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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Entes de direito internacional. Estados.


Organizações internacionais. Personalidade internacional.
Direitos territoriais de jurisdição.
(PONTO 2)

4ª TURMA REGULAR
ADVOCACIA PÚBLICA
ACOMPANHAMENTO PERSONALIZADO

CONTEÚDO DEMONSTRATIVO

atendimento@mege.com.br (99) 98262-2200 /cursomege @cursomege


Sumário

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ....................................................................................3


1. DOUTRINA (RESUMO) ...............................................................................................5
2. LEGISLAÇÃO ..........................................................................................................41
3. JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................44
4. QUESTÕES DE CONCURSOS ..................................................................................45
4.1 COMENTÁRIOS ................................................................................................48

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
(Conforme Edital Mege)

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

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Entes de direito internacional. Fernando Filgueiras
Estados.
Organizações internacionais.
Personalidade internacional.
Direitos territoriais de jurisdição.

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Apresentação

Olá amigos e amigas,

Sabemos que no mundo dos concursos a matéria de Direito Internacional, seja ele
Público ou Privado, é uma das mais intrincadas no momento do estudo pelo aluno.
A baixa quan dade de materiais sinte zados para a rápida apreensão do aluno, o
número baixo de provas e, consequentemente, de questões aplicadas sobre os temas desta
matéria, a complexidade de alguns conceitos e, por fim, a falta de familiaridade dos alunos com
a matéria, são alguns dos fatores que contribuem para a dificuldade do estudo.
No material que agora apresentamos aos colegas, notarão que buscamos enfrentar
com afinco todos esses problemas. Não deixamos de abordar os aspectos essenciais das
matérias (com base em importante doutrina autorizada), mesmo os mais complexos, de forma
concisa e sucinta, para que possam compreender os ins tutos do Direito Internacional. O trecho
que agora disponibilizamos para vocês é um bom exemplo dessa busca, vez que trabalhamos 4
com conceitos densos e centrais do Direito Internacional Público de uma forma leve, porém
obje va.
Assim como todos os materiais produzidos em nosso curso, também o Direito
Internacional Público é permeado de citações, referências e alertas aos pontos mais
importantes do material. Igualmente, chamamos a atenção para toda jurisprudencia relevante
(sempre a mais atualizada), que se completa com as questões comentadas, tão importantes ao
exercício do conhecimento para o aluno.
Toda essa informação, naturalmente, pautada nos editais da Advocacia Pública, que
guiam a nossa produção de conteúdo.
Esperamos, sinceramente, que o nosso material possa ajudá-los nessa caminhada.

Boa leitura e con nuem com a gente!

Abraços,
Fernando Filgueiras

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1. DOUTRINA (RESUMO)

Observação inicial: a ligeira inversão nos pontos nessa parcela do estudo se faz por
razões estritamente didá cas. O estudo da personalidade internacional é logicamente
antecedente ao estudo par cular dos entes de direito internacional, conforme demonstra a
doutrina de todos os livros u lizados como referência nesse material, que cons tuem a
doutrina de referência na matéria.

Certamente, o seguimento do material de acordo com o edital implicaria em


verdadeira confusão na mente do candidato, prejudicando o seu entendimento completo da
matéria.

Confiem em nós!

Personalidade jurídica internacional


Para compreender o conceito, é necessário, primeiro, entender o conceito de sujeito
internacional.

Sujeitos internacionais ou pessoas de Direito Internacional são todos aqueles entes


ou en dades, nos termos de Mazzuoli, “cujas condutas estão diretamente previstas pelo direito 5
das gentes (ou, pelo menos, con das no âmbito de certos direitos ou obrigações internacionais)
e que tem a possibilidade de atuar (direta ou indiretamente) no plano internacional”.

Englobam-se nesse conceito, pois, toda e qualquer en dade ou pessoa a qual as


normas internacionais, direta ou indiretamente, atribuem direitos ou impõem obrigações.

Desse primeiro conceito surge um derivado, que é o de personalidade internacional.

De acordo com a doutrina clássica sobre a matéria, o exame da personalidade


internacional envolve o exame da possibilidade de um sujeito atuar diretamente na sociedade
internacional, o que comportaria:
a) O poder de criar as normas internacionais;

b) A aquisição e o exercício de obrigações fundamentadas nessas normas; e, por fim;

c) a faculdade de recorrer a mecanismos internacionais de soluções de


controvérsias.

Hoje em dia, existe um debate sobre quais seriam os sujeitos que possuiriam a
personalidade jurídica internacional.

Para uma primeira corrente, restri va, apenas possuiria a personalidade jurídica
internacional aqueles que contassem com amplos poderes na sociedade internacional,
especialmente o de criar normas internacionais.

Esse entendimento limita, confina, a existência de personalidade jurídica internacional

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aos Estados, às organizações internacionais, os blocos regionais, a Santa Sé, o Comitê
Internacional da Cruz Vermelha, os beligerantes, os insurgentes e as nações em luta pela
soberania.

Já a segunda corrente, ancorada no novo paradigma dos tratados que conferem


direitos e deveres a diversos sujeitos, amplia o leque daqueles com personalidade jurídica
internacional, afirmando que essa qualidade possuiria não apenas aqueles que possuem
amplos poderes na sociedade internacional, mas também aqueles que possuem limitações
nesse sen do.

Assim, segundo essa corrente, também se incluiriam na noção da personalidade


jurídica internacional o indivíduo, as empresas, as ONGs.

ATENÇÃO!

Recomendação ao candidato: de todas as questões elaboradas pelo CESPE sobre o tema, não se
encontrou o ques onamento direto pela adoção de uma das duas correntes.

Caso essa improbabilidade ocorra, especialmente diante da dissensão na doutrina, recomenda-


se seguir o entendimento tradicional.

Entes de direito internacional


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Estudados os sujeitos e a personalidade jurídica internacional, passamos a tratar de
um a um dos entes que possuem representa vidade no cenário internacional e que são citados
pela doutrina especializada.

Especificamente nesse ponto, vamos estudar sobre:

a) Santa Sé;

b) Va cano;

c) Indivíduo;

d) Organizações Não Governamentais;

e) Comitê Internacional da Cruz Vermelha;

f) Empresas;

g) Cole vidades não estatais.

O candidato pode estranhar que nessa lista não se mencionaram os Estados e as


Organizações Internacionais. Tal ocorre, no entanto, em virtude do seu estudo ser
individualizado nos próximos pontos do edital.

Santa Sé

Trata-se da en dade que comanda a Igreja Católica Apostólica Romana, que está
sediada na Cidade do Va cano e seu poder não é limitado por nenhum Estado.

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É chefiada pelo Papa e é composta pela Cúria Romana, que representa o conjunto de
órgãos responsável pelo assessoramento chefe da igreja em dirigir o conjunto de seguidores da
religião na busca de seus fins espirituais.

A doutrina internacionalista entende que a Santa Sé possui personalidade


internacional, status adquirido ao longo dos séculos em que influenciou na vida mundial.

Atualmente, o Papa possui representa vidade na sociedade internacional, pela


quan dade de fiéis que seguem a religião, gozando o Santo Pon fice, ainda, de status de Chefe
de Estado.

Na esteira destes entendimentos, a Santa Sé pode, na sociedade internacional:

1) Celebrar tratados (nominados de “concordatas”, quando visam regular


assuntos de interesse da Igreja Católica);

2) Par cipar de organizações internacionais;

3) Exercer o direito de legação (que corresponde ao direito de enviar e receber


agentes diplomá cos); e, ainda,

4) Abrir missões diplomá cas (chamadas, nesse caso, de “nunciaturas


apostólicas”), chefiadas por “Núncios Apostólicos” e compostas de funcionários de
nível diplomá cos que gozam dos respec vos privilégios e imunidades.

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ATENÇÃO!

A Santa Sé não é um Estado!

O Brasil já celebrou tratado com a Santa Sé, em 2008, nominado de “Acordo rela vo ao
Estatuto Jurídico da Igreja Católica do Brasil”, incorporado ao ordenamento jurídico pelo
Decreto 7.107/201.

Va cano

Ao contrário da Santa Sé, o Va cano é um Estado, o qual conta com território, nacionais
e um estado soberano. Logo, possui personalidade internacional.

Sua principal função é a de conferir suporte material para as a vidades da Santa Sé.

Possui, igualmente, capacidade para celebrar tratados, par cipar de organizações


internacionais e exercer o direito de legação, com a peculiaridade de que este direito de
legação é exercido pela Santa Sé, que se ocupa, na prá ca, da diplomacia do estado va cano.

Indivíduo

A doutrina clássica aponta que o indivíduo não possui personalidade internacional.

No entanto, atualmente, é impossível negar a importância da sua figura na sociedade


internacional. Como exemplo, temos os seguintes tratados mais significa vos que tratam de
direitos e deveres do indivíduo:

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a) Tratados de direitos humanos: como no caso do Sistema Interamericano de
Direitos Humanos, em que um indivíduo pode reclamar à Comissão por uma violação
a um disposi vo do Pacto de San José da Costa Rica, ou então na Convenção Europeia
de Direitos, em que se confere o mesmo direito ao indivíduo;

b) Estatuto de Roma: segundo essa norma va internacional uma pessoa natural


está obrigada a observar as normas internacionais e, caso não o faça, pode responder
pelo ato come do perante os foros internacionais, como o Tribunal Penal
Internacional

Como se vê, já existem normas que conferem direitos e deveres ao indivíduo na


sociedade internacional.

ATENÇÃO!
Observação ao candidato: embora se constate esses direitos e deveres do indivíduo na ordem
internacional, e, por outro lado, exista a doutrina de Mazzuoli e Celso de Albuquerque
afirmando o contrário, ainda se recomenda que, enfrentando uma questão direta sobre o
assunto, o candidato deve assinalar que o indivíduo não possui personalidade jurídica
internacional, na esteira do entendimento de Rezek.

Para tranquilizar o aluno, informamos que nos concursos pesquisados, desde 2006, verificamos
que o CESPE nunca cobrou semelhante assunto diretamente, tratando da doutrina
contemporânea sobre a matéria. Sempre a questão fez a referência à “doutrina clássica” ou ao 8
reconhecimento histórico da ausência de personalidade internacional, a qual segue a linha
acima apontada.

Organizações Não Governamentais (ONGs)

Não possuem personalidade jurídica internacional.

Estas organizações nada mais são do que en dades privadas sem fins lucra vos que
atuam em áreas de interesse público, algumas vezes até em concorrência com o Estado.

A ausência de personalidade internacional, no entanto, não lhes re ra o direito de


recorrer a determinados foros internacionais em defesa de direitos ou interesses vinculados às
suas respec vas áreas de atuação, como ocorre com a possibilidade de pe cionar à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos.

Exemplos de ONGs são o Greenpeace, Human Rights Watch, Médicos Sem Fronteiras
etc.

Comitê Internacional da Cruz Vermelha

Embora seja igualmente de organização privada, a Cruz Vermelha assume relevância


internacional em razão de estar contemplada em diversos tratados de direito internacional.

Com sede em Genebra, na Suíça, é organização de direito privado, independente e


neutra, cuja finalidade é proporcionar proteção e assistência humanitária às ví mas de guerra e
da violência armada. É governado por uma Assembleia (instância suprema), pelo Conselho de

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Assembleia (um corpo subsidiário da Assembleia) e por uma Diretoria (corpo execu vo).

Embora a discussão sobre a sua personalidade jurídica seja controversa, prevalece na


doutrina clássica, a qual recomendamos seja marcada pelo candidato, de que esta específica
en dade privada possui personalidade jurídica internacional.

Empresas

Não possuem personalidade jurídica internacional.

Assim como indivíduos e ONGs, as empresas atualmente podem ser beneficiadas pela
edição de tratados internacionais, especialmente aqueles que facilitam o comércio
internacional e o fluxo de inves mentos.

Por outro lado, também possuem obrigações no cenário internacional, como a


necessidade de cumprir padrões internacionais mínimos estabelecidos em tratados para a
a vidade em determinadas matérias, como as relações de trabalho e o meio ambiente. Podem
até, como no MERCOSUL, acionar mecanismos de solução de controvérsias.

Por fim, as empresas podem celebrar instrumentos jurídicos com Estados e


organizações internacionais, os quais, naturalmente, não configurarão como tratados, mas
como verdadeiros contratos internacionais.

Cole vidades não estatais


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Estudaremos, nesse tópico, quatro cole vidades: os beligerantes, os insurgentes, os


movimentos de libertação nacional e a Soberana Ordem Militar de Malta. Apenas aos três
primeiros é reconhecida a personalidade jurídica internacional.

Vejamos, detalhadamente, cada uma:

a) Beligerantes

São movimentos contrários a um determinado governo de um Estado, que visam


conquistar o poder e criar, com a sua movimentação, um novo ente estatal, e cujo estado de
beligerância é reconhecido pela sociedade internacional.

a.1) Principal caracterís ca: trata-se de revoluções de grande envergadura, que


envolve luta armada, reservada para os casos em que os revoltosos formam tropas regulares e
que tem controle de parte de um território de um Estado, a exemplo do que ocorre nas guerras
civis.

a.2) Reconhecimento: a beligerância é normalmente reconhecida por um ato de


neutralidade de outro Estado, e, por esta razão, é ato discricionário daquele que o emite.

a.3) Consequências: com o reconhecimento do estado de beligerância: (i) os


revoltosos ficam obrigados a respeitas as normas internacionais que regulam os conflitos
armados e (ii) podem celebrar com Estados que se declararam neutros exercer o direito de
captura de bloqueio, etc.. Já o ente estatal onde acontece e reconhece a situação de revolta fica

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isento de eventual responsabilização internacional pelos atos dos beligerantes, e os terceiros
Estados, que se declararam neutros, obrigados a observar os deveres inerentes a esta condição.

b) Insurgentes

Da mesma forma que os beligerantes, os insurgentes também representam um grupo


de pessoas que se revolta contra seu governo e tal revolta pode ser reconhecida pelos demais
Estados da sociedade internacional.

