Você está na página 1de 5

'y.

'{ruo
#
{tr
i9

i:

Como o conbecimento
de uma língua
se orga,nxzq,
na mente das pgssoas?
.

"krxÊffi *"*#ffi

$ l1
l1 It t
t r[
la
't
i
Miriam Lemle c
u
Maria Ângela Botelho Pereira
O
Humberto Peixoto Menezes
l)ePartamento .le Lingúística e Filologia,
o
Lhtittersídade Federal clo Rio de.laneiro. o

44 voL.i6/Ns 95 ctÊNctA HoJE


al é a natryeza da relaçâo nâo implica negar que fatos não mais coerente aclmitir que tais
entre a representação de lingüísticos possam afetar elementos da mudanças se dão por força clc opções
umsomearepresentaçào língua. Sem dúvida, o repertório lexical inerentemente lingúísticas. Por
de um sentido? (ou seja, o vocabulário de cada pessoa) exempio, nas línguas deriv:rdas clo latim
As pessoas usam a língua em é extremamente permeável à influência vulgar, um mecanismo alternativo com
situações de cliscurso que estão, por sua dos fatos culturais. Por exemplo, os a mesma função das declinaçÕes - o
vez, inseridas em cliferentes situaçôes esquimós têm um rico repertório de uso de preposiçÕes - acabou por
socioculturais. As variações de uso palavras.para designar as diferentes alastrar-se, substituindo quase
podem decorrer, por exernplo, do grau modalidades da neve. Populações rurais totâlmente as mârcas morfológicas de
de formaliclacle que existe entre os têm grande fiqueza de vocabulário para caso nominativo, genitivo, acusativo etc.
interlocutores. A mesma pessoa usa nomear plantas. Pescadores sabem
variedacles de linguagem diferentes, por muitos nomes de peixes e assessórios lnüu.ra das
exemplo, numa situação formal e de pesca. Economistas são famosos
quando fala a uma criança. pelo seu iargão técnico, dito A autonomia entre o subsistema da
Há posiçÔes distintas entfe os 'economês'. sintaxe e o da ser-nântica pode ser
lingüistas a respeito do relacionamento No entanto, as influências culturais mostrada pela análise da
entre cilltura e cliscurso de um lado, e não são nem previsíveis, nem regulares, correspondência entre eles em dois
gramâtica de outro. Um grupo acredita e sempre dão como resultado final tipos de expressôes linplüísticas:
que esses calnpos nào são autônomos. formas lingüísticas que se acomodam palavras e sintagmas (locucões. ou sr,ju.
Para estes, as categorias socioculturais e perfeitamente dentro do sistema da expressões com maís de uma p'a,lavra).
discursivas se impôem às categorias da graÍnâtica já existente. Por exemplo, os Tomemos alguns casos de
gramática, cleterminando-as. Outro substantivos classificam-se segundo as corresponclência entre estruturas
grupo encara â estrutura interna <la categorias de gênero e aceitam sufixo morfológicas (isto é, a forma das
língua - ou seja, sua estrutura de grau e flexão de número. palavras) e estruturas conceptuais de
gramaticai - couro fator dotado cle Por outro lado, nunca se pôde uma série de verbos que cor-rtêm a
categorias autônomas. Neste artigo, comprovaÍ que as mudanças de noção de 'Íetirar algo de algo': clesossar;
lançamos mão da análise da relação gramática registradas pela história das descaroçar; descascar; pelar; escamar;
entre estrutura semântica e unidades línguas (afinal, as línguas também espumar, por exemplo.
lexicais, para dar evidências em favor mudam) derivam deterministicamente Temos nesse coniunto de verbos
da seguncla posição, na qual os alltores de mudanças socioculturais. É muito duas formas de correspondência entre a
cleste artigo se incluem.
Para esse grupo de lingüistas, a língua
é um dos sistemas coglnitivos cla mente
I) :, i. t :tL i ç/ çtçl r:: c./r,: c * tltr';'!.ttl:,;'i:; i {: :t'tír
humana. Os mecanismos da língr-ra
estabelecem relaçào entre a cadeia de Na fonologia, falamos de unidades de som como 'fonemas', 'sílabas', 'grupos de
sons que produzimos ao falar e o acento'. Na sintaxe, falamos de unidades como 'morfemas', 'palavras'e 'sintagmâs'
sentido que construímos na mente. A Na semântica, falamos de 'coisa', 'evento', 'açào', 'qualidade', 'lugar', 'modo'. A
gramática é composta clo conjunto autonomia entre esses três subsistemas pode ser ilustrada obselando-se o
integrado desses mecanismos. O desencontro entre as suas unidades.
subsistema da Íbnologia permite à mente Tomemos a frase seguinte: Meus amigos estão morando em uma espécie de
orgarizar a representaÇào dos sons cla hotel. Pronunciada no ritmo da fala coloquial, nota-se que a segmentação em
fala. O da sintaxe é o responsável pela sílabas nào coincide totalmente com as fronteiras das palavras e que, na fala
estrutura das sentenças, e o da semântica râpida, alguns fonemas são suprimidos, como as vogais finais de morando, uma,
trata da lormaÇào dos tonteilos que espécie:
definem o significado das palavlas e clas Me u / sa / mi / go / sis / Iáo / mo / r an / dem / u / mis / pé / ci / di o / téu.
combinaçÕes de significados decorrentes Estes desencontros nos obrigam a concluir que síiabas e palavras são uniclades
da estrutura sintática. Eles sào desvinculadas umas das outras. Em outras palavras: autônomas.
constituídos por suas próprias entidades O desencontro na relaçào entre a sintaxe e a semântica pode ser ilustÍado com
básicas e seus princípios de organizaçào. estas duas frases:
Relacionam-se uns com os outros através Voltar para casa na hora do rush é um aperto.
de regras de correspondência, ma.s as A volta para casa na hora do rush é um aperto.
unidades elementares de cacla uma Ambas as frases têm como sujeito uma expressão que designa uma 'ação',
dessas estrutr-lras são definidas nc> porém sintaticamente essa noção está expressa, na primeira, pela oração'voltar
interior do próprio subsistema (ver 'As paÍà casa'e na segunda pelo sintagma nominal 'avolta para casa'. Vemos, assim,
unidades de cada subsistema'). qlle âo mesmo tipo de noçâo semântica podem corresponder dois (ou mais) de
Admitir a autonomia da grarnática consl ruções sintáticas.

