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OPINIÃO OPINION 169

O ensino e a saúde: um olhar biológico

Teaching and health: a biological view

Nelson Vaz 1

1 De p a rtamento de Abstract Living systems are structure determined systems. Teaching is never feasible, but learn-
Bioquímica e Im u n o l o g i a , ing is inevitable, a comment by an observer about some aspect of the constant changes occurring
I C B , Un i versidade Fe d e ral
de Minas Ge ra i s . while life goes on. Teachers are all those who open up spaces for conviviality and allow congru-
Av. Al f redo Balena 190, ent changes to take place. There are no instructive interactions in nature. Health and the biology
Belo Ho r i zo n t e , MG
of living systems are phenomena studied in different domains. What is healthy or unhealthy for
3 0 1 3 0 - 1 0 0 , Bra s i l .
n va z @ m o n o. i c b. u f m g . b r humans, is defined by human culture. As biological phenomena, health and disease are relation-
al configurations of the organism and its medium. From this perspective , individual health is a
social phenomenon.
Key words Health Education; Ep i s t e m o l o gy ; Education; Health

Resumo Os seres vivos são sistemas determinados por suas estrutura s . O ensino é impossíve l ,
mas a aprendizagem é inevitáve l , um comentário de um observador sobre algum aspecto das
mudanças constantes que ocorrem durante o vive r. Professor é aquele que abre um espaço de
convivência. Não existem interações instrutivas na natureza. A saúde e a biologia dos seres vivos
são fenômenos estudados em domínios distintos, a primeira sendo definida pela cultura . C o m o
um fenômeno biológico, a saúde ou a doença são configurações relacionais do organismo com
seu meio e, como tais, são fenômenos descritos no domínio das interações do organismo. Por esse
entendimento, a saúde individual é um fenômeno social.
Palavras-chave Educação em Saúde; Epistemologia; Ed u c a ç ã o ;S a ú d e

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Introdução s u rgem anticorpos específicos. Tudo se passa