A diferença reside no tamanho da revolta. Na insurgência, as ações não são tão


impactantes quanto na beligerância, que geralmente envolvem a luta armada. O termo está
reservado para o caso de ações localizadas, revoltas de guarnições, dentre outros.

O seu reconhecimento também não é obrigatório, e, na esteira de Celso de


Albuquerque, os efeitos jurídicos do seu reconhecimento, em matéria de direitos e deveres, não
são automá cos e vão depender dos Estados que efetuarem o reconhecimento e o modo como
o ato de tais Estados realizará esse reconhecimento.

c) Movimentos de libertação nacional

Surgida nos meados do século XX, quando da descolonização da África, Ásia, Oceania e
regiões do Caribe, trata-se de movimentos surgidos no interior de um território, mas que tem
como par cularidade o fato de que aqueles que o integram não fazem parte do regime
governamental contra o qual estão lutando.
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Normalmente, são populações indígenas que lutam contra governos geralmente


racistas ou contra ocupações estrangeiras ilegais.

Sua personalidade jurídica internacional é reconhecida nos âmbitos do direito


humanitário, direito dos tratados e nas relações internacionais. A capacidade de atuar em tais
áreas, no entanto, fica restrita ao âmbito estritamente funcional e, no que toca à matéria, aos
temas correspondentes à sua vocação (como a libertação do povo etc.).

d) A Soberana Ordem Militar de Malta

Trata-se de en dade voltada para a assistência médica e humanitária, sediada em


Roma e que mantém relações diplomá cas com diversos países, dentre eles o Brasil.

É chefiada por um Grão-Mestre, possui um conjunto de normas próprio, e, inclusive,


aquilo que os seus próprios membros chama de “Cons tuição”, a qual reconhece a si próprio a
personalidade jurídica internacional.

A despeito desse documento, não é reconhecida a sua personalidade internacional.

Estados
Trata-se do sujeito de Direito Internacional por excelência, chamado pela doutrina de
sujeito clássico, primário, originário ou tradicional deste ramo do direito.

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Pode ser conceituado como o ente formado por uma população, um território e um
governo soberano, não subme do, por esta razão, a nenhum outro poder, seja ele externo ou
interno, e dotado de capacidade para contrair obrigações e ser des natário e, principalmente,
exercer direitos na sociedade internacional.

Não se deve confundir o Estado:

a) Nação: que é, nos termos doutrinários, uma comunidade que tem por base uma
mesma densidade cultural, de onde nascem os laços originários da língua religião,
costume, tradições e ideologias. Difere do Estado tanto pela ausência dos elementos
acima indicados, quanto pela existência, no úl mo, de uma vinculação polí ca
independente, estabelecida de forma permanente;

b) Povo: trata-se de um dos requisitos para a formação do Estado, que, em suma,


representa as pessoas vinculadas a um determinado Estado por meio da
nacionalidade.

Elementos cons tu vos

Nos termos do art. 4º da Convenção de Montevidéu sobre os Direitos e Deveres dos


Estados, de 1933, os requisitos para a configuração de um Estado são os seguintes:

a) População permanente;

b) Território Determinado;
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c) Governo;

d) Capacidade de entrar em relações com os demais Estados

A doutrina costuma apontar que estes úl mos dois requisitos podem ser consolidados
em apenas um, que é a noção de governo soberano.

Vamos estudar abaixo, portanto, os seguintes elementos que cons tuem o Estado: o território,
o povo (ou a comunidade de indivíduos) e o governo soberano. Vejamos:

a) Território

Trata-se do elemento material, a base sica ou o âmbito espacial do Estado.

Conceitua-se como espaço geográfico dentro do qual o Estado exerce a sua soberania,
abrangendo pessoas e bens que se encontram nesse espaço, pouco importando a
nacionalidade, o tempo de permanência ou até mesmo o próprio reconhecimento, por aquele
que se encontra no território, da legi midade do Estado ali estabelecido.

Não importa ao Direito Internacional o tamanho da porção de terra. O imprescindível


é que subsista uma porção de terra delimitada no planeta por faixas de fronteira, estendidas às
linhas formadoras dos limites, onde viva sua população e onde esta desenvolva as suas
a vidades.

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ATENÇÃO!

Aponte-se que o território, para o Direito Internacional, não se limita ao seu aspecto
geográfico. Trata-se, sim, do seu aspecto jurídico, o que compreende:

O solo ocupado pela população do Estado, com seus limites;

O subsolo e as regiões separadas do solo;

Os rios, lagos e mares interiores;

Os golfos, as baías e os portos;

A faixa de mar territorial e a plataforma submarina (quando existente);

O espaço aéreo correspondente ao solo.

a.1) Aquisição e perda do território

A doutrina internacionalista costuma citar como formas de aquisição e perda de


território as seguintes modalidades:

1) Negociações internacionais: neste caso, o território é acrescido/perdido por força


de negociações que visem resolver li gios de fronteira ou problemas outros que
podem ser solucionados pela cessão de uma parcela do espaço para a outra parte;
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2) Adjudicação: ocorre quando se segue a uma decisão tomada por um mecanismo
internacional de solução de controvérsias, a exemplo de uma decisão de uma
organização internacional;

3) Acessão: neste caso, o território do Estado é adquirido/perdido, tal como no


Direito Civil, por força exclusiva da natureza, como por meio de aluvião, avulsão,
aparecimento de ilhas, dentre outros;

4) A tulo gratuito ou oneroso: neste caso, como qualquer negociação regular no


direito, ocorre a entrega ou o pagamento em dinheiro;

5) Prescrição aquisi va: reconhecida internacionalmente quando decorre do


exercício pacífico, real e prolongado, da competência de um determinado Estado em
um determinado território. É ins tuto semelhante à usucapião do direito interno, mas
difere diante da inexistência de prazo prefixado para configuração do ins tuto.

A doutrina internacionalista ainda cita como forma de aquisição/perda a conquista e


anexação, além da descoberta e a ocupação, todos ins tutos já estudados, e que remetemos o
aluno para evitar repe ções.

a.2) Fronteiras e limites

Fronteiras e limites, apesar de sua acepção comum, se dis nguem no Direito


Internacional.

As fronteiras se caracterizam como zonas espaciais, de maior ou menor expressão, que

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correspondem a cada lado da linha estabelecida pelos limites geográficos dos Estados. Para
haver fronteira, deve exis r efe va separação de um território do outro.

Podem ser naturais (ou arci nios) ou ar ficiais (intelectuais, convencionais,


matemá cos ou astronômicos). As primeiras resultam de acidentes geográficos, a exemplo de
falhas geológicas, cordilheiras, rios, etc. As segundas, por outro lado, são criadas pelos Estados,
aproveitando-se do conhecimento cien fico, a exemplo das linhas geodésicas ou,
simplesmente, fixando dois pontos no espaço, de modo aleatório.

Já os limites, simplesmente, representam as linhas divisórias ou de separação que


definem geometricamente a extensão, precisa, de um determinado Estado.

No Brasil, cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República,


dispor sobre os limites do território nacional (art. 48, V, da CF/88).

ATENÇÃO!

Logo, pode-se perceber que, se é verdade que há um limite em toda fronteira, o inverso não é
verdadeiro. No caso dos países formados por ilhas, existe o limite (a linha geográfica que limita o
território do Estado), mas não existe a fronteira (zona espacial con gua com outro Estado).

a.3) Jurisdição territorial: direitos territoriais de jurisdição.


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Conforme o art. 9° da Convenção de Montevidéu, “a jurisdição dos Estados, dentro dos
limites do território nacional, aplica-se a todos os habitantes”. Neste caso, “habitantes” se
referem não apenas a nacionais, mas a toda pessoa que se encontre no território do Estado no
momento, pouco importando igualmente o período que permanece no território deste Estado.

Daí se dizer que a jurisdição estatal sobre o território é geral e exclusiva. Geral,
porquanto abrange todas as competências picas de um Estado que possui determinado
território, a exemplo das competências legisla vas, administra vas e jurisdicional; exclusiva,
porque o ente estatal reina soberano na aplicação das suas determinações dentro do referido
espaço geográfico.

ATENÇÃO!

O candidato deve notar que não afirmamos, aqui, que a competência do Estado em seu
território é absoluta, o que não é juridicamente correto. Como exemplo, tem-se as imunidades
gozadas por Estados estrangeiros, organizações internacionais, sobre os bens das missões
diplomá cas, dentre outras que veremos ao longo do material, que mi gam a jurisdição do
Estado em seu território.

Por outro lado, no território de determinado Estado, os nacionais e estrangeiros se


encontram sob a mesma proteção de normas e de autoridades nacionais, não podendo, estes
úl mos, pretender a concessão de direitos diferentes que os dos nacionais.

É possível que a atuação extraterritorial do Estado, desde que seja consen da pelo
outro Estado. Tal ocorre, por exemplo, na prerroga va do Estado de exercer sua jurisdição sobre

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suas missões diplomá cas e consulares.

Por fim, ressalta-se que a relação do Estado com seu território é objeto de duas teorias
na doutrina internacional:

1) Teoria do dominium: neste caso, entende-se que o Estado mantém uma relação
jurídica com o território que possui, de natureza real, o qual pode dispor de modo
absoluto e exclusivo;

2) Teoria do imperium: entende que a relação do Estado não é com o solo, mas com
os indivíduos, e, por meio desta relação, exerceria poder sobre o território.

b) Povo (ou comunidade de indivíduos ou civitas perfecta)

O povo, como antecipado, é o elemento humano do Estado. Consiste num conjunto de


pessoas naturais, que estão vinculadas a este juridicamente por meio da nacionalidade. Logo,
estão inseridas no processo de formação e são indispensáveis à manutenção do Estado e podem
estar localizadas no próprio país como no exterior.

Como aponta a doutrina, trata-se do único elemento que não pode, em nenhum
momento, estar ausente do Estado, ao contrário do governo (que pode estar ausente em
períodos de anarquia e do território (quando dele não se tem total disponibilidade).

Qual a diferença entre povo e população?


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A diferença reside no fato de que a população é a expressão demográfica, aritmé ca ou
quan ta va, formada pelas pessoas que estão em determinado território do Estado, em
determinado momento, inclusive os estrangeiros e apátridas que nenhuma relação, seja ela
é ca, polí ca ou jurídica, com o Estado.

c) Governo soberano (autônomo e independente)

Trata-se do elemento polí co dentre os requisitos do Estado, que confere a este o


caráter de superioridade frente a outros núcleos de poder que atuam dentro do ente polí co.

Segundo a doutrina autorizada, esse aspecto se reflete no âmbito interno (soberania


interna), representando a capacidade de declarar, em úl ma instância, a validade do direito
interno, além de eleger a forma de conduzir o seu governo sem a ingerência de outros poderes
ou Estados em seus assuntos internos.

No campo externo (soberania externa), representa a capacidade de conduzir a sua


polí ca internacional em condição de igualdade com os demais Estados (conforme art. 2°, §1°,
da Carta da ONU, que fala em “princípio da igualdade soberana de seus membros”) e de forma
independente, sem se subordinar ou sofrer intervenção de terceiros.

Formação dos Estados

Podemos citar as seguintes formas de surgimento dos Estados, pautado no aspecto


histórico:

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a) Ocupação: no passado, quando uma terra se encontrava desabitada e ninguém
reclamava sua posse (terra nullies), tornava-se possível o aparecimento do Estado ou
até mesmo a aquisição, por um Estado, dessas terras ocupadas;

b) Conquista: ocorria através da guerra, e poderia representar o surgimento de um


ente estatal ou a aquisição de um novo território pelo já existente. Tendo em vista a
atual proibição da guerra no Direito Internacional, essa hipótese não é mais possível
hoje em dia;

c) Emancipação: quando um Estado se liberta de seu dominante (no caso da


descolonização) ou do jugo estrangeiro, tanto de forma pacífica quanto por meio de
rebelião. A doutrina também nomina a libertação de uma colônia, para a formação de
um novo Estado, como desmembramento;

d) Secessão: quando um Estado, que não é colônia de outro, se separa deste, como
ocorreu com a Província de Cispla na do Brasil, hoje conhecido como Uruguai;

e) Dissolução ou desintegração: quando um Estado desaparece para dar lugar a


novos Estados, como ocorreu na Áustria, Hungria e Tchecoslováquia, que nasceram do
desmembramento do Império Austro-húngaro;

f) Fusão, agregação ou unificação: ocorre quando um ou mais Estados desaparecem


para dar lugar a um só, como ocorreu no Reino da Itália, que nasceu da fusão dos
ducados de Modena, Parma e Toscana, e o reino de Nápoles.

