Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BÁSICA
Introdução
Anemias não hemolíticas são anemias que apresentam, em sua fisiopa-
tologia, a ausência de hemólise e diminuição da eritropoese. Esse tipo de
anemia apresenta elevada prevalência no mundo, sendo, em alguns casos,
utilizado como indicador de saúde. Diversas causas estão relacionadas às
anemias não hemolíticas, como a falta de nutrientes essenciais, processos
inflamatórios crônicos, perda sanguínea e redução da função medular.
Nesse contexto, a diferenciação das anemias não hemolíticas é essencial
na definição de uma conduta clínica efetiva.
Neste capítulo, você vai conhecer as principais características das ane-
mias não hemolíticas, seus tipos, manifestações clínicas e etiopatologia.
Além disso, vai aprender a diferenciá-las em anemia ferropriva, anemia
megaloblástica, anemia por doença crônica, anemia aplásica e anemia
hemorrágica, correlacionando os principais achados laboratoriais.
No caso das anemias não hemolíticas, foco deste capítulo, diversas causas
(intrínsecas ou extrínsecas) levam a uma diminuição da eritropoese (Quadro 1).
As anemias mais comuns e importantes desse grupo estão associadas à redução
da produção de eritrócitos por deficiências nutricionais, ditas anemias carenciais.
Essas são seguidas pelas anemias originadas após inflamação renal e inflamações
crônicas, relacionadas à falta ou à diminuição de estímulo, pela eritropoietina, à
eritropoese. Não menos importantes, mas menos comuns, são a anemia aplásica,
as neoplasias hematopoiéticas primárias e os distúrbios infiltrativos da medula
óssea, relacionados à substituição tecidual da medula até a destruição da mesma.
Também podemos inserir nesse grupo as anemias por perda sanguínea ou he-
morrágica, que podem ser agudas ou crônicas.
Anemia ferropriva
A anemia ferropriva (anemia ferropênica ou deficiência de ferro) é a causa
mais comum de anemia carencial no mundo e uma das doenças mais frequen-
tes na prática médica. Apresenta extensa distribuição geográfica nos países
em desenvolvimento devido à insuficiência de aporte dietético de ferro e à
presença de parasitoses intestinais. A deficiência de ferro ocorre em até 11%
das mulheres entre 20 e 49 anos e em 2%–4% dos homens com mais de 50
anos, estando presente em 1%–2% dos homens adultos. Entretanto, não existe
faixa etária de maior prevalência dessa patologia, que pode ser encontrada em
qualquer idade, com causas variáveis (LIU; KAFFES, 2011).
Esse tipo de anemia apresenta grande importância clínica, pois o ferro é um
mineral essencial ao organismo humano, atuando como mediador enzimático na
troca de elétrons (citocromo, peroxidases, catalases e ribonucleotídeo-redutase)
e carreador de oxigênio (mioglobina e hemoglobina). Na hemoglobina, é o
componente central da molécula heme e o responsável direto pelo carreamento
de oxigênio até os tecidos (FOCHESATTO FILHO; BARROS,, 2013).
Em adultos, as causas mais comuns são falta de ingestão, déficit de ab-
sorção, perdas sanguíneas ou aumento rápido da demanda (como no cresci-
mento rápido dos adolescentes e na gestação) — raramente pode ocorrer a
anemia ferropênica hereditária resultante da mutação no gene TMPRSS6. O
desenvolvimento da deficiência de ferro e a velocidade com que ela se instala
dependem da reserva de ferro no organismo, bem como da oferta de ferro
aos eritroblastos em proliferação, que podem levar a menor síntese do heme
e, consequentemente, redução na produção de hemoglobina e de eritrócitos
(FOCHESATTO FILHO; BARROS, 2013) (Figura 1).
6 Anemias não hemolíticas
Anemia megaloblástica
A anemia megaloblástica é um distúrbio provocado pela síntese comprometida
do DNA. Nesse processo, tanto a vitamina B12 quanto o folato são necessários
(em especial, na síntese da timina), principalmente para as células que se
dividem rapidamente no organismo, incluindo as células da medula óssea. A
deficiência de vitamina B12, folato ou de ambos causa mudanças caracterís-
ticas da medula, descritas como megaloblastose, com atraso da maturação
do núcleo em relação ao citoplasma eritrocitário, caracterizando a anemia
megaloblástica. Além das causas carenciais (deficiência de vitamina B12 e
folato), a anemia megaloblástica também pode ocorrer pela ação de drogas e
por alterações variadas, que incluem síndrome mielodisplásica, formas raras
de deficiências enzimáticas e doenças ainda inexplicáveis, como a síndrome
de Lesch-Nyhan (Figura 2).
Anemias não hemolíticas 9
A aplasia pura da série vermelha (APSV) descreve uma condição em que somente os
precursores eritroides na medula estão praticamente ausentes. As formas congênitas
mais frequentes são as doenças crônicas, muitas vezes, associadas a anomalias físicas.
Na APSV, ocorrem lesões nas células-tronco intraútero, iniciando a anemia, que já se
manifesta ao nascimento. Nas formas adquiridas do adulto, a supressão dos precursores
eritroides é mediada por linfócitos T ou por anticorpos IgG.
BAIN, B. J. Células sanguíneas: um guia prático. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
BORGES, R. B.; WEFFORT, V. R. S. Anemia no Brasil: Revisão. Revista Médica de Minas
Gerais, v. 21, n. 3, 2011. Disponível em: <http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/861>.
Acesso em: 3 dez. 2018.
FAILACE, R.; FERNANDES, F. Hemograma: manual de interpretação. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2016.
FOCHESATTO FILHO, L.; BARROS, E. Medicina interna na prática clínica. Porto Alegre:
Artmed, 2013.
HOFFBRAND, A. V.; MOSS, P. A. H. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2018.
LIU, K.; KAFFES, A. J. Iron deficiency anaemia: a review of diagnosis, investigation and mana-
gement. European Journal of Gastroenterology & Hepatology, v. 24, n. 2, p. 109-116, fev. 2012.
Disponível em: <https://insights.ovid.com/crossref?an=00042737-201202000-00001>.
Acesso em: 3 dez. 2018.
SILVA, P. H. et al. Hematologia laboratorial: teoria e procedimentos. Porto Alegre: Art-
med, 2016.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. The global prevalence of anaemia in 2011. Ge-
neva: WHO, 2015. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/han-
dle/10665/177094/9789241564960_eng.pdf?sequence=1>. Acesso em: 3 dez. 2018.
ZAGO, M. A.; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Hematologia: fundamentos e prática. São
Paulo: Atheneu, 2005.
ZAGO, M. A.; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Tratado de hematologia. São Paulo: Atheneu, 2014.
Conteúdo: