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ISSN 1679-6535

Imagem: Celli Rodrigues Muniz

VISTA LATERAL

Espécime

Contraste
negativo

Porta-amostras
Adaptado de Bozzola e Russell, 1999.

COMUNICADO Preparo de Amostras para Observação


TÉCNICO
de Nanoestruturas em Microscópio
248 Eletrônico de Varredura Acoplado a
Detector STEM

Fortaleza, CE Celli Rodrigues Muniz


Abril, 2019 Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo
Morsyleide de Freitas Rosa
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Preparo de Amostras para Observação de


Nanoestruturas em Microscópio Eletrônico
1
de Varredura Acoplado a Detector STEM

1
Celli Rodrigues Muniz, bióloga, doutora em Biotecnologia, Analista da Embrapa Agroindústria Tropical,
Fortaleza, CE; Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo, engenheira de alimentos, doutora em Tecnologia
de Alimentos, pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE; Morsyleide de Freitas
Rosa, engenheira química, doutora em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, pesquisadora
da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE.

Introdução (MEV), microscopia eletrônica de


transmissão (MET), MEV com emissão
Nas últimas décadas, a nanotecnolo- de campo, MEV com feixe de íon foca-
gia tem emergido como um campo lizado, MEV acoplado ao STEM, etc.,
revolucionário da ciência e tecnologia perfazem requisitos fundamentais na
e suas aplicações trazem avanços em análise de constituintes, sistemas e ma-
distintas áreas, incluindo computação teriais nanoestruturados (Leach, 2011).
e comunicação, biossistemas e Neste trabalho, apresenta-se a téc-
ciências médicas, agricultura, ciência e nica de visualização de nanoestruturas
tecnologia de alimentos, engenharia de dispersas em solução, não condutoras
materiais, ciências ambientais, dentre e de difícil contraste, aplicando-se a
outras. Nesse cenário, as etapas de contrastação negativa como realce sob
pesquisa, síntese, desenvolvimento e detector ‘STEM’ acoplado ao MEV con-
elaboração de materiais e estruturas vencional, com filamento de tungstê-
em escala nanométrica devem estar nio e coluna submetida a alto vácuo.
aliadas a avançados métodos e
ferramentas de investigação, incluindo- Detector STEM
se a microscopia eletrônica em suas
variadas vertentes (Vance, et al., 2015). O acrônimo “STEM” significa
As diferentes abordagens instrumentais ‘Scanning Transmission Electron
da microscopia eletrônica, tais como Microscopy’ e utiliza-se de uma delgada
microscopia eletrônica de varredura sonda de elétrons que varre uma
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amostra ou espécime de fina espessura alto vácuo), permite a visualização de


e a intensidade do sinal de elétrons estruturas nanométricas, dispersas
transmitidos é medida pelo uso de em líquidos ou soluções, pelo uso da
detectores específicos para esse fim. técnica de contrastação negativa ou
A imagem final é construída ponto a de estruturas subcelulares, organelas,
ponto (pixel a pixel), da mesma forma células e tecidos biológicos, no caso de
que ocorre no microscópio eletrônico de espécimes obtidos por ultramicrotomia.
varredura (MEV), porém constitui-se em Os elétrons que emergem da amostra
uma imagem de transmissão de elétrons. podem ser coletados em detectores do
O detector encontra-se acoplado a um tipo “Dark Field” (amostras possuem
MEV convencional funcionando sob alto uma aparência clara em relação ao
vácuo (Figura 1), porém a voltagem de campo) ou “Bright Field” (amostras
aceleração dos elétrons usada durante possuem uma aparência escura em
a formação da imagem é maior do que relação ao campo).
a comumente usada para amostras
biológicas. Ressalta-se que o detector
STEM também pode estar inserido em Contrastação negativa
outros modelos de MEV, tais como o
A contrastação negativa é um
MEV com emissão de campo (MEV-FEG,
método simples e rápido para se estudar
Field Emission Gun), o que possibilitaria
a morfologia e estrutura de espécimes
imagens com maior resolução. Quando
particulados, tais como células em
aliada à fina espessura do feixe (sob
suspensão, fragmentos celulares
ou macromoléculas isoladas (Ohi et
al., 2004; Zhang et al., 2010). Nesse
Foto: Celli Rodrigues Muniz

caso, as amostras são submetidas a


um contrastante negativo que contém
metal, como, por exemplo, o ácido
fosfotúngstico. Na secagem, os átomos
do metal, que são eletrodensos,
recobrem a amostra, envelopando-a. A
amostra aparece escura, enquanto que o
fundo aparece claro, na visualização em
modo “Bright Field”. Sem contrastação,
as amostras que não são naturalmente
eletrodensas, seriam transparentes,
Figura 1. Detector STEM acoplado ao MEV com grande dificuldade de visualização
convencional. (Hayat, 2012).
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Preparo de nanoestruturas seguir, utiliza-se um volume de 100 µL para