ATENÇÃO!
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As hipóteses acima são situações fá cas de criação dos Estados. Nada impede, entretanto, que
um Estado seja criado por um ato jurídico, seja de um Estado preexistente ou no bojo de uma
organização internacional.

Os instrumentos jurídicos a proporcionar semelhante medida podem ser: (i) uma lei interna; (ii)
um tratado internacional; (iii) uma decisão de um organismo internacional.

Reconhecimento de Estado e de Governo

Vamos separar os assuntos para sinte zar:

a) Reconhecimento de Estado

Trata-se de ato unilateral, discricionário, meramente declaratório, em que um Estado


reconhece o aparecimento de um novo Estado, considerando eu este novo ente a contrair os
direitos e deveres determinados pelo Direito Internacional, como reza o ar go 8 da Convenção
de Montevidéu sobre os Direitos e Deveres dos Estados.

Outras observações importantes sobre o tema:

a.1) É ato incondicionado: significando que o Estado que reconhece a existência de


outro não pode vincular esse reconhecimento a condições ou exigências, a serem atendidas
pelo Estado que se reconhece (art. 6, da Convenção de Direito e Deveres dos Estados de
Montevidéu, de 1933).

Entretanto, isso não significa que esse novo Estado, para ser reconhecido, esteja
dispensado do atendimento às normas de jus cogens, a exemplo das rela vas à promoção da
paz, à solução pacífica de controvérsias, e à proteção dos direitos humanos.

a.2) Possui efeito retroa vo e é irrevogável: significa que gera os seus efeitos a par r
do instante em que se forma o Estado (e não do ato do reconhecimento).

a.3) Natureza jurídica: para a teoria cons tu va, o reconhecimento de Estado é ato
que atribui personalidade jurídica internacional ao Estado. Para a teoria declaratória, o
reconhecimento do Estado decorre da simples admissão dos demais atores da sociedade
internacional de que aquele determinado Estado possui personalidade jurídica internacional.

ATENÇÃO!

A doutrina internacionalista majoritária acolhe a teoria declaratória. Logo se nota, portanto,


que o reconhecimento de Estado não é um ato necessário ou requisito exigido para o que o
novo Estado exista!

a.4) Classificação: pode ser explícito (expresso), quando feito por meio de
declarações, escritas ou orais, de representantes do Estado que reconhece; ou tácito (implícito),
quando resulta de atos que denotem a intenção de criar vínculos jurídicos com o novo Estado, a
exemplo do estabelecimento de relações diplomá cas;

Pode, ainda, ser individual, quando concedido por um Estado, ou cole vo, quando é
reconhecido por um grupo de Estados.
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Por fim, existe o reconhecimento de direito (de jure), em que o Estado reconhece o
outro de forma defini va e irrevogável, e de fato (de facto), em que o Estado é reconhecido com
fim limitado e provisório, de forma precária e revogável.

Exemplo histórico é o caso da Inglaterra com o Império do Brasil, no século XIX, em que
o primeiro não reconhecia publicamente o segundo mas, por outro lado, recebia
plenipotenciários e o cônsul britânico exercia suas funções no Rio de Janeiro.

a.5) Efeitos: a par r do reconhecimento do Estado, permite-se ao mesmo par cipar


efe vamente na sociedade internacional, através da celebração de tratados, da par cipação
em organizações internacionais, dentre outros, passando a ser tratado de forma igual aos
demais entes de direito internacional.

b) Reconhecimento de Governo

Trata-se de ato por meio do qual o Estado admite o novo governo como representante
de determinado Estado nas relações internacionais.

ATENÇÃO!
O reconhecimento de governo se aplica, unicamente, a governantes cuja inves dura se deu
através de rupturas ins tucionais, a exemplo de um golpe de Estado. A simples troca de
governo não enseja o reconhecimento aqui apresentado.

Assim como o reconhecimento de Estado, é ato unilateral, discricionário, não


obrigatório, incondicionado e irrevogável, sem prejuízo do necessário respeito às normas

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internacionais de jus cogens e ao restabelecimento do regime democrá co.

Duas são as doutrinas que regem o reconhecimento de governo:

1) Doutrina Tobar: defende o reconhecimento de governos estrangeiros apenas


após a constatação de sua legi midade popular;

2) Doutrina Estrada: o reconhecimento ou o não reconhecimento expresso do


governo configura intervenção indevida nos assuntos internos dos entes estatais,
resultando, pois, em violação à sua soberania. Caso haja discordância quanto ao
governo, o ato natural, portanto, seria o rompimento das relações diplomá cas.

b.1) Requisitos: atualmente, para serem reconhecidos, os governos devem atender


aos seguintes pressupostos:

i) efe vidade, entendida como o controle de fato da máquina administra va do


Estado, e a aquiescência da população do Estado ao novo governo;

ii) o cumprimento das obrigações internacionais do Estado;

iii) o aparecimento do novo governo em conformidade com o Direito Internacional,


requisito esse exigido em vista de eliminar o reconhecimento de governo imposto por
intervenção estrangeira.

b.2) Efeitos: a doutrina aponta os seguintes:


17
(i) estabelecimento de relações diplomá cas;

(ii) imunidade de jurisdição;

(iii) capacidade de demandar em tribunal estrangeiro;

(iv) admissão da validade das leis e dos atos do governo.

Direitos, Restrições e Deveres fundamentais dos Estados

Consagrados tanto em convenções, quanto em costumes internacionais, podemos


dividir os direitos e deveres do Estado na sociedade internacional. Vejamos, primeiro, os
direitos.

a) Direitos fundamentais dos Estados

Conforme preceitua a Carta da OEA, em seu art. 10, os direitos de cada Estado
independem do poder de que dispõem para assegurar o seu exercício.

Logo, dentre os direitos citados pela doutrina, podemos resumir da seguinte forma:

1) Direito de exis r: consagrado no art. 3 da Convenção de Montevidéu, que ainda


assinala ser esse direito independente do reconhecimento de outros Estados;

2) Direito à sua autodeterminação (princípio da autodeterminação dos povos):


ainda que não reconhecido, o Estado tem direito a defender sua integridade e
independência, a prover sua conservação e prosperidade, a se organizar como
entender conveniente, a legislar sobre seus interesses, a administrar seus serviços e a

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determinar a jurisdição e competência de seus tribunais;

3) Direito à inviolabilidade de seu território: decorrente do direito de conservação,


representa o direito de não ser objeto de ocupação militar nem de qualquer medida
de força, temporária ou permanente, imposta por outro Estado, salvo nas hipóteses
de legí ma defesa do Estado agredido ou de ação internacional, voltada para
manter a paz, nos termos da Carta da ONU;

4) Direito à liberdade: refere-se à possibilidade do Estado, autonomamente,


determinar seus rumos e estabelecer os compromissos jurídicos que entender
adequados no campo internacional, confundindo-se, nesse ponto, com a soberania;

5) Direito à jurisdição: consagra o direito do Estado de exercer sua jurisdição sobre


todas as pessoas que se encontrem dentro do seu respec vo território, nacionais ou
estrangeiros;

6) Direito à não intervenção: nos termos da Convenção de Montevidéu, em seu art.


8°, “nenhum Estado possui o direito de intervir em assuntos internos ou externos do
outro”;

7) Direito à igualdade: todos os Estados podem igualmente celebrar tratados e


podem ter acesso, em iguais condições, aos organismos internacionais e foros
internacionais de solução de controvérsias;

b) Restrições aos direitos dos Estados

Existem as restrições abaixo da constatação de que os direitos dos Estados não são 18
absolutos no Direito Internacional.

Logo, podem-se citar as seguintes restrições apontadas pela doutrina:

1) Capitulações: ins tuto em desuso hoje em dia no Direito Internacional,


representavam acordos por meio dos quais estrangeiros domiciliados no território de
um determinado Estado con nuavam subordinados à lei penal e à jurisdição dos
cônsules de seu país de origem, que, na época, eram os responsáveis pelo julgamento
e aplicação da lei de origem aos estrangeiros em questão;

2) Garan as internacionais: igualmente em desuso, trata-se de ins tuto que nha


como principal finalidade garan r a fiel execução dos tratados internacionais e o
cumprimento de obrigações em um modo geral por parte dos Estados. Consideradas
como jura in re aliena (direitos reais sobre coisas alheias), poderiam consis r: i) no
penhor temporário dos rendimentos do Estado; ou ii) na ocupação parcial do
território do Estado. Exemplo desse ins tuo ocorreu quando o Brasil concedeu
emprés mos ao Uruguai e este garan u a obrigação fornecendo garan as como a
hipoteca de todas as suas rendas;

3) Servidões internacionais: são restrições que determinado Estado tem em relação


ao livre exercício da soberania em seu território, as quais surgem ora por vontade
expressa ora por vontade tácita, consis ndo na obrigação de permi r certo uso do
território do Estado em favor de outro ou outros Estados, ou então na obrigação de
não exercer o poder territorial em toda a sua extensão;

4) Condomínio: consiste no regime de um território que se encontra subme do à


competência de mais de um Estado, permanecendo todos os Estados responsáveis
por esta gestão em regime de igualdade jurídica;

5) Concessões: termo empregado para mencionar os quarteirões ou áreas de uma

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cidade que eram des nados para a moradia dos estrangeiros. Aqui, no entanto, e ao
contrário da capitulação, a cessão não implica a perda do direito do Estado de exercer
a sua jurisdição sobre os estrangeiros;

6) Arrendamento de território: é a cessão de competências que um Estado faz ao


outro sobre um trecho de seu território. Nesse caso, o arrendamento con nua
fazendo parte do Estado que o cede, porém, temporariamente, a jurisdição sobre ele
será exercida por quem o tomou em arrendamento. No fundo, como aponta a
doutrina, trata-se de uma cessão de território a tulo temporário;

7) Neutralidade Permanente: acontece quando um Estado se compromete, de


maneira permanente, a não empreender nenhum conflito bélico, a não ser em caso
de agressão territorial, em que se configura a legí ma defesa. É também chamada de
neutralidade extraordinária, e depende, igualmente, do compromisso dos demais
Estados em defender e garan r essa inviolabilidade. O Estado, nesse caso, se
compromete não apenas a não promover a guerra, como a não celebrar tratados
que possam levar a um conflito bélico. É o caso da Suíça, estando sob esse regime
desde o Congresso de Viena de 1815;

8) Neutralização de territórios: citada por Mazzuoli, ocorre quando se suspende


o domínio de um Estado sobre uma zona que está sendo contestada por outro. E
estabelecida em tratado, tem como efeito aos Estados envolvidos a proibição de não
exercer atos de beligerância na zona em questão, e, em alguns casos, de nela
estabelecer for ficações ou bases militares.

c) Deveres dos Estados


19
Os deveres dos Estados podem se caracterizar como de natureza moral ou jurídica. Os
primeiros encontram fundamento nos princípios de cortesia, de humanidade, de equidade, de
jus ça natural etc.; enquanto os segundos têm origem nos tratados, costumes e demais fontes
do Direito Internacional.

Quanto aos deveres morais, podemos citar os seguintes listados pela doutrina:

1) O dever de socorro e a colaboração em caso de calamidades públicas;

2) Salvamento marí mos em casos de sinistros, seja em alto-mar, seja em águas


territoriais;

3) Concessão de abrigo, em portos nacionais, a navios estrangeiros que procurem


refúgio de tempestades;

4) O estabelecimento de medidas sanitárias e providências para a proteção da


saúde;

5) Assistência financeira a países subdesenvolvidos ou aos que se encontram em


di cil situação econômica etc.

Quanto aos deveres jurídicos, a doutrina internacionalista cita o dever da não


intervenção, que consiste no dever nega vo de respeito à soberania e à personalidade jurídica
dos demais Estados, impedindo que os demais componentes da sociedade internacional se
imiscuam, indevidamente, nos assuntos de competência exclusiva de um determinado Estado.

Vale dizer que esse dever não é absoluto e comporta as seguintes exceções: i)
intervenção estabelecida em nome do direito de defesa e conservação do Estado; ii)

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intervenção que tem por finalidade salvaguardar a segurança da sociedade internacional; iii)
intervenção realizada em prol da proteção dos direitos humanos.

Ainda acerca deste dever, é importante que o candidato conheça as seguintes


doutrinas:

c.1) Doutrina Monroe:

Tem origem em um discurso do então Presidente do Estados Unidos, James Monroe,


que proclamava os princípios de não intervenção, especificamente da Europa na América como
um todo, como forma de evitar a pretensão russa de ocupar o Alaska e avançar na colonização
da América, e da Espanha de recolonizar ou reconquistar poder polí co sobre as suas an gas
colônias, recém libertadas da metrópole.

Em suma, preceituava que: i) o con nente americano não poderia ser objeto de futuras
ocupações por parte de nenhuma potência europeia; ii) os Estados Unidos não interviriam em
nenhuma questão interna europeia; iii) os Estados americanos não tolerariam qualquer
ingerência que, originada de um país europeu, a ngisse o assunto interno daqueles Estados.

Apesar de ter o mérito de permi r que os demais países do con nente man vessem
sua integridade territorial e se fortalecessem poli camente, não impediu que os próprios
Estados Unidos interviessem, em momento posterior, em países da América como o México,
Cuba e outros países do Caribe.
20
A doutrina internacionalista entende, por esta razão, que esta doutrina possui
somente força polí ca, e não jurídica.

c.2) Doutrina Drago (tese Drago-Porter)

Formulada pelo então ministro das Relações Exteriores da Argen na, Luís Maria Drago,
nasceu a par r de um protesto deste governo quanto ao bloqueio e o bombardeio de portos
venezuelanos por embarcações alemãs, inglesas e italianas, com o obje vo forçar a Venezuela a
saldar dívidas que possuía com esses três países.

