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Fascículo nº 38/2014
SUMÁRIO
1. Considerações Iniciais
6. TJLP em 2013
7. Exemplo
Histórico Cenofisco:
- Juros sobre o Capital Próprio (F nº 20/2012)
- Juros sobre o Capital Próprio (F nº 49/2006)
1. Considerações Iniciais
Os juros sobre o capital próprio foram instituídos no Brasil por meio do art. 9º da Lei nº 9.249/95, alterado
pelo art. 78 da Lei nº 9.430/96, vistos por muitos observadores como uma tentativa de abrandamento dos
efeitos da extinção da correção monetária de balanços sobre os resultados das pessoas jurídicas tributadas
pelo Imposto de Renda com base no lucro real. Em relação ao patrimônio líquido, deixou-se de calcular o
efeito da inflação e passou-se a atribuir-lhe uma remuneração por meio de juros.
Em tese, tal prática seria positiva frente ao prejuízo à qualidade das demonstrações decorrente da
extinção da correção monetária. Todavia, a forma pela qual foi concebida, que observa muito mais interesses
fiscais do que societários ou financeiros e, que, apesar de exigir o registro dos juros como despesa ou receita
financeira, atribui a eles características mais próximas de distribuição de resultados, acabou por possibilitar
distorções contábeis ainda maiores, destacando-se:
a) seu caráter facultativo, que acarreta falta de comparabilidade entre demonstrações contábeis, pois
as empresas poderão não utilizar os mesmos critérios e procedimentos;
b) utilização da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que está a quem das demais taxas de juros
praticadas no mercado financeiro;
c) limitação dos juros à metade do saldo dos lucros acumulados ou à metade do lucro líquido do
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período, dos dois o maior, que além de reforçar a característica de distribuição de resultados, por
observar a existência desses para a distribuição, impossibilita o reconhecimento integral dos juros por
algumas empresas.
Diante de tais dificuldades, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por meio da Deliberação CVM nº
683/12, disciplinou a contabilização e a divulgação dos juros sobre o capital próprio pelas companhias abertas
de maneira diferente daquela prescrita pelo Fisco na Instrução Normativa SRF nº 11/96.
O presente texto mostra a forma de cálculo dos juros remuneratórios do capital próprio, por meio da
aplicação das TJLPs divulgadas pelo Banco Central do Brasil no ano de 2013 e as respectivas contabilizações
de acordo com a legislação fiscal e com a CVM.
Os juros remuneratórios do capital próprio, pagos ou creditados aos sócios ou acionistas, devem ser
registrados a débito de conta de despesa financeira, ainda que incorporados ao capital social ou imputados
aos dividendos, tendo como contrapartida a conta de disponibilidade, no caso de pagamento imediato ou do
passivo circulante, no caso de crédito dos juros para posterior pagamento.
A pessoa jurídica beneficiária dos juros remuneratórios do capital próprio, pagos ou creditados por
sociedade da qual seja sócia ou acionista, deverá registrar o respectivo valor em conta de receita financeira,
no resultado, tendo como contrapartida conta de disponibilidades, no caso de recebimento imediato ou de
valores a receber, no ativo circulante (arts. 29 e 30 da Instrução Normativa SRF nº 11/96).
Para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os juros remuneratórios do capital próprio quando
“imputados ao dividendo obrigatório”, pagos ou creditados aos sócios ou acionistas, não configuram despesa e
devem ser registrados como distribuição de resultado.
Portanto, de acordo com a Deliberação CVM nº 863/12, as companhias abertas devem contabilizar esses
juros diretamente a débito da conta de “Lucros Acumulados”, no patrimônio líquido, sem afetar o resultado do
exercício, como ocorre com os dividendos e demais destinações dadas ao lucro.
Na hipótese de, para atendimento à legislação fiscal, a companhia aberta registrar os juros
remuneratórios do capital próprio em conta de resultado, a Deliberação CVM nº 683/12 determina que os
valores registrados como despesa ou como receita financeira no resultado do exercício sejam revertidos, de
modo que o lucro líquido ou o prejuízo do exercício seja demonstrado sem que haja reflexos da contabilização
dos juros.
Essa reversão deve ser feita na última linha da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), antes
do “Lucro Líquido” ou do “Prejuízo do Exercício”, em título próprio que poderá denominar-se “Reversão dos
Juros sobre o Capital Próprio”.
