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Universidade Estadual do Ceará

Centro de Ciências da Saúde


Curso de Bacharelado em Enfermagem
Disciplina de Enfermagem em Saúde Mental

Ana Beatriz de Melo Rodrigues


Ana Lourdes de Freitas Almeida
Ana Vitória Lima de Moura
Ana Vitória Ribeiro de Lima
Bruna Silva Lima
Tiago da Silva Leal
Vanderlania Menezes de Oliveira
Vitória Maria Ferreira

Redes de Atenção Psicossocial, Territorialidade e Descentralização:


Revisão Integrativa

Fortaleza-CE
2021
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO___________________________________________________________3
2 METODOLOGIA_________________________________________________________7
3 RESULTADOS___________________________________________________________8
4 DISCUSSÃO____________________________________________________________10
4.1 Redes de Atenção Psicossocial___________________________________________10
4.2 Territorialidade e Descentralização nas RAPS______________________________11
4.3 Cuidados e desafios enfrentados pela Enfermagem na assistência em Saúde
Mental___________________________________________________________________12
5 CONCLUSÃO___________________________________________________________13
REFERÊNCIAS _________________________________________________________14
1 INTRODUÇÃO:

O movimento da reforma psiquiátrica brasileira trouxe consigo o desafio de analisar os


paradigmas que deram base às práticas assistenciais no campo da psiquiatria. Nesse âmbito,
para compreendê-la é necessário conhecer as políticas de assistência psiquiátrica anteriores à
reforma e refletir sobre todos os acontecimentos que moldaram e continuam moldando esse
processo.
Nesse contexto, o processo de reestruturação da assistência psiquiátrica no Brasil
demonstra que houve um ciclo histórico de mudanças na saúde pública no País, na qual
sequenciou na implementação de um novo modelo de cuidado em saúde mental que procurou
superar as intervenções do modelo biomédico, em que, viu-se a necessidade de começar
novas estratégias e formas de cuidados. Assim como, a necessidade de construir e
ressignificar os conceitos de uma rede de cuidados em saúde mental territorializada e
descentralizada. (SOUSA e JORGE, 2019).
Desse modo, a partir da lei federal 10.216 de 2001 a Reforma Psiquiátrica se constituiu
como um processo político-social que conduziu a Política Nacional de Saúde Mental (PNSM)
orientada pelo Paradigma da Atenção Psicossocial, cujo modelo de atenção passa a designar
o novo paradigma em saúde Mental no Brasil. Logo, para abordar sobre o surgimento,
contexto e desafios das Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) é necessário uma abordagem
histórica dos acontecimentos e ações que culminaram na Reforma Psiquiátrica no Brasil.
(SANTOS; PESSOA JÚNIOR; MIRANDA, 2018).
Assim sendo, podemos considerar que o processo de reestruturação e implantação dessa
rede de cuidados em saúde mental não se desdobrou prontamente. Visto que, de acordo com
Cordeiro et al. (2019) foram vários os fatores que corroboraram para sua instauração como a
influência dos movimentos internacionais, entre eles, a psiquiatria comunitária iniciada nos
Estados Unidos da América, a antipsiquiatria na Inglaterra, a psiquiatria de setor na França e
a Psiquiatria Democrática italiana iniciada por Franco Basaglia.
Ademais, no Brasil, um grupo que impulsionou as discussões acerca da
desinstitucionalização e ressocialização foi o Movimento dos Trabalhadores em Saúde
Mental (MTSM), iniciado na década de 1970 e influenciado pela Psiquiatria Democrática
Italiana, nesse momento abriu-se espaço para a discussão dos direitos de cidadania e da
legislação em relação à pessoa com sofrimento ou transtorno mental. (BRASIL, 2005).
Nesse cenário, a Constituição federal, promulgada em 1988, consolidou a discussão sobre
os direitos de cidadania, o direito à saúde e a reformulação do instrumento jurídico-legal,
avançando na possibilidade de reformas na área psiquiátrica. (BRASIL, 1988).