como se a penicilina ensinasse as bactérias a
Na imunologia, predominam interesses bio- serem resistentes; o branco da parede ensinas-
m é d i c o s, mas gosto de pensar em meu tra b a- se às borboletas a mudar de cor; e o antígeno,
lho como biológico, e nosso labora t ó rio na as hemácias, guiasse a formação dos anticor-
Un i versidade Fe d e ral de Minas Ge rais se cha- pos. Depois surgem as explicações seletivas: a
ma laboratório de imunobiologia. Ao discutir o cultura de bactérias já incluía mutantes resis-
ensino de temas relativos à saúde, não vou me tentes à penicilina; a população de borboletas
referir a vacinas, como seria esperado. Vou abor- já incluía indivíduos mais claros; o coelho já
dar temas mais gerais. Quero convidá-los a re- produzia anticorpos anti-hemácias em peque-
fletirmos juntos sobre: na quantidade – a exposição às hemácias ape-
1) a biologia do ensino; nas favoreceu a sobrevivência de células que os
2) saúde e biologia. produziam. Em todos esses casos, tudo se pas-
sa como se um elemento externo ao sistema
interagisse com elementos do sistema e os fa-
1) A biologia do ensino vorecesse. Esta é a metáfora em que Darwin se
apoiou na Te o ria de Seleção Na t u ral (Da rw i n ,
Pa rece estranho falar da biologia do ensino. É 1979), para explicar a origem das espécies, pois
n a t u ral que biólogos estejam acostumados a tudo se passa como se a natureza selecionasse
estudar as relações entre biologia e aprendiza- os indivíduos mais aptos, ou de maior eficiên-
gem; a adaptação e a evolução são exemplos cia reprodutiva (Young, 1985).
notáveis. Na imunologia, a aprendizagem é um Assim, embora possamos atribuir cert a s
assunto natural, pois, na imunização, o org a- mudanças nas características dos seres vivos a
nismo parece lidar com novidades molecula- uma aprendizagem, esta não decorre de algu-
res; por exemplo, aprende a lidar mais eficaz- ma forma de ensino, mas sim como da própria
mente com germes e vírus. A imunização pode estrutura dos seres vivos. Elas dependem do de-
ser vista como uma forma celular/molecular s e n rolar de seqüências de mudanças estru t u-
de aprendizagem. Muitos imunologistas desig- rais desencadeadas por um pareamento de in-
nam as respostas imunes específicas como terações do ser vivo em seu ambiente com a di-
‘imunidade adaptativa’. É fácil também estabe- nâmica estrutural própria do ser vivo. Os seres
lecer paralelos entre a aprendizagem e outro s vivos são sistemas determinados por sua estru-
fenômenos biológicos. t u ra (Ma g ro et al., 1997; Ma t u rana & Va re l a ,
Aqui há uma bifurcação import a n t e, cujo 1980; Maturana, 1988).
significado não devemos menosprez a r. O que Estamos acostumados a encarar o ensino e
dizer sobre o ensino? Alguém, ou algo, ‘ensina’ a aprendizagem como duas faces da mesma
os organismos em suas modificações evo l u t i- moeda, porém o que propomos aqui é radical-
vas? Existe algum sentido em afirmar que o an- mente difere n t e. Estamos propondo que não
tígeno ‘e n s i n a’ o organismo a responder imu- existe instrução (ensino), mas a aprendizagem
nologicamente? Por acaso a vacina contra a po- é inevitável. Ap render é um fenômeno tri v i a l ,
liomielite ‘ensina’ uma lição molecular, dá uma constitutivo dos seres vivos, que ocorre inces-
aula ao organismo das cri a n ç a s, que as torn a santemente em virtude da sua dinâmica inter-
va c i n a d a s, uniformemente mais resistentes à na e pelas interações incessantes que ele reali-
poliomielite? za em seu ambiente.
O que aprendemos sobre a organização e a Na concepção usual, as interações com o
estrutura dos seres vivos nos últimos cinqüen- ambiente são encaradas como estímulos e as
ta anos nos obriga a responder a essas pergun- mudanças ocasionadas nos seres vivos vistas
tas com um enfático não. Na biologia, como no como respostas. Na imunologia, por exemplo,
resto da natureza, não ocorrem interações ins- é possível falar de estímulos antigênicos e res-
t ru t i va s. Os seres vivos não podem ser ve rg a- postas imunes específicas. Os estímulos anti-
dos em direções arbitrári a s, ditadas por suas g ên i c o s, porém, não ensinam ao org a n i s m o
interações com o ambiente. Isso parece contra- como re s p o n d e r. Pa ra constituir um estímulo
ditório porque as primeiras soluções sugeridas antigênico, o material deve encontrar no orga-
para problemas biológicos tendem a ser instru- nismo uma coleção pré-formada de estruturas
tivas ( Jerne, 1967). Bactérias são expostas à pe- m o l e c u l a res nas quais possa se encaixar com
nicilina e surgem variedades resistentes; pinta- energia suficiente. As moléculas e células que
se de branco a parede da fábrica e as borbole- funcionam como se fossem receptores especí-
tas sobre elas se tornam mais claras; um coe- ficos já estão presentes no organismo antes do
lho é injetado com hemácias de carneiro e logo contato com o material antigênico. Po d e m o s

