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596/2008-2
RELATÓRIO
Trata-se de representação formulada por pessoa física, Sr. Diogo Borges de Carvalho
Faria, com espeque em indícios de irregularidades detectados na contratação emergencial de empresa
para prestar serviços de gestão de sistemas de informação pelo Departamento Nacional de Produção
Mineral - DNPM.
2. O representante alega que, na contratação emergencial em tela, o DNPM não selecionou a
proposta mais vantajosa, que havia sido ofertada pela Empresa Brasileira de Negócios e Consultoria -
EBNC, com a justificativa de que os atestados de capacidade técnica apresentados e a documentação
de constituição da EBCN não comprovavam a realização anterior de qualquer atividade relacionada
com o objeto a ser contratado, qual seja, o desenvolvimento de sistemas.
3. Ta procedimento, segundo o representante, teria se dado em inobservância ao inciso XXI
do artigo 37 da Constituição Federal e ao disposto no artigo 26 da Lei n. 8.666/93, visto que não
justificados, com a amplitude julgada necessária, os “reais motivos” que levaram à exclusão da
empresa EBCN e à contratação da empresa Montana.
4. Diante disso, a representante pleiteia que o TCU:
a) analise a não aprovação da EBNC no processo de contratação em tela;
b) suspenda cautelarmente o contrato emergencial firmado com a empresa de informática
Montana, que ofertou o segundo melhor preço;
c) no mérito, considere ilegal a contratação da empresa Montana e cancele a contratação
emergencial em questão.
5. Após analisar os documentos acostados aos presentes autos, a unidade técnica ressaltou
que o contrato emergencial sob enfoque foi firmado em agosto de 2008. Ademais, a vigência desse
contrato se estenderia até a conclusão do processo licitatório, já em andamento, para contratação do
mesmo objeto. Logo, restaria prejudicado o perigo na demora.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 029.596/2008-2
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10. Em 13/08/2008, o DNPM enviou e-mail (fls. 71-77 do Anexo 1) a seis empresas solicitando
a elas a formulação de proposta comercial, para participação no processo simplificado para
contratação emergencial de serviços técnicos especializados em tecnologia da informação.
11. Conquanto tenha ofertado o menor preço, a Empresa Brasileira de Negócios e Consultoria
(EBNC) foi desclassificada no quesito qualificação técnica. Inconformada, a representante
recorreu administrativamente (fl. 833-836 do Anexo 1), reclamando da ausência de exposição
precisa quanto ao não acolhimento da sua proposta. A Assessoria de Tecnologia da Informação,
então, apresentou o detalhamento da análise dos atestados fornecidos pela empresa recorrente
(fl. 843-845 do Anexo 1), ratificando a decisão anterior. Diante dessa manifestação, a Diretoria-
Geral negou provimento ao recurso (fl. 852 do Anexo 1).
12. É oportuno salientar que a empresa insurgiu em face do não detalhamento da análise dos
atestados. Não há notícias de que, após detalhamento feito pela área técnica do DNPM, a
empresa tenha formulado outro recurso administrativo. Nesse sentido, vale acrescentar que no
expediente encaminhado ao TCU o autor apega-se ao fato de a EBNC ter ofertado o melhor
preço e que o setor de compras teria decidido de forma equivocada e desprovida de
fundamentação plausível.
13. Consoante já informado, a área técnica fundamentou adequadamente os motivos que a
levaram a julgar que a empresa não possuía os requisitos necessários para execução das
atividades relacionadas no Projeto Básico. Conquanto a empresa EBNC, de fato, tenha
apresentado a proposta com menor preço, este não era o único critério de seleção.
14. Ademais, foi negado provimento ao recurso administrativo em 02/09/2008 e somente em
04/11/2008 foi protocolada a petição neste Tribunal. O contrato emergencial encontra-se em
andamento e já foi indeferido pedido de concessão de medida cautelar, com a qual se pretendia
suspender a contratação.
