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TÍTULO

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas”

AUTORIA
Laboratório de Nutrição FMUL

COORDENAÇÃO EDITORIAL
Joana Sousa

COLABORAÇÃO
Ana Brito Costa, Catarina Sousa Guerreiro, Cristina Garagarza, Inês Asseiceira,
Inês Santos, Joana Sousa, João Vasques, Maria Ana Kadosh, Mariana Liñan Pinto,
Sara Policarpo, Telma Nogueira, Vitória Dias da Silva

COMPILAÇÃO E REVISÃO
Inês Pires, João Vasques, Mariana Liñan Pinto, Vitória Dias da Silva

PAGINAÇÃO
Gabinete de Comunicação FMUL

ILUSTRAÇÕES
DrawKit.com

Outubro 2021 © Laboratório de Nutrição FMUL

COMO CITAR: Laboratório de Nutrição FMUL. Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas”.


(Laboratório de Nutrição FMUL, ed.). Lisboa; 2021
Conteúdos
Enquadramento
Sobre o conceito de dieta, a sua história e evolução José Camolas P.5 ↗

E agora, qual?
O que a evidência científica nos diz

1 ∙ Dieta Planetária Joana Sousa P.11 ↗

2 ∙ Dieta Mediterrânica Inês Santos P.16 ↗

3 ∙ Dieta Nórdica Maria Ana Kadosh P.20 ↗

4 ∙ Jejum Intermitente Catarina Sousa Guerreiro P.23 ↗

5 ∙ Dieta Cetogénica Ana Brito Sousa P.28 ↗

6 ∙ Dieta Paleolítica Mariana Liñan Pinto P.34 ↗

7 ∙ Dieta Alcalina João Vasques P.37 ↗

8 ∙ Dieta Macrobiótica Vitória Dias Silva P.42 ↗

9 ∙ Dieta Intuitiva Cristina Garagarza P.45 ↗

10 ∙ Dieta Plant-Based Sara Policarpo P.48 ↗

11 ∙ Dieta Vegetariana Telma Nogueira P.52 ↗

12 ∙ Baby-Led-Weaning Inês Asseiceira P.56 ↗


Lista de Abreviaturas
AVC - Acidente Vascular Cerebral

BDA - British Dietetic Association

BLW - Baby-Led-Weaning

CoA - Acetil coenzima A

DC - Dieta Cetogénica

DCC - Dieta Cetogénica Clássica

DCV - Doença Cardiovascular

DM - Dieta Mediterrânica

DMT2 - Diabetes Mellitus tipo 2

DN - Dieta Nórdica

hPDI - Healthy Plant-Based Diet Index

IAN-AF - Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física

IMC – Índice de Massa Corporal

JI - Jejum Intermitente

ODS - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

PDI - Plan­t-based Diet Index

uPDI - Unhealthy Plant-Based Diet Index


∙ Enquadramento ∙

Sobre o conceito de
dieta, a sua história
e evolução
José Camolas

Com origem no termo grego diaita, o significado primordial de dieta seria estilo ou
modo de vida, um constructo amplo, não restrito ao comportamento alimentar. A
propósito da origem e evolução do termo, Falcato e Graça apontam a depreciação
contemporânea do valor da dieta, assinalando-a como “uma expressão que viu o
seu significado ficar empobrecido”, ao ser utilizado comummente com o sentido de
“perder peso”.1

Do supramencionado pode deduzir-se uma menorização da dieta, enquanto


descritor do controlo ponderal, face ao significado seminal de modus vivendi. Este
último, afigura-se muito mais alinhado com o papel central da alimentação na histó-
ria da humanidade, na medida em que, além do facto da disponibilidade de alimentos
ser determinante para a vida, as ações conducentes à sua obtenção e preparação
terão influenciado o estabelecimento e modelação das relações humanas, influindo
na evolução cognitiva, cultural e civilizacional.

Considerando as hipóteses teóricas, relativas aos primórdios da evolução


humana, e os registos históricos disponíveis, intui-se que, durante uma porção
significativa da sua existência, os nossos antepassados terão estabelecido uma
significativa porção das suas vivências em redor da alimentação. Dito de outra
forma, tanto os exercícios interpretativos, como os relatos disponíveis, relevam a
alimentação como um elemento central e um determinante do modo de vida dos
seres humanos.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 5


Raymond Dart, suportado nas teorias de Darwin, apontou os desafios à
sobrevivência, impostos pelas savanas africanas, como força motriz da evolução
rumo ao género Homo2. Num contexto desafiante, a adoção da posição ereta teria
possibilitado aos nossos antepassados um melhor controlo espacial e libertado as
mãos para transportar os alimentos. Mesmo que a Hipótese da Savana não tenha
prevalecido, face às evidências mais recentes, outras teorias reportam à associa-
ção estreita entre a evolução humana e a alimentação. É o caso da teoria do “homem
aquático” (conhecida como AAT) de Sir Alister Hardy, que propôs uma etapa evolu-
tiva intermédia – entre a vida nas arvores e a vida terrestre – em ambiente aquático,
motivada pela competição por alimentos3. Entusiasta desta hipótese, Elaine Morgan
destaca a investigação relacionada com o papel potencial dos ácidos gordos polin-
saturados, provenientes dos alimentos marinhos, no desenvolvimento cerebral dos
nossos antepassados4. Em resumo, os desafios impostos à sobrevivência terão
apelado ao engenho (e.g. estratégias de caça, manipulação do fogo) e à capacidade
de adaptação dos nossos antepassados, modelando a sua fisiologia e comporta-
mento social.

A modelação dos humanos e do seu estilo de vida pela alimentação tem um


marco incontornável na Revolução Neolítica, caracterizada pelo abandono da vida
nómada, em busca de alimentos, e uma progressiva transição agrícola. O maior
acesso a alimentos facilitou a sobrevivência e terá possibilitado (pela primeira vez,
de forma substantiva) a constituição de reservas alimentares, permitindo a adoção
de modelos de funcionamento e organização social mais complexos e hierárquicos.

A mudança de paradigma, decorrente da revolução agrícola, não diminuiu o


papel da alimentação na vida dos humanos. Pelo contrário, a domesticação de plantas
e animais impôs novos desafios, que continuaram a determinar a confluência entre
a necessidade de obter alimentos e os modos de vida dos indivíduos e comunida-
des. Neste âmbito, as primeiras “tecnologias” e, provavelmente, a escrita cuneiforme
terão a sua génese associada aos alimentos. Da mesma forma, um grande número
de normas sociais terá derivado de oportunidades e constrangimentos relacionados
com a alimentação. A título de exemplo, o Código de Hamurabi, compilação de leis
da antiga Babilónia que, alegadamente, constitui o primeiro código de leis conhecido,
integra artigos dedicados à gestão da produção e regadio das culturas, indicando
também o papel dos alimentos como meio de pagamento de bens ou serviços.

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Muito antes do termo diaita ser cunhado, a interinfluência entre a alimen-
tação e o estilo de vida era evidente para os nossos antepassados. A vida seria o
resultado da dieta e esta um reflexo da vida. É nesta lógica que a estratificação
social se acompanhou da hierarquização no acesso à alimentação, na perspetiva
em que quanto mais elevado o estrato social do individuo mais fácil e amplo seria
o seu acesso aos alimentos. Será também neste enquadramento, e num processo
de evolução cognitiva e ética, que surgirão os primeiros “reparos” aos “excessos
alimentares”. Como assinala Paula Barata Dias, a evicção alimentar evoluiu, de uma
base instintiva ligada à sobrevivência – não comer “porque sabe mal” ou “porque faz
mal”), para um exercício racional e ético (não comer “porque está errado”. A mesma
autora, faz igualmente menção ao valor do consumo episódico, relacionado com
a escassez do alimento5. Esta última, remete-nos para paradigmas de reflexão
recentes, a propósito da sustentabilidade alimentar e ambiental, nomeadamente os
limiares planetários e a respetiva conciliação com o direito humano à alimentação.
Neste âmbito, discutem-se os desafios à formulação e adoção de dietas saudáveis
e à implementação de sistemas alimentares sustentáveis no Antropoceno – a época
geológica caracterizada pelo impacto dominante da humanidade nas alterações
sofridas pelo planeta Terra6.

Não será excessivo afirmar que a dieta constitui uma parte substantiva da
identidade de cada indivíduo. Os comportamentos alimentares e os argumentos,
contrários ou favoráveis, à sua adoção estão em interinfluência constante, com
normas sociais e de cariz ético-religioso, e são alvo de reflexões de natureza filo-
sófica. Neste âmbito, e no que concerne ao papel da dieta na saúde e na doença,
são incontornáveis as reflexões de Hipócrates. As suas considerações sobre Ares,
Águas e Lugares – que chegaram a nós por intermédio da tradução e compilação das
suas obras efetuada por Littré – apontavam que a compreensão plena da Medicina
requeria, entre outros elementos determinantes, a observação do estilo de vida,
nomeadamente, os comportamentos alimentares dos indivíduos7. Será com base
nestas reflexões que a frase “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento
seja seu remédio” lhe é recorrentemente atribuída.

A alimentação evoluiu, simbolicamente, da representação basal de fator de


sobrevivência, para elemento de relação, estatuto social e interação com o Divino.
O papel de determinante na saúde (física e espiritual) dos indivíduos, faria esperar
um engrandecimento da dieta e não o empobrecimento do conceito, como antes

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 7


se aludiu. O Manifesto pela Preservação da Dieta Mediterrânica (DM) em Portugal
destaca que o modelo cultural de DM “[…] resulta da interação equilibrada entre o
homem e a natureza, modelou social e culturalmente todas as sociedades mediter-
rânicas e influenciou outras regiões do planeta”8. Este argumento, ao qual se juntam
outros de relevo semelhante, faz justiça ao valor da dieta e à importância da sua
preservação, enquanto valor ancestral.