De acordo com o art. 182 da Lei nº 6.404/76, as contas que compõem o patrimônio líquido e o capital
próprio são:
a) capital social;
b) reservas de capital;
c) ajustes de avaliação patrimonial;
d) reservas de lucros;
e) prejuízos acumulados; e
f) ações em tesouraria (conta retificadora) ou quotas em tesouraria nas sociedades limitadas.
Todavia, não são todos os componentes do patrimônio líquido que servirão de base para o cálculo dos
juros sobre o capital próprio, conforme veremos a seguir.
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Para compor a base de cálculo dos juros sobre o capital próprio não deverão ser considerados, salvo se
forem adicionados na determinação do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro,
os seguintes valores:
a) reserva especial relativa à correção monetária facultativa de bens do ativo não circulante referida à
data de 31/01/1991 (art. 460 do RIR/99);
b) ajustes de avaliação patrimonial a que se refere o § 3º do art. 182 da Lei nº 6.404/76, com a
redação dada pela Lei nº 11.638/07 (art. 59 da Lei nº 11.941/09).
Observe-se ainda que, para efeito de cálculo dos juros remuneratórios do capital próprio, o lucro auferido
no período de apuração não deve ser computado como integrante do patrimônio líquido.
6. TJLP em 2013
A TJLP é uma taxa de juros anual válida para um trimestre, divulgada por meio de Circulares do Banco
Central do Brasil, que pode ser pesquisada na nossa Agenda de Obrigações Federais.
Em 2013, as TJLPs (i) divulgadas pelo Banco Central do Brasil foram:
1º trimestre/2013.................................................... 5%
2º trimestre/2013.................................................... 5%
3º trimestre/2013.................................................... 5%
4º trimestre/2013.................................................... 5%
Observe-se que, por meio de um cálculo linear, mediante a soma de 3/12 da TJLP anual vigente em
cada trimestre do ano, tendo em vista a TJLP ter-se mantido estável no decorrer do ano-calendário, chegamos
ao mesmo percentual anual:
Soma 5,00%
7. Exemplo
Admitamos que a empresa “X”, em 31/12/2012, apresente a seguinte composição de seu patrimônio
líquido:
- Reservas de Lucro
- Legal......................................................................... R$1.500.000,00
- Estatutária................................................................. R$750.000,00
- Contingências............................................................ R$500.000,00
- Total......................................................................... R$13.450.000,00
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- PL Ajustado............................................................... R$12.450.000,00
- soma......................................................................... R$2.450.000,00
Observe que, muito embora os juros calculados por meio da aplicação da TJLP acumulada para 2013
tenham gerado a quantia de R$ 622.500,00 a ser pago, o limite dedutível para fins fiscais é de R$
1.225.000,00 correspondentes à metade dos juros acumulados nas contas de reservas, subtraídos os
prejuízos acumulados.
- Reservas de Lucro
- Legal........................................................................ R$ 3.000.000,00
- Estatutária................................................................ R$ 2.450.000,00
- Total......................................................................... R$ 25.150.000,00
- total do PL R$ 25.150.000,00
- PL ajustado R$ 24.650.000,00
5% de R$ 24.650.000,00 = R$ 1.232.500,00
- soma......................................................................... R$ 1.388.750,00
Logo, o total dos juros calculados pela aplicação da TJLP é dedutível para efeitos fiscais.
Em razão de a condição para a dedutibilidade fiscal dos juros sobre o capital próprio ser o seu registro
como despesa financeira e admitindo-se que os juros calculados no subitem 7.1. pela empresa “X” sejam
destinados ao pagamento aos acionistas em 30/03/2014, faremos os seguintes registros:
a) em 31/12/2013, como despesa financeira:
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Notas Cenofisco:
1. Os juros sobre o capital próprio ficarão sujeitos à incidência do Imposto de Renda Retido na
Fonte (IRRF) à alíquota de 15% na data do pagamento ou crédito ao beneficiário.
2. Considera-se creditado, individualizadamente, o valor dos juros sobre o capital próprio,
quando a despesa for registrada na escrituração contábil da pessoa jurídica, em contrapartida a
conta ou subconta de seu passivo exigível, representativa de direito de crédito do sócio ou
acionista da sociedade ou do titular da empresa individual (art. 1º da Instrução Normativa SRF nº
41/98).