Essa doutrina é contra o emprego das forças armadas por um ou mais Estados em
casos de cobrança de dívidas que outros Estados assumiram.

O pensamento de Drago acabou sendo acolhido pelos Estados par cipantes da


Conferência de Paz de Haia, em 1907, onde foi celebrada a “Convenção Drago-Porter”, mas que
assim foi nominada em virtude dos trabalhos do General norte-americano Porter, que chefiou a
delegação do seu país e as negociações do acordo na ocasião.

É preciso alertar, no entanto, que a referida convenção mi gou os efeitos da Doutrina


Drago na medida em que defendeu a possiblidade do emprego da força armada contra um
Estado em duas hipóteses: i) quando o Estado devedor se recusasse a arbitragem; ou ii)
aceitando a arbitragem, recusou-se a cumprir a sentença do tribunal arbitral.

Atualmente, a Convenção Drago-Porter foi superada, historicamente, pelo pacto de


Brian-Kellog e os princípios das Nações-Unidas que vedam a ação armada em tais situações.

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Ex nção dos Estados

A ex nção do Estado ocorre quando este perde um ou alguns de seus elementos


cons tu vos.

As principais formas de ex nção são:

a) Anexação Total: ocorre quando um Estado absorve completamente outro ou


outros, ocorrendo, por exemplo, nos casos de invasão militar ou até mesmo em caso
de conquista pacífica;

b) Anexação parcial: nesse caso, há uma alteração na estrutura do Estado, levando-o


a perder uma parte de seu território e de sua população. Diminui-se, por conseguinte,
o poder soberano, mas não se ex ngue a sua personalidade jurídica internacional;

c) Fusão: também forma de criação de novos Estados, um Estado se ex ngue pela


junção de outros mais;

d) Divisão ou desmembramento: igualmente, também é forma de criação de


Estados e ocorre quando um Estado, do como originário, se divide ou se desmembra
em duas ou mais partes de seu território, dando origem a novos Estados.

Os Estados também podem se ex nguir por secessão, dissolução, desintegração, que,


em suma, representam a mesma operação da sua criação, e aqui optamos por não repe r o
assunto para não cansar o aluno.
21
Sucessão de Estados

A ex nção dos Estados dá lugar à discussão da sucessão dos direitos, obrigações, bens
e demais aspectos dos Estados anteriores.

A regulação da matéria se dá de forma costumeira e através das Convenções de Viena


sobre a Sucessão de Estados em Matéria de Tratados, de 1978, e a Sobre a Sucessão de Estados
em Matéria de Bens, Arquivos e Dívidas, de 1983.

ATENÇÃO!

Nenhuma destas Convenções está em vigor no Brasil!

Vamos estudar o tema de acordo com a divisão dos tratados acima elencados:

a) Sucessão quanto aos tratados.

Neste tema, destacamos as principais regras, de acordo com o modo de ex nção dos
Estados:

1) Regra geral: a sucessão dos tratados é regulada por seus próprios textos ou opera-
se de acordo com o modo de ex nção do ente estatal;

2) Fusão: quanto aos atos mul laterais, mantém-se aqueles em que os


predecessores eram partes, salvo acordo em sen do diverso. Quanto aos acordos
bilaterais, os mesmos con nuam a exis r, se tal for a vontade das partes;

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3) Desmembramento: quanto aos atos mul laterais, os novos Estados não estão
obrigados a cumprir os tratados existentes à época. Porém, por meio da “no ficação
de sucessão”, poderão aderir aos tratados, desde que não haja incompa bilidade,
mudança radical da sua execução, ou as demais partes concordarem. Quanto aos atos
bilaterais, a sucessão somente ocorre se a outra parte assim o permi r;

4) Secessão: quanto aos mul laterais, dependem de aprovação de uma no ficação


de sucessão, apreciada nos termos do tratado; quanto aos bilaterais, não passam para
o Estado sucessor, salvo pretensão em contrário das partes;

5) Transferência de territórios: quando um território passa a fazer parte de outro


Estado, adota os tratados acordados por este Estado, deixando de se obrigar pelos do
seu antecessor, salvo incompa bilidade do objeto e finalidade ou alteração radical nas
condições de sua execução;

b) Sucessão quanto aos demais temas

Destacaremos o efeito da sucessão quanto a cada área de interesse. Vejamos:

1) Bens: em regra, ajusta-se entre os Estados. Não havendo acordo, os bens que
estão no território de cada parte serão de sua propriedade. No exterior, os bens serão
objeto de divisão equita va. Na fusão, vale dizer, todos os bens são incorporados ao
novo Estado;

2) Dívidas: não havendo acordo, aplica-se o princípio da “repar ção ponderada


da dívida”, em que se observa o des no do endividamento, em matéria de bene cios,
para fins de definir o seu responsável. Por esta razão, ainda que repar do em partes 22
iguais, pode haver uma desproporção no momento de sucessão das dívidas. Vale dizer
que na anexação ou emancipação, as dívidas seguem o Estado então criado;

3) Arquivos: cada sucessor ficará com os arquivos que lhe digam respeito. Daí
porque, no caso de Estados que perderam sua soberania, e depois voltaram a adquiri-
la, tem direito aos arquivos que estavam em poder de seu antecessor;

4) Nacionalidade: é regulada de forma costumeira. Se o Estado desaparece, a


nacionalidade do indivíduo segue esse caminho. No caso de anexação total ou parcial,
a nacionalidade do anexador se estende à dos habitantes do território anexado. Por
fim, sendo o Estado separado, impõe-se a nacionalidade do novo Estado a todos os
indivíduos, cole vamente;

ATENÇÃO!
Modernamente, no entanto, em casos em que ocorre a incorporação do território de um
Estado, mas a permanência do mesmo na sociedade internacional, tem-se concedido à opção
ao indivíduo de manter a sua nacionalidade anterior!

5) Organizações Internacionais: a regra é a de que o sucessor não toma o lugar do


predecessor. O ingresso do novo Estado, portanto, depende de pedido de ingresso, a
ser apreciado nos termos do ato cons tu vo da en dade;

6) Legislação: em regra, a legislação do Estado sucessor passa a ter vigência no


território que a ele foi incorporado. Em caso de emancipação, o novo Estado pode
adotar temporariamente as leis do Estado anterior. Por fim, na fusão, prevalecerão as
normas que o novo Estado optar, enquanto a nova legislação do Estado não é
adotada.

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Por fim, de se dizer que as fronteiras dos Estados, quanto a terceiros, bem como as
obrigações e direitos a ela relacionadas, em nada se alteram.

Órgãos dos Estados nas relações internacionais

Este tema trata dos indivíduos encarregados de representar e agir em nome dos
Estados no âmbito da sociedade internacional, tendo competência para planejar e conduzir as
relações do Estado com os demais sujeitos do Direito Internacional Público.

Podemos citar, nesse campo: os Chefes de Estado e Governo, o Ministro das Relações
Exteriores, os agentes diplomá cos e as agentes consulares.

Tendo em vista que o edital destaca um tópico específico para tratar do serviço
diplomá co e consular, trataremos abaixo apenas dos Chefes de Estado e Governo e do
Ministro das Relações Exteriores.

a) Chefes de Estado (as considerações se aplicam aos Chefes de Governo)

Consiste no principal órgão do Estado nas relações internacionais.

Cabe a este, primariamente, formular e executar a polí ca externa estatal, além de


decidir, enquanto órgão situado na hierarquia superior do corpo polí co, sobre as ações a serem
tomadas no âmbito da sociedade internacional.
23
A doutrina internacionalista atesta que é irrelevante a tulação adotada para o cargo
internamente, assim como o rol de competências da autoridade é matéria regulada pelo
direito interno de cada Estado.

Quanto à forma de inves dura no cargo, cresce de importância a necessidade de o


representante estatal ocupar o posto em questão respeitando os processos democrá cos
assegurados em diversos tratados internacional sobre a matéria.

a.1) Funções do Chefe de Estado no Brasil: as funções de Chefe de Estado no âmbito


internacional são exercidas pelo Presidente da República, e encontram-se nos seguintes
disposi vos cons tucionais:
Art. 84. Compete priva vamente ao Presidente da República: (...)

VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes


diplomá cos;

VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do


Congresso Nacional; (...)

XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; (...)

XXII - permi r, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;

Duas observações sobre o ar go: i) conforme art. 52, IV, cabe ao Senado Federal
aprovar a nomeação dos chefes das missões diplomá cas (embaixadores), em sessão secreta;
ii) a Lei Complementar que regula a hipótese de forças estrangeiras transitarem pelo território

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nacional pode dispensar a autorização congressual para casos desse po.

a.2) imunidades e privilégios dos Chefes de Estado: no exterior, os Chefes de Estado


gozam de imunidades e privilégios semelhantes aos aplicáveis aos agentes diplomá cos, a
exemplo da inviolabilidade pessoal, de seu local de hospedagem, das imunidades cível, penal,
de impostos e de comunicação com seu Estado.

Tais privilégios são extensíveis à família do chefe de Estado e de sua comi va, inclusive
em viagens par culares e de férias.

Essas imunidades, no entanto, restaram rela vizadas com a entrada em vigor do


Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional. Este ins tuiu, em seu art. 27, o
princípio da irrelevância da qualidade oficial.

Segundo o referido disposi vo “a qualidade oficial de Chefe de Estado ou de Governo,


de membros de Governo ou do Parlamento, de representante eleito ou de funcionário público,
em caso algum eximirá a pessoa em causa de responsabilidade criminal”.

Por força deste disposi vo, já foram emi das ordens de prisão contra os Presidentes
em exercício, na época, da Líbia e do Sudão.

Pergunta de concurso: E quanto aos ex-Chefes de Estado?

Tradicionalmente, a doutrina internacionalista entendia que as imunidades dos Chefes 24


de Estado se estendiam para depois do exercício do cargo.

Entretanto, a grande quan dade de Chefes de Estado se envolvendo em atos


reprovados pela sociedade internacional forçou a revisão desse entendimento.

Atualmente, prevalece o entendimento de que as imunidades dos ex-Chefes de


Estado não prevalecem diante da prá ca de atos contrários aos princípios e obje vos das
Nações Unidas, principalmente no tocante a sensíveis violações de direitos humanos, aos
crimes de guerra e os crimes contra a humanidade.

b) Ministro das Relações Exteriores

Trata-se do agente encarregado de comandar o órgão administra vo responsável pelas


relações exteriores de um país, e que é responsável por assessorar o Chefe de Estado e a
Administração Pública como um todo na condução das relações internacionais, e de coordenar
ações nesse sen do.

No exterior, gozam de imunidades e prerroga vas semelhantes às dos Chefes de


Estado e de Governo.

No Brasil, o órgão encarregado de tal função é o Ministro de Relações Exteriores, chefe


do Ministério respec vo, também conhecido como Itamaraty.

Imunidade de jurisdição

Como dito acima, a competência da jurisdição do Estado no seu território não é

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absoluta. E uma destas exceções é o tema das imunidades de jurisdição, que a ngem os
Estados, as organizações e determinadas autoridades e funcionários que o representam.

Fundamentada na ideia da proteção funcional das pessoas naturais e jurídicas que


atuam em representação do Estado e das organizações internacionais, entende-se por
imunidade de jurisdição a impossibilidade de que determinadas pessoas sejam a ngidas pela
jurisdição de outro Estado, contra a sua vontade, e de que sejam subme das a medidas
tomadas por parte de uma autoridade desse ente onde se encontram e atuam.

Neste tópico, trataremos sobre a imunidade de jurisdição dos Estados e das


organizações internacionais, deixando para tratar das imunidades das autoridades em outros
pontos do edital.

ATENÇÃO!

Importante saber que a imunidade de jurisdição dos Estado estrangeiros é tema regulado
pelo costume internacional!

Entretanto, as Nações Unidas elaboraram uma proposta de Convenção sobre a matéria,


nominada de Convenção Sobre Imunidades Jurisdicionais dos Estados e de Sua Propriedade,
não assinada pelo Brasil, e que ainda não está em vigência internacional por ausência do
número mínimo de ra ficações.

a) Imunidade de jurisdição do Estado no processo de conhecimento


25

O estudo deste po de imunidade deve se dar separando as fases de entendimento


internacional:

a.1) Visão an ga: par in parem non habet judicium/imperium

Literalmente, a tradução significa que “iguais não podem jugar iguais”.

Trata-se da visão cul vada no decorrer da história, segundo a qual o Estado estrangeiro
não poderia ser julgado pelas autoridades de outro.

Em suma, essa teoria afirma o seguinte: um Estado estrangeiro não se sujeita à


jurisdição domés ca de outro ente estatal, salvo se consen r expressamente em sen do
contrário.

Disso resulta que, se diante de uma demanda perante um Estado estrangeiro, o Poder
Judiciário local deveria se declarar incompetente para tanto.

a.2) Visão atual: Teoria da imunidade rela va, limitada ou restrita

Entre o final do século XIX e a década de 60 do século XX, os debates sobre as


imunidades dos estados estrangeiros evoluiu passando a mi gar o entendimento da imunidade
absoluta dos mesmos perante a jurisdição de outro Estado estrangeiro.

