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EVANGELISMO

O objetivo deste curso é definir de modo conciso a evangelização. A fórmula a


que chegou o Congresso sobre Evangelização, realizado em 1966 em Berlim, descreve
de maneira prática e precisa o que seja a evangelização:
Evangelização é a proclamação do Evangelho do Cristo crucificado e
ressurreto, o único redentor do homem, de acordo com as Escrituras, com o
propósito de persuadir pecadores condenados e perdidos a pôr sua confiança em
Deus, recebendo e aceitando a Cristo como Senhor em todos os aspectos da vida e
na comunhão de sua igreja, aguardando o dia de sua volta gloriosa.

A Evangelização Brota no Coração de Deus

A CRIAÇÃO E A IMAGEM DE DEUS

Deus é eterno; o universo, porém, foi criado em determinado ponto do tempo.


Jamais houve época em que Deus não existisse, mas a Bíblia se refere a uma época
anterior à criação do mundo (Ef. 1.4). Os cientistas estão vividamente interessados em
descobrir como se deu o início do universo. Os cristãos deveriam estar muito mais
interessados em saber o porquê da existência de tudo o que há. Deus não teve de criar
o universo.
As escrituras lançam luz sobre essa questão das origens. Deus criou os mundos
do nada (ex nihilo) para seu próprio bem. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são
todas as coisas” (Rm. 11.36). Paulo, falando a respeito de Jesus, diz “...tudo foi criado
por meio dele e para ele” (Cl. 1.16; cf. Jo.1.3). Desde as galáxias em revolução nas
regiões mais remotas do universo até a menor das partículas subatômicas, Deus criou
todas as coisas para que refletissem seu poder.
O fato de que Deus criou todas as coisas para o seu próprio bem significa que
fez todas as coisas para o seu próprio bem significa que fez todas elas para sua própria
glória. Deus é soberano em seus atributos. Não fosse assim, ele seria um idólatra. O
fim supremo das obras divinas, como afirma Jonathan Edwards, é a glória de Deus.
Portanto, a criação é obra de Deus, cujo ápice é o homem, que o glorifica, adora e serve
lealmente. O homem é o zênite da revelação divina. Por ser portador da imagem de
Deus, sente a necessidade do eterno em seu coração (Ec. 3.11). Uma vez que o homem
é circundado e invadido pelo sentimento do divino, podemos explicar o anseio dos
corações desassossegados por significado e identidade.
Paulo procurou explicar aos cristãos de Roma que a criação original do homem
à semelhança (ou imagem) de Deus continua a ser o objetivo da nova criação.
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos” (Rm. 8.29).
O Dr. Vernon Grounds observou com acerto que Deus decidiu acolher-nos como
filhos por causa de seu grande apreço por Jesus Cristo. Consequentemente, dispôs-se a
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adotar milhões de filhos que queriam ser semelhantes a Jesus e refletir sua imagem.
Antes da criação do universo, Deus estava planejando a redenção e a restauração da
semelhança divina que o homem viria a perder com o pecado (Ef. 1.4; Rm. 5.12). “Este
é o meu Filho amado...”, proclamação do Pai no batismo de Jesus e na transfiguração,
o confirma. A evangelização é o plano de Deus por meio do qual a perfeita semelhança
de Deus em Jesus Cristo poderá ser implantada no homem caído.
A criação à semelhança de Deus tinha por objetivo tornar possível a comunhão
do homem com Deus. O livre arbítrio do homem existe para que ele escolha adorar ao
seu Criador. A primeira pergunta do catecismo menor “Qual o fim principal do
homem?” tem como resposta muito acertada: “Glorificar a Deus e gozá-lo para
sempre”. Aqui jaz a condenação do homem, “porquanto, tendo conhecimento de Deus,
não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças...” (Rm.1.21). O homem pecador
desviou-se do propósito central da criação divina ao buscar em outros homens sua
própria glória, e não a glória de Deus (Jo. 5.44).
Qualquer coisa ou objeto que não cumpra o seu propósito é descartado. “...Podes
cortá-la [a figueira]; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?” são palavras
que Jesus coloca na boca do homem que em vão procura figos em sua figueira (Lc.
13.17). Que utilidade terá para Deus o homem que nega com a vida e com os lábios a
razão por que Deus lhe deu o sopro da existência? Assim como o navio foi feito para
flutuar e a caneta para escrever, o objetivo único da criatura é servir ao Criador.
Como portador da imagem divina, o homem é capaz de compreender
inteligentemente a palavra de Deus e de atender a ela de modo racional. Ele é capaz de
obedecer a Deus e de servi-lo. Pode louvá-lo e honrá-lo. À medida que o faz, o
propósito para que fosse criado é alcançado. Por meio da evangelização, Deus busca
restaurar pecadores “inúteis” direcionando-os para objetivo original que ele lhes
reservara no momento de sua criação.

O DELEITE DE DEUS É O CORAÇÃO DE SEU PROPÓSITO

A ordem bíblica de evangelização precisa ser vista no contexto do deleite divino.


Assim como o motivo por trás de todas as ações visa o aumento da felicidade de Deus,
também as suas ações têm por único e exclusivo objetivo promover a sua alegria. Paulo,
em I Timóteo 1.11, se diz encarregado do “evangelho da glória do deus bendito” (em
grego, makarios, que significa “feliz”). Do mesmo modo que Deus é infinitamente
glorioso, também é infinitamente alegre. Deus nos fez para que desfrutássemos dele e
participássemos com ele de tudo o que lhe dá prazer.
Quando um jovem se apaixona por uma jovem, ou vice-versa, ele coloca como
o mais alto ponto de sua ambição o compartilhar das alegrias com a companheira. A
alegria torna-se maior quando compartimos sua razão de ser com a pessoa a quem
amamos. Assim, Jesus diz que o pastor, ao encontrar a ovelha que se havia perdido,
“reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a
minha ovelha perdida. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador
que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de
arrependimento” (Lc. 15.5-7). A alegria exultante que o pai sente com o retorno do
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filho perdido é o ponto culminante da parábola do filho pródigo (Lc. 15.11-32). O


versículo 32 dessa parábola, “...era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos,
porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”, afirma
claramente a razão para a evangelização da perspectiva celestial.
É muito natural ao espírito das boas novas trazerem consigo a felicidade, quer
no nível divino, quer humano. Cristo, “em troca da alegria que lhe estava proposta,
suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia” (Hb. 12.2). A determinação divina de
sofrer a humilhação imensurável da encarnação e a agonia infinita da crucifixão só faz
sentido quando nos damos conta de que Deus criou o homem para seu próprio deleite.
O objetivo da criação e da redenção consiste tão somente em uma única coisa. Atente
para as seguintes palavras de Davi: “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua
presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl. 16.11). Foi
para esse mesmo júbilo celestial que Pedro chamou a atenção em sua carta às cinco
províncias da Ásia Menor, “a quem não havendo visto, amais; no qual, não vendo
agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da
vossa fé: A salvação da vossa alma” (I Pe. 1.8, 9). Pedro explica que a alegria espiritual
chegou aos primeiros cristãos por meio da pregação do evangelho “pelo Espírito Santo
enviado do céu” (v. 12). Embora evangelistas de carne e osso tenham levado a
mensagem às aldeias das montanhas e aos longínquos vales da Ásia Menor, o sucesso
da missão só podia ter uma explicação: A mão de Deus!

DEUS CRIOU HOMENS E ANJOS PARA REVELAREM SUA GLÓRIA

Deus ordena a evangelização porque ela coincide com seus propósitos eternos.
Um dos principais intuitos de Deus ao criar seres inteligentes era revelar-lhes as
riquezas de sua glória. A palavra “glória” na Bíblia significa “riqueza, peso, brilho,
causa evidente para honra e admiração”. Por que tanta imensidão num universo
ponteado de incontáveis estrelas? Segundo os astrônomos, nosso sol é uma estrela
comum, porém um milhão de vezes maior que a Terra. Por que Deus faria cem bilhões
de estrelas e de sóis se quisesse povoar apenas uma galáxia? Que intenção teria em
lançar no espaço milhões de galáxias com suas centenas de bilhões de sóis? Certo
astrônomo comparou o número de estrelas ao número de grãos de areia de todas as
praias do mundo. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as
obras das suas mãos” (Sl. 19.1). Todavia, somente os homens e os anjos são capazes
de captar essa mensagem fantástica e atender a seu apelo com louvor reverente. Só as
criaturas inteligentes podem admirar-se de seu poder infinito e da força de sua glória
(Ef. 1.19).
João Calvino apresenta-nos três metáforas que podem ajudar nossa imaginação
perante a criação.
1. A criação é um teatro deslumbrante, em que a glória de Deus pode manifestar-
se. Devemos corresponder à majestade e ao poder de tudo quanto ele fez com aplausos
e louvores.
2. A criação é um espelho a nos lembrar de que só podemos conhecer a Deus
pelo seu reflexo. Nem mesmo uma criança que não saiba ler confundiria uma pintura
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com a pessoa que lhe serviu de modelo, podendo facilmente identificar “quem” é a
pessoa do retrato.
3. A criação é a vestimenta de Deus. Como ele é invisível, faz da criação suas
roupas para mostrar que está presente de fato.
As “roupas” da criação não estão “penduradas”, sem ter quem as use, tampouco
é essa a situação do universo. Herman Bavink é muito feliz em dizer que, de acordo
com a Escritura, o universo inteiro é obra da criação, portanto, é revelação de Deus.
Nada existe que seja ateu no sentido absoluto da palavra.
Logicamente, se o universo tivesse sido formado pelo mero desejo de deus
expresso em palavras (Hb. 11.3), disso se seguiria que o alto preço do sacrifício
humilhante de seu Filho deveria tornar sua glória evidente num grau
incomparavelmente maior. As galáxias, criadas exclusivamente pela palavra de Deus,
tomaram-lhe apenas um dia. A redenção, incluindo a encarnação, a vida e a paixão de
Jesus Cristo exigiram mais de trinta anos. Não deveria sua glória ser
incomparavelmente maior?
Quando homens e mulheres abraçam a fé no Redentor e se rendem à sua vontade,
a glória de Deus resplandece com louvor exultante de um modo que não é possível a
muda criação material.
Paulo refere-se a essa realidade em II Coríntios 4.15: “Porque todas as coisas
existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações
de graças por meio de muitos, para glória de Deus”. Pedro confirma esse caráter
especial do povo escolhido e redimido por Deus: “Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz” (I Pe. 2.9). Não há dúvida de que Deus reúne e forma sua igreja para que seu povo
o glorifique com louvores. A evangelização, como meio ordenado por Deus para atrair
os pecadores para sua família, deveria estimular os cristãos a glorificarem a Deus por
intermédio do louvor agradecido e da vida transformada.
Pedro exorta seus leitores a usarem seus dons espirituais para servirem a outros,
seja por palavras, seja por ações, “para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado,
por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos
séculos” (I Pe. 4.11). Sem a evangelização, não haveria igreja nem dons por meio dos
quais pudesse ser revelada ao mundo a glória de Deus. A missão da igreja pode ser
assim sintetizada: Tornar Deus conhecido em toda a majestade de sua pessoa, dar a
conhecer a oferta de perdão de sua graça, o poder transformador de seu sofrimento
encarnado (Fp. 3.10) e seu propósito escatológico para a história “de fazer convergir
nele [...] todas as coisas, tanto ass do céu como as da terra” (Ef. 1.10; I Co. 15.24-28).