15. Destarte, no que diz respeito à desclassificação da empresa EBNC, não cabe razão ao autor.
Embora o ponto central do seu pedido tenha sido superado, é oportuno continuar a análise, para
avaliar outros aspectos do processo.
16. No que toca à estimativa de preços da contratação (fl. 48-v do Anexo 1), o DNPM baseou-se
em valores praticados em contratos firmados com órgãos da Administração Pública e em
pesquisa realizada junto a empresas privadas do setor de recursos humanos (fls. 785-786 do
Anexo 1). Na tabela abaixo, apresentamos um resumo comparativo da média dos preços da
pesquisa e dos preços nominais dos salários do orçamento estimativo para a contratação
emergencial.
SALÁRIOS SEM ENCARGOS
PESQUISA DE PREÇOS Orçamento
TIPO DE SERVIÇO
Setor Público Setor Privado Estimativo
Hora Mês Hora Mês Hora Mês
1- Gerência de Projetos 34,97 6.155,57 42,32 7.448,32 35,80 6.300,80
2- Análise de Sistemas de
Informação Sênior 28,42 5.001,54 33,12 5.828,62 33,15 5.834,40
3- Análise de Sistemas de
Informação Pleno 22,75 4.004,04 27,34 4.811,00 25,04 4.407,04
4- Web designer 18,67 3.286,12 16,84 2.964,03 17,76 3.125,76
Obs.: a coluna Pesquisa de Preços representa a média dos preços da pesquisa realizada pelo DNPM (fls.
785-786 do Anexo 1).
17. A comparação acima mostra que os valores de referência adotados no projeto básico
estavam compatíveis com os parâmetros utilizados. Nos preços informados na tabela não estão
incluídos a margem de lucro da empresa, os custos relativos aos encargos sociais, aos benefícios
trabalhistas, a despesas administrativas, aos encargos tributários, etc.
18. Cumpre ressaltar que o valor estimado pelo DNPM era apenas uma referência e as empresas
não estavam obrigadas a adotá-lo em suas propostas. Além dos valores nominais de salário
destacados acima, no orçamento estimativo (fl. 48-v do Anexo 1) foram previstos os valores
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máximos aceitáveis para o período de seis meses. Nesses valores, foram incluídos, além do
valor do salário, todos os outros custos que compõem o valor da mão-de-obra.
19. Cabe então avaliar se a proposta escolhida está dentro do limite estabelecido. Na tabela que
segue apresentam-se os custos estimados para a contratação em confronto com os
correspondentes custos da proposta contratada, todos cotados por hora (valor mensal dividido
por 176 horas).
ORÇAMENTO ESTIMATIVO P/
PROPOSTA CONTRATADA POR HORA
TIPO DE Demanda HORA
SERVIÇO de Horas Demais Mão-de- Demais Mão-de- Fator
Salário TOTAL Salário TOTAL
Custos Obra Custos Obra “K”
1- Gerência de Projetos 1.056 35,80 66,58 93,07 98.281,92 35,80 36,26 72,06 76.095,36 2, 013
2- Análises de Sistemas
8.448 33,15 61,65 33,15 33,65 66,80 564.326,40 2, 015
de Informação Sênior 86,18 728.048,64
3- Análises de Sistemas
11.616 25,04 46,58 25,04 25,69 50,73 589.279,68 2, 026
de Informação Plenas 65,11 756.317,76
4- Web designer 1.056 17,76 33,02 46,17 48.755,52 17,76 18,51 36,27 38.301,12 2,042
TOTAL 1.631.403,84 1.268.002,56
20. Na comparação acima, verifica-se que o valor a ser pago pela prestação de serviços de
gestão de sistemas da informação, por meio do Contrato Emergencial nº 13/2008 (fls. 919-933
do Anexo 1), está 22% abaixo dos valores máximos aceitáveis fixados pelo DNPM.
