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Noelle Tavares Ferreira Psicologia Turma 86

1. Explique diferenças entre racismo universalista, institucional e racismo cultural diferencialista


e apresente as implicações políticas deste último racismo. (10 pontos)
O racismo universalista (científico), é uma crença empírica, que apoia a superioridade ou
inferioridade de uma raça ou até mesmo na descriminalização social. Sendo a mesma
embasada em conceitos antropológicos, biológicos e religiosos, ocorrendo comumentemente
no período da primeira guerra mundial, a fim de apoiar e legitimar ideias racistas. Como por
exemplo o médico Samuel George Morton (1799-1851), com base nos seus estudos de
anatomia e, particularmente, craniologia, afirmava “que os crânios das raças tinham vários
tamanhos e que quanto maior o tamanho, maior o cérebro, quanto maior o cérebro maior a
inteligência e a capacidade de evolução, sobrevivência, liderança etc. Só que eles achavam os
crânios europeus e americanos sempre maiores que os crânios africanos, tasmanianos,
malaios, mongóis e índios americanos”. Se os negros pertencem às “raças inferiores” eles,
então, poderiam ser escravizados, torturados, mutilados, encarcerados arbitrariamente e
exterminados.
O racismo institucional, seria como se manifesta o racismo nas estruturas de organização da
sociedade e nas instituições. Ele se manifesta em normas, práticas e comportamentos
discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho, os quais são resultantes do preconceito
racial, uma atitude que combina estereótipos racistas, falta de atenção e ignorância.Como, por
exemplo, tratando o tema de forma coloquial, o racismo institucional seria você tratar o negro
de uma forma e o branco de outra, é optar por um em prejuízo do outro, oferecer tratamentos
diferenciados, de modo a privilegiar um em detrimento do outro, sem qualquer respaldo legal.
Portanto o racismo institucional pode ser considerado como implícita e sem atores diretos, já
que é algo intimamente ligado ao funcionamento das instituições.
Já o racismo cultural diferencialista, é baseado no conceito de que raça não é natureza, mas
cultura ou etnia, deste modo sendo mais ligado à lógica identitária. Esse tipo de racismo
configura o preconceito contemporâneo (anti-racismo) manifestado de acordo com as
diferenças existentes. Por esse motivo,a imigração, a mestiçagem e o sincretismo religioso são
visto com maus olhos para os adeptos dessa teoria, já que eles consideram que a mistura de
culturas colocaria em xeque a homogeneidade natural do grupo dominante. Desta maneira
este tipo de racismo não leva em conta somente a raça, mas também, na etnia do indivíduo.
As implicações deste último racismo, se abrange principalmente hoje na esfera da
imigração e xenofobia, em especial na Europa, relativo ao grande número de imigrações,
sejam elas, por razões econômicas, por falta de recursos naturais, por crises humanitárias, ou
por fugas das inúmeras guerras que assolam sobretudo do oriente médio, que buscam países
com uma economia estável, uma grande oferta de emprego, melhor qualidade de vida, entre
outros elementos. Com isso, a xenofobia, que é a aversão, o preconceito ou a intolerância para
com grupos estrangeiros, aumenta a cada dia na Europa, motivada pelas diferenças culturais,
sociais e religiosas. Além de se sentirem ameaçados pelos estrangeiros, com receio que eles
diminuam a oferta de emprego e atrapalhe a economia. Assim, pode-se concluir que o
racismo cultural diferencialista é o grande responsável pela xenofobia e pelos ataques que se
tornam cada vez mais comuns a grupos de culturas marginalizadas, marcando mais uma
esfera de violência na modernidade.
2. Explique a relação entre racismo universalista, Estado Moderno e escravização.

