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EVANGELISMO
adotar milhões de filhos que queriam ser semelhantes a Jesus e refletir sua imagem.
Antes da criação do universo, Deus estava planejando a redenção e a restauração da
semelhança divina que o homem viria a perder com o pecado (Ef. 1.4; Rm. 5.12). “Este
é o meu Filho amado...”, proclamação do Pai no batismo de Jesus e na transfiguração,
o confirma. A evangelização é o plano de Deus por meio do qual a perfeita semelhança
de Deus em Jesus Cristo poderá ser implantada no homem caído.
A criação à semelhança de Deus tinha por objetivo tornar possível a comunhão
do homem com Deus. O livre arbítrio do homem existe para que ele escolha adorar ao
seu Criador. A primeira pergunta do catecismo menor “Qual o fim principal do
homem?” tem como resposta muito acertada: “Glorificar a Deus e gozá-lo para
sempre”. Aqui jaz a condenação do homem, “porquanto, tendo conhecimento de Deus,
não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças...” (Rm.1.21). O homem pecador
desviou-se do propósito central da criação divina ao buscar em outros homens sua
própria glória, e não a glória de Deus (Jo. 5.44).
Qualquer coisa ou objeto que não cumpra o seu propósito é descartado. “...Podes
cortá-la [a figueira]; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?” são palavras
que Jesus coloca na boca do homem que em vão procura figos em sua figueira (Lc.
13.17). Que utilidade terá para Deus o homem que nega com a vida e com os lábios a
razão por que Deus lhe deu o sopro da existência? Assim como o navio foi feito para
flutuar e a caneta para escrever, o objetivo único da criatura é servir ao Criador.
Como portador da imagem divina, o homem é capaz de compreender
inteligentemente a palavra de Deus e de atender a ela de modo racional. Ele é capaz de
obedecer a Deus e de servi-lo. Pode louvá-lo e honrá-lo. À medida que o faz, o
propósito para que fosse criado é alcançado. Por meio da evangelização, Deus busca
restaurar pecadores “inúteis” direcionando-os para objetivo original que ele lhes
reservara no momento de sua criação.
Deus ordena a evangelização porque ela coincide com seus propósitos eternos.
Um dos principais intuitos de Deus ao criar seres inteligentes era revelar-lhes as
riquezas de sua glória. A palavra “glória” na Bíblia significa “riqueza, peso, brilho,
causa evidente para honra e admiração”. Por que tanta imensidão num universo
ponteado de incontáveis estrelas? Segundo os astrônomos, nosso sol é uma estrela
comum, porém um milhão de vezes maior que a Terra. Por que Deus faria cem bilhões
de estrelas e de sóis se quisesse povoar apenas uma galáxia? Que intenção teria em
lançar no espaço milhões de galáxias com suas centenas de bilhões de sóis? Certo
astrônomo comparou o número de estrelas ao número de grãos de areia de todas as
praias do mundo. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as
obras das suas mãos” (Sl. 19.1). Todavia, somente os homens e os anjos são capazes
de captar essa mensagem fantástica e atender a seu apelo com louvor reverente. Só as
criaturas inteligentes podem admirar-se de seu poder infinito e da força de sua glória
(Ef. 1.19).
João Calvino apresenta-nos três metáforas que podem ajudar nossa imaginação
perante a criação.
1. A criação é um teatro deslumbrante, em que a glória de Deus pode manifestar-
se. Devemos corresponder à majestade e ao poder de tudo quanto ele fez com aplausos
e louvores.
2. A criação é um espelho a nos lembrar de que só podemos conhecer a Deus
pelo seu reflexo. Nem mesmo uma criança que não saiba ler confundiria uma pintura
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com a pessoa que lhe serviu de modelo, podendo facilmente identificar “quem” é a
pessoa do retrato.
3. A criação é a vestimenta de Deus. Como ele é invisível, faz da criação suas
roupas para mostrar que está presente de fato.
As “roupas” da criação não estão “penduradas”, sem ter quem as use, tampouco
é essa a situação do universo. Herman Bavink é muito feliz em dizer que, de acordo
com a Escritura, o universo inteiro é obra da criação, portanto, é revelação de Deus.
Nada existe que seja ateu no sentido absoluto da palavra.