NOVEIT.IBRO DE 1993 45
,'t. r.tl ,.. .. .,' ' ':t: .:.'

A terminologia da culiníu'ia é um bom cantpo p.rra mostrar exista r:rn pofiuguôs, nào Lrst:uros irrpr:cliclos cler concel>er
que situaÇa)es socioculturais nào deteÍminam a estrutuÍ:t que a c?lrne pocle ser cliviclicla em pealaÇos com o Íormuto cle :!irl.

conceitual do léxico. Quando uma dona cle casa segue um.:r claclos. Acontcrce ,ipenas que nào costunlafiros nL)s sr'l\ ir
receitâ, precisa executâr os mesmos processos, seja c1ua1 for :r clessa comparaçl)o ao concebemos o ato clc coltar um
sua língua. No terleno da arte culinária, temos a cefteza de alimento. A concluszio é que um meslno ato poclc ter Lrrre
que a receita cle Llm prato clacla numa língua or-r efii outra representzrçào lnent:rl r-riro-lir-rgriística e Lllrul representaçr,l()
deverá, com muitâ precisão, orientar quem o prepara â rnental lingr-iística. e '.rs cltras nào precis:rn-r neccssariurmente
reç]]lizar os mesmos atos para obter a mesmr comide. t t,irtt itlir.
Examinemos o verbo ingiês /o rJice, :utthzad<: en O r.ellro to sotlk é usaclo enr rnstrr.rc-Ôes clc) tipo soatk tbe
instruçôes do tipo dice tbe meat. A aná1ise da estrutura bearts in u)ater. En1 portuglrês. a cxplessào corrcsponclente
conceitual ciesta frase precisa levar em contâ qlle o no contexto cliscursivo cla cr-rlir-rár-ia é cleixe os Í-ciiôcs cle
substantivo dice signihclt r.lcr.clo, um tipo específico cle cubo. molho', cpe tanibém nilo con'esponrle à e-xpr-ess:)o inglesa
'Ib dice significa 'cofiar a carne c1n fbrma cle dados'. A totalmente. 7'o xrtk significa conceitr-rahlente enthebtr, t:..j;
.:llt
estrutura conceitual serír, entào. algo como [fazel com que emÍ)apctr. ertchc,trcnr, ou seja. linrergir en'r lícluiclo ata: o ponto ii.ii;
.."..d
alguma coisa fique com a Í'orma c1c daclol. cle s:rturaçirol, e nà<> apcnes firnelgir enr lícluiclo]. clue (: o +!$
;1,r1É

