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Unidade 5 - Inquérito Policial Militar

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Objetivo

Ao final desta unidade o aluno será capaz de conhecer a aplicação do


Inquérito Policial Militar no âmbito do CBMSC.
Introdução

A apuração de fatos que constituam crimes militares é de competência da Polícia


Judiciária Militar, que é constituída pelas autoridades militares e seus auxiliares.
Ao tomar conhecimento da possível prática de um ilícito penal militar (crime militar),
a autoridade competente do art. 7º do CPPM, a qual está subordinado o militar,
determinará a abertura de Inquérito Policial Militar (IPM), por meio de Portaria,
nomeando um Oficial para apurar a autoria e a materialidade do fato.
O Oficial nomeado deverá ser de Posto superior ao do indiciado.
Inquérito Policial Militar - IPM

O art. 9º do Código de Processo Penal Militar conceitua Inquérito Policial Militar da


seguinte forma:

Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos


termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de
instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos
necessários à propositura da ação penal.
Inquérito Policial Militar - IPM

O IPM tem caráter de instrução provisória, com finalidade principal de fornecer


elementos para a propositura da ação penal.
É um procedimento inquisitivo, onde não há acusado e sim indiciado, que é a
pessoa sobre a qual recaem indícios de crime.

Destaque:
O IPM pode ser definido como fase preparatória ou preliminar da ação penal,
com cunho de peça informativa, reunindo os atos probatórios que são o
produto da investigação policial militar. Em consequência disso, não há no
IPM contraditório e nem ampla defesa. Por isso não há também a figura do
defensor apresentando defesa por escrito, como no processo.
Prazo para conclusão do IPM

Se o indiciado estiver preso, o prazo para a conclusão do IPM é de 20 (vinte) dias,


contados da data da prisão.

Se o indiciado estiver solto, o IPM deverá ser encerrado no prazo de 40 (quarenta)


dias. Em situações de absoluta necessidade e devidamente justificado, existindo
exames e perícias a serem realizadas, ou diligências julgadas indispensáveis, este
prazo poderá ser prorrogado por até 20 (vinte) dias, o que faz com que o prazo total
seja de até sessenta dias.
Objetivo do IPM

O inquérito policial tem por objetivo apurar a autoria e a materialidade de um


ilícito, contravenção ou crime, procurando responder aos seguintes
questionamentos quanto aos fatos investigados: o que, quem, contra quem,
quando, onde, como, por qual razão, com auxílio de quem, não esquecendo a
norma complementar violada nos tipos penais em branco.

Encerrado o IPM, o mesmo é remetido à Vara da Justiça Militar onde será


analisado pelo Ministério Público Militar, que é o autor da ação penal militar, que irá
decidir se denuncia o crime, com base no IPM, ou se manda arquivar.
Ação Penal Militar

O Código Penal Militar estabelece que a ação penal militar, a ser exercida pelo
Ministério Público Militar, é pública, uma vez que o sujeito passivo dos crimes
militares é a administração pública militar. Ou seja, o particular, a vítima do crime,
ou outro interessado, não pode propor uma ação penal militar, apenas o Ministério
Público.

O titular da Ação Penal Militar é o Ministério Público Militar.

A Justiça Militar é uma justiça especializada, mas a ação penal militar está sujeita
aos princípios estabelecidos pelo texto constitucional, que busca permitir a vítima o
acompanhamento do processo.
Características do IPM

Administrativo - é um procedimento administrativo informativo, destinado a


fornecer ao representante do Ministério Público (Promotor de Justiça designado
para atuar na Justiça Militar) os elementos de convicção para a propositura da ação
penal.
Formal - O IPM é elaborado por escrito, conforme preceitua o Art. 21, do Código
Processo Penal Militar.
Sigiloso - é uma das características essenciais do inquérito que visa à elucidação
dos crimes e a identificação de seus autores. Objetiva-se que provas não sejam
destruídas e, ainda, garantir a intimidade do investigado, resguardando-se, assim,
seu estado de inocência.
Características do IPM (cont.)