21. Ademais, vale informar que o Fator “K”1 da proposta contratada (última coluna da tabela
supra) é de, no máximo, 2,04. De acordo com os dados levantados na auditoria realizada no
âmbito do Tema de Maior Significância (TMS) Terceirização na Administração Pública
Federal, julgada por meio do Acórdão nº 1.753/2008 – Plenário, esse fator pode chegar a 2,49,
dependendo dos benefícios trabalhistas concedidos ao pessoal alocado ao contrato.
22. Assim, também sob esse aspecto, e dentro dos limites desta análise, julgamos que os preços
estão adequados.
23. Em complemento, é oportuno salientar que, segundo manifesto do Diretor de
Administração-Geral do DNPM (fls. 49-50 do Anexo 1), esta já é a segunda contratação
emergencial por 180 (cento e oitenta) dias, para a prestação de serviços técnicos especializados
em informática para a gerência de projetos e desenvolvimento de sistemas. A primeira ocorreu
em fevereiro de 2008. Ainda de acordo com a mesma fonte, a contratação emergencial foi
necessária, porque a licitação foi cancelada pelo TCU (Acórdão nº 1.971/2007), em setembro de
2007.
24. Não obstante o longo tempo transcorrido, o edital para a licitação do objeto em questão só
foi publicado em 03/10/2008, mas foi suspenso e ainda não foi publicado novo aviso de
licitação. A demora na realização da licitação foi questionada pela Procuradoria Jurídica do
DNPM (fls. 31 e 31-v do Anexo 1), cujo trecho convém reproduzir.
‘Por outro lado, é incompreensível e inaceitável que embora sejam sabedores de que a
contratação da empresa MONTANA se deu em caráter emergencial e com prazo certo
para encerramento (180 dias), a equipe responsável tenha deixado escoar todo o tempo da
contratação sem adotar os procedimentos administrativos capazes de lançar o edital até o
encerramento do contrato emergencial.
[...]
Portanto, o fato do processo administrativo nº 48.400.000.834/2008 ter sido recebido na
PROJUR em 25/07/08 para análise do edital somente reforça a tese de que o
procedimento adotado foi lento e não teve a atenção que a questão exigia.’ [grifamos]
25. Conquanto a Procuradoria Jurídica se reporte ao prazo de 180 (cento e oitenta) dias do
primeiro contrato emergencial, é bom repisar que a decisão do TCU, cancelando a licitação do
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Índice obtido pela divisão do valor da mão-de-obra pelo salário, ou seja, índice que representa todos os custos unitários
que incidem sobre o salário, tais como: encargos sociais, insumos, margem de lucro, despesas administrativas, etc.
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DNPM, foi tomada em setembro de 2007. Isso reforça a tese de que a equipe responsável pela
licitação foi negligente com a questão.
26. Em 1994, o Tribunal Pleno, ao apreciar consulta relativa à correta aplicação do art. 24, IV,
da Lei nº 8.666/93 (Decisão nº 347/94 - Plenário), entendeu que aplicação da dispensa de
licitação e cabível desde ‘que a situação adversa, dada como de emergência ou de calamidade
pública, não se tenha originado, total ou parcialmente, da falta de planejamento, da desídia
administrativa ou da má gestão dos recursos disponíveis, ou seja, que ela não possa, em
alguma medida, ser atribuída à culpa ou dolo do agente público que tinha o dever de agir para
prevenir a ocorrência de tal situação’.
27. Depois disso, vieram outras decisões (Acórdão nº 300/1995 – Segunda Câmara, Acórdão nº
260/2002 – Plenário, Acórdão nº 348/2003 – Segunda Câmara), sempre enfatizando que a falta
de planejamento ou o planejamento inadequado não autorizam a dispensa de licitação sob a
alegação de situação de emergência. Apesar desse entendimento, a administração pública não
pode ser penalizada pela incompetência ou desídia de seus administradores. Assim, não resta
outra opção que não seja admitir a contratação direita e chamar os responsáveis para
apresentarem suas justificativas.