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optar por ver tais moléculas e células como do- Grande parte do desenvolvimento do com-
tadas da função (ou propósito) de reagir com o p o rtamento de aves e mamíferos depende de
antígeno; entretanto, elas são componentes do condutas re c u r s i vas e re c í p rocas re a l i z a d a s
o rganismo que só persistem enquanto man- com o auxílio e/ou na companhia de outro s
têm relações com outros componentes do or- animais da mesma espécie – a mãe, pai, ir-
ganismo. As noções de estímulos antigênicos e m ã o s, membros de uma comunidade. A cort e
respostas imunes específicas desaparecem em sexual em muitas espécies de aves e peixes
uma linguagem que descreva o organismo em constitui um bom exemplo de padrões de inte-
termos de sua conectividade interna. Mas, en- rações recíprocas. Maturana se refere aos com-
veredar pela imunologia não é minha intenção p o rtamentos que ocorrem em domínios con-
aqui. Retomemos, portanto, a questão inicial. sensuais, como estes, de comportamentos lin-
Em uma abordagem celular/molecular dos güísticos.
fenômenos biológicos, vemos o ensino como A linguagem humana constitui um claro
uma noção imprópria, enquanto a aprendiza- exemplo de comportamento lingüístico, mas
gem é vista como um fenômeno incessante, Ma t u rana inclui qualquer domínio de intera-
decorrente da dinâmica estrutural dos seres vi- ções gerado mutuamente pelos part i c i p a n t e s
vos. Todavia, como transportar isso para a sala como linguagem. A linguagem, encarada como
de aula? Afinal, se não existe ensino, o que é um domínio consensual, é uma padronização
uma aula? O que é um texto didático? de comportamentos que, mutuamente, orien-
tam-se. Uma coordenação de ações, e não uma
transmissão de informações, como usualmen-
A aprendizagem como um comentário te a interpretamos.
Em nossa interpretação habitual, faze m o s
De acordo com Maturana & Varela (1980), os alu- uso do que Reddy chamou “a metáfora do tu-
nos são sistemas determinados por sua estrutu- bo” (Reddy, 1979). Imaginamos que comunica-
ra e as interações instrutivas são biologicamen- ção é algo gerado em um ponto (emissor), con-
te impossíveis. Mas, se o professor não está en- duzido por um ‘tubo’, e entregue a outro ponto
sinando a seus alunos, como podemos entender (receptor). Dessa forma, existe algo que se co-
o que ocorre em uma aula, ou em uma seqüên- munica, que se desloca pelo tubo. Se g u n d o
cia de aulas? Como negar que o ensino ocorre Maturana & Varela (1980), essa imagem é falsa,
se o professor comprova, por meio de pergun- pois pressupõe uma interação instrutiva. O fe-
tas e outras formas de avaliação, que a apren- nômeno da comunicação não depende do que
dizagem ocorreu? É ve rdade que alunos dife- se entrega e sim do que se passa na coordena-
rentes sofrem mudanças diferentes no decor- ção da conduta. Isso é muito diferente da idéia
rer da convivência com o professor, mas todos, de transmitir informações.
ao seu modo, parecem aprender alguma coisa. Para um observador dessa coordenação de
Que os alunos mudem durante a convivên- condutas, porém, tudo se passa como se ocor-
cia e que cada um tenha seu modo de mudar resse a transmissão de inform a ç õ e s. Estamos
não é surpreendente, nem pode ser usado co- acostumados a pensar que palavras e frases se
mo argumento para demonstrar que o ensino re f e rem a objetos e coisas que existem inde-
o c o r reu. Estamos propondo que a apre n d i z a- pendentemente de nós. De acordo com Matu-
gem, como uma forma de mudança atri b u í d a rana (1993), como seres biológicos que somos,
por alguém a um outro alguém (o aprendiz), é não podemos conhecer uma realidade externa.
uma decorrência inevitável do existir em con- Temos uma estrutura que reflete uma história
vivência. Como seres vivos que somos, estamos de interações com o meio, tanto recente (onto-
em contínua mudança. Tais mudanças ocor- genia), como remota (filogenia), mas o meio
rem, em parte, como decorrência de nossa pró- não é composto de coisas conhecíveis. Quando
pria dinâmica interna; em parte, por interações falamos de um mundo, estamos agindo como
com elementos de nosso ambiente. As pessoas o b s e rva d o res deste mundo e fazendo distin-
com as quais convivemos são elementos muito ções em um domínio consensual.
importantes nas mudanças que atra ve s s a m o s Um dos aforismos centrais na perspectiva
como seres humanos. Na verdade, se esta con- descrita por Maturana & Varela (1980:13) é:
vivência não se estabelecesse nos períodos “Tudo é dito por um observador a outro obser-
precoces de nossa existência, não sobrevivería- vador, que pode ser ele mesmo.”
mos e, se o fizéssemos, não adquiriríamos ca- A idéia de distinções geradas pelo observa-
racterísticas típicas de nossa espécie, como a dor não foi criada por Maturana. Na psicologia
capacidade de andar ereto em dois pés, a mí- da Gelstat, por exemplo, Kohler (1925) arg u-
mica facial, ou a fala. mentava que todos os eventos perceptivos são

