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2.

2 Modelo de tra nsição ou


retirada esportiva
Introd ução
A retirada esportiva é uma etapa que todo sujeito-atleta deve enfrentar em algum
momento de sua carreira. Esta etapa foi fundamental para o estudo de parte do
mundo da psicologia do esporte, resultado do que é gerado nos atletas o fato de
atravessar uma situação desse tipo.

Muitos autores relacionam a retirada esportiva com a aposentadoria, ou seja, algo


que a grande maioria das pessoas atravessa em um dado momento. Com isto,
não lhe atribuem grande dificuldade, já que é algo para o que estão preparadas
desde que ingressam no mercado de trabalho. A princípio, pode-se encontrar
uma diferença: um atleta de alto desempenho enfrenta duas "aposentadorias".
Em primeiro luga r, "aposenta-se" ou retira-se de seu esporte propriamente dito e,
em segundo lugar, uma vez retirado do alto desempenho, ingressa, geralmente,
no mercado de trabalho como qualquer ser humano. Os atletas desde muito
pequenos já estão imersos em seu mundo esportivo com as
responsabilidades que isto implica e que já foram detalhadas anteriormente. As
retiradas são realizadas em idades em que um ser humano médio recém está
ingressando no mundo laboral e os atletas já passaram por anos de "trabalho"
para voltar a começar novamente a enfrentar uma situação laboral nova e, muitas
vezes, diferente. Assim, vemos que quando um adulto ingressa no mundo laboral,
um atleta já atravessou uma vida de responsabilidades e compromissos para
voltar a começar novamente, já que as idades de retirada são entre os 25-35
anos, em média.

É por motivos como estes que a retirada do alto desempenho convida ao estudo
e à análise. Definitivamente não é mais uma aposentaria e o trabalho de
preparação para enfrentar um momento como a retirada é algo para o que o
atleta deve ser preparado porque, diferentemente de um jovem-adolescente que
se prepara para ingressar no mundo do trabalho (escola, universidade, etc), o
atleta só se enfoca em seu desempenho e se encontra de repente em sua
retirada e sem ferramentas, por exemplo, do tipo acadêmicas, para ingressar no
mercado laboral.

Neste estudo aborda-se a análise com base em revisões e pesquisas realizadas


por diferentes autores que se dedicaram à etapa de transição entre o alto
desempenho e a finalização da carreira esportiva. Focando na busca da
maneira em que a retirada possa impactar em menor medida nos atletas,
oferecendo ferramentas durante sua carreira esportiva para enfrentar a
transição da maneira menos traumática. Portanto, entendemos a retirada como
parte de um processo e não como um fato isolado.
A retirada do alto desempenho é uma instâ ncia ou etapa que todo sujeito-atleta
atravessa, inevitavelmente, em um determinado momento. Tal retirada pode estar
premeditada pelo próprio atleta, resultado de circunstâncias particulares, ou
também pode dar-se por questões alheias ao atleta e por assuntos fortuitos que,
indefectivelmente, definem sua carreira. Todos os atletas se veem forçados a
retirar-se do alto desempenho, seja por questões inevitáveis, como a quedo do
rendimento devido à sua idade, ou como comentamos anteriormente, por assuntos
alheios ao sujeito. Esta etapa é atravessada com muita sensibilidade pelo atleta e
este é o motivo pelo qual deve ser analisada e estudada. (Allison and Meyer,
1988).

Mclaughlin (1981) afirma que, se o atleta analisa a possibilidade de retirada de


maneira voluntária, esta decisão ganha um alto grau de dificuldade na hora de ser
realizada. O sujeito teme perder sua identidade como atleta de alto desempenho
junto a suas condições ou atribuições físicas: quando fala-se de condição, refere
se a todas as destrezas que o atleta conquistou ao longo dos anos, condição que o
levou ao lugar que ocupa antes de sua retirada. Por outro lado, a noção de
identidade responde ao papel que desempenha no esporte ou equipe, não tem por
que coincidir com o que ocupará em sua vida depois da retirada.

Um exemplo concreto é que, quando fala-se de perda de identidade, pode-se fa


zer referência ao momento em que os atletas, depois de haver concluído sua
carreira, continuam apresentando-se para o público como jugador de tal
esporte. Não conseguem diferenciar que sua carreira terminou e que não são a
pessoa atleta de anos atrás.