O Estado Moderno surgiu a partir da fragmentação/crise do sistema feudal, com o


desenvolvimento do capitalismo mercantil registrado em Portugal, na França, Inglaterra e
Espanha. Deste modo com o fim da servidão, necessitava-se de haver uma Política econômica
que abrangesse o novo mercado consumidor, matérias primas e principalmente mão de obra
barata, a partir dessa urgência econômica, surgiu o mercantilismo, que visava sobretudo uma
balança comercial favorável, protecionismo, metalismo, intervenção estatal e pacto colonial,
que se resumia a exploração das colônias, a fim de haver lucros.
Uma consequência dessas explorações nas colônias foi a escravização dos povos
colonizados. Os colonizadores embasaram suas atitudes na ideia de superioridade europeia,
desta maneira os outros povos, seriam inferiores, podendo deste modo serem explorados e
submetidos à inúmeras violências, caracterizando posteriormente o racismo universalista. Eric
Willians chega a dizer que “a escravidão não nasceu do racismo; ao contrário, o racismo foi a
consequência da escravidão”.
Ou seja a partir do estado moderno e sua ligação com a escravização, surgiu o racismo
universalista e deu origem há vários episódios de tirania e exploração, como, por exemplo, a
escravização dos índios, negros na época colonial e na neocolonial, sendo esta última
intensificada com o “darwinismo social”.Segundo a lógica dessa teoria, as nações europeias
eram superiores, mais inteligentes, mais fortes e mais capacitadas do que as nações dos
territórios conquistados (Ásia, África e Oceania).
3- Explique o comportamento racista e a xenofobia que se manifestam nas crises
socioeconômicas e relacione sua explicação ao contexto social brasileiro.
De acordo com Nassir Abdulaziz Al-Nasser, ex presidente da Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), Desde a crise econômica, os migrantes correm cada
vez maiores riscos diante do racismo e da xenofobia. Este fator primeiramente se deve ao fato
que atualmente há muitas ondas de migrações, sejam elas, por razões econômicas, falta de
recursos naturais, crises humanitárias, ou por fugas das inúmeras guerras. Em países com uma
economia estável, é um fator positivo pois os imigrantes fazem subir a procura de bens e
serviços, contribuem para o aumento do produto interno bruto e para os cofres do Estado.
Entretanto, se o país estiver enfrentando uma crise socioeconômica, o choque com outras
culturas será demasiadamente negativo, trazendo a sensação aos habitantes do país que os
imigrantes iram tirar seus empregos, corroborando desta maneira para o surgimento do
racismo e da xenofobia.
Relacionando ao contexto socioeconômico brasileiro, onde o país enfrenta uma crise
econômica e política, de modo consequente o racismo e a xenofobia se mostram cada vez
mais visíveis em relação aos imigrantes. Esse cenário atual se iniciou, com os Haitianos em
2010 e perdura até hoje com os Venezuelanos, trazendo a tona várias questões preocupantes,
como, por exemplo a situação econômica brasileira, que não consegue atender todas as
demandas relacionadas aos brasileiros e aos imigrantes e refugiados, tonificando desta
maneira uma disputa entre eles por emprego e oportunidades.
Uma forma de expressar a sua indignação e desprezo, é através de atos racistas e
xenófobos, como, por exemplo o vídeo que circulou a internet em julho de 2018, que
mostrava um refugiado sírio sendo agredido pela Guarda Civil Metropolitana de São Paulo,
ou até mesmo o aumento de trabalhos escravos (segundo a ONG Walk Free). Desta maneira a
xenofobia e o racismo se manifestam de diversas maneiras, sendo elas em forma de
comentários discriminatórios, políticas e práticas discriminatórias por governos e servidores,
ataques e assédios por agentes estatais, (de comum ocorrência principalmente no meio
policial), ameaças, intimidações e violência pública.