Logicamente, se o universo tivesse sido formado pelo mero desejo de deus
expresso em palavras (Hb. 11.3), disso se seguiria que o alto preço do sacrifício
humilhante de seu Filho deveria tornar sua glória evidente num grau
incomparavelmente maior. As galáxias, criadas exclusivamente pela palavra de Deus,
tomaram-lhe apenas um dia. A redenção, incluindo a encarnação, a vida e a paixão de
Jesus Cristo exigiram mais de trinta anos. Não deveria sua glória ser
incomparavelmente maior?
Quando homens e mulheres abraçam a fé no Redentor e se rendem à sua vontade,
a glória de Deus resplandece com louvor exultante de um modo que não é possível a
muda criação material.
Paulo refere-se a essa realidade em II Coríntios 4.15: “Porque todas as coisas
existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações
de graças por meio de muitos, para glória de Deus”. Pedro confirma esse caráter
especial do povo escolhido e redimido por Deus: “Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz” (I Pe. 2.9). Não há dúvida de que Deus reúne e forma sua igreja para que seu povo
o glorifique com louvores. A evangelização, como meio ordenado por Deus para atrair
os pecadores para sua família, deveria estimular os cristãos a glorificarem a Deus por
intermédio do louvor agradecido e da vida transformada.
Pedro exorta seus leitores a usarem seus dons espirituais para servirem a outros,
seja por palavras, seja por ações, “para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado,
por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos
séculos” (I Pe. 4.11). Sem a evangelização, não haveria igreja nem dons por meio dos
quais pudesse ser revelada ao mundo a glória de Deus. A missão da igreja pode ser
assim sintetizada: Tornar Deus conhecido em toda a majestade de sua pessoa, dar a
conhecer a oferta de perdão de sua graça, o poder transformador de seu sofrimento
encarnado (Fp. 3.10) e seu propósito escatológico para a história “de fazer convergir
nele [...] todas as coisas, tanto ass do céu como as da terra” (Ef. 1.10; I Co. 15.24-28).
Deus busca os homens para que possa expressar seu amor e sua compaixão. Em
I João 4.8, lemos que “Deus é amor”; isso significa que ele não pode deixar de oferecer
o seu dom de amor ao homem transgressor.
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” é
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uma verdade com a qual estamos tão familiarizados, que há o risco constante de que
perca o seu impacto. Essa verdade nos lembra a todos de que o amor de Deus é de tal
modo incompreensível, que nos oferece o melhor dom que Deus tem para nos dar. Ao
nos responsabilizar pela evangelização, Deus confia a nós, seus agentes, a tarefa de
instar com os perdidos para que não deixem de usufruir de sua oferta magnífica de
perdão e de reconciliação.
Jesus disse á mulher anônima do poço de Samaria que, se ela conhecesse “o dom
de Deus e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água
viva” (Jo. 4.10). Ao mostrar a essa pecadora quanto Deus deseja ser conhecido e quanto
quer compartilhar a benção eterna da salvação, Jesus retratou-se a si mesmo como um
Deus que ama os pecadores e deseja sinceramente abençoá-los com a salvação eterna.
Segundo Paulo, a esperança cristã jamais decepcionará quem quer que a receba,
“porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos
foi outorgado” (Rm. 5.5). Como a água que vaza pela base de uma grande barragem,
também o amor de Deus não pode ser represado. Ele flui em todo coração que esteja
aberto e preparado. Deus usa a evangelização para tornar o coração humano apto para
receber o seu amor. Por isso, Pedro escreve: “Tendo purificado a vossa alma, pela vossa
obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de
coração, uns aos outros ardentemente” (I Pe. 1.22).
A natureza divina, em sua busca pelo pecador, foi muito bem definida como
centrífuga e centrípeta há um só tempo. Isto significa que Deus vai ao encontro do
homem para trazê-lo para perto de si. Ao buscar o perdido (Lc. 19.10) em círculos cada
vez mais amplos, ele não se dará por satisfeito até que o evangelho seja pregado no
mundo inteiro (Mt. 24.14; Mc. 13.10). O sangue precioso de seu Filho foi o preço pago
para comprar “para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap.
5.9).
O amor de Deus abraça todo o planeta por intermédio de homens e mulheres
enviados a atrair o mundo inteiro para ele mesmo (Jo. 12.32). Os que creem formam
um só rebanho guiado por um único pastor (Jo. 10.16). Ele, o Bom Pastor, entregou
voluntariamente sua vida por suas ovelhas.
