Deuteronômio. Campinas: Saber Criativo, 2019. 240 p.
Independentemente se você é uma pessoa recém-convertida ou que já
tem muitos anos de cristianismo, deve ter se deparado com a pergunta interior de que a nossa missão como igreja deve de alguma forma contribuir com a sociedade carente. O pobre, o necessitado, a viúva, o órfão e o estrangeiro sempre precisarão de cuidados especiais uma vez que na categoria social eles sempre se encontram em um local defasado. A teologia do antigo testamento é encantadora, muitos focalizam no reino messiânico, na geopolítica, na estrutura sacerdotal dos Israelitas ou até mesmo, em como a salvação era proclamada diante do povo e das nações vizinhas à Israel. Neste livro, o professor Pedro trata de como deuteronômio regulamentou o cuidado aos mais prejudicados socialmente, sejam eles quais forem. Dessa forma, o autor abençoa a igreja brasileira com um conteúdo do qual você não poderá não se sensibilizar aos mais necessitados ao teu redor, dando assim, um panorama histórico descritivo do que Deus estipulou ao seu povo no antigo testamento com o trato do mais fraco. Em primeiro lugar, a obra de Pedro Santos tem um caráter exegético. O autor visa deixar claro que “os invisíveis da terra em Deuteronômio” são pessoas que vivem à margem da comunidade. Embora seja uma obra acadêmica e densa, o livro é uma aula bem didática de como Deus se importava com as pessoas mais frágeis, e de maneira bem estimulante o autor nos impulsiona a ler com a visão de um povo que foi removido de um contexto de escravidão através da graça soberana, e que seu povo, sendo assim, também deveria ser gracioso para com os próximos aos teus portões. No livro de Deuteronômio, encontra-se uma declaração que pode ser tida como relevante para designar a questão dos Invisíveis da Terra, ao menos de um grupo específico dentro desse grupo. Essa se encontra em Deuteronômio 15.11: “Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra” (BJ). Tal afirmação demonstra a importância dos Invisíveis da Terra para a legislação do livro de Deuteronômio, e, também se pode dizer, da importância da legislação deuteronômica para eles. Assim, há interação de interdependência de um para com outro. A legislação a ser estabelecida coloca em 1 Graduando Bacharel em teologia pela Faculdade Batista Logos (SEBARSP, 2023). relevo a condição pessoal de um grupo de pessoas que, por sua condição socioeconômica, vinha sendo desconsiderada pela comunidade ao seu redor (p. 15-16) Em segundo lugar, o autor deixa bem claro que “cuidar o invisível da terra, dentro de Deuteronômio, é valorizar o próprio Deus de Israel” e isto é fenomenal! Trazer tal conceito à tona é chamar a atenção do leitor de que o alvo principal do cuidado não era o de ser visto pela comunidade em si ou de se autopromover como uma pessoa piedosa. Mas, é de ser grato ao Deus que removeu o povo da escravidão e que foi gracioso. A perspectiva deuteronômica, segundo o autor, no Antigo Testamento enfatiza a importância do cuidado com o ’ebyôn que são frequentemente traduzidos como "pobres" ou "necessitados". Em Deuteronômio e em outros livros da Bíblia hebraica, a preocupação com os pobres e necessitados é vista como uma parte fundamental da obediência à vontade de Deus e da glorificação de Deus. O autor destaca vários termos para demonstrar este cuidado para os mais carentes, os termos são: ‘Ebyon e ‘Anî (pobre, necessitado, aflito), ‘Almanah (viúva), Gêr (estrangeiro), Yâtom (Orfão), Lêwî (Levita), ‘Ebed (servo, escravo), ‘Amah (serva, escrava) e qâtôn (pequeno, insignificante). O autor trata em seu livro em desse conceito de Invisíveis da Terra em Deuteronômio em pelo menos quatro blocos, coma “distribuição dos vocábulos” (parte 1), com “Os invisíveis da Terra e sua ‘pobreza’” (parte 2), ele perpassa exegeticamente cada um destes invisíveis no bloco “Os invisíveis da Terra em bloco” (parte 3) e por fim, “Os invisíveis da Terra como propriedade” (parte 4) fecha demonstrando como a Semittâh deveria auxiliar na restauração ou na continuidade do trabalho de livre vontade da parte do ‘Ebed ou da ‘Amah. Essas leis são dadas em Deuteronômio e instrui o povo de Israel a cuidar dos pobres e necessitados. Isso inclui a prática de dar aos necessitados uma parte dos seus campos e colheitas (Deuteronômio 24:19-22) e não explorar os necessitados (Deuteronômio 24:14-15). O cumprimento destas leis é visto como uma expressão de obediência a Deus. A perspectiva deuteronômica destaca que Deus é misericordioso e compassivo. Ao cuidar dos pobres e necessitados, o povo de Israel está refletindo o caráter de Deus, que é aquele que cuida dos oprimidos e desamparados. Cuidar dos necessitados é visto como um ato de justiça social. Isso significa garantir que todos tenham acesso aos recursos necessários para viver com dignidade. A justiça social é vista como algo que honra a Deus. O cuidado com os necessitados também fortalece a unidade da comunidade. Deuteronômio enfatiza a ideia de que o povo de Israel é uma comunidade que deve se apoiar mutuamente. Deuteronômio, como o quinto livro do Antigo Testamento, é uma obra fundamental que coloca Deus e o homem no centro de sua narrativa de maneira profunda e interconectada. O