O AMOR DE DEUS SUSTENTA A EVANGELIZAÇÃO

Deus busca os homens para que possa expressar seu amor e sua compaixão. Em
I João 4.8, lemos que “Deus é amor”; isso significa que ele não pode deixar de oferecer
o seu dom de amor ao homem transgressor.
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” é
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uma verdade com a qual estamos tão familiarizados, que há o risco constante de que
perca o seu impacto. Essa verdade nos lembra a todos de que o amor de Deus é de tal
modo incompreensível, que nos oferece o melhor dom que Deus tem para nos dar. Ao
nos responsabilizar pela evangelização, Deus confia a nós, seus agentes, a tarefa de
instar com os perdidos para que não deixem de usufruir de sua oferta magnífica de
perdão e de reconciliação.
Jesus disse á mulher anônima do poço de Samaria que, se ela conhecesse “o dom
de Deus e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água
viva” (Jo. 4.10). Ao mostrar a essa pecadora quanto Deus deseja ser conhecido e quanto
quer compartilhar a benção eterna da salvação, Jesus retratou-se a si mesmo como um
Deus que ama os pecadores e deseja sinceramente abençoá-los com a salvação eterna.
Segundo Paulo, a esperança cristã jamais decepcionará quem quer que a receba,
“porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos
foi outorgado” (Rm. 5.5). Como a água que vaza pela base de uma grande barragem,
também o amor de Deus não pode ser represado. Ele flui em todo coração que esteja
aberto e preparado. Deus usa a evangelização para tornar o coração humano apto para
receber o seu amor. Por isso, Pedro escreve: “Tendo purificado a vossa alma, pela vossa
obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de
coração, uns aos outros ardentemente” (I Pe. 1.22).
A natureza divina, em sua busca pelo pecador, foi muito bem definida como
centrífuga e centrípeta há um só tempo. Isto significa que Deus vai ao encontro do
homem para trazê-lo para perto de si. Ao buscar o perdido (Lc. 19.10) em círculos cada
vez mais amplos, ele não se dará por satisfeito até que o evangelho seja pregado no
mundo inteiro (Mt. 24.14; Mc. 13.10). O sangue precioso de seu Filho foi o preço pago
para comprar “para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap.
5.9).
O amor de Deus abraça todo o planeta por intermédio de homens e mulheres
enviados a atrair o mundo inteiro para ele mesmo (Jo. 12.32). Os que creem formam
um só rebanho guiado por um único pastor (Jo. 10.16). Ele, o Bom Pastor, entregou
voluntariamente sua vida por suas ovelhas.
O amor profundo de Deus fez com que Jesus ordenasse a Zaqueu que descesse
da árvore e desfrutasse da comunhão com ele à mesa dos pecadores. Jesus proclamou
a chegada da salvação naquela casa, “porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o
perdido” (Lc. 19.10). O amor de Deus não pode ser barrado pela corrupção e ganância
humanas em face do arrependimento verdadeiro. Zaqueu também “é filho de Abraão”
(Lc. 19.9). Isto significa que ele também não foi excluído da comunicação amorosa do
Deus que busca o pecador.
De modo semelhante, Paulo explica sua própria salvação: “Fiel é a palavra e
digna de toda aceitação: Que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos
quais eu sou o principal” (I Tm. 1.15). Portanto, esse é um tema recorrente que permeia
toda a Bíblia. Deus é um Deus que busca; seu amor sem igual impele-o a buscar
incessantemente os pecadores. Nem a geografia nem a raça devem ser empecilhos a
esse amor pelo mundo (Jo. 3.16).
O uso que o Dr. Richard Bowie faz do termo “centrípeto” ajuda-nos a
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compreender o amor de Deus pelas nações. A missão de Israel às nações tinha por
objetivo atraí-los ao Deus de Israel, para que assim aprendessem a obedecer e a adorar
ao Deus verdadeiro e a crer nele.
Por outro lado, o Novo testamento expressa um interesse centrífugo pelo mundo
em vários textos. A Grande Comissão ordena a todos os cristãos que partam e façam
discípulos em todas as nações. O caráter centrípeto da evangelização centraliza-se na
comunhão com a igreja, o lar espiritual dos que decidem arrepender-se e confiar na
verdade do evangelho.

A EVANGELIZAÇÃO É ORDENADA PELA GRAÇA DE DEUS

A graça de Deus pode ser mais bem apreciada pela expressão concreta do seu
amor. O amor é o incentivo, a graça é a consequência prática. Depois de descrever a
condição de impotência do pecador, morto em seus delitos e pecados e totalmente
dominado pelo príncipe deste mundo, Paulo acrescenta: “Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em
nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo [...]. Porque pela graça sois
salvos...” (Ef. 2.1, 5). A palavra “graça” refere-se ao que Deus fez pelos pecadores por
causa de seu amor e de sua misericórdia sem fim.
Deus não amou mais o mundo depois do Calvário, nem o amava menos antes do
nascimento de Jesus. A vinda do Salvador ao mundo, porém, revela a graça de Deus
em sua forma histórica e concreta (Jo. 4.42). Diz João: “E o Verbo se fez carne e habitou
entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito
do Pai” (Jo. 1.14). A graça de Deus tomou aspecto e forma na pessoa de Jesus, a Palavra
encarnada (logos) de Deus.
Observe nesse versículo que o filho pré-existente e invisível de Deus vem ao
mundo em forma humana visível (Fp. 2.6; Jo. 1.1). Ao fazê-lo, a graça de Deus se
revela de modo que os homens possam “vê-la” e crer nela. Essa parece ser a maneira
de João afirmar que os anjos proclamam no nascimento de Jesus: “Glória a Deus nas
alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lc. 2.14NVI).
Dizer que o favor de Deus foi concedido aos homens equivale à graça que eles viram
nele (Jo. 1.14).
Paulo torna mais claro esse ponto. O motivo por trás dos grandes atos divinos de
salvação, tais como a eleição, a predestinação, a adoção, a redenção e o perdão, era
obter o louvor da glória da graça de Deus (Ef. 1.4-7, 12, 14). No grego, a expressão
“para louvor da glória de sua graça” tem significado inconfundível. A evangelização,
que proclama as bênçãos salvadoras de Deus, tem como principal objetivo a obtenção
do louvor da sua graça.
Quando espalhamos as boas novas por todo o mundo, cumprimos o desejo
supremo de Deus de se tornar conhecido e, consequentemente, louvado. É
especificamente como Deus de graça que ele deseja ser conhecido. O caráter glorioso
de sua graça soberana deveria evocar o louvor dos redimidos em toda parte (Ap. 5.13),
a exemplo do que fazem as hostes angelicais (Ap. 5.12).
Muitos salmos reverberam o tema da graça de Deus, a qual exige uma
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proclamação cheia de júbilo por todos quantos a tenham recebido. “Anunciai entre as
nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas” (Sl. 96.3). “Pois quanto
o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o
temem. Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas
transgressões” (Sl. 103, 11, 12). “Cantai louvores ao Senhor, porque fez coisas
grandiosas; saiba-se isto em toda a terra” (Is. 12.5).
Finalmente, não devemos menosprezar o poder transformador da graça:
“Porquanto a graça de Deus se manifestou a todos os homens” (Tt. 2.11). Ela nos ensina
a dizer “não” à impiedade e às paixões mundanas e a viver uma vida sensata, justa e
piedosa no presente século (Tt. 2.12).
Quando a graça muda em 180 graus o rumo da vida de um homem, de modo que
ele passa a buscar aquilo que desprezava, afastando-se do que exige desejava
ardentemente, ficamos face a face com o propósito evangelístico de Deus.
Charles Darwin, autor de A origem das espécies, obra de grande influência em
que sustenta a teoria da evolução, observou a conversão de um bêbado imprestável. Ele
reconheceu prontamente que nenhuma ciência ou tecnologia em todo o mundo poderia
ter realizado a mudança que presenciou. A graça restaura a nobreza perdida e inculca a
responsabilidade. Como disse, depois de longo sofrimento, a mulher de um alcoólatra
convertido: “Sei muito pouco sobre a transformação da água em vinho; mas sei muita
coisa sobre a transformação do vinho em mobília e em comida!”.

DEUS EXIGE SANTIDADE

Deus, de modo algum, isola-se de suas criaturas ou se torna indiferente à sua


fraqueza. Há um desejo que move o Autor santo de toda vida moral e espiritual que
consiste em ver, nos que trazem a sua imagem a marca da santidade. “O par gramatical
imperativo/indicativo acompanha a revelação divina por todo o Antigo Testamento:
‘Vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo’ (Lv. 11.44). Este é um refrão
que sempre se repete com alguma variação”.
“Sede santos, porque eu sou santo” são palavras da lei do Antigo Testamento que
Pedro faz soarem novamente (Lv. 11.44; I Pe. 1.15, 16). “Portanto, sede vós perfeitos
como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt. 5.48). Neste versículo, temos a síntese do
sermão mais conhecido que se pregou. Disse Paulo: “Pois esta é a vontade de Deus: A
vossa santificação” (I Ts. 4.3). “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor” (Hb. 12.14). Esses poucos textos selecionados devem ser
claros o suficiente para sustentar a premissa de que o desejo supremo de Deus em
relação aos pecadores é a sua conversão à santidade. O meio que pôs à nossa disposição
para isso é a evangelização. As boas novas da salvação do evangelho é que o mal que
habita dentro de nós pode ser transformado, de culpa e de vergonha, em inocência e
pureza. “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos
como o carmesim, se tornarão como a lã” (Is. 1.18). “Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”
(I Jo. 1.9).
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A santidade, contudo, é mais do que a remoção da culpa. Ela aponta para a


qualidade divina do caráter totalmente além do alcance do esforço humano. Aqui, a
providência divina realiza o impossível. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez
pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (II Co. 5.21; I Co.
1.30). O Senhor oferece gratuitamente aos pecadores a retidão de seu Filho, de modo
que, embora sejam de fato ímpios, possam tornar-se aceitáveis a um Deus santo. Eis a
razão por que os cristãos do primeiro século eram conhecidos como “santos” (lit., “os
sagrados”).
Quando Deus se der a conhecer a nós como o fez a Isaías (6.1-5), nossa reação
virá na forma do desejo de nos purificar “de toda impureza, tanto da carne como do
espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (II Co. 7.1).