Regressando ao suposto empobrecimento do valor social da dieta, nomeada-


mente à utilização do termo para descrever a abordagem nutricional da obesidade,
justifica-se alertar que falamos de uma doença crónica, de proporções epidémicas e
profundo impacto na morbilidade e mortalidade, de amplitude global. Desta forma, a
depreciação do termo dieta só se verificará quando o mesmo seja aplicado a interven-
ções avulsas, sem suporte científico e/ou benefício demostrado (ou demonstrável)
para as pessoas com obesidade. Como escreveu William Banting: “obesity seems to
me very little understood or properly appreciated by the faculty and the public generally”9.
Esta frase e a publicação de três edições da sua Letter on corpulence, addressed to the
public, publicada em 1869, farão deste destacado agente funerário inglês o primeiro
influenciador social, e um dos primeiros a apontar a discriminação e o preconceito,
relativamente à obesidade. O papel determinante da dieta na génese e na terapêu-
tica da obesidade (e de outras doenças crónicas metabólicas) é demonstrativo da sua
importância, e totalmente alinhado com o seu lato sensu de modo de vida.

O risco maior não estará na possível depreciação social da dieta, mas antes
– e exatamente devido à sua importância e significado ancestral – na utilização
abusiva do termo em abordagens desadequadas, que induzem os indivíduos em
erro e constituem um verdadeiro risco de iatrogenia. Assim, mais do que a depre-
ciação do termo dieta, a tolerância dos atores em saúde e da restante sociedade
perante a proliferação de “dietas” e suplementos “dietéticos”, sem qualquer funda-
mentação técnico-científica, constitui um importante risco de saúde pública. Desta
forma, fazer justiça ao valor da dieta passará por proporcionar aos cidadãos, acesso
à alimentação adequada ao seu estado clínico. As limitações no acesso a cuidados
nutricionais diferenciados (essa sim!) é altamente depreciativa e discriminatória,
para uma proporção significativa de cidadãos, acarretando encargos elevadíssi-
mos, diretos e indiretos, para a saúde.

Assim, são apresentadas de seguida diferentes “dietas” da atualidade e o seu


enquadramento à luz da atual evidência científica.

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∙ Referências Bibliográficas

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3. Hardy A. Was man more aquatic in the past?


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Published March 1960. Accessed October 10, 2021

4. Morgan E. Was Man More Aquatic in the Past.


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doi.org/10.1177/026010600201600106

5. Dias PB. Em defesa do vegetarianismo: o


lugar de Porfírio de Tiro na fundamentação
ética da abstinência da carne dos animais. In:
Soares C, Dias PB. Contributos para a história
da alimentação na antiguidade. Coimbra:
Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da
Universidade de Coimbra; 2012: 80–92.

6. Willett W, Rockström J, Loken B, et al. Food in


the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission
on healthy diets from sustainable food
systems. 2019; 393(10170): 447-492. https://doi.
org/10.1016/S0140-6736(18)31788-4

7. Hippocrates. Hippocrates on Airs, Waters,


and Places: The Received Greek Text of Littré,
with Latin, French, and English Translations
by Eminent Scholars. Wyman & Sons. 1881.
https://wellcomecollection.org/works/yq4yz9bf
Published 1881. Accessed October 10, 2021

8. Graça P, Queiroz J, Cabral CB. Manifesto


pela Preservação da Dieta Mediterrânica em
Portugal. https://nutrimento.pt/activeapp/
wp-content/uploads/2018/10/Manifesto-pela-
preservac%CC%A7a%CC%83o-da-Dieta-
Mediterra%CC%82nica-.pdf Published 2018.
Accessed October 10, 2021

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E agora, qual?
O que a evidência científica nos diz
∙1∙

Dieta Planetária
Joana Sousa

A Dieta Planetária ou também designada como Dieta do Antropoceno foi desen-


volvida em 2019 pela EAT-Lancet Commission on Food, Planet, Health1. Esta dieta
é o resultado da preocupação desta comissão quando, em 2015, apresentou o
conceito de saúde planetária referindo-se à preocupação com a “saúde da civi-
lização humana e ao estado dos sistemas naturais dos quais ela depende”. Este
conceito veio transformar o campo da saúde pública, que tradicionalmente tem
como foco a saúde das populações humanas sem considerar os sistemas natu-
rais. Esta dieta foi criada com o intuito de destacar o papel crítico que as dietas
desempenham ao vincular a saúde humana e a sustentabilidade ambiental, bem
como a necessidade de integrar essas agendas, frequentemente separadas, numa
agenda global comum para a transformação do sistema alimentar para alcançar
os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)2 e o Acordo de Paris3.

Há evidências científicas substanciais que relacionam as dietas com a


saúde humana e a sustentabilidade ambiental. No entanto, a ausência de metas
científicas que conjuntamente se preocupam com dietas saudáveis e produ-
ção sustentável de alimentos tem impedido os esforços coordenados e de larga
escala para transformar o sistema alimentar global. A forma como os alimentos
são produzidos, o que é consumido e quanto é perdido ou desperdiçado influencia
fortemente a saúde das pessoas e do planeta4.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 11


Para atender a essa necessidade, a EAT-Lancet Comission reuniu 37 cien-
tistas líderes, de 16 países, líderes em várias disciplinas, incluindo saúde humana,
agricultura, ciências políticas e sustentabilidade ambiental, para desenvolver
metas científicas globais para dietas saudáveis e produção de alimentos susten-
tável, surgindo assim a Dieta Planetária1.

A Comissão reconhece que os sistemas alimentares têm impactos ambien-


tais ao longo de toda a cadeia de abastecimento, desde a produção ao processa-
mento e retalho e, além disso, vão além da saúde humana e ambiental, afetando
também a sociedade, a cultura, a economia e a saúde e bem-estar animal.
Assim, esta dieta assenta em propósitos finais do sistema alimentar global:
consumidor - consumo final (alimentação saudável) e processo - produção
(produção sustentável de alimentos), sendo que a alimentação é o promotor mais
forte para otimizar a saúde humana e a sustentabilidade ambiental no Planeta.
Estes propósitos apresentam um impacto distinto na saúde humana e na susten-
tabilidade ambiental1.

A alimentação saudável baseia-se numa ingestão calórica ideal e esco-


lhas alimentares predominantemente de alimentos vegetais diversificados, baixa
quantidade de alimentos de origem animal, preferência em gordura insaturada e
quantidades limitadas de cereais refinados, alimentos altamente processados e
açúcares adicionados. Do ponto de vista de princípios alimentares da dieta plane-
tária, facilmente identificamos a sua aproximação e similitude com outros tipos
de dieta, como é o caso da DM, cujo impacto benéfico na saúde é altamente reco-
nhecido na evidência científica5.

A Dieta Planetária foi desenvolvida com base na evidência disponível sobre


dieta e saúde humana, e as conclusões são baseadas em evidências consistentes
de muitos tipos de estudos. Inclui vários estudos randomizados e estudos epide-
miológicos de elevados follow-up envolvendo centenas de milhares de pessoas ao
longo de várias décadas6.

A Dieta Planetária apresenta limites de ingestão diária de alimentos e/ou


grupos de alimentos específicos (Figura 1), dentro dos quais a produção global de
alimentos deveria permanecer para diminuir o risco de mudanças irreversíveis
e potencialmente catastróficas no sistema terrestre7. É uma dieta de referên-
cia mundial desenvolvida para indivíduos adultos saudáveis que é representada

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simbolicamente por um prato dividido por diferentes porções de alimentos. Meio
prato é composto por hortofrutícolas e a outra metade principalmente por cereais
integrais, alimentos fonte de proteínas vegetais (feijões, lentilhas, leguminosas,
nozes), óleos vegetais insaturados, quantidades modestas de carne e laticínios e
alguns açúcares adicionados e vegetais ricos em amido (Figura 2)1.7.

Pela sua diversidade alimentar, a sua flexibilidade é uma característica


importante permitindo adaptação às necessidades alimentares, preferências
pessoais e tradições culturais1.

Este tipo de dieta, por se basear em considerações de saúde, torna-se


consistente com muitos padrões alimentares tradicionais, como é o caso da DM.
Logo, também na Dieta Planetária, a população global não tem de consumir exata-
mente os mesmos alimentos ou fazer exatamente as mesmas escolhas e conjuga-
ções alimentares, não sendo uma dieta “estanque”. Esta dieta identifica grupos de
alimentos empíricos e intervalos de ingestão de alimentos, que combinados entre
si num plano alimentar diferenciado otimizam a saúde humana, sendo fundamen-
tal a interpretação local e a adaptação da dieta de acordo com a cultura, a geogra-
fia e a demografia da população e dos indivíduos7.

A própria Comissão ressalva que em relação à adoção desta dieta em algu-


mas populações, não poderá ser esquecido que existem populações que depen-
dem dos meios de subsistência agro-pastoris e da proteína animal do gado, e que
outras que apresentam prevalências significativas de desnutrição, pelo que obter
quantidades adequadas de micronutrientes apenas de alimentos de origem vege-
tal pode ser difícil. Assim, o papel dos alimentos de origem animal na dieta deve
ser cuidadosamente considerado em cada contexto e dentro das realidades locais
e regionais7.