Criou-se, então, a teoria da imunidade rela va, limitada ou restrita, que se ancora na
ideia da prá ca, pelo Estado, de atos de gestão e atos de império. Vejamos cada um deles:

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1) Atos de império: são aqueles que o Estado pra ca no exercício direto de sua
soberania, e dos quais possui, assim como an gamente, imunidade absoluta de
jurisdição. Exemplos desses atos são: atos de guerra, atos de concessão ou denegação
de visto etc.;

2) Atos de gestão: são aqueles que não possuem imunidade de jurisdição. Aqui,
embora pra cados pelos Estados estrangeiros, notabilizam-se por ser comuns a todos
os cidadãos, e, que, desta forma, se assemelha aos par culares. Exemplos destes são
as contratações de pessoal, aquisição de bens móveis e imóveis, dente outros.

ATENÇÃO!
Não esquecer que essa teoria somente se aplica, atualmente, para o processo de
conhecimento!

a.3) Teoria adotada pela jurisprudência

Até a década de 80 do século passado, o STF possuía o entendimento que conferia a


prerroga va de imunidade absoluta de jurisdição ao Estado estrangeiro, salvo consen mento
expresso em sen do contrário.

Atualmente, no entanto, o STF adota a teoria da imunidade rela va, aplicando os


conceitos de atos de império e atos de gestão.

a.4) Procedimento em caso de ação contra o Estado estrangeiro 26

Uma vez recebendo a demanda contra o Estado estrangeiro, o ente estatal externo
deve ser comunicado para que, querendo, oponha resistência a sua submissão à autoridade
judiciária brasileira, e para que possa discu r se o ato que mo va a demanda pode ser
qualificado como de império ou de gestão.

No caso em que se discuta um ato de império, deve o juiz responsável, antes de se


declarar incompetente, comunicar a demanda ao ente externo para se manifestar sobre o
exercício do direito à imunidade jurisdicional ou a sua submissão à autoridade estatal,
renunciando sua imunidade.

ATENÇÃO!
Vale dizer que essa comunicação não se qualifica como citação nem in mação!

O silêncio do Estado estrangeiro não representa a sua renúncia à imunidade de


jurisdição, sendo impossível juridicamente, aqui, se falar em renúncia tácita à imunidade de
jurisdição.

b) Imunidade do Estado estrangeiro no processo de execução

Ao contrário da imunidade à jurisdição, prevalece na sociedade internacional e na


jurisprudência do STF que a imunidade do Estado estrangeiro é absoluta no processo de
execução.

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Em vista dessa impossibilidade, restam as seguintes alterna vas para a sa sfação da
pretensão contra o ente estatal externo:

1) O pagamento voluntário por parte deste;

2) Negociações conduzidas no âmbito do Ministério das Relações Exteriores, sendo


por esta via solicitado o pagamento do crédito;

3) Expedição de carta rogatória para cumprimento pelo Estado estrangeiro;

Por fim, é importante destacar que a eventual renúncia da imunidade de jurisdição não
a nge a imunidade de execução do ente estatal externo. São autônomas as imunidades,
portanto!

c) Imunidade das organizações internacionais

Ao contrário das imunidades dos entes estatais externos, as imunidades das


organizações internacionais é matéria de regulação pelo direito convencional.

No Brasil, três são as Convenções que vigoram sobre o tema:

1) Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas;

2) Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Agências Especializadas das


Nações Unidas;
27
3) Acordo sobre privilégios e Imunidades da Organizações dos Estados Americanos

Atualmente, o STF possui o entendimento pacífico de que as organizações


internacionais gozam de imunidade absoluta (de jurisdição e de execução!), fundamentando-
se o Tribunal na constatação de que o Brasil se obrigou a cumprir os tratados que regulam esse
tema, correndo o risco de ser responsabilizado internacionalmente em caso de seu
descumprimento.

Neste sen do, no ano de 2017, o STF exarou pronunciamento no RE 1034840, em sede
de repercussão geral, que reafirmou a jurisprudência con da na seguinte tese: “O organismo
internacional que tenha garan da a imunidade de jurisdição em tratado firmado pelo Brasil e
internalizado na ordem jurídica brasileira não pode ser demandado em juízo, salvo em caso de
renúncia expressa a essa imunidade”.

d) Observações finais sobre o tema

Algumas observações finais têm de ser realizadas ao candidato:

1) No caso dos Estados estrangeiros ou organizações figurarem como autoras


perante o Poder Judiciário, despem-se, respec vamente, de suas respec vas
imunidades, sujeitando-se às obrigações processuais e aos comandos da autoridade
jurisdicional competente;

2) Por força do Convenção de Viena sobre Relações Diplomá cas de 1961 (art. 23,
§1°) e pela Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963 (art. 32, §1°), o
Estado estrangeiro possui imunidade absoluta de jurisdição em matéria tributária
em relação ao IPTU, mas não quanto a eventual cobrança de taxas por serviços

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individualizados (como a taxa de coleta de lixo);

3) A competência originária para o julgamento de li gio envolvendo Estado


estrangeiro ou organismo internacional em face da União, Estado, Distrito Federal
ou Território, é do STF (art. 109, I, “e”);

4) A competência para o julgamento de lide envolvendo Estado estrangeiro ou


organização internacional em face do Município ou pessoa residente no Brasil é da
Jus ça Federal (art. 109, II, da CF/88), com recurso ordinário des nado ao STJ (srt.
105, II, “c”, da CF/88);

5) O STF decidiu que não cabe ao Tribunal Excelso julgar habeas corpus cuja
autoridade impetrada seja delegado federal chefe da Interpol no Brasil, devendo a
respec va demanda ser ajuizada na Jus ça Federal de primeira instância;

6) O STF decidiu que as causas envolvendo a Itaipu Binacional somente serão


analisadas pelo Pretório Excelso em caso de interesse direto da República do
Paraguai e que sejam movidas por órgão da União, a exemplo da AGU ou MPF.

Responsabilidade internacional do Estado

Nas palavras de Mazzuoli, a responsabilidade internacional “é o ins tuto jurídico que


visa responsabilizar determinado Estado pela prá ca de um ato atentatório (ilícito) ao Direito
Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outro Estado, prevendo certa
reparação a este úl mo pelos prejuízos e gravames que injustamente sofreu”.
28
Tem como fundamentos a obrigação do Estado cumprir as normas avençadas
livremente no bojo da sociedade internacional assim como a obrigação, universal, de não causar
dano a outrem.

ATENÇÃO!

Embora o estudo aqui esteja voltado para a análise da responsabilidade entre Estados, é
importante mencionar que, no célebre caso do assassinato do mediador da ONU no Oriente
Médio, Folke Bernado e, a Corte Internacional de Jus ça expediu parecer no sen do de que
os ins tutos aqui analisados também se aplicam às organizações internacionais.

Vejamos os aspectos principais deste ins tuto:

a) Teorias

Para reger a responsabilidade internacional, foram elaboradas três teorias pela


doutrina.

A primeira, subje vista ou teoria da culpa, formulada por Grócio, defende que a
responsabilidade internacional do Estado surge nos casos em que, além da configuração do
ilícito, resta demonstrada a presença de culpa ou dolo na ação ou omissão do sujeito de Direito
Internacional.

Já para a teoria obje vista ou teoria do risco, a responsabilidade internacional do


Estado tem lugar com a ocorrência do dano que seja resultado de uma violação de uma norma
internacional, sendo dispensável, para tanto, a consideração do dolo ou da culpa na análise do

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fato delituoso. Basta, portanto, a ocorrência do ato faltoso e a sua relação com a lesão daí
decorrente.

Por fim, criou-se a teoria mista, defendida por Strupp, segundo a qual, nos atos
comissivos, os entes estatais deveriam responder tão somente com a demonstração do ato
ilícito e o seu liame com o prejuízo. Por outro lado, nos atos omissivos, o Estado somente
responderia se verificada a existência de culpa, na modalidade negligência.

b) Caracterís cas

Podemos citar as seguintes:

1) A responsabilidade internacional é, em regra, ins tucional. Logo, os Estados e as


organizações internacionais assumem os atos daqueles que os representam;

2) Tem por finalidade não punir o Estado ou organização internacional, mas obter a
reparação. Daí porque razão se dizer que possui finalidade reparatória ou natureza
civil;

3) A base para a reparação con nua sendo, em sua maior parte, costumeira.
Embora, como veremos a seguir, a Assembleia Geral da ONU aprovou um Esboço de
Ar gos sobre a matéria;

4) Pode ser reclamada por intermédio dos mecanismos de solução de controvérsias


existentes no cenário internacional, o que inclui desde os meios diplomá cos até a
órgãos jurisdicionais internacionais. 29
Pergunta de concurso: qual o papel do indivíduo no tema da responsabilidade
internacional?

Tradicionalmente, as regras da responsabilidade internacional desconsideravam a


possibilidade de atuação do indivíduo, o qual, em caso de dano sofrido em decorrência de
norma internacional poderia lançar mão da proteção diplomá ca, quando possível.

Hoje em dia, no entanto, já se verificam canais internacionais que o indivíduo pode


acessar para buscar a reparação por um ato que lhe tenha causado prejuízo. É o caso, por
exemplo, dos mecanismos de proteção de direitos humanos adotados na União Europeia e na
Organização dos Estados Americanos.

c) Classificação

Quanto ao po de conduta que leva à responsabilização, surge a divisão da


responsabilidade como omissiva ou comissiva. A primeira surge quando o Estado é
responsabilizado por deixar de cumprir uma obrigação a que se comprometeu
internacionalmente. A segunda quando o Estado pra ca o ato que infringe a norma
internacional

Quanto à fonte de Direito violada, classifica-se a responsabilidade em convencional,


quando a norma violada é um tratado, ou delituosa, quando a norma violada é um costume
internacional.

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Quanto ao autor do ato que enseja a responsabilidade, a mesma pode ser direta,
quando o Estado é o responsável pelo ato do como violador da norma internacional, ou
indireta, quando o ilícito é come do por entes que o Estado representa na ordem internacional,
a exemplo de um município.

Quanto aos que ensejam a responsabilidade, podem ser os mesmos ilícitos e lícitos.

d) Elementos essenciais

Para a configuração da responsabilidade internacional, faz-se necessária a presença de


três requisitos:

1) Ato ilícito (em regra!): é a conduta comissiva ou omissiva que viola a norma de
Direito Internacional. Relembrando que o fato de ato ter sido pra cado à luz do direito
interno não exclui a ilicitude internacional;

2) Imputabilidade (ou nexo de causalidade): refere-se à necessidade de que o ato


ilícito tenha conexão com o resultado danoso. Pode ser direta, quando a conduta foi
pra cada por um representante do próprio Estado, ou indireta, quando resultante de
ato de um município ou estado da federação, por exemplo;

3) Dano: é o prejuízo experimento pela parte em razão da conduta do ente faltoso.


Também na seara internacional o dano pode ser material ou moral.

e) Responsabilidade por atos lícitos 30


Também chamada pela Comissão de Direito Internacional da ONU de
“responsabilidade por atos não proibidos pelo Direito Internacional”, trata-se da modalidade de
responsabilidade em que os Estados devem indenizar os prejuízos eventualmente causados por
suas ações e omissões, ainda que para tanto não tenha concorrido com culpa.

Como se trata de inovação nesta seara do direito, a doutrina elenca alguns requisitos
para caracterização desta modalidade de responsabilidade:

1) A definição clara do dano;

2) A concessão da faculdade da ví ma exigir a reparação;

3) A atribuição inequívoca da lesão a uma pessoa ou ente, chamada de “canalização


da responsabilização”;

4) A obrigatoriedade de cons tuição de seguros e garan as suplementares para as


a vidades de risco reguladas;

5) A fixação de causas para limitação ou exclusão da responsabilidade;

6) a indicação de foros internos dos Estados onde as ví mas podem buscar reparação.

Como exemplos de tratados que já se u lizam dessa modalidade de responsabilidade


internacional, podemos citar: Convenção De Viena sobre Responsabilidade Civil por Danos
Nucleares (1963); Convenção de Bruxelas sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por
Poluição por óleo (1969); Convenção sobre a Responsabilidade Internacional por Danos
causados por Objetos Espaciais.

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f) Órgãos internos e responsabilidade internacional

A doutrina internacional pugna que o Estado é responsável pelos danos causados aos
estrangeiros por todas as ações ou omissões contrárias às suas obrigações internacionais,
qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provêm.

Logo, pouco importa se o ato tem origem no Poder Execu vo, quando deixa de cumprir
uma obrigação do tratado, do Poder Legisla vo, que promulga diploma violando compromissos
internacionais assumidos pelo país, ou pelo Poder Judiciário, quando deixa de aplicar norma
internacional em sua decisão.

Em todos esses casos, o Estado responde internacionalmente.

E quanto aos atos dos indivíduos?

Em regra, o Estado não responde quando a violação da norma internacional foi


pra cada por um de seus cidadãos. No entanto, Rezek aponta para a possiblidade de
responsabilização do Estado na hipótese em que ficar provado que o Estado descumpriu seus
deveres elementares de “prevenção e repressão”, ou seja, de proteger os direitos dos
estrangeiros em seu território.

E quanto aos atos revolucionários?