Ainda, a assinatura da Declaração de Caracas, na Venezuela em 1990, marcou uma
importante mudança no paradigma da atenção à saúde mental na Região das Américas,
abrindo caminho para a descentralização dos serviços de saúde mental em favor de uma rede
comunitária e à promoção e proteção dos direitos humanos das pessoas com problemas de
saúde mental. (OMS, 2005).
Nessa circunstância, esses movimentos mobilizaram o surgimento de inúmeras propostas,
abaixo-assinados, debates e conferências sobre o atendimento à pessoa com transtorno mental
que contribuíram para a aprovação no Congresso Nacional do projeto de lei 3.657/89,
conhecido como projeto Paulo Delgado que propunha a extinção progressiva dos manicômios
no Brasil e proteção e direitos às pessoas com transtornos mentais. O projeto tramitou no
Senado Federal por dez anos tendo a aprovação final no Senado em janeiro de 1999,
regulamentada como lei federal 10.216 ou lei da reforma psiquiátrica no ano de 2001.
(BRASIL, 2001).
Assim, nesse momento, se distinguem o modelo psiquiátrico focado na doença mental,
no modelo biomédico, no isolamento e no papel central do hospital, do modelo psicossocial
focado na pessoa em toda a sua plenitude, na diversidades de intervenções terapêuticas e na
interdisciplinaridade. Baseado nisso, depois da Lei Federal nº 10.216, de 06/04/2001,
inúmeras resoluções do Ministério da Saúde e leis estaduais indicaram fortemente a
necessidade de que a atenção a pessoa com transtorno mental deve ser preferencialmente, em
serviços não hospitalares, que favoreçam a não internação da pessoa com sofrimento mental
em hospitais psiquiátricos.
Em vista disso, foi necessária a criação de uma rede de serviços que ofertasse espaços de
convivência e de sociabilidade, os chamados serviços substitutivos, entre eles o Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS). Entretanto, havia a problemática de que esses serviços
atuavam isoladamente e sem articulação. Assim, em dezembro de 2011 o Ministério da Saúde
instituiu sobre a portaria n° 3.088 a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para as pessoas
com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool
e outras drogas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). (BRASIL, 2011).
Dessa maneira, a RAPS se constitui como um conjunto de ações e serviços articulados
com o objetivo de assegurar a integralidade da assistência à saúde, assim como a criação,
ampliação e articulação dos pontos de atenção à saúde no território. Desse modo, a Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS) foi pensada como uma organização das redes de serviço mental
no país, construída a partir da conexão de serviços de base territorial nos diferentes níveis e
focos de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS).
Nessa conjuntura, a RAPS produz suas ações e serviços conforme os princípios
doutrinários do SUS que são a universalização, equidade, integralidade, participação social e
descentralização. (BRASIL, 1990).
Diante desses princípios, baseiam - se as diretrizes de organização das ações nos
municípios, estados e regiões de saúde a partir da constituição das regiões e Redes de
Atenção à Saúde (RAS) no Brasil. (BRASIL, 2010).
Sendo assim, pautada nos princípios da reforma psiquiátrica e organizadas segundo as
Redes de Atenção à saúde (RAS), as RAPS se fundamentam nos serviços de base territorial e
comunitária, substituindo, portanto, o modelo hospitalocêntrico e manicomial. (VARGAS e
CAMPOS, 2020).
Nesse sentido, o conceito de território é essencial para a saúde mental, pois não se trata
unicamente de uma área delimitada geograficamente, mas de um chamado espaço vivo onde
se desenvolvem as relações sociais dos indivíduos (OLIVEIRA, 2020).
Além disso, é possível considerar a conceituação de base territorial como um dos
princípios organizativos mais importantes para essa política, pois possibilita particularizar a
população e seus problemas, considerando a singularidade de cada território e desenvolver
