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Ministério da Fazenda

Escola de Administração Fazendária - Esaf

Centro Estratégico de Formação e Educação Permanente – Cefor

Curso a distância de Disseminadores de Educação Fiscal

“A PARTICIPAÇÃO FISCAL NO DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO DA


CIDADE DE FEIRA DE SANTANA”

Feira de Santana – Ba
OUT/2008
DANILO DE OLIVEIRA SIMÕES
E
JANICE MACÊDO DA MATTA SIMÕES

“A PARTICIPAÇÃO FISCAL NO DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO DA


CIDADE DE FEIRA DE SANTANA”

Projeto de Pesquisa apresentado como


requisito para conclusão do Curso
Disseminadores da Educação Fiscal junto à
Escola de Administração Fazendária – ESAF.

Feira de Santana – Ba
OUT/2008
“ O maior desafio que temos é aprender a transformar-nos em pessoas cada
vez mais humanas, sensíveis, afetivas e realizadas. De nada adianta, saber
muito, se não o aplicamos nas nossas vidas”. (MORAN)”
“Todo conhecimento procura por ordem e unidade num universo de
fenômenos que se apresentam com encadeamentos, multiplicidades,
singularidades, invertezas, desordem” (MORIN)

1. INTRODUÇÃO:

A tentativa de se desenvolver uma cultura favorável à cidadania e a importância de um combate


efetivo à corrupção em nosso país esbarra constantemente nos paradigmas alicerçados e
embasados na cultura aos moldes da Lei de Gerson : “O importante é levar vantagem em tudo,
certo?” o que ocorre é que na maioria dos espaços sociais as crianças acabam tendo seus valores
desvirtuados e sendo vítimas deste processo. O padrão de ensinagem incutidos nas formações de
professores ainda se atém expressamente aos conteúdos curriculares, esquecendo dos temas
transversais dentro dos quais se encaixa perfeitamente a questão da participação fiscal no
desenvolvimento sócio-econômico da cidade de Feira de Santana.
Este projeto pedagógico consiste em reconstruir a história do desenvolvimento da cidade por
meio de depoimentos de idosos, entrevistas, gravações, filmagens, fotografias atuais e antigas,
evidenciando o percurso histórico e os implementos ocorridos a partir da participação social e
cumprimento das leis que regulam o recolhimento e cuidam da destinação das arrecadações
fiscais.
2. PROBLEMATIZAÇÃO

Até que ponto a participação fiscal é importante no desenvolvimento sócio-econômico da cidade


de Feira de Santana e quais medidas podem ser adotadas para ampliar os benefícios necessários?

A educação deve contemplar os aspectos políticos desenvolvendo nas crianças a capacidade de


entender como se processa a gestão de recursos públicos, e como, e quem arca com as despesas
sociais como as decorrentes de serviços como educação, saúde, seguridade social e segurança.
Por isso buscamos confirmar a real influência das contribuições como fator de maximização das
possibilidades de desenvolvimento social e como fator de inclusão social. Assim poderemos rever
os processos de formação do alunado, para que estes possam ter noção plena da responsabilidade
que repousa na postura do cidadão em sua prática social. Muito embora os valores vinculados
hoje dia se voltem muito mais para o individualismo e competição, precisamos conscientizar as
pessoas de que a colaboração e desenvolvimento de consciência social devem ser práticas
constantemente estimuladas em todos os níveis sociais.

3. OBJETIVO GERAL:

Desenvolver nos alunos a consciência da importância dos tributos.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:


 Refletir sobre a importância aplicação dos tributos como forma de sustentar e garantir as
despesas públicas;
 Proporcionar orientação acerca das estratégias de uso de recursos tributários na escola,
enfatizando o papel do cidadão neste processo;
 Favorecer embasamento teórico e prático-educativo, de modo a fomentar o
desenvolvimento de uma concepção de como se processa o sistema de arrecadação fiscal
no município e da necessidade de se acompanhar a real destinação das receitas.
 Identificar os possíveis fatores que contribuam para o aumento das dificuldades sofridas
pelos professores na adequação das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação à
sua prática pedagógica.
3.2 PÚBLICO-ALVO:

 Alunos do 1º. Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Dr. Jair Santos Silva,
unidade escolar: médio porte, com aproximadamente 1.000 alunos (total nos 3 turnos); 36
professores. Público atendido pela escola: zona urbana, periferia, classe média, baixo
poder aquisitivo.

4. JUSTIFICATIVA

A escola vivencia, convive e participa das constantes de dificuldades de sociais, estruturais,


comportamentais diversas etiologias, que acabam por gerar entraves no processo educativo,
em especial na rede de ensino público, onde o desnível no resultado educativo dos alunos faz
com que as oportunidades lhes sejam cerceadas, em especial nos aspectos profissionais acaba
resultando em danos muitas vezes irreparáveis. Para que haja mais justiça nos processos
educativos é necessário a priori que seja ofertado um ensino compatível e contextualizado
com as demandas de diversas ordens. Cada dia aumenta o desnível social e a exclusão social
decorrente da falta de oportunidades, especialmente se olharmos nas populações de baixa
renda temos noção do quanto é necessário o desenvolvimento de uma consciência social e
aspectos morais.

Buscaremos analisar as possibilidades oferecidas, através da educação contextualizada,


possibilitando que os jovens vivencie de uma maneira prática a importância das contribuições
fiscais em sua sociedade, dos benefícios possíveis na área educacional, tentando propor
medidas que possam auxiliar e solucionar problemas aflitivos em sua região.

Um passo inicial seria o levantamento bibliográfico de informações que contribuam para o


entendimento do efeito estimulador das contribuições em aspectos como saúde,
seguridade e educação. Isso se daria através da busca de dados referentes as condições
de vida e desenvolvimento social no passado e os benefícios alcançados através das
possibilidades decorrentes das apropriações de recursos obtidos em decorrência das
contribuições tributárias.
5. REVISÃO DE LITERATURA

Moran nos diz que “...podemos transformar a nossa vida num processo de aprendizagem
paciente, afetuoso e emocionante”, podendo este aprendizado ocorrer em todos os momentos,
espaços, tempos, situações, dependendo da atitude profunda em relação à nossa motivação.
Da mesma forma, podemos transformar a nossa vida.

Schaff “transformações sociais, política e econômicas têm ocorrido em larga escala nas
últimas décadas, gerando profundas alterações, tanto nas organizações quanto nos
indivíduos.” Urge que se implantem métodos atualizados, contextualizados e mais atrativos,
que ofereçam alternativas que amenizem essa falha. A implantação do laboratório de
informática atende muito bem a este propósito através do estímulo à criatividade, ao acesso
diversificado à comunicação e a facilidade de manuseio do hardware e softwares disponíveis.

Bauer de Oliveira nos alerta para a necessidade de nos comprometermos com uma educação
humana, fraterna e solidária e com a construção de conhecimentos específicos sobre direitos e
deveres do cidadão. Toro acrescenta que para Jean Piaget “... a lógica, a moral, a linguagem e a
compreensão de regras sociais não são inatas, mas construídas pelos indivíduos ao longo de seu
desenvolvimento...”. E que, “... as capacidades e competências mínimas para a participação
eficiente na sociedade, no século XXI, também dizem respeito à participação produtiva, através
do domínio da leitura e da escrita; capacidade de fazer cálculos e resolver problemas; capacidade
de analisar, de sintetizar e interpretar dados, fatos e situações; capacidade de compreender e atuar
em seu entorno social...”. Além destas capacidades e competências descritas por Toro, o
exercício da cidadania requer um individuo capaz de converter problemas em oportunidades;
Organizar-se para defender os interesses da coletividade e solucionar problemas por meio do
diálogo e da negociação, respeitando as regras, as leis e as normas estabelecidas; Criar unidade de
propósito a partir da diversidade e das diferenças, sem jamais confundir unidade com
uniformidade; Atuar para fazer da nação um estado social de direito, isto é, trabalhar para tornar
possível o respeito aos direitos humanos; Ser crítico com a informação que lhe chega; Ter
capacidade para localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada; Ter capacidade de
planejar, trabalhar e decidir em grupo.
Com o pressuposto da Educação Fiscal, que permeiam direitos e deveres, controle democrático e
função social democrática. Se, de um lado, é dever da população participar da gestão pública e da
gestão escolar, por outro lado, ela tem direito de ser informada. Assim é de fundamental
importância possibilitar a inclusão social e acesso a todas as tecnologias. Lembrando, que é
dentro do espaço escolar cidadão, o qual reflete diretamente na vida das pessoas e da sociedade,
no exercício diário dos princípios e dos valores culturais locais, regionais ou nacionais,
possibilitando o resgate da dignidade humana.

