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Inibição do Crescimento Micelial e Germinação de Escleródios de Sclerotium

rolfsii por Bactérias Endofíticas


Introdução
O Sclerotium rolfsii é um agente fitopatogênico encontrado no solo e possui grande espectro de hospedeiros como
soja, feijoeiro, maracujazeiro, dentre outros (VERZIGNASSI et al, 2008), causando podridão de raiz e colo, murcha e
tombamento de plântulas (BOSACH et al, 2010, apud AULER et al, 2013). É um patógeno de difícil controle, por
realizar uma colonização do tecido muito rápida e também produzir estruturas de resistência conhecidas como
escleródios que possibilitam a sobrevivência do fungo por longos períodos no solo (YAQUB & SHAHZAD, 2011). A
utilização de agrotóxicos para o controle do fitopatógeno tem sua eficiência comprovada, porém acarretara problemas
ambientais e para a saúde humana uma vez que o produto entra em contato diretamente com o solo podendo ser
lixiviado e percolado para cursos d’água. A utilização de agentes de biocontrole no manejo do patógeno é uma boa
alternativa. É possível encontrar agentes antagonistas na população de endofíticos em plantas, uma vez que estes
conferem à planta hospedeira proteção contra o ataque de pragas e fitopatógenos, devido à produção de toxinas
(AZEVEDO, 1998), podendo assim ser eficientes no antagonismo a fitopatógenos. Sendo assim, o presente trabalho
objetivou avaliar a antibiose de bactérias endofíticas no crescimento micelial e germinação de escleródios de S. rolfsii.

Material e métodos
A. Obtenção dos microrganismos

O experimento foi conduzido no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – Campus Januária no Laboratório de
Fitopatologia. Amostras de caule e folha de Chichá (Sterculia chicha) foram coletadas na mata entre o distrito de Brejo
do Amparo e os municípios de Cônego Marinho e Bonito de Minas. Em seguida foi realizado o isolamento das bactérias
endofíticas, por meio de maceração de caules e folhas em solução salina e plaqueamento da suspensão obtida. Cada
colônia bacteriana foi transferida para placas de Petri com meio KADO para a obtenção da cultura pura. O fitopatógeno
foi isolado de solo de uma área de cultivo do IFNMG Campus Januária, através da técnica de iscas de batata.

B. Inibição do crescimento micelial de S. rolfsii

Para avaliação da inibição do crescimento micelial realizou-se o pareamento de colônias bacterianas e de S. rolfsii em
placas de Petri com meio de cultura BDA. A suspensão bacteriana (1x109 UFC/ml) de quatro bactérias endofíticas (IM.
01, IM. 04, IM. 06 e IM. 09) foram usadas como inóculo do antagonista. Para o pareamento um disco de papel filtro
esterilizado (5 mm) foi mergulhado na suspensão bacteriana, por tempo determinado, escorrido e depositado a 5 cm do
disco de micélio fúngico (5 mm) na placa de Petri. Na testemunha o disco de papel filtro foi mergulhado apenas em
solução salina esterilizada. O delineamento experimental utilizado foi o DIC com 10 repetições, sendo cada pareamento
uma repetição.

C. Inibição da germinação de escleródios de S. rolfsii


Escleródios oriundos de colônias com 25 dias de idade foram imersos em suspensão com células bacteriana (1x109
UFC/ml) do isolado IM. 04 por 0 min (apenas mergulhou o escleródio na suspensão e retirou imediatamente) 30 min e
60 min. A testemunha foi submetida aos mesmos intervalos de tempo e imersa apenas em solução salina. O
delineamento experimental utilizado foi o DIC com 10 repetições, sendo cada escleródio/tempo considerado uma
repetição.

D. Avaliações
Por quatro dias avaliou-se o crescimento micelial do fungo no pareamento com as bactérias por meio da medição do
diâmetro da colônia e cálculo da área da colônia utilizando a formula Área= Π x R², onde R é o raio da colônia. A
germinação dos escleródios foi avaliada durante três dias por meio da medição do diâmetro da colônia e cálculo da área

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Apoio financeiro: FAPEMIG e IFNMG – Campus Januária
da colônia, conforme descrito anteriormente. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e teste Tukey a
5% de probabilidade, com o uso do programa ASSISTAT 7.0.