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i n t e rnos ao observa d o r. Ma t u rana propõe a m a n a ,v i ver juntos uma hora, uma hora e meia,
idéia de domínios c o ns e ns u a i s, de algum tipo duas hora s ,o u , alguns estudantes, que perma-
de interação social na qual o observador está, neceram comigo mais horas... Isso era viver jun-
n e c e s s a ri a m e n t e, envo l v i d o. Este autor não tos. Vocês podem dize r :“ Si m , mas eu estava sen-
afirma que nosso discurso se refere somente a tado escutando”. Isso se estavam ve rd a d e i ra-
e ventos intern o s, como pensamentos e senti- mente escutando, como espero.
mentos (o que constituiria uma posição solip- (Risos)
sista), mas sim que todos os discursos existem – Estavam sendo tocados, a l e g ra d o s ,e n t r i s-
em um domínio consensual (um domínio de t e c i d o s ,e n ra i ve c i d o s . . . Quer dizer, se passaram
coordenação de ações entre organismos). Para todas as coisas do viver cotidiano. Mexe ra m
Maturana, a realidade não é nem objetiva, nem com as idéias, rejeitaram algumas. Saíram da-
individual. A atividade tipicamente humana, o qui conversando isto e mais aquilo. . .“ Estou fa-
linguajar, é uma atividade coletiva. zendo um trabalho....”. Estavam imersos na per-
g u n t a : “Como prosseguir de acordo com o que
lhes ia passando, v i vendo juntos, c o m i g o, e m
Quem é o professor? um espaço que se ia criando comigo”. En t ã o,
qual foi a minha tarefa? Criar um espaço de
Se não estamos transmitindo informações sim- convivência. Isto é ensinar.
bólicas ao nossos apre n d i zes – porque esta (Escreve ao quadro: Criar um espaço de con-
t ransmissão é impossível e não ocorrem inte- vivência.)
rações instrutivas –, as modificações de condu- – Be m , eu ensinei a vo c ê s . E vo c ê s , e n s i n a-
ta que eles atravessam em sua convivência co- ram a mim?
nosco dependem deste convive r, deste vive r – Sim.
juntos. Nesse novo contexto, quem é o profes- – Claro que sim! Ensinamo-nos mutuamen-
sor? Para responder a essa pergunta, transcre- te. “Ah, mas acontece que eu tinha a responsabi-
vo literalmente um trecho de uma aula de Ma- lidade do curso, e ia guiando o que acontecia”.
turana, em Santiago: De certa forma, sim, de certa forma, não. De cer-
(...) ta forma, s i m , p o rque há certas coisas que eu
– Alguma outra pergunta? entendo da responsabilidade e do espaço no
– Si m , Pro f e s s o r : Que é um professor? Ou , qual me movo nesta convivência, e tinha uma
quem é um professor? certa orientação, um fio condutor, um certo pro-
– Humm p ó s i t o. Mas vo c ê s , com suas perguntas, f o ra m
(Pausa, risos) e m p u r rando esta coisa para lá, e para cá, e fo-
(Escreve ao quadro negro: “Professor, Mestre”.) ram criando algo que foi se configurando como
– E, p o rt a n t o, está aqui: e n s i n a r. C reio que nosso espaço de convivência.
aqui aparece este conceito. O que é ensinar? Eu E o maravilhoso de tudo isso é que vo c ê s
lhes ensinei a Biologia do Conhecer? Sim, se al- aceitaram que eu me aplicasse em criar um es-
guém abre a porta desta sala... paço de convivência com vo c ê s . Vocês se dão
(Desloca-se até a porta, simula ouvir alguém conta do significado disso? Foi ex a t a m e n t e
que bate à porta e, então, desculpa-se a alguém igual ao que ocorreu quando vocês chegara m ,
que diz em voz baixa a outro alguém fictício: como crianças, ao jardim de infância, e estavam
“Nesta sala está o Professor Humberto Matura- t r i s t e s , e m b u r ra d o ; a mamãe se foi, estão cho-
na ensinando Biologia do Conhecer”. Desloca- ra n d o, “Aa a h h , eu quero minha mãe”. Chega a
se de volta.) p ro f e s s o ra , o f e rece a mão, e vocês a re c u s a m ,
– Eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer? Em mas ela insiste, então, vocês pegam sua mão. E o
um sentido, com relação à responsabilidade pe- que se passa quando a criança pega na mão da
rante a Faculdade, eu lhes ensinei a Biologia do professora? Aceita um espaço de convivência.
Conhecer. Com vocês se passou a mesma coisa. Em al-
(Risos) gum momento, a c e i t a ram minha mão. E, n o
– Mas o que fizemos nós ao longo deste se- momento em que aceitaram minha mão, passa-
mestre? mos a ser co-ensinantes. Passamos a participar
– Desencadear mudanças estruturais. juntos neste espaço de convivência. E nos trans-
– Desencadear mudanças estrutura i s ,d e s e n- formamos, em congruência... De maneiras dife-
cadear pert u r b a ç õ e s . Estupendo! E como fize- re n t e s ,p o rq u e ,c l a ro, temos vidas difere n t e s ,t e-
mos isso? mos diferentes espaços de perguntas, temos ex-
– Em coordenações de coordenações de ações. periências distintas. Mas nos tra n s f o r m a m o s
– Em coordenações de coordenações de ações. juntos, e agora podemos ter conversas que antes
Ou ,s e j a : vivendo juntos. Claro, uma vez por se- não podíamos.

