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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE

ENGENHARIA AMBIENTAL
DISCIPLINA: Gestão da Poluição em Processos Industriais
PROF.: Waldir Nagel Schirmer

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS

1 Introdução

“Resíduo é uma coisa boa colocada no lugar errado” – Ecologista José Antônio
Lutzenberger

“Resíduo é uma matéria prima mal aproveitada” – Provérbio chinês

Resumindo, pode-se afirmar que todo bem de consumo acaba se transformando em


resíduo, mais cedo ou mais tarde (PINTO, 2004).

Segundo Pinto (2004), “a gestão dos resíduos industriais pode ser entendida como o
controle integrado e sistemático da geração, coleta, segregação na fonte,
estocagem/armazenamento, transporte, processamento, tratamento, recuperação e disposição
de resíduos, ou seja, fazer a gestão dos resíduos é pôr em prática um conjunto de medidas que,
em linhas gerais, deverá atingir os seguintes objetivos principais:
• a prevenção da geração de resíduos;
• a minimização dos resíduos gerados;
• a re-utilização, a reciclagem e a recuperação ambientalmente segura de matérias ou
de energia dos resíduos ou produtos descartados;
• o tratamento ambientalmente seguro dos resíduos;
• a disposição final ambientalmente segura dos resíduos remanescentes; e
• a recuperação das áreas degradadas pela disposição inadequada dos resíduos.”

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), resíduos sólidos


industriais “são todos os resíduos no estado sólido ou semi-sólido, resultantes das atividades
industriais, ficando incluídos nesta definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento
de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos, cujas particularidades tornam inviável seu lançamento na rede pública
de esgotos ou corpos de água, ou exijam, para isso, soluções técnicas e economicamente
viáveis em face da melhor tecnologia disponível” (LORA, 2000).
De acordo com órgãos europeus, este conceito adquire um caráter mais amplo, a partir
do momento que resíduo sólido passa a ser tudo aquilo que exija processamento físico ou
químico para o seu reaproveitamento, mesmo que este resíduo ainda conserve certo valor
econômico. Sob este aspecto, materiais descartados que podem ser reaproveitados não mais se
encaixam neste conceito, constituindo-se matérias-primas secundárias. Os rejeitos sim, são
resíduos sem nenhum aproveitamento econômico (PHILIPPI Jr., 2005).
A questão dos resíduos sólidos e sua disposição começou a ser efetivamente levada a
sério nos últimos 30 anos, a partir do momento em que a poluição de corpos d’água e solos por
resíduos desta natureza começou a tomar proporções cada vez maiores e preocupantes. Foi
quando legislações e documentos específicos começaram a ser aprovados e formulados, tendo
em vista a prevenção e tratamento destes resíduos. Nesse sentido, grande parte dos países tem
se preocupado em dispor seus resíduos industriais da maneira mais adequada possível.
Políticas para minimização dos resíduos gerados vêm sendo crescentemente
implementadas em muitos países com o objetivo de reduzir os impactos negativos provocados
pela geração dos resíduos, em especial aqueles perigosos. A linha atual de controle de resíduos
baseia-se no fato de que é mais fácil “prevenir do que remediar”, ou seja, mais fácil que tratar a
poluição gerada pela má disposição de resíduos é prevenir sua geração. Por isso, adotam-se
cada vez mais tecnologias que contemplem a eliminação ou, pelo menos redução a níveis
aceitáveis, de resíduos sólidos já na sua fonte, bem como o tratamento de resíduos
inevitavelmente gerados, mediante secagem, incineração, “landfarming”, etc. que possibilitam
a redução do volume do resíduo a ser disposto em lugar da simples disposição no solo sem
qualquer tratamento prévio. O gerenciamento de resíduos requer um conhecimento profundo
das fontes geradoras, afim de que se possa, efetivamente, caracterizá-los para posterior
tratamento/destino mais adequado (LORA, 2000).

2 Classificação dos resíduos sólidos industriais (RSI)

Existem várias fontes de resíduos sólidos nos processos industriais:


- resíduos provenientes de cinzas de combustão;
- resíduos de produtos fora de especificação ou mesmo em excesso;
- resíduos de embalagens;
- refugo, etc.
Esses resíduos geralmente constituem-se de:
- metais;
- plásticos;
- papel;
- borras, etc.
Os resíduos industriais são gerados em todas as etapas de produção, desde a chegada
das matérias primas até a embalagem do produto final. Assim, é necessário todo um
planejamento nas atividades de modo a minimizar a geração de resíduos. Dentre as atividades
industriais que influenciam a geração dos resíduos industriais estão:
- Projeto: nesse caso pode-se prever a fabricação do produto utilizando-se de
tecnologias alternativas, como matérias primas menos impactantes e/ou facilmente
retornáveis/recicláveis, ou mesmo energias alternativas. Por exemplo, substituir tinta à base de
solvente orgânico por uma à base de água.
- Aquisição e armazenamento de matérias-primas: é fato que matérias primas de
melhor qualidade irão ocasionar um menor índice de refugo e desperdício, contribuindo
inclusive para o melhor desempenho do processo e qualidade final do produto (gerando menos
lotes com defeitos, por exemplo). Comprar matérias-primas em grandes quantidades, por
exemplo, pode inclusive resultar em material com prazo de validade vencido, ocasionando o
refugo da própria matéria-prima.
- Operações de produção: o controle adequado do processo evidentemente ajuda a
padronizar a produção, evitando rejeitos. Ex.: Controle estatístico do processo (CEP).
- Limpeza e manutenção dos equipamentos: a limpeza periódica dos equipamentos
evita que muita sujeira (lodo, escória, óleo, etc.) contamine o produto manufaturado (PHILIPPI
Jr., 2005).