31
Prevalece na doutrina o entendimento de que o Estado somente será responsabilizado
pelos atos de revolucionários no caso: (i) de ter concorrido para a ocorrência do conflito
instaurado em seu território; ou (ii) quando ver faltado com a diligência para impedir ou
reprimir o fato.

ATENÇÃO!

Lembrando que, no caso de o Estado reconhecer o caráter beligerante ou insurgente de um


movimento revolucionário, este é mo vo suficientemente jurídico para excluir a
responsabilidade do referido Estado!

g) Excludentes de responsabilidade

Abaixo, seguem as circunstâncias que, se verificadas, podem excluir a


responsabilidade internacional do Estado:

1) Consen mento do Estado:

Nesse caso, o consen mento válido dado por um Estado a outro para a prá ca de
determinado ato, exclui a ilicitude do referido ato em face do Estado que o autorizou, nos
limites do que foi consen do. Trata-se de aplicação da regra violen non fit injuria (não há
injúria quando há consen mento).

Para ser válido, a doutrina elenca que o consen mento deve ser: i) real; ii) válido em

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direito internacional; atribuível internacionalmente ao Estado lesionado; anterior à prá ca do
ato cuja ilicitude se pretende excluir.

2) Legí ma Defesa

Consiste na reação a um ataque armado, real ou iminente. Para ser válido, pressupõe
uma agressão armada injusta, além de exigir que a resposta armada seja imediata, como forma
de garan r a soberania e a integridade do Estado.

3) Contramedidas (ou represálias)

Conforme doutrina autorizada, trata-se da possibilidade de um Estado recorrer a uma


forma de “jus ça privada”, de retaliação, para fazer com que o outro Estado paralise as suas
a vidades, ilícitas, que vem lhe causando danos.

Os atos aqui pra cados, em tese, são ilícitos, mas se jus ficam quando: i) verem o
obje vo de fulminar ataques prévios ao Estado que se u liza das represálias; ii) forem
proporcionais ao ato ilícito que está sendo pra cado; por fim, iii) o Estado lesado não ter
encontrado outro meio lícito para paralisar a ilegalidade sofrida.

4) Estado de necessidade

É admi do no Esboço de Ar gos sobre a Responsabilidade de Estados por Atos 32


ilícitos, publicado pelas Nações Unidas, quando: i) o fato for o único meio de salvaguardar um
interesse essencial do Estado contra um perigo grave e iminente; ii) o mesmo não prejudique
um interesse essencial do Estado em razão da qual exista a obrigação.

5) Demais formas de exclusão da responsabilidade

A doutrina ainda menciona, como forma de exclusão da responsabilidade estatal: i) a


força maior e o perigo extremo; ii) a contribuição da ví ma; ou iii) a imprecisão da regra
internacional; ou, por fim, iv) a renúncia do indivíduo lesado.

h) Meios de reparação

O Esboço de Ar gos sobre a Responsabilidade de Estados por Atos ilícitos, publicado


pelas Nações Unidas es pula as seguintes formas de reparação do dano:

1) Res tuição in natura: que consiste em fazer a situação retornar ao status quo
ante;

2) Indenização: na impossibilidade de res tuição, surge a possibilidade de


indenização, incluindo os lucros cessantes que o Estado da ví ma deixou de auferir;

3) Sa sfação, individualmente ou em combinação: trata-se de forma moral de


reparação, normalmente associada a um ato ilícito pra cado em detrimento da
dignidade do Estado e de seus funcionários. Esse po de sa sfação pode consis r num
pedido de desculpas, de punição dos funcionários envolvidos ou do reconhecimento
formal do caráter içícito do fato.

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i) Proteção diplomá ca

Embora não seja possível ao nacional pleitear a indenização diretamente no âmbito


internacional, nada impede que o Estado de origem do lesionado acione o outro Estado em
favor de seu nacional, formulando um pedido de reparação.

Este, pois, é o ins tuto da proteção diplomá ca.

Vamos ver os contornos desse ins tuto:

1) Forma

A proteção diplomá ca é concedida através do endosso, maneira pela qual o Estado do


qual o indivíduo ou en dade é nacional assume como sua reclamação em face de outro Estado;

2) Requisitos

Para sua configuração, se faz necessário: i) a nacionalidade do prejudicado; ii) o


esgotamento dos recursos internos; iii) a conduta correta do autor da reclamação, significando
que não contribuiu para o ato ilícito.

No que tange à nacionalidade do prejudicado, de se dizer que o polipátrida pode


recorrer ao ins tuto, desde que não seja oposta a reclamação contra outro Estado em que é 33
nacional.

Por outro lado, a proteção diplomá ca somente pode ser conferida por aquele que
possui nacionalidade efe va, e que não mudar sua nacionalidade após a reclamação e
durante a demanda, com fundamento no princípio de que a demanda deve ser nacional desde
sua origem (a claim must be na onal in origin).

3) Discricionariedade

A concessão da proteção diplomá ca é um ato discricionário do Estado, e não um


direito do nacional. Inclusive, a proteção pode ser conferida independentemente de pedido.

4) Efeitos do endosso

Uma vez acolhida a reclamação e concedido o endosso, o Estado assume a demanda


como se fosse sua, inclusive podendo adotar as medidas que ache cabíveis e de acordo com o
que acredita ser os melhores caminhos para a solução da controvérsia.

Inclusive, a forma com que a reparação será feita está dentro do âmbito de escolha do
Estado.

5) Cláusula Calvo

Desenvolvida no século XIX pelo Ministro das Relações Exteriores da Argen na, Carlos
Calvo, trata-se de cláusula contratual que opera a renúncia do estrangeiro à possiblidade de

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solicitar a proteção diplomá ca de seus Estados de origem, aceitando, por consequência, os
foros locais como os únicos competentes para solucionar eventual controvérsia.

6) Proteção diplomá ca e organizações internacionais

Em matéria de organizações internacionais, a proteção diplomá ca é nominada de


“proteção funcional”, voltada para resguardar as pessoas a serviço dessas en dades.

Uma vez acionada, prefere à proteção diplomá ca do Estado de origem do funcionário,


e, inclusive, pode ser u lizada em face do próprio Estado de que é o nacional.

Organizações internacionais
Apesar do surgimento de organizações internacionais no século XIX, foi com o
desenrolar do século XX que o crescimento de organizações como essas floresceu na sociedade
internacional, para fazer frente a desafios que não podem ser enfrentados pelos Estados
individualmente.

A doutrina conceitua organizações internacionais como sendo a associação voluntaria


de sujeito do Direito Internacional:

a. Criada mediante tratado internacional (nominado de convênio cons tu vo);

b. Com finalidades predeterminadas;


34
c. Regidas pelas normas de Direito internacional;

d. Dotada de personalidade jurídica dis nta da de seus membros;

e. Dotada de autonomia e especificidade;

f. Possuindo ordenamento jurídico interno e órgãos auxiliares, por meio do qual


realiza os propósitos a que foi criada, com os poderes que lhe foram atribuídos.

ATENÇÃO!

Nada impede que uma organização internacional faça parte de outra organização
internacional!

A doutrina aponta que se trata de ente com personalidade jurídica internacional


derivada, por serem criadas pelos Estados, estes sim com personalidade jurídica internacional
originária.

Formação e órgãos cons tu vos

As organizações internacionais são criadas mediante a celebração de tratados,


concluídos entre os Estados, ou entre os Estados e outras organizações internacionais, que
funciona como ato cons tu vo.

Daí se dizer que o tratado mul lateral tem função dúplice:

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i) serve como ato fundante da organização internacional;

ii) funciona como verdadeira “Cons tuição” da en dade”.

Uma vez criada, a organização passa a contar com um aparelho ins tucional
permanente que forma a sua estrutura.

Embora exista uma variação entre uma organização e outra, podem ser citados ao
menos três como órgãos fundamentais:

a) Um órgão plenário, no qual se reúnem todos os seus membros e dentro do qual


são traçadas as diretrizes de ação da ins tuição, inclusive onde ocorre a celebração de
tratados;

b) Um órgão execu vo, normalmente denominado “conselho”, competente para


executar as polí cas traçadas pelos órgãos superiores da en dade, e composto de
alguns Estados, mas não todos da organização;

c) Um órgão de secretaria, técnico, imparcial, que conta com poderes para tratar dos
assuntos internos e administra vos da en dade.

Por fim, elege-se por meio do voto dos representantes estatais um funcionário que
será o representante máximo da organização, eleito na forma do ato cons tu vo da en dade.

Personalidade jurídica
35
Tal qual afirmado no início da exposição, as organizações internacionais possuem
personalidade jurídica internacional.

Isso permite apontar conclusões importantes para o Direito Internacional, a exemplo


de que, as organizações:

a) São dotadas do direito de convenção, logo, podem concluir tratados (uma vez
disposta tal possibilidade em seu ato cons tu vo);

ATENÇÃO!

É preciso diferenciar os tratados que são firmados pela organização internacional, e os tratados
que são firmados na organização internacional.

Os primeiros são firmados, logicamente, pelo órgão internacional supra estatal. Os segundos
são firmados pelos Estados, porém dentro do marco regulatório das organizações
internacionais.

b) Podem firmar contratos com pessoas jurídicas de direito privado, a fim de


cumprir os seus obje vos, a exemplo de contrato com fornecedores, com
trabalhadores etc.;

c) Tem capacidade de auto-organização, assim como são responsáveis pelos atos


que pra cam (e não os Estados que a cons tuíram);

d) Podem recorrer a tribunais internacionais atuando em nome próprio, uma vez


assinalada essa permissão expressa no tratado que rege o funcionamento do referido
tribunal;

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e) Podem exercer o direito de legação, ou seja, podem enviar representantes de seus
quadros de funcionários para outros países para atuar em seu bene cio;

f) Possuem imunidades de jurisdição, regulada na forma de seu ato cons tu vo.

Ressaltamos, por fim, que a personalidade jurídica da organização começa a exis r


quando começam a funcionar efe vamente, e que essa personalidade jurídica é adquirida,
assim como nos Estados, independentemente de seu reconhecimento.

Caracterís cas

A doutrina aponta várias caracterís cas específicas deste ente intergovernamental:

a) Mul lateralidade: as organizações internacionais devem possuir pelo menos três


membros;

b) Permanência: as organizações devem funcionar por prazo indeterminado, e não


de maneira pontual e para um caso específico, ad hoc, contando com um órgão
duradouro e estável que administre a organização e responsa pelos seus atos;

c) Ins tucionalização: é imprescindível para a existência do ente que o mesmo conte


com órgãos e funcionários próprios;

d) Necessidade de associação voluntária: os entes que fazem parte da organização


devem fazê-lo por expressão de sua vontade, livre e consciente;

e) Capacidade de regulamentação: para cumprir os seus obje vos ins tucionais, as


36
organizações internacionais devem contar com o poder regulamentar, ou seja, de
pautar o tratamento dos temas afetos à sua competência;

f) Existência um ordenamento jurídico interno e próprio: como desdobramento do


seu poder regulamentar, as organizações internacionais devem contar com um
conjunto de normas para reger o seu funcionamento, como um Estatuto.

ATENÇÃO!
Importante dizer que o Estatuto interno das organizações internacionais não se confunde com
seu ato cons tu vo.

O primeiro é ato promulgado pela própria organização, em seu funcionamento regular. O


segundo é ato promovido pelo conjunto de Estados que funda a associação internacional,
regulando a sua composição, presidência e demais assuntos ins tucionais de maior relevância
para a criação da organização.

Processo decisório

Como dito no início, as organizações internacionais são formadas com vistas a


promover temas de cooperação internacional, que exigem a concentração dos Estados. Para
que esses obje vos sejam alcançados, normalmente são atribuídos poderes de decisão às
respec vas en dades, de modo a deliberarem sobre assuntos de seu interesse.

O formato das decisões nas organizações pode tomar denominações variadas, porém,

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as mais comuns são as resoluções (normalmente sem caráter vinculante), as recomendações e
outros instrumentos de so law, como códigos de conduta, declarações, leis-modelo, etc.

A doutrina aponta como sistemas de tomada de decisão os seguintes:

a) Sistema da unanimidade: por meio deste, todos os Estados concordam em


cumprir as decisões emanadas da organização, sem a possibilidade de que voto
dissidente seja formado no processo. Foi o sistema adotado na Liga das Nações;

b) Sistema da dissidência: adota-se uma resolução na sua integralidade para os


Estados que aprovaram a decisão tomada pela organização, deixando de valer a
mesma, no entanto, para os Estados que não concordaram com a tomada de posição;

c) Sistema do voto ponderado: ocorre quando um Estado tem direito a mais votos
que o outro, ou que possui mais peso do que os outros, como ocorre no Conselho de
Segurança da ONU.

d) Sistema da maioria simples e da maioria qualificada: no primeiro caso, prevalece


a vontade da metade mais um dos países votantes, e no segundo ganha a vontade de
2/3 dos par cipantes da votação, como ocorre no art. 18, § 2°, da Carta das Nações
Unidas.