Sendo uma dieta com uma criação relativamente recente, a sua eficácia e
impacto na saúde e na sustentabilidade ambiental ainda não é robusta do ponto
de vista científico. Mas, tendo em conta os propósitos do seu desenvolvimento
(consumo final e produção), o facto dos seus princípios alimentares se asseme-
lharem fortemente à DM e da evidência forte do papel dessa dieta em várias situa-
ções de saúde (estado nutricional saudável e prevenção no desenvolvimento e
recorrência de várias doenças)5,8, torna-se patente o papel da Dieta Planetária na
saúde. Adicionalmente, o facto de ser evidente o impacto ambiental da produção

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 13


alimentar4,9,10, parece ser manifesto que esta Dieta permitirá responder de forma
clara ao seu desígnio, ou seja, permitir o alcance dos ODS2 e do Acordo de Paris3,
sem comprometer a satisfação das necessidades alimentares e nutricionais da
população, sendo emergente a necessidade de planeamento e implementação
de políticas alimentares ao nível regional e local para promoção e implementação
desta Dieta em Portugal11.

← Figura 1 ∙ Limites de ingestão diária


de alimentos e/ou grupos de alimentos
específicos da Dieta Planetária7

↑ Figura 2 ∙ Representação
gráfica da Dieta Planetária1

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 14


∙ Referências Bibliográficas

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2. United Nations. The 17 Goals: Sustainable 9. Fanzo J, Bellows AL, Spiker ML, Thorne-Lyman
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6. Knuppel A, Papier K, Key TJ, Travis RC.


Supplementary Appendix. In: Knuppel A, Papier
K, Key TJ, Travis RC. EAT-Lancet score and
major health outcomes: the EPIC-Oxford study.
The Lancet. 2019; 394(10194): 213-214 doi: http://
dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)31236-X.

7. Willett W, Rocktröm J, Loken B, Springmann


M, Lang T, Vermeulen S, et al. Food in the
Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on
healthy diets from sustainable food systems.
The Lancet. 2019; 393(10170): 447–92. doi:
org/10.1016/S0140-6736(18)31788-4.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 15


∙2∙

Dieta Mediterrânica
Inês Santos

A Dieta Mediterrânica é considerada a mais saudável em todo o mundo.


Reconhecida pela UNESCO como património cultural imaterial da humanidade1,
este padrão alimentar, que ultrapassa a mera perspectiva nutricional e reflete a
cultura e tradição dos países da bacia do mediterrâneo (incluindo Portugal), é hoje
considerado um modelo de referência a nível mundial para a promoção de um bom
estado de saúde e prevenção de doença2.

O padrão alimentar Mediterrânico preconiza uma ingestão alimentar


baseada na diversidade, na predominância de alimentos de origem vegetal (horto-
frutícolas, pão de qualidade e cereais integrais, leguminosas frescas e secas,
frutos secos e oleaginosos) e no consumo de produtos produzidos localmente,
frescos e da época. Promove a frugalidade e preparados culinários simples, que
protegem os nutrientes (como as sopas ou os estufados), o consumo de azeite
como principal fonte de gordura, o consumo moderado de lacticínios, o consumo
frequente de pescado e baixo de carnes vermelhas, a utilização de ervas aromáti-
cas para temperar em detrimento do sal, a água como bebida de eleição ao longo
do dia, o consumo baixo a moderado de vinho e apenas nas refeições principais e
a convivialidade à volta da mesa3.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 16


Em termos práticos, a sua implementação no quotidiano
dos portugueses é relativamente fácil4:

∙ Fazer 3 refeições principais (pequeno- ∙ Preferir as técnicas culinárias saudáveis


almoço, almoço e jantar) intercaladas com tradicionais, como as jardineiras, os
pequenos lanches ao longo do dia; estufados, as caldeiradas, as sopas, as
cataplanas, os arrozes e os grelhados,
evitando os refogados e os fritos;
∙ Incluir nas refeições principais:
pescado (duas ou mais vezes por semana),
carne de aves e coelho (duas vezes ∙ Optar por fruta para os lanches da
por semana) ou ovos (dois a quatro por manhã ou da tarde, assim como lacticínios
semana), reduzindo o consumo de carnes magros (leite, iogurte ou queijo) e frutos
vermelhas (menos de duas vezes por secos e oleaginosos (nozes, amêndoas,
semana) e de carnes processadas (menos figos secos, entre outros);
de uma vez por semana); leguminosas
secas e frescas (feijão, grão-de-bico,
lentilhas, chícharo, fava, ervilha), mais de ∙ Beber bastante água ao longo do dia ou,

duas vezes por semana, na sopa ou em alternativa, outras bebidas sem adição

no prato; cereais pouco refinados de açúcar, cafeína ou álcool (por exemplo,

(pão de mistura ou integral, arroz pouco infusões de ervas como tília, cidreira,

polido, massa de trigo duro ou couscous) camomila, lúcia-lima);

ou batata (até três vezes por semana);


produtos hortícolas de diferentes cores
∙ Moderar o consumo de vinho e/ou
e texturas, na sopa ou no prato; e fruta
cerveja (1 copo pequeno para as mulheres
como sobremesa;
e 2 copos pequenos para os homens) e
apenas às refeições, evitando o consumo

∙ Utilizar o azeite para cozinhar e de bebidas destiladas (aguardentes,

temperar, assim como ervas aromáticas licores ou outros).

(salsa, coentros, louro, manjericão,


orégãos, entre outras), quantidades
moderadas de especiarias (noz-moscada,
cominhos, cravinho ou outras), cebola e
alho, em detrimento do sal;

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 17


Evidência científica cumulativa suficientemente robusta suporta a asso-
ciação entre a elevada adesão ao padrão alimentar Mediterrânico e o aumento
da longevidade5,6, assim como a prevenção e gestão das doenças crónicas não
transmissíveis associadas à idade e mais prevalentes nas sociedades afluentes,
incluindo as doenças cardiovasculares (DCV) e metabólicas, as doenças neuro
degenerativas e alguns tipos de cancro6,7. De facto, a DM tem sido utilizada como
uma abordagem modelo para a prevenção e gestão do excesso de peso e obesi-
dade. Uma adesão elevada a este padrão alimentar parece estar associada a menor
peso corporal8, à manutenção do peso perdido ou prevenção do reganho de peso
a longo prazo9,10,11 e à perda de peso significativa, especialmente se associada a
atividade física e se implementada por pelo menos 6 meses12. Os mecanismos
subjacentes aos seus benefícios nestas doenças parecem advir de uma ingestão
aumentada de fibra alimentar, micronutrientes e substâncias com propriedades
antioxidantes decorrentes de um maior consumo de hortofrutícolas, e uma maior
proporção de gordura monoinsaturada proveniente do azeite e polinsaturada
amplamente presente no peixe.

Contudo, a evidência científica tem vindo a revelar o afastamento gradual


da adesão aos princípios e recomendações deste padrão alimentar por parte
dos países mediterrânicos e a aproximação ao estilo de vida ocidental13,14. A este
respeito, os resultados do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-
AF)15 revelam que apenas 27,8% dos Portugueses reportam uma adesão elevada
ao padrão alimentar Mediterrânico, sendo que 41,4% reportam uma adesão mode-
rada e 30,8% baixa adesão. A adesão elevada parece ser superior no sexo mascu-
lino (29,1% vs. 26,6% no sexo feminino) e nos indivíduos idosos (65-84 anos: 43,7%),
e muito inferior nos adolescentes (10-17 anos: 8,6%). As regiões Centro, Alentejo
e Norte são as que refletem maior prevalência de elevada adesão (32,3%, 30,7%
e 29,4%, respetivamente), sendo a Região Autónoma dos Açores a que reflete
menor prevalência (17,7%).

Torna-se assim notória a importância do aumento da sensibilização da popu-


lação portuguesa para a adesão a esta herança cultural e alimentar, assim como
a sua transmissão ao longo das gerações, de forma a potenciar a saúde pública.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 18


∙ Referências Bibliográficas

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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 19


∙3∙

Dieta Nórdica
Maria Ana Kadosh

A Dieta Nórdica (DN), também conhecida como a dieta do Mar Báltico, partilha algu-
mas características com a DM e é considerada pela Organização Mundial da Saúde
como um padrão alimentar saudável1. Foi desenvolvida pelos países nórdicos e
enfatiza o consumo de alimentos com origem na Dinamarca, Finlândia, Islândia,
Noruega e Suécia. Inclui alimentos como bagas e frutos, hortícolas, cereais inte-
grais (aveia, centeio e cevada), peixes gordos (arenque, cavala e salmão), peixes
magros e óleo de canola. Restringe alimentos processados e açucarados. É predo-
minantemente de origem vegetal e inclui alimentos sazonais, frescos e produzidos
localmente, preferencialmente de produção biológica, sendo por isso um padrão
alimentar sustentável.

Em 2004 foi desenvolvido o conceito da Nova Dieta Nórdica por chefs nórdi-
cos, incluindo René Redzepi e Claus Meyer, que assinaram um manifesto baseado
em quatro princípios: 1) saúde, 2) potencial gastronómico, 3) sustentabilidade e 4)
identidade nórdica2. Este manifesto deu maior visibilidade a este padrão alimentar
e captou a atenção por parte dos media ao nível internacional.

Os benefícios para a saúde da DN têm sido estudados, apesar de não tão


amplamente como os da DM, destacando-se a melhoria dos fatores de risco
cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2 (DMT2).

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 20


No que concerne às DCV, uma revisão sistemática e meta análise publicada
em 20193, que teve como objetivo avaliar o efeito da DN em marcadores cardiome-
tabólicos em adultos saudáveis, como a pressão arterial e o perfil lipídico, demons-
trou que a adesão à DN resultou numa diminuição significativa da pressão arterial
sistólica e diastólica, colesterol total e colesterol LDL. Contudo, não houve efeito
no colesterol HDL e nos triglicéridos. Gibbs et al.4 demonstraram que a DN produz
uma redução estatisticamente significativa na pressão arterial sistólica (evidên-
cia moderada), demonstrando que este padrão alimentar poderá ser considerado
como uma medida de modificação do estilo de vida a adotar na redução dos níveis
de pressão arterial.

