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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

Centro de Ciências Biológicas e da Natureza


Engenharia Florestal
Disciplina: PATOLOGIA FLORESTAL II - CCBN – 062
CONTROLE FÍSICO DE DOENCAS DE PLANTAS
Prof. Dr. Nei S. Braga Gomes
• INTRODUÇÃO

• O início do uso do controle físico de doenças de plantas, como a


termoterapia foi contemporâneo à descoberta da calda bordalesa;

• Entretanto, os métodos químicos tiveram um desenvolvimento muito mais


expressivo em comparação com os métodos físicos;

• A evolução dos fungicidas, deve-se principalmente ao fato do controle


químico despertar muitos interesses econômicos, porém;

• Com o interesse na redução dos impactos negativos da agricultura ao meio


ambiente, os métodos alternativos de controle de doenças de plantas;

• Vem conquistando seu espaço, podendo substituir, em parte, os métodos


químicos;

• Nesta modalidade de controle são utilizados vários agentes físicos para


reduzir o inóculo ou o desenvolvimento das doenças;

• Os principais são a temperatura, a radiação, ventilação e a luz.


• TERMOTERAPIA DE ÓRGÃOS DE PROPAGAÇÃO

• O uso da termoterapia no controle de doenças de plantas teve início de


uma forma empírica, no século passado, na Escócia;

• Por meio do tratamento de bulbos de plantas ornamentais com água


quente, antes do plantio;

• Seu principal objetivo é a obtenção de material de propagação vegetal


livre de patógenos;

• Trata-se de um método eficiente, eliminando-se os patógenos, tanto


interna quanto externamente, dos tecidos do hospedeiro;

• Se os mesmos são eliminados por tratamentos em determinadas relações


tempo-temperatura produzem-se poucos efeitos deletérios no material;

• Quanto maior for a diferença entre a sensibilidade térmica do hospedeiro


e do patógeno, maiores serão as chances de sucesso da termoterapia.
• Vários fatores podem afetar a sensibilidade térmica:

1. O teor de umidade do material vegetal;

2. O nível de dormência;

3. A idade e o vigor especialmente das sementes, e;

4. A condição das camadas externas do material devido ao efeito de


diversas variáveis,

• A relação tempo-temperatura não pode ser reduzida a uma fórmula


genérica, devendo ser determinada experimentalmente;

• Visa escolher a menor temperatura letal ao patógeno, no menor tempo,


resultando em um tratamento uniforme e com menor gasto de energia;

• O mecanismo de ação da temperatura, tanto no controle de patógenos


quanto na injúria do hospedeiro, é complexo;

• Sendo que um ou vários fatores podem estar envolvidos, como:


1. Desnaturação de proteínas;

2. Liberação de lipídeos;

3. Destruição de hormônios;

4. Asfixia de tecidos;

5. Destruição de reservas e;

6. Injúria metabólica com ou sem acúmulo de intermediários tóxicos.

• O tratamento pelo calor pode ser feito, basicamente, de duas formas:

a) Por meio de uma intensa e curta exposição, geralmente usada para


erradicação de microrganismos, ou;

b) Uma pouco intensa e longa exposição ao calor, para reduzir a concentração


do patógeno na planta, usada por exemplo, em cultura de meristemas.
• Para tal, o material de propagação pode ser tratado com água quente, ar
quente ou vapor;

• Geralmente, o tratamento com água quente é feito com maiores


temperaturas do que o método com ar quente;

• Exemplo: a inativação térmica localizada de vírus de plantas em borbulhas


ou garfos enxertados em cavalos imunes, por meio de mini-câmaras;

• Neste caso, a aplicação do calor é localizada na parte do porta-enxerto na


qual foi enxertada a borbulha ou o garfo infectados;

• E o restante da planta permanece fora da câmara, sob condições de casa-


de-vegetação.
• TRATAMENTO TÉRMICO DO SOLO

• VAPOR

• A desinfestação do solo pelo tratamento térmico em casa de vegetação ou


em canteiro geralmente é feita através do uso de vapor;

• O solo é coberto com uma lona e o vapor produzido por uma caldeira, é
injetado sob a cobertura (Figura 1);

• Substratos também podem ser desinfestados em câmaras especiais, onde


o vapor é injetado sob pressão, como no caso de autoclaves (Figura 2);

• Uma das vantagens do método é ausência de resíduos tóxicos, como pode


ocorrer com o tratamento químico;