estratégias territoriais baseadas nas necessidades dos usuários promovendo uma assistência
eficiente e de qualidade que possibilite produzir saúde nos espaços de vida cotidiana, com
reinserção do usuário ao convívio social.
Para isso, é fundamental que os serviços de saúde operem segundo a lógica do território.
Nessa perspectiva, o acesso e a prestação de serviços deve privilegiar os recursos locais
existentes como projetos sociais de trabalho, cultura e inclusão social. A fim de que as
pessoas com transtornos mentais convivam em meio a comunidade promovendo a aceitação
de outras pessoas, o que facilita a socialização e o cuidado à saúde.
Assim, segundo Gonçalves et al. (2019) a RAPS fundamenta e desenvolve suas ações
com ênfase em serviços de base territorial e comunitária através de ações intersetoriais nas
regiões de saúde. Dessa forma, em termos organizativos as RAPS promovem a integração
entre os pontos de atenção das redes de saúde no território composta pela Atenção Primária,
Atenção Psicossocial Especializada, Atenção à urgência e emergência, Atenção Residencial
de caráter transitório, Atenção hospitalar, estratégia de desinstitucionalização e reabilitação
psicossocial.
Desse modo, a Rede de Atenção Psicossocial passa a ser um novo modelo de cuidados
em saúde mental. De modo que, essa nova política resulta no acesso ao cuidado em saúde
mental, na redução de leitos em hospitais psiquiátricos, na descentralização, na integralidade
da assistência, na participação social, na interdisciplinaridade, na territorialização e na
redefinição assistencial com foco na comunidade e nos espaços de socialização dos sujeitos.
Contudo, segundo Macedo et al. (2017), apesar dos diversos avanços e efeitos positivos
como uma política da saúde mental, as RAPS ainda enfrentam limites e desafios como a
demora no processo de substituição total do modelo manicomial que concorre com o modelo
psicossocial e os serviços substitutivos, falhas nas estratégias de descentralização, a
medicalização da assistência, a fragilidade na formação e capacitação profissional, a falta de
atividades na comunidade que fortaleçam o cuidado psicossocial no território e o padrão
sociocultural que legitima a exclusão.
Em vista disso, no cenário de atuação das RAPS, o enfermeiro como parte da equipe
multiprofissional tem o papel central na implementação dessa rede de cuidados. Esses
profissionais também estão diretamente envolvidos nas ações gerenciais focadas nos usuários
dos serviços, como na coordenação da equipe e nas reuniões com os demais componentes do
território. Como menciona Braga et al. (2020) na qual diz que o trabalho dos enfermeiros
compõe duas categorias temáticas, como a Gestão do Cuidado e as Práticas do Cuidado, que
respectivamente, estão relacionados com a coordenação da equipe, as reuniões com os demais
componentes do território e pela realização de ações de cuidados de enfermagem.
Nesse contexto, dentro das RAPS o enfermeiro tem como uma de suas funções, atender
os usuários em todos os eixos de funcionamento e dar longitudinalidade do cuidado, com a
visão de atingir a integralidade da assistência de saúde. Todavia, para atingir a integralidade, é
necessário manter vínculos com o paciente e fornecer um cuidado único, voltado para as
necessidades de cada um. Concomitante a isso, a enfermagem luta para efetivar seu trabalho e
fortalecer a RAPS, ao mesmo tempo que se contrapõe ao modelo biomédico, enfrentando
dificuldades.
Diante disso, o estudo torna-se relevante por trazer benefícios para a enfermagem,
população e toda a comunidade científica, visando formas de melhorar a qualidade
profissional do enfermeiro que trabalha nas RAPS. A aplicação será no enriquecimento de
informações sobre as Redes de Atenção Psicossocial, territorialidade e descentralização e os
desafios encontrados pelo enfermeiro neste sentido. Dessa maneira, o estudo tem como
objetivo identificar os desafios encontrados pelos enfermeiros na territorialidade e
descentralização das RAPS.
2 METODOLOGIA