Relativamente ao risco de DMT2, o elevado teor em fibra da DN parece ser


responsável por uma maior sensibilidade à insulina e capacidade de secreção de
insulina pelas células beta do pâncreas; bem como pela diminuição da absorção
de glucose e colesterol promovendo, assim, a perda de peso que por si só reduz o
risco de DMT2. De acordo com uma revisão sistemática e meta análise publicada
em 20205, que procurou determinar o efeito da DN nos marcadores do controlo
glicémico, verificou-se que a DN diminuiu de forma significativa os níveis séricos
de insulina e a resistência à insulina. Contudo, a DN não afetou de forma signi-
ficativa a glicemia em jejum e a glicemia pós-prandial. Os autores recomendam,
assim, o desenho e a realização de ensaios clínicos randomizados a longo prazo
nesta matéria.

O risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de cancro também tem sido


alvo de investigação. Hansen et al6. avaliaram a adesão à DN e o risco de AVC numa
amostra de mulheres e homens provenientes da coorte Danish Diet, Cancer and
Health, tendo verificado que a adesão à DN estava associada a um menor risco de
AVC isquémico. No que respeita ao risco de cancro, a segunda causa de morte ao
nível mundial, foi publicada uma revisão sistemática da literatura, em 20217, que
demonstrou que a adesão à DN estava associada à diminuição da incidência de
cancro colorectal, não havendo, no entanto, evidência sobre outros tipos de cancro.

Em suma, os benefícios da DN têm sido estudados e associados a uma


melhoria dos fatores de risco para algumas doenças não transmissíveis, nomea-
damente as DCV e a DMT2, sendo reconhecido como um padrão alimentar saudá-
vel e sustentável.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 21


∙ Referências Bibliográficas

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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 22


∙4∙
Jejum Intermitente
Catarina Sousa Guerreiro

Apesar de não se tratar de uma prática recente (os registos de restrição voluntária
de alimentos pelos povos de diversas zonas do globo são inúmeros e antigos) o
Jejum Intermitente (JI) e o seu potencial benefício para saúde tem sido alvo de
muita investigação atual. Mas se é verdade que tem existido alguma investigação
séria na área, mais verdade é dizer-se que o benefício inquestionável por alguns
proclamado, é por vezes fruto do mediatismo e sensacionalismo e não de ciência
comprovada1.

Os potenciais benefícios associados ao JI não se centram apenas na perda


de peso, mas incluem também melhoria do controlo glicémico, a resistência à
insulina, risco de cancro, função cognitiva ou aumento longevidade2. Centremo-
nos no tópico que mais leva à prática do JI. A perda ponderal.

O JI por contraponto às dietas de restrição contínua tem despertado


enorme interesse por parte daqueles que buscam o emagrecimento. Trata-se de
intervenção alimentar semelhante à clássica restrição energética contínua, na
medida que utiliza o princípio da restrição alimentar3, porém a ideia de centramos
a nossa atenção “apenas” nas horas permitidas para consumo e não no controlo
rigoroso daquilo que podemos ou não ingerir, parece ser entusiasmante e motivador
para muitos. Na verdade, existem semelhanças e diferenças entre JI e restrição

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 23


energética contínua. Ambos têm revelado potencial para redução de fatores de
risco cardiovasculares, incluindo melhoria da pressão arterial, sensibilidade à
insulina e dislipidemia, mas à data o JI tende a parecer promissor essencialmente
na inversão do sobrepeso e obesidade3.

Atualmente são 3 as formas de JI mais estudadas: o jejum em dias


alternados em que pouco ou nenhum alimento ou bebidas que contenham energia
são consumidos nos dias de jejum, com consumo que pode variar de 0 kcal a
25% das necessidades energéticas, dependendo do protocolo, regime 5:2, em
que durante 2 dias (não consecutivos) da semana o consumo energético é muito
restrito existindo um consumo apenas de 20% a 25% das necessidades calóricas
diárias, o que se traduz aproximadamente em 500 kcal por dia, e para os cinco
dias restantes da semana o individuo pratica uma ingestão energética normal¸ e
por fim a ingestão restrita no tempo, em que o individuo permanece sem ingerir
alimentos durante 18-20horas, praticando uma dieta normal nas restantes horas
do dia4.

Para responder à grande questão, “O jejum intermitente é realmente eficaz


na perda peso?” convém explicar de forma simplista o mecanismo subjacente
ao teórico benefício. Dos alimentos consumidos obtém-se a glicose e ácidos
gordos, as principais fontes de energia para as células. Habitualmente e de
forma fisiológica, após as refeições, a glicose é utilizada para fornecer energia
ao organismo, enquanto que a gordura é armazenada no tecido adiposo na forma
de triglicéridos. Nos períodos de jejum os triglicéridos armazenados vão ter de
ser metabolizados em ácidos gordos e consequentemente em corpos cetónicos,
a grande fonte de energia para muitos tecidos, especialmente o cérebro. Esta
utilização de reservas lipídicas como fonte de energia suporta o racional para a
perda de peso com a prática de períodos prolongados de jejum5. De referir que
as cetonas não são apenas os combustíveis utilizados durante períodos de jejum;
são também importantes moléculas de sinalização com impacto em diferentes
funções celulares e que regulam a expressão e a atividade de muitas proteínas e
moléculas reconhecidas por influenciarem a saúde e o envelhecimento. Poderá
ser esta também parte da justificação para alguns benefícios do JI que vão para
além da perda ponderal6. Considerando estes princípios, é possível que o JI
possa ser uma ferramenta eficaz de perda de peso a curto prazo em indivíduos
predispostos a praticar este tipo de dieta. Nesses, durante os dias de jejum, a

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 24


ingestão energética global prevê-se diminuída, produzindo assim um equilíbrio
energético negativo, que leva à perda de peso. Isto partindo do princípio que
durante a janela de consumo nos diferentes métodos de JI, a ingestão energética
é naturalmente diminuída sendo improvável que as pessoas ingiram tanto naquele
curto intervalo de horas quanto durante o dia inteiro.

E será mesmo eficaz? Estudos recentes revelam que a adoção desta


prática conduz a perda moderada de peso (redução de 1-8% face ao peso inicial)
acompanhada de restrição energética entre 10 a 30% face ao inicial7. De uma
forma global, estudos com duração entre 12 semanas e 12 meses não mostram
diferença significativas na perda de peso quando o JI é comparado com uma
dieta de restrição contínua de energia. Isto não o torna menos interessante.
Torna-o uma alternativa, embora não superior à restrição energética contínua8,9.
É reconhecido por muitos que mais importante do que fornecer uma dieta com
maior ou menor teor de proteínas, maior ou menor teor de glícidos, ou de lípidos, o
importante é o balanço energético ser negativo durante períodos prolongados de
tempo. Por outras palavras ingerir menos e/ou gastar mais (mais atividade física)1.
É necessário que o indivíduo interiorize e coloque em prática determinado padrão
alimentar de forma consistente e duradoura. É essa variável que nos deve orientar,
sendo a consistência no tempo aquela que permite o alcance do objetivo. E essa
é a parte complexa deste processo. No caso do JI, poderá ser espectável que
indivíduos que tolerem períodos longos de pouca ou nenhuma ingestão em fases
específicas do dia, ou que por outro lado tenham dificuldade em implementar de
forma muito frequente pequenas refeições, acabem por aderir melhor a este tipo
de dieta, perpetuando-a no tempo. Torna-se por isso importante o nutricionista
esteja familiarizado com os diferentes métodos de JI, pois o seu conhecimento
pode ser uma ajuda imprescindível para orientar com segurança indivíduos que
estão normalmente motivados a testar este modelo alimentar. É reconhecido que
qualquer adesão prolongada à restrição energética é baixa, mantendo-se a dúvida
se esta tendência se altera ou não com JI4,10. Os estudos realizados até ao momento
são baseados em curtos períodos, e por isso não está claro se o JI é realmente
sustentável a longo prazo. Para além destas existem ainda muitas outras questões
por esclarecer, como qual o tipo de JI ideal, quantos dias na semana deve ser feito,
duração de cada período de jejum, altura do dia para o praticar, grau de restrição
energética11... E depois, quais são os efeitos a longo prazo do JI? Será que existe

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 25


o risco de influenciar negativamente os comportamentos alimentares, não só de
quem o pratica mas também de familiares, em especial crianças? Não obstante
serem muitas a dúvidas por esclarecer, convém também saber que poderão existir
alguns prejuízos e riscos nesta prática. Alguns estudos referem numa fase inicial
a sensação de fraqueza, de fome, risco de desidratação, cefaleias, dificuldade de
concentração, ou pressão baixa4. Está contraindicado em grávidas ou lactantes,
idosos malnutridos, indivíduos com imunodeficiência ou aqueles com ou em
risco de distúrbios alimentares. Há também a preocupação do desenvolvimento
de carências nutricionais associadas a restrições prolongadas que vários dias de
jejum e restrição energética poderão implicar, pelo que o acompanhamento por
um nutricionista é recomendado12.

Concluindo, embora certos benefícios da restrição energética tenham sido


demonstrados em estudos em animais, semelhantes benefícios em humanos
têm sido mais difíceis de comprovar. Não está claro que o jejum intermitente seja
superior a outros métodos quando o objetivo é a perda de peso. Parece sim ser
hoje uma alternativa, potencialmente eficaz13.