• Embora possa haver o acúmulo, em nível tóxico, de certos nutrientes, como


o manganês;

• A elevação da temperatura durante a desinfestação pode causar diversas


reações químicas no solo, principalmente:
a) A decomposição da matéria orgânica quando acelerada, causa a liberação
de amônia, dióxido de carbono e produtos orgânicos;

b) Os inorgânicos são degradados ou alterados; os nitratos e nitritos,


reduzidos a amônia e a solubilidade ou disponibilidade dos nutrientes é
modificada;

c) Alterações nas propriedades físicas do solo que podem ocorrer com


relação às capacidades de absorção e capilaridade, à estrutura, à cor e
ao odor;

• Após este tratamento, o equilíbrio da população microbiana é destruído


ou profundamente modificado;

• Geralmente, as altas temperaturas atingidas tornam o tratamento não


seletivo, resultando na erradicação dos microrganismos;

• Criando espaços estéreis, denominados “vácuos biológicos”.


Figura 1
Desinfestação de
solo com vapor

Figura 2 - Autoclaves convencionais


• A recolonização do solo deve ser feita com microrganismos
termotolerantes sobreviventes;

• Dos microrganismos do solo adjacente não tratado, do ar, da água ou


daqueles introduzidos com material vegetal;

• A forma como é realizada a recolonização do solo tratado é de grande


importância para a ocorrência de doenças de plantas, pois:

• A redução da população de antagonistas devido ao tratamento térmico


geralmente significa uma rápida disseminação do patógeno reintroduzido;

• Assim, todos os cuidados devem ser tomados para evitar a reintrodução


do patógeno no solo tratado.
• SOLARIZAÇÃO DO SOLO

• É um método de desinfestação do solo, desenvolvido em Israel, para o


controle de patógenos, pragas e plantas daninhas usando a energia solar;

• Cobrindo-se o solo com filme plástico transparente, antes do plantio,


durante o período de maior incidência de radiação solar;

• O aumento do teor de umidade do solo antes da cobertura, quer seja


através de irrigação ou chuva, ajuda o processo;

• Pois em solo úmido as estruturas de resistência dos patógenos geralmente


são mais sensíveis ao calor;

• Há o aumento da condutividade térmica do solo e da atividade biológica,


que podem acelerar o controle dos patógenos e por este motivo;

• A cobertura deve permanecer durante um período suficiente (um mês ou


mais) para o controle dos patógenos nas camadas mais profundas do solo;
SOLARIZAÇÃO DO SOLO
SOLARIZAÇÃO DO SOLO
COLETOR SOLAR PARA
DESINFESTAÇÃO DE SOLO
• A elevação da temperatura do solo pela solarização tem um efeito
inibitório ou letal aos organismos;

• Parte da população de patógenos é morta pela exposição a altas


temperaturas, que ocorrem nas camadas superficiais do solo solarizado;

• A sensibilidade ao calor apresentada por diversos patógenos de plantas


pode indicar a possibilidade de controle através da solarização;

• Porém, apesar da exposição do patógeno ao calor ser um importante


fator, não é o único mecanismo envolvido no método;

• Os processos microbianos induzidos pela solarização podem contribuir


para o controle da doença;

• O aquecimento do solo também atua sobre organismos não alvo;

• Os propágulos dos patógenos, enfraquecidos pelo aquecimento subletal,


dão condições e estimulam a atuação de antagonistas.
• As temperaturas atingidas durante a solarização são relativamente
baixas;

• Quando comparadas com o controle por meio de aquecimento artificial e,


os seus efeitos nos componentes bióticos do solo são menos drásticos;

• Geralmente, os microrganismos saprófitas, dentre eles inúmeros


antagonistas, são mais tolerantes ao calor do que os patógenos;

• Enquanto populações de muitos microrganismos são reduzidas


imediatamente após a solarização;

• Diversos actinomicetos, fungos termófilos e termotolerantes e Bacillus


spp. são menos afetados ou até mesmo estimulados;

• Não há a eliminação de todos os microrganismos durante a solarização,


como ocorre no tratamento com vapor ou com fumigantes;

• Portanto, não é criado o chamado “vácuo biológico”;


• A sobrevivência de tais microrganismos dificulta a reinfestação do solo,
promovendo um efeito a longo prazo do tratamento;

