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Ji-Paraná
2021
UMA ANÁLISE ACERCA DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.641, II,
DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
ABSTRACT: The obligation of the rule that imposes on the elderly the adoption of the
regime of legal separation of property in their marriage, is still a matter of much
criticism and seen as an attack on the constitutional principle applied to family law. In
this sense, this work aims to analyze the unconstitutionality of this norm that obliges
the elderly who, upon reaching 70 years of age, must adopt the regime of legal
separation of property when they are going to get married. Therefore, the method
used was the bibliographic and documentary research, seeking information in books,
articles, jurisprudence, summaries and laws present in Brazilian legislation.
According to the researches, the unconstitutionality of item II, of article 1641, of the
Civil Code, when using age as a parameter to measure the capacity of the elderly,
contrary to the provisions of articles 1, item III, and 5, of the Federal Constitution, as
well as articles 3, 4, and sole paragraph of article 1640, all of the Civil Code of 2002.
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Acadêmica do 9º período do curso de Direito na UNISL. E-mail: amandajipa_cristina@hotmail.com
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Especialista em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar com Ênfase em Psicologia Educacional
pela Faculdade Santo André (2014), Especialista em Psicopedagogia pelo Centro de Ensino Superior
de Vitória (2017), Licenciada em Pedagogia pela Universidade Luterana do Brasil (2011), Acadêmica
do 9º período do curso de Direito na UNISL. E-mail: patriciamchd26@gmail.com
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Professora Orientadora Mestranda em Direito Internacional pela Universidade Autônoma de Asucion
(2019), Especialista em Psicopedagogia e Gestão Escolar pelo Instituto Cuiabano de Educação
(2003), Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Unintes (2008), Especialista em Direito
para a Carreira da Magistratura pela Emeron (2018), Graduada em Pedagogia pelo Centro
Universitário Luterano de Ji-Paraná (2001), Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Luterano de
Ji-Paraná (2011). E-mail: cheilacristinadasilva79@gmail.com
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1. INTRODUÇÃO
O código civil brasileiro regula a vida das pessoas desde antes do seu
nascimento até após a sua morte. Entre seus títulos e subtítulos o assunto que fala
sobre o casamento merece especial destaque por sua importância na vida das
pessoas ao longo dos séculos, pois o conceito de família que existia há 100 anos
sofreu grandes mudanças tanto estruturais como formais.
Para o Estado, família era aquela que surgia a partir do casamento entre
homem e mulher, não usufruindo da proteção estatal aqueles que se uniam sem tal
convenção. Antes da constituição de 1988, somente os filhos gerados na constância
do matrimônio eram sujeitos de direitos, sendo a estes conferido o “status familiar”,
preconizado pelo Código Civil de 1916.
Traçando parâmetros matrimonializados e sob forte influência francesa, o
código de 1916, possuía uma configuração hierárquica, patriarcal e patrimonial.
Dessa maneira, por meio do casamento haveria a preservação do patrimônio, a
continuação de um legado, fazendo dos filhos instrumentos para atingir tal finalidade.
Na figura do homem centrava todo o poder, suprimindo, ou por vezes, até
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Dessa maneira, entende-se esse princípio como sendo uma máxima de como
deve ser, por este princípio a pessoa deve ser respeitada perante os demais no
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Destarte, é possível extrair do trecho acima que qualquer pessoa é livre para
fazer suas escolhas como melhor lhe convir, podendo constituir família com quem
bem entender, alterá-la ou extingui-la gozando de autonomia perante o Estado e os
demais cidadãos, não podendo prevalecer qualquer restrição à liberdade individual
ou na organização da estrutura familiar.
O artigo 1.641, II, do Código Civil, tem seu equivalente legal no artigo 258, II,
do Código de 1916, onde fortalece o caráter patrimonialista e a proteção dos bens
que apregoava o Código de 1916.
A justificativa dada a Lei n. 12.344 de 2010 para alterar o inciso II do artigo
1.641, do Código Civil, foi o de adequá-lo à realidade contemporânea. De acordo
com a redatora, deputada Solange do Amaral, em suas justificativas para elaboração
do Projeto de Lei n. 108/07, in verbis:
incapacidade relativa, é permitido o exercício dos atos da vida civil, desde que seja
assistido pelos seus pais ou seus representantes legais.
Consta nos artigos 3º e 4º, do Código Civil, os absolutamente e os
relativamente incapazes de exercer atos da vida civil, in verbis:
Art. 5º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa
fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos
completos tenha economia própria. (BRASIL, 2002)
Tão logo, a partir dos dezoito anos completos e observando as limitações dos
artigos 3º e 4º do Código Civil, todas as pessoas são habilitadas a praticarem os
atos da vida civil, gozando da capacidade até os últimos dias de vida. Não trazendo
nenhum dispositivo legal um limite de idade máxima para o exercício dos direitos da
vida civil. Se assim ocorresse, caracterizar-se-ia como abusivo e inconstitucional.
Sendo assim, o artigo que trata da obrigatoriedade do regime de bens a um
grupo de indivíduos em razão da idade, resta obsoleto, pois inadmissível uma norma
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que impõe ao maior de 70 anos a adoção da separação legal de bens quando for
casar, como consta no artigo 1.641, II, do Código Civil, atribuindo tratamento
diferenciado a determinado grupo perante os demais.
Tal imposição, limita a vontade das pessoas, ferindo sua dignidade como
pessoa humana por violar o princípio da liberdade dos contraentes de escolher o
regime de bens que melhor julgar adequado.
Enunciado125. Proposição sobre o art. 1.641, inc. II: Redação atual: “da
pessoa maior de sessenta anos”. Proposta: Revogar o dispositivo.
Justificativa: A norma que torna obrigatório o regime da separação absoluta
de bens em razão da idade dos nubentes não leva em consideração a
alteração da expectativa de vida com qualidade, que se tem alterado
drasticamente nos últimos anos. Também mantém um preconceito quanto
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Mais ainda, Madaleno (2017, p. 128) corrobora com a tese de que a restrição
do Código Civil aos idosos é inconstitucional.
Deste modo, mesmo tendo sofrido alterações com advento de sua nova
redação dada pela Lei n. 12.344/2010, o dispositivo supracitado encontra-se
dissonante da realidade moderna, que visa proteger a autodeterminação, a
autonomia privada, e nesse caso é possível perceber a preocupação secular que
carregava o antigo Código Civil, que visava a proteção do patrimônio em detrimento
da pessoa. Diante da constitucionalização do Código Civil de 2002, trata-se de um
retrocesso.
Com o avanço da tecnologia, a melhora das condições e qualidade de vida
das pessoas evidente ficou que o idoso, atualmente, aporta maturidade e
experiência de vida suficiente para escolher livremente os atos de sua vida, que
somente em razão de sua idade lhe são restringidos.
No direito patrimonial, um dos princípios basilares, é a autonomia privada e
este princípio resta ferido uma vez que as pessoas maiores de 70 gozam ainda de
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Por todo o exposto, pensar em uma norma retrógrada como a do artigo 1.641,
II, do Código Civil, que permite dia após dia a reafirmação da discriminação contra o
indivíduo, que ao atingir determinada idade se vê obrigado a agir conforme o
entendimento de uma Lei, perdendo totalmente a sua capacidade jurídica de
escolha, viola não só o direito alheio como também põe em cheque a soberania da
constituição Federal e os princípios que através dela buscam efetivar valores
fundamentais.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
4 REFERÊNCIAS
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no direito luso-brasileiro desde os anos mil até o terceiro milênio. São Paulo.
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