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ESTM017-17

Materiais Cerâmicos

Prof. Dr. Humberto N. Yoshimura


humberto.yoshimura@ufabc.edu.br
Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas

Mai - Ago 2023

2A – Matérias-primas cerâmicas 1
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Matérias-primas cerâmicas - Sumário

 Características gerais

 Matérias-primas naturais

 Matérias-primas sintéticas

 Aplicações

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Características gerais

 A lista de matérias-primas para a indústria cerâmica é extensa e varia de


produtos minerais e minérios a compostos químicos industriais refinados
 As matérias-primas são selecionadas para aplicações que variam de
cerâmicas tradicionais (produtos de construção, cerâmicas brancas,
refratários) a cerâmicas avançadas (ex., componentes de indústrias
eletrônicas), principalmente com base no preço e disponibilidade, enquanto
mantêm consistência com os critérios propostos
 Estes critérios estão relacionados com o alcance das propriedades dos
produtos finais aceitáveis pelo mercado, pelo uso de processos de produção
de alta eficiência e mínimo custo
 Há uma tendência de globalização/internacionalização de muitas matérias-
primas, mas há também consideráveis quantidades de matérias-primas locais
(como produtos de construção civil) e processamento de matérias-primas
preliminares pelos produtores de cerâmicas (como em aplicações de alta
tecnologia com produção a partir de precursores químicos)

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Pós, partículas, aglomerados e agregados
Partícula é uma unidade sólida
discreta do material e pode ter
composição simples ou multifásica (“pó”
é constituído de partículas)
Classificação de uma partícula
depende da magnitude da sua força
inercial (gravitacional) em relação às
forças superficiais:
Granular – força gravitacional
predomina (escoamento livre do
material)
Pó – força superficial ≈ força
gravitacional (aglomerados naturais)
> 44 µm (325#) – granular Coloide – forças superficiais dominam
~ 44 a 1 µm – pó
(apresenta movimento Browniano)
< 1 µm – coloide
Forças superficiais dependem do
ambiente e comportamento dos pós e
coloides, e podem ser fortemente
Unidades de fórmula por partícula em função do tamanho alteradas por surfactantes adsorvidos
da partícula e faixas de tamanho dos materiais granulares, que alteram as forças superficiais
pós, materiais coloidais e de algumas substâncias.
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Pós, partículas, aglomerados e agregados

Partículas agrupadas, dependendo da força de ligação entre


as partículas:
Aglomerados – ligações fracas (eletrostática, magnética, van
der Waals, capilar)
Agregados – ligações fortes (ligações químicas formadas por
reações químicas ou sinterização)

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Características dos pós
Características físicas Características químicas

Partículas (primárias) Composição química do pó


 Tamanho e forma • Elementos químicos (majoritários,
minoritários e traços)
Aglomerados/agregados • Espécies inorgânicas (ex.,
• Tamanho e forma sulfatos e nitratos) e orgânicas
• Porosidade • Água e outros voláteis
• Quantidade, tamanho e forma
• Número de coordenação Fases
• Resistência mecânica  Cristalinas
• Densidade  Amorfas
• Área de superfície específica
• Permeabilidade Composição superficial
• Compressibilidade • Elementos
• Escoabilidade • Espécies inorgânicas e orgânicas
• Água
• Fases

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Características dos pós

Características físicas e químicas afetam o processamento cerâmico e a


reatividade e sinterabilidade dos pós

Ex.: Partículas finas necessitam de menor tempo/temperatura para


sinterizar; segundo Lei de escala de Herring:

onde, t é tempo, r é tamanho da partícula e n (>1) é uma constante que


depende do mecanismo de sinterização

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Tamanho e distribuição de tamanho de partículas

Peneiramento

Abertura da Nº da malha
malha (µm) Tyler (mesh, #)
177 80
149 100
125 120
105 140
88 170
74 200
63 250
53 270
44 325
37 400

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Exemplos de pós cerâmicos
Características:

Forma das partículas :


• Regular X irregular
(não esféricas)
• Arredondada X facetada
(moagem)

Superfície:
Quartzo Mica • Lisa X rugosa

Distribuição de tamanhos

Aglomerados X agregados:
• Conhecimentos sobre
método de produção do
pó (moagem, síntese)
auxilia a interpretar
como as partículas estão
Alumina calcinada Titanato de bário unidas
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Classificação das matérias-primas cerâmicas


Categoria Pureza Exemplos de Materiais
(%)
Materiais “brutos” Variável Folhelhos argilosos, argila plástica (contendo
(pouco beneficiados) fundentes), argila para telha, bauxita bruta, cianita
bruta, argila plástica natural (ball clay, para cerâmica
branca), bentonita
Minerais industriais 85-98 Argila plástica (ball clay), caulim, bentonita refinada,
(quartzo pirofilita, talco, feldspato, nefelina sienita, wollastonita,
99) espodumeno, sílica (arenito, quartzito), cianita, bauxita,
zircão, rutilo, minério de cromo, caulim calcinado,
dolomita
Produtos químicos 98-99,9 Alumina calcinada (processo Bayer), MgO calcinado
inorgânicos (de salmouras, água do mar), Al2O3 eletrofundido, MgO
industriais eletrofundido, AlN, SiC, Si3N4, BaCO3, TiO2, titanatos
calcinados, óxido de ferro, ferritas calcinadas, ZrO2,
zircônia estabilizada, zirconatos calcinados
Produtos químicos >99,9 Diversos materiais
inorgânicos especiais
Traduzido de: J.S. Reed. Principles of Ceramics Processing, 1995.
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Matérias-primas naturais

 Disponibilidade das matérias-primas naturais depende da


quantidade na crosta terrestre, do grau de sua concentração na
natureza e do grau de acessibilidade aos depósitos

 A abundância do elemento na crosta nem sempre é determinante

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Localização dos principais depósitos
de caulins no Brasil

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Argila e argilominerais

Argila: material natural, de textura terrosa ou argilácea, de granulação fina,


com partículas de forma lamelar ou fibrosa, constituída essencialmente de
argilominerais, podendo conter outros minerais não argilosos (quartzo,
hidróxidos de Fe e Al, mica, feldspatos, calcita, etc.), matéria orgânica (húmus
e microrganismos) e outras impurezas

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Argila e argilominerais

Argilominerais: aluminossilicatos hidratados com estrutura cristalina em


camadas (lamelar), ou fibrosa, constituídos por camadas de tetraedros de SiO4,
ordenadas em forma hexagonal, condensadas (intercaladas) com camadas
octaédricas de alumínio, e com menor frequência de magnésio, ferro e potássio
Formados basicamente de camadas intercaladas de sílica (SiO2) e hidróxido de
alumínio [Al(OH)3], que se unem pela camada de oxigênio e hidroxila
São constituídos essencialmente por partículas de pequenas dimensões (<2 µm)
São resultantes da hidratação de silicatos de alumínio, ferro e magnésio
Podem apresentar plasticidade, absorção e retenção de água, e capacidade de
troca iônica

Partículas maiores do que 2 µm: silte, areia e pedregulho; impurezas minerais,


como quartzo, ilmenita, mica, hematita, goetita

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Principais tipos de argilas utilizados em materiais cerâmicos:

Argilominerais

Cauliníticas: constituídas essencialmente por minerais do grupo da caulinita;


pertencem a este grupo todos os silicatos de alumínio hidratados; apresentam
cores claras de queima por serem pobres em óxidos e hidróxidos de ferro e de
outros elementos cromóforos; possuem menor plasticidade e menor retenção de
água; partículas: placas hexagonais de 0,1 a 3 µm; caulim calcinado para
refratários

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Esmectíticas ou Montmoriloníticas: constituídas por argilominerais do grupo


da esmectita (silicatos compostos com alumínio, magnésio e ferro, e algumas
vezes cálcio e sódio); são muito plásticas, e possuem grande capacidade de
retenção de água; presença de óxidos e hidróxidos de ferro acima de certos
limites propicia uma coloração vermelha ou avermelhada; também conhecidas
como argilas expansivas devido à relativa facilidade com que variam seu volume;
partículas: placas irregulares com tamanhos <1 µm

Ilíticas: compostas por argilominerais do grupo da ilita (que engloba neste


grupo variedades micáceas, constituídas por silicatos hidratados de alumínio,
ferro, potássio e magnésio); características intermediárias entre as argilas
cauliníticas e esmectíticas; placas irregulares de ~1 µm

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Distribuição granulométrica de algumas argilas naturais

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Imagens de caulins

Imagens de MEV de caulim 1: (a) aglomerado; (b) disperso em plaquetas

Barras = 1 µm
Imagens de MET de caulim 2 com tamanho de ~0,7 µm (a sombra é 3x espessura da placa)
Nota: MEV – microscópio eletrônico de varredura; MET – microscópio eletrônico de transmissão 19
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Classificação das argilas segundo o uso

Fonte: F.H. Norton, 1973


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Características físico-químicas e cerâmicas de duas argilas plásticas

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Outras matérias-primas naturais

Quartzo (SiO2) mineral


Uso amplo da sílica na cerâmica devido à dureza, relativa infusibilidade, baixo
custo e capacidade de formar vidros
Quartzo moído de depósitos relativamente puros: uso em produtos vítreos,
refratários e cerâmicas brancas