Inquisitivo - procedimento em que as atividades persecutórias


concentram-se nas mãos de uma única autoridade, podendo agir de ofício,
empreendendo, com discricionariedade, as atividades necessárias ao
esclarecimento do crime e da sua autoria. Justamente por ser inquisitivo,
não se aplicam ao inquérito os princípios do contraditório e da ampla
defesa (se ainda não há uma acusação, não há que se falar em defesa).

É o IPM que possibilitará ao Ministério Público Militar (MPM) apreciar, para


oferecimento da Denúncia, a prática do fato delituoso com todas as suas
circunstâncias, isto é, do fato que infringiu a norma jurídica e sua autoria.
Denúncia

A denúncia é uma comunicação que o Ministério Público faz ao Juiz de


Direito, demonstrando e comprovando que o ato ou atos praticados por
uma ou mais pessoas constitui crime e, ao final, pede que estes infratores
sejam devidamente repreendidos pelos danos causados.
Indiciamento

Indiciado é a denominação que se dá ao militar que está sendo investigado no


IPM. Ele não é acusado, mas sujeito sobre o qual há indícios de que cometeu
um crime militar.

O indiciado deverá ser interrogado pessoalmente pelo encarregado do IPM,


não podendo o procedimento ser realizado através de carta precatória.

O indiciado não é obrigado a responder às perguntas que lhe forem feitas,


podendo permanecer em silêncio, assim como não presta compromisso legal
de dizer a verdade.
Encarregado do IPM

Sempre que possível, o Encarregado do IPM deverá ser um Oficial de posto não
inferior ao de Capitão, não podendo exercer essa função o Aspirante a Oficial, nos
termos do que estabelece o art. 15, do CPPM.

O Encarregado do IPM exerce função semelhante a do Delegado de Polícia Civil,


autoridade policial responsável pela condução de Inquéritos Policiais na hipótese
de crimes de competência da Justiça Comum.

Dessa forma, pode o Encarregado do IPM proceder oitivas, reconhecimento de


pessoas ou coisas, acareações, determinar a realização de exames periciais,
proceder buscas e apreensões e reconstituição dos fatos, bem como solicitar a
decretação de prisão preventiva do(s) suspeito(s).
Escrivão

O Escrivão poderá ser designado pela autoridade delegante na própria Portaria que
determina a sua instauração, ou pelo Encarregado, se omissão houver.
A designação se fará conforme o Posto/Grad do indiciado.
Se o indiciado for Oficial, o escrivão deverá ser Oficial (2º ou 1º Ten); se o indiciado
for praça, o escrivão será um Sub Ten ou Sgt.
O Escrivão, fiel colaborador do Encarregado do Inquérito, funciona sob o
compromisso de manter sigilo e de cumprir as determinações deste Código, no
exercício da função. (CPPM, art. 1º, parágrafo único)
É dever do Escrivão prestar toda assistência que se fizer necessária ao
processamento, evitando possíveis lapsos ou equívocos na feitura ou em outro ato
de que participe.
Compromisso do Escrivão

O escrivão presta o compromisso de manter o


sigilo do inquérito e de cumprir fielmente as
determinações do CPPM no exercício de suas
atribuições.
Funções do Escrivão

O escrivão é responsável pelos seguintes procedimentos básicos:


Portaria: se possível já inquirir (citar) as testemunhas na Portaria de instauração do IPM;
Designação do escrivão: que poderá ser indicado na delegação de Poderes, quem assina é o
encarregado;
Termo de compromisso do escrivão: as vezes poderá ser no mesmo documento de
designação. O escrivão somente entrará no IPM após a assinatura do termo de compromisso
ao encarregado. Este termo também deverá ser assinado pelo encarregado;
Autuação: é uma peça que irá reunir o que foi investigado com a documentação que surgir no
decorrer da mesma;
Certidão: indicação por parte do escrivão de que foram cumpridas as determinações do
encarregado;
Termo de conclusão: remeter os autos para o encarregado;
Funções do Escrivão