28. Julgamos conveniente, pois, que seja promovida a audiência de MIGUEL ANTÔNIO
CEDRAZ NERY, diretor-geral do DNPM, e ELINGITON DE BARROS SOARES, diretor de
administração do DNPM, para que apresentem suas razões de justificativas por não terem sido
adotadas as providências cabíveis para que fossem promovidos os processos licitatórios com a
devida antecedência, evitando-se as duas contratações emergenciais da empresa MONTANA
SOLUÇÕES CORPORATIVAS LTDA., por meio dos Contratos nº 04/2008 e nº 13/2008, para
a prestação de serviços técnicos especializados em informática para a gerência de projetos e
desenvolvimento de sistemas.
(...)”
10. Por meio do despacho de fls. 36/37 (v.p.), autorizei a realização das audiências, na forma proposta
pela unidade técnica.
11. Ao analisar a defesa apresentada pelos responsáveis, a unidade instrutiva, em pareceres uniformes,
propôs a rejeição das razões de justificativas, com aplicação de multa aos Srs. Miguel Antônio Cedraz Nery e
Elinginton de Barros Soares, conforme análises transcritas abaixo:
“3. Razões de Justificativa
Em resposta às audiências formuladas, foram encaminhados para análise desta 1ª
SECEX os Ofícios n.º 598/DIRE – 2009 (fls. 02/11 do anexo 3) e n.º 358/DIAM – 2009 (fls.
12/21 do anexo 3), por meio dos quais os senhores Miguel Antônio Cedraz Nery e Elingiton de
Barros Soares apresentam suas razões de justificativas para os fatos arrolados neste processo.
As respostas encaminhadas para análise são idênticas, razão pela qual faremos
exposição e análise conjuntas do posicionamento apresentado nas audiências.
De acordo com os responsáveis, a Administração do DNPM tem trabalhado sempre no
sentido de propiciar à autarquia uma melhor disponibilização de serviços e equipamentos, com
vistas ao atendimento satisfatório das necessidades da sociedade e do governo.
Nesse sentido, os defendentes apresentam uma retrospectiva cronológica das ações
desenvolvidas pelo DNPM ao longo do período compreendido entre novembro de 2004 e
novembro de 2009, no que concerne à contratação de empresas para prestação de serviços de TI,
desenvolvimento de software e os seus respectivos procedimentos licitatórios.
O quadro a seguir busca estabelecer um breve resumo das ações desenvolvidas pelo
DNPM ao longo do já mencionado lapso temporal de cinco (5) anos, referenciando os diversos
problemas que teriam ensejado as contratações emergenciais, associados ao contingenciamento
de recursos orçamentários, dificuldades na obtenção de estimativas de preços para os processos
licitatórios, erros do pregoeiro responsável pelo certame e morosidade administrativa.
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Ago/2006 Considerando que não teria havido Foi mantido o mesmo número de
julgamento de mérito quanto ao processo (nº 48.400.000.450/
Mandado de Segurança, nem resposta 2006). Como parte do
acerca do recurso apresentado, a planejamento da contratação,
Administração do DNPM decidiu por foram solicitados a vários órgãos
acatar a decisão liminar e instaurar novo federais os valores praticados em
processo licitatório, com a elaboração de seus contratos, com vistas à
novo projeto básico. formação da planilha de preços.
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07/2008)
A par das informações acima elencadas, os responsáveis consignam que o DNPM vem
buscando realizar os certames conforme a legislação preceitua. Todavia, as licitações não foram
concluídas por limitações de ordem técnica e de pessoal, no âmbito interno, e por razões
externas, alheias à vontade ou controle do DNPM.
Em face disso, e considerando que poderia ocorrer interrupção dos serviços, sob risco
de comprometer a segurança das informações associadas às atividades de arrecadação das
receitas da entidade, concessão de títulos minerários e publicação dos atos referentes aos
processos minerários, foram promovidos os contratos emergenciais.