CONCLUSÃO

A razão principal da ordem evangelizadora deve ser teocêntrica. Quando a


motivação para evangelizar torna-se antropocêntrica, ela se deteriora rapidamente e se
torna egocêntrica, isto é, voltada para a realização pessoal e para a satisfação de
ambições vãs. Tal sentimento antibíblico pode justificar facilmente a acusação de
manipulação e de “média” com o público. A ordem bíblica eleva Deus à sua justa
posição de Senhor da seara (Lc. 10.2). O Senhor envia os trabalhadores e os segadores
porque é ele quem dá o crescimento (I Co. 3.6). Ele procura os frutos e tem autoridade
para cortar a árvore (Lc. 13.7).
A supremacia de Deus na evangelização pode ser facilmente esquecida. Atente
para as palavras de Deus conforme registradas por Isaías: “Por amor do meu nome,
retardarei a minha ira e por causa da minha honra me conterei para contigo, para que
te não venha a exterminar […]; provei-te na fornalha da aflição. Por amor de mim, por
amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha
glória, não a dou a outrem” (Is. 48.9-11). Acrescente-se a isso a seguinte visão
particular de Davi: “Não há entre os deuses semelhante a ti, Senhor; e nada existe que
se compare às tuas obras. Todas as nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante de ti,
Senhor, e glorificarão o teu nome. Pois tu és grande e operas maravilhas, só tu és
Deus!” (Sl. 86.8-10).
Assim como não se pode obter e tampouco transmitir benefício espiritual algum
sem a iniciativa divina, não se pode também alcançar nenhum objetivo espiritual por
conta própria. Afirmaremos a todos por toda a eternidade: “Deus o fez!”. O melhor que
temos a fazer é reconhecer a realidade que nos cerca aqui e agora. Assim, oraremos e
esperaremos que Deus opere o milagre do novo nascimento.
Por outro lado, Deus optou por trabalhar em seus servos evangelistas e por meio
deles. Aqui, o conhecimento e a obediência são de suprema importância. É preciso
conhecer a ele e aos seus propósitos e estar desejoso de obedecer às suas ordens.
Poderemos então fazer ecoar a afirmação de Paulo: “Porque de Deus somos
cooperadores” (I Co. 3.9). A participação dele deve ser primordial.
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A Necessidade Desesperadora do Homem

“Vós que aqui entrais, abandonai toda esperança!” Assim deveríamos todos
entender a morte da pessoa irregenerada. A palavra “desesperadora” provém de uma
raiz latina que designa uma esperança negada, portanto, tem o sentido de falta de
esperança, a menos que haja a interferência de um salvador. Essa é a trágica verdade,
frequentemente desprezada, que proclama a ira de Deus revelada do céu contra toda
impiedade (Rm. 1.18). O homem, por si só, não tem capacidade de se salvar. Sem Deus,
os esforços mais diligentes do homem estão destinados ao fracasso. A rebelião e o
pecado provocam a ira santa de Deus. A ira, palavra praticamente ausente do
vocabulário secular moderno, traduz apenas um dos termos bíblicos que expressam a
alienação resultante da desobediência do homem à lei de Deus. “Pois todos pecaram e
carecem da glória de Deus” (Rm. 3.23). Nesse versículo, temos o significado da origem
do pecado como fracasso. Estamos aquém do padrão que Deus requer, portanto, não
atingimos o alvo por ele proposto.
O catecismo da Nova Inglaterra afirma que “com a queda de Adão, todos nós
pecamos”. A desobediência de Adão no Éden foi realmente uma queda. A relação
original com Deus foi destruída. Culpa e a vergonha envenenaram a consciência de
Adão. Antes disso, ele havia desejado a comunhão com seu Criador; depois, escondeu-
se, tomado de ansiedade, sentindo a humilhação da vergonha. A inimizade havia
tomado o lugar da paz que caracterizava a comunhão vespertina com Deus. Adão via-
se agora como um criminoso diante de um juiz que deveria aplicar a sentença da lei em
sua totalidade, condenando o transgressor.
Ao eliminar o pecado de seu pensamento, o homem moderno praticamente
abraçou o ateísmo. Em seu livro What happened to sin? [O que aconteceu ao pecado?],
o psiquiatra Karl Menniger mostra como o homem moderno não se sente responsável
perante Deus. O mal perdeu sua dimensão vertical. A ofensa à sociedade gera muito
mais ansiedade do que a ofensa ao Senhor da glória.
A psicologia, neste século, tem procurado penetrar os recônditos obscuros da
alma para compreender a natureza dos sentimentos de culpa. A psicologia secular,
porém, não possui categoria alguma para “pecado”, restando ao conselheiro lançar mão
de tentativas superficiais de curar a “enfermidade de morte” com “pílulas de felicidade”
e diversão. Opta-se por qualquer coisa que desvie a mente de pensamentos funestos e
cubra as profundas chagas impingidas pelo pecado.
Como é diferente a forma por que a Bíblia avalia o dilema humano! O catecismo
de Heidelberg declara a verdade bíblica sobre a necessidade do homem. A resposta à
pergunta fundamental: “Quantas coisas são necessárias para que saibais que […] podes
viver e morrer em estado de felicidade?” É: “Três coisas: Primeiramente, a grandeza
de meu infortúnio; em segundo lugar, como sou redimido; e, em terceiro e último lugar,
como devo ser grato a Deus por essa salvação”.
Tentar evangelizar alguém que não se sinta angustiado por causa do pecado é
como tentar resgatar um homem que não percebe que se está afogando. Ninguém usa
paraquedas nos confortáveis jatos modernos de passageiros. Os paraquedas, contudo,
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eram um equipamento básico para todos os que sobrevoavam o território inimigo


quando a artilharia antiaérea iluminava o céu, derrubando mais da metade dos pesados
e ruidosos bombardeiros durante as terríveis batalhas da Segunda Guerra Mundial.
Nenhum equipamento dava mais consolo do que o paraquedas. Sem convicção de
pecado e sem clara consciência de culpa, não é provável que alguém suplique a Deus
por libertação.
A história da humanidade confirma reiteradas vezes a declaração bíblica de que
de Deus não se zomba, porque aquilo que semearmos, isso também ceifaremos (Gl.
6.7). O pecado é uma afronta ao justo Legislador do universo. Ele não hesitou em
destruir toda forma de vida no grande dilúvio de Gênesis porque era mau todo desígnio
do coração do homem (Gn. 6-8). Sodoma e Gomorra sentiram o impacto de sua ira
sobre suas iniquidades (Gn 18). O julgamento divino caiu sobre Herodes
instantaneamente, sem deixar dúvida alguma quanto à origem de sua enfermidade
repugnante (At. 12.23). O proprietário de terras satisfeito consigo mesmo encontrou o
destino que Deus lhe reservara no momento em que planejava aposentar-se (Lc. 12.13-
21). Os dias de Noé foram simplesmente um ensaio geral para a vinda do Dia do
Senhor. O mundo inteiro será como a fornalha ardente de Nabucodonosor, cujo calor
era sete vezes mais intenso do que o de costume (Dn. 3.19).
Tudo isso nos faz lembrar de que a ira de Deus não é nenhuma teoria abstrata,
mas a pura verdade. Rejeitar o Filho significa que o pecador permanece sob a ira divina
(Jo. 3.36). Se você não crer na única Fonte de perdão, estará implacavelmente
condenado antes mesmo de se apresentar diante do trono do julgamento (Jo. 3.18).
O dilema do homem repousa sobre seus atos maus, os quais provocam uma
aversão à luz do evangelho (Jo. 3. 19, 20). Ele odeia a única luz capaz de salvá-lo de
seu destino. Esta situação não se parece com p vício das drogas, do álcool e do tabaco?
A condescendência leva a uma escravidão ainda maior. No fim da estrada do pecado
encontra-se o poder satânico da morte (Hb. 2.14) á espera de suas vítimas para devorá-
las.
Alguém poderia objetar, dizendo que a maioria dos cidadãos, de modo geral, está
contente com sua alienação. Eles planejam detalhadamente seus prazeres fugares para
que neles possam afogar suas mágoas. À semelhança dos portadores do vírus da AIDS,
adotam a antiga filosofia de vida: “Comamos e bebamos que amanhã morreremos” (I
Co. 15.32)! Em sua busca frenética por prazer e glória, uma insatisfação espreita-lhes
os passos e ameaça sua serenidade. “Fizeste-nos para ti”, disse Agostinho, “e o coração
do homem não terá descanso até que descanse em ti”. Faltando-lhe “significado” e
significação, o pecador aproxima-se cada vez mais da sepultura e do julgamento final.
A concepção bíblica dificilmente poderia ser considerada otimista. Até que
recebam o sopro de vida do evangelho, todos os homens estão mortos em seus delitos
e pecados (Ef. 2.1). Os irregenerados não estão “bem”, como proclamam os teólogos
liberais, tampouco estão “doentes” como pensam alguns evangélicos, à medida que o
pecador é capaz de cooperar para sua salvação, mas mortos. “Um cadáver pode estar
um pouco macilento, ainda quente e macio; talvez tenha um pouco de cor no rosto e
um sorriso nos lábios; talvez seja ainda querido e belo aos olhos daqueles que o
amavam. Porém, está morto e, mais cedo ou mais tarde, sucumbirá a uma putrefação
11

asquerosa. É só uma questão de tempo”.