A individualidade no momento do aconselhamento, respeitando rotinas,


preferências alimentares e estilos de vida devem ajudar a definir com mais precisão
o método indicado para o alcance da redução ponderal. Apesar de promissora,
esta tendência carece ainda de mais estudos de boa qualidade, incluindo ensaios
controlados randomizados com follow up superior a um ano, para que possamos
compreender de forma mais ajustada o impacto do JI na nossa saúde.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 26


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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 27


∙5∙

Dieta Cetogénica
Ana Brito Costa

À medida que a obesidade se tornou num problema de saúde à escala epidémica,


é crescente o número de soluções para a combater. A restrição calórica é, sem
dúvida, a abordagem mais comum, mas o maior desafio será a identificação da
composição nutricional ideal para maximizar a eficiência com segurança e boa
taxa de adesão. A Dieta Cetogénica (DC), utilizada com sucesso como terapia
adjuvante da epilepsia1, tem demonstrado interesse crescente para o tratamento
do excesso de peso; a International Food Information Council Foundation revelou
que a DC é a abordagem nutricional que expressa um maior número de seguidores
entre 2018 e 20192. Neste sentido, importa clarificar o mecanismo subjacente, os
tipos, os resultados e os efeitos adversos.

No corpo humano, as cetonas são produzidas principalmente nos hepa-


tócitos e os seus níveis plasmáticos são controlados pela secreção de insulina
(retarda cetogénese) e glucagon (favorece a cetogénese)3. A cetogénese inicia-se
com a lipólise de ácidos gordos, que são transportados do adipócito para o hepa-
tócito e oxidados em acetil coenzima A (CoA) 3. Em condições de glicémia baixa,
o acetil CoA é convertido em acetoacetil CoA e acetoacetato. O acetoacetato e
o 3-β-hidroxibutirato (seu metabolito) atingem os tecidos extra-hepáticos, onde
ocorre cetólise para obtenção de energia3.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 28


A DC compreende vários subtipos de dietas, todas elas com o estado de
cetose como denominador comum, pretendendo simular metabolicamente a fome
sem realmente jejuar. É importante ressalvar que nem todas as dietas hipoglucídi-
cas são cetogénicas, já que o alto aporte proteico pode não permitir obter estados
de cetose devido aos aminoácidos glicogénicos.

1 ∙ DIETA CETOGÉNICA CLÁSSICA (DCC) ∙ é a mais restritiva; a proporção


de lípidos para o total de proteínas e glúcidos é de 4:1, portanto aproximadamente
80-90% da energia é proveniente de lípidos. Pela sua natureza muito restritiva,
esta dieta é usada apenas no tratamento da epilepsia2.

2 ∙ DIETA ATKINS ∙ foi desenvolvida para controlo de peso. É preconizada


grande restrição glucídica com ingestão moderada de proteínas, desde a fase
inicial com aporte glucídico < 20 g/dia até à fase de manutenção com 100 g/dia.
Esta abordagem já apresentou múltiplas variantes, mas a eficácia e os efeitos
adversos a longo prazo continuam a ser questionados4.

3 ∙ DIETA CETOGÉNICA COM TRIGLICÉRIDOS DE CADEIA MÉDIA ∙ é baseada


na produção mais eficaz de corpos cetónicos a partir de triglicéridos com cadeia
C6-C12. Como o potencial cetogénico é melhorado, requer menor ingestão de
gordura relativamente à DCC para obter o mesmo nível de cetose, o que contribui
para uma dieta mais agradável5. Contudo, é relatada maior incidência de sintoma-
tologia gastrintestinal, como diarreia e vómitos6. Além da sua aplicação frequente
no tratamento da epilepsia, estudos sugerem potenciais efeitos positivos na
neoplasia do cólon7, provavelmente por criar um “ambiente metabólico” desfavo-
rável para as células tumorais3.

4 ∙ DIETA DE BAIXO ÍNDICE GLICÉMICO ∙ é o tipo menos restritivo de DC8. A


ingestão glucídica pode atingir 40-60 g/dia, sendo permitidas apenas fontes de
baixo índice glicémico (<50). O nível de cetose é inferior ao encontrado na DCC,
mas permite atingir os efeitos neurológicos benéficos. Neste contexto é sugerido
que o efeito neuroprotetor está mais relacionado com a estabilidade da glicémia,
e não com a cetose9.

Estudos recentes mostraram redução significativa do peso corporal, do


Índice de Massa Corporal (IMC) e da percentagem de massa gorda pela aplica-
ção da DC. No entanto, não é claro que esse resultado seja atribuível ao estado

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 29


de cetose ou à restrição energética (maioria dos estudos com DC de muito baixo
valor energético – 500-800 kcal/dia – e sem grupos de controlo)2,10.

Nos estudos com DC de muito baixo valor energético, a estratégia é frequen-


temente dividida em fases: 1) fase ativa: aporte energético de 600-800 kcal/dia
com restrição glucídica, de forma a obter estado de cetose; 2) fase de introdução
progressiva de fontes glucídicas e aumento da ingestão energética para 800-1500
kcal/dia até atingir o peso ideal; 3) fase de manutenção, com ingestão energética
de 1500-2000 kcal/dia. Um ensaio clínico com 45 participantes obesos mostrou,
após dois anos de aplicação de DC de muito baixo valor energético, onde a cetose
foi mantida por apenas 45-60 dias, uma diminuição do peso corporal, do perímetro
da cintura e da massa gorda em 12,5 kg, 11,6 cm e 8,8 kg, respetivamente11.

Relativamente aos efeitos metabólicos, a DC de muito baixo valor energé-


tico provocou diminuição significativa da IL-6, IL-8 e metaloproteinase 2, o que
sugere benefício no estado inflamatório crónico característico da obesidade12. A
aplicação da mesma dieta, mas com suplementação de ácido docosaexaenoico
reduziu as concentrações de insulina, triglicéridos, colesterol total, fração LDL do
colesterol, proteína C reativa, fator de necrose tumoral α e resistina13.

É, ainda, considerado que o estado de cetose, quer por DC quer por dieta
de muito baixo valor energético, está associado a uma diminuição do apetite e
maior saciedade14. O efeito benéfico dos corpos cetónicos no apetite pode ser
obtido por regulação hormonal, embora não tenham sido encontradas variações
no peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), colecistocinina e grelina15.

Existem poucos estudos relativos à DC sem restrição energética exces-


siva, a maioria dos quais não usou grupo controlo. Numa abordagem com menor
restrição energética, a DC afetou os níveis de adipocinas: após oito semanas a
adiponectina aumentou, enquanto o nível de leptina diminuiu após duas semanas,
juntamente com o aumento do neuropeptido Y16.

A DC a longo prazo tem sido considerada fator de risco para litíase renal,
aumento da uricémia, défices mineral-vitamínicos e osteoporose. Estudos recen-
tes mostram que, embora a DC de muito baixo valor energético tenha aumentado
os níveis séricos de creatinina, estes mantiveram-se no intervalo da normalidade17.
Além disso, a intervenção durante quatro meses não alterou o pH sanguíneo, o

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 30


bicarbonato plasmático e o equilíbrio ácido-base de indivíduos obesos18. Na maio-
ria dos estudos, o nível de cetose não excedeu 7-8 mM/L, não se aproximando
dos valores observados na cetoacidose diabética (25 mM/L), portanto, o risco de
consequências relacionadas com a cetoacidose é bastante limitado2.

A DC pode, ainda, resultar em vários défices nutricionais relacionados com


a ingestão insuficiente de minerais e vitaminas, sobretudo vitaminas hidrosso-
lúveis, magnésio, cálcio, ferro, fósforo e potássio19. Neste sentido, foi sugerida
suplementação mineral-vitamínica, a qual foi utilizada com sucesso para otimiza-
ção do peso pré-cirurgia bariátrica durante quatro semanas20.

É importante notar que esta dieta é seguida por longos períodos por doen-
tes com epilepsia refratária, e estes efeitos colaterais já foram amplamente discu-
tidos na literatura1. Uma vez que a DC como tratamento da obesidade compreende
períodos de cetose muito mais curtos (algumas semanas), os efeitos adversos
descritos serão significativamente mais ligeiros e incluem fome, fadiga, mau
humor, irritabilidade, obstipação e dores de cabeça2.

Em suma, a literatura disponível indica que a DC pode ser benéfica para o


tratamento da obesidade. No entanto, ainda são necessários ensaios clínicos em
grande escala para estabelecer a proporção lipídica ideal, ingestão energética e
concentração de corpos cetónicos, para maximizar o resultado de perda ponderal
sem comprometer outros resultados clínicos. Há necessidade de estudos meta-
bolómicos, de avaliação de alterações hormonais, efeitos no sistema reprodutor e
avaliação do impacto na microbiota e sobre a função de barreira intestinal.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 31


∙ Referências Bibliográficas

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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 33


∙6∙

Dieta Paleolítica
Mariana Liñan Pinto

A premissa da Dieta Paleolítica origina-se da hipótese de que a evolução humana


terminou há 10.000 anos, e a nossa genética está mal preparada para lidar com a
dieta e estilo de vida modernos. Assim, é defendido que apenas os alimentos que
estavam disponíveis na era Paleolítica (aqueles que podem ser caçados, pescados
ou colhidos) são ideais para a saúde humana 1.

Por um lado, esta dieta incentiva a inclusão de mais hortofrutícolas,


tornando mais fácil o cumprimento das recomendações de consumo para estes
grupos alimentares. No entanto, pode exceder as orientações para a ingestão
diária de gordura e proteína, e ficar aquém das recomendações de hidratos de
carbono. A exclusão total de cereais integrais, leguminosas e laticínios também
pode comprometer a adequação nutricional desta dieta.

Recentemente tem vindo a ser sugerido que a dieta paleolítica se associa a


uma melhoria no colesterol, triglicéridos, glicémia etensão arterial, tendo por isso
efeitos benéficos na saúde cardiovascular e mais recentemente que poderá estar
associada a uma melhoria na saúde intestinal. É também muito preconizado como
um padrão alimentar ideal para perda de peso. E o que nos diz a evidência?