Os defendentes destacam que, mesmo em se tratando de contratação emergencial, foram
observados os princípios licitatórios, tais como a igualdade de condições para os participantes, a
transparência do processo e a busca das condições e preços mais vantajosos para a
Administração. Entendem que não se pode contestar a lisura das contratações, tendo em vista a
alternância na contratação das empresas, com competição de preços, inclusive com redução do
valor contratado (inferior àqueles constantes inicialmente do projeto básico e das pesquisas de
preços), não havendo que se falar em prejuízo ao erário ou lesão ao interesse público.
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Embora reconheçam que os fatos apontam “para uma possível morosidade na conclusão
dos processos licitatórios”, ressaltam que não deve prosperar a caracterização de desídia
administrativa ou a alegação de falta de planejamento, já que o processo licitatório teve início
em dez/2004, não obstante a vigência do contrato em curso se encerrasse apenas em abril/2006,
‘com margem de tempo suficiente para suportar eventuais lides’. Foram adotadas, portanto,
‘sempre de forma antecipada, todas as ações e medidas cabíveis para que não houvesse a
necessidade de realização de contratos emergenciais, sendo esses decorrentes de fatos alheios
à vontade da Administração’, bem assim de ‘incidentes processuais durante a realização dos
certames licitatórios’, inclusive para atender às orientações desta Corte.
4. Análise das audiências:
Os responsáveis fundamentam sua defesa sob o argumento de que teriam sido adotadas
as medidas necessárias e tempestivas para a realização dos certames, e que a ausência de
conclusão decorreu de limitações internas, associadas a fatores externos, alheios à vontade ou
controle daquele órgão.
Vejamos, então, a sequência dos fatos ocorridos. Conforme noticiado, as medidas
requeridas para a contratação de serviços de TI, em substituição ao então vigente contrato com a
Poliedro, teriam se iniciado ainda em nov/2004. Durante todo o exercício de 2005 foram
despendidos esforços e recursos para a elaboração do respectivo projeto básico, que veio a ser
desmembrado em dois processos, em fev/2006.
O processo 48.400.001.473/2004, destinado à contratação de fábrica de software, não
obstante tenha sido recebido pela CPL em fev/2006, só veio a ser publicado em jul/2006, sendo
suspenso em razão de impugnações.
O processo 48.400.001.450/2006, que objetivava a contratação de serviços de TI, teve
seu edital publicado em abr/2006, mas foi objeto de mandado de segurança, sendo suspenso. Em
face disso, o contrato celebrado com a Poliedro veio a ser prorrogado por mais doze meses (ou
seja, até 29/04/2007).
Decidiu-se, então, pela abertura de novo procedimento licitatório, em agosto/2006,
mantendo-se o nº 48.400.000.450/2006. Conforme noticiado, foram necessários seis meses
apenas para o levantamento das informações com vistas à formação da planilha de preços de
referência, pois somente em jan/2007 a Seção de Compras teria logrado êxito na pesquisa.
Em março/2007, “por economia processual” e “melhor organização do procedimento
licitatório”, os serviços, antes licitados separadamente, foram novamente reunidos no mesmo
processo, agora sob o nº 48.400.000.605/2007, com o encerramento do processo nº
48.400.000.450/2006. Apenas em maio/2007 foi publicado o edital. Este veio a ser objeto de
representação junto a esta Corte, que determinou, em set/2007, o seu cancelamento, bem assim
o fracionamento do objeto.
Embora o aviso de anulação do certame tenha sido publicado em out/2007, apenas em
dez/2007 o DNPM aderiu à Ata de Registro de Preço do Pregão nº 36/2006 do MME, referente
a serviços de Infraestrutura de Rede e Banco de Dados, firmando, naquele mês, contrato
emergencial com a empresa Hepta para serviços de “apoio às atividades de informática” (fls.