Certificado e concluído pelo escrivão, os autos irão para o encarregado que irá manifestar
pela 1ª vez nos autos através do 1º despacho e após isso teremos o recebimento pelo
escrivão e uma certidão (podendo estar ou não seguida de diversas peças que antes não
tinha p.ex. peça de intimação, essa virá depois da certidão de recebimento e após esses
“ofícios o escrivão encaminha para o encarregado emitir o despacho e o escrivão emite o
recebimento e a certidão depois a conclusão, relatório recebimento e remessa.
Despacho do encarregado: recebido do encarregado, os autos após suas determinações.
Todo e qualquer documento que o Encarregado quiser juntar aos autos, por despacho ao
Escrivão determinará a juntada, ou seja, o Encarregado despacha para o escrivão algumas
providências e este, após receber o resultado das mesmas, as juntará aos autos, e, para
tanto, confeccionará os respectivos termos de juntada, colacionando tudo aos autos.
Para anexar aos autos cópias de inquirições ( em duas vias) basta a autorização do
encarregado, não sendo necessário termo de juntada.
Oitivas

Segundo o CPPM, deve-se ouvir no IPM: o ofendido, o indiciado e testemunhas.


O indiciado é ouvido mediante “Auto de Qualificação e Interrogatório.” Aqui
deve-se realizar o máximo de perguntas ao indiciado, tendo como referência o
constante no art. 306 do CPPM.
As testemunhas são ouvidas em “Termo de Inquirição Sumária.”
As testemunhas serão sempre ouvidas separadamente, de modo que uma não
ouça o depoimento das outras e não será permitido que manifeste opiniões de
caráter pessoal, exceto quando inseparáveis da narrativa do fato.
Fim das Investigações

Finalizadas as investigações, o Encarregado poderá concluir por:


- Existência de indícios de crime militar;
- Existência de indícios de transgressão disciplinar;
- Existência das figuras dos itens 1 e 2; 1 ou 2;
- Pela inexistência de indícios de crime militar, onde, deverá propor o
arquivamento do feito;
- Pela existência de indícios de crime comum, propondo que o Juiz de Direito da
Justiça Militar remeta os autos à Justiça Comum (não obstante o fato de que
IPM serve para imputar crime MILITAR, nada impede que o Encarregado
chegue a conclusão de crime comum).
- A autoridade delegante, encaminhará os autos conclusos ao Juiz da Justiça
Militar.
Solução do IPM

A autoridade delegante (aquela prevista no art. 7º do CPPM, que mandou instaurar


o IPM), poderá, caso discorde das conclusões do Encarregado, e conforme
preceitua o art. 22,§2º CPPM, avocar a decisão, solucionando o IPM de forma
diferente da decisão do Encarregado, contudo, deverá motivar (justificar) sua
decisão.

O Cmt do BBM em sua Solução, caso encontre indícios de transgressão disciplinar


por parte de algum bombeiro militar, não pode aplicar punição por infração
disciplinar de forma imediata. Neste caso, deverá mandar proceder à instauração
de Processo Administrativo Disciplinar, onde será oportunizado ao acusado os
direitos de defesa e contraditório.
Arquivamento do IPM

Qualquer que seja a conclusão do IPM, os autos deverão ser


encaminhados à Vara da Justiça Militar (Art. 24 CPPM), devendo,
entretanto, uma fotocópia permanecer nos arquivos de onde serve a
respectiva autoridade delegante.

Somente a autoridade judiciária poderá determinar o arquivamento


dos autos de IPM, jamais o Encarregado, a autoridade delegante ou
o promotor de justiça.
Arquivamento do IPM

