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principais determinantes no
relacionamento entre equipes de pesquisa
parceiras
Resumo
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rPOT VOLUME 21NÚMERO 1 IJANEIRO· JUNHO 12002 1p.93·115 JANEIRO· JUNHO 2002 p.93·115
ps
Suzana Maria Valle lima Magali dos Santos Machado Antônio Maria Gomes de Castro
Confiança: modos de produção e principais determinantes
no relacionamento entre e ui es de es uísa arceiras
colha de comportamento "de confiança", isto é, cooperativo. presenta o comportamento de confiança) é evitável (por exem-
Dois outros autores, Luhmann & Lorenz, baseiam-se na plo, urna firma não tem que se engajar em trocas com urna outra
literatura psicológica para definir confiança. Lorenz (1988), es- firma) e, (3) o risco na situação deve ser causado pelo comporta-
tudando as relações entre firmas francesas e seus contratantes, mento de outros, não por eventos exógenos que podem preju-
define comportamento de confiança corno urna ação que "(1) dicar a situação de troca.
aumenta a vulnerabilidade de um indivíduo em relação a outro, Gambetta (1988) afirma que a condição de ignorância ou
cujo comportamento não está sob o seu controle e (2) tem lugar incerteza sobre o comportamento de outras pessoas é essencial
em urna situação em que a penalidade no caso de ocorrer abuso para caracterizar urna interação social corno envolvendo confi-
de confiança levaria o indivíduo a arrepender-se da ação. Em ança. Essa só se torna urna questão relevante devido ao fenôme-
termos econõmicos isto implica em que a ação não seria realiza- no da racionalidade limitada, isto é, ao fato de que não ternos
da na ausência de confiança porque o beneficio líquido espera- acesso a todas as informações necessárias para a tomada de deci-
do seria menor do que outra alternativa" (p. 84) sões com total certeza.
Luhmann (1988), por outro lado, afirma que confiança A segunda condição sugerida por Gambetta é que os agen-
pressupõe urna situação de risco, onde se escolhe urna ação a tes com quem o indivíduo deve interagir devem possuir graus de
despeito da possibilidade de desapontamento ou frustração fu- liberdade para desapontá-lo em suas expectativas. A possibili-
tura com o comportamento de outros, e onde possíveis prejuí- dade de "retirada, traição, desistência" deve estar presente para
zos podem ser maiores do que as vantagens procuradas. que a confiança possa operar. Este autor afirma, a este respeito,
Na literatura sociológica, de acordo com Zucker (1986), que confiança pode ser definida corno um mecanismo para lidar
98 existem duas perspectivas relevantes sobre o conceito de confi- com a liberdade dos outros.
ança. Em uma vertente, confiança é considerada corno signifi- A terceira condição proposta por Gambetta está relacio-
cando que, em urna relação de troca, os atores esperam que ou- nada à liberdade da pessoa que confia nos outros em urna rela-
tros atores coloquem o auto-interesse de lado em favor de urna ção; assim, esta pessoa deve ter urna liberdade limitada na troca,
orientação-ao-outro ou urna orientação-à-coletividade. Esta ver- ou seja, ele/ela tem que ter a escolha de terminar a relação ou
tente é mais identificada corno urna visão funcionalista ou não entrar nela. A liberdade é limitada porque se o conjunto de
Parsoniana do fenômeno. alternativas é muito amplo a pressão para confiar em alguém
A outra vertente teórica sobre confiança, de acordo com em particular tende a ser menor.
Zucker, é representada pelo trabalho de Garfinkel (1967), e Outra condição de confiança mencionada por vários au-
visualiza confiança corno a capacidade dos atores de tornarem tores (Zucker, 1986; Bradach & Eccles, 1989; Gambetta, 1988)
como dadas (taking ror granted) as ações e as decisões de outros está relacionada à dimensão temporal do fenômeno, ou seja,
atores envolvidos em urna relação de troca, isto é, de "tornar sob este conceito refere-se a ações, no presente, que podem ser la-
confiança um vasto conjunto de características da ordem social" mentadas no futuro. Além disso, as conseqüências passadas do
(Garfinkel, 1967: 56). Sob esse ponto de vista, o auto-interesse relacionamento com um agente, podem dificultar ou facilitar a
é esperado e legítimo em estágios avançados da relação, embora confiança neste agente no momento atual. Portanto, de acordo
em seu início alguma orientação-a-outro seja esperada. De acor- com Bradach & Eccles (1989) o futuro é construído a partir de
do com Lorenz (1988), existem três elementos que devem estar ações passadas e presentes.
