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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA, ECONOMIA E NEGÓCIOS


DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Estevão Alves Sousa Assunção Aragão
164.510
1º Termo - Integral

Nascido em Königsberg, na antiga Prússia, Immanuel Kant é, com certeza, um


dos maiores filósofos da história. Antes de aprofundar em seu pensamento, contudo,
é válido destacar um pouco sobre sua biografia. Nesse sentido, destaca-se primeira-
mente, o fato de nunca ter saído de sua cidade natal, onde morreu aos setenta e nove
anos de idade.
Em seguida, é possível mencionar sua origem humilde: seu pai era seleiro e
teve uma educação protestante. Segundo Andrade (2011), apesar disso, desde sua
infância, Kant priorizava a integridade pessoal acima do dogmatismo religioso. Por
conta desse princípio, possuía uma métrica muito rígida de pontualidade, sistemática
e moral. Devido ao fato de ter seguido uma vida modesta, há pouco que possa ser
acrescentado produtivamente acerca da sua biografia.
Por outro lado, contudo, é indispensável comentar sobre seu contexto histórico.
Assim, durante grande parte da sua vida, Kant viveu sob o governo de Frederico, o
Grande, o qual proporcionou à Prússia um desenvolvimento intelectual e universitário,
um período de prosperidade e de modernização administrativa, afora um expansio-
nismo militar. Além disso, no campo das ideias, pode-se observar não só que o autor
vivenciava o Iluminismo, em que a influência desse período ocorre em função do en-
foque que Kant confere não só ao indivíduo, mas também à razão.
Nessa perspectiva, convém destacar, em primeiro lugar, que, para Kant, o Ilu-
minismo seria um momento de Aufklärung – o qual a melhor tradução pode ser por
“Esclarecimento” –, isto é, um processo de amadurecimento à chegada da maturi-
dade, representada pela aquisição da autonomia – processo de decisões pela própria
racionalidade –, em contraposição à heteronomia – a tomada de decisões a partir de
imposições externas.
Além disso, a essa definição de autonomia, Kant acrescenta o seu conceito de
liberdade: de acordo com Andrade (2011), enquanto o aspecto negativo da liberdade
significava a ausência de obstáculos, o lado positivo da liberdade representava o

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domínio das leis autoimpostas de forma racional, o que propriamente indica a autono-
mia do indivíduo.
Com esses princípios, Kant desenvolve sua principal contribuição ao campo
político, resultando na constituição de uma doutrina do direito, baseada na autonomia
da vontade e em fundamentos morais. Nesse sentido, o direito opera sob o princípio
de não transgressão da liberdade dos demais, isto é, o indivíduo tudo pode desde que
não interfira no direito dos demais. Por conta disso, tal doutrina consegue abarcar as
duas dimensões, negativa e positiva, da liberdade humana, já que concede autonomia
aos indivíduos, mas impede de atuar na liberdade dos demais – ao passo que as
normas jurídicas se relacionam com a qualidade negativa, pois consiste na restrição
da liberdade absoluta, o aspecto positivo está atrelado às leis morais, uma vez que
partem da autonomia dos indivíduos.
Para assegurar esse sistema, Kant ressalta a utilização da coerção, não só
para coibir que as pessoas desrespeitem os direitos dos demais, mas também para
que, caso ocorra, exista punições. Assim, “a coerção é parte integrante do direito; a
liberdade, paradoxalmente, requer a coerção” (ANDRADE, 2011, p. 56)
É possível observar, ademais, que não houve menção, até o momento, ao que
é considerado estado de natureza por Kant. Isto porque o autor não possui um escrito
que possa determinar com clareza o que ele considerava ser esse estado, além de
não realizar uma avaliação moral, entretanto, é necessário ressaltar que ele acredi-
tava na tendência ao progresso e ao aperfeiçoamento moral da humanidade – por
conta disso, por exemplo, Kant referenciava a Revolução Francesa como aconteci-
mento que pôs em prática a sua tese.
Sob essa lógica, a transição do estado de natureza para a sociedade civil não
acontece operando num princípio utilitarista, mas como uma imposição universal, de-
rivada do apriorismo, isto é, configura-se como um imperativo moral para consagração
das dimensões da liberdade. Além disso, o pacto social que era o símbolo de gênese
das sociedades, tão importante para os filósofos contratualistas, tem sua relevância
desconsiderada, tida como algo que possivelmente ocorreu fora da história, funcio-
nando apenas para explicar o funcionamento da sociedade – esse raciocínio advém,
novamente, do apriorismo, pois sem a ideia de um contrato, seria inviável a sua própria
construção.