É regra comum que os atletas se envolvam com muita intensidade com seu esporte.
Os motivos estão relacionados ao amor que eles sentem pelo que fazem ou,
segundo alguns autores, por falta de alternativas ou ofertas (Rosenberg, 1981). O s
sujeitos-atletas, na maioria das vezes, não se mostram contentes com a ideia da
retirada e muito menos com o reconhecimento de que suas habilidades físicas
estão em deterioração, o que os leva a adiar sua renúncia o máximo possível,
dentro das possibilidades, até que se vejam obrigados a retirar-se quando, por
múltiplas causas, já não podem continuar (McPherson, 1978). Algumas vezes,
quando o motivo do prolongamento da carreira esportiva é porque existe uma falta
de alternativas para poder ter um projeto de retirada, esta situação é vivenciada
como muito adversa devido ao nível de incerteza. Quando o jogador é consciente
de que deve retirar-se, começam a sur gir nele variáveis que podem chegar a
estressá-lo. No caso de um jogador que desenvolve sua carreira em ligas menores,
não conseguirá conquistar uma estabilidade econômica em sua carreira que logo
lhe permita realizar sua retirada com a tranquilidade suficiente. Diferente do que
acontece com um jogador que percorre sua carreira na equipe profissional de uma
liga de primeira, o que pode fazer uma diferença econômica que lhe permitiria
estabilidade no futuro enquanto decide como continuar sua carreira depois de
retirar-se.

Enfrentar esta situação de fim de carreira sem recursos nem formação é o que fará
desta retirada uma vivência traumática. Trabalhar na antecipação e na
transferência de competências do esporte a outros âmbitos da vida fará com que
estes níveis sejam reduzidos.

O conceito de transição permite a compreensão de como se vive tal etapa em um


atleta de alto rendimento. A seguir tenta remos identificar se este conceito está
relacionado com a retirada esportiva ou com a mudança de carreira profissional.

Em um primeiro período, o conceito de transição esportiva estava associado à


retirada esportiva ou saída do alto desempenho. Esta retirada era vista como um
fato isolado e, sobretudo, traumático na vida dos sujeitos-atletas. Era chamada de
uma maneira pouco convencional, utilizando-se uma frase como a morte social
(Bali,1976). Este fato foi associado em alguns estudos a comportamentos de
abusos de drogas e álcool, desordem na ingestão nutricional, transtornos de
personalidade, baixos níveis de autoestima e, ocasionalmente, tentativas de
suicídio. Estas tendências aos poucos foram deixando de vigorar, já que alguns
atletas começão a conseguir assimilar seu novo papel na sociedade (o de não
atleta) sem problemas. A isto adiciona-se a evolução nos trabalhos de assistência
ou tutorias psicológicas a atletas retirados, o que resultou em maiores
adaptações. Estas correntes estão evoluindo nos últimos anos.

Tipos de transição

Schlossber g (1981), ao falar de transições esportivas, diferencia dois tipos:


transições normativas e não-normativas.

As transições normativas são aquelas que podem ser previstas, quando o atleta
finaliza uma de suas etapas, neste caso sua carreira esportiva, e começa a
seguinte, neste caso sua vida pós-esportiva ou acadêmico-laboral (Schlossberg,
1981).

Nas transições não-normativas, ao contrário, a retirada não foi planificada de


maneira premeditada, mas, por questões particulares do sujeito, geralmente é
inevitável retirar-se. Os fatos particulares que podem levar o atleta a tomar a
decisão de retirar-se devem-se a, por exemplo, lesões musculares, perda de um
treinador com o qual possuía um particular afeto ou falta de renovação do
contrato devido à diminuição do desempenho. Este é o tipo de transições não-
voluntárias ou não-planificadas e, como mencionado anteriormente, não fazem
parte do que o sujeito-atleta planificou (Schlossberg, 1984).

Uma série de estudos que pretendem compreender os motivos que levam um


sujeito-atleta à retirada competitiva foi desenvolvida. Geralmente essa retirada
pode ser voluntária ou involuntária, dependendo do tipo de situação que o sujeito
deve enfrentar. O foco das pesquisas vigentes quanto à transição está orientado à
adaptação do atleta em sua nova etapa.