Em 31/12/2013, admitindo-se que a empresa “X” seja uma companhia aberta, foi necessário efetuar a
reversão dos juros sobre o capital próprio na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), conforme
prescreve a Deliberação CVM nº 683/12.
A contrapartida do ajuste na DRE será na conta “Lucros ou Prejuízos Acumulados”, portanto, os juros
sobre o capital próprio irão figurar na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), como
parcela de lucro distribuído.
Acreditamos que a forma adequada de cumprir a exigência da CVM seja por meio de lançamento a
débito da conta “Lucros ou Prejuízos acumulados”, no patrimônio líquido, e a crédito da conta “Ajustes dos
Juros sobre o Capital Próprio” no resultado.
Ajustes dos Juros sobre o Capital Próprio - Despesas Financeiras (Conta de 622.500,00
Resultado)
Histórico: Pelo ajuste do resultado referente aos juros sobre o capital próprio registrado como despesa
financeira no exercício, em cumprimento à legislação fiscal.
O encerramento da conta de ajuste contra a conta “Apuração do Resultado do Exercício (ARE)” implicará
a transferência para o patrimônio líquido do lucro sem os efeitos do registro dos juros sobre o capital próprio
como despesa financeira.
Admitamos que, antes do ajuste dos juros sobre o capital próprio, tenhamos a seguinte situação:
Demonstração do Resultado do Exercício de 2013
(...)
Lucro Líquido após as Participações 600.000,00
Após o ajuste, a Demonstração do Resultado do Exercício ficará assim:
Demonstração do Resultado do Exercício de 2013
(...)
Lucro Líquido após as Participações 600.000,00
+ Ajustes dos Juros sobre o Capital Próprio 622.500,00
Lucro Líquido Ajustado 1.222.500,00
Após o ajuste dos juros sobre o capital próprio, transfere-se o saldo remanescente na conta “Apuração
do Resultado do Exercício (ARE)” para a conta “Lucros ou Prejuízos Acumulados”, no patrimônio líquido.
Admitindo-se que a empresa “B”, em 30/03/2014, receba R$ 200.000,00 da empresa “C” a título de juros
sobre o capital próprio, pelo investimento que mantém naquela sociedade que, em razão das normas fiscais,
serão registrados da seguinte forma:
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Histórico: Valor referente ao recebimento de juros sobre o capital próprio da empresa “B”.
No caso de a empresa ter conhecimento, por meio da divulgação pela imprensa ou de notificação, do
direito ao recebimento dos juros, este poderá ser reconhecido antes do recebimento. Dessa forma, admitindo-
se que a empresa “B”, em 31/01/2014, tomou conhecimento oficial do direito a receber os juros sobre o capital
próprio da empresa “C”, com data de pagamento estabelecida para 31/03/2014, efetua-se o seguinte registro:
Histórico: Pela apropriação dos juros sobre o capital próprio a receber da empresa “C”.
Histórico: Valor referente ao recebimento de juros sobre o capital próprio da empresa B no exercício de 2013
em 31/03/2014.
Admitindo-se que a empresa “B” seja uma companhia aberta; que o investimento na empresa “C” seja
avaliado pelo método da equivalência patrimonial e, ainda, que, por ocasião da avaliação, os juros pagos
compunham o PL da investida, em 31/12/2013, efetuou-se o ajuste a seguir, de acordo com a Deliberação
CVM nº 683/12:
Ajustes dos Juros sobre o Capital Próprio - Despesas Financeiras (Conta de 200.000,00
Resultado)
Histórico: Pelo ajuste do resultado referente aos juros sobre o capital próprio registrado como receita
financeira no exercício, em cumprimento à legislação fiscal na data de 31/12/2013.
A legislação fiscal prevê a possibilidade de capitalização dos juros sobre o capital próprio, que não
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sofrerá a retenção do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) e deverá ser registrado conforme
demonstrado a seguir.
Para a sociedade investida, a capitalização dos juros implicará, inicialmente, a sua destinação para uma
conta de adiantamento para aumento de capital, na qual permanecerá até a consumação do ato por meio do
registro na Junta Comercial, pela ata de alteração do estatuto social ou do contrato social.