A classificação dos RSI procura atender a três objetivos principais:


- Caracterização: conhecer as propriedades e características dos resíduos que possam
causar algum dano ao homem e meio ambiente em geral.

1
- Disposição: permitir a tomada de decisões técnicas e econômicas em todas as fases
do tratamento dos RS.
- Mobilização: da sociedade em torno da problemática da disposição dos RS de modo
a contribuir para a melhor disposição desses resíduos.
A ABNT dispôs um conjunto de normas de modo a classificar, no Brasil, os resíduos
sólidos: NBR 10.004 (Resíduos sólidos), NBR 10.005 (Lixiviação de resíduos), NBR 10.006
(Solubilização de resíduos), NBR 10.007 (Amostragem de resíduos).
Pela NBR 10.004/2004, os resíduos são classificados em:
- Classe I: perigosos;
- Classe II: não perigosos (e ainda IIA – não inertes e IIB – inertes)
Neste caso, entende-se por resíduos perigosos (classe I) aqueles que, dada suas
características 1 de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade,
têm potencial risco à saúde da população a eles exposta ou meio ambiente em geral. Resíduos
não-inertes são os resíduos (ou mistura de resíduos) que não se enquadram como perigosos ou
inertes, como por exemplo os resíduos combustíveis, biodegradáveis (como madeira, papel,
etc.) e solúveis em água. Por fim, os resíduos inertes são aqueles que, quando submetidos a
ensaios de solubilização (conforme NBR 10.005), resultam em material solubilizado com
características potáveis.
De acordo com a ABNT, os resíduos são classificados em função de suas propriedades
físico-químicas ou infectocontagiosas e através dos contaminantes presentes em sua massa.
Nesse contexto, a classificação dos resíduos gerados no meio industrial poderá ser facilitada ao
se proceder a um levantamento do processo produtivo, com o intuito de se obter as seguintes
informações: dados gerais do processo produtivo; matérias primas/produtos utilizados na
manufatura; fluxo destes produto ao longo da produção; quali/quantificação dos resíduos
gerados em cada etapa da produção; identificação das substâncias que conferem periculosidade
(PHILIPPI Jr., 2005; LORA, 2000). O Quadro 1 apresenta alguns exemplos de resíduos
distribuídos em suas classes, conforme a NBR 10.004.

QUADRO 1 – Exemplos de classificação de resíduos.


Resíduo Origem (exemplo) Classificação usual2
Plásticos polimerizados em geral
Injeção, extrusão e sopro Classe IIB
Sucatas metálicas (s/ óleo) Corte, usinagem, montagens, Classe IIB
serralheria
Madeira Montagens e transporte de Classe IIA
materiais (serrarias)
Papel e papelão limpos Embalagem Classe IIA
Papel e papelão impregnados c/ Pintura industrial Classe I
solventes orgânicos
Papelão e estopas contaminadas Manutenção industrial Classe I
com óleos lubrificantes
Óleos lubrificantes Lubrificação de máquinas Classe I
em geral
Borras de tintas em geral Pintura industrial Classe I
Lodos de fundos de tanques e Limpeza de peças c/ óleo Classe I
máquinas de lavagem
Fonte: PHILIPPI Jr. (2005)

1
Características que conferem periculosidade a um resíduo, de acordo com a NBR 10.004.
2
Classificação a ser confirmada por meio destes de lixiviação e solubilização.

2
No caso de uma indústria de óleo de soja, por exemplo, todas as etapas de produção
(armazenagem, preparação, extração, caldeira, etc.) geram algum tipo de resíduo, e a quase
totalidade (em volume) se enquadram como Classe II. O Quadro 2 apresenta uma classificação
de alguns dos principais resíduos gerados nessa atividade (PUKASIEWICZ, OLIVEIRA e
PILATTI, 2004). Já a Figura 1 apresenta um fluxograma com a metodologia a ser adotada na
caracterização e classificação dos resíduos.

QUADRO 2 – Resíduos gerados numa fábrica de óleo de soja e sua classificação.


