manual utilizado em veículos automotores.

Figura 15 – Engrenagens de um câmbio manual


Fonte: Getty Images

Existem diferentes tipos de câmbios automáticos?

Câmbio Automático
O câmbio automático transmite o movimento e a potência gerada pelo motor do
veículo para as rodas de tração do veículo por meio de trocas automáticas das mar-
chas do veículo.

Porém, de acordo com a maneira como essas trocas de marcha ocorrem automa-
ticamente, o cambio automático pode ser classificado em 3 tipos principais:

Câmbio Automatizado
Trata-se de um câmbio com arquitetura e componentes similares ao câmbio ma-
nual, porém, as trocas de marchas ocorrem por meio de atuadores e válvulas sole-
noides. Esse tipo de câmbio possui, por exemplo, uma embreagem similar à embre-
agem de um câmbio manual.

Câmbio Automático com Conversor de Torque


Esse tipo de câmbio trabalha com engrenagens conhecidas como engrenagens
planetárias. As transmissões com engrenagens planetárias são caracterizadas por
uma engrenagem principal (solar) e, pelo menos 3 engrenagens que giram ao redor
da engrenagem principal (engrenagens planetárias). Uma das vantagens desse tipo
de transmissão é a possibilidade de realizar grandes reduções de velocidades.

Na Figura 16, é possível visualizar a ilustração de caixa de câmbio automático, na


qual é possível visualizar um conjunto de engrenagens planetárias.

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Figura 16 – Engrenagens planetárias em um câmbio automático


Fonte: Getty Images

O acoplamento do câmbio automático ao volante do motor é realizado por meio


de um dispositivo rotativo chamado de conversor de torque.

Nesse tipo de transmissão, também é necessária uma bomba de óleo para gerar
alta pressão para movimentar os atuadores hidráulicos durante a troca de marchas.

Na Figura 17, é possível visualizar um exemplo de conversor de torque, com de-


talhes do seu interior.

Figura 17 – Exemplo de um conversor de torque


Fonte: Wikimedia Commons

Câmbio Automático CVT


Também é chamado de Transmissão Continuamente Variável. Esse tipo de câm-
bio trabalha com duas polias cônicas em eixo diferentes e paralelos, que estão interli-
gadas por meio de uma correia metálica. Pelo afastamento ou pela aproximação das
2 faces cônicas do canal das polias, podem ser simuladas infinitas marchas.

Na Figura 18, é possível visualizar uma ilustração na qual a velocidade de rotação


da polia 1 (n1) permanece constante e a velocidade de rotação da polia 2 (n2) sofre

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variações, à medida que ocorre o afastamento ou a aproximação das 2 faces cônicas
das polias, em contato com a correia.

Figura 18 – Ilustração do funcionamento de um câmbio CVT


Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

Por que é necessário utilizar o diferencial no acoplamento entre o eixo do câmbio


e o eixo das rodas?

Diferencial
O diferencial é o dispositivo responsável por realizar o acoplamento do eixo do
câmbio com o eixo das rodas.

Apesar de parecer simples, o acoplamento do eixo do câmbio com o eixo das ro-
das apresenta algumas dificuldades técnicas. A principal é o fato de que um automó-
vel, por exemplo, ao trafegar por uma curva, precisa ter velocidades diferentes nas
rodas do lado esquerdo e direito, para evitar o escorregamento da roda que percorre
uma distância menor.

Dessa forma, o diferencial possui engrenagens cônicas que permitem que ocorra esse
desalinhamento nas curvas e, dessa forma, as rodas girem em velocidades diferentes.

Na Figura 19, é possível visualizar um exemplo de diferencial utilizado em


veículos automotores.

Figura 19 – Exemplo de diferencial


Fonte: Getty Images

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Fundamentos dos Elementos de Máquinas
Leia o Capítulo 3 (p. 44-55) da obra de Sarkis Melconiam, Fundamentos dos
Elementos de Máquinas, disponível na Biblioteca Virtual da Universidade. Nesse
texto serão apresentados os conceitos sobre transmissão de potência e movimento.
Motores de Combustão Interna
Leia o Capítulo 4 (p. 217-44) da obra de Franco Brunetti, Motores de Combustão
Interna, disponível na Biblioteca Virtual da Universidade. Nesse texto, serão
apresentadas características do relacionamento entre o motor e o veículo.

 Vídeos
Transmissão Automática vs. Manual
Nesse endereço eletrônico, está disponível um vídeo bem interessante, que compara
o funcionamento da transmissão manual e automática;
https://youtu.be/-bHa9LJkYpM
Como Funciona um Câmbio automático CVT
Nesse endereço eletrônico, também está disponível um vídeo que trata do funcionamento
do Câmbio CVT.
https://youtu.be/3LBFkx7sADI

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Referências
BEER, F. P. et al. Mecânica Vetorial para Engenheiros: Dinâmica. 11.ed. Porto
Alegre: AMGH, 2019. (e-book)

BRUNETTI, F. Motores de Combustão Interna 2.ed. São Paulo: Blucher, 2018,


v. 1. (e-book)

________. Motores de Combustão Interna. 2.ed. São Paulo: Blucher, 2018,


v. 2. (e-book)

CASTILHO, M. et al. ABC do Rendering Automotivo. Porto Alegre: Bookman,


2013. (e-book)

CASTRO, F. D. de; RAHDE, S. B. Motores Automotivos: Evolução, Manutenção


e Tendências. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014. (e-book)

MELCONIAM, S.. Fundamentos de Elementos de Máquinas –Transmissões, Fixa-


ções e Amortecimento. São Paulo: Érica, 2014. (e-book)

SONNTAG, R. E.; BORGNAKKE, C. Fundamentos da Termodinâmica. 8.ed. São


Paulo: Edgard Blucher, 2018. (e-book)

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