“Morto no pecado” significa que nenhum esforço pessoal poderá, em tempo
algum, nascer no íntimo do pecador de modo que seja capaz de aproximá-lo de Deus.
Mesmo que saiba o que deva fazer, é incapaz de fazê-lo. A litania da corrupção humana
extraída dos Salmos reitera o fato de que “não há justo, nem um sequer, não há quem
entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviarão, a uma se fizeram inúteis;
não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm. 3.10-12).
“Depravação total” é o termo teológico que designa essa incapacidade moral e
espiritual. Não que os pecadores não sejam capazes de fazer algo de bom; é preciso
reconhecer, isto sim, que todo bem está contaminado pelo pecado. O tecido do nosso
ser foi de tal modo afetado que “somos como o imundo, e todas as nossas justiças,
como trapo da imundícia” (Is. 64.6). Aos olhos dos homens, pratica-se muito bem que
aos olhos de Deus é justamente o oposto, pois cada parte do ser do pecador opõe-se a
Deus. Jesus confirmou isso em João 5.42: “Sei, entretanto, que não tendes em vós o
amor de Deus”. Diz o apóstolo: “Obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus
[...] pela dureza do seu coração” (Ef. 4.18).
O pecado original está bem próximo da depravação total. A Escritura explica que
a tendência do homem para o pecado é uma extensão do efeito do pecado que todos
cometemos em Adão (Rm. 5.12). A morte aproxima-se com seus tentáculos impiedosos
e reivindica vida de bebês ainda não nascidos, crianças de colo e deficientes mentais.
A morte prova que o pecado, ainda que em estado latente, se torna manifesto. As
palavras de Davi, “eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl.
51.5), chegam à mesma conclusão. O pecado está presente em todos os seres humanos,
quer estejam conscientes disso, quer não, deliberadamente ou não.
A “carne pecaminosa” (Rm.8.3) das epístolas paulinas demonstram a mesma
realidade: A condição humano do homem (sua “carne”) é corrupta. Sua atitude mental
está programada para ser má e hostil a Deus (Rm. 8.5-7). Não há lugar em seus desejos
para a retidão divina; eles expressam em desejo e pensamentos sua perversão (Ef. 2.3).
De tal forma é inútil a “carne” que Paulo escreve, “na minha carne, não habita bem
nenhum” (Rm. 7.18). Como homem regenerado, Paulo concorda que a lei de Deus é
boa, até mesmo espiritual, mas ele (na carne) está vendido à escravidão do pecado (Rm.
7.14-16). O pecado, à semelhança de um poder pessoal invisível, derrota seu desejo de
fazer o bem (Rm. 7.20), arrastando-o à sarjeta do desespero. “Desventurado homem
que sou!” Somente pelo poder do Senhor ressuscitado é que Paulo pode derrubar a
fortaleza do pecado (Rm. 7.25). As boas novas benditas do evangelho são a solução
divina para o estado de desespero em que se encontra o homem.

O PECADO DO HOMEM SUJEITOU-O A SATANÁS

Não somente o homem é “viciado” em pecar, mas também foi ele isolado por
Satanás. O objetivo do Lúcifer decaído que surge no Jardim não é segredo para
ninguém. Ao questionar a bondade de Deus – “É assim que Deus disse: Não comereis
de toda árvore do jardim?” – (Gn. 3.1) uma dúvida infernal foi ganhando dimensão na
mente do primeiro casal. Pouco tempo depois, Adão e Eva chegavam à conclusão de
12

que a mentira da Serpente era uma verdade que Deus quis, maliciosamente, esconder
deles. Assim foi que o príncipe das potestades do ar alcançou o seu objetivo e, com ele,
o direito de controlar o homem e de fazer inclinar o seu desejo para a prática do mal e
não do bem. Paulo revela-nos que “o deus deste século cegou o entendimento dos
incrédulos” (II Co. 4.4). A imaginação, os pensamentos e as ambições malignas fazem
com que a mente deseje tirar vantagem das ofertas misericordiosas de Deus (como a
paz, a vida eterna, o céu etc.), ao mesmo tempo em que lhe reserva o desprezo e
desdenha de sua santidade.
Satanás escraviza o homem pelo poder do pecado (Jo. 8.34). Os pecadores,
ensurdecidos para a palavra de Deus, deixaram de ser parte da criação divina, onde
tudo era bom, para se tornarem filhos do diabo (Jo. 8.44), cumprindo alegremente as
vontades dele. A expressão “filhos da desobediência” (Ef. 2.2; 5.6) descreve muito
apropriadamente a rejeição da autoridade divina e a sujeição à vontade de inspiração
satânica que se manifesta por meio de demônios e do “espírito” deste século. Em sua
avaliação, João afirma claramente que “o mundo jaz no maligno” (I Jo. 5.19). Os
homens foram apanhados na armadilha do maligno, “tendo sido feito cativos por ele,
para cumprirem a sua vontade” (II Tm. 2.26). O poder espiritual de Satanás sobre o
homem é de tal magnitude que somente os que estiverem inteiramente revestidos com
a poderosa armadura de Deus terão uma chance de ganhar essa luta (Ef. 6.10-17).
Sutileza, decepção e engano são as principais armas de seu arsenal (II Co. 11.3; Ap.
12.9; 13.14; 19.20; 20.3).
O objetivo do diabo é destronar a Deus e exaltar-se acima de todos. Ezequiel diz:
“Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura” (Ez. 28.17). As palavras de Isaías
bem poderiam ter sido proferidas por Satanás: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas
de Deus exaltarei o meu trono [...] serei semelhante ao Altíssimo” (Is. 14.13, 14).
Emile Caillet foi muito feliz quando disse que “o egocentrismo é a essência do
pecado”. Portanto, a autossuficiência do homem é a própria medida completa de sua
solidão. Torna-se impossível dirigir-se a tal homem, tampouco é ele responsável. É
como se estivesse infectado pelo mal. Ali, no âmago de seu ser, ele entra em contato
com uma camada profunda de forças ocultas latentes; ele se comunica com o
inconsciente coletivo de onde emerge orgulhosamente qual um deus todo-poderoso.
Como o Mefistófeles do fausto, ele incorpora então o espírito que anela por tudo no
mundo que seja precioso. Como homem, ele se torna aliado do diabo e se opõe aos
justos direitos de Deus. Sua condenação á a mesma de Satanás (Ap. 19.20; 20.15).

A Solução de Deus para o Pecado do Homem

As boas novas da evangelização é que Deus preparou uma solução para o pecado
do homem. Desde o princípio, quando o pecado entrou no mundo, Deus deixou claro
que Satanás não teria a palavra final. A história narrada pela Bíblia vem sendo chamada
história da salvação, ou seja, é a narração da resposta divina à maldade do homem por
meio de atos e de apelos redentores. A queda de Adão trouxe à tona o protoevangelho
13

(primeira promessa do evangelho). À serpente tentadora, disse Deus: “Porei inimizade


entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça,
e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn. 3.15). Embora esse texto seja um tanto enigmático, a
promessa divina de esmagar o controle de Satanás sobre o ser humano é evidente. Esse
deve ser o significado do esmagamento da cabeça da serpente. O descendente da
mulher é Cristo, o Salvador, que, um dia, derrotaria o Tentador. Embora o calcanhar do
Messias tivesse de ser ferido, como descendente de Eva, ele tomaria a dor provocada
pelo veneno da serpente. Portanto, Jesus pagaria pelo pecado humano, uma vez que ele
mesmo não tinha pecado.
Noé sobreviveu à sepultura de águas do dilúvio. Deus sentenciaria o mundo
rebelde de então à destruição sumária. Ele avisara a Noé acerca do juízo iminente e
dera-lhe tempo para que construísse uma arca de salvação. Noé, por sua vez, anunciou
a ira divina e a graça de Deus por mais de cem anos (Gn. 6-8; Hb. 11.7). Ninguém creu
nele.
Em outra ocasião, Deus também reagiu ao plano orgulhoso dos que imaginavam
tolamente construir uma torre até o céu para escapar ao julgamento vindouro (Gn. 11).
A confusão das línguas e, consequentemente, o advento de um mundo dilacerado pela
conduta imprópria no âmbito cultural, racial e linguístico, tornou-se o elemento
característico de nossa existência ao longo da história. O orgulho racial, a animosidade,
as guerras, as barreiras culturais e o colonialismo são a prova da maldade humana
resultante da condenação imposta por Deus (Rm. 1.24, 26, 28). Novamente, Deus
escolhe um homem de fé, Abraão, para mostrar à humanidade como escapar do pântano
da autodestruição.
Abraão, considerado justo por Deus por causa de sua fé, veio a ser o pai de Israel.
Seus descendentes foram escolhidos a fim de ensinar às nações da terra a lei de Deus.
Em Gênesis 12.3 – “...em ti serão benditas todas as famílias da terra” -, vemos o caráter
exclusivo da escolha de Abraão para ser o “pai” do “povo de Deus” e para conduzi-lo
à libertação por meio da fé. Será que o novo povo de Deus apresentaria o modelo de
santidade e de verdadeira adoração?
A história, contudo, envereda novamente pela fatalidade. Abraão era um homem
caído e imperfeito. Ele demonstrou de modo insólito de que modo Deus, por fim,
abençoaria as nações quando obedeceu á ordem divina de oferecer o seu único filho,
Isaque (Gn. 27), sabendo que seria por intermédio da descendência dele que todas as
nações da terra seriam abençoada (Gn. 26.4). Isaque preferia a Esaú, homem profano,
rejeitado por Deus (Hb. 12.16, 17). Deus escolheu a Jacó e lutou com ele para que sua
fé, tímida, se fortalecesse (Gn. 32.22-32). De caráter imperfeito, mas escolhido por
Deus para ser o pai dos doze patriarcas, a vida de Jacó mostra a porta aberta da
misericórdia divina e de sua graça soberana. Deus selou sua aliança com Abraão com
a promessa de que o futuro Salvador nasceria de sua linhagem (Gl. 3.16-18). Seria um
equívoco muito grave concluir que a benção por Deus prometida ao mundo inteiro
pudesse ser recebida à parte da “semente” agora identificada com Jesus Cristo. Todas
as vantagens culturais e científicas que os judeus legaram ao mudo nada são se
comparadas ao “Salvador do mundo” (Jo. 4.42). Foi uma verdade maravilhosa que
Simeão reconheceu em sua oração: “...porque os meus olhos já viram a tua salvação
14

[...] luz para revelação aos gentios...” (Lc. 2.30-32).


