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Faculdade de Letras
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Comunicação apresentada no Seminário sobre a “investigação em Ciências Sociais: Situação Actual e
Perspectivas”, UEM, Faculdade de Letras - Maputo
Langa, David. 2002. Reduplicação Verbal em Xichangana. In. Ngunga et al. 2002. (eds). Investigação em Ciências
Sociais e Humanas: Situação Actual e Perspectivas. Maputo: Imprensa Universitária. Pp 33 – 48. Página 1
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1. Introdução
(1967) que abrange 3 línguas mutuamente inteligíveis (Sitoe & Ngunga 2000). Esta
língua é faladas nas províncias de Maputo, Gaza Inhambane e Niassa (INE 1999) e na
zona meridional das províncias de Manica, Sofala para além de ser falada na África do
Sul e Zimbabwe (Nelimo 1989, Sitoe 1996, Sitoe & Ngunga 2000).
aspecto semântico as implicações a nível “dos significados da fala” (Hurford & Heasly
tipo – C-, - CVC2 - ou mais longas e, através do método de entrevista combinado com o
verificar se a estrutura morfológica das bases influencia ou não a reduplicação nos dois
(Ngunga 1998:1), que pode ocorrer em todas as categorias (Furtune 1957) e posições
morfológicas (Bauer 1988, Spencer 1991), tem sido objecto de estudo de muitos
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C: significa consoante e V: significa vogal
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Tema verbal, Segundo Ngunga (2000), é constituído pelo núcleo ou radical mais a vogal terminal ou
afixos flexionais. Vogal terminal é tida como a última vogal -a que é um dos sufixos descontínuos que
marcam o infinitivo nestas línguas (Ngunga 2000, Langa 2001). Esta noção não deve ser confundida com a
de vogal temática na medida em que esta determina o tipo de conjugação do verbo e sempre antecede a
desinência verbal (Mateus et al 1989). O Radical, por sua vez, pode ser flexionado ou não flexionado
dependendo de ter sido adjunto a ele material lexical derivacional ou flexional. A raiz verbal é o núcleo
desprovido de quaisquer afixos (Ngunga 2000, Langa 2001).
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linguistas (Matthews 1974, Bybee 1985, Bauer 1988, Spencer 1991, Katamba 1993,
morfema é reduplicado e parcial quando apenas uma parte é reduplicada” (Jensen 1962:
materiais lexicais envolvidos (Matthews 1974, Wiesmann & De Matos 1980, Bybee
1985, Bauer 1988, Katamba 1993), pois dependendo da língua particular pode significar:
(Thai).
morfológica e semântica. Para o efeito, far-se-á esta análise sem perder de vista os tipos
de estruturas morfológicas em que a reduplicação pode ocorrer o que nos vai permitir
reduplicação total.
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são idênticos (a nível segmental)” (Ngunga 1998:2, Liphola 2000:46), como se pode ver
objectivo desta reduplicação é exprimir a frequência em que a acção descrita pelo verbo
Estas formas têm a sua correspondente não reduplicada na língua por isso têm registo no
Estes mostram que os constituintes da reduplicação total são independentes desta visto se
formam um bloco que não pode ser quebrado ou decomposto em unidades morfológicas,
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por isso são sujeitos às mesmas regras morfológicas (derivação, flexão) como qualquer
verbo na língua, como se pode ver nos exemplos (3) que se seguem:
(-ile) na posição sufixal dos temas verbais, a única de que a língua dispõe para acomodar
do sufixo derivacional (-is-) na mesma posição. A ocorrências destes materiais nos dois
nos dois termos, o reduplicante e o reduplicado. Isto prova que a reduplicação origina
uma nova palavra e que tem disponível as mesmas posições que aquelas na acomodação
dos morfemas gramaticais. Se bem que em (1) notamos que a reduplicação dá a ideia de
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(5) *-biha-biha
*-chona-chona
*-enta-enta
*-guga-guga