Em português, nào clispornos cle um vcrbo pera expressar eqr:ivalentc a cleixar cle molhr>'. Note-sc. nlris rula vez. qr.tc râllt
t':lir_t
esta aÇào: seria algo crotno 'dncle'rr', ou 'claclizar', cpe nào nàcr est'lrnos in'rpeclidos, cm po1'tllgrlê's. cle fàler ent entheber. ..i+Xr
:,i'd
existe por mera idiossincrf,sia, pois cn\'ontr'lnlos palavras elnpatp(,tr oLt ertchltrcLtr os.feij()es. r-rcm conceituaI nenr lritlêl
*1É
com estrutLlre conceitual semelhante, cofi7o entpedrctr. oLt morlbssintaticamcnte.
embol.tr Para nos referirmos a essa etap2t do plcparo da O verlro to sprinkle significa fazcr cair em pe.lLrenas gotas
comida, dizemos erltir.o corlar em pedLtÇos, cortdr e?n ou pafiículas'. Part tradr:zi-1o pala () portllguês. no clomínio
cubinbos, ou simplesmefiÍe picar, que nào fazem, entl'etanto, cla culinária, temos 'borrifaL', se as p:rrtícr.rlas forern líquiclas, e
refêrência à forma final do procluto. I)a mesma Íorme, to clice 'polvill'rar', sLr as paÍtículas foÍem rle algun-r p<i. Assinr. ciesta
nào fàz referêncie à açào de cortar, mas a represent'.rÇ,ro \jez) o português selecionoll para o vocabr-rlário da cozinha iit.,i:+
mental clo ato cle transformar e cerne ern pafies com a Íbrme dois termos mais específicos do qlle o inglês p2l1'a ri mesrnzl
cle dado traz implícita estâ operaÇào. situaç:ão.
É impoftante obser\.ar que, embora o verl)o to dice nàct O verbo lo strain aperece nas receitlls crr fTASCS ('()m()