E é dentro deste contexto educacional em que a intervenção pedagógica tem como um de seus
fundamentos a atividade de aprendizagem significativa, onde o professor provoca no aluno o
interesse em associar frente a sua realidade, que diz respeito a sua atividade de aprendizagem e
sua atividade humana na busca e concretização de seus objetivos. Objetivos estes, focados na
Educação Fiscal dentro do contexto escolar através da efetivação de projetos voltados ao
Programa onde o professor estará provocando no aluno o interesse em aprender e assim a
assimilação destes conhecimentos em busca de novas metas.

6. METODOLOGIA:

Análise de textos, pesquisa bibliográfica: elaboração de questionário sobre a trajetória de vida


dos entrevistados; escolha do universo a ser pesquisado; montagem de um painel
sistematizando os resultados do trabalho.

Um passo inicial seria o levantamento bibliográfico de informações que contribuam para o


entendimento do efeito estimulador da informática na educação. Isso se daria através da
busca de dados referentes à influência da informática na educação dos alunos ditos
especiais e dos benefícios oferecidos pela interação do aluno através das possibilidades
educativas e estímulo das áreas neurológicas envolvidas no processo educacional. Para
tanto, informações quanto às experiências existentes que possam elucidar o estímulo
educacional do aluno portador de necessidade especial são necessárias.

a. Tipo de Metodologia
A metodologia escolhida é bibliográfica e pesquisação, acreditamos que estes métodos
serão os recursos apropriado para evidências de comprovação e elucidação.

6.1.1 Estratégias

 Análise de registro de arquivos (publicações, registros escolares e, de acompanhamento


médico, evidências de mudanças sociais em tempos diversos);
 Elaboração de questionário sobre a trajetória de vida dos entrevistados (local de
nascimento, locais de residência anterior, como era a cidade há anos atrás, mudanças
ocorridas, melhorias, em que estas melhorias mais se destacaram, em que não se sentiram
mudanças, o que ainda é preciso mudar, a que se devem as mudanças ocorridas, etc);
 Escolha do universo a ser pesquisado; (devem ser entrevistadas pessoas que vivam em
diferentes regiões da cidade);
 Entrevista de idosos, adultos e crianças; registro das entrevistas e depoimentos.
 Organizar uma linha de tempo, sintetizando os fatos principais.
 O ponto de início pode ser a partir de 1957 e o ponto final pode ser o ano de 2007.
 A montagem do painel.
 As informações e análises dos grupos devem ser discutidas em conjunto, de modo que se
possam estabelecer comparações significativas entre as duas narrativas. No painel, trechos
históricos conflitantes devem ser colocados lado a lado, com destaques e análises. O mesmo
procedimento deve ser adotado em relação a mapas, figuras e fotos.

7. INSTALAÇÕES FÍSICAS NECESSÁRIAS

 Auditório ou sala destinada a este fim;


 Computadores suficientes em relação ao número de usuários;
 Climatização adequada à quantidade de máquina e expectativa de usuários;
 Internet com devidos filtros de segurança;
 Quadro branco, pilotos, apagador;
 Blocos, canetas, pasta, crachá de identificação
 Data show;
 Microsystem.

Devendo-se previamente haver um check-list da realidade x necessidades para se atender aos


requisitos necessários ao projeto.
8. RECURSOS HUMANOS NECESSÁRIOS:

 Dois facilitadores;

No mínimo dois monitores de apoio - sugerimos alunos do 3º. ano da própria escola.

