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HIPÓTESE DE CONTRAPOR LAUDO PSICOLÓGICO

1 Sobre o procedimento metodológico


No caso de denúncias de violência sexual infantil o psicólogo deve avaliar
fontes variadas de informações e o processo avaliativo deve conter todos os
envolvidos, incluindo o suposto agressor, com objetivo de reduzir as chances de
se concluir sobre uma possível fonte de informação distorcida.
A psicóloga foi solicitada pelo conselho tutelar para avaliar a criança com
objetivo de encontrar nela indicadores de uma situação que é verbalizada como
verdadeira por aquele que faz a denúncia, em seu processo avaliativo utiliza de
ferramentas técnicas-científicas, mas não demonstra sua validade para esse tipo
de caso.
Em sua retórica se observa uma possível segregação e julgamento
antecipado pelo suposto acusado, procedimento de modo contrário aos
requisitos da metodologia na avaliação forense.
Quando os dados psicológicos têm por objetivo produzir provas
processuais se faz necessário uma avaliação mais aprofundada, do que
simplesmente validar hipóteses que foram trazidas por aqueles que denunciaram
o abuso.
Os recursos lúdicos utilizados pela profissional podem auxiliar no vínculo
e fornecer indicadores sobre comportamentos e o funcionamento geral da
criança.
O processo para investigação da violência sexual deve seguir alguns
protocolos, desenvolvidos por pesquisadores e profissionais em diversos países,
esses protocolos seguem duas regras: evitar técnicas sugestivas ou que
prejudique a precisão da declaração e propor procedimentos que estimulem as
narrativas das vítimas (ROVINSKY, 2019).
Para verificar se o discurso seria representativo de uma vivência real é
necessária uma entrevista rica em detalhes, que sejam identificados critérios de
credibilidade e que seja considerado um contexto mais amplo, envolvendo outras
fontes de informação, possibilitando considerar explicações alternativas para os
dados coletados pela criança (ROVINSKY, 2019).
Diante do exposto, surgem alguns questionamentos que não foram
mencionados em relatório psicológico, são esses:
Os bonecos apresentados para a criança levaram em consideração sua
dinâmica familiar?
De que forma foram apresentados?
Houve indução ou sugestionabilidade da técnica?
Foram apresentados os critérios de validade e credibilidade da ferramenta
utilizada?
De acordo com alguns autores, histórias criadas e não vivenciadas
também podem se apresentar detalhadas, que são produzidas por entrevistas
anteriores sugestivas ou por um imaginário familiar derivado de conflitos que tem
origem em diversas situações do abuso sexual (KOHNKEN, 2005).

2 Sobre as diretrizes para elaboração de documentos psicológicos


Também foram encontradas várias inconsistências metodológicas que
não obedecem aos critérios descritos pelo Conselho Federal de Psicologia,
quanto a elaboração de documentos produzidos pelo psicólogo, decorrentes da
avaliação psicológica, seguindo os procedimentos da resolução vigente na data
da elaboração dos documentos (RESOLUÇÃO, 07/2003).
2.2. Princípios Técnicos: O processo de avaliação psicológica deve considerar
que os objetos deste procedimento (as questões de ordem psicológica) têm
determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas
elementos constitutivos no processo de subjetivação. O DOCUMENTO,
portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada
do seu objeto de estudo.
Laudos: A psicóloga não baseou sua investigação levando em consideração o
contexto familiar em que a criança vivia e suas relações.
2.2. Os psicólogos, ao produzirem documentos escritos, devem se basear
exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações,
dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como
métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e
interpretações de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos, bem
como sobre outros materiais e grupo atendidos e sobre outros materiais e
documentos produzidos anteriormente e pertinentes à matéria em questão.
Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas requeridas
de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que se propõem a investigar.
3.2.4 - O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem
sustentação em fatos e/ou teorias.
(SIC) “Em informações com o conselho tutelar e a genitora, verificou-se que
Adílio não apresenta interesse afetivo sexual maduro por mulheres de sua
idade”. (Quais são os fatos para essa conclusão?)
A psicóloga baseou sua análise a respeito do suspeito sem informações
técnicas-cientificas, somente baseada em informações que foram trazidas pela
mãe, sem evidências.
3.2. Os termos técnicos devem, portanto, estar acompanhados das explicações
e/ou conceituação retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os
sustentam.
Sobre a ludoterapia e entrevistas, no procedimento explicitou os métodos que
usou, mas sem o devido embasamento.
3.2.4 - O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem
sustentação em fatos e/ou teorias.
“Na avaliação do grau de inteligência, compreensão, atenção, memória e
autoconsciência, a criança apresentou baixo nível esperado para sua idade”.
(Qual foi o instrumento utilizado para concluir o grau de compreensão e
inteligência da criança?)
3.2. Os termos técnicos devem, portanto, estar acompanhados das explicações
e/ou conceituação retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os
sustentam.
3.2.4 - O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem
sustentação em fatos e/ou teorias.
“Comportamento este, reproduzidos por muitas crianças vítimas de abuso
sexual”.
“Acompanhado pelo sorriso que se entende ser de aprovação”
(Não tem comparação e nem referência científica que sustentam essa
afirmação)
“Sabe-se que a violência sexual infantil é definida como qualquer interação entre
a criança e alguém em estágio sexual de desenvolvimento mais adiantado”. (não
apontou o artigo que tem essa caracterização)

3 CONCLUSÃO
Diante do exposto, concluo que o laudo apresentado pela psicóloga Ana Flávia
Rotta, deixa aberturas para contestação, no que concerne aos procedimentos e
interpretações dos laudos.
As contestações serão puramente técnicas, não atendendo aos critérios de
confiabilidade necessários, conforme descritos no Conselho Regional de
Psicologia.

REFERÊNCIAS
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 07, de 14 de junho de
2003.
ROVINSKY, S.L. Avaliação Psicológica forense em situações de suspeita de
abuso sexual em crianças: Possibilidades e riscos. Blog Vetor Editora, 2019.
Disponível em: https://blog.vetoreditora.com.br/avaliacao-psicologica-forense-
em-suspeita-de-abuso-sexual-infantil/#comment-1014.

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