Estudo qualitativo do tipo Revisão Integrativa da Literatura com seis etapas para o seu
processo de elaboração: criação da pergunta norteadora; busca ou amostragem na literatura;
coleta de dados; Análise dos estudos incluídos; discussão dos resultados e apresentação da
revisão (GALVÃO et al., 2014).
A definição da População, Interesse, Comparação, Desfecho e Tipo de estudo
(PICOS) foram utilizados como estratégia para guiar a coleta de dados e classificar a
qualidade dos resultados. Com essa perspectiva, a equipe de enfermagem foi considerada
como a população (P); solucionar os desafios da enfermagem na Rede de Atenção
Psicossocial - o Interesse (I); não houve comparação - a Comparação (C); o manejo de
pacientes com adoecimento mental - o Objetivo (O); o estudo do tipo qualitativo (S). Com
esse intuito, diante do que foi levantado, este estudo visou responder a problemática: Quais os
desafios da enfermagem na territorialidade e descentralização das RAPS?
Os critérios de inclusão foram: estudos publicados nos últimos cinco anos
(2016/2021) até o mês de abril de 2021, idioma português, texto disponível na íntegra e
artigos que respondam a pergunta problema, por título, resumo ou texto completo. Os
critérios de exclusão foram: artigos duplicados em uma ou mais bases, monografias, teses e
revisões integrativas. Foi realizado busca das produções a partir do acesso Portal de
Periódicos da Capes/MEC, com área de conhecimento sendo ciências da saúde e subáreas
sendo enfermagem, nas seguintes bases de dados: Academic Search Premier, CINAHL with
Full Text, Science Direct, Cochrane Clinical Answers - CCA, Embase, JAMA Evidence
(AMA), Annual Reviews. Também na Biblioteca Virtual em Saúde, nas bases LILACS,
MEDLINE e BDENF Enfermagem.
Os descritores foram selecionados e validados nos Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS/MESH), sendo eles Assistência à Saúde Mental, Saúde Mental, Serviços de Saúde
Mental e Enfermagem Psiquiátrica, os quais foram colocados nas bases no idioma português.
Empregaram-se as seguintes estratégias de busca para seleção das produções científicas:
Assistência à Saúde Mental AND Saúde Mental AND Serviços de Saúde Mental AND
Enfermagem Psiquiátrica.
O nível de evidência utilizado para a classificação dos tipos de estudos foi
determinado conforme a Registered Nurses’ Association of Ontario de 2007, no qual A -
evidência obtida meta análise ou revisões sistemáticas de estudos aleatórios controlados; Ib -
evidência obtida de pelos menos um estudo aleatório controlado; IIa - evidência obtida de
pelo menos um estudo controlado bem desenhado sem randomização; IIb - evidência obtida
de pelo menos um outro tipo de estudo quasi-experimental bem desenhado; III - evidência
obtida de um bem desenhado estudo descritivo não experimental, tal como estudo
comparativo, estudo correlacional e estudo de caso; IV - evidência obtida de relatórios de
comitês de peritos ou opiniões e/ou experiências clínicas de autoridades respeitadas.
A análise dos estudos ocorreu em pares de forma qualitativa por meio da leitura e
releitura da amostra com a confecção de fichamentos. Esses resultados foram apresentados
por quadro analítico sendo utilizada a letra inicial “A” para representar artigo e um número
seguindo sequência conforme foi incluído, facilitando assim a compreensão e organização dos
resultados selecionados. Por fim, realizou-se a interpretação do material empírico através dos
quadros analíticos com as informações pertinentes de cada estudo e assim nos levando a
visualizar três categorias de barreiras: Redes de Atenção Psicossocial; Territorialidade e
Descentralização nas RAPS e Cuidados e desafios enfrentados pela Enfermagem na
assistência em Saúde Mental.