Os exemplos em (5) embora potencialmente existentes, pois cada uma delas também
existe em dicionários isoladamente conforme : - biha „ser feio‟; -chona „ser noite‟; -enta
„ser profundo‟; -guga „ser velho‟; não são totalmente reduplicáveis. Esta impossibilidade
estes verbos exprimem estados, posturas ou qualquer outra situação que seja diferente de
uma acção que possa ser repetida pelo mesmo sujeito. Só para dar alguns exemplos, um
buraco profundo só o é uma única vez, algo velho só tem essa qualidade uma única vez,
língua, que de facto são, e por não poderem ocupar o núcleo de sintagma verbal na
estrutura sintáctica, não podem ser reduplicados por falta de motivação na lógica
das acções descritas pelos verbos, não podemos, por isso, re-reduplicar os temas verbais
reduplicados se visarmos esse fim iterativo como mostram os exemplos que se seguem:
(6) * -pfala-pfala-pfala-pfala
* -bala-bala-bala-bala
*-chumayela-chumayela-chumayela-chumayela
*-cinama-cinama-cinama-cinama
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Os qualificadores são tidos como modificadores nominais nas línguas Bantu com a função de atributos. Se
este termo não provoca ambiguidades podemos considerá-los, adjectivos (Sitoe 1996)
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Estas constatações permitem-nos concluir que tal como em Ciyao (Ngunga 1998), o
termo reduplicado em Changana não aceita ser reduplicado. Podemos também concluir
que deve ser do tipo - CVC- ou mais longa. Do ponto de vista morfológico, os
que só admitem uma única posição, para acomodar as morfologias, o que não acontece
contudo, existem alguns verbos com as mesmas características morfológicas mas que,
não reduplicados ou, nos casos em que existam, a sua morfologia e semântica não é de
todo igual ao expresso pela reduplicação total - é o caso do que podemos considerar de
(7) -bzata-bzata „tentar dizer qualquer coisa e falhar por falta de palavra‟
-cadza-cadza „ruído dos pés ao chapinhar‟
-daka-daka „orfar, ofegar‟
-svata-svata „arrastar os pés‟
-daba-daba „simplório, pateta‟
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O Ideofone é entendido como uma categoria linguística típica das Línguas Bantu que consiste na
associação de cor, som, estado, luz, etc que implica uma construção psíquica dos mesmos nas cabeças dos
indivíduos (Doke 1968). Marivate (1981) diz estes terem a função de qualificar o predicador para dar a
ideia de modo, cor, estado, acção com maior expressividade, podendo estabelecer com o adjectivo relação
de tempo, de espaço, de material, de finalidade, etc.
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estalidos com a mão contra o pilão ao pilar’ e -svata ‘desaparecer’; (ii) alguns verbos
desse modo “lacunas acidentais” ou “lexicais” na língua uma vez que seria de esperar que
do verbo (as partes reduplicante e reduplicada) não estejam separadas por um hífen
(Ngunga 1998).
reduplicação parcial.
Matthews (1974) diz haver a reduplicação parcial quando uma parte da base é
reduplicada ou repetida, por outras palavras, pode-se dizer que a reduplicação parcial são
palavras autónomas que expressam um valor iterativo embora este não seja expresso na
- phepherha 'peneirar'
-mbombomela 'afundar-(se)'
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interno do tema verbal. Isto é, a acção ou evento que externamente pode ser vista como
análise, e reparando para os exemplos em (8), podemos ver que todos os temas verbais
total normal, são psicologicamente iterativos. Só para dar algum exemplo kuphepherha
„peneirar‟, esta acção é uma sucessão de acções do mesmo nome, se considerarmos que o
gesto de peneirar não se faz uma única vez se pretendemos, de facto, esse fim. O mesmo
se pode dizer de kumbombomela „afundar-(se)‟, pois o acto de afundar não é pontual, mas
representa um acto contínuo e progressivo, por mais rápido que ele seja, da mesma acção.
Desta forma, esta reduplicação dá subjectivamente uma ideia iterativa, porém não
reduplicados totalmente.