Competências

Para cumprir os obje vos que lhe foram des nados pelos Estados, as organizações
devem possuir as competências: 37
a) Norma va: consiste naquela voltada para regulamentação de suas próprias
a vidades. Por outro lado, no âmbito externo pode direcionar normas aos demais
sujeitos do Direito Internacional (ainda que muitas das vezes de forma não
vinculante);

b) Operacional: refere-se à capacidade de o ente formular e executar as operações


necessárias ao seu funcionamento e ao cumprimento de seus obje vos na prá ca, a
exemplo da contração de emprés mos, da contratação de pessoal, dentre outros;

c) Controle: a competência de controle se refere à necessidade de a organização


supervisionar a aplicação dos tratados negociados no âmbito da en dade. O
controle pode ser de natureza jurídica, técnica ou polí ca e pode ser acionado por um
membro ou por inicia va de outras pessoas ou grupos;

d) Imposi va: embora nem todas as organizações possuam semelhante


competência, que assim será estabelecida em seu ato cons tu vo, consiste na
capacidade da organização impor suas decisões. As imposições podem ser
consolidadas, ainda, na forma de sanções, para fins de cumprimento dos tratados que
regem as suas disposições.

Espécies

As organizações podem ser classificadas da seguinte forma:

a) Quanto à abrangência ou alcance: podem ser regionais ou universais. As


primeiras, naturalmente, abarcam um espaço determinado e normalmente são
formadas por Estados con guos (a exemplo do MERCOSUL, da União Europeia). As
universais englobam todo o planeta, sem qualquer dis nção;

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b) Quando aos seus fins e/ou domínio temá co: podem ser gerais ou especiais. As
primeiras reúnem uma gama de competências vasta, de cunho predominantemente
polí co, como ocorre com a ONU. As especiais cuidam de temas específicos, a
exemplo do FMI e da UNESCO;

c) Quanto à natureza dos poderes exercidos: podem ser intergovernamentais ou


supranacionais. As primeiras são entes que baseiam a sua atuação na coordenação de
interesses dos membros, com decisões tomadas ora pela sistema da unanimidade, ora
pela maioria absoluta. As segundas possuem poderes suficientes para subordinar os
Estados que deles fazem parte. São formadas por órgãos que atuam em nome próprio,
e não como representantes dos Estados, e suas decisões são executáveis nos
territórios dos entes estatais diretamente;

d) Quanto aos poderes recebidos ou estruturas ins tucionais: podem ser de


cooperação ou de integração. As primeiras, como ocorre na classificação anterior,
procuram coordenar as a vidades de seus membros. As segundas têm capacidade
para impor suas decisões.

Admissão

No bojo de uma organização internacional existem duas classes de membros: os


originários e os admi dos. Os primeiros são aqueles que par cipam da organização desde o seu
início, enquanto os segundos são aqueles que aderiram ao tratado de sua cons tuição.

Quanto aos segundos, coloca-se o problema da admissão.


38
Para que ocorra a adesão, se faz necessário que:

a) O Estado adira ao ato cons tu vo da organização;

b) A organização internacional, em seu ato cons tu vo, admita o ingresso de


novos membros;

c) O Estado interessado cumpra os requisitos necessários para a sua admissão,


disciplinados no próprio tratado de cons tuição da organização; e, por fim,

d) A organização internacional aceite a adesão realizada.

Manifestada a sua adesão, e no silêncio do tratado a respeito, entende-se que a


adesão é realizada de modo integral e sem reservas. Existem raras exceções, no entanto, que
admi ram a adesão com reservas, como ocorreu na Liga das Nações.

ATENÇÃO!
As organizações admitem contar também com “associados”, como ocorre na ONU quanto aos
territórios coloniais ou sob tutela.

Como não preenchem os requisitos para se tornar membros efe vos da ONU (por não serem
Estados, propriamente ditos), não par cipam da associação com direito a voto, mas podem
par cipar das discussões na Assembleia, fazer propostas, votar nos comitês regionais e ser
eleitos (salvo para os órgãos centrais e de cúpula).

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Observações finais

Podemos destacar os seguintes temas finais para conhecimento do candidato:

a) Sede

Não contando com uma base territorial permanente, as organizações internacionais


necessitam de um local para instalar seus órgãos e onde seus agentes possam exercer as suas
funções.

A instalação de uma organização internacional, requer, portanto, a celebração de um


tratado (nominado de acordo de sede), firmado pelo ente com o Estado que o receberá,
regulando as relações entre ambos os sujeitos de Direito Internacional, inclusive acerca de
temas como prerroga vas e imunidades, tanto de seus funcionários quanto dos
representantes dos Estados que o integram.

É possível, por outro lado, que as organizações internacionais se instalem em outros


Estados que não o de sua sede, necessitando também nesse caso de um tratado com o país em
questão para regular as suas relações jurídicas.

b) Financiamento

O custeio de cada organização é definido, em regra, pelo seu ato cons tu vo.
39
Como regra, aponta Rezek, o financiamento dos custos da en dade é realizado por
meio da “co zação”, isto é, através do pagamento de contribuições em valor que normalmente
corresponde à capacidade contribu va de cada Estado que compõe a organização.

Nada impede, no entanto, que outras formas de financiamento estejam previstas, a


exemplo da captação de recursos no mercado financeiro e a venda de produtos e serviços.

c) Funcionários

Como apontado no início, para cumprir os seus obje vos, a organização internacional
revela seu caráter ins tucional, que a permite compor um quadro de funcionários próprias para
realizar os obje vos da en dade.

Tais funcionários, por sua vez, normalmente gozam, na sede, de prerroga vas
definidas pelo acordo de sede, e, nas suas representações no exterior, de imunidades e
privilégios semelhantes aos dos diplomatas, também definidos nos tratados.

Exemplo destes tratados é a Convenção de Privilégios e Imunidades das Nações Unidas


(Decreto 27.784/1950), que garante aos funcionários respec vos, por exemplo, imunidades
quanto aos atos relacionados à sua função, imunidade tributária quanto aos salários e
emolumentos pagos pelas Nações Unidas, dentre outros.

d) Re rada e suspensão dos Estados

Assim como a associação em uma organização internacional é voluntária, um Estado


também pode valer de seu consen mento para se re rar da organização, desde que permi do

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pelo tratado cons tu vo (silenciando a respeito, a denúncia é possível nos termos do art. 56,
§1°, da Convenção de Viena).

Nesse caso, a re rada é subme da a dois requisitos:

1) o aviso prévio, consistente no lapso temporal entre a manifestação formal do


Estado e o rompimento efe vo do vínculo com a en dade;

2) a atualização das contas, isto é, a regularização da situação financeira do Estado


para com a en dade. Nesse caso, até o seu úl mo dia na organização, o Estado deve
honrar todos os seus compromissos com a organização

Outra forma de re rada da associação consiste na expulsão, que ocorre quando o


Estado viola gravemente as regras de conduta estabelecidas no tratado cons tu vo, como
autorizado pelo art. 6° da Carta da ONU.

Por fim, pode ocorrer de o Estado sofrer a penalidade de suspensão, que ocorre
quando o ente perde os seus direitos e privilégios dentro de uma organização, sem prejuízo de
con nuar obrigado a ela.

É o que ocorre, por exemplo, no art. 5° da Carta da ONU, que estabelece a possibilidade
de suspensão no caso de países contra o qual for levada a efeito uma ação preven va ou
coerci va por parte do Conselho de Segurança.
40
ATENÇÃO!

A expulsão e a suspensão também são tratadas pela doutrina como forma de sanção aos
Estados membros da organização internacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Mazzuoli, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público – 10ª ed. rev. atual. e
ampliada, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

Rezek, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar – 16ª ed. rev. ampl. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2016.

Portela, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado – 7ª ed. rev., atual. e
ampl., Salvador: JUSPODIUM, 2015.

Mello, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público – 15ª ed. rev., aumen. –
Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

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2. LEGISLAÇÃO E SÚMULAS
1) Convenção de Montevidéu de 1933:

Ar go 1

O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos.

I. População permanente.

II. Território determinado.

III. Govêrno.

IV. Capacidade de entrar em relações com os demais Estados.

Ar go 2

O Estado federal cons tui uma só pessoa ante o Direito Internacional.

Ar go 3
41
A existência polí ca do Estado é independente do seu reconhecimento pelos demais Estados.
Ainda antes de reconhecido, tem o Estado o direito de defender sua integridade e
independência, prover a sua conservação e prosperidade, e conseguintemente, organizar-se
como achar conveniente, legislar sôbre seus interesses, administrar seus serviços e determinar
a jurisdição e competência dos seus tribunais.

O exercício dêstes direitos não tem outros limites além do exercício dos direitos de outros
Estados de acôrdo com o Direito Internacional.

Ar go 4

Os Estados são juridicamente iguais, desfrutam iguais direitos e possuem capacidade igual para
exercê-los. Os direitos de cada um não dependem do poder de que disponha para assegurar seu
exercicio, mas do simples fato de sua existência como pessoa de Direito Internacional.

Ar go 5

Os direitos fundamentais dos Estados não são susce veis de ser a ngidos sob qualquer forma.

Ar go 6

O reconhecimento de um Estado apenas significa que aquele que o reconhece aceita a


personalidade do outro com todos os direitos e deveres determinados pelo Direito
Internacional. O reconhecimento é incondicional e irrevogável.

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Ar go 7

O reconhecimento do Estado poderá ser expresso ou tácito. Este úl mo resulta de todo ato que
implique a intenção de reconhecer o novo Estado.

Ar go 8

Nenhum Estado possui o direito de intervir em assuntos internos ou externos de outro.

Ar go 9

A jurisdição dos Estados, dentro dos limites do território nacional, aplica-se a todos os
habitantes. Os nacionais e estrangeiros encontram-se sob a mesma proteção da legislação e das
autoridades nacionais e os estrangeiros não poderão pretender direitos diferentes, nem mais
extensos que os dos nacionais.

Ar go 10

É interesse primordial dos Estados a conservação da paz.

As divergências de qualquer espécie que entre eles se levantem deverão resolver-se pelos
meios pacíficos reconhecidos.
42
Ar go 11

Os Estados contratantes consagram, em defini vo, como norma de conduta, a obrigação


precisa de não reconhecer aquisições territoriais ou de vantagens especiais realizadas pela
fôrça, consista esta no emprego de armas, em representações diploma cas cominatórias ou em
qualquer outro meio de coação effec va. O território dos Estados é inviolável e não pode ser
objeto de occupações militares, nem de outras medidas de força impostas por outro Estado,
direta ou indiretamente, por mo vo algum, nem sequer de maneira temporária.

Ar go 12

A presente Convenção não a nge os compromissos contraídos anteriormente pelas Altas Partes
Contratantes em virtude de acôrdos internacionaes.

Ar go 13

A presente Convenção será ra ficada pelas Altas Partes Contratantes, de acôrdo com os seus
processos cons tucionais. O Ministério das Relações Exteriores da República Oriental do
Uruguai fica encarregado de enviar cópias devidamente anten cadas aos Governos, para o
referido fim. Os instrumentos de ra ficação serão depositados nos arquivos da União
Panamericana, em Washington, a qual no ficará o referido depósito aos Governos signatários.
Tal no ficação terá o valor de troca de ra ficações.

Ar go 14

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A presente convenção entrará, em vigor entre as Altas Partes Contratantes na ordem em que
forem depositando suas respec vas ra ficações.

Ar go 15

A presente Convenção vigorará indefinidamente, mas poderá ser denunciada mediante aviso
prévio de um ano à União panamericana, que o transmi rá aos demais Governos signatários.
Decorrido êste prazo, cessarão os efeitos da Convenção para os denunciantes, subsis ndo para
as demais Altas Partes Contratantes.

Ar go 16

A presente Convenção ficará aberta à adesão e acessão dos Estados não signatários. Os
instrumentos respec vos serão depositados nos arquivos da União Panamericana, que dará
comunicação dos mesmos às outras Altas Partes Contratantes.

Em fé do que, os Plenipotenciários em seguida indicados firmam e selam a presente Convenção


em hespanhol, inglês, português a francês, na cidade de Montevidéu, República Oriental do
Uruguay, no vigesimo sexto dia do mês de dezembro do ano de mil novecentos e trinta e três.

· Súmulas sobre o assunto:

Ø Não há Súmulas sobre o assunto. 43

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3. JURISPRUDÊNCIA

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

IMUNIDADE DE ESTADO ESTRANGEIRO

(STJ, RO 138-RJ, Informa vo 538)

Ÿ DECISUM (Decisão): O Município não pode cobrar IPTU de Estado Estrangeiro, embora o
possa fazer em relação à taxa de lixo, não prevalecendo a imunidade de jurisdição nesse
aspecto. Não podem, contudo, sofrer execução pela cobrança do valor respec vo, em
virtude de sua imunidade de execução.

Ÿ RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): Os Estados estrangeiros gozam de imunidade


tributária. Em virtude disso, em regra, não pagam impostos nem taxas no Brasil.

Essa imunidade tributária não abrange taxas que são cobradas por conta de serviços
individualizados e especificas que sejam prestados ao Estado estrangeiro. Sendo esse o caso,
o país estrangeiro terá que pagar o valor da taxa, não gozando de isenção. 44
Com base nesse entendimento, o Munícipio não pode cobrar lPTU de Estado estrangeiro,
mas poderá exigir o pagamento de taxa de coleta domiciliar de lixo.

Os Estados estrangeiros gozam também de imunidade de execução, ou seja, possuem a


garan a de que os seus bens não serão expropriados, isto é, não serão tomados à força para
pagamento de suas dívidas.

Vale ressaltar, no entanto, que a imunidade de execução pode ser renunciada. Assim, antes
de se ex nguir a execução fiscal para a cobrança de taxa decorrente de prestação de serviço
individualizado e específico, deve-se cien ficar o Estado estrangeiro executado, para lhe
oportunizar eventual renúncia à imunidade.