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E quem é o professor? Alguém que se aceita palmente os de germ e s, vírus e para s i t a s. No


como guia na criação deste espaço de convivên- modo de olhar que propomos para a imuno-
cia. No momento em que eu digo a vocês:” Per- biologia, os fenômenos imunológicos surg e m
guntem”, e aceito que vocês me guiem com suas como fenômenos biológicos e não como fenô-
perguntas, eu estou aceitando vocês como pro- menos ligados à saúde. Na visão habitual, essa
fessores, no sentido de que vocês me estão mos- última frase não faz sentido, porque os fenô-
trando espaços de reflexão onde eu devo ir. menos ligados à saúde são vistos como fenô-
Assim, o professor, ou professora, é uma pes- menos biológicos, por exemplo, como fenôme-
soa que deseja esta responsabilidade de criar nos ligados à vida dos micróbios e à resistência
um espaço de convivência, este domínio de acei- dos seres humanos a infecções. Mas a saúde e
tação re c í p roca que se configura no momento o viver podem também ser vistos de outro mo-
em que surge o professor em relação com seus do. Quero explicitar isso melhor.
alunos, e se produz uma dinâmica na qual vão O que constitui a saúde, ou o que é desejá-
mudando juntos.” vel no vive r, é um fenômeno cultural. Na Co-
réia, a carne de cães é parte de pratos tradicio-
nais. Comer o fígado e os intestinos de um leão-
Realidade m a rinho re c é m - a b a t i d o, ainda quentes, com
seu conteúdo incluindo vermes, parece-nos um
Ma t u rana é um pensador radical. Ele insiste costume abominável. Para os esquimós, é uma
em que o problema da realidade é o mais im- conduta essencial à sobrevivência em um am-
portante enfrentado pela humanidade hoje em biente onde vitaminas são pouco acessíve i s.
dia, tanto para as pessoas que estão conscien- Em muitas culturas, o corpo humano é delibe-
tes disso, quanto para as que não estão, porque radamente modificado, cort a d o, esticado de
tudo o que fazemos como indivíduos ou como m a n e i ras que nos parecem mutilações ou de-
sociedades depende de, apóia-se na noção que formações. Para membros de outras culturas, o
temos sobre a realidade (Ma g ro et al., 1997; físico flácido e obeso comum em nossa vida se-
Maturana, 1988). dentária de ‘civilizados’ é visto como deforma-
Eis aqui um de seus parágrafos iniciais: d o. A dieta do homem ‘c i v i l i z a d o’ gera cári e s
“Na ve rd a d e , eu afirmo que a resposta im- dentárias e doenças metabólicas ausentes em
plícita ou explícita que cada um de nós dá à outras culturas.
questão da Realidade determina como ele ou Por outro lado, “O que constitui o vive r ?” e
ela vive sua vida, assim como sua aceitação ou “Qual a organização dos seres vivos?” são per-
rejeição de outros seres humanos na rede de sis- guntas adequadas à investigação biológica
temas sociais e não-sociais que ele ou ela inte- atual. Digo isso no sentido literal, pois já exis-
gra. E, finalmente, desde que nós sabemos pela tem propostas bastante claras para respondê-
vida diária que o observador é um sistema vivo las. Já foram descritos mecanismos capazes de
porque sua competência cognitiva é alterada se gerar e diversificar o enorme número de linha-
sua biologia é altera d a , eu afirmo que não é gens dos seres vivos que surg i ram na históri a
possível ter uma compreensão adequada dos fe- do planeta. Esses são os mesmos mecanismos
nômenos sociais e não-sociais na vida humana de autogeração que mantêm vivendo os sere s
se essa questão não é propriamente respondida, v i vos atuais. Nesse modo de ve r, já sabemos
e que esta questão pode ser propriamente re s- como se constituem os seres vivos e podemos
pondida somente se o observar e a cognição fo- ser mais explícitos sobre isso.
rem explicados como fenômenos biológicos ge- Ao descrever os seres vivos, Maturana tam-
rados através da operação do observador como bém descre ve a nós, seres humanos e nossa
um ser humano” (Maturana, 1988:25). o rigem, como observa d o res operando na lin-
guagem. Aceitar o que constitui as explicações
em geral e as explicações científicas, em parti-
Saúde e biologia cular, é essencial para aceitar o que constitui o
v i ver e o que são os seres vivo s. Po rt a n t o, não
O modo de olhar e as conversações que guiam posso partir de premissas tacitamente aceitas.
esse olhar configuram o que se vê e o que se Quando falo do viver, não falo da saúde, embo-
faz. Não apenas isso: o modo de olhar configu- ra a história do viver através dos tempos tenha
ra as perguntas aceitas como importantes (Ma- sido a história dos seres saudáveis.
turana, 1993). No modo de olhar usual na imu- No modo de olhar característico da imuno-
nologia, os fenômenos imunológicos surg e m logia, os fenômenos imunológicos surgem co-
ligados à saúde, isto é, à proteção do corpo con- mo fenômenos ligados à saúde, isto é, à prote-
t ra a invasão por materiais estra n h o s, pri n c i- ção do corpo contra a invasão por materiais es-