estrutura morfológica e a estrutur2l em que hír un-r scgrnento, o prefixo clue que ()s estflltlrfilltt c|tr ctonceit<ts
conceitllal: nos três primeiros está expressa o scntido. colnplexos. ()s clois - r'ocabr.rlirrio c
presente o prefixo des, q]tje expressa o Obselr,'anclo ess:rs clulrs chsses prir-icípios nosper'rnitemrxprcssar
significaclo de 'subtrair', 'tirar de'. Nos conccitulis (retirar'. Acresccntar) colll cxplicitalncntc os (l()is conceitos
outros três, ao contrário, não há pÍefixo sr-uLs subcln isôes rrorfblógicas. rc1)r'cscnt:ralos na prirlleir':1 e na srguncllL
que expresse fisican-rente esse conceito. . lt.gLItl,rs il tontlLlr:to rlLIr' r', rÍ1rr'ilrr r' selics clc vcLbos, ()Ll sejir lretirar llgo dc
VeriÍicamos, também, a fbrma n:ro estrio ligaclos por'i.1nr rrlgol c laclcsccnt:ir algo e elgol.
corresponclência entre a estrutllra 1):lr:tlt li.nto nrllcit(,. l. t'tl:tis Por sLut \.c2. o componente cle leglas
moÍfológica e a estrlrtura conceitual esclelcceclor, portento. clelinir e-s n'rorfblógic':rs (quc cle[inenr r lirr-n'n.
numa segun.la série de verbos qr-re cstlLrtr.rr':rs conceitLll.ris cotnO autônonLLs ntrtrfr». cnl gl'ego. cles pelevres) iicla
expressam a tdéta de 'acrescentara.lgo a cm rclaçào às formls clas pelavtts. corl r-rnicllrclcs elcmentlrrcs coll() raízcs
algo : apimentar: amanleigarl :rçucarar: I-.rJ t ottr IttsL( ) \ç r(lut\:t .i' e afixos. e conr plil-rcípios 11e
etapetar; manchar; cuspir; rechear. exarnin:ILnos a formaÇ-ào clcts cc>nccitos estrutr-rraç:ro clcsscs clcnrcnt()s elll
Assim como na primeira série, temos que clefinenr o significaclo clrrs palavrrrs. Llniclaclcs lcxicais colnplexrs. Ijss:rs
ciuas formas de corresponclência: uma Os conceitos se forrnlur rr partir ale gni!l.rrlcs ! ! \:! \ pr'ínr'rpi,,. trus
eln que eo conceito de acréscimo elementos primitivos semânticos. pcrnritcnr atribuir. pol exenrplo, n
corresponde uma forma física - o inclicaclores c1c noc,'c)es que rl)imentar a scgllintc cstfl-ltura
prefixo a -, ouÍÍa em que este conceito representtuloli colno [c\.cnto]. Lrnor er'], nrolfológica: ld llplmettrl rll i'. crn clucr
pÍescinde de marca morfológica. Resulta Lcl-Lsarl. lcois:rl, [ceminhol. lparal. pinrcnt é uma raiz nolninxl. Ltpitllüttd é
então de nossas observações que, tanto lclescle] etc. Assim. por eren-rplo. a urla raiz vcr'lxl, c (tl)iiltent(lr e a fortnlr
os rrerbos que expressam 'retlrada' I)lirll( ir:l 'r1ic tlr' \ r'fl)í,\ qu( \ irnÍ rs Iir-ral clo r cllro, jit conr a clcsjnêlt('il1 -r'
como os que expres\am 'acrescimo. qc sigr-rificar'a hetir2lr elgo cle algol. clo infinitivo.
dividern em clois subconjuntos: um em Es.r: (lCt'll(.nlr )< (,,n('\'ilU ti\ ílltc Quanclo sLrIrrttctcnros o lerbo pe'lar
que esses conceitos não têm expressão Íon'rrarr de fato urn vocabulírricr lo nlesmo tratllmento, r'clificaltos qr:e
rnorÍblogicamente segmentável, outro t,rttt(,iltt:tl r:to tr',lirl,)s l)()f l)tin(tl)i()\ 1r sua represL'ntnÇro nl()rf()lógiclr é:

46 VOL 16iN! 95 C ÊNCIA HOJE


strdin tbrough a sieue. Par; fazer mençâo a esse rnt:smo at(), inglês ocorrc u extensuo tle clragar' clo ânrlrit<t das opct'açÕes
clizemos em português 'escorrâ numa peneira', lrars em cle cngenhllirr per:l () rles operac'r)cs culinírlils, r\tL'ns:iL, csb.r
termos de estrutura conceitual to strctin e escorrer sào bem oc()frc e1n p()ftLrgLrês.
cp-rc r-x.io
diferentes. O primeiro significa [eplicar pressào err1, enquanto ()s exemplos sào inúnrclos. óoal signific:l casaco' e /o
escort?r, em expressôes do tipo 'escorra o calclo', é lcausat' a corlr 'c()brir coll Lrln ('irslcr-)'. N() cntant(), coctt tt.'itlt.flottr seÍt
saída de urn líquiclo c1e clentro de matéria sóIidal. ent portLrgrrês coblil conr Ínrir-rh:r' e n:Lo cncasac'.tr c()tlt
Apesar .cla diferença conceitual entre esses clois vet'bos, Írrrinh:1 . O vtllro ro.fitld signilicu clobt':rr'ctn frases cotno /:e
eles se 'traduzem' no contexto da ativiclade culinária. Já .liidatl ltís arnrs (elc clr>lrrou -seus lrLaÇos): nt:1s nas utiviclacles
temos 1-ra mente a representâÇào cle um conhecilrento. cr-rlinírries clit.-sc .fitlcl itr Íbt' t'g,g rt'lrilc.s. pet':r inclicar' (lue as
proveniente de nossa experiência com o mundo: se é clltres rlerenr ser incor'polLcles sull\-tmentc e utna nristr-tt':t. En't
aplicada pressão em um coilrposto qlle contém líquido e qtre p()r-tugLlês. o Lrso ck clolrliir" r]ljo se estcntlt para o ('ontexto
está sobre uma peneira. r'esulta que o líquido escorre e á1 cr-ri inário cle nristr.r:-ar in glcciie'ntes.