presentes para que a confiança possa operar: (I) urna situação Embora reconhecida corno urna característica essencial da
de risco, ou seja, de vulnerabilidade atual ou potencial ao com- vida sócio-econômica, a confiança tem sido pouco estudada, tal-
portamento de outros; (2) urna situação na qual a ação (que re- vez devido aos problemas envolvidos na mensuração do construto.
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Suzana Maria Valle Lima Magali dos Santos Machado Antônio Maria Gomes de Castro Confiança: modos de produção e principais determinantes
no relacionamento entre e ui es de es uisa arcelras
Lewis & Weigert (1985), a respeito desta questão, listam I - confiança específica a pessoas ou empresas específicas:
várias dificuldades para a realização de tal medida: forma de confiança baseada em similaridade de educação, filiação
a associações e certificações entre os indivíduos, ou em similari-
• Confiança é um fenômeno multidimensional, e por isto pode dades em procedimentos entre organizações;
ser extremamente simplório perguntar a um indivíduo se ele II - confiança através de mecanismos intermediários: con-
confia ou não em outra pessoa ou instituição (o indivíduo pode fiança observada quando algum tipo de mecanismo assegura a
confiar em algumas situações e contextos, mas não em outros); ambas as partes que a transação será completada ou terá o re-
• Nos experimentos com o jogo do "dilema do prisioneiro", as torno esperado.
condições não permitem o desenvolvimento de relações sociais
entre os participantes; assim, os pesquisadores não estavam es- Zucker (1986) afirma ainda que estes modos de produção
tudando confiança, mas "os processos pelos quais indivíduos
de confiança são substituíveis em alguma extensão, embora não
conseguem predizer o comportamento de outros e agir de acor-
do com tais predições"(l985:112). Além disso, esta abordagem exista nenhuma progressão obrigatória de um para o outro. A
ignora a dimensão emocional da confiança, devido ao seu foco característica mais importante da produção de confiança, segun-
em comportamento cooperativo; do esta autora, é que essa se desenvolve com o passar do tempo,
• As três dimensões propostas colocam um novo problema: pode- sendo legitimada socialmente a longo prazo.
se confiar comportamentalmente sem confiar cognitivamente Os argumentos de Zucker são provocativos, coerentes com
(ou vice-versa); outras perspectivas sobre confiança e compatíveis com explica-
• Como Bradach & Eccles (1989) apontam, a confiança pode afe- ções teóricas correntes sobre relações interorganizacionais. Seus
100 1 tar as relações de troca em diferentes formas: com o passar do indicadores, por outro lado, relacionam-se a processos median- 1
101
tempo, uma troca baseada em preço ou autoridade pode se te os quais a confiança é gerada. Possuem ligações evidentes com
transformar - através de arranjos informais - em uma troca o processo de formação de parcerias, em organizações de pes-
baseada em confiança, ou ainda a confiança gerada em outro quisa, e aparentemente, apresentam as características defendi-
contexto (laços de amizade pessoal, por exemplo) pode ser das por Hackman (1987) sobre as variáveis a serem incluídas em
transferida para uma outra situação (transações econõmicas, um modelo normativo (neste caso, de formação de parcerias):
por exemplo). são indicadores poderosos (isto é, sua influência sobre a forma-
ção destas relações não é trivial), são potencialmente manipuláveis
Tentando superar tais dificuldades, Zucker (1986) propôs (isto é, podem ser modificadas pelas organizações envolvidas) e
mensurar confiança através de indicadores, conceitualizando três são acessíveis (isto é, as pessoas podem entendê-las e usá-las).