Apesar de vários trabalhos publicados, os benefícios clínicos deste padrão


alimentar continuam controversos. Alguns estudos concluíram que a adoção

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 34


desta dieta diminuiu o peso, IMC, perímetro da cintura, percentagem de gordura
corporal, tensão arterial, e melhorou o perfil lipídico 2. No entanto, os autores
concluíram que a evidência é insuficiente para tirar conclusões sólidas sobre a
eficácia da dieta paleolítica, principalmente devido à falta de estudos bem dese-
nhados2. Outro trabalho sugeriu que a dieta paleolítica é eficaz na perda de peso,
redução de IMC e perímetro da cintura 3. No entanto, os autores do mesmo ressal-
vam que são necessários mais estudos com amostras maiores, maior tempo
de follow-up, e com melhor uniformização do tipo de dieta paleolítica utilizada.
Um estudo publicado em 2020, que comparou a adoção da dieta paleolítica com
outros tipos de dietas saudáveis, concluiu que a dieta paleolítica não diferia de
outros tipos de dietas, comumente percebidas como saudáveis, no seu efeito nas
concentrações de glicose e insulina em jejum 4. No que diz respeito à saúde intes-
tinal, a adesão a longo prazo à dieta paleolítica pode não ser benéfica, devido à
associação deste tipo de dieta com menores concentrações de estirpes bacteria-
nas benéficas5.

Relativamente às prováveis carências nutricionais, o cálcio é muitas vezes


sugerido como um nutriente que poderá estar comprometido neste padrão alimen-
tar6. Foi também demonstrado que a adoção a longo prazo de uma dieta paleolítica
resultou num maior risco de desenvolver deficiência em iodo, comparativamente
à adoção de uma dieta de acordo com as recomendações nutricionais nórdicas7.
Em 2015, a British Dietetic Association (BDA) não recomenda a prática desta dieta,
justificando que pode ser uma dieta desequilibrada com o potencial de acarre-
tar deficiências nutricionais, que podem comprometer a saúde e a relação com a
alimentação8.

Efetivamente alguns aspetos da dieta paleolítica são desejáveis, incluindo


o aumento do consumo de hortofrutícolas e a eliminação de alimentos processa-
dos. No entanto, não foi avaliado se será a restrição/eliminação de grupos alimen-
tares como os lacticínios, leguminosas e cereais integrais, promotora de saúde

Assim, apesar de alguns estudos recentes demonstrarem resultados bené-


ficos na adoção da dieta paleolítica, a interpretação dos seus resultados deverá
ser feita com cautela, pois os estudos são, na sua maioria, de curta duração
e com metodologias heterogéneas, não permitindo tirar conclusões sólidas6.
Concomitantemente não deve ser esquecido que a adoção deste padrão alimen-
tar poderá acarretar deficiências nutricionais que podem comprometer a saúde.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 35


∙ Referências Bibliográficas

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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 36


∙7∙

Dieta Alcalina
João Vasques

A Dieta Alcalina assenta numa hipótese com mais de 100 anos que alega ser
possível determinar o potencial acidificante ou alcalinizante dos alimentos com
base no conteúdo mineral dos mesmos1. Assim, uma dieta alcalina será aquela
que fornece maior quantidade de iões alcalinos1.

Segundo os promotores desta dieta, o consumo de carne e ovos terá o


potencial de acidificar o nosso corpo, pelo contrário, o consumo de hortofru-
tícolas terá o potencial de o alcalinizar1. No que respeita ao consumo de leite e
cereais, segundo um dos primeiros estudos nesta temática, o seu potencial será
neutro, não causando nem um aumento nem uma diminuição no pH1. Contudo,
devido ao seu conteúdo em fosfato, os laticínios e os cereais, assim como o
peixe e vários alimentos processados poderão ser considerados acidificantes2.

Apesar do marketing que tem sido feito a esta dieta pressupor uma subida
no pH do sangue3, aquilo que se sabe hoje é que a adoção de uma dieta alcalina
apenas provocará um acréscimo ligeiro no valor de pH (0,014 unidades)4. Onde
o aumento de pH parece ser maior em resposta a uma dieta alcalina é na urina
(1,02 unidades)4.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 37


O pH exprime a acidez ou
alcalinidade de uma solução.
pH <7 ∙ Solução ácida
pH =7 ∙ Solução neutra
pH >7 ∙ Solução alcalina
Fonte: Dicionário Infopédia da língua portuguesa5

A promoção desta dieta foca-se nos potenciais benefícios que poderá ter
na prevenção e até tratamento de doenças, como as oncológicas, osteoporose,
entre outras3.

Esta dieta tem sido muito promovida juntamente com a água alcalina no
contexto da doença oncológica3. Contudo, os efeitos da água e dieta alcalina
nesta doença são uma incógnita dada a escassez de estudos existentes na temá-
tica3, parecendo mesmo que a comunidade científica não tem acompanhado o
interesse que tem sido demonstrado por parte do público em geral. Desta feita,
é neste momento impossível fazer qualquer recomendação a favor ou contra esta
dieta no que concerne à prevenção ou tratamento da doença oncológica3.

Alguns estudos recentes têm demonstrado resultados prometedores, mas


muitas cautelas devem ser tomadas na interpretação dos seus resultados, pois a
metodologia utilizada nesses mesmos estudos não permite avaliar a eficácia da
dieta alcalina como tratamento coadjuvante na doença oncológica6–8.

No que respeita à osteoporose, a dieta alcalina tem também sido tema de


estudo. Porém, a evidência científica, tal como no caso da doença oncológica, não
suporta a adoção deste tipo de dieta9,10.Embora alguns estudos reportem benefí-
cios na saúde óssea aquando da suplementação de sais de potássio considera-
dos como alcalinizantes11,13, esses resultados não podem ser extrapolados e não
podem servir de pretexto para a adoção de alterações na alimentação, uma vez
que a intervenção testada não foi a dieta alcalina14.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 38


A fragilidade desta dieta é também demonstrada por algumas incongruên-
cias detetadas nos seus pressupostos, pois o fosfato, um dos iões que se alega ser
prejudicial para a saúde óssea pelo seu potencial acidificante, é um dos principais
componentes da hidroxiapatite que é “só” o principal elemento estrutural do osso2.
Esta incongruência tornou-se mais evidente com a publicação de um estudo em
2009, que demonstrou não existir evidência que uma maior ingestão de fosfato
fosse prejudicial para a saúde óssea2.

Apesar das incongruências e da escassez de estudos existentes, esta dieta


promove a adoção de algumas medidas, como o aumento do consumo de horto-
frutícolas e a diminuição do consumo de carne, que se aproximam muito daquilo
que são os padrões alimentares recomendados internacionalmente15, como é o
caso da DM16. Como tal, pode dizer-se que a DM é mais alcalina que o padrão de
consumo atual em Portugal, que fica aquém das recomendações internacionais
em mais de 50% da população no que respeita ao consumo de hortofrutícolas, e
acima em 22,5% e 6,3% no que respeita ao consumo de carne vermelha e proces-
sada, respetivamente17. Contudo, é importante realçar que à luz do conhecimento
atual, não é pelo seu potencial alcalinizante que a DM é recomendada18.

Por fim, mencionar que em 2018, a BDA publicou no seu website uma lista de
5 dietas a evitar na qual incluía a água alcalina19. Esta inclusão deveu-se, segundo
a BDA, ao facto de o nosso corpo ser perfeitamente capaz de regular o seu pH sem
necessidade de recurso a água alcalina19.

Assim, não podemos concluir que a dieta alcalina seja de momento uma opção
com benefícios comprovados, devido a todos os argumentos acima apresentados.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 39


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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 41


∙8∙
Dieta Macrobiótica
Vitória Dias Silva

O termo macrobiótica tem origem nas palavras gregas “macro” e “bios” que signi-
ficam, respetivamente, “grande” e “vida”1. A Dieta Macrobiótica foi desenvolvida
no início do século XX pelo filósofo japonês George Ohsawa e popularizada nos
Estados Unidos por Michio Kushi, no final da década de 701. Adicionalmente, a
dieta macrobiótica é reconhecida como um estilo de vida e um movimento cultural
baseado numa filosofia religiosa2.

Segundo o Instituto Macrobiótico de Portugal, por definição, “a macrobió-


tica é um modo de vida que orienta as escolhas individuais de alimentação e ativi-
dade física. É um sistema de princípios e práticas que visam o equilíbrio em bene-
fício do corpo, da mente e do planeta”1.

A dieta macrobiótica assenta em 5 pilares: 40-60% da alimentação baseada


em cereais integrais; 20-30% da alimentação baseada em fruto-hortícolas sazo-
nais e produzidos localmente; 5-10% da alimentação baseada em leguminosas;
consumo regular de algas como nori, wakame e kombu; consumo ocasional de
peixe, frutos oleaginosos e sementes3,4. Os lácteos, a carne e os ovos, por ocupa-
rem o topo da pirâmide macrobiótica, devem ser consumidos pontualmente2.

A escolha dos alimentos e dos respetivos modos de confeção baseia-se no


princípio chinês ying-yang1. Esta classificação dos alimentos segundo as “forças

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 42


opostas e inseparáveis”1 ying versus yang não tem que ver com a composição nutri-
cional dos mesmos, mas sim com a filosofia oriental.

Contrariamente à Direção-Geral da Saúde5 , a American Dietetic Association6,


Dietitians of Canada7 e Academy of Nutrition and Dietetics4 posicionam-se sobre
a dieta macrobiótica no âmbito do vegetarianismo. No entanto, a quantidade e
a qualidade da evidência científica disponível no âmbito da dieta macrobiótica
permanecem insuficientes.