O amor profundo de Deus fez com que Jesus ordenasse a Zaqueu que descesse
da árvore e desfrutasse da comunhão com ele à mesa dos pecadores. Jesus proclamou
a chegada da salvação naquela casa, “porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o
perdido” (Lc. 19.10). O amor de Deus não pode ser barrado pela corrupção e ganância
humanas em face do arrependimento verdadeiro. Zaqueu também “é filho de Abraão”
(Lc. 19.9). Isto significa que ele também não foi excluído da comunicação amorosa do
Deus que busca o pecador.
De modo semelhante, Paulo explica sua própria salvação: “Fiel é a palavra e
digna de toda aceitação: Que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos
quais eu sou o principal” (I Tm. 1.15). Portanto, esse é um tema recorrente que permeia
toda a Bíblia. Deus é um Deus que busca; seu amor sem igual impele-o a buscar
incessantemente os pecadores. Nem a geografia nem a raça devem ser empecilhos a
esse amor pelo mundo (Jo. 3.16).
O uso que o Dr. Richard Bowie faz do termo “centrípeto” ajuda-nos a
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compreender o amor de Deus pelas nações. A missão de Israel às nações tinha por
objetivo atraí-los ao Deus de Israel, para que assim aprendessem a obedecer e a adorar
ao Deus verdadeiro e a crer nele.
Por outro lado, o Novo testamento expressa um interesse centrífugo pelo mundo
em vários textos. A Grande Comissão ordena a todos os cristãos que partam e façam
discípulos em todas as nações. O caráter centrípeto da evangelização centraliza-se na
comunhão com a igreja, o lar espiritual dos que decidem arrepender-se e confiar na
verdade do evangelho.
A graça de Deus pode ser mais bem apreciada pela expressão concreta do seu
amor. O amor é o incentivo, a graça é a consequência prática. Depois de descrever a
condição de impotência do pecador, morto em seus delitos e pecados e totalmente
dominado pelo príncipe deste mundo, Paulo acrescenta: “Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em
nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo [...]. Porque pela graça sois
salvos...” (Ef. 2.1, 5). A palavra “graça” refere-se ao que Deus fez pelos pecadores por
causa de seu amor e de sua misericórdia sem fim.
Deus não amou mais o mundo depois do Calvário, nem o amava menos antes do
nascimento de Jesus. A vinda do Salvador ao mundo, porém, revela a graça de Deus
em sua forma histórica e concreta (Jo. 4.42). Diz João: “E o Verbo se fez carne e habitou
entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito
do Pai” (Jo. 1.14). A graça de Deus tomou aspecto e forma na pessoa de Jesus, a Palavra
encarnada (logos) de Deus.
Observe nesse versículo que o filho pré-existente e invisível de Deus vem ao
mundo em forma humana visível (Fp. 2.6; Jo. 1.1). Ao fazê-lo, a graça de Deus se
revela de modo que os homens possam “vê-la” e crer nela. Essa parece ser a maneira
de João afirmar que os anjos proclamam no nascimento de Jesus: “Glória a Deus nas
alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lc. 2.14NVI).
Dizer que o favor de Deus foi concedido aos homens equivale à graça que eles viram
nele (Jo. 1.14).
Paulo torna mais claro esse ponto. O motivo por trás dos grandes atos divinos de
salvação, tais como a eleição, a predestinação, a adoção, a redenção e o perdão, era
obter o louvor da glória da graça de Deus (Ef. 1.4-7, 12, 14). No grego, a expressão
“para louvor da glória de sua graça” tem significado inconfundível. A evangelização,
que proclama as bênçãos salvadoras de Deus, tem como principal objetivo a obtenção
do louvor da sua graça.
Quando espalhamos as boas novas por todo o mundo, cumprimos o desejo
supremo de Deus de se tornar conhecido e, consequentemente, louvado. É
especificamente como Deus de graça que ele deseja ser conhecido. O caráter glorioso
de sua graça soberana deveria evocar o louvor dos redimidos em toda parte (Ap. 5.13),
a exemplo do que fazem as hostes angelicais (Ap. 5.12).