49-verso, Anexo 1). Conforme informação às fls. 50, Anexo 1, não teria sido realizada nova
contratação emergencial para esse objeto.
Para o serviço de “desenvolvimento de sistemas”, foi celebrado, em fev/2008, contrato
emergencial, por 180 dias, com a empresa Montana (fls. 49-verso, Anexo 1).
Não há informações quanto à prestação dos serviços no interregno entre o encerramento
do prazo de vigência do contrato firmado com a Poliedro - o qual não mais poderia ser
estendido, visto que já utilizada a faculdade conferida pelo art. 57, § 4º, da Lei de Licitações – e
a contratação das empresas Hepta e Montana, evidenciando a possibilidade de prestação de
serviços sem cobertura contratual, o que se afiguraria ilegal, ou a interrupção da prestação dos
serviços por cerca de oito meses, no primeiro caso, e dez meses, no segundo, com os
decorrentes danos advindos de tal situação.
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5. Conclusão
Considerando que a morosidade dos procedimentos administrativos ocasionou a
fragilidade ao processo, maiores custos associados à elaboração de projetos, maior
probabilidade de defasagem entre o projeto idealizado e as novas alternativas tecnológicas, além
de afetar a própria credibilidade da instituição;
Considerando que a tramitação dos procedimentos licitatórios induziu à contratação
emergencial, por duas oportunidades consecutivas, da empresa Montana Soluções Corporativas
Ltda., além da terceira contratação, promovida junto à empresa CPM Braxis, ocorrências que se
configuram ilegais;
Considerando que este E. Tribunal já se manifestou acerca desta questão ao analisar
consulta concernente à correta aplicação dos ditames contidos no art. 24, IV, da Lei n.º
8.666/93, quando entendeu que a dispensa de licitação é cabível desde que a situação adversa,
dada como de emergência ou de calamidade pública, não se tenha originado, total ou
parcialmente, da falta de planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos
disponíveis, ou seja, que ela não possa, em alguma medida, ser atribuída à culpa ou dolo do
agente público que tinha o dever de agir para prevenir a ocorrência de tal situação (Decisão n.º
347/94 –Plenário);
Considerando que esse entendimento foi reiterado no âmbito dos Acórdãos n.º
260/2002 - Plenário e n.º 348/2003 – Segunda Câmara, dentre outros, tendo os responsáveis
sido alertados quanto à consagrada jurisprudência do TCU por meio dos pareceres PROGE nº
401/2008-WF e nº 428/2008-LBTL;
Somos pelo encaminhamento destes autos à consideração superior propondo:
1) conhecer da presente Representação, para, no tocante as fatos específicos apontados na
inicial, negar-lhe provimento;
2) rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos senhores Miguel Antônio Cedraz
Nery, Diretor-Geral do DNPM e Elingiton de Barros Soares, Diretor de Administração do
DNPM;
3) aplicar multa aos responsáveis, senhores Miguel Antônio Cedraz Nery, diretor-geral do
DNPM e Elinginton de Barros Soares, diretor de administração do DNPM , fixando-lhes o
prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para comprovar perante este Tribunal, o
recolhimento da referida quantia aos cofres do Tesouro Nacional, com base no art. 58, incisos
II, da Lei n.º 8.443/92;
4) seja autorizada, desde logo, a cobrança judicial da dívida nos termos do art. 28, inciso
II, da Lei n.º 8.443/92, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a
partir do dia seguinte ao término do prazo ora estabelecido, até a data do seu efetivo
recolhimento, caso não atendida a notificação, na forma da legislação em vigor;
5) dar ciência ao representante;
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VOTO
12. Verifico que a proposta da unidade instrutiva baseou-se em antiga jurisprudência deste
Tribunal, Decisão n. 347/94 - Plenário, segundo a qual a dispensa de licitação é cabível desde que a
situação adversa, dada como de emergência ou de calamidade pública, não se tenha originado, total ou
parcialmente, da falta de planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos
disponíveis.