Sendo a dieta macrobiótica um tipo de dieta plant-based4,6, os seus poten-


ciais benefícios para a saúde do indivíduo advêm da ingestão predominante de
alimentos de origem vegetal, como cereais integrais, fruto-hortícolas e legumi-
nosas, ricos em vitaminas, minerais e fibra8. Por ser uma dieta restritiva4,6, existe
evidência científica que reporta défice de ferro, cálcio e vitaminas B12 e D em indi-
víduos que seguem a dieta macrobiótica9,10.

A escassa evidência científica existente baseia-se em artigos científicos


que relacionam a dieta macrobiótica e as doenças crónicas não transmissíveis,
como as oncológicas3, cardiovasculares11 e diabetes12,13. A dieta macrobiótica
surge no contexto das terapêuticas não convencionais3, contudo, à luz do conhe-
cimento científico mais atual, não existem normas clínicas que suportem a utili-
zação da dieta macrobiótica na prevenção e no tratamento de qualquer doença,
nomeadamente oncológica14.

A Organização Mundial da Saúde afirma, no seu documento estratégico


2014-2023 para as terapêuticas não convencionais, a necessidade de “reforçar a
qualidade e a segurança, o uso correto e a efetividade das terapêuticas tradicio-
nais e complementares, através da regulação da prática e dos praticantes”15. Em
suma, e considerando a prática baseada na evidência, são necessários mais estu-
dos científicos que sustentem a prática da dieta macrobiótica.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 43


∙ Referências Bibliográficas

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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 44


∙9∙
Dieta Intuitiva
Cristina Garagarza

A ingestão alimentar intuitiva define-se como um processo dinâmico que envolve


a interligação da mente, corpo e alimento. Consiste numa forma adaptativa de se
alimentar, baseada essencialmente nos sinais de fome e saciedade para regular a
ingestão dos alimentos1. Assim, neste tipo de alimentação, existe uma forte liga-
ção com os sinais corporais.

O conceito de “intuitive eating” ou “ingestão alimentar intuitiva” é relativa-


mente recente. Foi desenvolvido inicialmente por Tribo-le & Resch em 1995 mas
foi apenas em 2006 que Tilka et al. operacionalizaram a ingestão alimentar intui-
tiva2. Desde então, foram identificados 4 componentes que a caracterizam1,3:

1 ∙ Permissão para comer quando estiver com fome e possibilidade de


optar por qualquer alimento desejado (exceto alimentos desaconselhados por
questões relacionadas com a saúde). As pessoas que respondem aos sinais de
fome e desejos por determinados alimentos não tendem a classificar os alimentos
como “bons” ou “maus” e, em vez disso, consideram todos os alimentos como
emocionalmente neutros.
2 ∙ Consumo de alimentos em resposta a sinais físicos em vez de
emocionais. Este componente reflete a tendência de comer para saciar a fome
em vez de dar resposta a questões emocionais.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 45


3 ∙ Perceção dos sinais de fome e saciedade para definir quando e quantos
alimentos ingerir.
4 ∙ Relação entre a escolha dos alimentos e os sinais do organismo.
As pessoas que seguem este tipo de alimentação tendem a ser cuidadosas
relativamente à forma como o seu corpo responde a certos alimentos, escolhendo
geralmente aqueles que melhor contribuem para as funções do organismo, mas
considerando também o sabor como componente central da escolha alimentar.

A ingestão alimentar intuitiva tem sido associada a diversos parâmetros de


bem-estar físico e psicológico4, tendo sido já demonstrado que as pessoas que
seguem este tipo de alimentação apresentam menos sintomas associados a
depressão, melhor auto-estima e têm menos comportamentos considerados
pouco saudáveis no controlo do peso (ex: saltar refeições)5. A implementação
deste tipo de alimentação parece ser benéfica na manutenção do peso, desco-
nhecendo-se ainda os seus efeitos na perda de peso6.

Para além disso, alguns estudos transversais têm tentado estabelecer a rela-
ção entre este tipo de alimentação e diversos parâmetros nutricionais: as pessoas
que seguem uma alimentação intuitiva tendem a consumir maior quantidade de
frutas e hortícolas diariamente7. Foi também reportada associação entre este tipo
de alimentação e o consumo de alimentos mais saudáveis8, assim como valores de
IMC (Kg/m2) mais baixos6.

Apesar destes dados, estudos recentes defendem que é necessária mais


investigação de forma a tirar conclusões relativamente aos efeitos deste tipo de
alimentação9.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 46


∙ Referências Bibliográficas
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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 47


∙ 10 ∙

Dieta Plant-Based
Sara Policarpo

O termo “plant-based diets” engloba padrões alimentares que promovem uma


maior ingestão de alimentos de origem vegetal, minimamente processados, como
fruta, hortícolas, leguminosas e frutos oleaginosos, com eliminação ou reduzida
frequência de consumo de produtos de origem animal, como carne, pescado, ovos
e lacticínios1,2.

As dietas vegetarianas são um subconjunto das plant-based diets que


excluem a ingestão de alimentos de origem animal. Nas dietas semi-vegetarianas,
das quais o exemplo mais comummente difundido é a DM, existe apenas redu-
ção muito significativa do consumo de carnes vermelhas e aves, e este padrão é
também um subconjunto aplicável ao termo plant-based1,3.

A adesão a uma plant-based diet, tem demonstrado benefícios na redução


da incidência de DCV, DMT2 e algumas neoplasias2. No entanto, estudos prospeti-
vos demonstravam resultados contraditórios na mortalidade global e mortalidade
cardiovascular4,5, possivelmente por, para além de serem realizados em popula-
ções muito especificas e incluírem frequentemente uma elevada percentagem
de vegetarianos, utilizavam uma classificação dicotómica bastante simplista,
baseada apenas no consumo ou não de produtos de origem animal3,4,6,7.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 48


Na tentativa de aferir a adesão a um regime plant-based, foi criado o plan-
t-based diet index (PDI),8 que atribui pontuações mais altas quer a um maior
consumo de alimentos de origem vegetal quer a um menor consumo de alimentos
de origem animal, incorporando uma maior amplitude de consumo8. Sendo apli-
cável a qualquer tipo de padrão alimentar, não se limitando a um padrão alimentar
vegetariano, podem ser estudados os benefícios de um aumento progressivo no
consumo de alimentos de origem vegetal bem como da redução concomitante do
consumo de alimentos de origem animal4,8.

No estudo prospetivo de validação deste índice, em 7000 idosos com


elevado risco cardiovascular, verificou-se que o maior consumo de alimentos de
origem vegetal (elevado PDI) se associava a uma redução da mortalidade global de
cerca de 30% num período de follow-up médio de 4,8 anos, em comparação com
os participantes que consumiam preferencialmente alimentos de origem animal8.

No entanto, nem todos os alimentos de origem vegetal são considerados


escolhas adequadas no âmbito de uma alimentação saudável. Assim, mais recen-
temente, surgiram adicionalmente o healthy plant-based diet index (hPDI) e o
unhealthy plant-based diet index (uPDI)6. O hPDI pontua positivamente os alimentos
associados a melhores outcomes de saúde, como cereais integrais, futas, legu-
minosas e hortícolas; inversamente o uPDI pontua positivamente o consumo de
alimentos de origem vegetal menos saudáveis, como cereais refinados e açúcar
de adição6,7,9,10.

Diversos estudos utilizando o PDI, demonstraram que uma maior adesão


a este padrão alimentar se associa a menor risco de DMT2, doença coronária e
DCV4. Adicionalmente, com a utilização destes índices alternativos, foi possível
clarificar alguns dos resultados previamente contraditórios e demonstrar que o
hPDI se associa a menor incidência de doença coronária e DCV, bem como menor
mortalidade por DCV4,6,7. Por oposição, uma maior adesão a um uPDI traduz-se em
maior incidência de doença coronária e DCV global, bem como maior mortalidade
por DCV6,7.

Mais recentemente, os benefícios associados às plant-based diets têm sido


demonstrados noutras áreas. Verificou-se que um maior PDI, especialmente,
hPDI, se associava a menor ganho ponderal num período de 4 anos11, a uma redu-
ção no risco de hipertensão arterial12, a uma redução na incidência de DMT213,

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 49


a uma redução no risco de dislipidémia10, e, consequentemente, uma redução
na incidência de síndrome metabólico9, ajustando para fatores demográficos e
IMC. Um elevado hPDI associa-se também a menor risco de desenvolvimento de
fígado gordo não alcoólico14, bem como menor risco de incidência e progressão de
doença renal crónica15.

A evidência científica demonstra que um regime plant-based deve ser consi-


derado na prevenção de doenças crónicas não transmissíveis. No entanto, apesar
do interesse crescente, os consumidores reportam dificuldades na preparação e
confeção destas refeições, desconhecimento a respeito das porções e limitações
à vida social como as principais barreiras à diminuição do consumo de produtos
de origem animal2,16. Dado o benefício demonstrado com um regime plant-based,
este pode ser apelativo a uma maior proporção da população, quando comparado
com um padrão vegetariano/vegan por permitir a inclusão de alimentos de origem
animal16. Adicionalmente, a barreira mais frequentemente reportada pelos consu-
midores é a ausência de informação a respeito deste padrão alimentar e dos seus
benefícios, evidenciando a necessidade de desenvolver e implementar estraté-
gias de educação nutricional e promoção do regime plant-based pelos profissio-
nais de saúde16.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 50


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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 51


∙ 11 ∙

Dieta Vegetariana
Telma Nogueira

A Dieta Vegetariana pode ser saudável e nutricionalmente adequada em todas


as fases do ciclo de vida, desde que corretamente planeada. Pode, ainda, ser útil
na prevenção e tratamento de determinadas doenças crónicas, tanto por via do
menor consumo de produtos de origem animal, como pelo maior consumo de
produtos de origem vegetal. Todavia, como qualquer outro padrão alimentar, pode
ser inadequado, não implicando, per se, melhor saúde1.