No caso de a investida ter observado apenas os procedimentos fiscais para o registro dos juros, por
ocasião da capitalização, esta deverá baixar da conta “Juros sobre o Capital Próprio a Pagar” do passivo
circulante o valor correspondente ao aumento de capital e creditar a conta “Adiantamento para Aumento de
Capital”, no patrimônio líquido.
Admitindo-se que a empresa “A”, em 31/12/2013, apresente o saldo de R$ 500.000,00 na conta “Juros
sobre Capital Próprio a Pagar”, no passivo circulante, e decida capitalizar esse valor, por meio de alteração de
contrato social em 31/01/2014, devidamente arquivado na Junta Comercial de seu Estado, teremos os
seguintes registros:
a) pela destinação dos juros ao aumento do capital:
Histórico: Pela destinação dos juros sobre o capital próprio para aumento de capital social.
Na companhia aberta, o valor dos juros sobre o capital próprio deverá ser destinado ao aumento de
capital a partir da conta de “Lucros ou Prejuízos Acumulados” e registrado em conta específica de “Reserva de
Lucros” até a sua capitalização.
Admitindo-se, agora, que a empresa “A” exemplificada no subitem anterior seja uma companhia aberta,
teremos o seguinte lançamento para a capitalização dos juros:
Histórico: Pela destinação dos juros sobre o capital próprio ao aumento de capital social em 31/12/2013.
A capitalização dos juros na investidora deverá observar a forma de avaliação adotada para o
investimento, a saber:
a) avaliação pelo método da equivalência patrimonial:
a.1) na hipótese de os juros comporem o valor do patrimônio líquido da investida, não há
lançamento a ser efetuado, pois não há alteração no tamanho do Patrimônio Líquido da investida;
a.2) ajusta-se o valor do investimento pelo montante capitalizado, no caso de os juros não
comporem o Patrimônio Líquido da investida;
b) avaliação pelo custo: registra-se o valor capitalizado como acréscimo do custo de aquisição,
observando-se a necessidade de registro em conta de adiantamento para aumento de capital, no
realizável a longo prazo ou no próprio subgrupo de investimentos avaliados pelo custo, antes de
confirmada a alteração contratual ou do estatuto.
Vejamos, por exemplo, o caso de a empresa “B” já ter reconhecido o direito de receber dos juros sobre o
capital próprio, no valor de R$ 200.000,00, conforme exemplificado no subitem 7.4, decorrente do investimento
avaliado pelo custo que mantém na empresa “C”, cujo montante, em 31/01/2014, decidiu-se que será
incorporado ao capital social da investida por meio de alteração do contrato social arquivado na Junta
Comercial.
A empresa “B” registrará o valor capitalizado da seguinte forma:
a) por ocasião da decisão sobre a capitalização:
Histórico: Pela destinação dos juros sobre o capital próprio ao aumento de capital social da empresa “B” em
31/01/2014.
Histórico: Pela destinação dos juros sobre o capital próprio ao aumento de capital social da empresa “Z” em
31/01/2012.
Investimento
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Situação 2 - depois da destinação dos juros sobre o capital próprio ao capital social:
Investimento
Lucros
MEP - 50% 1.000.000,00 500.000,00
Acumulados
de “C”
Observe no exemplo que não houve alteração no valor do Patrimônio Líquido da investida “C”, não
havendo, portanto, nenhum registro a ser feito no investimento da investidora “B”.
Vejamos, agora, o caso de os juros não comporem o patrimônio líquido da investida:
Investimentos
Capital 1.000,00
MEP -
Lucros
acumulados 500,00
Total PL 1.500,00
Total Passivo +
Total 2.000,00 Total 2.000,00 Total 2.000,00 2.000,00
PL
Admitindo-se a capitalização dos juros sobre o capital próprio que já estavam fora do Patrimônio Líquido
da investida, devemos baixar o valor a receber já reconhecido no ativo circulante e ajustar a conta de
investimento da seguinte forma:
Histórico: Baixa dos juros a receber para ajuste do investimento avaliado pelo custo em razão da
capitalização dos juros sobre o capital próprio em 31/01/2014.
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Investimento
Lucros
MEP - 50% de 1.000,00 500,00
Acumulados
“B”
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