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t ra n h o s. Concordo com Maturana quando ele não se trata de uma luta do organismo contra
a f i rma que, em seu vive r, os seres vivos não agentes externos, e sim de uma visão de intera-
têm saúde, nem doença. Podemos ver os fenô- ções do organismo consigo mesmo e com com-
menos imunológicos como fenômenos pró- ponentes de seu ambiente.
prios do viver, parte da operacionalidade cons- 2) Amplia-se a visão sistêmica do org a n i s-
titutiva do organismo. Nesse modo de olhar, a mo: o espaço interno se transforma em uma di-
saúde surge como uma preocupação indireta, nâmica relacional molecular/celular fechada,
embora importante. uma dinâmica que participa da definição do
Como um fenômeno cultural, a saúde deixa organismo, em vez de ser definida por ele.
de ser um atributo do organismo e passa a ser Em outras palavras, desaparecem as noções
uma configuração relacional organismo/meio, de ataque e defesa. O organismo deixa de estar
um fenômeno descrito no domínio das intera- em oposição a um ambiente que o ameaça, e
ções do org a n i s m o. Por esse entendimento, a passamos a ver a dinâmica que integra o orga-
saúde individual é um fenômeno social. Na de- nismo e seu meio. Segundo Maturana (1993), o
finição proposta pela Organização Mundial de meio em que o organismo opera surge em nos-
Saúde (OMS), a saúde é definida pela ausência sas distinções quando distinguimos o organis-
de doença ou de desconforto psíquico. Mas in- m o, no mesmo ato de distinção. Deixando de
terdefinir a saúde e a doença não adianta mui- ver o meio como um agressor, como algo exter-
to. Definir o que falta quando se perde a saúde no ao organismo, podemos vê-lo como o âmbi-
i m p o rta menos que a descrição de mecanis- to que torna o organismo possível.
mos capazes de gerar e manter a saúde da po- Nesse entendimento, assim como o meio
pulação e conter o abuso social. Mesmo argu- e x t e rn o, também o meio interno recupera seu
mentos imunológicos podem ser usados politi- caráter dinâmico relacional. O organismo dei-
camente. Meu colega imunologista Tomaz Mo- xa de ser um agregado de células, órgãos e fun-
ta Santos, hoje reitor da UFMG, dizia que “com ções e passa a ser uma rede de relações de pro-
as campanhas de vacinação, os governos querem duções celulares e moleculares que surge co-
que o corpo resolva nossas contradições sociais”. mo uma totalidade na realização dessa dinâmi-
Para Virchow, “se a doença é uma conseqüência ca no ambiente em que fica definido como tal
do desequilíbrio individual, então, as epidemias organismo. Ao mesmo tempo, o organismo é o
surgem em sociedades desequilibradas”. âmbito onde surgem muitas outras redes de re-
Uma rápida consulta ao The Ca m b r i d g e lações de produções celulares e moleculare s,
World History of Human Disease ( Ki p l e, 1993), que se entre c ruzam com o organismo em sua
uma alentada coleção de 1.200 páginas, mostra realização como tal. Essas outras redes – como
q u e, durante a história da humanidade, as o sistema nervoso, o sistema endócrino, o siste-
doenças infecciosas estiveram mais associadas ma hemopoiético, ou o sistema imune – consti-
a fenômenos sociais, como desastres agrícolas, tuem-se como unidades em outros domínios de
guerras, grandes migrações etc., do que aos fe- descrição. Discutiremos como esses diferentes
nômenos sobre os quais a imunologia pode in- sistemas se entrecruzam no organismo e como
f l u i r. A peste que atingiu a Eu ropa no século eles se mantêm fechados em sua organização.
XIII, por exemplo, surgiu após dois anos de Vendo o meio como o âmbito que torna o
chuvas quase ininterruptas. As doenças infec- organismo possível, a alimentação – a ingestão
ciosas não foram um fator importante na evo- de alimentos – passa a ter uma grande influên-
lução dos seres humanos ou de qualquer outro cia na atividade imunológica deste, como a for-
animal (Mckeow, 1988). Essa é uma afirmação ma mais importante e cotidiana de contato
difícil de aceitar em uma época como a nossa, com proteínas e, portanto, de interferências do
quando parecem re s s u rgir ameaças de pesti- ambiente do organismo sobre a atividade imu-
lências que acreditávamos haver superado. nológica. Ao alimentar-se, o organismo conta-
ta uma enorme variedade de macromoléculas
sintetizadas por outros organismos. A mucosa
Uma mudança de perspectiva intestinal é duzentas vezes maior que a pele e,
além disso, abriga até 90% das células secreto-
Quando propomos olhar os fenômenos imu- ras de imunoglobulinas do organismo. Muitas
nológicos como fenômenos biológicos e não moléculas dos alimentos ingeridos são absor-
como ligados à saúde, propomos uma mudan- vidas intactas ou incompletamente degra d a-
ça não trivial, pois isso tem duas conseqüên- d a s, e a ativação linfocitária também envo l ve
cias (Maturana, 1993): uma etapa de degradação (processamento) de
1) Muda toda a imunologia, uma vez que p ro t e í n a s, semelhante a uma digestão parc i a l
mudam os fenômenos que a constituem: já no meio intracelular.