Resíduo sólido Classificação
Resíduos químicos Classe I
Óleo lubrificante Classe I
Tinta Classe I
Casca de soja Classe IIA
Cinzas Classe IIA
Lodo ETE Classe IIA
Borra de óleo Classe IIA
Plástico Classe IIB
Fonte: Adaptado de PUKASIEWICZ, OLIVEIRA e PILATTI (2004)

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FIGURA 1 – Fluxograma para caracterização e classificação dos resíduos.
Fonte: ABNT (2004, citado por Pinto, 2004)

3 Diretrizes e metodologias para o gerenciamento de RSI

O principio da gestão dos resíduos sólidos industriais está baseado em quatro ações
básicas que representam uma hierarquia real em termos de custos, esforço e energia. As
quatro ações básicas (4 R’s) são:
• repensar – com a mudança de paradigmas quanto à destinação dos resíduos, com a
oportunidade de inovação e desenvolvimento tecnológico ao longo da cadeia de
transformação;
• reduzir – na fonte, com a oportunidade de minimização da geração;
• reutilizar – aproveitamento dos resíduos nas condições em que são descartados,
submetendo-os a pouco ou nenhum tratamento; e
• reciclar – é o processo por meio do qual os resíduos retornam ao sistema produtivo
como matéria-prima (LORA, 2002; PINTO, 2004).

De modo geral, o gerenciamento de RSI pode ser entendido como “controle sistemático
da geração, coleta, segregação na fonte, estocagem, transporte, processamento, tratamento,
recuperação e disposição de resíduos” (MAIA, 1992; citado por LORA, 2000). Assim, a gestão
dos resíduos compreende a prática de medidas que, em linhas gerais, devem atingir os
seguintes objetivos:
- preservar, proteger e melhorar a qualidade do meio ambiente;
- preservar a saúde e melhorar a qualidade de vida do homem;
- assegurar a utilização racional dos recursos naturais.
Para que estes objetivos sejam atingidos, deve-se levar em conta quatro pontos
fundamentais: prevenção, reciclagem, otimização da disposição final e ações corretivas.

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a) Prevenção: o Ministério do Meio Ambiente e Energia da Província de Ontário
(Canadá) definiu o termo Prevenção da Poluição como sendo “qualquer ação que reduza ou
mesmo elimine a geração de poluentes ou resíduos na fonte, realizada através de atividades que
comprovem,estimulem ou exijam mudanças nos padrões de produção industrial (manufatura),
comercial e geradores institucionais ou mesmo individuais”. Ainda, segundo Prestrelo e
Azevedo (2000), a lei americana de Prevenção da Poluição de 1990 (Pollution Prevention Act
1990) define prevenção da poluição como “quaisquer práticas, uso de materiais, processos que
eliminem ou reduzam a quantidade e/ou toxicidade dos poluentes, substâncias perigosas ou
contaminantes em sua fonte de geração, prioritariamente à reciclagem, tratamento ou
disposição final (...)”. Para o CNTL3, a prevenção da poluição inclui “práticas que eliminem ou
reduzam o uso de materiais (nocivos ou inofensivos), energia, água ou outros recursos, bem
como privilegiem o uso de procedimentos que racionalizam o uso de recursos naturais”
(KIPERSTOK et al, 2002). A prevenção da poluição industrial pode ser enfocada sob os
seguintes aspectos:
- Por tecnologias limpas: minimização da produção de resíduos na etapa de produção,
através de modificações do processo.
- Por produtos menos poluentes: desenvolvimento de produtos cuja fabricação,
utilização ou disposição final tenham um impacto mínimo sobre o meio ambiente (ou menor
impacto, em relação aos produtos ou matérias primas convencionais).
b) Reciclagem: muitas vezes a geração do resíduo num determinado processo é
inevitável; neste caso, a melhor maneira de minimizar o impacto é retornando esse material ao
ciclo econômico através de sua reciclagem direta, com aproveitamento do resíduo como ele foi
gerado, ou por reciclagem indireta, por reaproveitamento do resíduo após submetê-lo a
beneficiamentos; ou ainda, através da recuperação de matérias primas e energia.

FIGURA 2 – Usina de reciclagem de alumínio

c) Otimização da disposição final: nos casos em que o resíduo não puder ser impedido
de ser gerado ou mesmo reciclado, alguns tratamentos devem ser levados em consideração de
modo a reduzir seu volume e sua periculosidade, minimizando o impacto ambiental decorrente
de sua disposição em aterros industriais.
d) Ações corretivas: programas e projetos para o gerenciamento de resíduos sólidos
devem contemplar as seguintes diretrizes: adoção de tecnologias limpas (para eliminar ou pelo
menos minimizar a geração de resíduos); implantação de processos de reciclagem dos resíduos

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O SENAI/RS foi escolhido pelo UNIDO e UNEP para sediar um Centro Nacional de Tecnologias Limpas
(CNTL), visando atuar como disseminador das técnicas de Produção Mais Limpa (P+L) entre as instituições da
CNI de todo o país.

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gerados nas indústrias; otimização das operações de coleta, segregação, manuseio, transporte e
estocagem dos resíduos; adoção do armazenamento de resíduos; considerando as normas
técnicas existentes, como solução temporária, ou nos casos onde não há tecnologias de
tratamento adequadas; busca de soluções para recuperação de áreas, depósitos e locais
contaminados (LORA, 2000).