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Unidos em sociedade, os indivíduos devem sistematizar um modo de organiza-
ção social, o qual Kant propõe a república ser o Estado ideal. Assim como a sociedade
civil e o pacto social, a república também seria uma ideia a priori, aproximando-se de
uma Constituição política legítima, a qual tem, como principais características, leis
autônomas – criadas pela vontade do povo – e resguardo das posses individuais, uti-
lizando-se da coerção pública para assegurá-las.
Além disso, a liberdade é o princípio fundamental dessa Constituição, em que
estão articuladas as soberanias do povo e particular. Vale ressaltar, por fim, que a
república, como estrutura de funcionamento social, independe da forma de governo –
isto é, seja uma monarquia ou uma democracia, o que de fato importa, para Kant, é a
permanência do princípio político republicano: a separação entre os poderes executivo
e legislativo, fora a necessidade de neutralização dos interesses privados na esfera
pública. (ANDRADE, 2011)
Por conta dessa configuração republicana – em que o conflito de ideias e de
interesses é estimulado e funciona como transformador da realidade, encaminhando-
se para o progresso moral –, enquanto Kant orienta os indivíduos acerca da necessi-
dade a priori de paz, aos Estados, ele afirma ser o dever dessas instituições a forma-
ção de uma comunidade jurídica internacional, na qual as hostilidades estão findadas
em razão de acordos racionais. Assim,

Se o pacto originário em cada país cria a república, o pacto que constitui a


Liga das Nações [a comunidade jurídica internacional] pressupõe a república
como regime político nos países contratantes. A razão disso é simples: ao
povo não interessa a guerra e, quando pode manifestar-se livremente sobre
a questão, declara-se contra ela. (ANDRADE, 2011, p. 69)

Portanto, é possível observar que, para Kant, uma vez que os indivíduos seriam
conduzidos à paz e todos os países encaminharam-se para o estabelecimento de uma
república – isso porque são ideias a priori –, o autor defende que haverá um momento
que não haverá mais guerras, alcançando a almejada paz perpétua.
Para finalizar este fichamento, em seguida estão alguns trechos que receberam
destaque:

Toda a filosofia kantiana do direito, da política e da história repousa sobre


essa concepção dos homens como seres morais: eles devem organizar-se
segundo o direito, adotar a forma republicana de governo e estabelecer a paz

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internacional, porque tais são comandos a priori da razão, e não porque se-
jam úteis. (ANDRADE, 2011, p. 51)

“Liberdade e moralidade e [...] política e universalidade são indissociáveis.”


(ANDRADE, 2011, p. 55)

A política, como atividade de elaboração e aperfeiçoamento constitucional, é


um processo de racionalização das relações entre os homens e entre os Es-
tados. Mas o progresso não é um processo rápido, nem indolor. Ele é lento,
enganoso e sobretudo contraditório. A humanidade avança por efeito da con-
traditoriedade das opiniões, dos interesses particulares e dos interesses na-
cionais. (ANDRADE, 2011, p. 66)

“A história se desenrola, é verdade, segundo a lei natural do progresso moral;


mas a intervenção política deliberada segundo a razão faz-se necessária para que se
evitem as guerras.” (ANDRADE, 2011, p. 68)

Referências bibliográficas
ANDRADE, Regis de Castro. Kant: a liberdade, o indivíduo e a república. In: WEF-
FORT, F.C. Os clássicos da política, vol. 2. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2011

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