4- Explique a relação que Ângela Davis estabelece entre a luta das mulheres negras e a
construção do movimento feminista nos EUA.
As condições de vida das mulheres negras do sul do EUA, no século XIX eram brutais,
tratadas com demasiada violência, desde explorações braçais, até psicológicas e sexuais.
Essas mulheres eram negadas a sua família e a si mesmas, logo que não eram consideradas
boas mães porque, trabalhavam o dia todo em plantações, deste modo não podendo cuidar de
seus filhos, deixando-os com jovens negras ou sozinhos e eram forçadas a ter relações sexuais
com outros homens. Além de serem negadas as suas feminilidades, sendo tratadas como
coisas. Já as mulheres brancas do norte do EUA, tinham uma vida com opressões e violências
também, porém muito mais branda que as negras.
Com o movimento industrial no EUA, as mulheres negras que antes possuíam igualdade
econômica com seus maridos, deixaram de tê-la e passaram a ser submissas à eles. Logo que
a era industrial trouxe a ideia de inferioridade feminina, alegando que elas eram feitas para
cuidar da casa, dos filhos e do marido, que era o provedor da casa. Além de trazer a noção
feminina perfeita, que seria a mulher branca e dona de casa, afastando dessa maneira as
mulheres operárias, escravas e negras.
O início da década também foi de greves e paralisações nas fábricas têxteis do Nordeste do
país, operadas em grande parte por mulheres jovens e crianças. Na mesma época, mulheres
brancas de origem mais abastada começavam a lutar pelo direito à educação e por uma
carreira fora de casa (DAVIS, 2006). As mulheres negras estavam cansadas da vida cheia de
opressões e abusos descomedidos, já as mulheres brancas se identificavam com as mesmas,
seja pelo poder controlador que o casamento trazia e a falta de oportunidade.
Pode-se concluir que a indignação e a coragem de todas essas mulheres contribuíram
significamente para o movimento feminista posteriormente, em vista que as mesmas quebram
as barreiras na época, movimentando toda a estrutura da sociedade. Como, por exemplo a
professora Prudence Crandall, que desafiou a população branca ao aceitar uma menina negra
na escola. Sua postura íntegra e inflexível durante toda a polêmica simbolizou a possibilidade
de firmar uma poderosa aliança entre a já estabelecida luta pela libertação negra e a
embrionária batalha pelos direitos das mulheres (DAVIS, 2006).

5- Explique a análise de Benjamin sobre a relação entre direito natural, direito positivo e
violência.
Segundo Benjamin, a violência tenta se justificar para fins justos e injustos. Ele critica
fervorosamente a violência por fins justos, procurando classificá-la com ética ou não. Para
isso a violência ética é dividida entre direito natural e direito positivo.
Para Benjamin o direito natural, está embasada principalmente na teoria darwinista social,
que dizia existir uma raça superior e outra inferior. Legitimando assim, explorações e
violências, sem leis que punissem tais atos, pois esse é um direito natural do ser humano
superior, logo que o mesmo tem que passar seus genes para futuras gerações, fundamentando
posteriormente ideais de superioridade nazista.
O direito positivo é a ideia de que qualquer ato de violência é considerado imoral e errado,
logo, que nada à legítima. Deste modo, segundo esta linha de pensamento toda violência deve
ser punida, para que não haja banalização da mesma. Para Benjamin, essa seria a perspectiva
correta em relação a violência, pois deve-se sempre criticar e punir qualquer ato violento.

6- Dê a sua opinião se os trabalhos de Angela Davis possibilitam e contribuem para uma reflexão
para a luta feminista no Brasil.
Angela Davis é uma professora e filósofa americana que contribuiu significamente para os
movimentos negros e emancipação feminista. Sua história tem sido marcada pela luta em defesa
dos direitos femininos e das pessoas negras desde a década de 1970. Ela foi militante comunista,
fez dura oposição à Guerra do Vietnã e era membro do grupo Panteras Negras. Entrou para listas
de mais procuradas do FBI e foi presa injustamente, em um processo criminal extremamente
racista.
Em minha opinião, os trabalhos de Angela Davis, são profundamente importantes na luta
feminista brasileira, pois com ele é possível entender a sociedade de ontem e de hoje. Em seu
livro Mulheres, raça e classe, a mesma apresenta um panorama riquíssimo da história e trajetória
feminina, embasada em fatos históricos que até então eu desconhecia, como o entrelaçamento
realizado pela autora entre os componentes econômico, político e ideológico do modo de
produção escravista e capitalista, nos permite enxergar como as diversas opressões se combinam
e se entrecruzam na sustentação da dominação de classe. Trazendo desta maneira questões as
pessoas, sobre a sua sociedade, oque está ligado a ela, oque está te influenciando e
principalmente oque te afasta da emancipação.

