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Filosofia

Política para Platão

Teoria

A República: Um diálogo sobre a justiça


Acredita-se que Platão tenha escrito A República como uma resposta à morte injusta de Sócrates. De fato, a
busca pela natureza da justiça é o fio condutor que perpassa todos os dez livros que compõem a obra. Crítico à
democracia ateniense, que condenou Sócrates, pelo voto da maioria, a ingerir cicuta, Platão se propôs a
formular por si mesmo uma cidade justa.

As partes da alma
Para compreender a estrutura dessa cidade idealizada por Platão, é preciso ter em mente que o homem se
divide em corpo e alma. E que a alma, por sua vez, é constituída por três partes distintas, quais sejam, a parte
apetitiva (relativa aos desejos e às necessidades do corpo), a parte irascível (relativa à força física e à
coragem) e a parte racional (relativa à capacidade intelectual).

Nessa perspectiva, de acordo com a sua natureza, cada pessoa nasce com as partes da alma aprimoradas
de maneiras diferentes. Por isso, aqueles que possuem a parte apetitiva mais desenvolvida têm aptidão para
produzir e comercializar os bens que satisfazem as necessidades do corpo, como a alimentação, as
vestimentas e os utensílios em geral.

No entanto, aqueles cuja parte irascível é mais desenvolvida têm aptidão para garantir a segurança da cidade,
protegendo-a seja de ataques externos, como guerras e invasões, seja de conflitos internos, como brigas e
desentendimentos. Por fim, aqueles que possuem a parte racional da alma mais desenvolvida (os filósofos)
têm aptidão para as atividades intelectuais, como elaborar as leis, por exemplo.

Desse modo, para o bom funcionamento da cidade, cada cidadão deve exercer as funções que estejam de
acordo com a sua aptidão pessoal. Portanto, tal como a alma humana é constituída por três partes, a cidade
justa é composta por três classes distintas, são elas:
● a classe dos artesãos e comerciantes: é responsável pela produção dos bens materiais, bem como de
tudo o que é necessário à manutenção da cidade.
● a classe dos guerreiros: é responsável pela defesa da cidade, seja de ataques externos, seja de conflitos
internos.
● a classe dos guardiões (ou magistrados, a depender da tradução): é responsável pelo governo da cidade
e pela elaboração das leis.

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Filosofia

Sofocracia: O governo dos sábios


Partindo da ideia de que: "a cidade não será justa enquanto os reis não forem filósofos ou os filósofos não
forem reis", Platão estabelece a chamada sofocracia, isto é, o governo dos sábios. Assim, retomando as
metáforas presentes no mito da caverna, é possível notar que o prisioneiro que se libertou e foi capaz de
contemplar a realidade corresponde à figura do filósofo.

Nesse sentido, o filósofo é aquele que realizou a ascensão dialética, superando a aparência das imagens do
mundo sensível, para acessar a verdade do mundo inteligível. Justamente por contemplar a ideia do bem, o
filósofo é o único capaz de conduzir os seus concidadãos tendo em vistas o bem e a justiça. Por isso mesmo,
ele é o mais apto a governar a cidade. Portanto, a justiça na cidade, assim como na alma humana, corresponde
a uma harmonia entre as partes, preservando-se a ideia de que a razão exerce uma função de comando, de
coordenação e de educação das outras partes.

Educação da cidade justa: A expulsão dos poetas


Após estabelecer a estrutura da cidade, Platão refletiu acerca da educação dos cidadãos. Para isso, ele
retomou a base educacional do mundo grego, que se fundamentava em dois pilares básicos, a saber, a
ginástica, cujo objetivo era aprimorar as qualidades do corpo e a música (do grego musiké, que em sentido
amplo, se refere às artes das musas e engloba não só o canto e a harmonia, mas também a poesia), cujo
objetivo era aprimorar as qualidades da alma, como o intelecto e as virtudes.

Mas, apesar de retomar as concepções tradicionais, Platão dirigiu diversas críticas à poesia tal como era
ensinada no seu tempo. A primeira delas, de caráter ético e moral, estava relacionada à maneira como os
poetas descreviam os deuses. Segundo ele, nas poesias de Homero e Hesíodo, por exemplo, os deuses
eram apresentados de modo ambíguo. Ou seja, ora agiam como deuses, ora agiam de maneira passional, isto
é, se vingavam, traíam e seduziam. Com isso, era necessário censurar as poesias a que os jovens teriam
acesso.

A segunda crítica, de caráter ontológico (referente à realidade das coisas, dos entes), estava ligada à
concepção platônica de que a poesia é imitação ( mimese) do mundo sensível, que por si mesmo já é uma
cópia imperfeita do mundo inteligível. Portanto, a poesia está a três graus de distância da Verdade. Há ainda,
a crítica aos efeitos nocivos da poesia sobre o público, de modo a prejudicar a formação do cidadão. Sendo
assim, era necessário expulsar os poetas da cidade justa.

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