Muitos salmos reverberam o tema da graça de Deus, a qual exige uma
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proclamação cheia de júbilo por todos quantos a tenham recebido. “Anunciai entre as
nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas” (Sl. 96.3). “Pois quanto
o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o
temem. Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas
transgressões” (Sl. 103, 11, 12). “Cantai louvores ao Senhor, porque fez coisas
grandiosas; saiba-se isto em toda a terra” (Is. 12.5).
Finalmente, não devemos menosprezar o poder transformador da graça:
“Porquanto a graça de Deus se manifestou a todos os homens” (Tt. 2.11). Ela nos ensina
a dizer “não” à impiedade e às paixões mundanas e a viver uma vida sensata, justa e
piedosa no presente século (Tt. 2.12).
Quando a graça muda em 180 graus o rumo da vida de um homem, de modo que
ele passa a buscar aquilo que desprezava, afastando-se do que exige desejava
ardentemente, ficamos face a face com o propósito evangelístico de Deus.
Charles Darwin, autor de A origem das espécies, obra de grande influência em
que sustenta a teoria da evolução, observou a conversão de um bêbado imprestável. Ele
reconheceu prontamente que nenhuma ciência ou tecnologia em todo o mundo poderia
ter realizado a mudança que presenciou. A graça restaura a nobreza perdida e inculca a
responsabilidade. Como disse, depois de longo sofrimento, a mulher de um alcoólatra
convertido: “Sei muito pouco sobre a transformação da água em vinho; mas sei muita
coisa sobre a transformação do vinho em mobília e em comida!”.
CONCLUSÃO
“Vós que aqui entrais, abandonai toda esperança!” Assim deveríamos todos
entender a morte da pessoa irregenerada. A palavra “desesperadora” provém de uma
raiz latina que designa uma esperança negada, portanto, tem o sentido de falta de
esperança, a menos que haja a interferência de um salvador. Essa é a trágica verdade,
frequentemente desprezada, que proclama a ira de Deus revelada do céu contra toda
impiedade (Rm. 1.18). O homem, por si só, não tem capacidade de se salvar. Sem Deus,
os esforços mais diligentes do homem estão destinados ao fracasso. A rebelião e o
pecado provocam a ira santa de Deus. A ira, palavra praticamente ausente do
vocabulário secular moderno, traduz apenas um dos termos bíblicos que expressam a
alienação resultante da desobediência do homem à lei de Deus. “Pois todos pecaram e
carecem da glória de Deus” (Rm. 3.23). Nesse versículo, temos o significado da origem
do pecado como fracasso. Estamos aquém do padrão que Deus requer, portanto, não
atingimos o alvo por ele proposto.
O catecismo da Nova Inglaterra afirma que “com a queda de Adão, todos nós
pecamos”. A desobediência de Adão no Éden foi realmente uma queda. A relação
original com Deus foi destruída. Culpa e a vergonha envenenaram a consciência de
Adão. Antes disso, ele havia desejado a comunhão com seu Criador; depois, escondeu-
se, tomado de ansiedade, sentindo a humilhação da vergonha. A inimizade havia
tomado o lugar da paz que caracterizava a comunhão vespertina com Deus. Adão via-
se agora como um criminoso diante de um juiz que deveria aplicar a sentença da lei em
sua totalidade, condenando o transgressor.
Ao eliminar o pecado de seu pensamento, o homem moderno praticamente
abraçou o ateísmo. Em seu livro What happened to sin? [O que aconteceu ao pecado?],
o psiquiatra Karl Menniger mostra como o homem moderno não se sente responsável
perante Deus. O mal perdeu sua dimensão vertical. A ofensa à sociedade gera muito
mais ansiedade do que a ofensa ao Senhor da glória.
A psicologia, neste século, tem procurado penetrar os recônditos obscuros da
alma para compreender a natureza dos sentimentos de culpa. A psicologia secular,
porém, não possui categoria alguma para “pecado”, restando ao conselheiro lançar mão
de tentativas superficiais de curar a “enfermidade de morte” com “pílulas de felicidade”
e diversão. Opta-se por qualquer coisa que desvie a mente de pensamentos funestos e
cubra as profundas chagas impingidas pelo pecado.
Como é diferente a forma por que a Bíblia avalia o dilema humano! O catecismo
de Heidelberg declara a verdade bíblica sobre a necessidade do homem. A resposta à
pergunta fundamental: “Quantas coisas são necessárias para que saibais que […] podes
viver e morrer em estado de felicidade?” É: “Três coisas: Primeiramente, a grandeza
de meu infortúnio; em segundo lugar, como sou redimido; e, em terceiro e último lugar,
como devo ser grato a Deus por essa salvação”.