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Os exemplos em (9) mostram que os temas verbais parcialmente reduplicados aceitam ser
totalmente reduplicados para dar a ideia de quantidade de vezes em que o conjunto das
morfológicas que as dos verbos normalmente reduplicados. Contudo, não podemos “re-
que se seguem:
(10) * -mpompompompola
* -rherherherhemela
* -jojojojometa
* -fofofoforha
reduplicada. Embora a reduplicação vise expressar o aspecto iterativo, esse objectivo não
se alcança através deste tipo de estruturas na medida em que ela só ocorre em núcleos
lexicais.
uma forma à outra é sempre agramatical. Para expressar a ideia iterativa nestas estruturas
a língua recorre a outros mecanismos, como seja, o uso de (-etel-)6, um sufixo gramatical
estrutura do tipo -C- para expressar a ideia de iteractividade. Aquilo que é expresso
em (13) :
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O sufixo -etel- é extensão verbal iterativa (Sitoe 1996).
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dos verbos de estrutura do tipo -C- em Changana. Esta estratégia consiste na construção
de um sintagma em que o verbo é modificado por uma palavra que a ela se junta para
exprimir o aspecto iterativo. Esta forma é a mais produtiva porque pode-se juntar também
seguintes exemplos:
Nos exemplos em (13a) temos verbos de radical de estrutura -C- , em (13b) de radical de
casos a reduplicação é apenas semântica que é expresso lexicalmente. Daqui, podemos ter
mais uma evidência de a reduplicação não tem que exclusivamente ser expresso em
morfológicos, pois também pode ser expresso por meios lexicais. Além disso a
reduplicação pode ser exclusivamente semântica podendo isso ser expresso por outros
meios que não envolvem repetição de parte ou totalidade do tema verbal. Esta é a
característica de reduplicação de verbos de raízes de estrutura do tipo -C-. Com este tipo
de verbos só se pode ter reduplicação semântica que, por um lado, pode ser expresso
lexicalmente como se pode ver nos exemplos em (13), por outro lado pode ser expresso
através da adição do sufixo (-etel-) à base verbal como se pode ver em (12).
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reduplicar totalmente o tema verbal em raízes verbais de estrutura do tipo -C-. Uma vez
Os exemplos em (15) mostram que a marca de tempo passado ocorre na posição onde
normalmente ocorre nas formas verbais nesta língua, isto é, na posição sufixal da base
verbal. Uma vez aplicada a extensão verbal, a forma verbal obtida não aceita ser re-
(16) *–tetetela-tetela
*-khetela-tetela
*-nwetetela - tetela
*-chetetela- tetela
em (16) é a de que a re-reduplicação deste, torna-se desnecessária, uma vez que a ideia de
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Uma restrição dá-se em temas verbais longos totalmente reduplicadas pois, sendo
a ideia iterativa expressa pela reduplicação total da base verbal o uso da extensão com
(17) *-bukuxa-bukuxetela
*- bukwama-bukwametela
*- bula-buletela
*- bulacha-bulachetela
iterativo. A extensão verbal é usada para expressar a mesma ideia mas tendo em conta os
3. Conclusão
total só ocorre com categorias gramaticais que podem ocupar a posição nuclear do
sintagma verbal e pode ser fossilizada quando não tem as correspondentes formas não
reduplicadas, nos casos que tenha a sua semântica não é todo igual à expressa pela
reduplicação total.
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que a parte reduplicada não seja novamente reduplicada devendo, depois, seguir as
expressão de iteractividade não podem co-ocorrer. Uma restrição que se pode justificar
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Referências
Britain.
Bybee, J. L. (1985). Morphology: A Study of the Relation Between Meaning and Form.
Cole, D. T. (1961). “Doke's Classifications of Bantu Languages”. In C.M. Doke & D.T.
Benjamin‟s B.V.
Langa, David. 2002. Reduplicação Verbal em Xichangana. In. Ngunga et al. 2002. (eds). Investigação em Ciências
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Mateus, M., Brito, A., Duarte, I., Faria, I. (1989). Gramática da Língua Portuguesa. 2ª
CUP. Cambridge.
Ngunga, A. (2000). Phonology and Morphology of the Ciyao Verbs. CSLI Publications.
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