Autores como Alfermann e Stabulova (2007) realizaram uma série de pesquisas


sobre a retirada esportiva e expuseram quatro determinantes que condicionam a
qualidade de adaptação durante sua transição, que são: tipo de identidade,
liberdade de decisão, planificação pós-carreira e recursos pessoais e sociais de
apoio durante a retirada esportivo.

Pode-se observar, seguindo a análise destes autores, que os atletas que têm uma
maior liberdade para decidir sobre quando finalizar sua carreira conquistam mais
emoções positivas que negativas diante deste acontecimento. Quanto àqueles
que se veem obrigados a retirar-se, são apresentados níveis de estresse que
acarretam maiores dificuldades para a adaptação. Com respeito aos primeiros,
ressalta-se a importância da antecipação somada ao trabalho por parte do atleta
em pensar-se retirado e assumir a responsabilidade da decisão de retirar-se.

Ao contrário, quando a retirada é inesperada, são geradas emoções que desde o


campo da psicologia devem ser trabalhadas em conjunto com o entorno próximo
do atleta.

Continuando com a análise da retirada esportiva, um dos motivos inevitáveis é


causado pela idade cronológica e dependerá, em grande parte, da aceitação por
parte do atleta da diminuição das habilidades físicas devido, justamente, à sua
idade. Alguns autores sugerem que a idade cronológica é uma das razões mais
importantes para a retirada porque a motivação psicológica, o status social e as
capacidades físicas podem dificultar a capacidade individual para continuar
competindo em um nível de elite.

Schlossber g (1981), quando tala das transições não-normativas, menciona que


é uma das que mais dificuldades ocasionam no sujeito-atleta, sobretudo ao tratar-
se de um acontecimento inesperado. A análise das lesões esportivas adquirem
um alto grau de importância, já que não só finalizam a carreira do atleta (lesões
de grande dimensão) no caso de ser grave, mas também podem ocasionar
uma falência tísica que persistirá na vida do atleta uma vez realizada a retirada
(Lerch, 1984). No caso de ser uma lesão de grande complexidade, os tempos
de recuperação costumam ser tão amplos que levam o atleta à retirada, somado
ao esforço de sua parte em sua recuperação (O gilvie e Taylor, 1993).
Geralmente as lesões são entendidas pelo atleta como uma traição de seu
corpo e esta é uma maneira de gerar complicações no plano psicológico, o que
ocasiona depressão, ansiedade, medo, perda da autoestima. Uma das
complicações atravessadas pelo atleta quando ele se lesiona é a de pensar em
que estado retornará a sua atividade e se poderá recuperar suas capacidades no
ponto ideal, ocasionando muita ansiedade difícil de ser controlada no momento
do retorno. Outro ponto muito importante a ser trabalhado de maneira
multidisciplinar (Ogilvie e Taylor, 1993; Pearson e Petitpas, 1990), é óbvio que
em todos os ambientes, é o trabalho consistente dos profissionais e, no caso
do esporte, não seria de outra maneira. Q uando acontece algo assim na vida
do atleta, é fundamental que exista uma correta comunicação entre sua equipe
de profissionais para que o sujeito possa receber uma correta assistência tísico-
psicológico-emocional. Compartilhar uma mensagem única e coerente e ter bem
estabelecidos quais são os passos a seguir fará com que o atleta sinta-se mais
seguro e apoiado em seus momentos de fragilidade emocional. Um atleta que,
por exemplo, rompe o ligamento cruzado
anterior (LCA), encontra pela frente um processo de recuperação de muitos dias,
por isso sua equipe de profissionais responsáveis, seja fisioterapeutas, médicos,
recuperadores, psicólogos ou técnicos, pode contribuir para esta recuperação
ideal, mantendo um intercâmbio contínuo de informação sobre evolução do
paciente, estado de ânimo, preocupações, etc.