Tentar evangelizar alguém que não se sinta angustiado por causa do pecado é
como tentar resgatar um homem que não percebe que se está afogando. Ninguém usa
paraquedas nos confortáveis jatos modernos de passageiros. Os paraquedas, contudo,
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Não somente o homem é “viciado” em pecar, mas também foi ele isolado por
Satanás. O objetivo do Lúcifer decaído que surge no Jardim não é segredo para
ninguém. Ao questionar a bondade de Deus – “É assim que Deus disse: Não comereis
de toda árvore do jardim?” – (Gn. 3.1) uma dúvida infernal foi ganhando dimensão na
mente do primeiro casal. Pouco tempo depois, Adão e Eva chegavam à conclusão de
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que a mentira da Serpente era uma verdade que Deus quis, maliciosamente, esconder
deles. Assim foi que o príncipe das potestades do ar alcançou o seu objetivo e, com ele,
o direito de controlar o homem e de fazer inclinar o seu desejo para a prática do mal e
não do bem. Paulo revela-nos que “o deus deste século cegou o entendimento dos
incrédulos” (II Co. 4.4). A imaginação, os pensamentos e as ambições malignas fazem
com que a mente deseje tirar vantagem das ofertas misericordiosas de Deus (como a
paz, a vida eterna, o céu etc.), ao mesmo tempo em que lhe reserva o desprezo e
desdenha de sua santidade.
Satanás escraviza o homem pelo poder do pecado (Jo. 8.34). Os pecadores,
ensurdecidos para a palavra de Deus, deixaram de ser parte da criação divina, onde
tudo era bom, para se tornarem filhos do diabo (Jo. 8.44), cumprindo alegremente as
vontades dele. A expressão “filhos da desobediência” (Ef. 2.2; 5.6) descreve muito
apropriadamente a rejeição da autoridade divina e a sujeição à vontade de inspiração
satânica que se manifesta por meio de demônios e do “espírito” deste século. Em sua
avaliação, João afirma claramente que “o mundo jaz no maligno” (I Jo. 5.19). Os
homens foram apanhados na armadilha do maligno, “tendo sido feito cativos por ele,
para cumprirem a sua vontade” (II Tm. 2.26). O poder espiritual de Satanás sobre o
homem é de tal magnitude que somente os que estiverem inteiramente revestidos com
a poderosa armadura de Deus terão uma chance de ganhar essa luta (Ef. 6.10-17).
Sutileza, decepção e engano são as principais armas de seu arsenal (II Co. 11.3; Ap.
12.9; 13.14; 19.20; 20.3).
O objetivo do diabo é destronar a Deus e exaltar-se acima de todos. Ezequiel diz:
“Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura” (Ez. 28.17). As palavras de Isaías
bem poderiam ter sido proferidas por Satanás: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas
de Deus exaltarei o meu trono [...] serei semelhante ao Altíssimo” (Is. 14.13, 14).
Emile Caillet foi muito feliz quando disse que “o egocentrismo é a essência do
pecado”. Portanto, a autossuficiência do homem é a própria medida completa de sua
solidão. Torna-se impossível dirigir-se a tal homem, tampouco é ele responsável. É
como se estivesse infectado pelo mal. Ali, no âmago de seu ser, ele entra em contato
com uma camada profunda de forças ocultas latentes; ele se comunica com o
inconsciente coletivo de onde emerge orgulhosamente qual um deus todo-poderoso.
Como o Mefistófeles do fausto, ele incorpora então o espírito que anela por tudo no
mundo que seja precioso. Como homem, ele se torna aliado do diabo e se opõe aos
justos direitos de Deus. Sua condenação á a mesma de Satanás (Ap. 19.20; 20.15).
As boas novas da evangelização é que Deus preparou uma solução para o pecado
do homem. Desde o princípio, quando o pecado entrou no mundo, Deus deixou claro
que Satanás não teria a palavra final. A história narrada pela Bíblia vem sendo chamada
história da salvação, ou seja, é a narração da resposta divina à maldade do homem por
meio de atos e de apelos redentores. A queda de Adão trouxe à tona o protoevangelho
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promessa do povo santo contaminado pela idolatria pagã. Moisés tornou explícita a
promessa que ele mesmo não poderia cumprir. “O Senhor, teu Deus, te suscitará um
profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás...” (Dt. 15.15).