Fonte: F.H. Norton, 1973


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Quartzo (SiO2) mineral

Fonte: F.H. Norton, 1973

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Feldspatos

Minerais abundantes de custo relativamente baixo usados como fundentes na


produção de cerâmicas brancas, como fonte de alumínio na produção de vidros
e como fonte de álcalis na produção de vidrados e esmaltes

Tipos principais:
 Albita: NaAlSi3O8
 Microclínio ou ortoclásio: KAlSi3O8
 Anortita: CaAl2Si2O8
 Nefelina sienita: contendo albita, microclínio e nefelina [K0,5Na1,5(Al,Si)2O8]

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Feldspatos

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Magnesita, calcita, dolomita e cromita

Matérias-primas para refratários básicos devido ao alto ponto (temperatura) de


amolecimento e estabilidade em contato com muitas escórias

Magnesita (MgCO3), calcinada para eliminação do CO2:


Magnésia cáustica: 700 a 1200ºC (sobra 1 a 2% CO2), usada em cimento
Magnésia calcinada “a morte” (inerte ou estabilizada): 1450 a 1500ºC (grãos
sinterizados), usado principalmente em refratários

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Magnesita, calcita, dolomita e cromita

Calcário - calcita (CaCO3)


Natural usado em cerâmica branca, vidros, vidrados e esmaltes
Calcinação produz cal virgem; cal hidratada (hidróxido de cálcio) para
argamassas e estuques (construção civil)

Dolomita - (Mg,Ca)CO3
Natural usado em cerâmicas e vidros (fontes de CaO e MgO)
Calcinação a morte para refratários

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Magnesita, calcita, dolomita e cromita

Cromita
Minérios de cromita: compostos principalmente de solução sólida de espinélios
[(Mg,Fe)(Al,Cr,Fe)2O4]; largamente usados em refratários; fonte de óxido de
cromo e outros compostos empregados em cerâmica como corantes e
pigmentos

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Outros minerais fundentes
Minerais de lítio: espodumênio (Li2Al2Si4O12), lepidolita (LiKAl2F2Si3O9),
ambligonita (Li2F2Al2P2O8) e petalita (LiAlSi4O10)
 Uso em vidros, vitrocerâmicas, vidrados, esmaltes para metais resistentes a
ácidos e para reduzir coeficiente de expansão térmica dos materiais

Minerais de bário: barita (BaSO4) e viterita (BaCO3)


 Em vidros, vidrados e esmaltes
 Formam sulfato de bário insolúvel para evitar manchas e eflorescência na
superfície de cerâmicas vermelhas
Minerais de flúor: fluorita (CaF2)
 Vidros ópticos de baixo índice de refração e em esmaltes
Minerais fosfáticos: apatita [(Ca5(Cl,F)(PO4)3], pouco usada em vidros e
esmaltes
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Outros minerais usados no processamento de cerâmicas

 Silicatos de magnésio
Talco [Mg3Si4O10(OH)2]: estruturas em camadas (análogas às da montmorilonita)
 Amplo uso em isoladores elétricos de esteatita, cordierita e em alguns produtos
de cerâmica branca, como louça doméstica “refratária” (de forno)

Asbesto ou amianto: tremolita [H2Ca2Mg5(SiO3)8], antofilita [H2Mg7(SiO3)8] e


crisotila (H4Mg3Si2O9); estrutura em cadeia dupla com clivagem em fibras
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 Minerais aluminosos
Bauxita: principal minério de Al; consiste de mistura de minerais gibbsita
[Al(OH)3], boehmita [γ-AlO(OH)] e diásporo [α-AlO(OH)]; principais impurezas:
óxidos de ferro (goetita e hematita), caulim e anatásio (TiO2)
Silimanita (Al2SiO5): fonte de alumina em refratários
Pirofilita [Al2Si4O10(OH)2]: estrutura em camadas similar à da montmorilonita

 Outros minerais
Zircão (SiZrO4): uso em refratários
Wollastonita (CaSiO3): uso em composições de revestimentos e vidrados
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Matérias-primas naturais

Caulim - PA
Feldspato (microclina) - RJ

Feldspato (nefelina sienito) - BA


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Tratamento das matérias-primas naturais
Após a mineração, os minérios são tratados por operações de cominuição
(britadores, moinhos, galgas) ou desintegração (argilas), classificação
granulométrica (peneiras, classificador de ar) e secagem (fornos rotativos), se o
processo envolver meio líquido (água).
Podem também ser submetidos a beneficiamentos de concentração/purificação
(separação magnética, flotação, filtração, tratamentos químicos) e calcinação
(fornos rotativos)

Britador de Britador Galga Moinho de


mandíbula giratório bolas
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