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A EXPRESSÃO DE FINALIDADE NA

CONSTRUÇÃO DE MOVIMENTO COM


PROPÓSITO EM PORTUGUÊS
Artigo por Angélica Rodrigues e Patrícia Oréfice
Conteúdo do Seminário:

1. Breve introdução: O que é a Sintaxe Funcionalista?


2. Objetivo principal do artigo analisado
3. O que é CMCP?
4. Relação de Finalidade Tradicional no Português
5. Explicando a CMCP: razões sintáticas e semânticas
○ Explicação Semântica: bases metafóricas de finalidade
○ Explicação Sintática: Integração de Cláusulas
6. A essencialidade da preposição “para”: quando a CMCP não é
possível?
7. Conclusão e Considerações finais
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1 O que é sintaxe funcional?
Uma breve introdução ao funcionalismo

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O QUE É SINTAXE FUNCIONAL?

A linguística funcional se caracteriza, principalmente, por analisar


as estruturas linguísticas a partir do aspecto funcional da
linguagem, possuindo também como características:
◦ Ter como base a língua sendo usada como meio de
comunicação humana em contextos culturais e
psicológicos;
◦ Ser regida pelos fatores externos à linguagem;
◦ Ter em consideração a relação entre língua e:
▫ Cognição;
▫ Contexto sociocultural de uso.
◦ Abordar a língua dentro de seus usos reais

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2 Objetivo principal do artigo
Uma breve introdução aos focos e considerações principais do
artigo analisado.

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OBJETIVO PRINCIPAL DO ARTIGO

Analisar uma construção específica do português


brasileiro, denominada CMCP:

CMCP = “construção de movimento com propósito”

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PARA ISSO, O ARTIGO:

1. Busca evidenciar que as CMCP carregam uma


finalidade, mesmo sem apresentar um conectivo;

2. Demonstra que há uma relação de herança entre as


orações de finalidade tradicionais do português e as
CMCP;

3. Apresenta uma explicação semântica e outra sintática


para a existência dessa construção;

4. Exemplifica casos em que não é possível existir a CMCP.


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O QUE É CMCP?

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O QUE É CMCP?

◦ CMCP significa Construção de Movimento Com


Propósito.
◦ São construções formadas pela sequência de dois
verbos, sendo o primeiro um verbo de movimento
orientado e, o segundo, um verbo na forma não
finita.
▫ Verbo de movimento orientado: dá a ideia de
deslocamento físico (passei, subi, saí etc.)
▫ Verbo na forma não finita (infinitivo): “fazer”,
“ver”, entre outros.
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O QUE É CMCP?

Exemplo: “Cara, como é difícil ver uma pessoa que a gente gosta
sofrendo...Hoje entrei na UTI ver o Ariel, eu nunca tinha visto uma UTI [...].”

Ou seja…
“Hoje entrei na UTI ver o Ariel” ● Ação do V2 constitui a
finalidade (propósito)
da ação (movimento)
do V1
Verbo 1 Verbo 2
● Construção sintática
Expressa movimento Apresenta-
caracterizada pela
orientado se na
(deslocamento forma NÃO ausência da
físico) finita preposição “para”
(conectivo)
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O QUE É CMCP?

➔ Mesmo havendo materiais intervenientes (advérbios e


expressões adverbiais) entre V1 e V2, esses materiais
não explicam o vínculo sintático entre os dois verbos.

➔ Assim, podemos dizer que, diferentemente das orações


finais, não há a presença de nenhum conectivo entre V1
e V2 e, mesmo assim, há expressão de finalidade.

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4 Relação de Finalidade Tradicional
do Português

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RELAÇÃO DE FINALIDADE TRADICIONAL DO PORTUGUÊS

◦ Orações finais se ligam a uma oração principal por meio de


uma conjunção de finalidade

◦ Na sua forma tradicional, são prototipicamente expressas pela


estrutura PARA + infinitivo

CMCP ORAÇÕES FINAIS

“Ele pegô já subiu na casa “Ele pegô já subiu na casa


VS
dele buscar o cano lá” dele para buscar o cano lá”

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ALGUMAS OBSERVAÇÕES:

➔ A ausência de conectivos nas CMCP pode causar um


estranhamento em alguns falantes da língua portuguesa,
porém, não são sentenças agramaticais;

➔ Apesar das orações finais e das CMCP possuírem


semelhanças (relação de herança), elas possuem propriedades
particulares não compartilhadas entre si;

➔ Na CMCP, o verbo de movimento orientado carrega todo o


sentido de deslocamento (finalidade) da sentença, podendo
haver, então, o apagamento da preposição.
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Explicando a CMCP
Razões Semânticas e Sintáticas

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5 Explicação Semântica: Bases
Metafóricas de Finalidade

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BASES METAFÓRICAS DE FINALIDADE

● O funcionalismo estuda a língua segundo os processos


comunicativos
Existem construções que não são entendidas de maneira
composicional e nem de maneira literal - são entendidas
de maneira metafórica