No início do período dos reis, quando Saul ocupava o trono, a decepção por causa
de sua desobediência fez com que fosse rejeitado. Deus assentou a Davi no trono de
Israel, homem segundo o coração de Deus, embora fosse adúltero. Sua família foi
vítima do homicídio e da subversão. O desejo de algo melhor aparecia na mensagem
de Natã: “...farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e
estabelecerei seu reino. [...] estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei
por pai, e ele me será por filho...” (IISm. 7.12-14). O fracasso de Israel em aceitar a
responsabilidade de propagar o conhecimento de Deus às nações aparece na poesia
descritiva de Isaías: “Como a mulher grávida, quando se aproxima a hora de dar à luz,
se contorce e dá gritos nas suas dores, assim fomos nós na tua presença, ó Senhor! [...]
mas o que demos à luz foi vento; não trouxemos a terra livramento algum, e não
nasceram moradores do mundo” (Is. 26.17-18).
A cegueira e a insensibilidade obtusa sobreviriam ao povo de Deus em
consequência de sua incapacidade em abençoar as nações com o conhecimento de Deus
e de sua lei (Is. 6.10). Sjogren argumenta que, “tendo em vista a recusa de Israel, como
nação, de se dirigir aos povos do mundo, Deus o cega. Não fosse assim, sua culpa teria
sobrepujado a graça divina. Deus teria então de julgar a Israel com a destruição, o que
teria afetado sua reputação”. Além do mais, até a vinda de Cristo, a mensagem de Israel
caracterizara-se por uma mistura desordenada a que se juntam acréscimos culturais e
ideias sincréticas.
O mistério do plano de Deus – abençoar as nações – só poderia desvelar-se
totalmente na consumação do sacrifício de seu Filho, na cruz, e na ressurreição para
nossa justificação (Ef. 3.3-6; Rm. 16.25, 26). A descrição de Isaías é de um servo (isto
é, Israel) surdo e cego (Is. 42. 18-20), porém, a descrição do Servo (referência ao Cristo,
o Messias, que toma sobre si o pecado) é de alguém que “promulgará o direito para os
gentios” (Is. 42.1). O servo surdo e cego torna-se, por eliminação, “meu Servo, o
Justo”, que foi “transpassado pelas nossas transgressões [...] e pelas suas pisaduras
fomos sarados” (Is. 53.5). “Ele verá o fruto penoso trabalho de sua alma e ficará
satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos” (Is.
53.11). Depois da ressurreição do Servo (o Messias), Deus diz: “...também te dei como
luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” (Is. 49.6).
Como poderíamos chegar a outra conclusão? O Israel sem fé foi substituído pelo Servo,
Filho de Deus, totalmente qualificado para tirar “o pecado do mundo” (Jo. 1.29).
DEFINIÇÃO
IMPLICAÇÕES E COROLÁRIOS
dia a dia, os que iam sendo salvos” (At. 2.47). Que outra razão poderia explicar a ordem
de Jesus aos discípulos para que esperassem em Jerusalém pelo dom do Espírito Santo
(Lc. 24.49; At. 1.4) antes de partirem para o cumprimento da missão de suas vidas?
Somente o Espírito Santo é capaz de lançar no mar as montanhas da ignorância
religiosa, da oposição demoníaca, da incredulidade inflexível ou da inexpugnável
postura defensiva. A evangelização eficaz requer o poder divino (Mc. 11.23). Nenhum
ser humano, por si só, não importa quão talentoso ou bem treinado, poderá eliminar as
barreiras erguidas para a preservação do status quo da indiferença ou da hostilidade
contra Deus.
6- Finalmente, vale a pena analisar a “Escala Engel”. O professor Engel
desenvolveu sua escala para que os evangelistas e missionários pudessem avaliar a
distância ou a proximidade dos crentes em potencial em relação a uma tomada de
decisão capaz de transformar-lhes a vida. O próprio Jesus observou que um daqueles
que o questionava estava “próximo do Reino”.