modos de produção de confiança: O interesse em termos do papel exercido pela confiança
técnica está justificado, tanto pelo interesse teórico que a ques-
Confiança baseada em processo: forma de confiança liga- tão merece, como por suas implicações para políticas de gestão
da à experiência passada de sucesso em uma relação (experiên- de Ciência & Tecnologia. Assim, dependendo dos modos de pro-
cia do próprio indivíduo ou de outro em quem ele confia); dução prevalentes em uma instituição, pode ser interessante in-
Confiança baseada em característica: forma de confiança centivar formas alternativas de comunicação entre pares ou even-
relacionada às similaridades em características entre os indivídu- tos institucionais de intercâmbio com outras instituições. For-
os que interagem na relação (por exemplo, similaridades em mas de controle organizacional destas relações também podem
origem familiar, sexo ou origem étnica); e ser criadas ou modificadas com base nestas informações. Final-
Confiança com base em instituições: dividida em duas ca-· mente, podem ainda ser identificadas distorções - por exemplo,
tegorias:
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Confiança: modos de produção e principais determinantes
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Suzana Maria Valia Uma Magali dos Santos Machado Antônio Maria Gomes de Castro no relacionamento entre a ui es de es uisa arceiras
parcerias baseadas tão somente em similaridades - que contrari- A técnica de coleta de dados consistiu na aplicação de dois
em políticas de pesquisa e desenvolvimento usualmente adotadas questionários (Machado, 1998), um destinado aos líderes de pro-
por muitas instituições de pesquisa (neste caso, uma tendência a jeto e outro às respectivas equipes de subprojetos dos diversos
endogenia). centros de pesquisa da empresa estudada. Todas as variáveis fo-
Na situação de pesquisa em parceria, o trabalho, portan- ram mensuradas a partir de escalas de Likert, de cinco pontos,
to, centra-se nas diferentes formas ou modos de produção de em que O correspondia ao ponto mínimo e 4 ao ponto máximo
confiança. Nessa situação, as várias condições para a ocorrência da escala ou por meio de variáveis dum mies que descreviam al-
de confiança (risco, incerteza, vulnerabilidades, possibilidade de guns aspectos da formação da parceria. A Tabela 1 descreve as
frustração de expectativas, liberdade limitada dos parceiros, etc.) variáveis independentes e dependentes utilizadas na análise.
estão presentes. Na investigação dos modos de produção de con- A escolha de líderes e equipes participantes da pesquisa
fiança pretende-se identificar as variáveis determinantes do fe- foi definida por procedimentos de amostragem aleatória sim-
nômeno, na relação estudada. Outras variáveis relativas à for- ples. Foram selecionadas para integrar a amostra da pesquisa
mação de parcerias e à interação entre as equipes parceiras tam- 1.560 equipes de subprojetos, integrantes dos 606 projetos.
bém são analisadas como possíveis determinantes do fenômeno. A amostra final foi composta por 358 subprojetos em exe-
cução. Das 358 equipes, 102 (28,5%) realizavam parcerias intra
e inter organizacionais com outras equipes de trabalho.
A análise de dados baseia-se em modelos de regressão line-
2. Método ar, utilizando o procedimento stepwisedo SAS (Statistical Analysis
102 System).
As questões descritas acima foram investigadas em uma ins-
tituição pública de pesquisa agropecuária, que em 1997 contava
com 2200 pesquisadores trabalhando em cerca de 3000
subprojetos, relacionados a 606 projetos de pesquisa. Nessa oca-
sião existiam, na instituição, relações interinstitucionais (dos di-
versos tipos anteriormente descritos) estabelecidas com cerca de
3844 instituições (empresas estaduais de pesquisa agropecuária,
universidades, empresas privadas, etc.).
Pela política da empresa, o projeto busca soluções para
problemas tecnológicos de natureza abrangente e complexa,
exigindo usualmente o concurso de diferentes disciplinas. O
subprojeto, por sua vez, procura responder a delimitações espe-
cificas do problema às quais o projeto se refere, e tem um cará-
ter disciplinar. Ou seja, enquanto o projeto adota um enfoque
sistêmico e holista, o subprojeto adota uma perspectiva mais
reducionista, dirigido ao alcance de seus objetivos (Castro et a1,
1994). A parceria, questão que interessa ao presente estudo, é
operacionalizada usualmente através de um subprojeto de pes-
qUIsa.