José, vendido como escravo por seus irmãos invejosos tornou-se o meio usado
por Deus para que os 70 descendentes de Jacó fossem para o Egito. Deus abençoou o
Egito por intermédio de José, bisneto de Abraão (Gn. 41.14-49). Ali, os filhos de Israel
sobreviveram aos rigores da escravidão e se multiplicaram, formando a nação de Israel.
Depois de quatrocentos anos, Deus escolheu Moisés para ser o libertador de seu
povo do jugo egípcio por meio de demonstrações miraculosas de seu poder. Uma vez
mais, Jeová revelava sua ira contra o Egito e seu amor redentor por Israel. Ao estender
seu braço poderoso contra o Egito, Deus ofereceu-lhe também misericórdia. À medida
que os egípcios testemunhavam a realidade do poder do Deus todo-poderoso, tinham
de reconhecer a falsidade dos deuses inventados pelo homem.
A caminho da terra prometida de Canaã, Deus renovou sua aliança com israel.
Ele lhes deu a lei “por causa das [suas] transgressões” até que viesse a Semente (o
Messias) (Gl. 3.19). Pela lei, as pessoas poderiam conhecer a Deus e obedecê-lo no
plano social e espiritual. Além do mais, a Lei, que abrange os dez mandamentos, foi
estabelecida para mostrar “a [...] sabedoria e o [...] entendimento [de Deus] perante os
olhos dos povos” (Dt. 4.6).
Os padrões familiares de desobediência, contudo, ergueram mais uma vez sua
face detestável. O período dos juízes demonstrou, reiteradas vezes, a inclinação de
Israel para o pecado e a ira divina seguida da misericórdia e da libertação sempre que
o povo se arrependia.
Jamais, em oitocentos anos de juízes e de reis, Israel foi capaz de se manter
obediente por muito tempo. Primeiramente, o Reino do Norte foi levado o exílio;
depois de 135 anos, foi a vez de Judá, em 587 a.C. O retorno à Palestina depois de 70
anos na Babilônia vinha acompanhado da expectativa de vitória espiritual. Em hora
nenhuma, o amor de Deus por Israel interferiu em seu compromisso para com sua
reputação e preservação de sua glória entre as nações. Ezequiel não deixa dúvidas a
esse respeito. “...Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu
santo nome, que profanastes entre as nações onde fostes. Vindicarei a santidade do meu
grande nome, que foi profanado entre as nações, o qual profanastes no meio delas; as
nações saberão que eu sou o Senhor, diz o Senhor Deus, quando eu vindicar a minha
santidade perante elas” (Ez. 36. 22, 23).
Em todo esse longo período da história, Deus continuou a demonstrar sua
preocupação pelas nações, bem como pelo seu povo. Noemi “evangelizou” Rute, de
Moabe, e ela foi “enxertada” na árvore genealógica de Jesus (Rt. 2.12; Mt. 23.37). Davi
foi severamente castigado por “roubar” a mulher de um hitita e por assassiná-lo para
encobrir o seu crime (I Sm. 11.12). Ele escreveu poemas e canções inspirados que
falam do amor de Deus e de seu interesse pela salvação das nações (Sl. 86.9). O salmo
67 reflete um padrão de pensamento em muito semelhante ao de Genesis 12 e à
intenção de Deus de abençoar as nações por meio da semente de Abraão. É preciso que
observemos claramente, ao longo de todo o Antigo Testamento, a esperança de que o
Deus da história mude a direção dela.
Deus escolhe a Noé para que a espécie humana seja preservada, mas logo o
câncer do pecado invade novamente a história. Deus chama a Abraão e o que se vê é a
15

promessa do povo santo contaminado pela idolatria pagã. Moisés tornou explícita a
promessa que ele mesmo não poderia cumprir. “O Senhor, teu Deus, te suscitará um
profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás...” (Dt. 15.15).
No início do período dos reis, quando Saul ocupava o trono, a decepção por causa
de sua desobediência fez com que fosse rejeitado. Deus assentou a Davi no trono de
Israel, homem segundo o coração de Deus, embora fosse adúltero. Sua família foi
vítima do homicídio e da subversão. O desejo de algo melhor aparecia na mensagem
de Natã: “...farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e
estabelecerei seu reino. [...] estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei
por pai, e ele me será por filho...” (IISm. 7.12-14). O fracasso de Israel em aceitar a
responsabilidade de propagar o conhecimento de Deus às nações aparece na poesia
descritiva de Isaías: “Como a mulher grávida, quando se aproxima a hora de dar à luz,
se contorce e dá gritos nas suas dores, assim fomos nós na tua presença, ó Senhor! [...]
mas o que demos à luz foi vento; não trouxemos a terra livramento algum, e não
nasceram moradores do mundo” (Is. 26.17-18).
A cegueira e a insensibilidade obtusa sobreviriam ao povo de Deus em
consequência de sua incapacidade em abençoar as nações com o conhecimento de Deus
e de sua lei (Is. 6.10). Sjogren argumenta que, “tendo em vista a recusa de Israel, como
nação, de se dirigir aos povos do mundo, Deus o cega. Não fosse assim, sua culpa teria
sobrepujado a graça divina. Deus teria então de julgar a Israel com a destruição, o que
teria afetado sua reputação”. Além do mais, até a vinda de Cristo, a mensagem de Israel
caracterizara-se por uma mistura desordenada a que se juntam acréscimos culturais e
ideias sincréticas.
O mistério do plano de Deus – abençoar as nações – só poderia desvelar-se
totalmente na consumação do sacrifício de seu Filho, na cruz, e na ressurreição para
nossa justificação (Ef. 3.3-6; Rm. 16.25, 26). A descrição de Isaías é de um servo (isto
é, Israel) surdo e cego (Is. 42. 18-20), porém, a descrição do Servo (referência ao Cristo,
o Messias, que toma sobre si o pecado) é de alguém que “promulgará o direito para os
gentios” (Is. 42.1). O servo surdo e cego torna-se, por eliminação, “meu Servo, o
Justo”, que foi “transpassado pelas nossas transgressões [...] e pelas suas pisaduras
fomos sarados” (Is. 53.5). “Ele verá o fruto penoso trabalho de sua alma e ficará
satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos” (Is.
53.11). Depois da ressurreição do Servo (o Messias), Deus diz: “...também te dei como
luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” (Is. 49.6).
Como poderíamos chegar a outra conclusão? O Israel sem fé foi substituído pelo Servo,
Filho de Deus, totalmente qualificado para tirar “o pecado do mundo” (Jo. 1.29).

O Evangelho Proclamado e Recebido

Há um relato impressionante de Harry S. Boer sobre a naturalidade da


evangelização e das missões. Segundo Boer, o enfoque dado à evangelização como a
obrigação primeira e mais importante exigida pela grande comissão (Mt. 28.19, 20)
16

data apenas do século passado. Antes disso, o evangelho era compartilhado


naturalmente. A expectativa em torno da nova tornava o compartilhamento do
evangelho um prazer mais que uma obrigação.
É preciso lembrar o que disse Martinho Lutero sobre o evangelho: “Boas novas,
dignas de aclamação e de louvor. Quando Davi derrotou Golias, houve grande júbilo,
que repercutiu por toda parte. Um inimigo terrível fora derrotado e morto; os judeus
estavam livres, agora, para desfrutar a liberdade e a paz. Este era o evangelho
proclamado pelos apóstolos: O Filho de Deus e filho de Davi venceu o pecado. Seus
discípulos, ameaçados pela morte e subjugados pelo diabo, embora sem mérito algum,
foram redimidos, justificados, receberam a vida e a salvação. Cheios de paz foram
conduzidos de volta a Deus.” Os lábios do mais famoso dos Reformadores destilam
palavras cheias de exuberância que em nada lembram a ideia de obrigação.
Embora a disseminação das novas gloriosas e libertadoras devesse ser prazerosa,
para muitos é uma obrigação imposta. Na verdade, como observou Kraemer, “...só a
Igreja, entre todas as instituições humanas, foi fundada por ordem divina”. O evangelho
propõe uma obediência alegre sem paralelo em nenhuma outra religião, “há nele uma
compaixão irresistível [...] pelo próximo, por mais distante e estranho que seja...”.
Paulo exclama: “Porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (I Co. 9.16), deixando
claro qual era a verdadeira prioridade de sua vida. Ele diz à igreja de Roma: “Porque
sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios quanto a ignorantes” (Rm.
1.14). Em outras palavras, Paulo é devedor para com todos, sem distinção social ou
religiosa, pois se trata de uma dívida evangelística. Todos têm o direito de receber a
porção salvadora do tesouro infinito de riquezas de Cristo, e Paulo é o caixa desse
banco.
Porque será que muitos crentes não sentem nem obrigação e nem prazer em
divulgar o evangelho? Israel falhou na sua missão direcionada às nações. Os discípulos
pouco queriam sair de Jerusalém para evangelizar o mundo. Resistência sempre haverá.
Precisamos da paixão pelas almas que Oswald Smith tornou notória.

DEFINIÇÃO

O Novo Testamento emprega dois termos básicos para descrever a atividade da


pregação do evangelho: “Proclamar as boas novas” (euanggelizõ, Mc. 1.14) e
“testemunha” (martyreo, At. 1.8; I Jo. 5.10). Marcos retrata Jesus como o primeiro
evangelista (1.14). Os discípulos foram escolhidos e treinados por ele para que fossem
“pescadores de homens” (Mt. 4.19). Tão logo se consumaram os atos redentores de sua
vida e o aprendizado dos discípulos, Jesus os declarou “minhas testemunhas” (At. 1.8);
eles tinham visto e vivido os acontecimentos salvíficos. Eles haviam-se sentado aos
pés de Jesus. Suas mentes tinham sido abertas para a compreensão das Escrituras (Lc.
24.25). Eram capazes de explicar o significado da vida, da morte, da ressurreição e da
exaltação da vida de Cristo.
Já vimos qual o conteúdo da mensagem a ser proclamada pelo evangelista.
Resumidamente, trata-se das boas novas de Jesus Cristo, que morreu por nossos
pecados e ressuscitou dos mortos, conforme as Escrituras. Como Senhor que reina, ele
17

oferece o perdão dos pecados e a graça libertadora do Espírito a todos os que se


arrependerem e crerem.
Outra definição proveitosa que vale a pena mencionar é de Michael Green:
“Evangelização é a proclamação das boas novas de salvação a homens e mulheres
tendo em vista a sua conversão a Cristo e filiação à sua Igreja”. Fica claro, portanto,
que a natureza da evangelização é a comunicação do evangelho. Seu propósito é dar
aos indivíduos e aos grupos uma oportunidade genuína de receber a Jesus Cristo como
Salvador e Senhor. Sua meta é persuadi-los a se tornarem discípulos do Senhor e a
servi-lo na comunhão da igreja.