3 RESULTADOS
Para compor o corpo dos nossos resultados identificamos artigos potencialmente
relevantes (110), destes foram removidos os artigos duplicados (39) em uma ou mais bases.
Após a remoção de duplicações, foram selecionados 71 artigos, estes foram avaliados para
elegibilidade por dois revisores independentes, a partir dos títulos, resumos ou descritores e
caso houvesse dúvidas era feita a leitura do texto completo. Destes, 7 foram excluídos por
serem revisões integrativas, 1 por ser monografia, e 55 por não responderem a pergunta
problema. Após a realização de um fichamento selecionamos os artigos que atendiam o
estudo (8), cujas características e etapas da seleção estão indicados no fluxograma abaixo
(Figura 1), cuja finalidade é organizacional, garantindo um bom entendimento da nossa
seleção.

Figura 1: Fluxograma de identificação dos estudos incluídos e excluídos


Em relação a localização nas bases de dados dos estudos incluídos na pesquisa, 5
eram da LILACS, 1 da MEDLINE, e 2 da CINAHL with Full Text. De outra forma, os tipos
de estudos identificados foram estudos de abordagem qualitativa (5) e estudos de abordagem
quantitativa (3), sendo todos de nível de evidências III. Além disso, os artigos identificados
no estudo foram desenvolvidos no Brasil, sendo, publicados no ano 2018 (4), em 2019 (2), e
no ano 2017 e 2020, um artigo respectivamente.

Quadro 1: Artigos encontrados de acordo com Autoria/Ano, Objetivo, Tipo de estudo, População/amostra e
País.

Autoria/Ano Objetivo Tipo de estudo População/amostra País

Batista et al. / 2018 Investigar as dificuldades Estudo 27 enfermeiros da Brasil


vivenciadas por quantitativo, atenção básica
enfermeiros na Atenção exploratório e
Básica frente aos usuários descritivo
em adoecimento mental.

Carvalho et al. / Discutir a desarticulação Estudo de Profissionais que Brasil


2017 da RAPS a partir da abordagem atuam em CAPSad.
concepção de profissionais qualitativa, tendo
de CAPSad. integralidade como
categoria de análise

Cordeiro et al. / Analisar a atenção em Estudo qualitativo, 6 profissionais da Brasil


2019 saúde mental na Atenção constituído por unidade básica de
Primária à saúde em um documentos saúde
município mineiro, na escritos e
década de 1980 entrevistas
Gonçalves et al. / O objetivo foi caracterizar Estudo descritivo e A amostra foi Brasil
2019 os atendimentos às exploratório com composta por 301
urgências psiquiátricas abordagem fichas de ocorrências
realizadas pelo SAMU de quantitativa utilizadas nos
Sobral. atendimentos dos
pacientes.

Matos et al. / 2018 Investigar as práticas Estudo qualitativo 12 técnicos de Brasil


assistenciais dos técnicos e descritivo enfermagem
de enfermagem às pessoas
com transtornos mentais.

Oliveira et al. / Identificar as dificuldades Pesquisa descritiva, 34 profissionais da Brasil


2018 existentes na exploratória e equipe de enfermagem
implementação de uma qualitativa do SAMU
assistência de emergência
ao usuário em sofrimento
psíquico no Serviço de
Atendimento Móvel de
Urgência (SAMU).

Santos et al. / 2018 Verificar a adequação dos Estudo analítico, 65 profissionais de sete Brasil
papéis e funções transversal, de serviços da RAPS
desempenhados pelos abordagem
profissionais de nível quantitativa
superior nos serviços das
RAPS de uma capital do
Nordeste brasileiro.

Silva Filho et al. / Objetiva-se compreender Pesquisa 10 enfermeiros Brasil


2020 as práticas de cuidado em exploratória com atuantes nas Estratégia
saúde mental abordagem Saúde da Família.
desenvolvidas por qualitativa
enfermeiros no âmbito da
Estratégia Saúde em
Família.

Em relação às temáticas, três categorias sintetizam os principais aspectos encontrados


nos estudos: Redes de Atenção Psicossocial; Territorialidade e Descentralização nas RAPS e
Cuidados e desafios enfrentados pela Enfermagem na assistência em Saúde Mental.

4 DISCUSSÃO

4.1 Redes de Atenção Psicossocial

Segundo Cordeiro et al. (2019), a Reforma Psiquiátrica obteve aprovação legal no ano
de 2001, entretanto, o movimento político e social para que fosse aprovada iniciou-se em
1970, provocando mudanças em todo o país através de críticas ao modelo manicomial
vigente. A partir do processo de Reforma Psiquiátrica, o Brasil passou a transformar seu
modelo de atenção às práticas de saúde mental, sendo impulsionado pela Lei n° 10.216/2001
e a instituição da Política Nacional de Saúde Mental (PNSM). Dessa forma, buscou-se
valorizar o cuidado aos usuários dos serviços de saúde mental e seus familiares, através de
ações integrais e intersetoriais, acompanhamento e reabilitação psicossocial destes pacientes
(SANTOS, 2018).
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) surgiu a partir da Portaria GM/MS nº
3.088/2011 e caracteriza-se como uma rede de serviços de saúde mental integrada que presta
assistência a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e atende as demandas de
pessoas com necessidades decorrentes do abuso de álcool, crack e outras drogas. Conforme
Gonçalves et al. (2019), a RAPS surgiu com o objetivo de estabelecer um modelo de atenção
aberto e de base comunitária, que garanta a livre circulação dos usuários pelos serviços,
comunidade e cidade. Logo, este serviço busca garantir um cuidado humanizado para estes
indivíduos.