Exemplo 1: “Tempo é dinheiro” - infere valor ao conceito “tempo” associado-o a


valor monetário (tempo não é, pelo menos não fisicamente, comercializável)

Exemplo 2: “passar daí” (buscar alguém, fazer uma visita a alguém) - constrói
significado a partir da associação cognitiva de que a visita depende de
deslocamento físico (“passar” remete à movimento)

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BASES METAFÓRICAS DE FINALIDADE

“Finalidades são destinos”

Ambas CMCP e orações finais tem seus entendimentos construídos


com base metafórica:
● A estrutura prototípica de finalidade (oração final) envolve a
preposição “para”, que é a proposição também usada para indicar
um destino físico

● Na CMCP, essa leitura de finalidade não é afetada pelo


apagamento da preposição, já que as características metafóricas
dos dois verbos usados automaticamente indica o sentido de
movimento/destino (finalidade).
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6 Explicação Sintática: Integração de
Cláusulas

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INTEGRAÇÃO DE CLÁUSULAS

Hopper e Traugott propõem que não há limites rígidos na


dicotomia coordenação e subordinação, acreditando que, na
verdade, há um continuum, onde algumas sentenças teriam nível
mais baixo de integração/gramaticalização e outras um nível mais
alto de integração/gramaticalização.

Parataxe > Hipotaxe > Subordinação

- Dependência + Dependência + Dependência

- Encaixamento - Encaixamento + Encaixamento

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INTEGRAÇÃO DE CLÁUSULAS

Lehmann, à favor da não dicotomia, elaborou seis parâmetros


semântico-sintáticos, capazes de conferir o grau de integração
das orações, os quais seriam:
1. Degradação hierárquica das orações subordinadas;
2. Nível sintático da oração principal em que as orações
subordinadas se encaixam;
3. Dessentencialização da oração subordinada;
4. Gramaticalização do verbo principal;
5. Entrelaçamento de duas orações;
6. Explicitude da articulação;

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INTEGRAÇÃO DE CLÁUSULAS - Tabela da elaboração e compressão

FRACA Degradação hierárquica FORTE


Parataxe da cláusula subordinada Encaixamento
ALTO BAIXO
Nível sintático

COMPRESSÃO
ELABORAÇÃO

Sentença Palavra

FRACA FORTE
Cláusula Dessentencialização Nome

FRACA Gramaticalização do FORTE


Verbo lexical verbo principal Afixo gramatical

FRACO FORTE
Clauses disjunct Entrelaçamento Clauses overlapping

MÁXIMA MÍNIMA
Syndesis Explicitude da articulação Asyndesis

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INTEGRAÇÃO DE CLÁUSULAS

● O sentido na CMCP depende inteiramente da significação


do V1 em relação a V2, portanto, seu nível de integração é
maior que na oração final

○ A oração final, possuindo a preposição “para”, resulta


em menor nível de dependência sintática entre os
verbos

Portanto: A construção da CMCP só funciona com a ausência


da conjunção por que existe um alto nível de dependência
sintática entre V1 e V2

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7 Essencialidade da preposição
“para”: quando a CMCP não é possível?

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ESSENCIALIDADE DA PREPOSIÇÃO “PARA”

Tomemos a seguinte frase como exemplo:

“Ele pagou uma parcela só recorrente ao mês de abril e utilizou


o fundo de garantia por tempo de serviço *Ø quitar todo o saldo
devedor.”

Não é possível fazer o apagamento da preposição “para” nesta


situação, visto que o verbo principal não é de movimento
orientado.

O uso da preposição se torna essencial.


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ESSENCIALIDADE DA PREPOSIÇÃO “PARA”

Dessa forma temos a construção:

“Ele pagou uma parcela só recorrente ao mês de abril e utilizou


o fundo de garantia por tempo de serviço para quitar todo o
saldo devedor.”

Está dentro dos padrões, não sendo mais agramatical pela adição
da preposição.

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8 Conclusão e considerações

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CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES

Portanto vimos que:


◦ As CMCP trazem seu sentido de finalidade combinando os
seguintes elementos: um primeiro verbo de movimento
orientado e um segundo verbo não finito.
▫ Essa alta integração sintática causada pela ausência de
preposição em conjunto com o sentido metafórico de
finalidade fazem seu entendimento.
◦ Embora as CMCP não sejam construções encontradas nas
gramáticas normativas, ainda assim podem ser entendidas
sem grandes dificuldades pelos falantes.

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MUITO OBRIGADO!

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GRUPO

Bruna Gargarella Peres - 740873


Bruna Laisa Ferreira - 790835
Helena Bonuccelli Stefani - 791251
João Pedro Gonçalves Munhoz - 791006
Maria Eduarda da Matta Santana - 790973

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RODRIGUES, Angélica; ORÉFICE, Patrícia. A expressão de finalidade na construção de
movimento com propósito em português. Estudos Linguísticos, São Paulo, 45, 1, p.
(142-152), 2016.

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