• A solarização do solo não pode ser considerada um método ideal de


controle, visto que diversas limitações restringem o seu uso, como:

• A mecanização na sua aplicação em extensas áreas, custo do tratamento


e a necessidade do terreno permanecer em pousio durante o período;

• A difícil drenagem de grandes áreas com acentuado declive durante a


solarização e, também possíveis limitações climáticas;

• Entretanto, devido à facilidade e segurança de aplicação, tanto para o


agricultor quanto para o ambiente;

• A solarização pode ser uma das alternativas para o controle de


patógenos habitantes do solo dentro de um sistema de manejo integrado.
• REFRIGERAÇÃO

• O método físico mais conhecido e largamente utilizado para controlar


doenças de produtos frescos é a refrigeração;

• Sendo comum e de fácil utilização, muitas vezes é mal empregado, pois;

• Não destroem os patógenos que estão dentro ou fora dos tecidos vegetais
frescos, apenas retardam ou inibem o crescimento e suas atividades;

• Dessa forma, há redução do desenvolvimento das infecções existentes e


evita-se o início de novas infecções;

• A temperatura adequada mantém as qualidades dos frutos e das hortaliças,


visando reduzir os danos em pós-colheita causados por doenças;

• As baixas temperaturas isoladamente são insuficientes para um controle


adequado, havendo necessidade do emprego de métodos suplementares.
• ATMOSFERA CONTROLADA OU MODIFICADA

• É utilizada para aumentar a conservação dos alimentos após a colheita por


supressão da taxa de respiração e/ou de doenças;

• Por meio da alteração da composição de gases durante o armazenamento


ou transporte;

• A concentração de C02 e 02 durante o armazenamento pode inibir


diretamente o desenvolvimento de patógenos suprimindo seu crescimento;

• Indiretamente, por meio da manutenção da resistência do hospedeiro,


retardando os processos de maturação e senescência;

• Os efeitos benéficos da baixa concentração de oxigênio nos frutos só se


tornam evidentes em atmosferas com menos que 5% de O2;

• Para C02, há necessidade de elevar sua concentração acima de 5% para


haver efeito sobre as doenças de pós-colheita;
• Assim, devido às dificuldades de obter baixas concentrações de O2 (<
1%) e altas de CO2 (15-20%);

• Recomenda-se a utilização do efeito combinado de baixo O2 e alto CO2,


pois seus efeitos são aditivos;

• Dessa forma, são utilizadas atmosferas com a concentração de O2 na


faixa de 23% e de CO2 na de 5-7%, para reduzir a respiração dos frutos.
• ELIMINAÇÃO DE DETERMINADOS COMPRIMENTOS DE ONDA

• Filmes plásticos que absorvem luz ultravioleta são utilizados para reduzir
a incidência de doenças fúngicas de plantas em casa-de-vegetação;

• Outra opção que vem sendo testada é a utilização de plásticos que


absorvem os raios infravermelhos;

• A não transmissão de raios infravermelhos emitidos pela terra e pelas


plantas durante a noite;

• Permite a manutenção da temperatura interna da casa-de-vegetação,


evitando que as plantas sofram com a queda brusca da temperatura;

• Além deste efeito, a manutenção da temperatura noturna reduz a


umidade relativa e, conseqüentemente, não favorece doenças foliares.
• RADIAÇÃO

• Em processamento de alimentos, a energia ionizante é utilizada,


principalmente;

• Para eliminar ou reduzir a população de microrganismos e de insetos;

• Inibir a germinação de bulbos e tubérculos e para retardar a maturação


e senescência das frutas.

• Com resultados positivos, até hoje, o uso mais intenso das radiações não
ocorreu devido ao preconceito contra qualquer tipo de técnica nuclear;

• Entretanto, alimentos submetidos a essas radiações não apresentam


contaminação, sendo mais seguros do que o uso de muitos pesticidas.
• CONSIDERAÇÕES GERAIS

• Num momento em que se discute a sustentabilidade da agricultura, tendo


em vista a crescente preocupação com os aspectos ambientais;

• Os métodos físicos tomam importância e voltam a ser estudados;

• A importância pode ser notada com o considerável aumento do uso de


métodos físicos, como é o caso da solarização em diversos países;

• Muitos trabalhos de pesquisa, porém, ainda são necessários para o pleno


desenvolvimento de métodos físicos de controle de fitopatógenos.

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