4 Ferramentas para o gerenciamento de RSI

4.1 A técnica da minimização dos resíduos (“waste minimization”)

Ainda na década de 70, as políticas de controle de resíduos se basearam em normas


referentes à “melhor maneira de dispor os resíduos”. Na década seguinte, a ênfase era para as
“técnicas de pré-tratamento e destruição dos resíduos”. A tendência atual é estabelecer critérios
e incentivos através dos quais seja possível prevenir a geração de resíduos na fonte geradora,
ou mesmo programas de reciclagem (STRAUSS e TRALDI MENEZES, 1993; citado por
LORA, 2000).
O principal objetivo da minimização é a prevenção da geração de resíduos na fonte
geradora, através da eliminação ou redução da quantidade de resíduos produzidos. Segundo
LORA (2000), “minimizar resíduos significa reduzir a quantidade gerada na extensão em que
puder ser praticada, antes do resíduo ser tratado, armazenado ou disposto no solo, incluindo
também as atividades de reciclagem que resultem em redução do volume total ou quantidade
do resíduo gerado, redução da toxicidade ou ambos”. É importante notar que técnicas de
tratamento (direto, como incineração, etc.) não são técnicas de minimização de resíduos. A
Figura 3 apresenta algumas possibilidades para minimização de resíduos.

FIGURA 3 – Formas de minimização de resíduos sólidos industriais.


Fonte: Adaptado de STRAUSS e MENEZES (1993), citado por LORA (2000).

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A seguir são detalhados alguns dos ítens do esquema da Figura 3.

Mudança do produto

É a primeira consideração a se fazer. Aqui, antes de mais nada, convém pensar se,
afinal de contas, precisamos de fato de um determinado produto ou simplesmente o
compramos e usamos “porque sempre foi assim” (ver o texto abaixo). A modificação de um
produto para evitar a geração de resíduos depende de uma avaliação de mercado e requer uma
visão de longo prazo por parte do produtor.
Shen (1995), sugere os seguintes critérios para o projeto de novos produtos:
- utilizar recursos naturais renováveis;
- aproveitar material reciclado;
- reutilizar sucatas e materiais em excesso;
- reduzir o uso de embalagem;
- produzir produtos com mais partes substituíveis (fracionar) ou que possam ser
consertadas;
- produzir bens mais duráveis;
- produzir bens e embalagens que possam ser reutilizados pelos consumidores;
- focar na manufatura de produtos recicláveis (KIPERSTOK et al, 2002).

Porque sempre foi assim

O argumento (sempre foi assim) se repete em todos os ambientes e se faz


presente nos diversos momentos de mudança de postura na empresa. Representa a
dificuldade de pessoas e grupos de quebrarem certos paradigmas. Esse assunto, de
elevada importância, é abordado em seguida, em forma de “piada”.
Um grupo de pesquisa desenvolvia um estudo sobre o comportamento de
pequenas comunidades de macaco. Sete símios conviviam numa confortável gaiola.
O alimento, na forma de um cacho de bananas, era colocado pendurado com uma
corda no meio da gaiola, a uma altura ao alcance da turma. Ao longo de um extenso
período, a altura do cacho foi sendo aumentada, até exigir saltos acrobáticos
individuais por parte dos animais. Quando o esforço para alcançar as bananas
começou a ser tal que provocava um alto nível de estresse, introduziu-se num canto
da gaiola uma escada. Obviamente os macacos logo entenderam a utilidade da
escada. Mas como cientista que se preza não pode deixar os outros em paz por muito
tempo, logo começaram a jogar um jato de água gelada nas costas dos macacos que
ficavam no chão, olhando para o colega que subia na escada para pegar as bananas.
Incomodados com este tratamento, os macacos começaram a bater no infeliz que
ousasse usar a escada para pegar o cacho e voltaram à prática antiga de pegar o
alimento com acrobacias. Aos poucos, os macacos condicionados com o jato de
água gelada foram sendo substituídos por outros que não tinham passado por esta
experiência.
Após sete semanas não restava sequer um único macaco que tivesse sido
molhado cada vez que um colega usava a escada para alcançar as bananas. Mas,
mesmo assim, cada vez que um novo macaco era introduzido e ousava usar a escada
apanhava muito de seus colegas. Meses depois, um inquieto estudante, na hora do
almoço, ficou observando os macacos e achou muito estranho eles ficarem se
matando de esforço para alcançar o cacho ao invés de usar a escada. Sem hesitar,
perguntou para o professor:
- Professor, porque os macacos não usam a escada?
O professor respondeu:
- É que para esses macacos, sempre foi assim... 7
Gerenciamento de materiais e estoque

Trata-se do controle do tipo e quantidade de um insumo, na forma de produto acabado


ou mesmo resíduo do processo. Esses controles visam assegurar que as matérias primas e
produtos acabados alcancem a produção e o cliente, respectivamente, sem perdas como
derramamento, vazamento ou demais formas de desperdício (LORA, 2000).

Mudanças de tecnologia

Várias medidas de caráter tecnológico podem ser aplicadas com o objetivo de evitar
perdas, reduzir consumo de energia e quantidade de resíduos gerados num processo de
manufatura. Tais medidas podem incluir adaptações de equipamentos e até mesmo mudanças
de condições operacionais. Exemplos:
- instalação de medidor instantâneo de gramatura na saída da máquina de papel, em
substituição ao sistema antigo de medição de gramatura (evitando desperdício em caso de
não-conformidade do produto).
- utilização de novas técnicas de extração e separação (como o uso de membranas,
ultrafiltração, etc.) visando à eliminação de solventes orgânicos e maior retorno de
subprodutos ao processo (KIPERSTOK et al, 2002).