a deposição sobre as grades, deixando-
para visualização se a amostra repousar por 3 minutos.
em MEV-STEM Com a ponta de um pedaço de papel de
filtro qualitativo, encosta-se levemente
na borda da grade, para que o excesso
Nanoestruturas tais como nanofibri-
de líquido seja absorvido pelo papel. A
las, nanopartículas ou nanocristais,
seguir, adiciona-se o mesmo volume
dispersas em solução, constituem-
(100 µL) de uma solução 1% em água
se em materiais aptos à visualização
de ácido fosfotúngstico. Novamente,
em MEV-STEM. Recomenda-se que
deixa-se repousar por 3 minutos, dre-
as variáveis de concentração ou
nando, por fim, o excesso de líquido
proporção da diluição da nanoestrutura
com o papel. Nesse momento, as gra-
no solvente e o tipo de solvente mais
des, completamente secas, estão pron-
adequado à dispersão dos particulados
tas para a visualização no MEV-STEM.
sejam testados. Especificamente no
Com a ajuda de uma pinça de aço,
caso de nanofibras de celulose ou de
específica para microscopia eletrônica
nanocristais, o solvente mais adequado
de transmissão, transfere-se a grade
para dispersá-los é água destilada, em
para o porta-amostras e procede-se à
diluições que podem variar de 5 a 30%.
visualização, utilizando-se uma acele-
Soluções mais concentradas do que
ração de voltagem adequada de 30 KV
30% podem gerar imagens muito poluí-
e diminuindo-se a intensidade do feixe,
das, com impedimento da visualiza-
para que se reduza o diâmetro do feixe
ção das estruturas individualiza -
de elétrons. Após a escolha da área a
das. As amostras a serem visualizadas
ser registrada, sugere-se uma varredura
são montadas em grades (“grids”),
lenta durante a tomada de imagens, que
próprias para microscopia eletrônica
ficam com melhor qualidade e maior
de transmissão. Recomenda-se que
número de pixels, ainda que demandem
sejam utilizadas grades recobertas com
mais tempo para sua finalização.
filme de Formvar, sobre o qual ficarão
retidas as nanoestruturas. As amostras
em solução são homogeneizadas em
Imagens de
agitador tipo vórtex. O ultrassom, como nanoestruturas visualizadas
método de dispersão de amostras que
em MEV-STEM
tenham tendência à aglomeração, pode
tornar-se bastante adequado para Exemplos de imagens obtidas com a
dispersar as amostras e individualizar técnica descrita estão apresentadas na
as estruturas a serem visualizadas. A Figura 2 e foram obtidas utilizando-se
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o modo ‘campo claro’. As imagens de amido, oriundas do Laboratório de


correspondem a amostras de nanofibras Tecnologia da Biomassa, da Embrapa
de celulose, nanocristais de celulose e Agroindústria Tropical.
Imagens: Celli Rodrigues Muniz

Figura 2. Imagens de nanoestruturas obtidas após técnica de contrastação negativa e


visualização em MEV STEM. (a) Nanofibras de celulose; (b, c) nanocristais de celulose; (d)
partículas de nanoamido.
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Observa-se que as amostras A. The European nanometrology landscape.


tiveram uma contrastação eficiente, Nanotechnology, v. 22, n. 6, 15 p, 2011.
permitindo visualização individualizada
OHI, M.; LI, Y.; CHENG, Y.; WALZ, T. Negative
das partículas. Portanto, a técnica
staining and image classification – powerful
descrita apresenta-se como uma das
tools in modern electron microscopy. Biology
alternativas possíveis para visualização
Procedures Online, v. 6, n. 1, p. 23-24, 2004.
de nanopartículas dispersas em solução.
VANCE, M. E.; KUIKEN, T.; VEJERANO, E.
Referências P.; MCGINNIS, S. P.; HOCHELLA JR., M. F.;
REJESKI, D.; HULL, M. S. Nanotechnology in
BOZZOLA, J. J.; RUSSELL, L. D. Electron the real world: Redeveloping the nanomaterial
Microscopy: principles and techniques for consumer products inventory. Beilstein Journal
biologists. Boston: Jones and Bartlett, 1999. 670 p. of Nanotechnology, v. 6, p. 1769-1780, 2015.
HAYAT, M. A. Basic techniques for
ZHANG, L.; SONG, J.; CAVIGIOLIO, G.; ISHIDA,
transmission electron microscopy. Amsterdam:
B. Y.; ZHANG, S.; KANE, J. P.; WEISGRABER,
Elsevier, 2012 , 440 p.
K. H.; ODA, M. N.; RYE, K.; POWNALL, H. J.;
LEACH, R. K.; BOYD, R.; BURKE, T.; REN, G. Morphology and structure of lipoproteins
DANZEBRINK, H-U.; DIRSCHERL, K.; DZIOMBA, revealed by an optimized negative-staining
T.; GEE, M.; KOENDERS, L.; MORAZZANI, protocol of electron microscopy. Journal of Lipid
V.; PIDDUCKROYUNGER, W. E. S.; YACOOT, Research, v. 52, p. 175-184, 2011.

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Projeto gráfico da coleção
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Editoração eletrônica
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Imagens da capa
Celli Rodrigues Muniz

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