13. No entanto, a jurisprudência desta Corte de Contas evoluiu, mediante Acórdão n. 46/2002 -
Plenário, no sentido de que também seria possível a contratação direta quando a situação de
emergência decorresse da falta de planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos
recursos públicos, devendo-se analisar, para fins de responsabilização, a conduta do agente público que
não adotou tempestivamente as providências cabíveis.
14. Quanto à responsabilização dos gestores, entendo que não se deve atribuir a eles a culpa
por eventual demora na realização de processo licitatório com vistas a contratar serviços de tecnologia
de informação, conforme entendimento exposto a seguir.
15. Com base nas informações constantes dos autos, verifico que entre os exercícios de 2006 a
2009, ano este em que o órgão logrou êxito em contratar empresa para prestação de serviços
especializados de tecnologia de informação por meio de procedimento licitatório, foram lançados
vários editais de licitação com o intento de contratar os referidos serviços.
16. Todavia, o DNPM se viu obrigado a anular tais certames em virtude de decisões proferidas
ou pelo Poder Judiciário, quanto ao Pregão n. 4/2006, ou por esta Corte de Contas, no que tange às
Concorrências n. 1/2007 e 1/2008, ou por decisão do próprio órgão, quanto ao Pregão n. 7/2008, em
razão de vícios insanáveis.
17. No âmbito deste Tribunal, foi instaurado processo de denúncia (TC 018.857/2007-4) em
face de irregularidades constatadas na Concorrência n. 1/2007, julgado por meio do Acórdão n.
1.971/2007 - Plenário, inserido na Ata n. 37/2007, de 19/9/2007, que determinou o cancelamento do
aludido certame e determinou o fracionamento do seu objeto.
18. Foi instaurado, também, processo de representação contra a Concorrência n. 1/2008 (TC
001.355/2009-3), julgado por intermédio do Acórdão n. 4.355/2009 - 2ª Câmara, inserido na relação n.
24/2009, do Gabinete do Ministro José Jorge. No âmbito desse processo, este Tribunal não acolheu as
justificativas apresentadas pelo órgão, razão pela qual a licitação foi suspensa. O DNPM, acatando a
sugestão da Secretaria de Fiscalização de Tecnologia de Informação deste Tribunal, que entendeu
equivocada a modalidade de licitação utilizada, anulou o certame.
19. Assim, não se pode desconsiderar o esforço da administração do DNPM em se proceder à
regularização da contratação de serviços especializados em tecnologia da informação. Conforme
mencionei acima, os processos de licitação abertos com vistas a contratar os referidos serviços não
lograram êxito por motivos alheios às atribuições funcionais dos Srs. Miguel Antonio Cedraz Nery e
Elingiton de Barros Soares.
20. Quanto ao lapso de tempo transcorrido entre a anulação de um edital e o lançamento de
outro, a meu ver, esse tempo foi necessário para que o órgão elaborasse novos projetos básicos com
especificações que contemplassem não só as determinações proferidas por esta Corte de Contas, mas,
também, as novas regras e diretrizes traçadas pela IN/MPOG n. 2/2008, concernentes à contratação de
serviços continuados ou não.
21. Além disso, com base nas informações prestadas pelos gestores e nos documentos
constantes dos autos, não vislumbro qualquer intenção do DNPM, ao realizar os contratos
emergenciais em comento, de privilegiar determinada empresa, haja vista a alternância das
contratações. Em um primeiro momento, o DNPM aderiu à Ata de Registro de Preços referente ao
Pregão n. 36/2006 do Ministério de Minas e Energia e firmou contrato, no exercício de 2007, com a
empresa Hepta Tecnologia e Informática Ltda. No exercício de 2008, celebrou dois contratos
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consecutivos com a empresa Montana Soluções Corporativas Ltda. e, em 2009, contratou a empresa
CPM Braxis.
22. Deve ser ponderado, ainda, o argumento dos gestores de que, mesmo se tratando de
contratações emergenciais, o órgão utilizou procedimento análogo à modalidade carta convite, a fim de
contratar a proposta mais vantajosa, considerando os critérios técnica e preço. Assim, de acordo com a
defesa, empresas eram convidadas a participar de procedimento licitatório simplificado, com propostas
entregues em envelopes lacrados, abertos na presença dos participantes, contratando, ao final, aquela
que apresentou a melhor proposta, considerando o preço ofertado e a capacidade de execução
contratual.
23. Segundo os gestores, “isso demonstra que sempre se buscou em cada processo de
contratação emergencial a ampla transparência e lisura no procedimento, inclusive com a lavratura
de ata de ‘seção pública’”.
24. Tal alegação pode ser comprovada por meio dos documentos anexados aos autos referentes
à segunda contratação emergencial efetuada no exercício de 2008, como cópia do termo de referência,
cópia dos e-mails enviados às empresas solicitando a formulação da proposta comercial, cópia dos
certificados de capacidade técnica e da documentação de constituição das empresas encaminhados
pelas participantes da seleção, cópia das análises da referida documentação realizadas pelo DNPM e
cópia do orçamento de referência e das propostas comerciais apresentadas pelas empresas (anexo 1,
principal e volumes).
25. O próprio representante confirma a realização desse processo licitatório simplificado, ao
afirmar que “O DNPM, por sua Seção de Compras, instaurou processo simplificado para a
contratação emergencial de serviços aplicados à Tecnologia da Informação (TI). E, ofertadas as
competentes propostas na forma exigida pela Administração, a Empresa Brasileira de Negócios e
Consultoria (EBNC) logrou êxito ao apresentar o menor preço e atestados de capacidade técnica
compatíveis com o objeto a ser contratado”. (grifei)
26. Esses fatos demonstram, até prova em contrário, que o órgão não deixou de observar os
princípios licitatórios no âmbito dessas contratações emergenciais, notadamente o da isonomia, da
seleção mais vantajosa para Administração e o da transparência do processo.
27. Destacam, também, os defendentes que não há falar em prejuízo ao erário, já que, com a
competição de preços por meio dos processos licitatórios simplificados, houve redução do valor
contratado em relação ao preço estimado (a estimativa de preços do DNPM baseou-se em valores
praticados em contratos firmados com órgãos da Administração Pública e em pesquisa realizada junto
a empresas privadas do setor de recursos humanos – fls. 785/786 do Anexo 1).
28. De fato, essa informação foi confirmada pela unidade instrutiva que, ao comparar o preço
pactuado no segundo contrato emergencial firmado com a empresa Montana com o preço constante do
orçamento estimado, verificou redução da ordem de 22% em relação ao preço estimado.
29. À vista dessas considerações, considero que restou descaracterizado o indício de
irregularidade em comento, razão por que divirjo do entendimento da unidade técnica no sentido de
sancionar os gestores chamados em audiência.
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Ante as razões expostas, voto por que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto a este
Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 06 de julho de
2010.
BENJAMIN ZYMLER
Relator
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1. Processo nº TC 029.596/2008-2.
2. Grupo II – Classe VI – Assunto: Representação.
3. Responsáveis: Elingiton de Barros Soares (CPF n. 448.550.604-53) e Miguel Antonio Cedraz Nery
(CPF n. 133.661.065-49).
4. Órgão: Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM - MME.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade: 1ª Secretaria de Controle Externo (Secex-1).
8. Advogado constituído nos autos: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação acerca de supostas
irregularidades detectadas na contratação emergencial de empresa para prestação de serviços de gestão
de sistemas de informação, conduzida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão desta 2ª
Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente Representação, para, no mérito, considerá-la improcedente;
9.2. dar ciência desta deliberação aos responsáveis e ao representante;
9.3. arquivar os presentes autos.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Subprocuradora-Geral
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