9. CRONOGRAMA

ATIVIDADES/ Semanas 04 de abril à 12 de 06

Apresentação do Projeto e formação de equipes e estabelecimento de metas; 1ª. Semana (4 à 8/05)

Início das Pesquisas em Bibliotecas sobre as condições sócio-econômicas de


Feira de Santana considerando o espaço de tempo de dez anos a partir de
1957 (caso possível com aquisição de xerox das matérias ou fotografias caso 2ª. Semana(11 à 15/05)
permitido pelo órgão), poderão ser utilizadas fotos históricas familiares se
encontradas e disponibilizadas; Socialização da pesquisa e elaboração
consensual dos questionários a serem aplicados;
Entrevista de idosos sobre como era a cidade nas épocas pesquisadas e qual a
mudança sentida daquele período até o atual. Entrevista de adultos e crianças 3ª. Semana (18 à 22/05)
sobre o que é imposto e qual a importância no desenvolvimento sócio-
econômico de cada um;
Levantamento fotografar o bom uso e a falta de uso dos tributos na cidade;
analisar em grupo o que poderia ser feito para uma melhor aplicação; buscar 4ª. Semana (25 à 29/05):
na Internet mapa de aplicação dos recursos fiscais da cidade;
Elaboração da linha do tempo e painéis suspensos de fotografias, xerox, 5ª. Semana (1 à 05/06):
comentários sobre as entrevistas produzidas;
Noite de apresentação com exposição do material, sendo facilitada pelos 6ª. Semana (8 à 12/06):
grupos de alunos participantes do trabalho.
Entrega definitiva do Relatório do Projeto

9. RESULTADOS ESPERADOS:

- Desenvolvimento da consciência e ética cidadã;


- Conhecimento da importância sócio-econômica da educação fiscal;
- Uso consciente e conservação do bem público;
- Desenvolvimento do interesse no acompanhamento da distribuição e aplicação dos recursos
públicos.

10. AVALIAÇÃO:

 Envolvimento e compromisso por parte de todos nas práticas propostas;


 Execução e finalização das atividades dentro do tempo programado;
 Respeito de freqüência mínima durante todo o transcorrer da capacitação;
 Interação; criatividade, desenvoltura;
 Coerência e coesão com o tema proposto.
Avaliar não é foco principal deste trabalho, contudo pode-se averiguar ao longo da oficina a
participação dos envolvidos nas tarefas propostas, além de analisar a execução das atividades e
das discussões. Os resultados serão disponibilizados no ambiente Wiki para futuras consultas de
outros sujeitos.A culminância com socialização dos resultados evidenciará o alcance dos
objetivos pretendidos.

11. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES:

Bibliotecas a serem utilizadas: Julieta Carteado – UEFS; Municipal de Feira de Santana e


Monteiro Lobato; Entrevista de idosos: Lar do Irmão Velho
12. REFERÊNCIAS

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALMEIDA, Fernando José de & JÚNIOR, Fernando Moraes Fonseca. ProInfo: Projetos e
Ambientes Inovadores. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação,
Brasília, Seed, 2000.
BONTEMPO, Luiza & BORDONI, Thereza Cristina. Pedagogia de Projetos. Caderno Amae.
Belo Horizonte, ed. especial. out. 2000
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais, Secretária da Educação Fundamental - Brasília,
MEC/SEF, 1997.
LDB. Lei 9394/96, art.80 – regulamenta a Educação a Distância, DECRETO Nº 2.494, DE 10
DE FEVEREIRO DE 1998..
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência; o futuro do pensamento na era da informática. Rio
de Janeiro: Ed 34, 1993.
MORAN, José Manuel. Internet no ensino. Comunicação & Educação. V (14): janeiro/abril 1999,
p. 17-26. NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência, 3ª.ed. RJ: Bertrand Brasil, 1999
Schaff SHAFF, Adam. A Sociedade Informática. São Paulo: Brasiliense-UNESP,1992.
SHERRY, L. The nature and purpose of online discourse: a brief synthesis of current research as
related to the WEB Project. International Journal of Educational Telecommunications, 1998.
Viva a lei de Gérson!
Sem resumo