4.2 Territorialidade e Descentralização nas RAPS

Com a Política Nacional de Saúde Mental, o Brasil tornou-se referência internacional,


principalmente quando os hospitais psiquiátricos, que têm modelos organicistas e
médico-centrados, passaram a ser substituídos por atendimentos comunitários, com a criação
de Centros/Núcleos de Atenção Psicossocial (CAPS/NAPS). Este novo modelo funciona
como redes de atenção integral multidisciplinar, voltadas para atender as diferentes
necessidades dos pacientes, assim como a comunidade, família e sociedade. Além disso, vale
ressaltar que este cuidado integral está voltado para a Política de Redução de Danos, pois não
é voltado apenas para questões de saúde mental, mas para questões sociais, políticas, dentre
outros fatores que envolvem a integralidade do ser humano (CARVALHO, et al. 2017).

É perceptível a mudança após a reforma psiquiátrica, usando componentes como uma


atenção multiprofissional, com o intuito de tornar a assistência mais ampla e humanizada.
Tendo esses novos modelos assistenciais em foco, soma-se a intersetorialidade, novos
cuidados dos profissionais e a territorialidade (MATOS, et al. 2018). Dessa forma, a
territorialidade vem com o intuito de facilitar a organização das medidas em saúde, servindo
para identificar a cultura, necessidades e individualidade daquele local.
Apesar do processo de implementação dos NAPS e CAPS ter iniciado a alguns anos,
Batista et al (2018) ressalta que os profissionais ainda precisam de mais treinamentos e se
sentem, muitas vezes, despreparados e inseguros perante ao trabalho com assistência
psicossocial. Assim, a territorialidade pode ser usada como uma ferramenta para o melhor
cuidado, pois ajuda no reconhecimento das carências de determinada região. Usando a
territorialidade como uma aliada, é possível oferecer uma atenção mais específica e melhorar
a qualificação dos profissionais.

4.3 Cuidados e desafios enfrentados pela Enfermagem na assistência em Saúde Mental

É imprescindível o cuidado integral da enfermagem na saúde mental, uma vez que os


enfermeiros atuam em maior proximidade das pessoas com sofrimento psíquico e isso propõe
uma maior possibilidade da criação de um vínculo terapêutico. Portanto, o compilado de
informações sobre a assistência desses profissionais é encontrado em diferentes campos, mas
especificamente no âmbito da Atenção de urgência e emergência e na Atenção básica de
saúde.
Ainda existem desafios a serem superados por esses especialistas, como cita Silva Filho
et al. (2019) a necessidade de capacitação das pessoas para trabalhar com saúde mental é uma
delas, sendo necessário uma formação adequada tanto técnica como teórica desses
profissionais para um cuidado adequado e um bom desempenho a esta clientela. Além disso,
as conceituações superficiais a respeito da saúde mental devido à falta de conhecimento, as
dificuldades em acolher pessoas com transtornos mentais, pois acabam por focalizar apenas
no cuidado do corpo e não na integralidade desse indivíduo e também o fato de os
profissionais demonstrarem notória preocupação aos cuidados prestados a indivíduos com
problemas mais graves.
Conforme o estudo de Matos et al. (2018) foram analisados os cuidados medicamentosos
prestados pelos técnicos de Enfermagem e evidenciou-se a ausência de comunicação
terapêutica que gerou um distanciamento entre o profissional e a pessoa assistida, o que é
demonstrado pelas respostas evasivas quando porventura, ao receber a medicação, a pessoa
questionava ao profissional para que servia a medicação. E quanto aos cuidados não
medicamentosos foi percebido uma limitação às necessidades básicas e sem a presença da
busca pelo relacionamento terapêutico.
O atendimento no campo da urgência e emergência psiquiátrica também possui algumas
barreiras, segundo Oliveira et al. (2018) as principais dificuldades enfrentadas pelos
profissionais estão associadas à gestão, especialmente na falta de integração entre os serviços,
dificultando a realização de uma assistência resolutiva, uma vez que a falta de uma rede de
atendimento em saúde mental organizada e hierarquizada constitui entrave para que as
diretrizes da Reforma Psiquiátrica possam ser concretizadas na prática.
Ademais, de acordo com Batista et al. (2018) foi identificado dificuldades relacionadas
com a prestação de serviços à Estratégia de Saúde da Família, por ser a porta de entrada nos
serviços de saúde é necessário que os profissionais estejam preparados para acolher todas as
demandas da saúde mental dentro da Atenção básica de saúde. Além disso, constatou que é
preciso cursos de capacitação profissional para que seja ofertado um cuidado de qualidade por
esses profissionais.

