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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA, ECONOMIA E NEGÓCIOS
DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
domínio das leis autoimpostas de forma racional, o que propriamente indica a autono-
mia do indivíduo.
Com esses princípios, Kant desenvolve sua principal contribuição ao campo
político, resultando na constituição de uma doutrina do direito, baseada na autonomia
da vontade e em fundamentos morais. Nesse sentido, o direito opera sob o princípio
de não transgressão da liberdade dos demais, isto é, o indivíduo tudo pode desde que
não interfira no direito dos demais. Por conta disso, tal doutrina consegue abarcar as
duas dimensões, negativa e positiva, da liberdade humana, já que concede autonomia
aos indivíduos, mas impede de atuar na liberdade dos demais – ao passo que as
normas jurídicas se relacionam com a qualidade negativa, pois consiste na restrição
da liberdade absoluta, o aspecto positivo está atrelado às leis morais, uma vez que
partem da autonomia dos indivíduos.
Para assegurar esse sistema, Kant ressalta a utilização da coerção, não só
para coibir que as pessoas desrespeitem os direitos dos demais, mas também para
que, caso ocorra, exista punições. Assim, “a coerção é parte integrante do direito; a
liberdade, paradoxalmente, requer a coerção” (ANDRADE, 2011, p. 56)
É possível observar, ademais, que não houve menção, até o momento, ao que
é considerado estado de natureza por Kant. Isto porque o autor não possui um escrito
que possa determinar com clareza o que ele considerava ser esse estado, além de
não realizar uma avaliação moral, entretanto, é necessário ressaltar que ele acredi-
tava na tendência ao progresso e ao aperfeiçoamento moral da humanidade – por
conta disso, por exemplo, Kant referenciava a Revolução Francesa como aconteci-
mento que pôs em prática a sua tese.
Sob essa lógica, a transição do estado de natureza para a sociedade civil não
acontece operando num princípio utilitarista, mas como uma imposição universal, de-
rivada do apriorismo, isto é, configura-se como um imperativo moral para consagração
das dimensões da liberdade. Além disso, o pacto social que era o símbolo de gênese
das sociedades, tão importante para os filósofos contratualistas, tem sua relevância
desconsiderada, tida como algo que possivelmente ocorreu fora da história, funcio-
nando apenas para explicar o funcionamento da sociedade – esse raciocínio advém,
novamente, do apriorismo, pois sem a ideia de um contrato, seria inviável a sua própria
construção.
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Unidos em sociedade, os indivíduos devem sistematizar um modo de organiza-
ção social, o qual Kant propõe a república ser o Estado ideal. Assim como a sociedade
civil e o pacto social, a república também seria uma ideia a priori, aproximando-se de
uma Constituição política legítima, a qual tem, como principais características, leis
autônomas – criadas pela vontade do povo – e resguardo das posses individuais, uti-
lizando-se da coerção pública para assegurá-las.
Além disso, a liberdade é o princípio fundamental dessa Constituição, em que
estão articuladas as soberanias do povo e particular. Vale ressaltar, por fim, que a
república, como estrutura de funcionamento social, independe da forma de governo –
isto é, seja uma monarquia ou uma democracia, o que de fato importa, para Kant, é a
permanência do princípio político republicano: a separação entre os poderes executivo
e legislativo, fora a necessidade de neutralização dos interesses privados na esfera
pública. (ANDRADE, 2011)
Por conta dessa configuração republicana – em que o conflito de ideias e de
interesses é estimulado e funciona como transformador da realidade, encaminhando-
se para o progresso moral –, enquanto Kant orienta os indivíduos acerca da necessi-
dade a priori de paz, aos Estados, ele afirma ser o dever dessas instituições a forma-
ção de uma comunidade jurídica internacional, na qual as hostilidades estão findadas
em razão de acordos racionais. Assim,
Portanto, é possível observar que, para Kant, uma vez que os indivíduos seriam
conduzidos à paz e todos os países encaminharam-se para o estabelecimento de uma
república – isso porque são ideias a priori –, o autor defende que haverá um momento
que não haverá mais guerras, alcançando a almejada paz perpétua.
Para finalizar este fichamento, em seguida estão alguns trechos que receberam
destaque:
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internacional, porque tais são comandos a priori da razão, e não porque se-
jam úteis. (ANDRADE, 2011, p. 51)
Referências bibliográficas
ANDRADE, Regis de Castro. Kant: a liberdade, o indivíduo e a república. In: WEF-
FORT, F.C. Os clássicos da política, vol. 2. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2011
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