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Confiança: modos de produção e principais determinantes
Suzana Maria Valle Uma Magali dos Sal"ltos Machado António Maria Gomes de Castro no relacionamento entre equi es de es uisa an::eiras
3.2. Determinantes da confiança técnica ao início aspectos relativos à formação da parceria e do tempo de dura-
ção da parceria. A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos nes-
da relação de parceria
sa análise de regressão.
A confiança técnica ao início da relação de parceria foi
Tabela 3: Influências da escolha, satisfação, formação da parceria, confiança inicial e
hipotetizada como sendo influenciada pelos modos de produ- tempo, sobre a confiança atuaI (R2 ajustado = .630)
ção de confiança (escolha do parceiro) e das variáveis dummies
que descreviam a formação da parceria. A Tabela 2 apresenta os Variável
Coeficiente Sigo
estandardizado
resultados dessa primeira análise de regressão.
Confiança téOlica no início da relação de parceria .482 .000
Tabela 2: Determinantes da confiança inicial na equipe parceira (R2 ajustado = .468) Dificuldade (para coordenação) devido à diferenças no ·.335 .000
modo de trabalhar
Coeficiente Contribuição da parceria com recursos ·.233 .001
Variável
estandardizado humanos técnicos
Influência da capacidade técnica da equipe na escolha da .713 .000 Contribuição da parceria com recursos 214 003
parceira financeiros :
Negociação da parceria sob responsabilidade do líder do .192 .007 Influência da capacidade téallca da equipe na .241 .020
projeto escolha da parceria
de equipes, nos modelos de Hackman (1987) e Machado (1998). ceira também influenciam a confiança atual: essa é maior quan-
Nessa regressão, tornou-se evidente que apenas o último fator to maior a qualidade técnica das metas alcançadas.
(avaliação dos resultados pelo líder do projeto) era determinante
significativo da confiança atual (R' ajustado=.466).
Um terceiro modelo investigou a influência das variáveis
consideradas no primeiro modelo (escolha, satisfação, formação, 3.4. Determinantes da diferença entre confiança
confiança amai, relação de parceria, tempo da parceria), além
atual e confiança inicial
daquelas que compõem o fator de avaliação de resultados pelo
líder do projeto, sobre a confiança atual. A Tabela 4 apresenta
os resultados significativos obtidos nessa regressão. Como muitos teóricos já observaram, a confiança é uma
variável para a qual a dimensão temporal é bastante importan-
te, já que depende da interação que se desenvolve entre dife-
Tabela 4: Influências da escolha, relação, formação da parceria, tempo, confiança rentes atores sociais. Por isso, definiu-se um último modelo para
técnica inicial e avaliação dos resultados (pelo líder), sobre a confiança atuaI (R2 ajustado
~ .710)
investigar as influências sobre essa mudança. A variável depen-
dente, no caso, foi a diferença entre a confiança amai e a confi-
Coeficiente Sigo ança inicial. Nesse modelo, foram consideradas como variáveis
estandardizado
independentes: os modos de produção de confiança, a satisfa-
Qualidade térn.ica das metas atingidas A05 .000 ção com a relação de parceria, aspectos da formação da parceria
Confiança técnica no inicio da relação .248 .003 e o tempo de duração. A Tabela 5 apresenta os resultados obti-
108
Dificuldades por diferenças no modo de -.382 .000 dos pela análise desse modelo.
trabalhar
Influência da similaridade de fonnação (entre ·.244 .001
líder e responsável) na escolha da parceira Tabela 5: Influências da escolha, satisfação, formação da parceria e tempo, sobre a
diferença entre confiança atuaI sobre a confiança inicial (R2 ajustado = .324)
Influência da capacidade térn.ica da equipe (na .283 .002
escolha da parceira)
Contribuiçãoda parceria - recursos humanos
técnicos
-.140 .025
I . Coeficiente
estandardizado
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Confiança: modos de produção e principais determinantes
Suzana Maria Valle Lima Magali dos Santos Machado Antônio Maria Gomes de Castro no relacionamento entre e ui es de pesquisa parceiras
e inicial. A direção da relação também é a mesma, nesse caso. A lia, sexo, etnia) não são determinantes importantes da confian-
diferença é maior, no entanto, quando a iniciativa do contato ça que se desenvolve nas interaçôes entre equipes de pesquisa.