parte sólida permanece. O ponto cle contato entre rIS I)or outr<> lltclo. o vcrlro bater' pt,clc sct- traclr-rziclo para cr
'traduçôes' das ações nas diferentes línguas pocle clecorier clc ir-rglês couro !rt bt'ctt clrt nlUit()s Lls()s. eotr](, útll: NÍeLl ccllaç:ict
uma reiação lógica inscrita nas próprias palavr:rs. É o caso clc estrtrl bzrtcn(lo rírpiclo (..)[.y beart tL.ts bedtin,q.fa.sl), () guarcla
to soak/deixar cle molbo e to sprínkle/borrifar, poluilhar. Mits lxrtc r-rcr honrcut (The cr4t ltectt Íl.ta //1dl1). Urttcl'as clalas clos
nos cesos de to strain/escorrer e to dice/picdr,:r relaçà<r crr os ( /o bactt ll.te egg u'l.titas). trlus cn-r r-r.tuitos oLltl'()s Lrsos

lógíca passa atrar,és da nossa representaçào mental clos fatos l't',ttct', lrcat nào serír trult ltoa tt'ltclut-llo. Pot-exctlplo. cm o
do munclo, clo nosso saber nào-lingiiístico. ôrtibtrs btttett rto ccttttittl:ttict. o sol bate nd pdreLle, b(ltct'd]11 it
As relaçôes entre a estrutlrra conceitual c1e uma palavra e l)ort(.t, cL portLt bnteLt, to(los bdtcftutt palntcts. o |lctsco hrtte c,t
seu uso pelo saber nào-lingüístico (no caso. a culinária) slio l.lcttner4qct. os verbos scr':io rcspecti\ 2urentc lo strike. to sJtine.
toialmente arbitrárias. Por exemplo, a palavra ir-rglesa clreclge Ío ktrock. lo slcnn. to clup. lo cle.lL'ctl.
significa draga; o verbo ,o dredge, é 'usar uma clrag:r', por 'l'uclo isso nos mostr:r qlre a corÍesponclôncia cntle a
exemplo, para limpar o leito de rios ou canais. No entanto, cstrLltLlre corrccitual ck' unt:t palavre e serrs contcxtos cle uso
dredge the cake witlt sugar significa 'polvill-re o br>1o corr tanrbérl é imprevisívcl. Isto e: nl-to sc poclc cletermin:tr ct-tt
açúcar' e dreclge tlre cutlets he.forefry,,ing,'polvilhc es clue tip<>s cle contcxto e pltlar"r':r scrá costtttrteir'.rntcntc
costeletas (com farinha) antes de fritá-las'. Quer clizer: erl enr prcgada.

tlÍpel) al d. A observação irnportante é o tipo clc corlesl-ronclênci:t


1íngr-ras
que nào há nada na estrutura entÍe as estflltLlr2ts conccitual e
morfológica cle pelar (como não há na rttolfologicr nal() sc|i rtü( ( \s:tIi:rIrl(rtl( () r'Llo is<>nrorfislro cntl'e as clurts
cle manchar) qlle l'emeta inerentemente o meslro. Ilealrlcntc, rerificamos ist<r e:itILltLrrlrs tltrnbénr é c>bsct'r ldo crr
ao conceito cle ldireÇào de movimento] notanclo que es palavras inglcses rrniclaclcs c()nstitllícllts cle rleis cle urnl
contido na noçào cle retirada, ou na cle corlespondentes :t clcsosslt r. cl c sclr Loc-rLr prtl'.rr ra. c>s sintlgnrlrs. Lm certc>s casos,
acréscimo. Na ar-rsência dos prelixos r./es e clesc:tscar sito respcctrr'Ílmentc /() (il(, )r)lr.illl(): \'(llli\:llirt, i:r. (()lll() cln:
e a, a rel'd,çào entre a fon-na cla paiavr;r bout'. lr' s.l'tl x ltt ].tt't'/. (lu( il:1,
) tlcscrrgolcltrr:rl o fogào. qr.rer significa
e sua estrutura conceitual precisa ser apresentam marca folmrtl qlle e\l)resse lit:tr :t g, ,lrittt:l t l, , l-, 'g:r, , . rtll ( ll.l( r
)