IMPLICAÇÕES E COROLÁRIOS

A longa história da igreja proporciona diversos insights que estimulam nossas


reflexões. Talvez valha a pena mencionarmos alguns deles.
1. Evangelização não significa a promoção de uma filosofia da religião ou de um
credo recitado habitualmente todos os domingos. As boas novas do evangelho referem-
se a Jesus Cristo (portanto, conduzem a um relacionamento pessoal com ele). As boas
novas requerem confiança no que Cristo realizou historicamente. O evangelho é muito
mais do que uma série de lugares-comuns religiosos.
2. Os evangelistas devem ser discípulos do Mestre, que se sentam aos seus pés e
aprendem a observar os seus preceitos (Mt. 4.19; Mc. 3.14; Mt. 28.19; Ef. 4.20). A
apresentação do evangelho exige mais do que gravações e folhetos; é preciso que exista
um testemunho de carne e osso.
3. A mensagem precisa adequar-se às formas de pensamento de seus receptores.
Não é de grande valia a utilização de clichês evangélicos quando se desafia um público
secularizado. Richard Bowie ressalta sabiamente que: “Toda proclamação que não leva
seriamente em conta o homem em seu ambiente não é uma proclamação verdadeira”.
Ambiente tem que ver com língua, valores, costumes e aspirações. A conformação da
mensagem às estruturas sociais e aos padrões de comunicação é tremendamente
importante para a evangelização. O anúncio luminoso em que se lê “Jesus liberta” só
comunicará alguma coisa a quem se perguntar: “Liberta do quê?”, talvez um detento
ou um drogado, mas nada dirá a quem não se sente preso por nada ou a coisa alguma.
4. A apresentação do evangelho deve ser prolongada o suficiente para impactar
seus receptores. Geralmente, uma única proclamação não tem o efeito desejado. A
clareza e a repetição sempre são necessárias para a persuasão de um público, uma lição
que a propaganda política da TV e os comerciais de rádio demonstram com frequência.
Lucas chama a atenção para isso: “Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por
três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido
necessário que o cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos...” (At. 17.2,3).
5. A “oportunidade válida” para receber a Cristo e a salvação implica tudo o que
já mencionamos até aqui, porém e principalmente é preciso que haja o poder de
convencimento e de persuasão do Espírito Santo. Lucas tinha em mente esse fator
sobrenatural quando escreveu: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com
intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus” (At. 4.31b). “Acrescentava-lhes o Senhor,
18

dia a dia, os que iam sendo salvos” (At. 2.47). Que outra razão poderia explicar a ordem
de Jesus aos discípulos para que esperassem em Jerusalém pelo dom do Espírito Santo
(Lc. 24.49; At. 1.4) antes de partirem para o cumprimento da missão de suas vidas?
Somente o Espírito Santo é capaz de lançar no mar as montanhas da ignorância
religiosa, da oposição demoníaca, da incredulidade inflexível ou da inexpugnável
postura defensiva. A evangelização eficaz requer o poder divino (Mc. 11.23). Nenhum
ser humano, por si só, não importa quão talentoso ou bem treinado, poderá eliminar as
barreiras erguidas para a preservação do status quo da indiferença ou da hostilidade
contra Deus.
6- Finalmente, vale a pena analisar a “Escala Engel”. O professor Engel
desenvolveu sua escala para que os evangelistas e missionários pudessem avaliar a
distância ou a proximidade dos crentes em potencial em relação a uma tomada de
decisão capaz de transformar-lhes a vida. O próprio Jesus observou que um daqueles
que o questionava estava “próximo do Reino”.
Engel estabelece oito passos por meio dos quais determina a posição de uma
pessoa em sua escala:
1. Arrependimento e fé
2. Tomada de decisão
3. Conhecimento pessoal do pecado e da necessidade de salvação
4. Entendimento do preço da aceitação do evangelho
5. Atitude positiva em relação ao evangelho
6. Conhecimento dos fundamentos do evangelho
7. Conhecimento elementar do evangelho
8. Conhecimento de Deus e ignorância do evangelho

O papel do evangelista em cada um dos passos pode ser resumido em uma única
frase, “Proclamação do evangelho”, em seu aspecto mais condizente com a
possibilidade de conduzir o crente em potencial a uma entrega a Cristo. O Espírito
Santo atua para criar interesse, convicção de pecado e um desejo de arrependimento e
de fé em Cristo. Essa escala deve estimular o evangelista a se aproximar cada vez mais
de uma decisão por Cristo.

PERIGOS INERENTES À APRESENTAÇÃO DO EVANGELHO

Mais do que nunca, em nossos dias, precisamos estar atentos às ameaças e ás


tentações.
Em primeiro lugar, devemos combater tenazmente toda a distorção sutil das boas
novas que possa transformá-las em “outro evangelho” (Gl. 1.8, 9). Paulo, com muito
esforço e dedicação aos rituais religiosos, lutou ardorosamente contra as tentações para
conversar-se impoluto perante Deus. Os gálatas vacilavam à beira do abismo. “De
Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gl.
5.14). Todavia, milhões de pessoas ainda hoje identificam sua conversão com o
batismo, com o comparecimento à igreja ou com o cumprimento à igreja ou com o
cumprimento de inúmeras obrigações e atividades eclesiásticas, como se tais coisas,
19

em si mesmas, tivessem algum mérito diante dos olhos de Deus.


Em segundo lugar, muito propalado hoje em dia é o evangelho da “absoluta
liberdade”, que identifica a salvação com o assentimento mental. Ninguém sente a
necessidade de questionar ser relacionamento com Deus, basta crer nele. Isso quer dizer
que o indivíduo concorda, intelectualmente, que certos fatos e afirmações teológicos
são verdadeiros. “Cristo morreu por nossos pecados” significa que seus pecados
passados, presentes e futuros foram perdoados. O arrependimento, uma nova
mentalidade e o desejo de mudança de vida são requisitos desnecessários. A
justificação pela fé, portanto, torna-se antinômica, uma vez que o estilo de vida da
pessoa continua basicamente o mesmo. As exigências que Jesus fez ao jovem rico em
nada nos incomodam hoje em dia, já que vivemos num período novo da graça divina.
O texto de Hebreus 12.14, “Segui a [...] santificação”, foi escrito para combater essa
visão deturpada. “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a
salvação” (II Co. 7.10), escreveu Paulo aos coríntios, quais presumiam com muita
facilidade já terem passado da morte para a vida (I Co. 11.28; II Co. 13.5). Jesus
advertiu solenemente a seus seguidores de que muitos pensariam erroneamente estar
regenerados, mas só descobririam tarde demais que não tinha herança alguma no reino
de Deus (Mt. 7.21-23).
Em terceiro lugar, Paulo procura, com muita cautela, diferenciar-se de muitos
que, “mercadejam a palavra” em busca de lucro (II Co. 2.17). A terminologia por ele
empregada é originária de procedimento inescrupuloso de muitos comerciantes que
adicionavam água ao vinho. Podem-se listar muitos exemplos para demonstrar que a
proclamação do evangelho por motivos egoísticos, propícios à manipulação, é tão
comum hoje quanto o foi nos dias de Paulo. “Rejeitamos as coisas que, por vergonhosa,
se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus” (II Co. 4.2).
É lamentável que alguns televangelistas famosos e outros menos conhecidos tenham
sucumbido à tentação de usar o evangelho para seus propósitos egocêntricos.
Muitos dos que proclamam o evangelho tornam a ofensa que há nele palatável
por meio de falsas declarações. A chamada “teologia da prosperidade” não hesita em
fazer promessas mundanas de saúde, riquezas e prosperidade, tudo garantido por
declarações de fé e mentalizações exigidas. Suscitar expectativas falsas pode ser muito
prejudicial para o bem-estar da alma por dois motivos. Primeiramente, porque dirige o
enfoque das bênçãos da graça para as coisas materiais. Em segundo lugar,
frequentemente o resultado não é esperado. Em vez de glorificar a Deus, essas
declarações profanam seu nome. Quanto tempo levará até que os desiludidos vejam no
Senhor um político que promete o céu na terra, mas lança espinhos e pedras na estrada
da vida?
O quarto perigo, a que se deve estar atento pode ser qualificado de “evangelho
superdimensionado”. Paulo escreveu: “Não ultrapasseis o que está escrito” (I Co. 4.6),
para lembrar a igreja quão facilmente os crentes e todas as denominações fazem
acréscimos à verdade pura e simples. Os fariseus erigiram uma “cerca” em torno da lei,
impondo mandamentos de homens aos judeus resignados. Jesus disse que os fariseus
“Atam fardos pesados e [difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos
homens...” (Mt. 23.4). Ao complicarem a essência da vontade de Deus, tornaram-se
20

hipócritas e geraram outros segundo a sua hipocrisia em vez de produzirem homens


santos (Mt. 23.13).
Em todas as épocas, o povo de Deus teve de lutar contra os acréscimos. O papel
de destaque da Virgem Maria, a veneração dos santos, a transformação mítica (segundo
Aristóteles) do pão e do vinho “simbólicos” no corpo e no sangue “reais” de nosso
Senhor são alguns exemplos disso. Dias especiais e roupas especiais, sacerdotes,
monges e freiras, toda essa lista de pessoas e de práticas especiais esconde a face de
Deus. Involuntariamente, os acréscimos desviam os peregrinos aflitos de seu caminho
(Mt. 23.13).
Precisamos lutar também contra a tentação do reducionismo. Numa sociedade
secular, entorpecida pelo vinho inebriante das descobertas científicas e da modernidade
tecnológica, o evangelho sobrenatural reduz-se frequentemente ao “naturalismo”.
William James não foi o único a limitar a essência do evangelho à psicologia da
religião. O exemplo de Freud, seu contemporâneo, James dizia que a experiência
religiosa não tinha nenhuma realidade objetiva afora as emoções e os pensamentos do
“crente”. R. Bultman emasculou o evangelho ao declarar que eram mitos os milagres
e a divina intervenção neste mundo. Em vez da regeneração pelo Espírito Santo, o
homem escolhe seu próprio destino por meio de um “encontro”. A proclamação da
mensagem é um desafio. Paul Tillich negava a existência do “Deus lá fora”, por isso
colocou-o no interior do homem. Ele identificou Deus com o “fundamento do ser”, ou
sentimento de dependência. As boas consistem no fato de que “você é aceito”, por
quem ou pelo que permanece um mistério.
Os teólogos da libertação como, por exemplo, Gustavo Gutiérrez e Juan
Segundo, reconstroem o evangelho sob o prisma da mudança da sociedade.
Melhorando as estruturas governamentais, dando dignidade e significado aos pobres e
oprimidos, cumpriremos o objetivo do evangelho conforme proclamado por Jesus em
Lucas 4.18, 19. O reino de Deus pode, em certo sentido verdadeiro, ser instituído pelo
homem. Por outro lado, o reino que Jesus anunciou é santo e eterno.
Finalmente, a crescente aceitação do universalismo requer uma palavra de
advertência. Pensadores como George MacDonald afirmam que, pelo fato de ter Deus
criado um mundo em que o pecado pudesse ser cometido, e o foi, cabe a ele consertá-
lo. A justiça divina exige a destruição do pecado, não apenas o seu castigo.
Determinado a reparar o erro cometido por seus filhos, Deus, por fim, salvará todos os
homens. Outra linha de raciocínio afirma que Deus é o avalista lógico da redenção
universal.
Emil Brunner escreveu acertadamente: “Em parte alguma do Novo Testamento
encontramos qualquer expectativa de que, no decorrer dos séculos, a humanidade se
tornaria cristã, de modo que o embate entre o mundo e a igreja seria superado ao longo
do tempo histórico. Pelo contrário, a comunidade cristã, a igreja, será minoria até o
fim; portanto, a batalha entre os poderes das trevas e os poderes de Cristo persistirá até
o dia do julgamento”.
Igualmente difícil de sustentar é a concepção segundo a qual as consequências
do pecado são temporárias, pois Deus aniquilará o inferno e tornará santos os pecadores
depois de concluído o dia da graça.
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Quaisquer que sejam as aberrações da fé, sempre haverá alguém que reivindicará
a legitimidade de sua heresia. Todavia, mais sérias do que tudo o mais são as posições
sustentadas pelos incrédulos dos últimos dias. Eles creem que a Bíblia não pode ser
tomada como fonte objetiva de verdade. Supondo, a exemplo de muitos teólogos
“liberais”, que as Escrituras não passam de escritos humanos, sua proclamação do
evangelho soará oca e destituída de autoridade. Billy Graham declarou há muitos anos
que sua decisão de acatar a Bíblia como a verdadeira palavra de Deus foi um divisor
de águas em sua carreira ministerial. A verdade infalível continua a ser o alicerce da
evangelização.