livro é essencialmente uma recapitulação das leis e instruções dadas por Deus a Israel, mas vai além de ser um simples código legal. Ele estabelece um relacionamento especial entre Deus e o povo de Israel, um relacionamento baseado em amor, obediência e fidelidade. No livro, o autor destaca a intenção principal ou o objeto focal que é o tu/vós. Desde o início de Deuteronômio, Moisés reconta a história do povo de Israel, lembrando sua jornada no deserto, sua libertação da escravidão no Egito e a manifestação da presença de Deus em suas vidas. Essa história não é apenas um relato histórico, mas um lembrete da graça e do cuidado de Deus em relação ao Seu povo. É um testemunho do relacionamento profundo entre Deus e Israel. É uma recapitulação de como eles foram estrangeiros em terras alheias, de como foram oprimidos, necessitados e afligidos no Egito. No coração de Deuteronômio estão os mandamentos e instruções de Deus. Esses mandamentos não são simplesmente uma lista de regras, mas uma expressão do desejo de Deus de que Seu povo viva em um relacionamento correto com Ele. Eles incluem o chamado para amar a Deus acima de tudo, obedecer aos Seus mandamentos e confiar em Sua providência. Estes mandamentos não são onerosos, mas são projetados para proteger e aprimorar o relacionamento entre Deus e o homem. A obediência implica em benção, a desobediência implica em maldição. O relacionamento entre Deus e o homem em Deuteronômio é recíproco. Deus promete bênçãos e proteção quando o povo obedece e permanece fiel à aliança, mas também adverte sobre as consequências da desobediência. Isso enfatiza a responsabilidade mútua e a interdependência entre Deus e o povo. Além disso, Deuteronômio não se limita apenas à relação vertical entre Deus e o homem; ele também enfatiza os relacionamentos horizontais entre seres humanos. As leis sociais e éticas em Deuteronômio são intrinsecamente ligadas à relação com Deus. As orientações sobre o tratamento de estrangeiros, viúvas, órfãos e pobres mostram a preocupação de Deus com a justiça social e o cuidado com os menos favorecidos. A obediência a Deus se traduz em amor e justiça em relação aos outros seres humanos. No livro, Pedro Santos apresenta de maneira magistral as práticas da Semittâh, uma parte essencial da legislação deuteronômica que demonstra a preocupação de Deus com a justiça social e o cuidado para com os oprimidos. As práticas da Semittâh, que incluem o perdão de dívidas, o descanso da terra no sétimo ano e a promoção da igualdade econômica e solidariedade comunitária, são cuidadosamente examinadas em sua obra. Primeiramente, Pedro Santos destaca que a Semittâh era muito mais do que um conjunto de leis; era uma ordenança direta de Deus ao povo de Israel. Isso implica que essas práticas tinham raízes profundas na aliança entre Deus e Seu povo. Eram expressões tangíveis da natureza compassiva e justa de Deus e refletiam Seu desejo de ver Sua criação vivendo em harmonia e equidade. A ênfase do autor na Semittâh se concentra no perdão de dívidas. Ele explora como essa prática não apenas aliviava o fardo dos endividados, mas também evitava a criação de uma classe permanente de pobres devido a dívidas insustentáveis. O perdão de dívidas não era apenas um ato de generosidade; era uma manifestação da graça divina e da preocupação de Deus com os oprimidos e necessitados. O autor ilustra como, ao perdoar dívidas, Deus estava, de fato, restaurando a dignidade daqueles que enfrentavam dificuldades financeiras e dando um recomeço em suas vidas. Além disso, o descanso da terra no sétimo ano era uma prática que não apenas permitia à terra se regenerar, mas também garantia que todos tivessem acesso a alimentos, independentemente de sua situação econômica. O autor realça como isso encarnava a ideia de graciosidade, onde a terra era compartilhada e ninguém ficava faminto. Era uma manifestação prática do mandamento de amar o próximo como a si mesmo e do estabelecimento de um reino de equidade. Hoje, para a igreja brasileira, essas lições da Semittâh têm um significado profundo. Elas nos desafiam a ser agentes ativos de justiça social, a perdoar dívidas, a compartilhar recursos e a garantir que ninguém seja oprimido economicamente. Isso significa que a igreja deve estar ativamente envolvida em questões de pobreza, desigualdade e injustiça. Devemos seguir o exemplo de Deus em Deuteronômio, demonstrando Seu amor e cuidado em nossa sociedade. É claro que essa visão de equidade e justiça apenas terá cumprimento total no reino messiânico, no entanto, o autor enfatiza o fato de que confiar em Deus é também ser generoso para com os necessitados, sejam eles de dentro ou estrangeiros. Recomendo com alegria tal material, de fato, sua densidade acadêmica e sua proposta descritiva podem causar um susto ao leitor inicial. Mas isto não compromete sua compreensão de maneira geral, a edição da editora Saber Criativo caprichou no material. Tem páginas suavemente amareladas, as quais facilitam sua leitura. Espero que muitos se aventurem nessa jornada de aprender mais sobre o antigo testamento, e fortaleçam suas pregações de maneira exegética e descritiva, enfatizando sempre o caráter de Deus em cada linha da escritura.