aprendicla em cacler caso. o conceito cle Ir'etiracl:r]. enrboLlr csse rcllro trlLz r> prefixo z/c's, responsr-Lr.-c1
O fato cle nào haver conceito estcla t2io plcsente nelas pekr conccito lretilrl elgo cle elgo1.
necessariamente isornorfismo quânto nas slras contr-lrprrrtes clcr I:ntretanto. ctiquetrr irs pllstrs siqniÍlca
(coincidência de folma) entre 2r portr-rgr-rês clotaclas clo prefixo r/es. Da 'coloclr ct j(lLr('tlls rllrs plrstas , senr que
estrlrtura conceitual e a estl'Lltura mcslra forma, btt.tter, que signilice
lr., neuhurrr prcli,xo trege cxplícito o
nrorfossintática das palar-ràs ÍÍ^z amanteigar, niro tenr ncnhurn plefivr conceito clc lrcrescentrtl algo lr rrlgo .
ernbuticlas algumas previsôes. Uma é qrit: expressc o conceito cle acréscimo. \rlili l:lrlll)\'lll :,]rl( ,1(l! t)í )s (lLl( It:tí |
qr,re pode haver palavras ambíguas. E Enr resumo, puclemos ver conr cssc f ili r-rnn lcllrclio necessítria cntl'e o qr-rc c

de fato elas existem: espllmar', por peqLleno conjr"rnto de excrlplos c1r.re. ('\i)r'csso e conlo essu inftrrmec'l-to se
exemplo, significa 'tirar espuma de' Js (stlr.rlur':rs (()nceilulris n:l(i :r tlistribr-ri pckrs elenrcntos fornreclolcs ckr
(quanrlo se lal:r cm retir:rl ll e\pumrl espclhan'r necessarian.rcnte el'n sintegrlr. l)or isso, poclcmos llrc\rcr qLre
que se forma pela fervura cle certos estrLltLllas n-rorfológicas. Estc rrrlLitos cor.rccitos e\prcssos p()r rr1r1:1

alimentos'), mas pode signilicar desencontro foi r.isto confrontlntl<> ttrlit:t pltl.tr l.l nt( ) l\'l:l( r Ulll:l r\l)f(s\:l( )

também 'fazer espuma' ('espumar de palavras cor-rceitual'nentc iclêntrcas crl sintuglrlrti(:r ccluir elentc. Llxenrplo clc
ra iva'). uma nles[1a língr,ra e enr língues rlilíci1 substitr-ric:ro pol Lur sintrlgma clc
Outra previsào é que em ctifercntes difcrentes. ruso zrceitírr cl é a pelavra assinltlltcla n:r