7- Apresente a crítica de Nietzsche à educação moderna dando ênfase ao que ele chama de
enfraquecimento da cultura.
Nietzsche procurava mostrar o que havia de errado na educação de sua época, na Alemanha,
apontando as consequências para a cultura. Ele mostra primeiramente, que os educadores
atualmente estão se afastando cada vez mais do conhecimento de natureza, ou seja, se
importando mais com os conteúdos das aulas e com o mercado de trabalho.
A submissão da educação às ordens do estado, é a ideia que a ciência moderna tem o
objetivo de domesticar o ser humano e controlá-los, para Nietzsche a ciência tem o papel de
moldar os homens para o mercado, afastando-os da reflexos sobre a vida, transformando eles em
“homens de rebanho”. Consequentemente transformando a educação em uma mercadoria.
Deste modo, com o estado intervindo na educação a fim de popularizar a mesma, as grandes
massas, perdendo a sua essência de cultura. Assim, a universalização da cultura, acompanhada
da intervenção do Estado na educação, com a emergência das grandes massas e das questões
sociais, culminava no que ele chama de “barbárie cultivada” (ACADÊMICA,2015).

8- Apresente a crítica de Nietzsche aos eruditos e apresente o seu ponto de vista sobre essa crítica
e o mundo acadêmico hoje.
Eruditos são aqueles considerados especialistas na educação, que tem como objetivo levar
determinado assunto aos seus alunos, tornando-os conformados e submissos. Para Nietzsche
os eruditos seriam pessoas que se especializam muito em determinado assunto e são por
consequência submissos ao discurso, não tem noção do todo e não sabem de onde veio
determinado conceito, tornando-se alienados do processo acadêmico.
Essa especialização nasceu de Descartes, que defendia que o indivíduo devia ir a fundo
para desvendar o desconhecido. Para ele, era necessário se especializar em cada parte do que
se estuda afim de não restar mais dúvidas do mesmo.
Segundo Nietzsche, o erudito "decompõe uma imagem em simples manchas, do mesmo
modo como, na ópera, se usa um binóculo para ver a cena e examinar um rosto ou um detalhe
da vestimenta, nada inteiro"(PESSOA,2012). Enquanto as faculdades, ele afirma que a
estrutura pedagógica desses estabelecimentos de ensino não se encontrava preparada para
acolher adequadamente as exceções (gênios), estabelecendo um parâmetro de educação
padronizado e massificado .
Relacionando essa crítica ao mundo acadêmico de hoje, observa-se os impactos que os
profissionais eruditos, ou seja, especializados em determinado assunto, trouxeram para as
universidades. Os profissionais especializados geralmente não sabem a origem de
determinado conceito apresentado à seus alunos, perdendo deste modo a noção do todo. Há
também a relação de superioridade que estes profissionais exercem sobre seus alunos,
deixando-os a mercê de discursos inquestionáveis.
Portanto, pode-se perceber que a crítica de nietzsche se torna verossímil, no atual
momento da sociedade, tendo em vista que a educação tem o papel emancipador, entretanto
se torna padronizada e assim alienante.
Referência
NIETZSCHE, F. Escritos sobre Educação. Rio de Janeiro: Loyola, 2004.
ACADÊMICA. Escritos sobre Educação (Nietzsche) – Notas e inflexões.
Disponívelem:<https://www.revistaacademicaonline.com/products/escritos-sobre-educacao-
nietzsche-notas-e-inflexoes/>. Acesso em: 31 mai. 2019.
BENJAMIN, W. Documentos de cultura, documentos de barbárie: escritos escolhidos. São
Paulo: Cultrix, 1986.
DAVIS, A. Mulheres, raça e classe. São Paulo: BOITEMPO, 2006.
PESSOA, F. Nietzsche e a Educação.
Disponível em : <http://pesquisandofilosofia.blogspot.com/2012/03/nietzsche-e-educacao.html>.
Acesso em: 30 mai. 2019.
ARAÚJO, T. A análise Nietzscheana da cultura moderna : crítica aos valores morais e à
educação erudita. Argumentos, Ano 3, N°. 5 - 2011.

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