Mudanças no processo

Incluem mudanças no procedimento operacional e de manutenção dos equipamentos.


A modificação nos processos de produção inclui a otimização da configuração de parte ou de
todo o processo. Exemplo disso é o retorno de águas de lavagem (de correntes oleosas e
produtos químicos) ao processo, bem como a segregação desses efluentes (após o processo),
de modo a conferir, a cada uma delas, um tratamento (ambientalmente) mais adequado e
menos oneroso. O fato mais curioso é que muitas modificações de processo podem ser
introduzidas de forma simples e com base no bom senso, que muitas vezes exigem poucas
alterações para produzirem grandes transformações em termos de minimização de resíduos
(KIPERSTOK et al, 2002).

Reciclagem

Uma vez que os recursos de redução na fonte se esgotaram, passa-se a pensar no


reuso e reciclagem dos resíduos gerados. O termo reuso geralmente é definido como sendo o
aproveitamento de um resíduo ou efluente em um determinado processo, sem a necessidade
de qualquer alteração de suas características. Já reciclagem é o aproveitamento do resíduo
após alguma(s) alteração(ões) de suas características, afim de atender aos requisitos desse
processo onde será aproveitado. A reciclagem permite que materiais considerados como
resíduos e, portanto, sem utilidade para o processo gerador tornem-se matérias primas
secundárias para outro processo/empresa. Assim, a reciclagem difere da reutilização por
exigir um maior grau de processamento, excedendo a simples triagem e limpeza do material.
Em geral, quanto mais próximo do processo que o gerou, maior o valor do resíduo e,
conseqüentemente, mais fácil será o seu reaproveitamento no processo.
Nas instalações industriais é comum a reciclagem de grandes quantidades de
materiais. Para a reciclagem de cada tipo de material há processos tecnológicos específicos.
Resíduos metálicos, por exemplo, podem ser fundidos para a fabricação de novas chapas, que
por sua vez servirão de matéria prima para novas peças. A reciclagem do alumínio

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economiza 95% de energia em relação à produção do material a partir da bauxita. O vidro
também é fundido em novas peças, com economia de 50% no consumo de água em relação à
fabricação a partir de suas matérias primas originais. Plásticos são fundidos e transformados
em grânulos, que são usados como matéria prima na fabricação de novos produtos, com
economia de 78,7% de energia elétrica (CALDERONI, 1998, citado por PHILIPPI Jr, 2005;
LORA, 2000; PHILIPPI Jr, 2005).

Boas práticas operacionais

Incluem, dentre outros:


- procedimentos de operação mais apropriados ao processo;
- prevenção de perdas;
- segregação de correntes de resíduos;
- melhorias no manuseio dos materiais;
- programação da produção (PHILIPPI Jr, 2005; LORA, 2000).

Inventário de resíduos

O primeiro passo para a proposição de um programa de gerenciamento de RSI é a


elaboração de um inventário abrangendo as informações de todas as fontes e etapas de
tratamento destes resíduos, incluindo sua geração, reciclagem, disposição final, etc. Além de
levantar informações sobre os resíduos gerados, o inventário ainda permite, dentre outros:
- a identificação, classificação e descrição de todos os RS gerados;
- identificação dos setores da produção geradores destes resíduos (por volume e grau
de toxicidade/periculosidade).
O inventário destes RSI devem estar baseados na Resolução no 313/02 do CONAMA.
Para visualizar a Resolução, acessar a URL: http://www.mma.gov.br/port/conama/
res/res02/res31302.html.

4.2 Bolsa de resíduos

Tem por objetivo ofertar resíduos entre as empresas, tanto para compra como para a
venda. Um dos maiores benefícios da bolsa de resíduos é a criação de receita, pois o gerador
do resíduo deixa de gastar com a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição, ganhando
com a venda. Atualmente, a bolsa de resíduos (também chamada bolsa de reciclagem) são
administradas pelas federações estaduais da indústria (FIEP, no Paraná), as quais não têm
fins lucrativos (servem apenas como fonte de informação, de modo a facilitar o intercâmbio
entre as empresas).

4.3 Sistema de gestão ambiental (SGA)

A NBR ISO 14001 – Sistemas de gestão ambiental – Especificação e diretrizes para


uso, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), define:

Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é a parte do sistema de


gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades de
planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos,
processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir,

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analisar criticamente e manter a política ambiental (ABNT,
1996b).

Um sistema da gestão ambiental pode ser definido como um conjunto de


procedimentos para gerir ou administrar uma empresa, de forma a obter o melhor
relacionamento com o meio ambiente.
A ISO 14001, por exemplo, foi redigida de modo a se aplicar aos vários tipos de
processos das diferentes indústrias, independentemente da sua natureza e tamanho. Assim
como a ISO 9000, segue toda uma sistemática de procedimentos, a serem seguidos durante as
etapas de produção (ações corretivas, não-conformidades, etc.).