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Por esses motivos, consideramos a alimen- top-down: descubra o que o cérebro/mente


tação como de grande relevância para a ativi- faz → descubra como implementar tais funções;
dade imunológica e capaz de influenciar todos b o t t o m - u p: descubra quais são os compo-
os fenômenos imunológicos, não apenas por nentes → descubra o que grandes coleções de
uma perspectiva nutricional, mas também em tais componentes podem fazer.
relação a interferências que o contato com pro- Na neurobiologia, a abordagem t o p - d ow n
teínas no tubo digestivo possam ter sobre a ati- tem estado presente, como exemplificado pe-
vidade imunológica e, indiretamente, sobre to- los títulos dos trabalhos de um dos mais fa-
do o organismo. m osos neurobiólogos dos anos 50-60, Wa re n
McCulloch (MacCulloch & Pitts, 1965; MacCul-
loch, 1965). A abordagem b o tt o m - u p, por sua
A imunologia atual é uma abordagem vez, vem ganhando um prestígio cre s c e n t e,
‘de baixo para cima’ (b o tt o m - u p) p rincipalmente por sua associação com a in-
f o rmática e a ‘inteligência art i f i c i a l’, sendo
Diferentemente da genética e da fisiologia, que atualmente designada c o mp ut at i on a l neuros-
n a s c e ram do estudo de plantas e animais, a c i e nc e, como mostram alguns de seus títulos
imunologia nasceu associada com a medicina i m p o rtantes (Churchland & Se j n ow s k y, 1988,
e a bacteriologia médica. Foi a primeira forma 1992).
bem sucedida de biotecnologia e, de certa for- Na imunologia, por motivos históri c o s, a
ma, isso é o que ela ainda é, embora não tão a b o rdagem b o tt o m - u p tem sido dominante.
bem sucedida quanto antes. O objetivo ori g i- Desde a invenção da noção de anticorpos es-
nal de produzir novas vacinas falhou quase to- pecíficos ( Von Behring & Kitasato, 1961), a ta-
t a l m e n t e. Exceto por algumas vacinas antivi- refa dos imunologistas tem sido:
rais produzidas nos aos 50-60, quando os mé- 1) elucidar a natureza bioquímica dos antí-
todos de cultura de tecidos foram desenvolvi- genos e anticorpos;
dos, virtualmente nenhuma vacina importante 2) inventar esquemas eficazes de imuniza-
foi produzida desde o período fundador, a des- ção contra doenças infecciosas (inventar es-
peito de grandes esforços e dispêndios em pes- quemas eficazes de induzir a produção de anti-
quisa. Exceções seriam as vacinas para hepati- corpos).
te-B e para H .i n f l u e n z a. A busca de novas vaci- Inicialmente, as doenças infecciosas foram
n a s, apesar de muitas inovações (Dickler & entendidas como um duelo entre toxinas mi-
Collier, 1996), permanece um processo, basica- crobianas e anticorpos neutralizantes (antito-
mente, empírico. xinas) ou facilitadores da fagocitose (opsoni-
A grande transformação da imunologia mo- nas). Somente nos anos 60, foram identificadas
d e rna re s i d e, exatamente, na definição de as células (plasmócitos) responsáveis pela pro-
componentes celulares e moleculares envolvi- dução desses anticorpos. A imunologia celular
dos na atividade imunológica, uma realização daquela década, como a de hoje, tinha como