Engel estabelece oito passos por meio dos quais determina a posição de uma
pessoa em sua escala:
1. Arrependimento e fé
2. Tomada de decisão
3. Conhecimento pessoal do pecado e da necessidade de salvação
4. Entendimento do preço da aceitação do evangelho
5. Atitude positiva em relação ao evangelho
6. Conhecimento dos fundamentos do evangelho
7. Conhecimento elementar do evangelho
8. Conhecimento de Deus e ignorância do evangelho
O papel do evangelista em cada um dos passos pode ser resumido em uma única
frase, “Proclamação do evangelho”, em seu aspecto mais condizente com a
possibilidade de conduzir o crente em potencial a uma entrega a Cristo. O Espírito
Santo atua para criar interesse, convicção de pecado e um desejo de arrependimento e
de fé em Cristo. Essa escala deve estimular o evangelista a se aproximar cada vez mais
de uma decisão por Cristo.
Quaisquer que sejam as aberrações da fé, sempre haverá alguém que reivindicará
a legitimidade de sua heresia. Todavia, mais sérias do que tudo o mais são as posições
sustentadas pelos incrédulos dos últimos dias. Eles creem que a Bíblia não pode ser
tomada como fonte objetiva de verdade. Supondo, a exemplo de muitos teólogos
“liberais”, que as Escrituras não passam de escritos humanos, sua proclamação do
evangelho soará oca e destituída de autoridade. Billy Graham declarou há muitos anos
que sua decisão de acatar a Bíblia como a verdadeira palavra de Deus foi um divisor
de águas em sua carreira ministerial. A verdade infalível continua a ser o alicerce da
evangelização.
Evangelismo e Religião
Alguém poderá não aceitar o fato de que Deus condiciona sua mensagem á
cultura de cada povo. Entretanto, independente dos fatos históricos que poderíamos
citar como exemplos, incluindo-se aí o próprio povo de Israel, bastariam conhecer
outros povos, sua cultura, sua formação e suas particularidades, para se concordar com
essa realidade à qual não se pode fugir.
Para um evangelismo mais eficaz, deve haver uma perfeita identificação com o
povo. Suas reais necessidades devem ser conhecidas para que o Evangelho alcance as
pessoas, suprindo aquilo que é preciso.
Ao falarmos sobre religião no Brasil, perguntamos: Qual é a religião do
brasileiro? Nosso povo se diz católico. No entanto, a maioria o é simplesmente por
tradição. Curiosamente, sua formação religiosa não foi produto da Igreja Católica
oficial, por meio de seus sacerdotes. Na verdade, foi uma espécie de tradição religiosa
popular, transmitida de geração em geração, quase uma religião dentro do catolicismo.
Essa tradição religiosa popular apresenta sinais de sincretismo com as religiões
africanas; espiritualistas europeias e, com a influência do oriente sobre o ocidente, com
as religiões orientais.
I- A Religiosidade Popular
A própria igreja católica tem, na palavra dos seus representantes em nosso País,
afirmado a necessidade de um ponto de encontro com a religiosidade popular inerente
ao nosso povo, para melhor identificá-lo com a fé apostólica romana. Tal fato não traria
benefícios para o cristianismo via Europa, enxertado com a mitologia greco-romana,
que o transforma muito mais em uma religião pagã do que em uma doutrina cristã nos
moldes do Antigo Testamento.
Dado o grande crescimento das religiões e seitas de origem africana, como
Umbanda, Quimbanda, Candomblé se pode afirmar que 70% dos católicos, em nosso
país, identificam-se direta ou indiretamente com essas crenças.
O grande sincretismo entre catolicismo e espiritismo (nas suas várias
ramificações) dá ao povo uma religiosidade digna de ser bem compreendida por nós,
para que possamos ser mais eficientes no cumprimento de nossa tarefa.
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causa da religião que pratica. Por mais erradas que julguemos estar, devemos
considerar também suas verdadeiras intenções.
4- Fale de Deus – Pregar é falar de Deus, de seu Filho, Jesus Cristo, e do bem
que deles provém. As Escrituras são ricas em promessas de bênçãos, em exemplos de
fé e em demonstrações do poder de Deus nas vidas daqueles que nele creem. As
Escrituras apontam o erro e insistem com as pessoas para que deixem seus maus
caminhos. Mas fazem isso com amor, com real interesse na vida do que se rende aos
seus amoráveis apelos.