O meio-campista Gérson ficou célebre não apenas por ter sido uma das maiores estrelas do
tricampeonato brasileiro em 1970, mas por ter formulado, na propaganda do cigarro Vila Rica
veiculada anos depois, aquela que viria a ser conhecida como lei de Gérson: "O importante é
levar vantagem em tudo, certo?" - frase dita num carregado sotaque carioca, forçando os erres até
o palato ficar encharcado. Gérson tentou por muito tempo se desvencilhar da fama de
patrocinador dos espertalhões, patrono dos corruptos e propagandista dos canalhas, mas não teve
jeito. A lei de Gérson pegou. Sociólogos, antropólogos e a nata da intelectualidade brasileira já
gastaram horas e mais horas, tinta e mais tinta, neurônios e mais neurônios para condenar nossa
brasileira condição gersoniana. Somos mesmo uma nação de egoístas, corruptos e sacanas, que só
pensam em si e só querem saber de levar vantagem. Certo?
Errado. No fundo, Gérson deveria ter é orgulho. Só a lei de Gérson nos salva nesta era
politicamente correta, em que anão virou "verticalmente prejudicado", pobre virou "excluído
social", débil mental virou "diferentemente capacitado" e em que nem propaganda de cigarro é
mais possível fazer sem pedir desculpas em letras garrafais. O enunciado da lei de Gérson põe a
nu a essência do nosso caráter sem pudor: somos um povo que gosta de levar vantagem. E daí?
Alguém aí teria orgulho de fazer parte de uma nação de trouxas e otários?

Ninguém aqui vai defender um comportamento antiético ou ilegal com base no enunciado da lei
de Gérson. Se ela existe, é em primeiro lugar reflexo da nossa realidade. Veja o caso das nossas
empresas. Na hora de dar entrevista e aparecer na mídia, todas querem loas a sua
responsabilidade social corporativa e boa cidadania. Na hora de declarar imposto, de desempatar
alguma pendenga judicial ou de conseguir autorização para obras, estão todas atrás do primeiro
Rocha Mattos de plantão para livrar-lhes a cara, já que, em meio à nossa barafunda legal, a
propina é questão de sobrevivência e só ela faz a economia andar.

Parece que o povo brasileiro vive uma tensão entre duas forças. Por fora, a força da imagem. Em
público, todos têm de ser como que sacerdotes, com comportamento impecável, retidão moral
absoluta, espinha dorsal inflexível. Os políticos corruptos são condenados com virulência,
qualquer deslize de executivos tem de ser punido de forma exemplar, damos a nossos filhos a
impressão de que a ira divina se abaterá sobre suas menores falhas. Esse sentimento faz a fortuna
e a desgraça de prefeitos, governadores e presidentes. Por dentro, porém, irrompe a força de
Gérson. Ninguém agüenta essa pressão hipócrita. Todos querem o melhor para si - e que mal há
de haver nisso? De posse da menor fímbria de poder, de uma tênue nesga de oportunidade, não
raro transgredimos as mesmíssimas regras cuja transgressão acabamos de condenar nos outros.
Julgamos, condenamos, enforcamos e esquartejamos Gérson. Mas Gérson somos nós. Eis nosso
dilema.

Para que tanta hipocrisia? Nada disso precisa ser assim. A lei de Gérson muito deveria nos
honrar. Basta despi-la da hipocrisia para perceber que é a esperteza nacional que faz o Brasil se
destacar em meio à mediocridade reinante no planeta politicamente correto, em que tudo tem de
ser igual e insosso, em que todos acham que têm direito a tudo, em que a criatividade - e a
verdadeira diferença - foram banidas. Na América Latina, os argentinos choram suas tristezas
frustradas num tango melancólico, enquanto nós brasileiros damos risadas de nossas sacanagens
num alegre sambinha. Qual o problema se podemos ser espertos e felizes? Quem disse que ser
esperto é ruim ou necessariamente antiético? Por que ter vergonha disso em vez de usar a
esperteza a nosso favor?

O empreendedorismo e a criatividade do brasileiro nada mais são que expressões dessa faceta
mais nobre da lei de Gérson. Afinal, empreender não é saber aproveitar oportunidades? Criar não
é violar regras estabelecidas e preconcebidas? Tudo isso não é, no fundo, saber levar vantagem?
Vamos largar a mão de ser bestas e incorporar com orgulho nosso lado Macunaíma. Vamos dar
um basta à histeria politicamente correta que infesta a humanidade e usar nosso próprio antídoto:
a boa e velha lei de Gérson. Viva Macunaíma! Viva Gérson! Ziriguidum. Telecoteco.
Balacobaco, esquindô, esquindô.

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