mais pertinente à ciência que à tecnologia. A p reocupação fundamental a elucidação dos
dificuldade atual encontra-se em aplicar esse mecanismos de formação dos anticorpos. Uma
e n o rme corpo de conhecimentos biológicos abordagem top-down nunca teve lugar na imu-
(bioquímicos, genéticos etc.) especializados à nologia, na qual as preocupações mais gerais,
medicina. Esse é um problema geral, não parti- como as propostas de articular os componen-
cular à imunologia, mas nesta ele assume ca- tes celulares e moleculares em um só sistema
racterísticas especiais. dotado de propriedades globais não foram co-
Movimentadas por um dilúvio de dados so- muns. Virtualmente, todas as teorias part i ra m
b re componentes celulares e moleculare s, as das propriedades de moléculas, como anticor-
ciências biológicas contemporâneas também pos, ou células, como linfócitos.
se preocupam em organizar esse conhecimen- Mais re c e n t e m e n t e, a imunologia sofre u
to em quadros coerentes sobre a operação de uma grande tra n s f o rmação por associar-se a
órgãos, sistemas de órgãos e do organismo co- ramos da bioquímica, como a genética mole-
mo um todo. Na neurobiologia, por exemplo, cular e a biologia celular. Isso teve dois resulta-
os conhecimentos celulares e moleculares so- dos: por um lado, os componentes celulares e
b re o cére b ro precisam ser corre l a c i o n a d o s moleculares têm se multiplicado em ritmo ver-
com conhecimentos sobre a cognição e a con- tiginoso; por outro, foram cara c t e rizados al-
duta do organismo como um todo. Pa ra esta- guns mecanismos fundamentais da atividade
belecer essas correlações, duas tendências são imunológica, como o processamento/apresen-
identificáveis: top-down (de cima para baixo) e tação de peptídeos e as conexões idiotipo/an-
bottom-up (de baixo para cima): ti-idiotipo.

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 15(Sup. 2):169-176, 1999


176 VAZ, N.

Todo esse conhecimento, no entanto, tem de vacinas efetiva s, como as antipoliomielite,


sido incapaz de vencer o problema que a imu- que podem levar à erradicação completa da
nologia se propôs re s o l ver em sua criação: a doença do planeta (Nature, 1976), como ocor-
produção de novas vacinas e novos métodos de reu com a varíola (Henderson, 1976).
tratamento. Os imunologistas, em geral, assim Essa insistência em vacinar deri va pri n c i-
como a sociedade que financia suas pesquisas, palmente da crença de que o corpo, de alguma
permanecem convencidos de que a vacinação f o rma, reconhece materiais estranhos e org a-
é o objetivo central no controle das doenças in- niza suas defesas em resposta a esse reconhe-
f e c c i o s a s. Mais de um século de repetidos in- cimento. É surpreendente constatar quanto do
sucessos em produzir vacinas eficazes pela in- conhecimento imunológico estabelecido tem
jeção de inumeráveis preparações antigênicas sido dominado por crenças não desafiadas e
não foram suficientes para sugerir uma mu- mesmo não examinadas.
dança de atitude. Aqui e ali surgem exemplos

Referências

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