Uma variável a ser trabalhada junto ao sujeito-atleta é a planificação prévio à


retirado. Toda antecipação, em qualquer âmbito de la vida, gera sentimentos de
controle sobre a situação que se estiverem por atravessar. A planificação prévia
correlaciona-se de maneira positiva com: diminuição de emoções negativas após
o término da carreira esportiva, diminuição do tempo ou melhor administração da
etapa de adaptação pós-retirada e maior satisfação pela vida ou pelo momento
(Alfermann et al., 2004). A planificação da retirada esportiva, infelizmente, não é
algo que a maioria dos atletas realiza, já que sua realidade os leva ao descuido
do futuro. O atleta vive o presente e dá mais importância ao momento de sua
carreira que ao que está por vir (Drahota e Eitzen, 1998).

A planificação da retirada esportiva não é um assunto que convoque os


treinadores a trabalhar. Alguns autores sugerem que os treinadores temem que
isto (a planificação da retirada) poderia interferir na concentração do atleta em
seu esporte. Temor lógico, mas se se conta com o corpo de profissionais
devidamente formados, não deveria ocorrer tal situação. Devem ser
desenvolvida uma pedagogia entre os corpos técnicos e ensinar que este
processo pode ser levado de forma natural sem que o foco esportivo seja
desviado. O importante é trabalhar com antecipação no tempo.

Outra variável de análise para a continuação deste estudo é a identidade


esportivo: Ela está determinada pela imagem que o atleta tem de si mesmo e
correlaciona-se com o vínculo que estabeleceu com seu esporte e a importância
que ele tem sobre as outras áreas de sua vida (escola, amigos, família). Por outra
parte, Brewer, Van Raalte, e Petitpas (2000) assinalam que a identidade
esportiva ajuda os sujeitos atletas durante sua carreira. Conseguir identificar
uma identidade estimula-os quanto a disposição de uma participação ativa no
esporte. Deve-se ter cuidado com a overdose de motivação porque durante o
final da carreira faz com que o sujeito esteja menos disposto a deixar o esporte,
desenvolvendo emoções negativas no processo de retirada e gerando
inconvenientes de trabalho. É importante dosificar a carga emocional prévia à
retirada, que quando está bem trabalhada, fa z com que a vivência não seja
experimentada como negativa, mas como uma nova oportunidade que se abre,
uma nova etapa. Sentimentos de tristeza e de incerteza são normais diante do
desconhecido.

Seguindo com a análise de variáveis que influem na transição, talaremos agora


dos recursos pessoais (o nível de educação, as habilidades que o atleta possui
ou os objetivos propostos para enfrentar o pós-carreira, em outros termos, o
capital cultural de que ele dispõe) mais os recursos sociais, que oferecem
apoio no momento da retirada (família, treinadores, amigos, membros do
ambiente próximo
ou os serviços de ajuda nesta nova etapa de vida) que podem colaborar para
uma melhor adaptação durante o processo de retirada esportiva.

Modelos teóricos que estudam a aposentadoria esportiva

Crook e Robertson (1991) falam sobre dois tipos de modelos que levam o atleta
a sua retirada. Estes modelos mostram o olhar que possuíam sobre esta etapa,
que são: modelos tanatológicos, que estudam a morte e o período agonizante
dos indivíduos, e os modelos procedentes da gerontologia social, que estuda o
envelhecimento.

Estes modelos tratam a retirada como algo abrupto e completamente involuntário


por parte do sujeito-atleta (poderiam ser considerados como não-normativos).

La tanatologia é definida como uma disciplina integral que aborda tudo o que está
relacionado ao fenômeno da morte no ser humano, a perda, o sofrimento
psicológico, as relações significativas, a dor tísica, as vontades antecipadas, a
observância do tratamento humanitário que deve ser oferecida ao paciente
moribundo.

Gerontologia é a ciência que se dedica a estudar os diver sos aspectos da velhice


e do envelhecimento de uma população, tais como psicológico, social, econômico
e até cultural.

Observa-se então que, anteriormente, a retirada esportiva era interpretada e


estudada como algo demasiado traumático, contextualizando e gerando que tosse
vista somente dessa maneira, resultado de como era estudada. Posteriormente,
como aponta McPher son (1984), ambas as perspectivas toram substituídas por
una perspectiva orientada ao processo, propondo desta maneira os modelos
transicionais que detalharemos mais adiante.