5- Levem as pessoas a aproximarem-se de Deus – O dever do pregador é tentar
aproximar as pessoas de Deus. Quem converte, purifica e transforma é o próprio Deus,
através do Espírito Santo. O Espírito de Deus se encarregará de encaminhar a pessoa
para o crescimento na vida cristã. Aí, então, a igreja será muito útil, mas a obra inicial
é do Espírito.
6- Estimule as pessoas a crerem – A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de
Deus (Rm. 10.17). A pregação deve ser direta, concreta e objetiva. O que Deus promete
em Sua Palavra deve ser anunciado com todo vigor. Os testemunhos das Escrituras e
daqueles que têm sido abençoados devem ser propagados, para que as pessoas sejam
fortalecidas na sua fé.
Onde Evangelizar
I- Igreja
II- Casas
...e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de pregar Jesus, o Cristo (At.
5.42).
Como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas
casas (At. 20.20).
O evangelismo de casa em casa deve iniciar em nosso próprio lar. Sobre isso
trataremos em um próximo tópico. Vejamos como evangelizar outros lares:
1- Núcleos familiares – Já no nascimento da Igreja, os irmãos realizavam o que
hoje chamamos de núcleos ou células. Reuniam-se em convívio familiar a fim de
cultuar a Deus. Lídia e Crispo são exemplos de núcleos familiares.
Os núcleos são cultos realizados, geralmente em lares de pessoas evangélicas
que convidam seus vizinhos e parentes não salvos a participarem. Pessoas que, talvez
por preconceito, nunca tenham entrado em uma igreja evangélica, aceitarão o convite
para o culto no lar de um conhecido ou parente. Essa é uma oportunidade que não pode
ser desperdiçada.
2- Cultos Volantes – O culto volante é parecido com o núcleo familiar e muito
tem contribuído para o crescimento da igreja em nossos dias.
Pode ser realizado em lares de pessoas não salvas e que o aceitem
espontaneamente. Tanto no “núcleo” quanto no “volante”, algumas coisas devem ser
observadas, a fim de que as portas estejam sempre abertas e a obra caminhe sem
empecilhos.
a) Nunca atacar os presentes por causa de suas religiões, costumes, ou qualquer
outra coisa.
b) Não entrar com pés sujos ou molhados, nem com guarda-chuvas pingando
água. Isso bastaria para endurecer o coração de uma dona de casa com mania de
limpeza.
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III- Ao Ar Livre
Mateus, também chamado Levi, foi salvo por Jesus quando trabalhava em sua
coletoria (Mc. 2.14).
Não perca a oportunidade de falar de Cristo ao seu companheiro de trabalho.
Mas seja sábio e prudente. Conversar em horário de trabalho poderá trazer prejuízo a
você e – o que é pior – à outra pessoa. Aguarde um momento oportuno, como, por
exemplo, a hora do almoço ou café.
V- Hospitais
VI- Transportes
Foi enquanto viajava numa carruagem, pelo caminho que desce de Jerusalém a
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Gaza, que o eunuco, alto oficial da rainha de Candace, foi evangelizado por Filipe (At.
8.26-40).
Quanto tempo passa-se diariamente, sentados em uma condução, ao lado de
pessoas em quem mal prestamos atenção? Ou, se travamos conversação, é para falar
do tempo, do trânsito, do governo...menos de Jesus. Que perda de tempo! Habituem-
se a trazer na bolsa folhetos evangelísticos. Eles sempre ajudarão, caso você seja tímido
e não saiba como iniciar uma conversa com a pessoa que viaja ao seu lado.
atirando-os pelas ruas ou introduzindo-os por baixo das portas, como alguns costumam
fazer. Entregar folhetos é um ministério que deve ser apreendido e praticado. Ao
oferecer um folheto, sorria e seja simpático. Em qualquer ocasião, seu rosto deve
irradiar o amor de Cristo e a alegria do Espírito. Demonstre interesse na pessoa antes
de entregar-lhe o folheto. Cumprimente-a, faça uma observação ou pergunte algo sobre
o que ela estiver fazendo no momento. Sua mente e seu espírito devem estar orando
enquanto conversa com a pessoa. Caso ela não queira aceitar o folheto, não a obrigue
nem se desconcerte. Converse a amabilidade até o final da conversa. Despeça-se com
um convite para visitar a igreja. Esteja preparado para qualquer reação e aproveite-a
para firmar uma conversa ou marcar um encontro posterior.
Não perca o entusiasmo. Seja constante no trabalho de semear.