partiu de dirigente da instituição parceira. Nesse caso, é possí- Por outro lado, também a experiência passada de relação com
vel que o fato de que a iniciativa foi exógena implique em uma outro ator social - no caso, uma equipe de pesquisa parceira -
menor confiança inicial, que é depois compensada pela interação também não se apresenta como relevante para a determinação
com a parceira. da confiança atual entre as partes.
Esse último resultado pode estar relacionado ao fato de
que as equipes de pesquisa, embora desenvolvam um trabalho
intenso e criativo, durante o tempo de duração do projeto (e de
4. Discussão seus subproJetos), podem nunca mais estabelecer nova relação,
~ma vez que um projeto particular é concluído. Assim, a experi-
,;ncIa de relação anterior com uma equipe de pesquisa parceira
Zucker (1986) propôs a existência de três modos de pro-
e, possl~elmente, um acontecimento menos freqüente, e que por-
dução de confiança: a) confiança baseada em processo; b) confi-
tanto nao tem uma relevãncia muito grande na determinação
ança baseada nas características dos atores sociais envolvidos; c)
de confiança na parceira.
confiança baseada em instituiçôes.
A liberdade concedida ao líder do projeto para estabele-
Dos modos de produção propostos por Zucker (1986),
cer a relação de parceria parece ser importante determinante
apenas aquele ligado à instituição (confiança específica obtida
de confiança. Isso é indicado pelo fato de que a confiança inicial
através de similaridade de educação, certificaçôes, similaridade
é maJor quando o líder participa na negociação da parceria, e
de procedimento, etc.) parece ser importante, na determinação
pelo fato de que a diferença entre confiança inicial e a confian-
da confiança técnica (tanto no início como após um período de
ça posterior (atual) é maior quando a escolha do parceiro foi
interação com a parceira). Isso é indicado pela importânci~ da
realizada por dirigentes (e não pelo líder). Assim, uma variável
capacidade técnica da equipe parceira, como influência para sua
importante na literatura - a chamada liberdade limitada da pes-
escolha, e pelo fato de que diferenças no modo de trabalhar
SOa que confia - parece estar relacionada a esses resultados.
comprometem a confiança atual e a diferença entre essa e a con-
Quanto maiores os graus de liberdade para entrar na relação,
fiança inicial na equipe parceira.
maIOr a confiança entre essas equipes.
Por outro lado, a confiança de natureza técnica (inicial)
Os seguintes determinantes apresentaram-se relevantes em
parece ser comprometida quando mecanismos institucionais in-
relação à confiança atual: influência da capacidade técnica da
termediários - tais como contratos formais prévios, para apro-
equipe na escolha da parceira e confiança técnica no início da
priação de resultados - são utilizados. Assim, esse modo de pro-
relação de parceria (ambas com uma relação positiva com a vari-
dução de confiança não é apropriado, nos casos em que o que se
ável dependente); dificuldade (para coordenação) devido a di-
quer estabelecer é confiança técnica. Aqui, pode também estar
ferenças no modo de trabalhar; e contribuição da parceria com
ocorrendo uma relação causal de mão-dupla, isto é, menor con-
recursos humanos técnicos e com recursos financeiros (essas últi-
fiança inicial levaria a uma maior preocupação com o estabeleci-
mas apresentando uma relação negativa com a VD). Essas vari-
mento de mecanismos formais que diminuíssem a incerteza so-
áveis permanecem no modelo mesmo quando são introduzidas
bre o comportamento do parceiro.
variáveis que descrevem a avaliação do líder do projeto, .em rela-
Como seria de se esperar, em organizaçôes de P &D - que
ção aos resultados obtidos pelo trabalho em parceria. Nesse mo-
são orientadas pelo mérito e pelos cânones das diferentes pro-
mento, duas variáveis além das mencionadas, emergem como
fissôes que dela fazem parte- as características individuais (famí-
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Suzana Maria Valle Lima Magali dos Santos Macl1ado Antônio Maria Gomes de Castro
Confian~a: modos de produçáo e principais determinantes
no relaCIonamento entre e ui es de es uisa arceiras
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importantes: qualidade técnica das metas atingidas (relação po- I
sitiva) e influência da similaridade de formação (entre líder e n,a f~rmação de equipes parceiras em que se requeira confiança
tecnlCa:
responsável) na escolha da parceira.