Evangelismo e Religião

Alguém poderá não aceitar o fato de que Deus condiciona sua mensagem á
cultura de cada povo. Entretanto, independente dos fatos históricos que poderíamos
citar como exemplos, incluindo-se aí o próprio povo de Israel, bastariam conhecer
outros povos, sua cultura, sua formação e suas particularidades, para se concordar com
essa realidade à qual não se pode fugir.
Para um evangelismo mais eficaz, deve haver uma perfeita identificação com o
povo. Suas reais necessidades devem ser conhecidas para que o Evangelho alcance as
pessoas, suprindo aquilo que é preciso.
Ao falarmos sobre religião no Brasil, perguntamos: Qual é a religião do
brasileiro? Nosso povo se diz católico. No entanto, a maioria o é simplesmente por
tradição. Curiosamente, sua formação religiosa não foi produto da Igreja Católica
oficial, por meio de seus sacerdotes. Na verdade, foi uma espécie de tradição religiosa
popular, transmitida de geração em geração, quase uma religião dentro do catolicismo.
Essa tradição religiosa popular apresenta sinais de sincretismo com as religiões
africanas; espiritualistas europeias e, com a influência do oriente sobre o ocidente, com
as religiões orientais.

I- A Religiosidade Popular

A própria igreja católica tem, na palavra dos seus representantes em nosso País,
afirmado a necessidade de um ponto de encontro com a religiosidade popular inerente
ao nosso povo, para melhor identificá-lo com a fé apostólica romana. Tal fato não traria
benefícios para o cristianismo via Europa, enxertado com a mitologia greco-romana,
que o transforma muito mais em uma religião pagã do que em uma doutrina cristã nos
moldes do Antigo Testamento.
Dado o grande crescimento das religiões e seitas de origem africana, como
Umbanda, Quimbanda, Candomblé se pode afirmar que 70% dos católicos, em nosso
país, identificam-se direta ou indiretamente com essas crenças.
O grande sincretismo entre catolicismo e espiritismo (nas suas várias
ramificações) dá ao povo uma religiosidade digna de ser bem compreendida por nós,
para que possamos ser mais eficientes no cumprimento de nossa tarefa.
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II- A Linguagem da Pregação

De que maneira devemos evangelizar as pessoas envolvidas nas mais diversas


formas de religiosidade existentes no Brasil? É simples: Usando a mesma linguagem
usada por elas. O protestantismo e suas igrejas não falam a linguagem do povo. Usam
chavões petistas, criam aspirações estranhas, e falam de realidades que o povo
desconhece.
É claro que não devemos nos limitar a uma linhagem compreensível ao povo,
pois a verdadeira linguagem da fé deve estar presente com suas promessas e o
cumprimento das mesmas. Contudo, neste estudo estamos tratando do assunto
evangelização, e, embora ela deva ser acompanhada de atos concretos, sua ênfase está
na linguagem que comunica o Evangelho.
Para um povo necessitado, maltratado, doente, vivendo sob as mais diversas
formas de opressão, o que devemos comunicar? Que o sofrimento faz bem e ajuda na
evolução espiritual? Que essa vida não tem importância? Que Deus aprova o
sofrimento e a miséria?
Claro que não! Isso não condiz com o espírito do Evangelho nem com o que a
Bíblia declara sobre a natureza de Deus. O que vamos dizer a uma pessoa que está
sendo vítima de demônios? Que procure um psicólogo ou um psiquiatra, e pronto? Que
diremos a uma pessoa desenganada pelos médicos? Que espere com alegria a morte?
Que dizer aos necessitados? Que se alegrem com sua miséria e problemas?

III- Cristianismo e Religião

Do ponto de vista social pode-se dizer que o cristianismo é uma religião.


Entretanto, do ponto de vista de sua mensagem, seria diminuí-lo apenas dentro desta
categoria. Cristianismo é muito mais que isso. É um estilo de vida, um jeito de ser; uma
atitude diferente para com Deus, as pessoas e o mundo. A mensagem cristã está acima
das práticas religiosas. Ela supera o que há de bom em todas as formas de religião. Por
isso mesmo, para alguns, tem sido fácil associar o cristianismo às diversas práticas, às
vezes ate não recomendáveis, o que deve ser reprovado.
Pregar a Jesus Cristo não é pregar uma religião. Daí o cuidado de não se
confundir as coisas e as pessoas. Observe algumas sugestões práticas na evangelização:
1- Não discuta religião – Não há nada mais inútil. Só leva ao descontentamento.
A pessoa afasta-se de você e da igreja. Seus preconceitos são fortificados e todos
perdem com isso. É muito difícil mudar a cabeça de alguém que tem uma religião pré-
concebida.
2- Não pregue religião – Não é de religião que as pessoas precisam. Elas
necessitam de Jesus Cristo, de Seu amor, poder e companhia. Não defenda nenhuma
forma de religião. Todas elas são falhas e nenhuma delas é capaz de atender
perfeitamente a todas as pessoas.
3- Não confundam as pessoas com as suas religiões – Considere as pessoas
como pessoas e não como adeptas desta ou daquela religião. Não critique ninguém por
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causa da religião que pratica. Por mais erradas que julguemos estar, devemos
considerar também suas verdadeiras intenções.
4- Fale de Deus – Pregar é falar de Deus, de seu Filho, Jesus Cristo, e do bem
que deles provém. As Escrituras são ricas em promessas de bênçãos, em exemplos de
fé e em demonstrações do poder de Deus nas vidas daqueles que nele creem. As
Escrituras apontam o erro e insistem com as pessoas para que deixem seus maus
caminhos. Mas fazem isso com amor, com real interesse na vida do que se rende aos
seus amoráveis apelos.
5- Levem as pessoas a aproximarem-se de Deus – O dever do pregador é tentar
aproximar as pessoas de Deus. Quem converte, purifica e transforma é o próprio Deus,
através do Espírito Santo. O Espírito de Deus se encarregará de encaminhar a pessoa
para o crescimento na vida cristã. Aí, então, a igreja será muito útil, mas a obra inicial
é do Espírito.
6- Estimule as pessoas a crerem – A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de
Deus (Rm. 10.17). A pregação deve ser direta, concreta e objetiva. O que Deus promete
em Sua Palavra deve ser anunciado com todo vigor. Os testemunhos das Escrituras e
daqueles que têm sido abençoados devem ser propagados, para que as pessoas sejam
fortalecidas na sua fé.

Onde Evangelizar

Todo e qualquer lugar onde haja almas perdidas é apropriado à evangelização.


Assim como qualquer hora e momento, qualquer lugar é o campo. É possível
evangelizarmos em qualquer local desde que empreguemos o método adequado.
Vejamos como nos proceder a diferentes locais:

I- Igreja

Pode parecer um tanto estranho a ideia de se evangelizar na igreja. No entanto


isso é perfeitamente normal. Em At. 5.42 lemos que todos os dias, no templo e nas
casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo. E, se prestarmos atenção,
veremos que esse tem sido o meio mais usado.
1- No Culto – O culto é um ato de adoração prestado a Deus por pessoas salvas.
Entretanto, sempre estará presente alguém que não conhece Jesus. Portanto, o pregador
do culto público deve ter o cuidado de incluir em seu sermão a mensagem salvífica.
Mesmo que sua pregação seja dirigida aos salvos, no sentido de fortalecê-los na fé, de
renová-los espiritualmente, ou fazê-los crescer na graça e no conhecimento de Cristo,
ele deve lembrar-se dos ouvintes não salvos e introduzir em sua mensagem algo a
respeito do sacrifício de Cristo em favor dos pecadores, finalizando com um convite.
2- Escola Dominical – Alguém já disse que a Escola Dominical é a maior
agência ganhadora de almas, e que evangeliza enquanto ensina. Dessa forma, a Escola
Dominical é o departamento da igreja que cumpre integralmente as diretrizes traçadas
por Cristo na Grande Comissão (Mt. 28.19, 20). De todas as reuniões da igreja, a que
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apresenta um maior número de visitantes é a Escola Dominical, principalmente o


departamento infantil.
Ao preparar sua aula, o professor deve ter o cuidado de intercalar na lição bíblica
os seis pontos do caminho da salvação, apresentados no capítulo 5, e levar o visitante
a decidir-se ao lado de Cristo.
É importante lembrar que entre os alunos matriculados e “crentes” pode haver
alguém que não tenha certeza de salvação. O clima de intimidade que se desenvolve
nas classes, entre alunos e professores, contribui grandemente para que o professor
conheça bem cada um de seus alunos, com seus problemas, dúvidas e dificuldades.
Esteja atento, professor. Apresente cada um a Deus em oração, e procure compreendê-
los e amá-los, ajudando no que for possível. Ao perceber que alguém se sente inseguro
quanto à salvação, converse com ele. Tire as dúvidas, baseado na Palavra de Deus. Se
for necessário, leve-o a ter um novo encontro com Cristo.
3- Campanhas Evangelísticas – Uma Campanha Evangelística não deve ser
feita com o propósito de se lotar o templo, mas de atingir cada morador local com a
mensagem da salvação.