É importante mencionar que estes ma rcos teóricos receberam uma grande


quantidade de críticas, já que a única saída possível era o trauma ou a crise. Não
se concebia a retirada esportiva de outra maneira e toram muitos os sujeitos-
atletas que ao longo da história não conseguiram transitar com sucesso pela
retirada. Não tinham a capacidade de poder ver sua vida sem o esporte. É certo
que segundo estes modelos e a época em que toram desenvolvidos, a retirada
poderia ser vivida assim, como um trauma, já que não havia planificação
prévia: os atletas confrontavam esta situação no momento em que ela aparecia.

Entretanto, autores como Stambulova (2003) elaboraram modelos de transição


esportiva com a intenção de or ganizar a carreira em várias etapas. Estes autores,
ao falarem de transição, consideram-na como parte de um processo que o atleta
atravessa e não como um momento único. Propõem, além disso, a existência de
quatro variáveis que determinam a adaptação do atleta para enfrentar sua
retirada da melhor ma neira:
1- Estilo de identidade.
2- Liberdade para tomar a decisão.
3- Planificação do pós-carreira para enfrentar sua retirada e sua
antecipação. 4- Recursos pessoais e sociais a serem utilizados como suporte
pessoal para
encarar a retirada.

Por outro lado, Wylleman e Lavallee (2003) estabelecem um modelo de


desenvolvimento de carreira esportiva que envolve quatro níveis diferentes na
vida de um atleta:

O esportivo: que introduz a iniciação, o desenvolvimento, o domínio e a


descontinuação.

O pessoal ou psicológico: que introduz a infância, a adolescência, a juventude e a


idade adulta.

O psicossocial: que desenvolve o relacionamento com os pais nos estágios


iniciais da vida, o casal no futuro e a presença de treinadores.

O acadêmico-vocacional: que inclui ensino de primeiro grau, segundo grau,


univer sitário, e formação e ocupação profissional.

Estes níveis representam etapas ou transições que o atleta atravessa ao longo de


sua vida. O importante deste modelo é que ele analisa o atleta como indivíduo a
partir de um nível global, ou seja, em sua totalidade e não como um ente isolado
e produto de um momento único, mas como o resultado de um processo.

Um estudo realizado por Susana Pallarés, Fernando Azócar, Miquel Torregrosa,


Clara Selva e Yago Ramis (2011) mostra os modelos de trajetória esportiva em
um esporte como o polo aquático. Eles tentaram determinar como os atletas
conseguem continuar após a retirada de sua carreira profissional. Nesse trabalho
são detalhados três modelos de trajetória:

1- linear
2- conver gente
3- paralelo

Estes níveis apresentam aspectos diferenciadores em variáveis como a


conciliação dos espaços, a planificação da carreira esportiva, a vida vocacional
ou laboral e a forma de sentir a retirada do alto desempenho.
Figura 2: Modelos de trajetória esportiva

Modelos de Trajetória
Determinante durante a
transição à retirada Linear Co nvergenle Paralelo

Decisão de retirar-se Alta -involuntária Média-vaiuntária Alta-voluntária

Planejamento Baixa ou Inexistente Média Alta

A lta
Identidade Esportiva Alta Média
Recursos Pessoais-Sociais Baixos Altos Altos

Fonte: Paliares e et ai. (2011).

Modelos de carreira esportiva

Modelo linear de carreira esportiva

Para um atleta de alto desempenho, o esporte é a primeira opção, sua identidade


e os traços mais característicos de sua personalidade estão diretamente
relacionados à sua atividade. Desta maneira, o resto dos espaços (escola,
trabalho, etc) passam a depender de como seja realizada sua carreira esportiva.
O primeiro é o esporte, depois, em função do tempo que disponível que restar,
virá o resto das atividades.

O inconveniente que rapidamente identificamos neste modelo está relacionado ao


descuido quanto à planificação do futuro uma vez finalizada sua carreira
esportiva. A fase de transição gera um maior mal-estar e é sentida como mais
abrupta. De repente o sujeito-atleta encontra-se retirado do que vem fazendo há
anos e sem ferramentas para adaptar-se a sua nova realidade.