NOVEI,/BRO DE 1993 47
Írrse : Lusineicle rlzrndou empalhctr o selr significa(lo (r.'irnos cluc hli pul:rVÍrs grarnulica c clx íncnler, rirrr rnodclo cnr
caclár el cle sua :rr:rra', onclc o vcrbcr qu(j sc asscrnelhern clll estfutilrlr llr:rs s(' quc xs (()rrpurtirrcr-rtac'Cx's ilc rcgrrs,
cnrpaihur sintetiza urna séric cic opa)crr n() scntid()). surrs rclaÇr)cs c â mclxlinguiulclrr
opcraç(rcs cnvolvenclo retin(la ale Em rest.rrr-ro, ilustranros nrstc texto e estcjxln lre'rr clelinelclos 1;ltra (lLlc se
\ i:( ( l:r\. l,JlJtllcnlil r1lilriliCo. rnotivaç:ào clllc cstar lcr,:rnckr nllritos possa vcr algurn scnliclo nlr f'lorrstlr cle
r( ( ll( Jln\'rllr ) (l( . linglristas ii vcrcllr e 1íngux c()n() Lmr fut os.
l'or rrLrlrrr l:trl,r. ntuilr)s (()n((il()s sistetna autônonto erl rcla('l'to '.r ()ll1f()s
expressc)s Por sintagm:rs na]() encr()ntraln :i.lrttt:ts,lc rrptcr. ttl,rr.t, r, r;ttilir:t.
expressào crm uila palavrx únice Vim<>s clue n'.1o poclcrrros prcrcr'
corresponclentc. Por cxcrnplo,'coloclrr t()telmente o significaclo c1r-rc clcrcrir
nLrll) l)Ote , 'l)ater c()1rt um l}rmltu', crorresp()nale1' às paLrr' Iits, Írc1l) se Llnllr
'prss2rr gcléie err', trrnsti)rm:lr em coisur rlrlertnin:trl:t '(:l{ ) ( ( ,ttl.il;l ( (,ilt Unt;l
t)(
clelicach estiro nestc caso, porquc clctcrmina cle firrrne p:r ra ex prL-ss:r -l :r. .À
cmp()trr'. bembuzear. geleiar e cornparacllo cle tenrros r-rsrclos ern
clelitudizar nlio existenr colno pâlavrtls culinária (r'er' Cozinhe e lir-rgürísticr')
cle língue, eml)ora 'colocar num que txml)érr) nio hri iilrposic:iO
m()str1r
caixotc . batc-r corn urn chicote'. 'prsslu do contcxto cler uso (extfllingliístico)
mantcig:r' e 'trensÍbl'lnar ern coisa torta' soll'e as cstrutul'as ct>nce iftr:ris: se
tcnl ram scus erlr-rir-alentes pârtiülos dc concliÇOcs clt- us<r
rírspccti\'rut]c1ttc: eIn enc:lixotar, u n ifi rrrn r:s, vc:ri Íi c:rmos cluc (1 Íi rerltes
i