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4. QUESTÕES DE CONCURSOS
OBSERVAÇÕES: Ler os comentários somente após a tenta va de resolução das questões sem consulta.

1. (CESPE – AGU/2015): Embora não tenham A renúncia de imunidade de jurisdição por


o atributo de soberania, as organizações um Estado estrangeiro implica a
internacionais possuem imunidades de impossibilidade de se invocar a
jurisdição equivalentes às dos Estados. impenhorabilidade de bens desse Estado por
ocasião do processo de execução.
2. (CESPE – TRF-5ª Região/2015): O
f u n d a m e n t o p a ra s e r e c o n h e c e r a 7. (CESPE – TRF-1ª Região/2013): Os
imunidade de jurisdição das organizações elementos considerados na iden ficação do
internacionais repousa na divisão entre atos Estado como sujeito de direito internacional
decorrentes de jure imperii ou de jure não incluem a capacidade para entabular
ges onis. relações internacionais.

3. (CESPE – TRF-5ª Região/2015 - Adaptada): 8. (CESPE – TRF-5ª Região/2013 - Adaptada):


Assinale a opção correta referência a Acerca da imunidade de jurisdição estatal,
imunidade jurisdicional. julgue a seguinte afirma va:

A imunidade de jurisdição das organizações O STF tem competência para julgar, em única
internacionais intergovernamentais é do po e úl ma instância, casos que envolvam a
rela va por força do costume internacional. aplicação desse po de imunidade.
45
4. (CESPE – TRF-5ª Região/2015 - Adaptada): 9. (CESPE – TRF-3ª Região/2011 - Adaptada):
Assinale a opção correta referência a Acerca da imunidade de jurisdição estatal,
imunidade jurisdicional. julgue a seguinte afirma va:

A capacidade de que são dotadas as A execução de bens de Estados estrangeiros


organizações internacionais somente é possível no caso de expressa
intergovernamentais para firmar tratados renúncia por parte do executado.
decorre essencialmente de personalidade
jurídica dessas organizações e das normas 10. (CESPE - AGU/2010): A anexação, por
que as regem. meio da u lização da força, é uma forma de
aquisição de território proibida pelo direito
5. (CESPE – TRF-5ª Região/2013 - Adaptada): internacional.
Assinale a opção correta referência a
imunidade jurisdicional. 11. (CESPE – TRF-1ª Região/201 - Adaptada):
Com relação ao ins tuto da personalidade
jurídica internacional, julgue a afirma va a
Não é possível que organizações seguir:
internacionais par cipem do processo de
criação de outras organizações Aos grupos nacionais beligerantes que se
internacionais, pois a inicia va da criação rebelarem contra o governo cons tuído com
desse po de organização cabe aos Estados. vistas à criação de um novo Estado não será
reconhecida a personalidade jurídica
6. (CESPE – TRF-5ª Região/2015 - Adaptada): internacional.
Assinale a opção correta referência a
imunidade jurisdicional.

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12. (CESPE – Rio Branco/2014 - Adaptada): das Organizações Internacionais deriva do
Acerca dos sujeitos da sociedade costume internacional e não permite ser
internacional, julgue a afirma va a seguir: afastada nem em caso de reclamação
trabalhista.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a
Ordem Soberana e Militar de Malta e o 16. (FCC – TRT-15ª Região/2015 - Adaptada):
Greenpeace são admi dos como entes Julgue o item a seguir:
a s s e m e l h a d o s a s u j e i to s d e d i re i to
internacional público. Às Organizações Internacionais não se aplica
a dis nção entre atos de império e atos de
13. (CESPE – Rio Branco/2003): Julgue os gestão, uma vez que sua imunidade de
itens a seguir: jurisdição tem base convencional. Assim, a
extensão da imunidade de jurisdição de uma
Desde o início do século XX, consolidou-se na Organização Internacional será determinada
prá ca internacional a aceitação de que todo pelo tratado que regule seu funcionamento
indivíduo tem personalidade jurídica de no Brasil.
direito internacional, fato que é corroborado
por haver cortes internacionais que julgam 17. (FCC – TRT-15ª Região/2015 - Adaptada):
indivíduos que cometeram crimes de guerra Julgue o item a seguir:
e também por haver tribunais internacionais,
como a Corte Interamericana de Direitos do A prá ca brasileira de admi r reclamações
Homem, que admitem a possibilidade de trabalhistas movidas por empregados de
indivíduos atuarem como partes nos Missões Diplomá cas estrangeiras no Brasil é 46
processos por elas julgados. uma violação do direito internacional, que
entende que a contratação de funcionários
14. (CESPE – TRF-5ª Região/2015 - para suas Missões no exterior é um ato de
Adaptada): Julgue o item a seguir: império e, portanto, abrangida pela
imunidade de jurisdição.
A personalidade jurídica internacional é
reconhecida de forma ampla, equiparando- 18. (FCC – TRT-6ª Região/2015 - Adaptada):
se, nesse aspecto, à personalidade estatal. Julgue o item a seguir:

15. (CESPE – TRF-5ª Região/2015 - As organizações intergovernamentais podem


Adaptada): Julgue o item a seguir: celebrar tratados internacionais entre si e
com Estados, embora a esses acordos não se
Eventual acordo de concessão entre a apliquem as disposições da Convenção de
mul nacional General Motors e o Estado Viena sobre Direitos dos Tratados de 1969,
brasileiro será regido pelo direito dos sendo tais tratados ainda objeto de regulação
tratados, haja vista a constatação de por normas costumeiras.
personalidade jurídica internacional das
empresas mul nacionais. 19. (FCC – TRT-6ª Região/2015 - Adaptada):
Julgue o item a seguir:
15. (FCC – TRT-15ª Região/2015 - Adaptada):
Julgue o item a seguir: As organizações intergovernamentais serão
dotadas de personalidade jurídica
De acordo com a jurisprudência do Supremo internacional, desde que isso esteja
Tribunal Federal, a imunidade de jurisdição expressamente previsto em seu tratado

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cons tu vo.

20. (FCC – TRT-18ª Região/2014 - Adaptada):


Julgue o item a seguir:

As diferenças de capacidade militar,


econômica e polí ca dos Estados não
implicam dis nções em sua personalidade
jurídica.

21. (FCC – TRT-18ª Região/2014 - Adaptada):


Julgue o item a seguir:

A criação das Organizações


Intergovernamentais resulta unicamente da
manifestação de vontade de sujeitos de
Direito Internacional, não as podendo criar
os sujeitos de Direito Interno.

22. (FCC – TRT-6ª Região/2014 - Adaptada):


Julgue o item a seguir:

A renúncia à imunidade de jurisdição civil ou 47


administra va por um Estado não implica na
possibilidade de execução de sentença
condenatória.

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4.1COMENTÁRIIOS desdobramento dos poderes inerentes a este
ente que possui personalidade jurídica
1. internacional.

(ERRADO) Jus fica va: Embora não 6.


possuam soberania, como acertadamente
assinalado pela questão, as imunidades de (ERRADO) Jus fica va: Como assinalado
jurisdição de ambas são dis ntas. Enquanto nesta Rodada, a renúncia realizada em um
nas primeiras entende-se pela sua imunidade processo de conhecimento não implica em
absoluta e regulada pelas respec vas renúncia automá ca para o processo de
convenções que o criaram, no tocante aos execução. Tratam-se de atos dis ntos e que
Estados prevalece o entendimento da demandam expressa realização, tanto para
imunidade rela va, referente ao processo de um quanto para outro processo.
conhecimento.
7.
2.
(ERRADO) Jus fica va: Conforme redação
(ERRADO) Jus fica va: Trata-se da doutrina do art. 1°, IV, da Convenção de Montevidéu
acolhida para os Estados, nominada de de 1933.
imunidade rela va. Prevalece o
entendimento da imunidade absoluta no 8.
tocante às organizações internacionais, a 48
qual se encontra regulada pelas convenções (ERRADO) Jus fica va: Não há reserva desta
e documentos que as ins tuem. matéria ao STF em qualquer diploma
legisla vo brasileiro, podendo a matéria ser
3. conhecida por qualquer juiz de primeira
instância, normalmente.
(ERRADO) Jus fica va: A imunidade de
jurisdição das organizações internacionais 9.
decorre dos tratados que a cons tuem, não
do costume internacional, como ainda (CERTO) Jus fica va: Conforme STF, ACO
prevalece no tocante aos Estados. 543 AgR / SP, que cul va o entendimento da
imunidade absoluta de execução para os
4. Estados. Isso não significa, no entanto, que
medidas não possam ser tomadas junto ao
(CERTO) Jus fica va: Conforme doutrina Estado devedor para que, por meios
assinalada nesta Rodada. diplomá cos e não coerci vos, previstos fora
do Poder Judiciário, venha a pagar o débito
5. cons tuído em solo estrangeiro, conforme
apontado acima.
(ERRADO) Jus fica va: É possível que
organizações integrem outras organizações 10.
internacionais. Tal possibilidade decorre do
seu direito de celebrar tratados, o qual, por (CERTO) Jus fica va: Trata-se de verdadeira
consequência, pode ter como obje vo a norma de jus cogens, prevista igualmente no
criação de uma nova organização art. 2, §4°, da Carta da ONU.
internacional. Trata-se, portanto, de simples

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11. 16.

(ERRADO) Jus fica va: Aos beligerantes, ( C O R R E TA ) J u s fi c a v a : E s s e é o


conforme doutrina pacífica, será entendimento que se pacificou na Corte
reconhecida a sua personalidade jurídica Suprema brasileira, em sede do RE 1034840,
internacional. em sede de repercussão geral, que
reafirmou a jurisprudência existente na
12. seguinte tese: “O organismo internacional
que tenha garan da a imunidade de
(ERRADO) Jus fica va: A doutrina jurisdição em tratado firmado pelo Brasil e
internacionalista é pacífica quanto à internalizado na ordem jurídica brasileira não
inexistência de personalidade jurídica pode ser demandado em juízo, salvo em caso
internacional da Ordem Soberana e Militar de renúncia expressa a essa imunidade”.
de Malta, ins tuição privada humanitária, e
ao Greenpeace, que se trata da Organização 17.
Não Governamental, outro ente de direito
privado. (ERRADO) Jus fica va: O entendimento das
cortes brasileiras é no sen do inverso. Ou
13. seja, as reclamações trabalhistas são
manifestações de atos de gestão, em que o
(ERRADO) Jus fica va: A personalidade Estado se equipara ao par cular, conforme
jurídica internacional do indivíduo con nua explicado nesse material às fls. 30.
sendo assunto controverso na doutrina 49
internacionalista até os dias atuais. A 18.
despeito da doutrina prevalecente hoje,
certo é que durante o século XX não se (CORRETO) Jus fica va: A Convenção de
reconheceu tal qualifica vo ao indivíduo na Viena menciona, em seu ar go 3º, o fato de
sociedade internacional. que a referida Convenção não se aplica nem
aos acordos internacionais celebrados entre
14. Estados e outros sujeitos de direito
internacional ou entre esses outros sujeitos,
(ERRADO) Jus fica va: A única nem aos acordos internacionais não
personalidade jurídica internacional celebrados por escrito.
reconhecida de forma ampla na doutrina e na
sociedade internacional, até os dias atuais, é Logo, a asser va está correta.
a do Estado. Todas as demais possuem
limitações. Logo, asser va incorreta. 19.

15. (ERRADO) Jus fica va: A personalidade


jurídica de uma organização internacional
(ERRADO) Jus fica va: O acordo em decorre da sua própria criação, no do tratado
questão será encarado como um contrato cons tu vo que o estabelece.
internacional. A GENERAL Motors não possui
personalidade jurídica internacional, e Logo, a alterna va está incorreta na medida
tampouco se reconhece na doutrina e na em que afirma que a personalidade jurídica
prá ca internacional, capacidade jurídica à internacional da ins tuição apenas decorre
empresas privadas para celebrarem tratados. de expressa afirmação em seu tratado

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cons tu vo.

20.

(CORRETO) Jus fica va: Os elementos


cons tu vos dos Estados são: a) População
permanente; b) Território Determinado; c)
Governo; d) Capacidade de entrar em
relações com os demais Estados.

Basta o cumprimento destes requisitos para


que ente de direito internacional possua
capacidade plena, reconhecida na sociedade
internacional. Uma vez reconhecida a
personalidade jurídica dos Estados, os
mesmos se mantém em plano de igualdade,
independente das caracterís cas citadas na
questão.

21.

(CORRETO) Jus fica va: Como o próprio


nome na asser va diz, as organizações são 50
intragovernamentais; logo, pressupõem
uma concertação entre sujeitos de direito
público externo, que no caso são os Estados.
Não pode ele, portanto, por impossibilidade
lógica, criar uma organização desta natureza
sozinho, de acordo com o seu direito interno.

22.

(CORRETO) Jus fica va: A alterna va está


correta na medida em que reflete a
autonomia e independência entre as
imunidades de jurisdição e execução.
É preciso que o candidato entenda, assim,
que como a regra histórica na relação entre
os Estados foi o reconhecimento de dois pos
de imunidade, cada uma com um conteúdo e
respec vos entendimentos rela vos e/ou
absolutos, é necessário renunciar a cada uma
expressamente, em cada fase do processo.

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