Neste modelo, a retirada chega sem prévia planificação, não é voluntária. É


gerada por fatores externos ao atleta, os quais, evidentemente, têm um peso
importante na tomada de decisão. Aqui os atletas estão prolongando sua carreira
o máximo possível por não possuírem uma alternativa de trabalho clara,
manifestando-se um típico caso de não planificação.
Figura 3: Modelo linear.
Categorias Fatores de primeira ordem e subtemas
Gerais Estudos/ Irabalho
Linear Conciliação Planejamento Percepção Retirada

Viver do esporte.
Responsabilidade e Viver o momento atual. O f uturo Falta de for mação. Profissional do polo
exc lusividade com o fora do esporte não é percebido. aquático Salário por jogar e obtém uma Percepção abrupta do final da
polo .;iquático. bolsa (por exemplo, ADO). carreira espor1iva.
Começar do 2ero. Incerteza
sobre o futuro.

Citações conciliação Citações planejamento Citações estudos/trabalho Citações percepção retirada

...jogadores de polo aquático


...eu penso que há uma coisaque ganharam dinheiro fácil, ruim ...agora
...também não gostarei muito de
eu estou no polomuito jovens, não souberam aquático, sou jogador de ...eu quero jogar durante 10 anos até os
polo estuda r, sincerame nte era dif ícil para
aquát ico e agora é a ú nicaadministrá -lo, ...e depois veem 30, voltar à França, procurar um
que acabam sua vida esportiva, mim e, bom, decidi abandonar os
coisa que eu sei...que não têm estudos e dedicar-metrabalho ou estudar, começar a profissionalmente só ao polo
aquático.estudar, não sei, é que não sei.

Fonte: Paliares e et ai. (2011).

Modelo convergente de carreira esportiva

Aqui, na vida do sujeito-atleta, o esporte é prioridade. Diferente do modelo linear,


neste caso o sujeito busca, enquanto transita sua carreira, conciliar algumas
tentativas de trabalhos alheios ao esporte. Isto acontece desde que os horários
de treinamento assim o permitirem e ele conseguir organizar suas duas
atividades.

Neste modelo, os atletas não costumam ingressar em estudos de índole


univer sitária nem em trabalhos do tipo profissional. Na escala de prioridades, o
espaço esportivo é o primeiro. Os clubes aqui têm um papel de suma
importância, já que são eles que abrem os espaços para que os atletas possam
conciliar uma jornada laboral no mesmo clube com seus horários de treinamento.
Assim, vemos que os atletas não têm acesso a trabalhos formais, já que priorizam
o esporte. Seu desempenho laboral orienta-se a trabalhos como treinador ou
assistente de técnicos esportivos. Orientado sempre ao esporte que pratica.

Como comentamos anteriormente, o atleta não ingressa no mercado de trabalho


de maneira oficial, mas se conseguir conciliar esporte e trabalho de maneira não
formal, ganhará experiência. Isto causa uma queda nos níveis de incerteza no dia
em que inicie sua retirada, já que conta com mínimos recursos. Aqui
evidenciamos uma aproximação quanto à planificação da retirada. Conciliar tra
balho e esporte gera no atleta, de alguma maneira, a capacidade de projeção do
que ele viverá no futuro.
Figura 4: Modelo convergente.
ConvergentePriorização espaço For mação não-univer s itária
Organização flexível do tempo.
esportivo sobre Inse r ção no mundo esportivo e labor al (muitas vezes
Me nos tr aumática que no
Consider ação do esporte e do
outr as atividades realizadas. associado ao esporte) ou linea r. Mais opções de trabalhos são pe rce bidas.
modelo
tr abalho/ estudo realizado. Vaga image m da r etir ada
educacional.

Citações conciliação Citações planejamento Citações estudo s/tr abalho Citações pe rcepção retirada

...um futur o profiss ional a lo ngo ...so u um cara que passou a


...um ciclo de gr au médio
...acredito que um deve vida toda v inculado ao clube,antecipar-se, anteci-par-se fi
qu como
tal, se ria busca r algo e e ra tr
um ano e uou
einador fiz ligado à preparação
e m dois por causa fdas práticas,
ís ica não podia
de jogador já relacio-nado ao esporte, ainda não me sentei e pensei tranquilo, mas está ligado ao esporte
es, algo
como estou lhe f alando do
co nciliar, j á tant o, ...já não
fui socorrista, estiv e com o
conseguia ...
assunto do trabalho ... e u já
campus de polo aquático ...
estou vendo possíveis sa ídas
para quando o espo rte acabar ...