Resultados e discussão
Os resultados obtidos no experimento de inibição de crescimento micelial por meio do pareamento apresentaram um
grande potencial de antagonismo das bactérias IM. 04 e IM. 09 a S. rolfsii (Fig. 1 A, B). A bactéria IM. 04 demonstrou
um crescimento maior em relação ao fungo impedindo seu desenvolvimento na placa. As bactérias IM. 03 e IM. 06 não
foram eficientes na inibição do crescimento micelial do fungo. De acordo com este resultado, selecionou-se a bactéria
IM. 04 para avaliar a inibição de germinação de escleródios. Os escleródios em contato com a suspensão bacteriana,
independente do tempo, tiveram sua germinação retardada (Tabela 1). Entretanto, os escleródios em contato com a
bactéria, apesar de germinados, não regeneraram colônias como no tratamento testemunha (Tabela 1), demonstrando
que a bactéria afetou o desenvolvimento normal do fungo. O escleródio foi considerado germinado quando apresentou
algum tipo de crescimento micelial na sua superfície. Observou-se que a bactéria cresceu no meio que circundava o
escleródio demonstrando sua agressividade em ocupar o substrato. O antagonismo de um agente de biocontrole a
fitopatógenos pode ocorrer especialmente por antibiose, competição e hiperparasitismo. É necessário um
aprofundamento para determinar o modo de ação dos antagonistas a S. rolfsii, porém pode ser inferido que a antibiose e
competição são modos de ação que explicam os resultados alcançados.

Considerações finais
A população de endofíticos de plantas nativas tem potencial como agentes de biocontrole de fitopatógenos, devendo
ser mais bem explorados para esse fim. As bactérias denominadas IM. 04 e IM. 09 isoladas de Chichá demonstraram
ação antagonista a S. rolfsii devendo ser continuada a investigação sobre seu modo de ação e adaptabilidade desse
microrganismo ao ambiente natural do patógeno em experimentos in vivo.

Agradecimentos
À FAPEMIG e ao IFNMG – Campus Januária.

Referências bibliográficas

AULER, ANA CAROLINA VASCONCELOS; CARVALHO, DANIEL DIEGO COSTA; DE MELLO, SUELI CORRÊA MARQUES. ANTAGONISMO DE TRICHODERMA
HARZIANUM A SCLEROTIUM ROLFSII NAS CULTURAS DO FEIJOEIRO E SOJA. REVISTA AGRO@ MBIENTE ON-LINE, V. 7, N. 3, P. 359-365, 2013.

AZEVEDO, JOÃO LÚCIO; MELO, I. S.; AZEVEDO, J. L. MICRORGANISMOS ENDOFÍTICOS. ECOLOGIA MICROBIANA, P. 117-137, 1998.
VERZIGNASSI, JAQUELINE R. ET AL. MARACUJAZEIRO, NOVO HOSPEDEIRO DE SCLEROTIUM ROLFSII NO PARÍ. REVISTA DE CIÊNCIAS
AGRÁRIAS/AMAZONIAN JOURNAL OF AGRICULTURAL AND ENVIRONMENTAL SCIENCES, V. 49, N. 1, P. 183-186, 2011.
YAQUB, Fouzia; SHAHZAD, SALEEM. Efficacy and persistence of micobial antagonists against Sclerotium rolfsii under field conditions. Pak. J. Bot, v. 43, n. 5,
p. 2627-2634, 2011.
Figura 1: Pareamento entre colônias de bactérias endofíticas (esquerda) e Sclerotium rolfsii (direita). A, bactéria IM.04; B bactéria
IM. 09; C, bactéria IM. 01; IM. 06.

Tabela 1: Médias de germinação de escleródios de Sclerotium rolfsii em contato com suspensão de células de bactéria endofítica por
diferentes intervalos de tempo, em três avaliações consecutivas, sendo o número de escleródios por placa igual a 5. Médias da área
ocupada (cm2) pelo crescimento micelial de Sclerotium rolfsii a partir de escleródios submetidos a contato com suspensão de células
de bactéria endofítica, por diferentes intervalos de tempo, em duas avaliações consecutivas.

Tratamentos Nº escleródios germinados Área colônia de S. rolfsii (cm2)


24 h 48 h 72 h 48 h 72 h
T1: 0 minuto 4.8 a 4.9 a 4.9 a 26.0 a 63.6 a
T1: 30 minutos 4.6 a 4.8 a 5.0 a 24.0 a 60.4 a
T1: 60 minutos 4.6 a 4.8 a 5.0 a 24.3 a 60.4 a
T2: 0 minuto 2.0 b 4.3 ab 4.4 ab 0.6 b 1.4 b
T2: 30 minutos 0.3 c 3.3 b 3.6 b 0.4 b 0.9 b
T2: 60 minutos 0.5 c 3.9 ab 4.2 ab 0.5 b 1.3 b

T1= testemunha, solução salina; T2= suspensão de células bacterianas do isolado IM. 04. As médias seguidas pela mesma letra, na
mesma coluna, não diferem estatisticamente entre si de acordo com o Teste Tukey a 5% de probabilidade.

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