Esses resultados apontam para a centralidade de aspectos
do relacionamento técnico, entre líder e equipe parceira, na • Consideração à opinião do líder sobre capacidade técnica das
determinação de confiança atua!. O aparecimento de uma vari- ~quipes parceiras potenciais, corno forma de garantir melhor
mteração futura com essas equipes.
ável relativa à escolha da parceira (similaridade de formação)
pode estar relacionado a um possível conflito entre líder e res-
• Delegação de responsabilidade, ao líder do projeto, na negoci-
ponsável, quando os dois compartilham formação similar. As- ~ção da parceria: isso garantirá seu envolvimento e comprome-
tImento com a relação interinstitucional assim definida.
sim, embora esse possa ser um critério para a escolha da parcei-
ra, não parece ser um bom indicador da confiança, depois de
• Internalização, entre os líderes de projeto, de que os mecanis-
estabelecido o relacionamento entre as equipes parceiras. mos institucionais de negociação prévia formal de apropriação
de resultados, constituem instrumentos de proteção a ambas as
Um resultado interessante a destacar é aquele que indica
instituições .envolvidas, mas que não implicam em suspeição
que o tempo - ao contrário do que preconizam os teóricos sobre sobre a eqUIpe parceira.
confiança - não exerce influência significativa sobre a confian- • Em programas de desenvolvimento de equipes, institucionalizar
ça atua!. Na verdade, como em outros casos em que a dimensão o planejamento de atividades de "desenvolvimento de um mar-
temporal tem importância, não é o tempo em si que deve exer- co re~erencial de trabalho", entre equipes parceiras, para evi-
cer influência. mas outros fatores e variáveis que se desenvol- tar dIficuldades de coordenação, para o líder, devido a esse
vem com o tempo. Por exemplo, as interaçóes entre líderes e aspecto . Equipes de P&D são, por princípio, equipes
equipes parceiras, o conhecimento de ambos sobre o modo de mte~d.IscIplmares e, portanto, se caracterizam pela formulação
trabalhar do outro, o desempenho e os resultados que vão sendo explICIta de urna metodologia e um marco referencial comum
apresentados com o desenrolar do trabalho. Essa explicação é que cruza as diferentes disciplinas (Gibbons et aL, 1997). Esse
apoiada, em parte, pelo fato de que variáveis que descrevem ~Ulda~o ?e-:e ser observado mesmo para equipes não-parceiras
mterdISClplmares, mas se torna ainda mais importante quando
essa interação (diferenças no modo de trabalhar e qualidade téc-
os membros das diferentes equipes estão vinculados a diferen-
nica das metas atingidas) aparecem como determinantes impor- tes organizações.
tantes da confiança atua!.
A confiança do líder do projeto nas equipes parceiras é,
de modo geral, declinante ao longo do tempo. Quer dizer, con-
siderando a confiança inicial, a prática de trabalho com a equi-
pe parceira diminui a confiança do líder em seu trabalho. No
entanto. esse decréscimo é maior para equipes que iniciaram
com menor confiança do líder do projeto. De novo, esse dado
aponta para a importãncia da confiança inicial como
determinante do fortalecimento da confiança posterior na equipe
parceira.
Tomando-se os resultados como um todo, observa-se que
os gerentes de P&D devem atentar para as seguintes variáveis,
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rPOT VOLUME 2 I NUMERO 1 IJANEIRO - JUNHO 12002 I p.93-115
Confiança: modos de produção e principais determinantes
Suzana Maria Valle lima Magali dos Santos Machado Antônio tv'iaria Gomes de Castro no relacionamento entre e ui as de es ulsa arcelras
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