O Ministério Público poderá requerer o arquivamento do IPM ao Juízo competente, desde


que:
a) o fato narrado evidentemente não constitua crime militar;
b) falta de base para a denúncia, entretanto, não estará obrigado a assim proceder o
magistrado.
O MP poderá, ainda, requisitar novas diligências, as quais foram omitidas ou realizadas com
desleixo pelo Encarregado ou não observada sua necessidade pela autoridade delegante.
O arquivamento do IPM não obsta a abertura de um novo, se surgirem novos fatos. Devendo,
entretanto, o Encarregado do novo IPM, se assim já não procedeu a autoridade delegante,
solicitar à Justiça Militar os autos de IPM arquivados para anexá-lo ao novo.
Todo IPM deve, obrigatoriamente, ser remetido à Justiça Militar,
fazendo chegar ao Promotor de Justiça, para a propositura da ação
penal ou arquivamento.
Resumo da Unidade

a. O inquérito policial militar (IPM) é o procedimento instaurado para apurar fato, que, nos
termos legais, configure crime militar, e de sua autoria;

b. A finalidade do IPM é ministrar elementos necessários à propositura da ação penal;

c. Não há no IPM contraditório e nem ampla defesa, por isso não há também a figura do
defensor apresentando defesa por escrito, como no processo;

d. Se o indiciado estiver preso, o prazo para a conclusão do IPM é de 20 (vinte) dias,


contados da data da prisão;

e. Se o indiciado estiver solto, o IPM deverá ser encerrado no prazo de 40 (quarenta) dias,
podendo ser prorrogado por até 20 (vinte) dias;
Resumo da Unidade (cont.)

g. Sempre que possível, o Encarregado do IPM deverá ser um Oficial de posto não inferior ao
de Capitão;
h. O Escrivão poderá ser designado pela autoridade delegante ou pelo Encarregado, e tem o
dever de prestar toda assistência que se fizer necessária ao processamento, evitando
possíveis lapsos ou equívocos na feitura ou em outro ato de que participe;
j. Qualquer que seja a conclusão do IPM, os autos deverão ser encaminhados à Vara da
Justiça Militar;

k. Somente a autoridade judiciária poderá determinar o arquivamento dos autos de IPM,


jamais o Encarregado, a autoridade delegante ou o promotor de justiça.
Encerrando a Unidade

Nesta unidade, estudamos sobre o Inquérito Policial Militar e sua aplicação no


âmbito do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina.

Aprendemos sobre a Ação Penal Militar e sobre as funções dos bombeiros militares
nesse processo administrativo.

Esperamos que você tenha aprimorado seus conhecimentos sobre o tema.


Recomendação de leitura

Código de Processo Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969.), com


ênfase aos artigos 7º a 33.

Curso de Direito Disciplinar Militar - da Simples Transgressão ao Processo


Administrativo - 4ª Ed. 2014, Jorge César de Assis.

Direito Administrativo Militar, de Jorge Luiz Nogueira de Abreu.


Questionário Revisional

Após estudar esta Unidade e ler o material complementar disponibilizado, você já


está pronto para responder o Questionário Revisional da Unidade 5 na seção
ATIVIDADES.
ENCERRAMENTO DO MÓDULO
Prezado Aluno do CAS 2022,

Neste módulo nós estudamos sobre alguns dos principais procedimentos


administrativos instaurados no Corpo de Bombeiros Militar, para apuração de fatos
e situações diversas, comuns na rotina administrativa da Corporação.
Estudamos os motivos que provocam a instauração de cada um dos
procedimentos, as regras de processamento, as competências para a instauração,
os prazos, bem como as normas que regulam cada um dos processos
administrativos.

Você possui agora as informações fundamentais para atuar como Encarregado,


Escrivão ou auxiliar nos procedimentos estudados. O conhecimento dessas regras
e normas foi o objetivo geral do módulo, as quais servirão de base para a avaliação
final da disciplina a ser aplicada nos próximos dias.
Os temas abordados são de fundamental importância para a vida profissional do
Sargento Bombeiro Militar, entretanto, o aperfeiçoamento somente ocorrerá se
dedicarmos maiores tempos de estudo sobre cada um dos procedimentos, a fim de
não cometermos erros e sabermos agir da forma correta quando as situações
forem surgindo.

Está lançado o desafio!


Muito obrigado pela dedicação de cada um e tenham todos um ótimo curso!

Maj BM Rafael Fortunato Camilo


Professor Tutor

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