5 CONCLUSÃO

Diante do exposto, entende-se que a RAPS surgiu como uma proposta de


reorganização do SUS, dentro de um contexto de Reforma Psiquiátrica, que viabiliza um
cuidado em SM mais amplo e humanizado. Essa portaria conta com modelos substitutivos de
atenção psicossocial, como o CAPS, assim como a participação da comunidade no cuidado
daquele paciente, dando um enfoque em todas as condições existentes que circulam o
indivíduo em transtorno mental ou que esteja sob uso e abuso de álcool e outras drogas.
A Rede de Atenção Psicossocial deve ter um caráter descentralizador e territorialista
para que os profissionais da saúde mental possam ampliar o acesso a essa rede, e assim
integrá-la com os demais âmbitos naquele determinado território, sendo o primário o
principal. Dessa forma, garantem que as suas estratégias de cuidado incluam a participação
desses indivíduos em seu meio social, junto às suas famílias, propiciando um tratamento mais
efetivo, com ênfase também na sua reinserção social. Além disso, efetivar esses objetivos
indica um avanço na Política Nacional de Saúde Mental (PNSM), podendo dar adeus ao que
antes era comum, a focalização do transtorno e aos estigmas sociais.
Apesar dos avanços no campo da SM, a PNSM encontra-se fragilizada, decorrente da
diminuição de investimento.Ainda nota-se um despreparo por parte dos profissionais atuantes
na saúde mental, esses fatores podem ocasionar na não efetivação dos objetivos da RAPS.
Portanto, o papel do enfermeiro que atua na assistência à saúde mental nas RAPS é
saber acolher e identificar as reais necessidades dos seus clientes, tendo uma visão mais
ampliada da situação que os cercam, analisando os seus determinantes, além de acompanhá-lo
continuamente. Também é papel do enfermeiro conhecer e incentivar os programas ofertados
para o tratamento das pessoas com transtornos mentais ou em uso de substâncias psicoativas.
Pondo em prática esses deveres, estarão promovendo com qualidade o cuidado de
enfermagem em saúde mental e efetivando as diretrizes estabelecidas pela Rede de Atenção
Psicossocial.
A partir das buscas na literatura notamos a importância de mapearmos os
acontecimentos que antecederam e culminaram na implementação das redes de atenção
psicossocial, pois conhecer as suas competências nos possibilita o crescimento dentro da
profissão de enfermagem. Paralelo a isso, presenciamos algumas situações que nos limitavam
no processo de elaboração e desenvolvimento deste estudo, pois pouco se falava sobre a
territorialidade e descentralização nas RAPS.
A realização deste trabalho também nos trouxe um sentimento de humanidade,
relacionado ao processo de uma atenção comunitária e subjetiva à pessoa que esteja em
sofrimento psíquico ou que esteja sob uso e abuso de álcool, crack e outras drogas. Além
disso, compreender tais estruturas assim como notar as falhas na sua articulação, nos motiva a
melhorá-la e torná-la um serviço mais eficiente para a população alvo deste trabalho.
REFERÊNCIAS

BATISTA, E.H.L. et al. Dificuldades de enfermeiros na atenção básica frente ao adoecimento


mental. Rev. enferm. UFPE on line. Recife, v. 12, n. 11, p. 2961-61, 2018. Disponível em:
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