chicotcar, anrantcrgar e entoftírr. estrlrtlrras r:onccituais sito convr>clLclas


Toclos csscs cxcrnplos convergenr p:rrl lic1ar Com clus: sc pertim()s ([c u1rl
Pafe nr()strer ciuc 1 re-hçào entre estrlltLlÍa conceitrr:rl clctcrminarllr.
cstnltllÍa conccitual e estnltura r"erificrmos quc é irrpossír,cl prel,rr tr
morfbssintírtic.l é muito \rílria.la. Lls() qLre árs palavfls leriro nos vírrios
S()nrente aclotanclo uma visiro ulo(htler c()ntcxt()s extralingri ísticos.
(l() sisternlr lingtiístico, isto é, acluitincio Esse rnoclo cle concelrer r línglul lr()s
qLic cle se clir,'icle e1r módulos, ou pcrmitc cc»npreencler rnL'llr()r () ([Lle é
subsistemas, poclerlos clcscrcvcr e um clicionário, o qLre é urnl tra<ltrcào e
c< l»prerenclert raz.à<t clessa cl iversitlaclc. () cp.rc ó inor.aç'ão nr línglr:I. Ilnt rerlrete
Corn cssu visào, ficanr abalacl:rs a ber-n têito clevcr':i iclcntificar c()n] chrtlza
ptittt:trit'rl:tr[' tlo siFnrr lingiir.tit, r o qlre cstar inserliclo n:r €rstrlltLrrír
{lig:r' :t, r incrrrtlc Íntr( l( )r'nlil c r'onrciltt:tl ,l:t p.tl:rr r:t r (lu.ri5 :l\
siglrificaclo) plegl.la pelo lingiiista clivelsas eccp(rõcs qr.rc cl:r poclcr-á ter
Ferclinancl clc Saussr.rre e 11 crenÇa ale enr cliiêrcntcs contcxt()ri rlc uso. Sernclr>
clic o rlorkr pclo qr-rel significaclo e .15\iil1. ltm t lt:ltlut:to (lll:l\\' lt,lI't(:r (
fornta estiro associaclos elrr r-rrrrir sirnplesnrente a substituiclro clc unr:r
cleterrninacia língua é o mclhor parx pxlxvll p()r ()Lttr'.1 dc ()rltril Júrglra, r'onr
exprcssar o pcnsarnent(>. E, no cascr expressào c()nceitual colrcsponclcntc.
inr.erso, cle povos toma(los pot' O que numa língua se cxi)r'cssll c()lrl Sugestóes para leitura
senti rnLrnt() d c ir-rf crioriclzrclc inspirack r Llll)lr prla\,f21 pocle sc cxlllcsrilrr rnr ,\K\lAIIAN. .\. "lht' contplcrnrnt sinl('tllfc of
no colonialisrno cultrrlrl, flx)rÍc pclx ()utl'a iíngua coilt Lrtrle pirla\-rr (](' 1rerception verlrs in lrn :lLLt()ni)ll]oLls svÍrllr\
flenrcnorli . /ir CLrlic'ovtr, I)tlt'r. Thomlrs
|):l\r :l ( Itrn(:l cm t lltr'nr'':ts ( xIk'\:i\:l\ cstftrtllre conceitr-ral totatlmclrtr cliicrcnte \\ rrsr;rr & Àtlri:rn Akmejiitrt lecls.) l-ctt'ntttl
inerentes à srra língua. (p<rr cxemplr», dredga./p<tl.r'iI1rei ). Essc .5t'rz/rr.r, N.\'., Ac:aclcrnic Pfcsr. l9-1. pp.
\( 5\:l \ ir:lr r. r rs ! lL I1t( nlos pf int:iri,,: ill( \tll, ) Illt-( ;lni\tll( ). r ltl( 1)('ilili1(' rl- i-í).
do srstctna cognitir,o responsítr-el pelo clistinguil n() vel'bete clo clicion:'rlitr I J \S íLI( ). \1. F:st ru tt t rLts I t'.ri cu is e m pt ) i'l t ! p t !,s.
l', r,,1'. li.. \,,/(. l,)h,,
1r()ss() Lls() cla iíngr-ra s:io os elernentos crntÍcr o quc é estrLrtLrra conceitrLel Itl Ili:l tl\. l. r t:i',11,t. \;,, l'r,r',,. \ti,.. . ,-<
clc crrllL sullsistenle e os princípios qi-re plinrirri:r c () qlle é extensi<,r t1e rrso, U() l f t-l l() PllRIilltA. Il.A. íiÔrgrrr c ntÍntt'r,t
i)s org:lniz:ilr] crn mriclrrlos autônonros. est,l ne base cla criaç:ro cle inovec-Ôes ne (m p()t'tttgrlês. Estttdo tltts reltctte:s.lot nttt.
,\ conclusiro e <1ue chegam()s é quL: língua. s et tt i tI o t t tt,g t'tt ttt ti t i L' t t . ]1.ir. t clc -Trr
nc ir r r. I I R ].
I 98r.
l)\'rlr ,, .lgniÍi(.trlo tlrlcrttlitl:t :r (iort'io corneçl I inovltçrio? ()orrrrI (lHOXIStiY. \. (]rrestions oi iLrrnr encl
cxistência cle umu uniclacle lexicrl ttttllt lttr.ttt:t st rrtr rtlilir:rl L , t itlr'r'rlc ',rtr inTcrl)rartiLtl()r-1. Litpili..lic .1riir/i-ils. i. 1.
l:rlqlrn:rs ( rll'ulltr:15 t r rnt rilLt:lis n:lr r qr,ralqr-rcr plojeto rle tr-eb:rlho rlue sr: i9lí, pp. :í 1í)1).

atingern e lericalizaç'lLo, collt() proponha a licl:u'corn questÕes .lessu .JA(lliFINT)()FF. Il. .\'(nt(tltÍí..\ (t il(l Lolni/i()il.
CrLnrbritlgc. \lrrss.. IIIT Press. 19iJl.
'bambuzc'.ir'). nern a rnorfologit,L cle uma nlrtulezlr sri poclcr'ír sc torn:rr lrrocltrtivo LYO\S. .1. Lit'tgutts!nt r, 1|r,q17r.s1ica. Rio clc
pelalra clctenninlr aLltolreticílmcntc o r partir cle lrrn modclo tcr-rrico cle lrne'iro. Zeher. 19t18.

4B vol.16/N, 95 crÊNCIA HoJE

Você também pode gostar