II- Casas

...e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de pregar Jesus, o Cristo (At.
5.42).
Como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas
casas (At. 20.20).
O evangelismo de casa em casa deve iniciar em nosso próprio lar. Sobre isso
trataremos em um próximo tópico. Vejamos como evangelizar outros lares:
1- Núcleos familiares – Já no nascimento da Igreja, os irmãos realizavam o que
hoje chamamos de núcleos ou células. Reuniam-se em convívio familiar a fim de
cultuar a Deus. Lídia e Crispo são exemplos de núcleos familiares.
Os núcleos são cultos realizados, geralmente em lares de pessoas evangélicas
que convidam seus vizinhos e parentes não salvos a participarem. Pessoas que, talvez
por preconceito, nunca tenham entrado em uma igreja evangélica, aceitarão o convite
para o culto no lar de um conhecido ou parente. Essa é uma oportunidade que não pode
ser desperdiçada.
2- Cultos Volantes – O culto volante é parecido com o núcleo familiar e muito
tem contribuído para o crescimento da igreja em nossos dias.
Pode ser realizado em lares de pessoas não salvas e que o aceitem
espontaneamente. Tanto no “núcleo” quanto no “volante”, algumas coisas devem ser
observadas, a fim de que as portas estejam sempre abertas e a obra caminhe sem
empecilhos.
a) Nunca atacar os presentes por causa de suas religiões, costumes, ou qualquer
outra coisa.
b) Não entrar com pés sujos ou molhados, nem com guarda-chuvas pingando
água. Isso bastaria para endurecer o coração de uma dona de casa com mania de
limpeza.
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c) Não fique reparando nos móveis e objetos da casa. Um elogio discreto e


moderado será bem recebido, mas não faça comentários sobre valor material, para não
ser mal interpretado.
d) Se for oferecido algo para comer ou beber, aceite com educação. Recusar
totalmente qualquer coisa servida seria tão grosseiro quanto devorar tudo gulosamente.
e) Escolher textos bíblicos que fortaleçam a fé prometam bênçãos ou tragam
consolo, e os que falam da salvação.
f) Conduzir os cânticos e orações de forma que não haja gritarias.
3- Ensino bíblico – Membros de algumas seitas indo de casa em casa, dizendo
ensinar a Bíblia, quando na verdade estão semeando heresias. Vamos ficar de braços
cruzados e limitar-nos a criticá-los? Não! Têm-se as palavras de vida eterna,
anunciemo-las de casa em casa!
O ensino bíblico pode ser feito depois de travado um rápido conhecimento com
a pessoa. De forma gentil e educada, ofereça-se para estudar com ela as Escrituras. Tais
escudos podem ser realizados uma ou duas vezes por semana, em horário pré-
estabelecido, levando-se em conta a disponibilidade da pessoa. Lembre-se de que ela
tem outros interesses e afazeres a cumprir. Não se demore com conversas fúteis ou
discussões tolas que só roubarão o tempo do ensino. Se, por exemplo, a pessoa que
estiver recebendo instruções for uma dona de casa, cuidado para não marcar o estudo
no mesmo horário em que ela precisa mandar os filhos à escola, ou no momento do
marido voltar do trabalho. Isso traria transtornos e a família encararia o estudo bíblico
com antipatia.
Ordem e decência é a recomendação bíblica para toda obra.
4- Reuniões sociais - A presença do Senhor Jesus foi marcante em várias
reuniões sociais. Quem não sabe que seu primeiro milagre foi realizado em uma festa
de casamento? A Bíblia menciona ainda um jantar em casa de Simão, o leproso, de
Mateus e outros. Sua participação, porém, não era profana. Sua presença santa e
contagiante era marcada por palavras de vida e atos de bondade.
Quando formos convidados para alguma recepção, sigamos o exemplo do
Mestre: Evangelizemos.
5- Visitas – Ao visitar uma pessoa doente, devemos levar além de conforto, a
palavra de fé encorajando o mesmo a crer em Deus para milagres e a mensagem de
salvação.
Visitar famílias carentes, levando-lhes algum alimento, é uma ótima
oportunidade de se evangelizar.

III- Ao Ar Livre

Evangelismo ao ar livre abrange uma série de lugares e maneiras.


1- Feiras – Numa feira, encontramos pessoas que vão para comprar e pessoas
que vão “só olhar” e passear. É contraproducente o método de se postar em um ponto
da feira e, de Bíblia aberta, pôr-se a falar. Seria difícil e um tanto ridículo competir com
os pregões dos feirantes que anunciam suas mercadorias em alta voz. O meio mais
eficaz é a distribuição de folhetos, acompanhada de rápidas palavras.
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2- Praças – Numa praça, além do evangelismo pessoal, podem ser realizados


cultos rápidos.
Um grupo de pessoas em semicírculo entoa alguns cânticos evangelísticos.
Deve-se então pregar, dizendo aos presentes das promessas de Deus de curas e
libertação. Em seguida, devemos convidar os presentes que estão sofrendo para virem
receber a oração da fé. Após a oração, devemos orientar a todos a fazer o que não
podiam fazer antes, incentivando-os a receber os seus milagres e trazendo os que os
alcançaram à frente, para testemunhar dando a glória e o louvor ao Senhor. Depois,
alguém deve fazer uma exposição do plano da salvação, seguida de apelo.
Os cultos bem organizados, com boa música e eficiente serviço de som no poder
do Espírito Santo, são os que apresentam melhores resultados.
Quanto ao evangelismo pessoal, que melhor oportunidade encontrará do que
sentarmos ao lado do velho solitário que toma sol, ou do mendigo encolhido sobre um
banco da praça; de uma pessoa que aparenta estar em grande sofrimento?
Quando esteve em Atenas, o apóstolo Paulo dissertava na sinagoga entre os
judeus e os gentios piedosos; também na praça todos os dias, entre os que encontravam
ali (At. 17.17).
3- Praias – Grande parte do ministério do Senhor Jesus ocorreu nas praias da
Galileia (Mc. 2.13). E, a conversão de Lídia deu-se quando falava às mulheres à
margem de um rio (At. 16.13-15).
4- Parque de diversões e área de lazer – Um trabalho semelhante ao que é feito
em praça pública pode ser feito em outras áreas de lazer.

IV- Local de Trabalho

Mateus, também chamado Levi, foi salvo por Jesus quando trabalhava em sua
coletoria (Mc. 2.14).
Não perca a oportunidade de falar de Cristo ao seu companheiro de trabalho.
Mas seja sábio e prudente. Conversar em horário de trabalho poderá trazer prejuízo a
você e – o que é pior – à outra pessoa. Aguarde um momento oportuno, como, por
exemplo, a hora do almoço ou café.

V- Hospitais

Todos conhecem a história do tanque de Betesda. A palavra Betesda traduz-se


por Casa de Misericórdia. Podemos dizer que este local lembrava um hospital, onde
uma multidão de enfermos, cegos, coxos e paralíticos esperava ser curados (Jo. 5.1-
15). Foi nesse lugar que um homem, paralítico por 38 anos, conheceu Jesus.
Os hospitais estão repletos de pessoas ansiando pela cura de seus corpos e almas.
Que momento oportuno para se plantar a semente da vida eterna!

VI- Transportes

Foi enquanto viajava numa carruagem, pelo caminho que desce de Jerusalém a
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Gaza, que o eunuco, alto oficial da rainha de Candace, foi evangelizado por Filipe (At.
8.26-40).
Quanto tempo passa-se diariamente, sentados em uma condução, ao lado de
pessoas em quem mal prestamos atenção? Ou, se travamos conversação, é para falar
do tempo, do trânsito, do governo...menos de Jesus. Que perda de tempo! Habituem-
se a trazer na bolsa folhetos evangelísticos. Eles sempre ajudarão, caso você seja tímido
e não saiba como iniciar uma conversa com a pessoa que viaja ao seu lado.

VII- Outros Locais

Muitos outros lugares ainda poderiam ser mencionados, como:


1- Prisão – As prisões constituem um vasto campo. Visitas, cultos, distribuição
de Bíblias e literatura evangélica. Tudo servirá para “apregoar liberdade aos cativos”.
2- Escolas – O evangelismo nas escolas pode ser feito de forma pessoal, pelos
salvos que lá estudam, ou de forma coletiva, através de aulas e programas especiais,
previamente combinados com a direção do estabelecimento.
Ainda podemos evangelizar em bares, restaurantes, lojas, prostíbulos, terminais
e estações. Lembre-se: Qualquer hora é o momento e qualquer lugar é o campo.

VIII- Distribuição de Folhetos

Mais de uma vez, mencionamos a distribuição de folhetos. Entretanto, isso é algo


que, como tudo o mais no evangelismo, não pode ser feito de qualquer maneira.
Existem alguns pontos a observar:
1- Tipo de folheto – Não é qualquer folheto que serve ao evangelismo. Alguns
trazem mensagens sem nenhum fundamento ou de difícil compreensão. Nas boas casas
do ramo encontraremos o folheto certo para cada tipo de pessoa. Ao comprar ou
imprimir folhetos, lembre-se de que a qualidade é mais importante do que a quantidade.
A apresentação é de grande importância. Embora de custo mais elevado, é preferível
adquirirmos folhetos coloridos e atraentes. Eles serão lidos por muito mais pessoas do
que os imprimidos em preto e branco, e em papel inferior. Nunca entregue um folheto
amarrotado ou sujo.
A linguagem é outra coisa que deve ser observada. Ela deve ser direta, coloquial,
sem ver vulgar. A atenção do leitor deve ser captada logo na primeira frase.
A mensagem deve ser pessoal, isto é, dirigida ao leitor, de forma que ele entenda
ser a pessoa com quem o folheto está falando. Interessantes também são os folhetos
que narram experiências reais e emocionantes, que tocam o coração para, logo depois,
de forma sutil, introduzir a mensagem bíblica.
O apelo é algo que não deve faltar no final do folheto, e se, possível,
acompanhando de uma oração de decisão. Outra coisa que não pode ser esquecida é o
endereço para contato, que pode ser colocado com um carimbo.
A impressão deve ser de boa qualidade, com letras legíveis, e sem erros
gramaticais.
A entrega não pode ser feita indiscriminadamente e de qualquer maneira,
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atirando-os pelas ruas ou introduzindo-os por baixo das portas, como alguns costumam
fazer. Entregar folhetos é um ministério que deve ser apreendido e praticado. Ao
oferecer um folheto, sorria e seja simpático. Em qualquer ocasião, seu rosto deve
irradiar o amor de Cristo e a alegria do Espírito. Demonstre interesse na pessoa antes
de entregar-lhe o folheto. Cumprimente-a, faça uma observação ou pergunte algo sobre
o que ela estiver fazendo no momento. Sua mente e seu espírito devem estar orando
enquanto conversa com a pessoa. Caso ela não queira aceitar o folheto, não a obrigue
nem se desconcerte. Converse a amabilidade até o final da conversa. Despeça-se com
um convite para visitar a igreja. Esteja preparado para qualquer reação e aproveite-a
para firmar uma conversa ou marcar um encontro posterior.
Não perca o entusiasmo. Seja constante no trabalho de semear.

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