4.4 Análise do ciclo de vida

Segundo Chehebe (1998, citado por PINTO, 2004), “A análise do ciclo de vida é uma
ferramenta da gestão, que vai ajudar no acompanhamento dos objetivos e metas definidos no
sistema da gestão ambiental (SGA), bem como é uma técnica para avaliação dos aspectos
ambientais e dos impactos potenciais associados a um produto, compreendendo etapas que
vão desde a retirada da, Natureza, das matérias-primas elementares que entram no sistema
produtivo (berço) à disposição final do produto final”.
De acordo com Pinto (2004), “a NBR ISO 14040/01 – Gestão ambiental – Avaliação
do ciclo de vida – Princípios e estrutura, da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), estabelece as diretrizes gerais, os princípios e práticas para a condução e emissão de
relatório, de forma responsável e coerente, de estudos de avaliação do ciclo de vida, bem
como estabelece que a análise do ciclo de vida de produtos deve incluir a definição do
objetivo e do escopo do trabalho, uma análise do inventário, uma avaliação de impacto e a
interpretação dos resultados (ABNT, 2001; CHEHEBE, 1998)”.

5 Segregação, armazenamento e transporte de resíduos

5.1 Segregação

A segregação dos resíduos na indústria e nos locais de tratamento é bastante


importante no gerenciamento de resíduos sólidos, e tem como objetivos:
- evitar a mistura de resíduos incompatíveis;
- facilitar os processos de separação posteriores à etapa onde o resíduo foi gerado.
Os fenômenos mais comuns que podem ter origem na mistura de resíduos
incompatíveis são a geração do fogo ou explosão, calor, gases tóxicos. Além disso, essa
mistura pode onerar as etapas posteriores de separação, devido aos grandes volumes a serem
tratados (LORA, 2000).

5.2 Armazenamento
Uma vez gerados, os RSI devem ser mantidos em contêineres compatíveis com sua
natureza. Armazenar um resíduo significa contê-lo, temporariamente, à espera de um destino
final (reciclagem, reuso, tratamento ou disposição em aterro), desde que atenda às condições
básicas de segurança. Dependendo da natureza do resíduo, seu armazenamento deve atender
às seguintes especificações: NBR 12.235 (Armazenamento de resíduo perigosos), Decreto Nº.
4.074 de 4 de janeiro de 2002 (Armazenamento de resíduos de agrotóxicos), norma da ABNT
- NBR 11.174/NBR 1.264 (Armazenamento de resíduos classes II-não inertes e III-inertes),
norma da ABNT - NB 1.183 (Armazenamento de resíduos sólidos perigosos).
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As condições de armazenamento devem assegurar que os resíduos não migrarão para o
ambiente externo, sendo que os recipientes, reservatórios ou galpões devem ser providos de
proteção adequada, por exemplo:
- tampa ou fechamento do ambiente para materiais em pó ou muito leves;
- ventilação, aterramento elétrico e instalações de proteção para produtos
inflamáveis;
- isolamento e acesso restrito para resíduos perigosos;
- sinalização advertência (comunicação dos riscos presentes na área).

5.3 Transporte

O transporte dos RSI é de inteira responsabilidade do seu gerador; mesmo que ele
terceirize a disposição dos resíduos, continua sendo responsável até sua eliminação ou
inativação. Ao contrário dos resíduos líquidos e gasosos, os sólidos precisam ser
transportados mecanicamente do ponto de geração até o ponto da disposição final. Nesse
caso, a modalidade mais usada é o transporte rodoviário. Para certos resíduos, é necessário
documentação especial para o transporte de certos resíduos, em alguns casos, até mesmo
autorização e/ou conhecimento do órgão ambiental.
No Brasil, ainda não existem regras, normas e legislação especificas para o transporte
de resíduos sólidos perigosos. Desse modo, devem ser utilizadas as normas e legislação para
o transporte de resíduos, conforme Decreto Nº. 4.074 de 4 de janeiro de 2002 (Transporte de
resíduos agrotóxicos), norma ABNT 13.221 (Transporte de resíduos) e demais normas da
ABNT associadas. A competência para inspecionar e controlar veículos de transporte desse
tipo de carga é do INMETRO, de acordo com o referido Decreto-lei (LORA, 2000;
PHILIPPI Jr, 2005).

6 Tratamento de RSI

Muitos dos problemas de passivo ambiental das empresas se devem à disposição


inadequada de seus resíduos sólidos. Como a legislação brasileira estabelece que o
responsável pelo destino dos resíduos seja o próprio gerador, as empresas não podem
simplesmente abandonar o destino de seus resíduos nas mãos de terceiros; precisam verificar,
por meio de inspeções e auditorias, os procedimentos adotados pelos seus contratados para o
destino final de seus resíduos.
Por outro lado, tais contratados são também responsáveis e devem estar tecnicamente
capacitados e possuir todos os meios necessários à disposição dos resíduos. O contratante
deve exigir, além dos documentos comerciais, todas as autorizações pertinentes aos órgãos
públicos para funcionamento.
O tratamento de resíduos sólidos é entendido como todo processo que modifique as
características, composição ou propriedades do resíduo, de modo a tornar menos impactante
(em termos de volume, toxicidade) sua disposição final no solo, tornando os resíduos mais
assimiláveis, do ponto de vista ambiental. Os métodos de tratamento podem englobar as
seguintes etapas:
- destruição química dos resíduos;
- conversão dos componentes agressivos em formas menos tóxicas ou perigosas;
- redução do volume do resíduo.
Atualmente são conhecidos mais de trinta processos de tratamento de resíduos
industriais, os quais se subdividem em 3 grupos:

11
- tratamentos físicos: abrangem métodos de separação de fases, de redução de
volume ou recuperação de materiais passíveis de reaproveitamento.
- tratamentos biológicos: baseiam-se na degradação de compostos a partir da ação
de microrganismos.
- tratamentos químicos: processamento químico do resíduo de modo a inertizar sua
toxicidade.
A página da Agência de Proteção Ambiental dos EUA traz muitos detalhes acerca de
cada uma destas técnicas de tratamento.

6.1 Compostagem

O processo de compostagem é um processo de reciclagem da parte orgânica do


resíduo sólido. Nos aterros, o processo de decomposição é anaeróbio (pela ausência de ar no
interior das células); na compostagem, entretanto, ocorre uma digestão aeróbia do resíduo
orgânico. O processo de digestão aeróbia, desenvolvido por uma população mista de
microorganismos aeróbios e anaeróbios, causa o aumento da temperatura da massa, o qual
deve ser controlada entre 35 e 65 oC (range ótimo de temperatura para que o processo se
desenvolva). A principal vantagem da compostagem é a valorização da parte orgânica do
resíduo sólido, aumento da vida útil do aterro sanitário e as propriedades fertilizantes do
produto compostado. Além disso, esse processo promove a inativação da maioria dos agentes
patogênicos. Desvantagens: o processo é mais caro que o aterro sanitário convencional;
dificuldade de comercialização do produto compostado; processo biológico pode ser lento
(até 180 para a degradação completa); exige áreas (de pátio) relativamente grandes. O
procedimento da compostagem é abordado na ABNT NBR 13.591/96.

FIGURA 4 – Pátio de compostagem e


Produto compostado.

6.2 Encapsulamento

Também chamado de estabilização e solidificação, é um estágio de pré-tratamento


pelo qual os constituintes perigosos de um resíduo são transformados e mantidos em suas
formas menos solúveis ou tóxicas. Tais transformações ocorrem via reações químicas que
fixam elementos, ou compostos tóxicos, em polímeros impermeáveis ou cristais estáveis,

12
chamados adsorventes ou encapsulantes. Assim estabilizados, ficam menos agressivos ao
meio ambiente e podem ser confinados em aterros industriais. O encapsulamento pode se dar
ainda pela mistura dos resíduos com material pozolânico (cimento, por exemplo) de modo a
formar um bloco sólido que “aprisiona” o contaminante. Quando se trata de resíduos
perigosos, é comum o acondicionamento do material em tambores, antes da disposição no
aterro. O material mais empregado para encapsulamento é o polietileno. Como em qualquer
operação de manuseio de resíduos, devem ser tomados alguns cuidados durante o processo de
estabilização, evitando a mistura de materiais que possam efetivamente reagir entre si,
provocando a liberação de calor (reação exotérmica) e/ou gases inflamáveis. É o caso de
resíduos orgânicos e oleosos que, além de dificultar o endurecimento do cimento, podem
emanar vapores. O órgão ambiental do Estado de São Paulo (CETESB 4 ) apresenta uma
tabela relacionando vários tipos de materiais e suas formas de estabilização. O
encapsulamento tem o inconveniente de poder aumentar várias vezes o volume dos resíduos
(LORA, 2000; PHILIPPI Jr, 2005).

6.3 Lanfarming (tratamento no solo)

É uma das técnicas de biorremediação mais usadas para resíduos contaminados com
hidrocarbonetos. Esse nome foi originalmente dado pela Agência de Proteção Ambiental dos
EUA (USEPA) e se refere ao método de tratamento onde o substrato orgânico de um resíduo
é degradado biologicamente na camada superior do solo. Trata-se de um sistema de
tratamento no solo de resíduos de natureza orgânica que se utiliza principalmente de
processos biológicos na degradação, transformação e imobilização do resíduo.
Ao contrário de outras formas de disposição de resíduos em solos, o landfarming não
requer barreiras físicas, como mantas impermeabilizantes para isolar os resíduos. Isso graças
à propriedade do solo de evitar o processo de migração e lixiviação dos constituintes
perigosos. Esse método foi desenvolvido há quase três décadas pela indústria petrolífera no
tratamento de borras oleosas e consiste, na prática, na mistura do resíduo orgânico com o
solo (numa camada de 15 a 20 cm). Esse procedimento facilita o acesso de microrganismos
presentes no solo, permitindo ainda a aeração da mistura (processo biodegradativo aeróbio).
Pelo revolvimento constante da mistura a degradação se desenvolve e o resíduo vai se
estabilizando. Frequëntemente pode ser adicionado calcário ao solo (para correção do pH) e
adubos nitrogenados como nutrientes ao microrganismos (LIMA, 1995; LORA, 2000;
MANAHAN, 1999; PHILIPPI Jr, 2005). O landfarming apresenta como vantagens o baixo
custo do processo (de 30 a 60 US$ por tonelada de resíduo), é de fácil implementação e
operação. Como desvantagens, cita-se o fato de requisitarem elevadas áreas para o
tratamento; além disso, a presença de metais pesados (bioimunes) podem inibir a ação dos
microrganismos. O procedimento do landfarming é abordado na ABNT NBR 13.894/97.