Fonte: Paliares e et ai. (2011).

Modelo paralelo de carreira esportiva

Neste modelo, o atleta realiza sua formação acadêmica univer sitária


simultaneamente com sua carreira esportiva. Trata-se de estudos do tipo
graduação, mestrado e doutorado. Geralmente não conseguem concluir seus
estudos, resultado da falta de disponibilidade de tempo.

No modelo paralelo, o atleta consegue realizar estudos univer sitários gerando a


retirada esportiva sem instabilidade emocional e de maneira mais preparada. O
mercado laboral não lhe gera incerteza porque ele está preparado
academicamente para seu ingresso.

Figura 5: Modelo paralelo


Equilíbrio ent re os Percepção posit"1va da
Paralelo
espaços. A prioridade não é, necessar iamente, Tomada
o esporte.de dec"1sões Formação contínua e retirada. Transição f luida desde o esporte à vid
contínua. Cla r a imagem da retirada laboral alternat"iva.
profissional.

Citações conciliação Citações planejamento Citações estudos/trabalho Citações percepção retirada


...lemb ro sempre que em casa haviam insistido bastante que o mais
u-,do e que e nquanto eu pudesse conc"rlia r, conc iliar o esporte co m o estudo, não tinha nenhum problema e que eles aceitavam que e u
...prefiro focar-me também Mas agora, por exemp lo,
segu isse em frente. ...então desde que a parte
no estudo e ter algo para o diaasdev amanhã.
iagens... tinha que pedir de
folga no t rabalho e, realmente, no trabalho em que esto
formação me permitir continuarou seja, com isso não t"rve problema
t reinando e jogando neste níve l..., mas o que eu, sim. tenho claro, é que se eu não posso me permitir, apostaria no ramo de fo rmação... o feminino não pe

Fonte: Paliares e et ai. (2011).


Considerações finais

Como pudemos ver ao longo da unidade 2, a retirada esportiva é uma etapa que
todo atleta de alto desempenho atravessa em algum momento determinado de
sua vida. Que essa retirada seja ou não traumática, seja ou não com sucesso,
seja ou não satisfatória, dependerá somente da formação que atleta receber ao
longo de sua carreira. Como vimos, a retirada pode ser trabalhada antes de que
chegue esse momento, pode-se trabalhar sem a necessidade de tirar energia do
sujeito-atleta enquanto ele transita seu período competitivo. As ferramentas
que devem ser oferecidas ao atleta são muitas e vão depender dos gostos e
interesses que o sujeito demonstrar e da capacidade de seus treinadores na
hora de guiá-los em tal momento.

Não deve ser considerada como o fim da vida, mas como o encerramento de uma
etapa e a chegada de uma nova. Os atletas de alto desempenho caracterizam-se
por possuir elevados níveis de competitividade. Pode-se educar o sujeito para que
ele considere a nova etapa como um desafio a ser conquistado, como todos os
que encarou ao longo de sua curta carreira.

Ele já conta com as ferramentas que o ajudam a sair da frustração por estar
imerso em um mundo onde perder é parte das possibilidades de seu dia-a-dia.
Assim, vemos que o arsenal de ferramentas é amplo, talvez mais que as de um
ser humano de sua mesma idade que está por enfrentar a mesma situação. É
só questão de direcionar todo o potencial com o que os sujeitos-atletas contam
para que eles continuem utilizando suas potencialidades para enfrentar a
retirada esportiva da melhor maneira possível.

Como profissionais imersos no contexto do esporte, seja qual for a especialidade


pela qual sejamos responsáveis (técnicos, psicólogos, tutores, fisioterapeutas,
médicos, assessores de carreira dual, preparadores físicos ...) deve-se levar
em conta que esta etapa (a retirada esportiva) chegará em algum momento.

Devemos trabalhar na ajuda e na conscientização do atleta, oferecendo-lhe


ferramentas para que ele possa antecipar-se e estar preparado. A retirada
esportiva é um estado presente na carreira do sujeito.
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