Caracterizada pelo consumo exclusivo (dieta vegetariana estrita ou vegana) ou


predominante de produtos de origem vegetal, a dieta vegetariana exclui sempre a
carne e o pescado, mas pode incluir ovos (ovovegetariana) e/ou laticínios (lactovege-
tariana, ou ovolactovegetariana), sendo os cereais, hortícolas, fruta, leguminosas,
frutos gordos e sementes alimentos comuns aos vários tipos de dietas vegetarianas1.

Para garantir-se o aporte aminoacídico adequado, são necessárias esco-


lhas alimentares criteriosas e informadas. E deve atender-se à ingestão ener-
gética, bem como de micronutrientes como a vitamina B12, vitamina D, cálcio,
zinco, ferro, iodo e ácidos gordos essenciais. Os alimentos deverão ser a primeira
opção para atingir as necessidades nutricionais, sendo que no caso da vitamina
B12, dada a inexistência de fontes nutricionais numa dieta vegana, esta deverá ser
obtida através de alimentos enriquecidos ou suplementos1.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 52


A dieta vegetariana associa-se a questões morais e religiosas, à proteção
ambiental e da biodiversidade, ao bem-estar dos animais e também a questões
de saúde. Considerando que tende a estar associada a um estilo de vida saudá-
vel, nomeadamente em termos de hábitos tabágicos, consumo de álcool, ativi-
dade física e lazer, importa considerar que tanto os aspetos alimentares como
não alimentares proporcionam benefícios de saúde, podendo constituir fatores
confundidores aquando da comparação entre padrões alimentares1.

A evidência científica tem indicado benefícios designadamente ao nível da


redução da prevalência de doença oncológica, obesidade, DCV, hiperlipidémias,
hipertensão, diabetes e aumento da longevidade1. De seguida sistematizam-se
as principais conclusões de literatura científica recente, no que concerne à dieta
vegetariana.

Uma revisão sistemática de literatura que pretendeu comparar a qualidade


da dieta vegetariana com outras, concluiu que os vegetarianos geralmente têm
uma dieta de melhor qualidade comparativamente aos não vegetarianos, ainda que
esses resultados devam ser interpretados com cautela. Ovolactovegetarianos ou
veganos apresentaram qualidade geral da dieta superior (4,5–16,4 pontos a mais no
Índice de Alimentação Saudável 2010) em comparação com os não vegetarianos,
em 9 de 12 estudos. As pontuações superiores para vegetarianos foram impulsio-
nadas por uma maior adesão às recomendações designadamente de consumo de
frutas, cereais integrais, proteínas vegetais e sódio. Já os não vegetarianos aderi-
ram mais às recomendações para grãos refinados e proteína total. A qualidade
superior da dieta em dietas vegetarianas pode explicar parcialmente as melho-
rias nos resultados de saúde em comparação com os não vegetarianos. Porém,
são necessários mais estudos que controlem os fatores de confusão conhecidos,
como a consciência sobre a saúde2.

Relativamente à perda de peso, a prescrição de dietas vegetarianas foi


associada à redução do peso corporal médio, sugerindo valor potencial para a
prevenção e controlo de condições relacionadas ao peso3.

Existe evidência científica de que as dietas vegetarianas reduzem efetiva-


mente as concentrações sanguíneas de colesterol total, LDL e HDL4. Assim, as
dietas vegetarianas podem ser um meio não farmacêutico útil para controlar a
dislipidemia, especialmente a hipercolesterolemia4.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 53


Quanto à tensão arterial, as dietas vegetarianas estão associadas a redu-
ções significativas da pressão arterial em comparação com outras dietas, suge-
rindo que podem desempenhar um papel fundamental na prevenção primária e no
controlo geral da hipertensão5,6.

Os níveis circulantes de biomarcadores inflamatórios, influenciam o risco


de doenças crónicas. A dieta vegana e a dieta vegetariana foram associadas a
níveis mais baixos de Proteína C Reativa, em comparação com dietas omnívoras.
Contudo, são necessárias mais estudos, já que a maioria dos biomarcadores infla-
matórios foram investigados apenas em estudos individuais7.

No que respeita à incidência e mortalidade de DCV, evidências de qualidade


muito baixa indicam que os padrões alimentares vegetarianos estão associados a
reduções na mortalidade e incidência por doença coronária, mas não com morta-
lidade por DCV e AVC em indivíduos com e sem diabetes, sendo necessários mais
estudos, particularmente em diferentes populações, para melhorar a certeza das
estimativas8,9.

Relativamente ao risco de cancro de mama, colorretal e da próstata, não


está descrita associação significativa de dieta vegetariana e menor risco de cancro
de mama, colorretal e próstata, em comparação com uma dieta não vegetariana10.

Quanto à saúde mental e cognitiva, as dietas veganas ou vegetarianas foram


associadas a um maior risco de depressão11,12 e menores níveis de ansiedade, não
estando descritas associações significativas com o score de depressão, stress,
bem-estar ou prejuízo cognitivo12.

Entre adolescentes e jovens, o vegetarianismo parece estar associado a


transtornos alimentares. Estudos longitudinais são necessários para estabe-
lecer padrões temporais entre o vegetarianismo e o surgimento de distúrbios
alimentares13.

No que concerne a associações entre uma dieta vegana ou vegetariana e


a composição da microbiota, não foram identificadas associações consistentes,
comparativamente a omnívoros. Alguns estudos revelaram resultados contraditó-
rios. Tal pode dever-se à elevada individualidade microbiana e/ou diferenças nas
abordagens aplicadas14.

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 54


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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 55


∙ 12 ∙

Baby-Led-Weaning
Inês Asseiceira

De acordo com Organização Mundial de Saúde o aleitamento materno exclusivo


é recomendado até aos 6 meses, a partir deste momento considera-se que o
volume de leite ingerido é insuficiente para atingir as necessidades nutricionais
do lactente1,2. Assim, a partir desta altura inicia-se a transição para a alimenta-
ção mista que inclui a introdução gradual de alimentos, sendo que o leite materno
deve manter-se pelo menos até aos 2 anos de idade1,2.

O período de diversificação alimentar pressupõe um adequado desenvol-


vimento neurológico que permita que esta ocorra de forma segura para o bebé.
Tradicionalmente o processo de diversificação alimentar é liderado pelo cuidador
que oferece ao bebé alimentos sob a forma de purés, sendo que a consistência
deverá aumentar gradualmente até aos 12 meses de idade2.

Em 2005, Gill Rapley introduziu o conceito de Baby-Led-Weaning (BLW) e


desde então este método de diversificação alimentar começa a ganhar popula-
ridade, sendo adotado por muitos pais como método preferencial para a introdu-
ção de alimentos3,4. O BLW é um método de autoalimentação que permite que a
criança a partir dos 6 meses, comece a ingerir pequenos pedaços de alimentos
com as mãos. Este método enfatiza que a criança deve ser exposta a um variado
número de alimentos na sua forma natural (sem ser em puré) e esta, deve escolher

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 56


os alimentos e a quantidade dos mesmos a ingerir 3,4. De acordo com este pressu-
posto a família, começa desde logo a partilhar o momento das refeições à mesa e
em conjunto.

De acordo com os vários estudos até a momento, são reconhecidas inúme-


ras vantagens neste método de alimentação como por exemplo: melhor coorde-
nação e desenvolvimento motores, maior perceção de saciedade e consequente-
mente autorregulação da ingestão, adoção de padrões alimentares mais saudá-
veis e também aquisição de melhores competências linguísticas. Contudo existem
algumas preocupações inerentes a este tipo de alimentação nomeadamente: risco
de asfixia, atraso no crescimento devido reduzida ingestão alimentar, défices de
aporte energético e de ferro associado à diminuição de consumo de cereais enri-
quecidos6,7. Deste modo, a avaliação do estado nutricional por rotina é imprescin-
dível neste contexto2.

Considera-se que a evidência é limitada para a recomendação ou não reco-


mendação do BLW como método exclusivo de diversificação alimentar. Assim é
determinante que os cuidadores sejam informados da inexistência de guidelines
e de estudos robustos que recomendem o BLW e que, no caso de adotarem este
regime devem salvaguardar as premissas que se seguem6,7:

1 ∙ A criança deve ter ≥6 meses de idade 7 ∙ Ofereça alimentos com elevado teor
e desenvolvimento neurológico adequado, de ferro como a carne, o peixe
nomeadamente controlo cefálico e as leguminosas

2 ∙ A criança deve estar corretamente 8 ∙ Ofereça alimentos com elevado teor


sentada no momento das refeições energético pelo menos 1 por refeição
(abacate, queijo, iogurte grego)
3 ∙ As refeições devem ser realizadas
sob supervisão de um adulto 9 ∙ Evite alimentos cortados sob a forma
de moeda
4 ∙ Permita que a criança ingira os
alimentos ao seu ritmo, não force nem 10 ∙ Evite alimentos associados a
obrigue e respeite os sinais de saciedade elevado risco de asfixia como por
exemplo, frutos oleaginosos, uvas e
5 ∙ Forneça os alimentos cortados em vegetais crus
pequenos pedaços com o tamanho
de um dedo 11 ∙ Evite alimentos processados e com
elevado teor de açúcar e sal
6 ∙ Introduza alimentos que a criança
possa esmagar com a mão ou com
a língua (ligeiramente cozinhados)

Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 57


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Ciência, o ingrediente de todas as “Dietas” 58


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