6.4 Incineração

Além do depósito em aterros, uma outra maneira comum de tratar os resíduos,


particularmente os orgânicos e biológicos, é através da incineração. A incineração consiste
da oxidação de materiais por combustão controlada até a redução do resíduo a produtos
simples mineralizados como o CO2 e água. Praticamente toda matéria orgânica sólida pode
ser transformada em gases, dependendo das condições da incineração. Produtos inorgânicos
sofrem decomposição térmica ocorrendo perda de massa havendo, portanto, uma significativa

4
CETESB: www.cetesb.sp.gov.br

13
redução do volume; nesse caso, os resíduos são reduzidos a cinzas (dispostas em aterro), que
representam de 5 a 15% do peso inicial.
Os incineradores constam, basicamente, de reatores com câmaras de alta temperatura e
atmosfera oxidante. Para uma oxidação e/ou decomposição eficiente dos resíduos via
incineração, deve-se controlar alguns fatores:
- quantidade de O2 disponível na câmara de combustão;
- turbulência, afim de garantir uma mistura eficiente entre o resíduo e a atmosfera da
câmara;
- temperatura de combustão, elevada o suficiente de modo a garantir uma boa queima;
- tempo de residência dos resíduos na câmara de combustão.
O principal problema ambiental da incineração é a poluição do ar, tanto por gases
quanto por material particulado, subprodutos da queima. Uma alternativa que tem sido
utilizada para este problema é a instalação de absorvedores de gás e filtros de manga para
retenção destes materiais. Outra desvantagem da incineração, dependendo do resíduo
queimado, é o risco da produção e emissão de dioxinas e furanos, substâncias tóxicas e
cancerígenas.
A incineração pode ser uma boa alternativa em países com pouca disponibilidade
territorial, como o Japão.

7 Disposição final dos RSI

Entende-se por disposição final de resíduos sólidos “a colocação dos resíduos em


aterros sanitários ou industriais, a injeção em poços profundos ou minas abandonadas”. No
Brasil, as duas últimas formas não são usadas, sendo adotada apenas a disposição dos
resíduos em aterros, que se constitui, muitas vezes, na alternativa mais viável (dados que
comprovam a predominância do aterro como destino final podem ser vistos na página do
IAP, no Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Industriais). Os aterros sanitários são obras
de engenharia destinadas a acomodar os resíduos sobre o solo, minimizando os impactos
ambientais e os riscos sobre a saúde. Devem possuir drenos para os líquidos percolados
(chorume) que se formam pela decomposição natural da matéria orgânica e
impermeabilização (conforme Figura 5) adequada para evitar a contaminação dos aqüíferos.
Para a realização correta da disposição de resíduos em aterros, é fundamental que
sejam observadas as seguintes etapas:
a) identificação e classificação dos resíduos;
b) seleção de um local favorável;
c) escolha do tipo de aterro a ser utilizado;
d) execução do projeto técnico de maneira criteriosa, atendendo ao disposto nas
normas brasileiras;
e) operação correta do aterro, incluindo o monitoramento das águas do lençol
freático e superficiais bem como do percolado.
Conforme o tipo, natureza, quantidade e grau de periculosidade, os resíduos sólidos
industriais poderão ser dispostos em:
- aterros industriais CLASSE I: projetados, instalados e operados especialmente para
receber resíduos industriais classe I;
- aterros industriais CLASSE II: projetados, instalados e operados especialmente
para receber resíduos industriais classe II (A e B).
Para assegurar que os aterros sejam construídos de forma adequada, as normas NBR
10.157 (Aterros – critérios para projetos, construção e operação) e NBR 8418 (Apresentação

14
de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos – Procedimento) estabelecem as
exigências relativas à localização, segregação e análise dos resíduos, monitoramento,
inspeção, fechamento da instalação e treinamento de pessoal.
Mais detalhes sobre o projeto de aterros (aspectos topográficos, hídricos, vegetação,
etc.), planos de emergência, segregação, controle de operação, contingência, dentre outros,
podem ser consultados em literatura específica ou, mais sucintamente, em LORA (2000) [as
páginas 460 e 461 de LORA (2000) apresentam ainda várias normas e a legislação federal
sobre resíduos sólidos].

FIGURA 5 – Impermeabilização do solo num aterro sanitário.

8 Referências bibliográficas

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Transporte”; Agência Nacional de Energia Elétrica; Brasília (DF); 2000. 503p.

15
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industrial e de transporte. 2.ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2002. 481 p., il.

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Clarendon Press. 1981.

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